ELIO GASPARI (folha de são paulo) São Paulo, quarta, 28 de outubro de 1998
"A Vida é Bela' é feio
Poucas patriotadas são tão pobres quanto a torcida para que um filme brasileiro ganhe o Oscar. Isso porque, quando se torce pela seleção, pelas meninas do vôlei ou mesmo por Guga, há uma lógica na emoção. A disputa é visível e nada impede que o torcedor, depois de gritar por Ronaldinho, reconheça que os franceses estiveram melhor. Mesmo assim, pode-se torcer livremente para que o filme "Central do Brasil" ganhe o Oscar de filme estrangeiro. Melhor dizendo: se o filme de Walter Salles e Fernanda Montenegro perder para o italiano "A Vida é Bela", terá acontecido uma tremenda injustiça.
"A Vida é Bela" ganhou o Prêmio do Júri do Festival de Cannes, mas é ruim. É ruim porque foi se meter a fazer uma comédia com o Holocausto e deu com os burros n'água. É um filme oportunista e, até onde a palavra pode ser usada para qualificar obras de arte, decadente.
Sem estragar o programa de quem for vê-lo, sua história é a de um italiano que leva a vida em ritmo de chanchada e, sendo judeu, acaba num campo de concentração alemão. Passa o tempo tentando iludir o filho, fazendo-o pensar que tudo não passa de uma gincana.
O filme é oportunista porque usa o Holocausto como alavanca da narrativa. Poderia ter usado outras brutalidades, e a Iugoslávia está logo ali ao lado, mas o Holocausto é o que há de melhor no gênero. Valeria a pena perguntar o que diria o mundo se essa comédia fosse alemã. (Num lance de desonestidade histórica, os alemães que aparecem em cena são todos nazistas, um é neurastênico e os demais são assassinos, enquanto os fascistas italianos são imbecis ou apenas aproveitadores.)
Há alguns anos, quando o cineasta francês Jean-Luc Godard fez "Je Vous Salue, Marie", no qual oferecia um nu frontal da atriz que representava a Virgem, um beneditino indagou: "Por que ele fez isso com a mãe de Cristo, em vez de fazer com a mãe dele?" Fez com Maria porque, como se viu, abriria um rentável debate. (Recentemente, Steven Spielberg ofereceu outro nu frontal, desta vez de uma jovem judia no chuveiro de Auschwitz.)
Uma brincadeira com o Holocausto foi premiada em Cannes no mesmo ano em que jovens de Hiroshima queimaram as tradicionais pencas de origamis que são penduradas na árvores do parque que relembra a manhã da explosão da bomba atômica sobre a cidade. O episódio foi noticiado como uma simples queima de enfeites. Poucas foram as pessoas que se lembraram da origem daqueles papeizinhos dobrados. Ele são uma homenagem a uma menina, queimada pela explosão. Enquanto convalescia, dobrava origamis em forma de passarinhos e dizia que se conseguisse fazer mil, sobreviveria. Morreu antes. Desde então, as crianças das escolas de Hiroshima fazem pencas com mil passarinhos em sua memória.
Mesmo alavancando-se no Holocausto, "A Vida é Bela" poderia ser um bom filme. Não conseguiu sê-lo porque a direção é banal, e os atores estão mais para comediantes de televisão do que para o tamanho da ambição do projeto. Um artista como Charles Chaplin talvez fizesse uma obra-prima, capaz de afogar o oportunismo da concepção. Para ficar na Itália, Totó tiraria o papel de letra.
Há diversas coincidências que fazem da comparação de "A Vida é Bela" com "Central do Brasil" um exercício interessante. Os dois filmes giram em torno da história de um menino que busca seu rumo com a ajuda de um adulto. Um, o brasileiro, procura o pai com a ajuda de uma mulher que vive de escrever cartas. No outro, o pai defende o mundo das emoções de seu filho, num campo de concentração. Há algo de vigarista nos dois adultos e também um mundo estranho à volta das duas histórias. "Central do Brasil" é um grande filme pela sutileza com que manipula as emoções. "A Vida é Bela" é feio porque empurra as emoções a golpes de faca. Num, a narrativa acaba quando Fernanda Montenegro toma seu rumo. No outro, faltou coragem ao diretor para terminar seu trabalho sem recorrer à mais banal das soluções para filmes em que há guerra.
"Central do Brasil" é uma obra de quem quer entender e mostrar o que sabe da vida complicada dos brasileiros. "A Vida é Bela" é mais uma tentativa de preservar a grandeza européia varrendo para baixo do tapete sua difícil convivência com os conceitos de pureza étnica. Os dois filmes não foram feitos para ser comparados nem concebidos para competir, mas, se "Central do Brasil" levar o Oscar, fará um bem imenso à cultura da Europa.
ÉPOCA - O senhor concorda quando classificam filmes como Love como uma pornografia cult ou alternativa? Gaspar Noé - A palavra pornô está muito associada a um gênero cinematográfico que tem muito pouco a ver com a relação amorosa. São imagens que, geralmente, não têm nem passado nem futuro. As pessoas não se beijam. As mulheres não se apaixonam. Nunca ficam grávidas. Não considero meu filme um pornô. Meu filme é um drama.
A atriz que faz a Mytyl é muito boa. Problema do filme é a trilha sonora enjoada. Historinha boba que da tristeza. Quanto ao resto é tudo mt bem feito, mas um cenário bonito não segura esse filme.
Em que você poderia bloquear uma pessoa e não vê-la ou ouvi-la, mas não poderia fazer mts vezes se não essa pessoa seria bloqueada para sempre. O que não é o caso deste.
Faltou o filme explorar mais a parte de como ele vê as pessoas, se ele não vê nada, se quando alguém pega algo, flutua ou some também. Já que a pessoa vestida desaparece por completo, e quando tira a roupa a roupa continua invisível? Detalhes que não importa muito pra história, mas daria um nó nessa ponta solta. E o filme pra cada lado que vira tentam fazer piadinhas. Podia ter menos disso também. Mas ok.
Chatô - O Rei do Brasil
2.8 182 Assista AgoraUm bom filme. Tem seus problemas, mas que é suprido pelas qualidades. Um folclore brasileiro da grandiosidade e as babaquices de um ser.
A Vida é Bela
4.5 2,7K Assista AgoraELIO GASPARI (folha de são paulo) São Paulo, quarta, 28 de outubro de 1998
"A Vida é Bela' é feio
Poucas patriotadas são tão pobres quanto a torcida para que um filme brasileiro ganhe o Oscar. Isso porque, quando se torce pela seleção, pelas meninas do vôlei ou mesmo por Guga, há uma lógica na emoção. A disputa é visível e nada impede que o torcedor, depois de gritar por Ronaldinho, reconheça que os franceses estiveram melhor. Mesmo assim, pode-se torcer livremente para que o filme "Central do Brasil" ganhe o Oscar de filme estrangeiro. Melhor dizendo: se o filme de Walter Salles e Fernanda Montenegro perder para o italiano "A Vida é Bela", terá acontecido uma tremenda injustiça.
"A Vida é Bela" ganhou o Prêmio do Júri do Festival de Cannes, mas é ruim. É ruim porque foi se meter a fazer uma comédia com o Holocausto e deu com os burros n'água. É um filme oportunista e, até onde a palavra pode ser usada para qualificar obras de arte, decadente.
Sem estragar o programa de quem for vê-lo, sua história é a de um italiano que leva a vida em ritmo de chanchada e, sendo judeu, acaba num campo de concentração alemão. Passa o tempo tentando iludir o filho, fazendo-o pensar que tudo não passa de uma gincana.
O filme é oportunista porque usa o Holocausto como alavanca da narrativa. Poderia ter usado outras brutalidades, e a Iugoslávia está logo ali ao lado, mas o Holocausto é o que há de melhor no gênero. Valeria a pena perguntar o que diria o mundo se essa comédia fosse alemã. (Num lance de desonestidade histórica, os alemães que aparecem em cena são todos nazistas, um é neurastênico e os demais são assassinos, enquanto os fascistas italianos são imbecis ou apenas aproveitadores.)
Há alguns anos, quando o cineasta francês Jean-Luc Godard fez "Je Vous Salue, Marie", no qual oferecia um nu frontal da atriz que representava a Virgem, um beneditino indagou: "Por que ele fez isso com a mãe de Cristo, em vez de fazer com a mãe dele?" Fez com Maria porque, como se viu, abriria um rentável debate. (Recentemente, Steven Spielberg ofereceu outro nu frontal, desta vez de uma jovem judia no chuveiro de Auschwitz.)
Uma brincadeira com o Holocausto foi premiada em Cannes no mesmo ano em que jovens de Hiroshima queimaram as tradicionais pencas de origamis que são penduradas na árvores do parque que relembra a manhã da explosão da bomba atômica sobre a cidade. O episódio foi noticiado como uma simples queima de enfeites. Poucas foram as pessoas que se lembraram da origem daqueles papeizinhos dobrados. Ele são uma homenagem a uma menina, queimada pela explosão. Enquanto convalescia, dobrava origamis em forma de passarinhos e dizia que se conseguisse fazer mil, sobreviveria. Morreu antes. Desde então, as crianças das escolas de Hiroshima fazem pencas com mil passarinhos em sua memória.
Mesmo alavancando-se no Holocausto, "A Vida é Bela" poderia ser um bom filme. Não conseguiu sê-lo porque a direção é banal, e os atores estão mais para comediantes de televisão do que para o tamanho da ambição do projeto. Um artista como Charles Chaplin talvez fizesse uma obra-prima, capaz de afogar o oportunismo da concepção. Para ficar na Itália, Totó tiraria o papel de letra.
Há diversas coincidências que fazem da comparação de "A Vida é Bela" com "Central do Brasil" um exercício interessante. Os dois filmes giram em torno da história de um menino que busca seu rumo com a ajuda de um adulto. Um, o brasileiro, procura o pai com a ajuda de uma mulher que vive de escrever cartas. No outro, o pai defende o mundo das emoções de seu filho, num campo de concentração. Há algo de vigarista nos dois adultos e também um mundo estranho à volta das duas histórias. "Central do Brasil" é um grande filme pela sutileza com que manipula as emoções. "A Vida é Bela" é feio porque empurra as emoções a golpes de faca. Num, a narrativa acaba quando Fernanda Montenegro toma seu rumo. No outro, faltou coragem ao diretor para terminar seu trabalho sem recorrer à mais banal das soluções para filmes em que há guerra.
"Central do Brasil" é uma obra de quem quer entender e mostrar o que sabe da vida complicada dos brasileiros. "A Vida é Bela" é mais uma tentativa de preservar a grandeza européia varrendo para baixo do tapete sua difícil convivência com os conceitos de pureza étnica. Os dois filmes não foram feitos para ser comparados nem concebidos para competir, mas, se "Central do Brasil" levar o Oscar, fará um bem imenso à cultura da Europa.
Entenderam?
Infância
3.0 16Um filme gostoso de assistir. Muito bem elaborado.
A Visita
3.3 1,6KFraldas são perigosas.
O Vale do Amor
3.2 40 Assista AgoraUm filme estranhamente bom.
Love
3.5 882 Assista AgoraÉPOCA - O senhor concorda quando classificam filmes como Love como uma pornografia cult ou alternativa?
Gaspar Noé - A palavra pornô está muito associada a um gênero cinematográfico que tem muito pouco a ver com a relação amorosa. São imagens que, geralmente, não têm nem passado nem futuro. As pessoas não se beijam. As mulheres não se apaixonam. Nunca ficam grávidas. Não considero meu filme um pornô. Meu filme é um drama.
http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/09/gaspar-noe-por-que-temos-de-tirar-o-sexo-das-historias-se-ele-e-natural-vida.html
Love
3.5 882 Assista AgoraA linguagem do filme não é apenas em palavras ;)
Love
3.5 882 Assista AgoraUma ode ao amor.
- Ei, você sabe o sentido da vida?
- Amor
O Pássaro Azul
4.0 110A atriz que faz a Mytyl é muito boa. Problema do filme é a trilha sonora enjoada. Historinha boba que da tristeza. Quanto ao resto é tudo mt bem feito, mas um cenário bonito não segura esse filme.
Longe dos Homens
3.8 30 Assista AgoraUma grata surpresa.
Partisan
3.0 14Poderia ter sido beeem melhor.
Felix e Meira
3.6 10O filme expressa um sentimento, uma agonia, que não se vê muito no cinema. Uma explosão.
O Amor é Estranho
3.7 108 Assista AgoraUm filme sutil, bonito e bem feito.
Dois Perdidos Numa Noite Suja
3.5 9Um drama psicológico fortíssimo. Ambos atores representam bem seus papéis.
Minha Mãe
3.7 61 Assista AgoraO mundo precisa de mais filmes como este.
Amizade Desfeita
2.8 1,1K Assista AgoraJá vale só pela inovação em termos de como foi, tudo bem dinâmico.
Dragon Ball Z: A Batalha dos Deuses
3.2 661Ficou bem ''bobinho''.
A Centopéia Humana 2
2.6 936Melhor um pouco que o primeiro, mas não tão elaborado. Filme de louco.
O Julgamento de Viviane Amsalem
4.3 83 Assista AgoraÓtimo, o filme não perde o fio em nenhum momento, me lembrou as vzs o filme 'A Paixão de Joana D'Arc'.
Entre Abelhas
3.4 832O filme é bom, mas também não é tudo isso o que falam. Me lembrou o especial de natal da minissérie Black Mirror.
Em que você poderia bloquear uma pessoa e não vê-la ou ouvi-la, mas não poderia fazer mts vezes se não essa pessoa seria bloqueada para sempre. O que não é o caso deste.
Faltou o filme explorar mais a parte de como ele vê as pessoas, se ele não vê nada, se quando alguém pega algo, flutua ou some também. Já que a pessoa vestida desaparece por completo, e quando tira a roupa a roupa continua invisível? Detalhes que não importa muito pra história, mas daria um nó nessa ponta solta.
E o filme pra cada lado que vira tentam fazer piadinhas. Podia ter menos disso também. Mas ok.
Aprisionados
2.6 100A "homenagem" ao Kubrick na cena filmada embaixo do comandante. hahahaha
Pasolini
3.2 37 Assista AgoraUm filme que mistura um pouco de Pasolini e Ferrara. Um pouco da vida do Diretor e o que ele faria em seguida. Pasolini movido pelo amor ao cinema.
Corujas Caçam à Noite
3.7 2(Online)
https://www.youtube.com/watch?v=4XCdme0ej9I
Filme autoral. Espero que apreciem.
As Vozes
3.2 340Já vi isso antes, e bem melhor. http://filmow.com/gato-t13699/