Filme simplesmente sensacional. É louvável a forma que Noah Baumbach, apesar de seu lugar de gênero constituinte e incontornável enquanto sujeito, tece o filme sem ser maniqueísta: em incontáveis momentos, são feitas críticas a uma estrutura patriarcal e machista como forma de descrever e contextualizar a situação emocionalmente catastrófica que se insere a personagem Nicole Barber; mas, de forma análoga, é mostrada suas fragilidades com questões mal elaboradas em termos psicológicos que a fazem agir, de alguma forma, ferindo o ético e moralmente esquecido - por ambos - princípio de lealdade que por muito tempo sustentou o casal. Por tudo isso, o filme se torna complexo, profundo e assustadoramente real em sua forma de representar o fim de um casamento - ou, talvez, de muitos e representativos relacionamentos afetivos-amorosos.
Se caísse na armadilha de pesar a mão em um discurso feminista, a ponto dele se tornar vazio em significados sólidos, Noah levaria o filme para uma catástrofe entediante - ao mesmo desde o meu lugar. Se hipertrofiasse o amparo a subjetividade de Charlie Barber, o filme se tornaria mais uma inútil obra machistóide. Acertou em cheio, na minha opinião.
Queria pontuar apenas que, particularmente, acho de um "racionalismo" extremamente limitado pensar a história por trás da figura de Robert Johnson como uma simples explicação racista para um homem negro com habilidades questionadas.
Como ficou claro no filme, no ano que passou afastado, ele treinou bastante suas habilidades musicais e sua simbiose com o instrumento. A partir disso, Johnson descobriu uma forma revolucionária, por méritos próprios enquanto humano, de se tocar o blues. Porém, ao contrário do que porventura se pode ver por aí em análises, esse esforço pessoal não é desprezado (não deve ser) e provavelmente não era quando se cria uma dimensão mítica sobre seus feitos. A história por trás de sua ascensão prodigiosa, colocada em termos lendários, mais do que tudo, alça Robert Johnson a uma figura de "semi-deus"; um inegável "sobre-humano" maior do que qualquer branco ou preto que pisava essa terra. Através da explicação mítica, sua existência, ao se afastar de uma reles mundanidade, adquire um caráter maior do que qualquer explicação lógico-racional poderia dar. E sim, os mitos e a magia têm um papel fundamental em culturas autóctones de África, da América Latina e até mesmo da Europa. Não são meras "mentirinhas", mas formas únicas de se explicar algo que transcende a racionalidade lógico-formal. Sempre lembrando, também, que o discurso mítico sobre o bluesman surge entre os seus, nos murmúrios cotidianos dos campos de plantação e nos cochichos que se espreitam entre as paredes de uma noite de afagos e bebidas nos bares frequentados por pessoas pretas.
Tendo a crer que o rechaço a dimensão mítica do Robert Johnson, enquanto uma representação social simbolicamente sobre-humana, é mais uma característica de uma "lógica científico-racional" que é extremamente ocidentalista e, portanto, branca. A "magia" em torno da figura de Robert Johnson explica muito melhor seu caráter extraordinário do que qualquer explicação de uma ciência "positivista".
Filme muito ambicioso mas com problemas na execução e concretização. Da forma que se usam as câmeras e os planos até o próprio entrelaçar das personagens e aprofundamento de suas relações.
Único ponto que me soou um pouco debilitante foi não ter entrado com mais complexidade na personagem Maria do Boi. Ficou tudo muito restrito a dona Bastu - o que não chega a ser um grande problema já que tudo nela é bastante instigante e, de certa forma, acaba por suprir a falta de voz da Maria.
Acho que o erro de abordagem desse filme parte do princípio ou expectativa de que ele vai falar sobre A VIDA de Luiz Gama em muitos âmbitos quando, na verdade, toda sua construção é voltada para o entendimento mínimo dele enquanto advogado abolicionista. Aí, claro, falta aprofundar a figura da Luiza Mahin e do pai, a quem Luiz Gama se refere muito em alguns escritos, bem como outras coisas: relação de Gama com o Partido Liberal da época e informações básicas sobre sua morte sem sequer ter visto a abolição da escravatura no Brasil, o que é bem relevante.
Mas o filme claramente não se pretende a isso e, assim sendo, não sei se é, necessariamente, por essa ótica das 'faltas' que deve ser analisado. Ele cumpre bem o seu papel e as cenas do julgamento me lembraram muito o romance da Harper Lee, "O sol é para todos" em que parte do livro é também a descrição de um julgamento de um homem negro por um júri estado-unidense.
Aqui, talvez exista a minha maior crítica ao filme: ao contrário do que acontece em "O sol é para todos", a situação do filme Doutor Gama tem um final mais otimista e que faz parecer que a elite escravocrata e os homens brancos em geral caminhavam rumo à razão e ao entendimento do absurdo da questão racial no país e construiriam uma nação íntegra a partir de então. Tudo bem que a ideia pode ser a de propiciar alguma fagulha de otimismo para os dias de hoje mas pesou-se a mão nesse aspecto simbólico da união das raças, com certas doses de um entendimento freiriano de paraíso racial e etc. Pouco elaborado esse final após o júri. A verdade do processo e até mesmo do pós-abolicionismo a gente sabe bem qual é...
mas que acaba se perdendo um pouco do meio para o final, sobretudo porque esperamos um ato que dê uma grandeza maior ao filme e que, frustrantemente, nunca ocorre. Nesse viés, o que sobra é a ótima forma com que o autor trabalha os momentos de tensão em que Fernando vislumbra a possibilidade de assassinar Salvador (que sente isso) e da revelar explicitamente que ele é o marido da ex-mulher morta com quem Salvador tinha relações. Esses são, talvez, os "ápices" do filme.
No trato de Fernando com as mulheres da casa, há sempre, também, uma tensão para que haja uma relação sexual entre ele e a filha ou esposa de Salvador. Aqui, um certo grau de grandeza: Aly Muritiba rechaça o lugar comum do estereótipo da esposa vingativa para Raquel, mas, por outro lado, "peca" ao fazer com que a mesma nada faça para "penalizar" o marido pela sua infidelidade. Verossímil, ainda mais se tratando da redoma de uma mulher envolta à religião e os supostos deveres de esposa e mãe fiel e honesta, mas frustrante (ao menos pra mim).
Sobre Fernando, não consegui me solidarizar em nenhum momento com sua dor desde que partiu para sua empreitada. Foi baixo, sem caráter e, ademais, é impossível esperar algo de alguém que deixa o próprio filho para fazer essa patacoada de corno.
Ao final, uma história marcada por um certo toque de frivolidade típica das interrelações cotidianas, que guardam, também e por isso mesmo, algo extremamente instigante.
Achei esse filme simplesmente magnífico. Propõe reflexões profundas sobre as interrelações na sociedade capitalista e sobre a vida de maneira mais ampla e de formas filosóficas. O melhor de tudo é que faz isso em um roteiro simples e sem ser pedante ou presunçoso em nenhum momento.
O filme tem como pontos positivos, primeiro, o fato de ser um documento que contextualiza o conflito histórico desde o período da criação do Estado de Israel. Em segundo lugar, é interessantíssimo como a narrativa se constrói a partir da costura da história de mulheres. São esses os dois pontos altos do filme.
Por outro lado, existem momentos em que há uma compreensão "ocidentalóide" do conflito e dos dramas pessoais dos personagens, com diálogos e reflexões extremamente óbvias e reproduzidas aos montes em quaisquer obras cinematográficas que versem sobre a questão palestina e seu conflito com o sionismo israelense.
Filme espetacular. Em algumas ocasiões, poderia cair em um lugar comum no roteiro mas foi bastante profundo e propôs leituras muito mais aguçadas dos dilemas dos personagens. Não sei bem a tradição da Costa Rica nisso em sua literatura ou cinema, mas o filme teve vários momentos que me lembrou muito o realismo fantástico/mágico.
Tudo bem que são obras distintas e com modificações claras, além do fato de que a mudança de uma obra literária para uma linguagem fílmica nem sempre é tarefa fácil, mas não tem como não dizer que a obra da Clarice Lispector é infinitamente mais densa em termos existenciais e que as personagens são muito mais complexas do que a forma que se apresentam no filme.
Sabendo ser uma livre adaptação, é impossível ter a mínima dimensão da obra de Clarice aqui, com esses personagens apenas com uma pseudo profundidade que, se você espreme um pouco, não sai nada que não seja pura frivolidade.
Filme terrivelmente ruim. Parece que pegaram uma peça de teatro, que já não era boa, e adaptaram porcamente para a linguagem fílmica. Um desserviço para com o "Livro do Desassossego", do Fernando Pessoa (ou Bernardo Soares, nesse caso). Nada no filme dá a dimensão da complexibilidade e sensibilidade do que é declamado. Um amontoado de cenas desconexas quaisquer com declamações... Esse é o resumo de "Filme do Desassossego".
A única coisa que salva são as declamações de poesias e trechos do livro. Péssimo filme.
Impecável sátira à democracia burguesa na América Latina, bem como aos conflitos em torno da opressão contra o proletariado e o campesinato em um período da história brasileira em que a reforma agrária era cerne de todo debate intelectual de esquerda sobre os rumos do país. Notei, também, críticas pontuais ao 'intelectualismo' de esquerda, inclusive no que tange a certa hipocrisia de Paulo.
No viés artístico da obra, já ouvi de alguns que era um filme difícil, e até 'chato', pelo grau de teatralidade nas atuações. Ironicamente, foi o que me deixou bastante feliz e instigado no processo de visualização do filme. Aquelas cenas 'pouco reais', cheias de expressão teatral e pujança nas expressões faciais dos(as) atores(as) me fisgou completamente.
Sophia Charlotte está SENSACIONAL no papel, a melhor seguida do Gabriel Leone que também atuou muito bem. Anaira é um belíssimo exemplo de um espírito livre e, acredito,
que dentro da perspectiva de sua vida e interrelação com Dalberto, a traição fundamental da trama foi quando o personagem de Daniel de Oliveira viaja na missão ilícita e é incapaz de dizer a sua companheira a natureza do que ia fazer, deixando-a ao escuro e inclusive estendendo a viagem sem nunca mencionar o real motivo que o fez partir da forma que partiu. Na minha compreensão, esse foi um baque gigantesco para Anaira que, pelos traços colocando em filme, jamais julgaria Dalberto e, muito pelo contrário, aposto que se juntaria na missão por acreditar piamente que ambos estavam juntos para o que der e vier, literalmente, dali para a frente. Dalberto vacilou demais e, na vida real, no lugar de Anaira, uma ansiedade tomaria o peito de quase qualquer humano vivo diante da situação.
Sobre os clichês, em diversos momentos do filme eu dizia internamente: "que não aconteça isso porque se a narrativa for conduzida sob outro viés, se tornará muito melhor e mais complexa". Aí "pow", ia lá e acontecia exatamente o que eu queria que não acontecesse. Filme muito bom mas, por pecar em relação a cair em determinados lugares comuns de uma história sobre triângulos amorosos entre irmãos e afins, acaba não chegando no ápice de complexidade e discussão moral que o filme tinha TUDO para entregar.
que se a relação entre a personagem da Sophia Charlotte e o Gabriel Leone, ambos atuando muito bem em seus respectivos papéis, não ocorresse e ficasse aquele suspense e tensão sexual gigantesca como ficou com Dalmo, o filme ganharia muito em complexidade se bem explorado dali para frente. Algo meio Lavoura Arcaica e livro "Crônicas de uma casa assassinada", de Lúcio Cardoso, além do clássico "Dom Casmurro" de Machado de Assis, onde você duvida a todo tempo das interrelações amorosas. Mas ao final, o roteiro correu para um sentido um pouco mais óbvio.
Se o próprio Dalmo não tivesse demonstrado sua dissimulação no último quarto do filme e fosse explorado psicologicamente e moralmente desde um outro lugar, como o de um adulto que por conta de ter tido a obrigação de cuidar dos irmãos e tocar o negócio do pai se afasta das relações amorosas com mulheres e se torna quase um celibatário, mas mesmo assim guarda uma honestidade genuína em relação ao triangulo amoroso dos irmãos, já seria melhor. A narrativa quase foi nesse sentido: interpretei a cena das mãos sangrando como um autoflagelo, realizado por saber que aquilo que sua vontade lhe indicava fazer era moralmente incorreto. Depois, sem chances com Anaira, vai ao puteiro para conseguir sexo quase que da única forma que pode: pagando. Aí, no último quarto do filme o personagem dá uma guinada extremamente óbvia e mostra todo seu mau-caratismo impulsionado pelo ciúme e inveja (?). Poderia ter sido explorado desde um outro lugar bem mais complexo.
O filme, em geral, ficou sempre com essa expectativa frustrada, na minha opinião, em relação a caminhos que o tornariam uma verdadeira obra-prima do gênero, tal qual os livros Lavoura Arcaica (adaptado ao cinema pelo genial Karim Aïnouz), 'Crônicas de uma Casa Assassinada' (de Lúcio Cardoso) e o próprio 'Dom Casmurro' (de Machado de Assis). Faltou mais ousadia e complexidade no roteiro para se tornar uma obra-prima incontestável em termos de complexidade.
É um bom filme mas, ao final, não acredito estar nem entre os 3 melhores de Almodóvar, na minha humilde opinião. Parte dessa crítica está embasada, para mim, no fato de que é um filme em que a estética característica do diretor aparece apenas em brevíssimos e tímidos momentos.
Então, assisti a versão estendida com umas 3:16 horas de duração.
É um filme simplesmente singular do ponto de vista técnico: fotografia, posicionamento de câmera, enquadramento e tudo mais é simplesmente irretocável.
Do ponto simbólico, é também uma obra-prima. Discute os traumas irreversíveis daqueles que foram para a guerra do Vietnã e desenvolveram inúmeras sequelas, como o próprio Graham que passa a questionar a utilidade e sanidade da missão dos EUA no país asiático,
flertando em vários momentos com o pensamento do personagem de Marlon Brando - o 'traídor' Coronel Kurtz.
Além disso, entra todo o pressuposto crítico dos soldados jovens norte-americanos que iam para a guerra com um certo deslumbramento e com pouquíssimo treinamento físico e emocional, lutando uma guerra que não era deles no final das contas.
No âmbito do roteiro e da narrativa em si, a versão estendida é muito entediante em alguns momentos na medida em que cenas que deveriam ser mais curtas acabam levando minutos e minutos, a exemplo
de toda a cena da versão estendida em relação a criação de uma base em um lugar bom para surfar. Por mais que tenha como intuito mostrar o grau de delírio dos militares de maiores patentes na guerra, exemplificado no Tenente Coronel Bill Kilgore, fidedigno estereótipo do estado-unidense fútil, boçalmente patriótico, cretino e superficial, esse momento do filme acabou sendo desnecessariamente longo. Como esse, existem vários outros assim na versão estendida
Se eu tivesse assistido a versão comercial, tenho certeza que minhas impressões seriam ainda melhores sobre essa obra-prima. Por assistir a estendida, acabei ficando com um certo sentimento de que o filme poderia ser melhor em alguns aspectos.
Filme bastante cansativo. Se você analisa ele através da analogia da relação de Colm e Pádraic com a guerra civil irlandesa, em que havia em disputa dois projetos de nação, ele é muito potencializado em sentido e significado. Agora, se você foca nos aspectos subjetivos e emocionais da relação de Colm e Pádraic, o filme deixa muito a desejar, embora tenha uma premissa primorosa que poderia ser melhor explorada.
Nesse segundo caso o filme se apresenta como um pêndulo: há um problema/conflito na relação dos dois personagens, uma resolução passageira no dilema para, ao final, apresentar um desfecho óbvio. E assim se vão 2hrs de filme nesse ciclo com pouquíssimo aprofundamento. Nesse processo, são colocadas doses de comicidade desnecessárias que deixam o filme extremamente superficial, como disse, sem entrar nos labirintos morais e existenciais de personagens não só como Colm e Pádraic, como sobretudo Siobhan.
Decerto que é um filme com boas referências e uma fotografia excelente, mas a minha sensação ao assistir foi essa que escrevo (com alguns pontos aperfeiçoados ao conversar com as pessoas que assistiram comigo).
Achei estranha a nota tão negativa por aqui. É um filme honesto pro gênero. Já assisti alguns hollywoodianos com o mesmo enredo que não entregam metade desse.
Achei que foi um filme bastante realista. Soube captar muito bem não só todo o contexto do exercício do trabalho fabril e atuação sindical como, também, aspectos importantíssimos da vida privada das famílias e as relações de vizinhança dentro de um bairro operário.
Me intrigou, dentro do âmbito privado, por exemplo, o papel exercido pela personagem da Fernanda Montenegro. Ela era simplesmente fundamental não só no equilíbrio emocional da família como também na possibilidade de reprodução do próprio capital na medida em que é ela, individualmente, que proporciona as condições necessárias e indispensáveis para a reprodução da força de trabalho do seu marido e de seu filho. Por essas e outras que o filme é muito rico.
Única crítica está na atuação de alguns atores, embora a Fernanda Montenegro, Guarnieri e Milton Gonçalves estejam ótimas. Exemplo? Achei a atuação de Anselmo Vasconcelos, o "Jesuíno", desnecessariamente estereotipada.
Imerso em relações de trabalho que o aproximam de mero item descartável quando chega a idade, sem trajetórias, sem vida, sem sonhos, apenas força motriz de uma engrenagem, Adam permite, acuado, que essas relações destruam outras dimensões de sua vida: se deterioram seus laços familiares e se corrói o seu caráter. A competição por um posto de trabalho coloca pais e filhos, trabalhadores e trabalhadoras, uns contra os outros de maneira vil.
Confesso que fui ao cinema com um certo receio de me deparar com mais uma bobajada sobre OVNIs e afins. Porém, que bom que confiei na capacidade de Jordan Peele em trazer uma boa discussão através de algo inventivo e inusual. "Get Out" e "Us" ainda são melhores que esse, mas "Nope" tem seus próprios méritos e lugar na carreira do diretor.
Magnífica experiência cinematográfica de alteridade, Wyñaypacha tem como debate transversal uma realidade cruel de comunidades tradicionais, indígenas e camponesas latino-americanas: a evasão da sua juventude que migra em peso para as grandes cidades em busca de novos modus vivendi em ocupações mais "urbanitas". Ocorre nas comunidades do sul camponês e indígena do México; no altiplano peruano (vide o filme), nos interiores do Brasil e em mais outras tantas realidades disso que chamamos américa latina. Com tal fenômeno, o que acaba por se perder são línguas e partes de nossa identidade cultural: formas de ver, representar e atuar sobre o mundo bastante particulares.
Única crítica que tenho sobre o filme, embora não saiba expressar tecnicamente, é a utilização de enquadramentos sempre fechados. Pensando nisso, imaginei que talvez pudesse ser um elemento para demonstrar o tamanho da responsabilidade de Willka e Phaxsi sobre suas próprias vidas naquele contexto. Pouco importava mostrar as belezas da paisagem andina em tomadas abertas se o que o filme queria mostrar mesmo era justamente o "encarceramento" dos dois naquele árduo cotidiano. Diante daquela imensidão, na verdade o que existia era só a presença um do outro para a manutenção da vida.
Como um filme que se passa na Colômbia e pela própria trama, é difícil não lembrar do realismo mágico, sobretudo aquele de Gabriel Garcia Marquez. A fotografia, as interpretações sobre as causas do som e todas as cenas mais pueris do cotidiano (filmadas por vezes em silêncio) são os pontos altos do filme. Acontece que em vários momentos se perdeu quase que por completo a razoabilidade do elemento fantástico, que aparece quase que sem intuito nenhum como uma mera aberração pitoresca de algo que se pressupõe inteligente.
Altamente superestimado. Não chega a ser um filme ruim, afinal, abre algumas boas janelas para reflexões filosóficas. O problema é que não as explora com maestria (o que parece nem ser o intuito). Ritmo excessivamente frenético e angustiante, incapacitando-nos de meditar sobre aquilo que está sendo exposto.
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista AgoraFilme simplesmente sensacional. É louvável a forma que Noah Baumbach, apesar de seu lugar de gênero constituinte e incontornável enquanto sujeito, tece o filme sem ser maniqueísta: em incontáveis momentos, são feitas críticas a uma estrutura patriarcal e machista como forma de descrever e contextualizar a situação emocionalmente catastrófica que se insere a personagem Nicole Barber; mas, de forma análoga, é mostrada suas fragilidades com questões mal elaboradas em termos psicológicos que a fazem agir, de alguma forma, ferindo o ético e moralmente esquecido - por ambos - princípio de lealdade que por muito tempo sustentou o casal. Por tudo isso, o filme se torna complexo, profundo e assustadoramente real em sua forma de representar o fim de um casamento - ou, talvez, de muitos e representativos relacionamentos afetivos-amorosos.
Se caísse na armadilha de pesar a mão em um discurso feminista, a ponto dele se tornar vazio em significados sólidos, Noah levaria o filme para uma catástrofe entediante - ao mesmo desde o meu lugar. Se hipertrofiasse o amparo a subjetividade de Charlie Barber, o filme se tornaria mais uma inútil obra machistóide. Acertou em cheio, na minha opinião.
ReMastered: O Diabo na Encruzilhada
3.8 54 Assista AgoraQueria pontuar apenas que, particularmente, acho de um "racionalismo" extremamente limitado pensar a história por trás da figura de Robert Johnson como uma simples explicação racista para um homem negro com habilidades questionadas.
Como ficou claro no filme, no ano que passou afastado, ele treinou bastante suas habilidades musicais e sua simbiose com o instrumento. A partir disso, Johnson descobriu uma forma revolucionária, por méritos próprios enquanto humano, de se tocar o blues. Porém, ao contrário do que porventura se pode ver por aí em análises, esse esforço pessoal não é desprezado (não deve ser) e provavelmente não era quando se cria uma dimensão mítica sobre seus feitos. A história por trás de sua ascensão prodigiosa, colocada em termos lendários, mais do que tudo, alça Robert Johnson a uma figura de "semi-deus"; um inegável "sobre-humano" maior do que qualquer branco ou preto que pisava essa terra. Através da explicação mítica, sua existência, ao se afastar de uma reles mundanidade, adquire um caráter maior do que qualquer explicação lógico-racional poderia dar. E sim, os mitos e a magia têm um papel fundamental em culturas autóctones de África, da América Latina e até mesmo da Europa. Não são meras "mentirinhas", mas formas únicas de se explicar algo que transcende a racionalidade lógico-formal. Sempre lembrando, também, que o discurso mítico sobre o bluesman surge entre os seus, nos murmúrios cotidianos dos campos de plantação e nos cochichos que se espreitam entre as paredes de uma noite de afagos e bebidas nos bares frequentados por pessoas pretas.
Tendo a crer que o rechaço a dimensão mítica do Robert Johnson, enquanto uma representação social simbolicamente sobre-humana, é mais uma característica de uma "lógica científico-racional" que é extremamente ocidentalista e, portanto, branca. A "magia" em torno da figura de Robert Johnson explica muito melhor seu caráter extraordinário do que qualquer explicação de uma ciência "positivista".
Rheingold: O Roubo do Sucesso
3.3 3Filme muito ambicioso mas com problemas na execução e concretização. Da forma que se usam as câmeras e os planos até o próprio entrelaçar das personagens e aprofundamento de suas relações.
Girimunho
3.9 31Filme grandioso.
Único ponto que me soou um pouco debilitante foi não ter entrado com mais complexidade na personagem Maria do Boi. Ficou tudo muito restrito a dona Bastu - o que não chega a ser um grande problema já que tudo nela é bastante instigante e, de certa forma, acaba por suprir a falta de voz da Maria.
Doutor Gama
3.6 53 Assista AgoraAcho que o erro de abordagem desse filme parte do princípio ou expectativa de que ele vai falar sobre A VIDA de Luiz Gama em muitos âmbitos quando, na verdade, toda sua construção é voltada para o entendimento mínimo dele enquanto advogado abolicionista. Aí, claro, falta aprofundar a figura da Luiza Mahin e do pai, a quem Luiz Gama se refere muito em alguns escritos, bem como outras coisas: relação de Gama com o Partido Liberal da época e informações básicas sobre sua morte sem sequer ter visto a abolição da escravatura no Brasil, o que é bem relevante.
Mas o filme claramente não se pretende a isso e, assim sendo, não sei se é, necessariamente, por essa ótica das 'faltas' que deve ser analisado. Ele cumpre bem o seu papel e as cenas do julgamento me lembraram muito o romance da Harper Lee, "O sol é para todos" em que parte do livro é também a descrição de um julgamento de um homem negro por um júri estado-unidense.
Aqui, talvez exista a minha maior crítica ao filme: ao contrário do que acontece em "O sol é para todos", a situação do filme Doutor Gama tem um final mais otimista e que faz parecer que a elite escravocrata e os homens brancos em geral caminhavam rumo à razão e ao entendimento do absurdo da questão racial no país e construiriam uma nação íntegra a partir de então. Tudo bem que a ideia pode ser a de propiciar alguma fagulha de otimismo para os dias de hoje mas pesou-se a mão nesse aspecto simbólico da união das raças, com certas doses de um entendimento freiriano de paraíso racial e etc. Pouco elaborado esse final após o júri. A verdade do processo e até mesmo do pós-abolicionismo a gente sabe bem qual é...
Para Minha Amada Morta
3.5 96 Assista AgoraÉ um filme interessante
mas que acaba se perdendo um pouco do meio para o final, sobretudo porque esperamos um ato que dê uma grandeza maior ao filme e que, frustrantemente, nunca ocorre. Nesse viés, o que sobra é a ótima forma com que o autor trabalha os momentos de tensão em que Fernando vislumbra a possibilidade de assassinar Salvador (que sente isso) e da revelar explicitamente que ele é o marido da ex-mulher morta com quem Salvador tinha relações. Esses são, talvez, os "ápices" do filme.
No trato de Fernando com as mulheres da casa, há sempre, também, uma tensão para que haja uma relação sexual entre ele e a filha ou esposa de Salvador. Aqui, um certo grau de grandeza: Aly Muritiba rechaça o lugar comum do estereótipo da esposa vingativa para Raquel, mas, por outro lado, "peca" ao fazer com que a mesma nada faça para "penalizar" o marido pela sua infidelidade. Verossímil, ainda mais se tratando da redoma de uma mulher envolta à religião e os supostos deveres de esposa e mãe fiel e honesta, mas frustrante (ao menos pra mim).
Sobre Fernando, não consegui me solidarizar em nenhum momento com sua dor desde que partiu para sua empreitada. Foi baixo, sem caráter e, ademais, é impossível esperar algo de alguém que deixa o próprio filho para fazer essa patacoada de corno.
Ao final, uma história marcada por um certo toque de frivolidade típica das interrelações cotidianas, que guardam, também e por isso mesmo, algo extremamente instigante.
Lugares Comuns
4.0 36Achei esse filme simplesmente magnífico. Propõe reflexões profundas sobre as interrelações na sociedade capitalista e sobre a vida de maneira mais ampla e de formas filosóficas. O melhor de tudo é que faz isso em um roteiro simples e sem ser pedante ou presunçoso em nenhum momento.
Miral
3.5 23O filme tem como pontos positivos, primeiro, o fato de ser um documento que contextualiza o conflito histórico desde o período da criação do Estado de Israel. Em segundo lugar, é interessantíssimo como a narrativa se constrói a partir da costura da história de mulheres. São esses os dois pontos altos do filme.
Por outro lado, existem momentos em que há uma compreensão "ocidentalóide" do conflito e dos dramas pessoais dos personagens, com diálogos e reflexões extremamente óbvias e reproduzidas aos montes em quaisquer obras cinematográficas que versem sobre a questão palestina e seu conflito com o sionismo israelense.
E seu nome é Jonas
3.8 61Vi dublado e acho que isso estragou muito a experiência.
Clara Sola
3.9 9Filme espetacular. Em algumas ocasiões, poderia cair em um lugar comum no roteiro mas foi bastante profundo e propôs leituras muito mais aguçadas dos dilemas dos personagens. Não sei bem a tradição da Costa Rica nisso em sua literatura ou cinema, mas o filme teve vários momentos que me lembrou muito o realismo fantástico/mágico.
O Livro dos Prazeres
3.3 44Tudo bem que são obras distintas e com modificações claras, além do fato de que a mudança de uma obra literária para uma linguagem fílmica nem sempre é tarefa fácil, mas não tem como não dizer que a obra da Clarice Lispector é infinitamente mais densa em termos existenciais e que as personagens são muito mais complexas do que a forma que se apresentam no filme.
Sabendo ser uma livre adaptação, é impossível ter a mínima dimensão da obra de Clarice aqui, com esses personagens apenas com uma pseudo profundidade que, se você espreme um pouco, não sai nada que não seja pura frivolidade.
Filme do Desassossego
3.7 19Filme terrivelmente ruim. Parece que pegaram uma peça de teatro, que já não era boa, e adaptaram porcamente para a linguagem fílmica. Um desserviço para com o "Livro do Desassossego", do Fernando Pessoa (ou Bernardo Soares, nesse caso). Nada no filme dá a dimensão da complexibilidade e sensibilidade do que é declamado. Um amontoado de cenas desconexas quaisquer com declamações... Esse é o resumo de "Filme do Desassossego".
A única coisa que salva são as declamações de poesias e trechos do livro. Péssimo filme.
Terra em Transe
4.1 286 Assista AgoraImpecável sátira à democracia burguesa na América Latina, bem como aos conflitos em torno da opressão contra o proletariado e o campesinato em um período da história brasileira em que a reforma agrária era cerne de todo debate intelectual de esquerda sobre os rumos do país. Notei, também, críticas pontuais ao 'intelectualismo' de esquerda, inclusive no que tange a certa hipocrisia de Paulo.
No viés artístico da obra, já ouvi de alguns que era um filme difícil, e até 'chato', pelo grau de teatralidade nas atuações. Ironicamente, foi o que me deixou bastante feliz e instigado no processo de visualização do filme. Aquelas cenas 'pouco reais', cheias de expressão teatral e pujança nas expressões faciais dos(as) atores(as) me fisgou completamente.
O Rio do Desejo
3.4 45Sophia Charlotte está SENSACIONAL no papel, a melhor seguida do Gabriel Leone que também atuou muito bem. Anaira é um belíssimo exemplo de um espírito livre e, acredito,
que dentro da perspectiva de sua vida e interrelação com Dalberto, a traição fundamental da trama foi quando o personagem de Daniel de Oliveira viaja na missão ilícita e é incapaz de dizer a sua companheira a natureza do que ia fazer, deixando-a ao escuro e inclusive estendendo a viagem sem nunca mencionar o real motivo que o fez partir da forma que partiu. Na minha compreensão, esse foi um baque gigantesco para Anaira que, pelos traços colocando em filme, jamais julgaria Dalberto e, muito pelo contrário, aposto que se juntaria na missão por acreditar piamente que ambos estavam juntos para o que der e vier, literalmente, dali para a frente. Dalberto vacilou demais e, na vida real, no lugar de Anaira, uma ansiedade tomaria o peito de quase qualquer humano vivo diante da situação.
Sobre os clichês, em diversos momentos do filme eu dizia internamente: "que não aconteça isso porque se a narrativa for conduzida sob outro viés, se tornará muito melhor e mais complexa". Aí "pow", ia lá e acontecia exatamente o que eu queria que não acontecesse. Filme muito bom mas, por pecar em relação a cair em determinados lugares comuns de uma história sobre triângulos amorosos entre irmãos e afins, acaba não chegando no ápice de complexidade e discussão moral que o filme tinha TUDO para entregar.
Acredito, inclusive,
que se a relação entre a personagem da Sophia Charlotte e o Gabriel Leone, ambos atuando muito bem em seus respectivos papéis, não ocorresse e ficasse aquele suspense e tensão sexual gigantesca como ficou com Dalmo, o filme ganharia muito em complexidade se bem explorado dali para frente. Algo meio Lavoura Arcaica e livro "Crônicas de uma casa assassinada", de Lúcio Cardoso, além do clássico "Dom Casmurro" de Machado de Assis, onde você duvida a todo tempo das interrelações amorosas. Mas ao final, o roteiro correu para um sentido um pouco mais óbvio.
Se o próprio Dalmo não tivesse demonstrado sua dissimulação no último quarto do filme e fosse explorado psicologicamente e moralmente desde um outro lugar, como o de um adulto que por conta de ter tido a obrigação de cuidar dos irmãos e tocar o negócio do pai se afasta das relações amorosas com mulheres e se torna quase um celibatário, mas mesmo assim guarda uma honestidade genuína em relação ao triangulo amoroso dos irmãos, já seria melhor. A narrativa quase foi nesse sentido: interpretei a cena das mãos sangrando como um autoflagelo, realizado por saber que aquilo que sua vontade lhe indicava fazer era moralmente incorreto. Depois, sem chances com Anaira, vai ao puteiro para conseguir sexo quase que da única forma que pode: pagando. Aí, no último quarto do filme o personagem dá uma guinada extremamente óbvia e mostra todo seu mau-caratismo impulsionado pelo ciúme e inveja (?). Poderia ter sido explorado desde um outro lugar bem mais complexo.
O filme, em geral, ficou sempre com essa expectativa frustrada, na minha opinião, em relação a caminhos que o tornariam uma verdadeira obra-prima do gênero, tal qual os livros Lavoura Arcaica (adaptado ao cinema pelo genial Karim Aïnouz), 'Crônicas de uma Casa Assassinada' (de Lúcio Cardoso) e o próprio 'Dom Casmurro' (de Machado de Assis). Faltou mais ousadia e complexidade no roteiro para se tornar uma obra-prima incontestável em termos de complexidade.
A Pele que Habito
4.2 5,1K Assista AgoraÉ um bom filme mas, ao final, não acredito estar nem entre os 3 melhores de Almodóvar, na minha humilde opinião. Parte dessa crítica está embasada, para mim, no fato de que é um filme em que a estética característica do diretor aparece apenas em brevíssimos e tímidos momentos.
Apocalypse Now
4.3 1,2K Assista AgoraEntão, assisti a versão estendida com umas 3:16 horas de duração.
É um filme simplesmente singular do ponto de vista técnico: fotografia, posicionamento de câmera, enquadramento e tudo mais é simplesmente irretocável.
Do ponto simbólico, é também uma obra-prima. Discute os traumas irreversíveis daqueles que foram para a guerra do Vietnã e desenvolveram inúmeras sequelas, como o próprio Graham que passa a questionar a utilidade e sanidade da missão dos EUA no país asiático,
flertando em vários momentos com o pensamento do personagem de Marlon Brando - o 'traídor' Coronel Kurtz.
No âmbito do roteiro e da narrativa em si, a versão estendida é muito entediante em alguns momentos na medida em que cenas que deveriam ser mais curtas acabam levando minutos e minutos, a exemplo
de toda a cena da versão estendida em relação a criação de uma base em um lugar bom para surfar. Por mais que tenha como intuito mostrar o grau de delírio dos militares de maiores patentes na guerra, exemplificado no Tenente Coronel Bill Kilgore, fidedigno estereótipo do estado-unidense fútil, boçalmente patriótico, cretino e superficial, esse momento do filme acabou sendo desnecessariamente longo. Como esse, existem vários outros assim na versão estendida
Se eu tivesse assistido a versão comercial, tenho certeza que minhas impressões seriam ainda melhores sobre essa obra-prima. Por assistir a estendida, acabei ficando com um certo sentimento de que o filme poderia ser melhor em alguns aspectos.
Os Banshees de Inisherin
3.9 572 Assista AgoraFilme bastante cansativo. Se você analisa ele através da analogia da relação de Colm e Pádraic com a guerra civil irlandesa, em que havia em disputa dois projetos de nação, ele é muito potencializado em sentido e significado. Agora, se você foca nos aspectos subjetivos e emocionais da relação de Colm e Pádraic, o filme deixa muito a desejar, embora tenha uma premissa primorosa que poderia ser melhor explorada.
Nesse segundo caso o filme se apresenta como um pêndulo: há um problema/conflito na relação dos dois personagens, uma resolução passageira no dilema para, ao final, apresentar um desfecho óbvio. E assim se vão 2hrs de filme nesse ciclo com pouquíssimo aprofundamento. Nesse processo, são colocadas doses de comicidade desnecessárias que deixam o filme extremamente superficial, como disse, sem entrar nos labirintos morais e existenciais de personagens não só como Colm e Pádraic, como sobretudo Siobhan.
Decerto que é um filme com boas referências e uma fotografia excelente, mas a minha sensação ao assistir foi essa que escrevo (com alguns pontos aperfeiçoados ao conversar com as pessoas que assistiram comigo).
Temporada de Caça
2.9 10Achei estranha a nota tão negativa por aqui. É um filme honesto pro gênero. Já assisti alguns hollywoodianos com o mesmo enredo que não entregam metade desse.
Atuação do Germán Palacios foi sensacional.
Eles Não Usam Black-Tie
4.3 286Achei que foi um filme bastante realista. Soube captar muito bem não só todo o contexto do exercício do trabalho fabril e atuação sindical como, também, aspectos importantíssimos da vida privada das famílias e as relações de vizinhança dentro de um bairro operário.
Me intrigou, dentro do âmbito privado, por exemplo, o papel exercido pela personagem da Fernanda Montenegro. Ela era simplesmente fundamental não só no equilíbrio emocional da família como também na possibilidade de reprodução do próprio capital na medida em que é ela, individualmente, que proporciona as condições necessárias e indispensáveis para a reprodução da força de trabalho do seu marido e de seu filho. Por essas e outras que o filme é muito rico.
Única crítica está na atuação de alguns atores, embora a Fernanda Montenegro, Guarnieri e Milton Gonçalves estejam ótimas. Exemplo? Achei a atuação de Anselmo Vasconcelos, o "Jesuíno", desnecessariamente estereotipada.
Um Homem Que Grita
3.7 19Imerso em relações de trabalho que o aproximam de mero item descartável quando chega a idade, sem trajetórias, sem vida, sem sonhos, apenas força motriz de uma engrenagem, Adam permite, acuado, que essas relações destruam outras dimensões de sua vida: se deterioram seus laços familiares e se corrói o seu caráter. A competição por um posto de trabalho coloca pais e filhos, trabalhadores e trabalhadoras, uns contra os outros de maneira vil.
Não! Não Olhe!
3.5 1,3K Assista AgoraConfesso que fui ao cinema com um certo receio de me deparar com mais uma bobajada sobre OVNIs e afins. Porém, que bom que confiei na capacidade de Jordan Peele em trazer uma boa discussão através de algo inventivo e inusual. "Get Out" e "Us" ainda são melhores que esse, mas "Nope" tem seus próprios méritos e lugar na carreira do diretor.
Eternidade
3.9 21Magnífica experiência cinematográfica de alteridade, Wyñaypacha tem como debate transversal uma realidade cruel de comunidades tradicionais, indígenas e camponesas latino-americanas: a evasão da sua juventude que migra em peso para as grandes cidades em busca de novos modus vivendi em ocupações mais "urbanitas". Ocorre nas comunidades do sul camponês e indígena do México; no altiplano peruano (vide o filme), nos interiores do Brasil e em mais outras tantas realidades disso que chamamos américa latina. Com tal fenômeno, o que acaba por se perder são línguas e partes de nossa identidade cultural: formas de ver, representar e atuar sobre o mundo bastante particulares.
Única crítica que tenho sobre o filme, embora não saiba expressar tecnicamente, é a utilização de enquadramentos sempre fechados. Pensando nisso, imaginei que talvez pudesse ser um elemento para demonstrar o tamanho da responsabilidade de Willka e Phaxsi sobre suas próprias vidas naquele contexto. Pouco importava mostrar as belezas da paisagem andina em tomadas abertas se o que o filme queria mostrar mesmo era justamente o "encarceramento" dos dois naquele árduo cotidiano. Diante daquela imensidão, na verdade o que existia era só a presença um do outro para a manutenção da vida.
Memória
3.5 64 Assista AgoraComo um filme que se passa na Colômbia e pela própria trama, é difícil não lembrar do realismo mágico, sobretudo aquele de Gabriel Garcia Marquez. A fotografia, as interpretações sobre as causas do som e todas as cenas mais pueris do cotidiano (filmadas por vezes em silêncio) são os pontos altos do filme. Acontece que em vários momentos se perdeu quase que por completo a razoabilidade do elemento fantástico, que aparece quase que sem intuito nenhum como uma mera aberração pitoresca de algo que se pressupõe inteligente.
Um exemplo elucidativo está na cena da aeronave alienígena que é simplesmente um desrespeito a sensatez e discernimento de qualquer espectador.
Tudo em Todo O Lugar ao Mesmo Tempo
4.0 2,1K Assista AgoraAltamente superestimado. Não chega a ser um filme ruim, afinal, abre algumas boas janelas para reflexões filosóficas. O problema é que não as explora com maestria (o que parece nem ser o intuito). Ritmo excessivamente frenético e angustiante, incapacitando-nos de meditar sobre aquilo que está sendo exposto.