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Belo, criativo e profundo, o documentário de Rodrigo Siqueira cumpre um papel fundamental de resgate histórico sobre a poética dos afrodescendentes em Minas Gerais, capitania brasileira que recebeu o maior contingente de escravizados do século XVIII. Em Diamantina, no quilombo Quartel do Indaiá, as visões poéticas desse mundo sobrevivem nos vissungos, cantos de origem Bantu ligados à mineração e que representam uma das formas de resistência negra diante da sociedade escravista brasileira. Pedro de Alexina, protagonista e colaborador do filme, foi uma personalidade única. Um dos últimos cantadores de vissungos, sua forma de expressão e criatividade nos cativam desde o início do filme. Para quem assiste, seu falar faz lembrar Riobaldo de Guimarães Rosa, ainda mais por estar no sertão mineiro. Preocupado com as palavras e as expressões, o documentário traz assim uma sensibilidade para o espectador, a qual reside em uma reflexão sobre a importância da oralidade no processo de construção do conhecimento. É um documentário ímpar para entender as múltiplas vivências brasileiras e as formas de expressão poética quilombola. Em um momento do filme, o próprio Pedro de Alexina diz, ao refletir sobre a vida, que a poesia importa muito, afinal, "é verso toda vida. É verso mesmo moço.
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As cenas do curta mostram um retrato do Rio de Janeiro no início dos anos 1920. A modernidade entrava com fôlego na cidade, criando cenas novas e apagando outras. A imagens da derrubada do Morro do Castello, local que "era prejudicial a higiene urbana" e "habitado por um populacho desordeiro", mostram a ânsia por civilizar a cidade, na qual seriam realizadas as comemorações do Centenário da Independência, em 1922. Filmadas para o futuro rei da Itália, príncipe Umberto, as imagens deveriam mostrar um Rio harmônico e limpo, o que, por sua vez, excluía o trabalhador pobre e negro da capital da República. O curta tem um tom de denúncia bem apreciado, mostrando a descarada eugenia brasileira e os limites da ideia de progresso que abalou o Brasil no início do século passado. Mostra, sobretudo, as contradições de um país que buscava uma identidade nova. A República brasileira nasceu assim, tal como mostra o fime, vergonhosa de seu passado e irresponsável com o seu presente.