Se você já assistiu O fabuloso destino de Amélie Poulain, verá que o diretor deste filme fez uma versão americana bizarra e inferior da obra prima de Jean-Pierre Jeunet. A narração falada por uma voz que soa como um contador de histórias, as dissecações analíticas dos personagens, e por aí vai... Todos os efeitos de transição e artifícios do desenrolar da história podem aparentar de início serem originais e diferenciados, quando na verdade se tratam de remakes subestimados do longa francês e, pra piorar, com uma pitada de elementos de Almodóvar.
Por exemplo a cena da dança de Tom na rua: A participação do público alheio à trama do personagem principal começou com Almodóvar em "Mulheres à beira de um ataque de nervos"
A pior e mais descarada cópia do filme de Jeunet é quando Tom projeta seus problemas para a tela do cinema, como se os atores do filme que ele assiste fizessem parte da história dele. Igual ao que Amélie fazia, mas com programas de TV.
O pior não é a cópia, mas o quão raso "500 dias com ela" é como um todo. Se em "Amélie Poulain", o diretor se dá ao trabalho de construir com cuidado todos os seus personagens, cada um tendo uma participação importante e independente, em "500 dias" a história não vai além de um dilema amoroso platônico do personagem principal, mesclado a diversas e desnecessárias cenas de close dos olhos de Zooey Deschanel. De fato, o único ponto positivo do filme é a conduta da personagem Summer, pois ineditamente é uma mulher que faz o papel do "homem" da relação, aquele que não quer compromisso. Geralmente os filmes trazem uma visão machista, onde é o homem que não quer compromisso e a mulher que sofre por isso. Porém, Summer é tão mal aproveitada no filme como personagem complexa em si e não apenas um rostinho bonito, que fica difícil saber porque raios Joseph Gordon-Levitt amou tanto à ela. Superficialmente se descreve a relação dos dois, chega a ser engraçado: é um filme que supostamente fala de um relacionamento, mas nem isso ficou claro ou bem construído no final das contas.
Detalhismo e cuidado nos mínimos detalhes. Esse é um desenho digno da cultura japonesa de fato, os planos de fundo, as sequências de cenas e mesmo os figurantes possuem todo um cuidado especial de animação, nenhuma cena é reaproveitada, tudo feito do zero e com muito esmero. Em verdade, parece um filme do estúdio Ghibli, por conta de toda a complexidade que carrega. A história é cativante e não deixa por menos: a ideia de que um mestre pode aprender mais com o discípulo do que o contrário realmente me fascinou tanto quanto intrigou.
Podemos nos considerar com sorte de ainda existir uma empresa gigante como a Pixar. Mesmo a Disney por si mesma e toda a indústria cinematográfica, especialmente a infantil, só tem deixado a desejar, em geral. Em 2009, a Disney decidiu não fazer mais desenhos em 2D, apenas materiais em 3D, de repente o que é muito bem feito aos olhos, mas ridículo no que convém à história e tudo mais que compõem em conjunto um bom filme foi deixado de lado. "Só precisa impressionar aos olhos" é o novo lema dos grandes filmes lançados recentemente e eu, amante assídua de desenhos até depois dos 20 anos, me entristeço com o que vejo fazer sucesso dentro e fora das telas de cinema de 2009 pra cá. A máxima do criador que leva o nome da empresa "Eu gosto do impossível, porque lá é a concorrência é menor" parece ter sido esquecida completamente. Remakes e releituras são lançados com a mesma rapidez de um raio, crianças não são mais consideradas parte do processo e do motivo das animações, são consideradas alvos, e pior, alvos burros e insípidos. Não acontece o mesmo com a Pixar, não foi à toa que Jobs, com todo seu tato ao verdadeiro design, a salvou das trevas da falência. A Pixar é o respiro de arte e respeito à animação infantil que nenhuma outra indústria gigante do entretenimento jamais incorporou. Filmes como Universidade Monstros faz você perceber em cada detalhe, cada escolha de trilha, cenas, renders, vozes e história, o amor e dedicação que toda a equipe têm pelos desenhos animados. Eu realmente achei que a essa altura do campeonato eu não iria me surpreender com uma história, as outras animações tendem a deixar tudo mastigado e beirando a linha do óbvio e clichê. Mas estava errada, a história é fantástica e muito, MUITO engenhosa, você pensa que tudo acontecerá de uma forma, mas acaba tendo uma reviravolta gigante e deveras inteligente. A escolha das trilhas, um mix entre novas e as antigas músicas de Monstros S.A. foi de um tato excepcional. Não é pra menos que John Lasseter, diretor da Pixar, reverencia animadores como Miyazaki, do estúdio Ghibli. Quando alguém olha para algo muito diferente e longe da sua cultura, não é de se espantar que ela seja a melhor no que faz. Há nessa empresa chamada Pixar algo de muito especial.
O filme possui alguns relances de verdadeiro lirismo, jogo de câmeras, ângulos explorados, a luz e enfoques de elementos muito bem explorados. O que me surpreendeu mais foi o ator mirim João Guilherme Ávila, um garoto incrivelmente talentoso para sua idade, interpretar um garoto como o Zezé é extremamente difícil e mesmo assim ele deu conta do recado. O filme Meu Pé de Laranja Lima trata-se da 2ª adaptação do livro para longa-metragem, possui suas particularidades e seus acertos, mas não alcança a emoção verdadeira e intensa que é a história de Zezé. Faltou ao diretor caminhar mais intensamente pelo sentimento do enredo, ousar mais na subjetividade, mergulhar de cabeça na história. O desenrolar do filme se perde em vários pontos, mesmo levando o nome "Meu Pé de Laranja Lima", quase não se explora a relação de Zezé com Minguinho. O convívio entre Zezé e seu Ariovaldo também é ridiculamente construído, tendo suas aparições em dois ou três momentos de maneira tão leviana e superficial, que se torna um elemento da história quase que desnecessário e descartável. A retratação de personagens importantes como Glória, Totoca, o pai de Zezé e mesmo o rei Luís são deixados de lado para evidenciar apenas o personagem Portuga (como se uma coisa excluísse a outra). Ironicamente, José de Abreu com toda a sua experiência como ator não fez jus ao personagem Manuel Valadares. No geral, o filme é objetivo demais e se afasta da figura de quem o conta: uma criança. Os diálogos são superficiais e ensaiados em excesso. A exceção de tudo está apenas no papel de João Guilherme Ávila, que foi o único que convenceu e pareceu dar tudo de si. Em termos gerais, sobrou técnica e faltou sentimento, faltou o afinco e a dedicação em retratar de corpo e alma uma obra tão maravilhosa quanto a de José Mauro... Quando se trata de uma adaptação, um filme pode se direcionar por caminhos diferentes dos da obra original, mas precisa atingir a mesma grandeza de expressão criativa. A obra de José Mauro é única justamente por entrar no âmago de uma infância, o mesmo cuidado deveria ser considerado no filme, o que não aconteceu. Foi o relato um pouco trôpego da história de criança contada por um adulto, ou seja, não lhe é especialmente fiel, não lhe faz jus. Teve momentos que me emocionei, mas faltou muito para ser uma obra realmente memorável.
O que é verdadeiro numa relação amorosa? Como é realmente se conectar com alguém? Acho que o tema do virtual (e se alguém já leu Pierre Lévy, sabe que o virtual nada tem a ver com a internet, e sim com um conceito muito mais vasto e complexo) nunca foi tão relevante de se refletir quanto nos dias de hoje. Estamos vivenciando uma transposição contínua de novos mundos, novas realidades, intermediados pelos computadores, pelos jogos, pelos celulares, pelo fim da era dos impressos e pela digitalização de todas as coisas. E o filme "Her" fala desses novos mundos de forma fantástica. Ninguém mais pode criticar as relações online, pois todos participamos delas hoje, sejam em menores ou maiores escalas. Faz parte da realidade de todos, quer as pessoas admitam ou não. Uma das coisas que eu mais gosto deste filme é o modo como as coisas são contadas, não tem aquele típico (e saturado) olhar americano, cheio de cenas rápidas, objetivas e superestimadas. As cores, as luzes, os personagens extremamente humanizados, quase se esquece de que se trata de uma história contemporânea, pois possui o lirismo cinematográfico das coisas mais sublimes. É uma história que trata de vazios, de silêncios, de ausências, ela é construída para se sentir, para seguir com ela tal qual um livro, pois boa parte da importância dela é feita com a mente, com a introspecção.
Inexorável. É como eu defino esse filme. Algumas coisas são inexoráveis. Por mais que os humanos se achem o centro de tudo, medidor de todas as coisas, não o são. Se alguém já assistiu Cosmos, a série de Neil deGrasse, sabe que nós não fazemos parte nem de um décimo da existência do universo. Ao mesmo tempo, temos a consciência que estamos vivos, questionamos tudo, coisa que nenhum outro ser vivo já o fez, pelo menos até onde sabemos. E sabemos tão pouco no que diz respeito à verdadeira natureza da vida, do universo, da consciência... Esse filme mostra um pouco da insignificância humana diante da magnitude que é o universo. Presos em compromissos, lucros, dinheiro, família, amigos, inimigos, esquecemos desse algo maior que paira sob nossas cabeças todos os dias. Tal como Jostein Gardeer brilhantemente questiona em "O Mundo de Sofia": você deveria estar maravilhado com a vida todos os dias, encarar tudo como se fosse um absurdo, porque o é! Estarmos aqui e agora, vivos, é tão absurdo quanto um pessoa começar a flutuar no céu do nada.
Por isso Justine desiste de se casar, desiste de seu emprego e mesmo de como se comunicar, se lavar. Ela percebe que, com o fim iminente da vida na terra, ela como todos os outros humanos, esteve cega com relação à vida e ao mistério do universo.
Vivendo exatamente como todos os outros, Justine percebe que nunca fez ou pensou nada de relevante.
O que ela faz nua encarando o planeta Melancolia? Ela simplesmente se deslumbra com o milagre do mistério, do inexorável.
É um filme para refletir exatamente no que Petyr Baelish fala para Sansa, em Game of Thrones: Não se preocupe com a sua morte, preocupe-se com a sua vida. A morte não é algo ruim ou bom, ela simplesmente acontece, e é o que você faz e pensa em vida, ou pelo menos essa consciência estranha nossa de ser isto tudo vida, que temos algum controle.
Daí Justine construir uma caverna mágica. Ela estava apenas se reconectando com o seu lado humano, tentando construir um invólucro de realidade menos crua, para então poder dar adeus tranquilamente.
Gostei mais do 1º volume do que do 2º. O que o segundo volume peca seriamente, para mim, é a constante afirmação de que o ser humano é violento por natureza. Decididamente acho péssima essa visão de mundo. Imagina se todas as pessoas começassem a pensar assim? Iam justificar seus atos negativos e predatórios não por causa de uma decisão conscientemente estúpida, mas porque "é da natureza do ser humano machucar o outro". O mundo não precisa mais desse tipo de postura, temos vingança/ódio demais e paz/bondade de menos. Em um primeiro momento, pode-se pensar que a violência é validada porque está se adentrando no ponto de vista da Joe, que se torna masoquista. Mas esta visão se confirma quando
o seu ouvinte velho e assexuado decide então tentar despertar sua sexualidade com a Joe, no final. Ele ter feito o que fez foi uma mensagem do tipo: Não há pessoas boas neste mundo, não há pessoas limpas ou que se importem em machucar as outras.
Daí eu não concordar com o final, que foi mais um método para clímax desnecessário do que para um desfecho bem maquinado em si. Apenas tinha acabado a história e se não forçassem a barra, ela ia acabar infalivelmente sem graça. Fiquei um pouco decepcionada, se o diretor tivesse apenas focado na questão do vício em si e não colocasse esses dogmas da sua visão de mundo, que é errônea por sinal, teria sido um filme 100% genial e instigante.
Não é um filme para se excitar ou se entreter de maneira vazia. Ninfomaníaca não me decepcionou no que diz respeito ao cuidado que o diretor tem em trabalhar com os "vazios", tão carentes hoje em dia nos filmes em geral. A maioria das produções cinematográficas só se preocupa em metralhar milhões de informações ocas e cenas óbvias na sua cara, se preocupam com os efeitos especiais e o roteiro/trama é deixado de lado. Ninfomaníaca se preocupa mais em contar uma história em seu próprio ritmo - lento, porém contundente. De maneira original e engenhosa, conexões são feitas, análises e teorias são construídas, é tudo complexo e simples ao mesmo tempo. É o sexo em seu modo mais cru, triste e obsessivo de se mostrar. É mostrado que o vício, mesmo com o sexo, é uma doença parasitária - assim como o álcool e as drogas, ela nunca te deixa feliz, apenas te tira um pouco da realidade e esse efeito de fuga é cada vez mais passageiro. Em outras palavras, Ninfomaníaca é um respirar da arte, um pouco de estética pura aos nossos olhos tão cansados de filmes que só visam lucro e que são produzidos tão imprudentemente em larga escala quanto comida para um Walmart.
Único e fantástico documentário sobre o origami contemporâneo, Between the Folds além de ser um exclusivo documentário sobre este ramo (que está cada vez mais importante na nossa atualidade), ainda o retrata de maneira precisa e fantástica. Um material raro e importantíssimo para os que buscam nas dobras de papel muito mais do que a arte fechada do origami, pois hoje ele é, antes de tudo, uma ferramenta criativa que permeia quase todos os tipos de conhecimento.
Esse é um filme de impressionar, no sentido literal da palavra. As cenas de tensão são muito, mas muito bem construídas, o ângulo escolhido, o movimento, e principalmente a composição dos corpos são dignos da genialidade que leva o nome do Almodóvar. Tudo no filme é icônico, carregam diversos signos em uma única imagem. É sufocante, é revoltante e é bonito, intenso. Não é à toa que Almodóvar com seu tato tão aguçado já descobria tão precocemente o potencial de grandes atores como Penélope Cruz e Antonio Banderas.
Esse é um de tantos outros filmes que são muito bons por causa da época em que foram feitos. O cinema tinha outra cara, era inovador sem ficar enxendo nossos olhos com milhões de cenas que dão a ilusão de um filme cheio de ação, mas é oco em sua essência. Taxi Driver tem um "time" lento, o que faz ele ser bem mais realista. Gosto especialmente da parte dos diálogos. Brilhantemente Robert deNiro consegue captar muito bem a essência de um taxista nova iorquino qualquer: de tão fora da realidade e das relações humanas, é praticamente um homem das cavernas, não consegue se expressar direito, não consegue terminar suas frases nem perceber o que é certo ou apropriado para determinadas situações. Ao mesmo tempo, ele passa por situações tão absurdas, violentas e desumanas, que ele acaba absorvendo esse negativismo da cidade grande, resolvendo fazer o que é certo ainda que de maneira errada. A atuação de Jodie Foster como a prostituta Iris, desde criança, já era impecável. Parece que no final fica faltando alguma coisa, mas é o que o filme quer passar, a realidade: não existem heróis ou um final feliz, é apenas a vida que acontece na caótica Nova York.
Que filme fantástico! Tão diferente de todos os filmes que eu já vi! Tão emocionante quanto Amelie Poulain, só que nas terras indianas. A história de uma criança que todo o adulto deveria assistir, sem dúvida!
O filme realmente tem uma proposta linda, é tocante em vários sentidos e possui uma narrativa diferente. Mas decepcionou mto na hora do clímax final, colocando uma música americana que não inspirava nada, não se conectava com nada. Desde o início do filme há uma intensa música que permeia toda a narrativa de forma apaixonante. Mas no final, toda essa sublime construção morre na praia quando colocam uma música moderna estrangeira no que seria a parte mais importante do filme: a dança final dos dragões. Muito triste a escolha que fizeram nesse aspecto, não fosse por isso teria sido um filme perfeito...
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(500) Dias com Ela
4.0 5,7K Assista AgoraSe você já assistiu O fabuloso destino de Amélie Poulain, verá que o diretor deste filme fez uma versão americana bizarra e inferior da obra prima de Jean-Pierre Jeunet. A narração falada por uma voz que soa como um contador de histórias, as dissecações analíticas dos personagens, e por aí vai... Todos os efeitos de transição e artifícios do desenrolar da história podem aparentar de início serem originais e diferenciados, quando na verdade se tratam de remakes subestimados do longa francês e, pra piorar, com uma pitada de elementos de Almodóvar.
Por exemplo a cena da dança de Tom na rua: A participação do público alheio à trama do personagem principal começou com Almodóvar em "Mulheres à beira de um ataque de nervos"
A pior e mais descarada cópia do filme de Jeunet é quando Tom projeta seus problemas para a tela do cinema, como se os atores do filme que ele assiste fizessem parte da história dele. Igual ao que Amélie fazia, mas com programas de TV.
O pior não é a cópia, mas o quão raso "500 dias com ela" é como um todo. Se em "Amélie Poulain", o diretor se dá ao trabalho de construir com cuidado todos os seus personagens, cada um tendo uma participação importante e independente, em "500 dias" a história não vai além de um dilema amoroso platônico do personagem principal, mesclado a diversas e desnecessárias cenas de close dos olhos de Zooey Deschanel. De fato, o único ponto positivo do filme é a conduta da personagem Summer, pois ineditamente é uma mulher que faz o papel do "homem" da relação, aquele que não quer compromisso. Geralmente os filmes trazem uma visão machista, onde é o homem que não quer compromisso e a mulher que sofre por isso. Porém, Summer é tão mal aproveitada no filme como personagem complexa em si e não apenas um rostinho bonito, que fica difícil saber porque raios Joseph Gordon-Levitt amou tanto à ela. Superficialmente se descreve a relação dos dois, chega a ser engraçado: é um filme que supostamente fala de um relacionamento, mas nem isso ficou claro ou bem construído no final das contas.
O Rapaz e o Monstro
4.2 140 Assista AgoraDetalhismo e cuidado nos mínimos detalhes. Esse é um desenho digno da cultura japonesa de fato, os planos de fundo, as sequências de cenas e mesmo os figurantes possuem todo um cuidado especial de animação, nenhuma cena é reaproveitada, tudo feito do zero e com muito esmero. Em verdade, parece um filme do estúdio Ghibli, por conta de toda a complexidade que carrega. A história é cativante e não deixa por menos: a ideia de que um mestre pode aprender mais com o discípulo do que o contrário realmente me fascinou tanto quanto intrigou.
Universidade Monstros
3.9 1,8K Assista AgoraPodemos nos considerar com sorte de ainda existir uma empresa gigante como a Pixar. Mesmo a Disney por si mesma e toda a indústria cinematográfica, especialmente a infantil, só tem deixado a desejar, em geral. Em 2009, a Disney decidiu não fazer mais desenhos em 2D, apenas materiais em 3D, de repente o que é muito bem feito aos olhos, mas ridículo no que convém à história e tudo mais que compõem em conjunto um bom filme foi deixado de lado. "Só precisa impressionar aos olhos" é o novo lema dos grandes filmes lançados recentemente e eu, amante assídua de desenhos até depois dos 20 anos, me entristeço com o que vejo fazer sucesso dentro e fora das telas de cinema de 2009 pra cá. A máxima do criador que leva o nome da empresa "Eu gosto do impossível, porque lá é a concorrência é menor" parece ter sido esquecida completamente. Remakes e releituras são lançados com a mesma rapidez de um raio, crianças não são mais consideradas parte do processo e do motivo das animações, são consideradas alvos, e pior, alvos burros e insípidos. Não acontece o mesmo com a Pixar, não foi à toa que Jobs, com todo seu tato ao verdadeiro design, a salvou das trevas da falência. A Pixar é o respiro de arte e respeito à animação infantil que nenhuma outra indústria gigante do entretenimento jamais incorporou. Filmes como Universidade Monstros faz você perceber em cada detalhe, cada escolha de trilha, cenas, renders, vozes e história, o amor e dedicação que toda a equipe têm pelos desenhos animados. Eu realmente achei que a essa altura do campeonato eu não iria me surpreender com uma história, as outras animações tendem a deixar tudo mastigado e beirando a linha do óbvio e clichê. Mas estava errada, a história é fantástica e muito, MUITO engenhosa, você pensa que tudo acontecerá de uma forma, mas acaba tendo uma reviravolta gigante e deveras inteligente. A escolha das trilhas, um mix entre novas e as antigas músicas de Monstros S.A. foi de um tato excepcional. Não é pra menos que John Lasseter, diretor da Pixar, reverencia animadores como Miyazaki, do estúdio Ghibli. Quando alguém olha para algo muito diferente e longe da sua cultura, não é de se espantar que ela seja a melhor no que faz. Há nessa empresa chamada Pixar algo de muito especial.
Meu Pé de Laranja Lima
3.9 343O filme possui alguns relances de verdadeiro lirismo, jogo de câmeras, ângulos explorados, a luz e enfoques de elementos muito bem explorados. O que me surpreendeu mais foi o ator mirim João Guilherme Ávila, um garoto incrivelmente talentoso para sua idade, interpretar um garoto como o Zezé é extremamente difícil e mesmo assim ele deu conta do recado. O filme Meu Pé de Laranja Lima trata-se da 2ª adaptação do livro para longa-metragem, possui suas particularidades e seus acertos, mas não alcança a emoção verdadeira e intensa que é a história de Zezé. Faltou ao diretor caminhar mais intensamente pelo sentimento do enredo, ousar mais na subjetividade, mergulhar de cabeça na história. O desenrolar do filme se perde em vários pontos, mesmo levando o nome "Meu Pé de Laranja Lima", quase não se explora a relação de Zezé com Minguinho. O convívio entre Zezé e seu Ariovaldo também é ridiculamente construído, tendo suas aparições em dois ou três momentos de maneira tão leviana e superficial, que se torna um elemento da história quase que desnecessário e descartável. A retratação de personagens importantes como Glória, Totoca, o pai de Zezé e mesmo o rei Luís são deixados de lado para evidenciar apenas o personagem Portuga (como se uma coisa excluísse a outra). Ironicamente, José de Abreu com toda a sua experiência como ator não fez jus ao personagem Manuel Valadares.
No geral, o filme é objetivo demais e se afasta da figura de quem o conta: uma criança. Os diálogos são superficiais e ensaiados em excesso. A exceção de tudo está apenas no papel de João Guilherme Ávila, que foi o único que convenceu e pareceu dar tudo de si. Em termos gerais, sobrou técnica e faltou sentimento, faltou o afinco e a dedicação em retratar de corpo e alma uma obra tão maravilhosa quanto a de José Mauro... Quando se trata de uma adaptação, um filme pode se direcionar por caminhos diferentes dos da obra original, mas precisa atingir a mesma grandeza de expressão criativa. A obra de José Mauro é única justamente por entrar no âmago de uma infância, o mesmo cuidado deveria ser considerado no filme, o que não aconteceu. Foi o relato um pouco trôpego da história de criança contada por um adulto, ou seja, não lhe é especialmente fiel, não lhe faz jus. Teve momentos que me emocionei, mas faltou muito para ser uma obra realmente memorável.
Ela
4.2 5,8K Assista AgoraO que é verdadeiro numa relação amorosa? Como é realmente se conectar com alguém? Acho que o tema do virtual (e se alguém já leu Pierre Lévy, sabe que o virtual nada tem a ver com a internet, e sim com um conceito muito mais vasto e complexo) nunca foi tão relevante de se refletir quanto nos dias de hoje. Estamos vivenciando uma transposição contínua de novos mundos, novas realidades, intermediados pelos computadores, pelos jogos, pelos celulares, pelo fim da era dos impressos e pela digitalização de todas as coisas. E o filme "Her" fala desses novos mundos de forma fantástica. Ninguém mais pode criticar as relações online, pois todos participamos delas hoje, sejam em menores ou maiores escalas. Faz parte da realidade de todos, quer as pessoas admitam ou não. Uma das coisas que eu mais gosto deste filme é o modo como as coisas são contadas, não tem aquele típico (e saturado) olhar americano, cheio de cenas rápidas, objetivas e superestimadas. As cores, as luzes, os personagens extremamente humanizados, quase se esquece de que se trata de uma história contemporânea, pois possui o lirismo cinematográfico das coisas mais sublimes. É uma história que trata de vazios, de silêncios, de ausências, ela é construída para se sentir, para seguir com ela tal qual um livro, pois boa parte da importância dela é feita com a mente, com a introspecção.
Melancolia
3.8 3,1K Assista AgoraInexorável. É como eu defino esse filme. Algumas coisas são inexoráveis. Por mais que os humanos se achem o centro de tudo, medidor de todas as coisas, não o são. Se alguém já assistiu Cosmos, a série de Neil deGrasse, sabe que nós não fazemos parte nem de um décimo da existência do universo. Ao mesmo tempo, temos a consciência que estamos vivos, questionamos tudo, coisa que nenhum outro ser vivo já o fez, pelo menos até onde sabemos. E sabemos tão pouco no que diz respeito à verdadeira natureza da vida, do universo, da consciência... Esse filme mostra um pouco da insignificância humana diante da magnitude que é o universo. Presos em compromissos, lucros, dinheiro, família, amigos, inimigos, esquecemos desse algo maior que paira sob nossas cabeças todos os dias. Tal como Jostein Gardeer brilhantemente questiona em "O Mundo de Sofia": você deveria estar maravilhado com a vida todos os dias, encarar tudo como se fosse um absurdo, porque o é! Estarmos aqui e agora, vivos, é tão absurdo quanto um pessoa começar a flutuar no céu do nada.
Por isso Justine desiste de se casar, desiste de seu emprego e mesmo de como se comunicar, se lavar. Ela percebe que, com o fim iminente da vida na terra, ela como todos os outros humanos, esteve cega com relação à vida e ao mistério do universo.
Vivendo exatamente como todos os outros, Justine percebe que nunca fez ou pensou nada de relevante.
O que ela faz nua encarando o planeta Melancolia? Ela simplesmente se deslumbra com o milagre do mistério, do inexorável.
É um filme para refletir exatamente no que Petyr Baelish fala para Sansa, em Game of Thrones: Não se preocupe com a sua morte, preocupe-se com a sua vida.
A morte não é algo ruim ou bom, ela simplesmente acontece, e é o que você faz e pensa em vida, ou pelo menos essa consciência estranha nossa de ser isto tudo vida, que temos algum controle.
Daí Justine construir uma caverna mágica. Ela estava apenas se reconectando com o seu lado humano, tentando construir um invólucro de realidade menos crua, para então poder dar adeus tranquilamente.
Ninfomaníaca: Volume 2
3.6 1,6K Assista AgoraGostei mais do 1º volume do que do 2º. O que o segundo volume peca seriamente, para mim, é a constante afirmação de que o ser humano é violento por natureza. Decididamente acho péssima essa visão de mundo. Imagina se todas as pessoas começassem a pensar assim? Iam justificar seus atos negativos e predatórios não por causa de uma decisão conscientemente estúpida, mas porque "é da natureza do ser humano machucar o outro". O mundo não precisa mais desse tipo de postura, temos vingança/ódio demais e paz/bondade de menos. Em um primeiro momento, pode-se pensar que a violência é validada porque está se adentrando no ponto de vista da Joe, que se torna masoquista. Mas esta visão se confirma quando
o seu ouvinte velho e assexuado decide então tentar despertar sua sexualidade com a Joe, no final. Ele ter feito o que fez foi uma mensagem do tipo: Não há pessoas boas neste mundo, não há pessoas limpas ou que se importem em machucar as outras.
Daí eu não concordar com o final, que foi mais um método para clímax desnecessário do que para um desfecho bem maquinado em si. Apenas tinha acabado a história e se não forçassem a barra, ela ia acabar infalivelmente sem graça. Fiquei um pouco decepcionada, se o diretor tivesse apenas focado na questão do vício em si e não colocasse esses dogmas da sua visão de mundo, que é errônea por sinal, teria sido um filme 100% genial e instigante.
Ninfomaníaca: Volume 1
3.7 2,7K Assista AgoraNão é um filme para se excitar ou se entreter de maneira vazia. Ninfomaníaca não me decepcionou no que diz respeito ao cuidado que o diretor tem em trabalhar com os "vazios", tão carentes hoje em dia nos filmes em geral. A maioria das produções cinematográficas só se preocupa em metralhar milhões de informações ocas e cenas óbvias na sua cara, se preocupam com os efeitos especiais e o roteiro/trama é deixado de lado. Ninfomaníaca se preocupa mais em contar uma história em seu próprio ritmo - lento, porém contundente. De maneira original e engenhosa, conexões são feitas, análises e teorias são construídas, é tudo complexo e simples ao mesmo tempo. É o sexo em seu modo mais cru, triste e obsessivo de se mostrar. É mostrado que o vício, mesmo com o sexo, é uma doença parasitária - assim como o álcool e as drogas, ela nunca te deixa feliz, apenas te tira um pouco da realidade e esse efeito de fuga é cada vez mais passageiro. Em outras palavras, Ninfomaníaca é um respirar da arte, um pouco de estética pura aos nossos olhos tão cansados de filmes que só visam lucro e que são produzidos tão imprudentemente em larga escala quanto comida para um Walmart.
Between the Folds
3.8 2Único e fantástico documentário sobre o origami contemporâneo, Between the Folds além de ser um exclusivo documentário sobre este ramo (que está cada vez mais importante na nossa atualidade), ainda o retrata de maneira precisa e fantástica. Um material raro e importantíssimo para os que buscam nas dobras de papel muito mais do que a arte fechada do origami, pois hoje ele é, antes de tudo, uma ferramenta criativa que permeia quase todos os tipos de conhecimento.
Carne Trêmula
4.0 582Esse é um filme de impressionar, no sentido literal da palavra. As cenas de tensão são muito, mas muito bem construídas, o ângulo escolhido, o movimento, e principalmente a composição dos corpos são dignos da genialidade que leva o nome do Almodóvar. Tudo no filme é icônico, carregam diversos signos em uma única imagem. É sufocante, é revoltante e é bonito, intenso. Não é à toa que Almodóvar com seu tato tão aguçado já descobria tão precocemente o potencial de grandes atores como Penélope Cruz e Antonio Banderas.
Taxi Driver
4.2 2,5K Assista AgoraEsse é um de tantos outros filmes que são muito bons por causa da época em que foram feitos. O cinema tinha outra cara, era inovador sem ficar enxendo nossos olhos com milhões de cenas que dão a ilusão de um filme cheio de ação, mas é oco em sua essência. Taxi Driver tem um "time" lento, o que faz ele ser bem mais realista. Gosto especialmente da parte dos diálogos. Brilhantemente Robert deNiro consegue captar muito bem a essência de um taxista nova iorquino qualquer: de tão fora da realidade e das relações humanas, é praticamente um homem das cavernas, não consegue se expressar direito, não consegue terminar suas frases nem perceber o que é certo ou apropriado para determinadas situações. Ao mesmo tempo, ele passa por situações tão absurdas, violentas e desumanas, que ele acaba absorvendo esse negativismo da cidade grande, resolvendo fazer o que é certo ainda que de maneira errada. A atuação de Jodie Foster como a prostituta Iris, desde criança, já era impecável. Parece que no final fica faltando alguma coisa, mas é o que o filme quer passar, a realidade: não existem heróis ou um final feliz, é apenas a vida que acontece na caótica Nova York.
Como Estrelas na Terra
4.4 794Que filme fantástico! Tão diferente de todos os filmes que eu já vi!
Tão emocionante quanto Amelie Poulain, só que nas terras indianas.
A história de uma criança que todo o adulto deveria assistir, sem dúvida!
Dance of the Dragon
3.6 12O filme realmente tem uma proposta linda, é tocante em vários sentidos e possui uma narrativa diferente. Mas decepcionou mto na hora do clímax final, colocando uma música americana que não inspirava nada, não se conectava com nada. Desde o início do filme há uma intensa música que permeia toda a narrativa de forma apaixonante. Mas no final, toda essa sublime construção morre na praia quando colocam uma música moderna estrangeira no que seria a parte mais importante do filme: a dança final dos dragões. Muito triste a escolha que fizeram nesse aspecto, não fosse por isso teria sido um filme perfeito...