Bruna

A cidade dos brancos é completamente sem cor, sem vida e sem graça, proposta interessante e sarcástica

durante a intensa troca de tiros e com o plot twist dos irmãos Buck.

Em muitos momentos fiquei incomodada e acredito que muitas pessoas deixaram passar, porque as partes chocantes não são apenas os minutos finais. Quando Megan relata para Amy sobre a primeira vez que praticou sexo oral, me deixou desestabilizada, pois, ela conta como se fosse algo maravilhoso o que um adolescente de 17 anos (faltando muito pouco para ser maior de idade) fez com ela, aos 10. Além disso, ela fala sobre ele ter sido, supostamente, gentil, mostrando que as marcas dos abusos sexuais cometidos contra ela, pelo próprio padrasto, foram amenizados apenas pelo fato desse estuprador de 17 ter demonstrado o mínimo de carinho por Megan.

As festas também denunciam o abandono parental de todos os adolescentes envolvidos naquele contexto. A mãe da Megan era distante da menina e não a supervisionava, e, nesse quesito, os pais de Amy também pecaram, porque eram pais presentes, porém, deram total liberdade a filha e a deixaram à mercê da sorte, mesmo com toda a situação bizarra que estava acontecendo durante o desaparecimento da melhor amiga da menina. O fato da imprensa não ter o menor cuidado e acabar interferindo na investigação da polícia também me deixou revoltada.

Assim que Amy denunciou Josh, eles pareciam abutres em volta da adolescente, querendo saber o nome do suspeito que fora denunciado por ela. Amy não fala nada, mas a apresentadora do programa diz o nome do suspeito e até mesmo o usuário que ele utiliza na internet. Isso acontece na realidade, quantos casos a imprensa prejudicou por causa do sensacionalismo e divulgação de denúncias que deveriam ser investigadas apenas pela polícia? Inúmeros.

Josh (na verdade, não tinha um nome real) era um manipulador, e, provavelmente alguém que tinha uma vida dupla e vivia naquela região. Alguém de poucos amigos e que seria impossível de gerar desconfiança na população. Ele observava as adolescentes, ou seja, alguém muito próximo da realidade daquelas crianças. Dizia tê-las visto na escola, em parques, detalhou a roupa de Megan na festa que a menina foi para encontrá-lo e ele não a abordou. Ou seja, ele não tinha rosto e nem nome, poderia ser QUALQUER um, assim como na realidade, esses monstros ficam por muito tempo escondidos e sem rosto, ou, estão no nosso círculo social sem levantar nenhuma suspeita. O monólogo da Amy dentro do barril é uma tentativa desesperada de fugir da morte e o silêncio do criminoso é a resposta de que não haverá nenhum socorro. São minutos finais sufocantes e tristes. Por fim, quando as meninas conversam no final, falando sobre planos, percebemos que Megan descreve o mesmo perfil com que Josh se apresenta para ela, infelizmente ela acreditou que ele era a pessoa certa, e com aquela identidade, ele conseguiu conquistar rapidamente a confiança dela. É um soco no estômago, ainda mais por eu ser mulher e tenho que viver amedrontada que esse tipo de coisa pode acontecer comigo ou com mulheres que conheço. É realmente triste e revoltante o descaso conosco.