Confesso que, para mim, a primeira meia hora de filme se arrastou um pouco. Porém, lembrei que, mesmo sendo uma adaptação de Macbeth, a história foi transposta para o Japão feudal e possui suas próprias características. Como não podia deixar de fazer, Kurosawa transmite em seu filme todas as nuances desta tragédia. Temos o soldado com uma esposa murmuradora (e gananciosa) que é quem o leva à glória manchada que será sua ruína. No início o remorso o domina, mas depois temos uma inversão, e o soldado torna-se arrogante e seguro demais de seu destino. O final é apoteótico, quando o que é profetizado (aparentemente impossível) inevitavelmente acontece. Shakespeare se orgulharia dessa "montagem".
Líder de uma clã está cansado e repassa aos seus três filhos os seus poderes de liderança, porém não poderia imaginar que isso os dividiria e que ele mesmo se tornaria um alvo.
A cena de batalha/massacre lá por uma hora de filme, sem os sons da batalha, só tocando uma trilha melancólica, traz um misto de sensações conflitantes. É uma cena bonita esteticamente, como todo o filme, mas ao mesmo tempo brutal e cruel. E aquele "silêncio" dos efeitos sonoros com a música e o prolongamento da cena, como se aquela matança nunca mais fosse terminar, e que não nos poupa de suas imagens violentas, torna toda a situação desesperadora e traz uma tristeza se considerarmos que tudo aquilo vem de uma guerra familiar. Temos uma família desmanchada na distribuição de seus poderes entre os irmãos, e o pai, que foi quem concedeu esses poderes, não imaginava ver tudo chegar a esse ponto, ainda está vivo e no meio do fogo cruzado. Ele não é inocente, nem um pouco inocente, mas não dá para sentir a ironia e de se lamentar que as coisas saíram de seu controle e tornaram-se piores.
Adaptação do texto de Nikolai Gogol, Viy conta a história de um seminarista um tanto indisciplinado que acaba se envolvendo com uma bruxa, filha da nobreza, que perto de sua morte o chama para rezar por sua alma por 3 noites. O pai dela fica desconfiado sobre onde e como a filha e o seminarista se conheceram, mas resolve atender ao seu pedido. A cada noite em que o seminarista passa trancado na igreja com o cadáver, mais o medo toma conta dele devido às manifestações sobrenaturais.
É um filme que carrega um tom até cômico em suas situações, tenho a impressão de que o filme nem se leva a sério, mas pense num filme com um visual bonito e instigante. A terceira noite na igreja é o ponto alto da produção.
Um filme eficiente que funciona nas quebras de expectativas e entrega sua história com fragmentos de informação dos personagens, fragmentos esses que vêm à tona quando é inevitável. É cheio de reviravoltas, que surgem de maneira orgânica, e faz você se perguntar o que ainda pode acontecer nas cenas seguintes, quando tudo parece estar claro. O roteiro me fez desconfiar de tudo e de todos (e de suas atitudes) desde o início, e isso é bom, pois vira um jogo entre o espectador e o filme. O que você pensa que será um típico filme de "home invasion" ("invasão domiciliar"), torna-se um jogo de aparências e verdades muito piores do que aparentam. Gostei bastante. Filme envolvente, sem firulas e todo trabalhado no roteiro.
É um filme de espionagem e ação, mas bem aos moldes do cinema de Brian de Palma. Às vezes a trama me confundia, ainda que seja simples, mas normalmente eu me perco mesmo em tramas do gênero. Tudo eu pego bem por alto e num quadro geral, sem saber explicar cada detalhe caso alguém me pergunte. O que vale mais aqui é a construção de todo um clima em que ninguém parece ser confiável e também de preparação para cenas-chave, como aquela em que eles vão roubar informações num disquete e temos um suspense de tirar o fôlego, principalmente porque vemos anteriormente o que pode acontecer se falharem. Achei a cena do trem no final um tanto estranha e absurda no meio disso, mas levo em conta que a premissa dessa série de filmes existe no absurdo, ainda que esse primeiro seja um filme até bem sóbrio. O saldo é bem positivo.
Lèvres de Sang (1975) é um filme de Jean Rollin que gostei, porém é um tantinho estranho. Tem ares de sonho na maneira desconexa em que o protagonista vai de uma situação para a outra, às vezes sem muita liga, até metade do filme. Também tem algo de poético nas imagens: o filme em si é muito bonito, transformando as imagens das ruínas (o ponto de partida da busca que o protagonista faz de um passado que ele pensava ter esquecido, mas que bastou um pôster para ter essa memória engatilhada) em imagens belas e instigantes. Temos aqui um filme que às vezes me deixou em dúvida se era de vampiros ou de fantasmas (de uma recordação pendente), mas de certa maneira dá para ser os dois, embora o vampirismo seja o elemento mais forte. Não tem grandes cenas de violência, embora presentes, mas o filme todo tem uma condução elegante. Ainda assim, provavelmente não agradará a todos.
Um filme visceral, indigesto, e essa é mesmo a sua proposta. Num lugar em que o progresso (representado pela usina) tomou o passado e depois esse mesmo progresso foi deixado de lado, as pessoas que ali vivem à própria sorte passam por situações de dureza e miséria que aqui neste filme são mostradas de maneira crua. E justamente o personagem mais abjeto de todos é aquele que reclama de um "mundo de safadeza": um avô que, dizem, também é o pai (só para começar). Mas entre cenas fortes há também paisagens e passagens bonitas (como as cantorias e danças populares) e contemplativas que tentam recompensar a dureza deste cosmos do baixio das bestas, o que intencionalmente não consegue. É um filme de muita verdade. Uma denúncia de uma realidade que, infelizmente, ainda pode ser vista por aí em cidadezinhas pelo nosso Brasil. Coloca muito filme de terror no chinelo.
Uma antologia com 4 histórias que têm como elo uma casa antiga e isolada numa vila. Temos um escritor que fica obcecado com uma de criações, que parece ter se materializado; um museu de cera e uma mulher que se torna a obsessão dos homens; um pai viúvo que contrata uma professora para educar sua filha com medo do fogo; e um astro do cinema de horror que desaparece ao vivenciar situações estranhas ao comprar uma capa diferenciada para o papel de vampiro em seu novo filme. Há um investigador muito cético que escuta essas histórias enquanto investiga o sumiço do ator. Gostei das 4 histórias, mas nem sempre a casa tem ligação direta com os acontecimentos, a não ser pelo detalhe de todos os envolvidos serem seus ocupantes. Isso pode incomodar um pouco. Mas o ponto principal é que a casa parece externalizar o que há de mais sombrio nas pessoas, sendo natural ou sobrenatural, mesmo que a casa em si não pareça assombrada. Destaco o visual setentista todo charmoso da obra, com belas cores.
Quando o medieval e o contemporâneo (à época em que foi realizado o filme) coexistem de uma maneira estranhamente fascinante. Quando crenças antigas ainda vivem num mundo moderno. Quando uma família é posta em risco de se desmanchar por causa de um sacrifício não de todo involuntário; aliás, nada involuntário quando o sacrificado acredita.
O Olho do Diabo trabalha num clima de horror psicológico, sendo um filme nada explícito. É um folk horror ao estilo clássico. Deborah Kerr se destaca sendo a esposa protagonista que não compreende no que se meteu, mas também destaco o charme misterioso e venenoso de Odile, personagem interpretada por uma Sharon Tate ainda no início de uma carreira infelizmente muito curta por motivos trágicos. David Hemmings também combina bem com o papel de um jovem misterioso e frio (e blasé, mas aí é uma característica do próprio ator) no cumprimento de seu papel em todo aquele esquema. Um bom filme.
Um homem marcado por um erro do passado, mas sem arrependimento, tentando seguir em frente com a família que perdeu o que sempre lhe pareceu garantido: suas terras e sua vida nelas. Nomadismo involuntário, promessas e mais promessas de uma Terra Prometida, onde não há leite e mel, mas a desumanização, o tratamento desrespeitoso que precisam suportar, "pois eles precisam". Precisam andar na linha. Isso dói, mas entre perdas e quase nenhum ganho, eles seguem em frente e fazem o que podem. Vinhas da Ira é uma história de personagens fortes, mesmo aqueles que ficam para trás na jornada cansativa e aparentemente interminável por melhores condições. É um filme extraordinário.
A viagem longa que eles fazem até a Califórnia me lembra a viagem de mudança que minha família e eu fizemos numa van pequena, com nossos pertences e bichos, tudo junto e apertado, mas junto. É claro que não passamos nem um terço do aperto que a família do filme, que tinha tudo desfavorável para seu lado, mas não pude deixar de lembrar da exaustão. Foi uma grande aventura. Espero que as coisas tenham ficado bem para eles no final.
É uma história de fantasmas com boas ideias espalhadas aqui e ali, mas infelizmente é um filme que se compromete com cenas muito esquisitas, e não no bom sentido. Esperava algo mais sóbrio e até clássico, pela premissa, mas é um filme histérico que não funcionou muito bem para mim. Isso quando o visual não me tirou do filme, como nas cenas em que vemos os reflexos dos mortos se mexendo em fotos ou superfícies molhadas, o que fez eu me lembrar que estava vendo um filme de 2021, quebrando aquela ilusão de história de época. Tem certos excessos visuais que, em vez de me instigarem, fizeram foi eu perder o interesse; o que é uma pena, pois é um filme que até tem uma história para contar, com uma boa contextualização, mas a execução tornou a experiência muito chata. Difícil um filme desses me entediar, mas foi o caso.
Não espere aqui um filme de investigação em que uma cena segue a outra com ganchos atrás ganchos, muita ação ou reviravoltas super bombásticas. Tem um ritmo de cotidiano dentro daquele cosmos. O segredo está nas entrelinhas, na maneira como certos personagens ali se comportam. Vemos os bastidores de embates de ideias entre diferentes movimentos dentro da própria igreja católica, e, é claro, o peso destruidor da Inquisição. Cruel.
O destaque fica mesmo para a dinâmica entre mestre e pupilo dos personagens de Sean Connery e o jovem Christian Slater; sinto até que empresta um pouco das figuras de Sherlock e Watson, dadas as devidas proporções, mas até uma das frases mais conhecidas do Sherlock cinematográfico é utilizada aqui, e o mestre interpretado por Connery tem uma capacidade de observação nos detalhes bem aguçada. É bem interessante de acompanhar cada descoberta.
OBSERVAÇÃO EXTRA: Ô galera que não gosta mesmo de nada!
Bem longe de ser fiel ao livro: condensa bastante a história para ficar na duração de 82 minutos, toma algumas liberdades, muitos trechos e alguns personagens dos livros são inexistentes no filme. Dito isso, o filme funciona muito bem dentro da sua proposta de um longa-metragem não extenso, uma construção muito bem feita de atmosfera e um Drácula mais bestial, aqui interpretado pelo saudoso Christopher Lee, que viria a ser eternizado em tantos outros filmes do vampiro, que injeta um pouco mais de sangue à produção e traz mudanças significativas que tiram o pudor anterior das produções mais antigas sobre o personagem, que ainda assim são marcantes dentro de suas limitações de época. A Hammer fez História nos filmes de horror e não foi à toa.
Entre os longas do Ari Aster, ainda acho Hereditário melhor resolvido e executado. Porém, Beau is Afraid tem seus méritos em se assumir como uma viagem sem concessões por parte do cineasta, a começar por sua longa duração. É menos surtado do que eu esperava, apesar de ter pirações espalhadas ao longo de sua duração; mas acho o primeiro ato especialmente o mais surtado e caótico e esperava que fosse ser daquele jeito o tempo todo. Há um respiro lá por menos de 1 hora de filme. Só digo mais uma coisa: Ari Aster precisa urgente de uma terapia, mas não com um terapeuta como o desse filme. 😉
Carol é manicure num spa em Londres, sendo cercada de mulheres conscientes de si e de seu novo espaço num mundo de revolução feminina e uma forte onda do feminismo, no início dos anos 1960. Mas ela não se sente pertencente a esse grupo. Carol é tímida, retraída. E o que chamam de frígida. Os homens mexem com ela de uma maneira que a assusta, não apenas em abordagens incômodas, mas invadindo seu espaço pessoal, ao exemplo do amante casado de sua irmã mais velha, com quem Carol vive num apartamento, pois este deixa sua lâmina de barbear no copo de Carol. Ele em muito a incomoda. Mas o que dizer ou fazer? A irmã deixa bem claro que esse relacionamento não é problema dela. Carol é mesmo aquela pessoa que o mundo todo faz questão de apontar não ser pertencente a ele, sem precisar dizê-lo, ainda que ela tenha a simpatia de suas colegas de trabalho e de um pretendente que tenta se aproximar mais e compreendê-la, embora seja repelido pela própria garota. Para piorar as condições de Carol, que já demonstra "sonhar acordada", caindo em devaneios, ela fica sozinha no apartamento, pois a irmã e o amante viajam por alguns dias. É aí que o apartamento manifesta as suas inquietações: com rachaduras nas paredes, sons invasivos, telefonemas estranhos, visões aterradoras de abusos... Carol ainda deixa o apartamento num esfado deplorável, até de um certo abandono, sendo isso pontuado principalmente pela carne de coelho deixada fora da geladeira, a apodrecer bem aos poucos. Há ainda uma sugestão de que toda essa repulsa vem de algum trauma anterior, mas bem sutil, como são sutis a maioria utilizada dos elementos imagéticos para demonstrar a deterioração da psique de Carol. E a atuação da jovem Catherine Deneuve é fundamental para enfatizar o enigma e o poço de fobias que é a sua personagem. Primeira parte da "Trilogia do Apartamento" de Roman Polanski, Repulsion é um exercício de suspense e horror psicológicos conduzido com classe e com muito a dizer.
TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NO BLOG DO PROJETO PAURA (lunk para o blog no meu perfil!)
Um dos dramas/thrillers menos comentados de Almodóvar, Carne Trêmula inicia com o nascimento de Victor, filho de uma prostituta, num ônibus, numa Madri esvaziada pelo medo em 1970. Vinte anos se passam e o jovem Victor se apaixona e fica obcecado com Elena. Quando ele a procura, as coisas saem do controle e dois policiais aparecem. Um único tiro muda os destinos desses personagens.
É um filme sobre desejo, muito sexo e vingança, diria que um dos mais sensuais de Almodóvar, sendo a adaptação do livro Ruth Rendell, que eu desconhecia, mas vejo muito da marca registrada do cineasta espanhol. É um filme que exala paixão através das imagens e da inquietação de personagens extremamente passionais. Gostei demais.
Yolanda, uma cantora que se refugia num convento decadente de freiras chamadas por apelidos incomuns como Rata, Perdida, Esterco, entre outros, após seu namorado morrer de overdose de heroína.
Nesta comédia ainda há o escracho da fase inicial do cinema de Almodóvar, porém já com alguns elementos melodramáticos que nos trazem reflexões sobre como a salvação vem principalmente do reconhecimento de se estar quebrado, ainda que os maus hábitos façam parte do cotidiano de freiras tão hipócritas e excêntricas. Há tiradas espertas que podem soar ofensivos aos mais religiosas; podem não, provável que ofenda, mas vejo que essas tiradas tenham mais a intenção de fazer refletir do que de meramente criticar. Acontece que Almodóvar expressa mais abertamente esse lado humano e errático dessas personagens.
Ao que parece, a comédia noventista Mudança de Hábito pode muito bem ter se inspirado em Maus Hábitos, dadas as devidas proporções. Também não consegui deixar de notar alguns conceitos similares.
E se o seu maior medo fosse o de ser abduzido... por uma ambulância?
Sim, eu também não tinha pensado nessa possibilidade antes de assistir ao filme. E apesar de não ser um filme de causar medo, sendo mais um suspense investigativo com alguns toques de ação com alguma violência cômica e cenas de perseguição até bem feitas, A Ambulância é notável ao se fazer pensar num tipo diferente de ameaça.
O filme é conduzido com um senso de humor todo de um filme tipicamente trash, mas tem uma produção até decente para as suas pretensões simples. Também tem um elenco interessante, destacando-se Eric Roberts e James Earl Jones.
O irmão da Julia Roberts faz o papel de um quadrinista que é um sujeito pouco quisto por ser um chato e importunador de mulheres nas ruas de New York. Todo mundo o trata mal por ser essa figurinha carimbada, e isso é um ponto que dificultará muito as coisas para ele durante todo o longa. O filme começa com ele assediando uma bela mulher, que é diabética e passa mal do nada, para então ser levada por uma ambulância antiga (que descobri ser uma cadillac) e se tornar irrastreável. Obcecado por ela, o irmão da Julia Roberts começa a desconfiar de uma conspiração envolvendo a equipe de uma ambulância a sumir com pacientes. Depois de ter procurado um policial mascador de chicletes e não conseguir credibilidade em suas desconfianças, ele se alia a um jornalista que conhece no hospital e também pede ajuda de uma policial.
Larry Cohen (de A Coisa, The Stuff, aquele filme de 1985 do iogurte do capeta) traz aqui a questão de experimentos ilegais com cobaias humanos para fins medicinais, mas principalmente de lucro, quando um médico louco é a mente por trás desses sequestros. Ele acredita ter motivações nobres, mas a gente vê por sua personalidade unidimensional e em seu rosto com uma expressão impassível a total ausência de escrúpulos para esses seus fins, que em sua cabeça doentia justificam os meios. Então, mais uma vez o diretor traz alguma crítica importante sob essa roupagem de puro entretenimento, o que é sempre muito legal.
Só não achei legal que o roteiro, mesmo consciente de que assédio não é bom, ainda recompense o protagonista justamente por agir assim. O próprio protagonista sabe disso, mas o filme passa a impressão de que isso vale a pena.
Ele ficar com alguém no final passaria batido como uma recompensa problemática se não fosse pelo retorno no final do que diz a narração em off dita logo no início: "E isso é o que pode acontecer quando você aborda mulheres desconhecidas na rua", que a gente vê ser muito mais sobre perturbá-las, no caso deste cara.
Ou seja, por mais que o filme nos mostre que o protagonista tem o seu lado carismático para nos levar a torcer para que tudo dê certo e ele consiga provar que a ameaça da ambulância é real, não pude deixar passar essa pisada na bola do roteiro.
Ainda assim, A Ambulância vale a conferida como um bom passatempo.
Texto originalmente publicado no blog do Projeto Paura. Link para o blog no meu perfil.
Já no início os letreiros nos explicam o conceito: Barrow,no Alaska, uma cidade longe de estradas mais movimentadas. Sem sol por 30 dias no inverno. E logo a gente descobre também que sem ter quem procure seus habitantes neste período. Um forasteiro muito estranho e com uns papos malucos sabota toda a cidade e age como um lacaio dos seres estranhos que a invadem, facilitando sua circulação a partir do último pôr-do-sol antes daquele anoitecer prolongado por um mês e prejudicando quem fica.
O filme "30 Dias de Noite" é baseado na série de quadrinhos de mesmo nome, escrita por Steve Niles e ilustrada por Ben Templesmith, lançada em 2002 pela editora americana IDW Publishing. A história dos quadrinhos e do filme conta quando um grupo de vampiros chega em Barrow para se alimentar dos moradores da cidade. Os personagens são muitos, portanto eu não focarei neles aqui.
O filme às vezes nos lembra da passagem do tempo, umas três ou quatro vezes contabilizando em que dia estão, mas o tempo corrido do filme torna essa passagem de tempo facilmente confundível como se fosse a mesma noite, o que é ótimo para relembrar a grande problemática de ficarem ali no escuro à mercê dos vampiros.
Os vampiros no início são formas indefinidas ágeis que arrebatam suas vítimas do nada e as devora violentamente. Até pensei que boa parte do tempo ficariam apenas nas sombras, mas não é o que acontece. Mas depois gostei que eles surgem como figuras com aparência humana, mas com sangue no rosto e aspecto selvagem, bestial, num trabalho de maquiagem fenomenal. Eles se comunicam num idioma próprio, estranho, com barulhos meio sussurrados e estalados. Isso dá personalidade ao grupo. Gosto como, felizmente, não parecem ou soam como figuras tolas saídas da novela Mutantes, com um falatório que fizesse uma medição de poder entre eles e os habitantes da cidade, pois a maneira como os vampiros se comunicam é compreensível apenas entre eles e não para o público e nem para os outros personagens.
30 Dias de Noite é uma experiência envolvente e até mesmo surpreendente por ter suas características próprias para se diferenciar de tantas outras produções sobre vampiros.
Visite o blog do Projeto Paura. Link no meu perfil.
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Trono Manchado de Sangue
4.4 121 Assista AgoraConfesso que, para mim, a primeira meia hora de filme se arrastou um pouco. Porém, lembrei que, mesmo sendo uma adaptação de Macbeth, a história foi transposta para o Japão feudal e possui suas próprias características. Como não podia deixar de fazer, Kurosawa transmite em seu filme todas as nuances desta tragédia. Temos o soldado com uma esposa murmuradora (e gananciosa) que é quem o leva à glória manchada que será sua ruína. No início o remorso o domina, mas depois temos uma inversão, e o soldado torna-se arrogante e seguro demais de seu destino. O final é apoteótico, quando o que é profetizado (aparentemente impossível) inevitavelmente acontece. Shakespeare se orgulharia dessa "montagem".
Ran
4.5 265 Assista AgoraLíder de uma clã está cansado e repassa aos seus três filhos os seus poderes de liderança, porém não poderia imaginar que isso os dividiria e que ele mesmo se tornaria um alvo.
A cena de batalha/massacre lá por uma hora de filme, sem os sons da batalha, só tocando uma trilha melancólica, traz um misto de sensações conflitantes. É uma cena bonita esteticamente, como todo o filme, mas ao mesmo tempo brutal e cruel. E aquele "silêncio" dos efeitos sonoros com a música e o prolongamento da cena, como se aquela matança nunca mais fosse terminar, e que não nos poupa de suas imagens violentas, torna toda a situação desesperadora e traz uma tristeza se considerarmos que tudo aquilo vem de uma guerra familiar. Temos uma família desmanchada na distribuição de seus poderes entre os irmãos, e o pai, que foi quem concedeu esses poderes, não imaginava ver tudo chegar a esse ponto, ainda está vivo e no meio do fogo cruzado. Ele não é inocente, nem um pouco inocente, mas não dá para sentir a ironia e de se lamentar que as coisas saíram de seu controle e tornaram-se piores.
Um filme belíssimo e épico!
Viy: A Lenda do Monstro
3.8 81Adaptação do texto de Nikolai Gogol, Viy conta a história de um seminarista um tanto indisciplinado que acaba se envolvendo com uma bruxa, filha da nobreza, que perto de sua morte o chama para rezar por sua alma por 3 noites. O pai dela fica desconfiado sobre onde e como a filha e o seminarista se conheceram, mas resolve atender ao seu pedido. A cada noite em que o seminarista passa trancado na igreja com o cadáver, mais o medo toma conta dele devido às manifestações sobrenaturais.
É um filme que carrega um tom até cômico em suas situações, tenho a impressão de que o filme nem se leva a sério, mas pense num filme com um visual bonito e instigante. A terceira noite na igreja é o ponto alto da produção.
Frio nos Ossos
3.0 241 Assista AgoraUm filme eficiente que funciona nas quebras de expectativas e entrega sua história com fragmentos de informação dos personagens, fragmentos esses que vêm à tona quando é inevitável. É cheio de reviravoltas, que surgem de maneira orgânica, e faz você se perguntar o que ainda pode acontecer nas cenas seguintes, quando tudo parece estar claro. O roteiro me fez desconfiar de tudo e de todos (e de suas atitudes) desde o início, e isso é bom, pois vira um jogo entre o espectador e o filme. O que você pensa que será um típico filme de "home invasion" ("invasão domiciliar"), torna-se um jogo de aparências e verdades muito piores do que aparentam. Gostei bastante. Filme envolvente, sem firulas e todo trabalhado no roteiro.
Missão: Impossível
3.5 516 Assista AgoraÉ um filme de espionagem e ação, mas bem aos moldes do cinema de Brian de Palma. Às vezes a trama me confundia, ainda que seja simples, mas normalmente eu me perco mesmo em tramas do gênero. Tudo eu pego bem por alto e num quadro geral, sem saber explicar cada detalhe caso alguém me pergunte. O que vale mais aqui é a construção de todo um clima em que ninguém parece ser confiável e também de preparação para cenas-chave, como aquela em que eles vão roubar informações num disquete e temos um suspense de tirar o fôlego, principalmente porque vemos anteriormente o que pode acontecer se falharem. Achei a cena do trem no final um tanto estranha e absurda no meio disso, mas levo em conta que a premissa dessa série de filmes existe no absurdo, ainda que esse primeiro seja um filme até bem sóbrio. O saldo é bem positivo.
Lábios de Sangue
3.1 15Lèvres de Sang (1975) é um filme de Jean Rollin que gostei, porém é um tantinho estranho. Tem ares de sonho na maneira desconexa em que o protagonista vai de uma situação para a outra, às vezes sem muita liga, até metade do filme. Também tem algo de poético nas imagens: o filme em si é muito bonito, transformando as imagens das ruínas (o ponto de partida da busca que o protagonista faz de um passado que ele pensava ter esquecido, mas que bastou um pôster para ter essa memória engatilhada) em imagens belas e instigantes. Temos aqui um filme que às vezes me deixou em dúvida se era de vampiros ou de fantasmas (de uma recordação pendente), mas de certa maneira dá para ser os dois, embora o vampirismo seja o elemento mais forte. Não tem grandes cenas de violência, embora presentes, mas o filme todo tem uma condução elegante. Ainda assim, provavelmente não agradará a todos.
Baixio das Bestas
3.5 397 Assista AgoraUm filme visceral, indigesto, e essa é mesmo a sua proposta. Num lugar em que o progresso (representado pela usina) tomou o passado e depois esse mesmo progresso foi deixado de lado, as pessoas que ali vivem à própria sorte passam por situações de dureza e miséria que aqui neste filme são mostradas de maneira crua. E justamente o personagem mais abjeto de todos é aquele que reclama de um "mundo de safadeza": um avô que, dizem, também é o pai (só para começar). Mas entre cenas fortes há também paisagens e passagens bonitas (como as cantorias e danças populares) e contemplativas que tentam recompensar a dureza deste cosmos do baixio das bestas, o que intencionalmente não consegue. É um filme de muita verdade. Uma denúncia de uma realidade que, infelizmente, ainda pode ser vista por aí em cidadezinhas pelo nosso Brasil. Coloca muito filme de terror no chinelo.
A Casa que Pingava Sangue
3.5 77 Assista AgoraUma antologia com 4 histórias que têm como elo uma casa antiga e isolada numa vila. Temos um escritor que fica obcecado com uma de criações, que parece ter se materializado; um museu de cera e uma mulher que se torna a obsessão dos homens; um pai viúvo que contrata uma professora para educar sua filha com medo do fogo; e um astro do cinema de horror que desaparece ao vivenciar situações estranhas ao comprar uma capa diferenciada para o papel de vampiro em seu novo filme. Há um investigador muito cético que escuta essas histórias enquanto investiga o sumiço do ator. Gostei das 4 histórias, mas nem sempre a casa tem ligação direta com os acontecimentos, a não ser pelo detalhe de todos os envolvidos serem seus ocupantes. Isso pode incomodar um pouco. Mas o ponto principal é que a casa parece externalizar o que há de mais sombrio nas pessoas, sendo natural ou sobrenatural, mesmo que a casa em si não pareça assombrada. Destaco o visual setentista todo charmoso da obra, com belas cores.
O Olho do Diabo
3.4 21Quando o medieval e o contemporâneo (à época em que foi realizado o filme) coexistem de uma maneira estranhamente fascinante. Quando crenças antigas ainda vivem num mundo moderno. Quando uma família é posta em risco de se desmanchar por causa de um sacrifício não de todo involuntário; aliás, nada involuntário quando o sacrificado acredita.
O Olho do Diabo trabalha num clima de horror psicológico, sendo um filme nada explícito. É um folk horror ao estilo clássico. Deborah Kerr se destaca sendo a esposa protagonista que não compreende no que se meteu, mas também destaco o charme misterioso e venenoso de Odile, personagem interpretada por uma Sharon Tate ainda no início de uma carreira infelizmente muito curta por motivos trágicos. David Hemmings também combina bem com o papel de um jovem misterioso e frio (e blasé, mas aí é uma característica do próprio ator) no cumprimento de seu papel em todo aquele esquema. Um bom filme.
Vinhas da Ira
4.4 206Um homem marcado por um erro do passado, mas sem arrependimento, tentando seguir em frente com a família que perdeu o que sempre lhe pareceu garantido: suas terras e sua vida nelas. Nomadismo involuntário, promessas e mais promessas de uma Terra Prometida, onde não há leite e mel, mas a desumanização, o tratamento desrespeitoso que precisam suportar, "pois eles precisam". Precisam andar na linha. Isso dói, mas entre perdas e quase nenhum ganho, eles seguem em frente e fazem o que podem. Vinhas da Ira é uma história de personagens fortes, mesmo aqueles que ficam para trás na jornada cansativa e aparentemente interminável por melhores condições. É um filme extraordinário.
A viagem longa que eles fazem até a Califórnia me lembra a viagem de mudança que minha família e eu fizemos numa van pequena, com nossos pertences e bichos, tudo junto e apertado, mas junto. É claro que não passamos nem um terço do aperto que a família do filme, que tinha tudo desfavorável para seu lado, mas não pude deixar de lembrar da exaustão. Foi uma grande aventura. Espero que as coisas tenham ficado bem para eles no final.
Post Mortem
2.9 54 Assista AgoraÉ uma história de fantasmas com boas ideias espalhadas aqui e ali, mas infelizmente é um filme que se compromete com cenas muito esquisitas, e não no bom sentido. Esperava algo mais sóbrio e até clássico, pela premissa, mas é um filme histérico que não funcionou muito bem para mim. Isso quando o visual não me tirou do filme, como nas cenas em que vemos os reflexos dos mortos se mexendo em fotos ou superfícies molhadas, o que fez eu me lembrar que estava vendo um filme de 2021, quebrando aquela ilusão de história de época. Tem certos excessos visuais que, em vez de me instigarem, fizeram foi eu perder o interesse; o que é uma pena, pois é um filme que até tem uma história para contar, com uma boa contextualização, mas a execução tornou a experiência muito chata. Difícil um filme desses me entediar, mas foi o caso.
O Nome da Rosa
3.9 775 Assista AgoraNão espere aqui um filme de investigação em que uma cena segue a outra com ganchos atrás ganchos, muita ação ou reviravoltas super bombásticas. Tem um ritmo de cotidiano dentro daquele cosmos. O segredo está nas entrelinhas, na maneira como certos personagens ali se comportam. Vemos os bastidores de embates de ideias entre diferentes movimentos dentro da própria igreja católica, e, é claro, o peso destruidor da Inquisição. Cruel.
O destaque fica mesmo para a dinâmica entre mestre e pupilo dos personagens de Sean Connery e o jovem Christian Slater; sinto até que empresta um pouco das figuras de Sherlock e Watson, dadas as devidas proporções, mas até uma das frases mais conhecidas do Sherlock cinematográfico é utilizada aqui, e o mestre interpretado por Connery tem uma capacidade de observação nos detalhes bem aguçada. É bem interessante de acompanhar cada descoberta.
OBSERVAÇÃO EXTRA: Ô galera que não gosta mesmo de nada!
O Vampiro da Noite
3.8 102Bem longe de ser fiel ao livro: condensa bastante a história para ficar na duração de 82 minutos, toma algumas liberdades, muitos trechos e alguns personagens dos livros são inexistentes no filme. Dito isso, o filme funciona muito bem dentro da sua proposta de um longa-metragem não extenso, uma construção muito bem feita de atmosfera e um Drácula mais bestial, aqui interpretado pelo saudoso Christopher Lee, que viria a ser eternizado em tantos outros filmes do vampiro, que injeta um pouco mais de sangue à produção e traz mudanças significativas que tiram o pudor anterior das produções mais antigas sobre o personagem, que ainda assim são marcantes dentro de suas limitações de época. A Hammer fez História nos filmes de horror e não foi à toa.
Beau Tem Medo
3.2 415 Assista AgoraEntre os longas do Ari Aster, ainda acho Hereditário melhor resolvido e executado. Porém, Beau is Afraid tem seus méritos em se assumir como uma viagem sem concessões por parte do cineasta, a começar por sua longa duração. É menos surtado do que eu esperava, apesar de ter pirações espalhadas ao longo de sua duração; mas acho o primeiro ato especialmente o mais surtado e caótico e esperava que fosse ser daquele jeito o tempo todo. Há um respiro lá por menos de 1 hora de filme. Só digo mais uma coisa: Ari Aster precisa urgente de uma terapia, mas não com um terapeuta como o desse filme. 😉
Repulsa ao Sexo
4.0 463 Assista AgoraCarol é manicure num spa em Londres, sendo cercada de mulheres conscientes de si e de seu novo espaço num mundo de revolução feminina e uma forte onda do feminismo, no início dos anos 1960. Mas ela não se sente pertencente a esse grupo.
Carol é tímida, retraída. E o que chamam de frígida. Os homens mexem com ela de uma maneira que a assusta, não apenas em abordagens incômodas, mas invadindo seu espaço pessoal, ao exemplo do amante casado de sua irmã mais velha, com quem Carol vive num apartamento, pois este deixa sua lâmina de barbear no copo de Carol. Ele em muito a incomoda. Mas o que dizer ou fazer? A irmã deixa bem claro que esse relacionamento não é problema dela. Carol é mesmo aquela pessoa que o mundo todo faz questão de apontar não ser pertencente a ele, sem precisar dizê-lo, ainda que ela tenha a simpatia de suas colegas de trabalho e de um pretendente que tenta se aproximar mais e compreendê-la, embora seja repelido pela própria garota.
Para piorar as condições de Carol, que já demonstra "sonhar acordada", caindo em devaneios, ela fica sozinha no apartamento, pois a irmã e o amante viajam por alguns dias. É aí que o apartamento manifesta as suas inquietações: com rachaduras nas paredes, sons invasivos, telefonemas estranhos, visões aterradoras de abusos... Carol ainda deixa o apartamento num esfado deplorável, até de um certo abandono, sendo isso pontuado principalmente pela carne de coelho deixada fora da geladeira, a apodrecer bem aos poucos.
Há ainda uma sugestão de que toda essa repulsa vem de algum trauma anterior, mas bem sutil, como são sutis a maioria utilizada dos elementos imagéticos para demonstrar a deterioração da psique de Carol. E a atuação da jovem Catherine Deneuve é fundamental para enfatizar o enigma e o poço de fobias que é a sua personagem.
Primeira parte da "Trilogia do Apartamento" de Roman Polanski, Repulsion é um exercício de suspense e horror psicológicos conduzido com classe e com muito a dizer.
TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NO BLOG DO PROJETO PAURA (lunk para o blog no meu perfil!)
Carne Trêmula
4.0 585Um dos dramas/thrillers menos comentados de Almodóvar, Carne Trêmula inicia com o nascimento de Victor, filho de uma prostituta, num ônibus, numa Madri esvaziada pelo medo em 1970. Vinte anos se passam e o jovem Victor se apaixona e fica obcecado com Elena. Quando ele a procura, as coisas saem do controle e dois policiais aparecem. Um único tiro muda os destinos desses personagens.
É um filme sobre desejo, muito sexo e vingança, diria que um dos mais sensuais de Almodóvar, sendo a adaptação do livro Ruth Rendell, que eu desconhecia, mas vejo muito da marca registrada do cineasta espanhol. É um filme que exala paixão através das imagens e da inquietação de personagens extremamente passionais. Gostei demais.
Maus Hábitos
3.6 185Yolanda, uma cantora que se refugia num convento decadente de freiras chamadas por apelidos incomuns como Rata, Perdida, Esterco, entre outros, após seu namorado morrer de overdose de heroína.
Nesta comédia ainda há o escracho da fase inicial do cinema de Almodóvar, porém já com alguns elementos melodramáticos que nos trazem reflexões sobre como a salvação vem principalmente do reconhecimento de se estar quebrado, ainda que os maus hábitos façam parte do cotidiano de freiras tão hipócritas e excêntricas. Há tiradas espertas que podem soar ofensivos aos mais religiosas; podem não, provável que ofenda, mas vejo que essas tiradas tenham mais a intenção de fazer refletir do que de meramente criticar. Acontece que Almodóvar expressa mais abertamente esse lado humano e errático dessas personagens.
Ao que parece, a comédia noventista Mudança de Hábito pode muito bem ter se inspirado em Maus Hábitos, dadas as devidas proporções. Também não consegui deixar de notar alguns conceitos similares.
A Ambulância
2.9 51E se o seu maior medo fosse o de ser abduzido... por uma ambulância?
Sim, eu também não tinha pensado nessa possibilidade antes de assistir ao filme. E apesar de não ser um filme de causar medo, sendo mais um suspense investigativo com alguns toques de ação com alguma violência cômica e cenas de perseguição até bem feitas, A Ambulância é notável ao se fazer pensar num tipo diferente de ameaça.
O filme é conduzido com um senso de humor todo de um filme tipicamente trash, mas tem uma produção até decente para as suas pretensões simples. Também tem um elenco interessante, destacando-se Eric Roberts e James Earl Jones.
O irmão da Julia Roberts faz o papel de um quadrinista que é um sujeito pouco quisto por ser um chato e importunador de mulheres nas ruas de New York. Todo mundo o trata mal por ser essa figurinha carimbada, e isso é um ponto que dificultará muito as coisas para ele durante todo o longa. O filme começa com ele assediando uma bela mulher, que é diabética e passa mal do nada, para então ser levada por uma ambulância antiga (que descobri ser uma cadillac) e se tornar irrastreável. Obcecado por ela, o irmão da Julia Roberts começa a desconfiar de uma conspiração envolvendo a equipe de uma ambulância a sumir com pacientes. Depois de ter procurado um policial mascador de chicletes e não conseguir credibilidade em suas desconfianças, ele se alia a um jornalista que conhece no hospital e também pede ajuda de uma policial.
Larry Cohen (de A Coisa, The Stuff, aquele filme de 1985 do iogurte do capeta) traz aqui a questão de experimentos ilegais com cobaias humanos para fins medicinais, mas principalmente de lucro, quando um médico louco é a mente por trás desses sequestros. Ele acredita ter motivações nobres, mas a gente vê por sua personalidade unidimensional e em seu rosto com uma expressão impassível a total ausência de escrúpulos para esses seus fins, que em sua cabeça doentia justificam os meios. Então, mais uma vez o diretor traz alguma crítica importante sob essa roupagem de puro entretenimento, o que é sempre muito legal.
Só não achei legal que o roteiro, mesmo consciente de que assédio não é bom, ainda recompense o protagonista justamente por agir assim. O próprio protagonista sabe disso, mas o filme passa a impressão de que isso vale a pena.
Ele ficar com alguém no final passaria batido como uma recompensa problemática se não fosse pelo retorno no final do que diz a narração em off dita logo no início: "E isso é o que pode acontecer quando você aborda mulheres desconhecidas na rua", que a gente vê ser muito mais sobre perturbá-las, no caso deste cara.
Ainda assim, A Ambulância vale a conferida como um bom passatempo.
Texto originalmente publicado no blog do Projeto Paura. Link para o blog no meu perfil.
30 Dias de Noite
3.1 742 Assista AgoraJá no início os letreiros nos explicam o conceito: Barrow,no Alaska, uma cidade longe de estradas mais movimentadas. Sem sol por 30 dias no inverno. E logo a gente descobre também que sem ter quem procure seus habitantes neste período.
Um forasteiro muito estranho e com uns papos malucos sabota toda a cidade e age como um lacaio dos seres estranhos que a invadem, facilitando sua circulação a partir do último pôr-do-sol antes daquele anoitecer prolongado por um mês e prejudicando quem fica.
O filme "30 Dias de Noite" é baseado na série de quadrinhos de mesmo nome, escrita por Steve Niles e ilustrada por Ben Templesmith, lançada em 2002 pela editora americana IDW Publishing. A história dos quadrinhos e do filme conta quando um grupo de vampiros chega em Barrow para se alimentar dos moradores da cidade. Os personagens são muitos, portanto eu não focarei neles aqui.
O filme às vezes nos lembra da passagem do tempo, umas três ou quatro vezes contabilizando em que dia estão, mas o tempo corrido do filme torna essa passagem de tempo facilmente confundível como se fosse a mesma noite, o que é ótimo para relembrar a grande problemática de ficarem ali no escuro à mercê dos vampiros.
Os vampiros no início são formas indefinidas ágeis que arrebatam suas vítimas do nada e as devora violentamente. Até pensei que boa parte do tempo ficariam apenas nas sombras, mas não é o que acontece. Mas depois gostei que eles surgem como figuras com aparência humana, mas com sangue no rosto e aspecto selvagem, bestial, num trabalho de maquiagem fenomenal. Eles se comunicam num idioma próprio, estranho, com barulhos meio sussurrados e estalados. Isso dá personalidade ao grupo. Gosto como, felizmente, não parecem ou soam como figuras tolas saídas da novela Mutantes, com um falatório que fizesse uma medição de poder entre eles e os habitantes da cidade, pois a maneira como os vampiros se comunicam é compreensível apenas entre eles e não para o público e nem para os outros personagens.
30 Dias de Noite é uma experiência envolvente e até mesmo surpreendente por ter suas características próprias para se diferenciar de tantas outras produções sobre vampiros.
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