Disruptivo, "Absorvendo o Tabu" vem com o pé na porta para falar sobre empoderamento feminino e sororidade, temas atuais e super necessários, sobretudo em culturas em que a mulher segue sendo considerada posse/direito/objeto de seu marido. PERIOD. aborda a produção de absorventes para mulheres que vivem numa aldeia nos arredores de Delhi, na Índia. A ausência de diálogo, de comunicação efetiva entre elas e eles, e mesmo entre elas e elas prejudica a formação sexual de basicamente toda a população, que não sabe dizer o que significa menstruar ou o que pode ocorrer se uma mulher para de menstruar, por exemplo. Para além da questão do empoderamento, o documentário de média-metragem assinado pela Rayka Zehtabchi questiona que sociedade poderia se desenvolver se não abre espaço para discutir seus tabus - que são absolutamente culturais e específicos para cada uma... É possível haver crescimento de saber, de relação e de vida em sociedade se não somos nem capazes de lidar com o nosso próprio corpo, na sua forma e consequência mais natural? Estaremos prontos para lidar com o outro se desconhecemos mesmo as partes mais íntimas de nós - para nós mesmos? A pergunta ressoa, muitíssimo poderosa. Grande doc, merecedor do Óscar deste ano! E tenho dito. ASSISTAM!!
É muito tocante ver o trabalho vanguardista da Carmen Herrera, feito com tanto afinco desde os anos 50, e afinado com tudo que então se dava nos Estados Unidos... É ainda mais lindo saber que este documentário pôde encontrar luz enquanto ela ainda está viva, e trabalhando com a mesma dedicação de décadas atrás... Com muito bom humor, e absorta em produzir o melhor de sua pintura geométrica e minimalista, Carmen é um exemplo vivo de como o trabalho de um(a) artista pode ser reconhecido se este for corajoso e original, mesmo que isso se dê muito tardiamente. O que nos consola, pelo menos, é que a Netflix tenha tido a iniciativa de produzir este material, absolutamente necessário nos tempos de hoje, em que a profissão “artista” se vê cada vez menos “necessária no capitalismo”. O que dá pra levar, além da lição de vida que sua trajetória representa, é o que a própria Carmen diz ali perto do meio do filme, simples e perfeitamente; “arte não é feita para ser debatida. Não se ‘debate’ arte. ‘Arte’-se arte”. Este doc é lindo. Assistam!!
Assistindo a esse curta em "Cada Um Com Seu Cinema", eu tive uma sensação realmente absurda de que aquele cenário, aquele cinema, aquele clima, aquilo tudo era familiar. Lembrei do final de "Império dos Sonhos" na hora. Quando surgiu a tesoura e o cara no filme começou a falar, eu tinha certeza - era do David Lynch! Qual não foi a minha surpresa quando os créditos confirmaram? No mais, é um curta de suspense/terror que de certa forma traumatiza um pouco a gente. Os lugares-comuns do cinema do diretor estão bastante presentes. Parece fazer referência a "Ballerina" e ao INLAND EMPIRE. Posso estar viajando também, mas senti um pouco desses outros trabalhos. O surrealismo aqui é uma intenção ainda latente.
Realmente difícil chamar de um "curta artístico" um teaser imagético de um CD do David Lynch. Especialmente quando é uma animação tão simples. Por mim dava pra descadastrar, né. Selecionei por puro completismo, risos.
Como em "Um Cão Andaluz", pelo valor simbólico e histórico deste curta, devemos assisti-lo despidos de preconceitos ou tentando procurar maiores significados para aquilo que nos é mostrado. É uma produção diferente do cinema convencional, e aliás de um pioneirismo gráfico memorável. Niilismo, vanguarda, experimentalização. Não foi um filme que me disse algo a mais, mas definitivamente foi relevante em algum nível para os cinemas de Buñuel e Dalí, por exemplo. Interessante.
Engraçadíssimo. Achei que ia ver um monte de besteiras sobre os filmes do Quentin, mas acabou que me diverti muito com os pensamentos do personagem de Selton Melo! Algumas coisas ali são realmente muito interessantes sobre os roteiros do Tarantino - a espada de Hanzo de "Kill Bill" em "Pulp Fiction", a ligação entre Vic Vega de "Cães de Aluguel" e Vincent Vega de "Pulp Fiction"... E "O Código Tarantino" acabou virando para mim uma divertida homenagem ao cara! Veria de novo amarradão.
Pela marca histórica que este curta possui (de quebrar barreiras de continuidade, lógica, roteiro, etc), "Um Cão Andaluz" vale pelo conhecimento. À época - e ainda hoje - causa um estranhamento; como se as pinturas de Dalí tomassem vida na forma de pianos com veados mortos em cima ou mãos furadas de onde saem formigas. O surrealismo desta produção é uma intenção latente, a cena do olho cortado é um clássico absoluto do cinema - mas eu não veria de novo. Não pela falta de sentido ou pelo desconforto, mas pela impressão que eu tenho de que, além disso que eu falei, ele não é mais nada. A película de Buñuel é uma novidade? Sim, e que inspirou muitos outros diretores; mas que não ME diz nada. O simbolismo neste trabalho não me faz sentir algo além do desconforto. Se esta é a sua intenção - me deixar incomodado, desconfortável - ele foi feliz em sua proposta e realização. Mas se evidentemente havia algo superior, uma análise profunda, um questionamento a respeito da consciência, da realidade e tudo mais, acredito que não pesquei. E reitero; "Um Cão Andaluz" vale pela experiência, mas não é um dos maiores filmes do mundo ou algo do tipo - muitos outros materiais surgiram a partir dele que trouxeram muito mais para a questão do surrealismo no cinema. Ele foi o big-bang, e merece tal reconhecimento. Mas só.
Divertidinho. Dos curtas do Lynch esse é o que passa mais longe da estética mais recorrente (pesadelo, onirismo, surrealismo), e acaba se destacando por isso - é uma comédia despretensiosa sobre um cowboy quase-surdo que conhece um francês perdido. Nem por isso vira o melhor trabalho do cara, né. Por favor. É divertidinho - mas só. Não é porque é do Lynch que merece uma salva de palmas.
Diferente dos curtas anteriores do Lynch, este tem uma novidade que viria a ser um dos maiores charmes do seu cinema: a trama "indireta". Em "A Amputada", o que vemos é uma situação, mas damos mais atenção a uma trama que está sendo, nesse caso, recitada numa carta; como acontece em diversas cenas de INLAND EMPIRE ou de Cidade dos Sonhos - vemos uma coisa, mas prestamos mais atenção em outra, mais interior, mais subjetiva, menos visual necessariamente. Pode ser sob a forma de um comentário entre personagens, ou de cenas que não têm absolutamente nada a ver com o que é considerado "principal" no filme. São os conflitos paralelos. Aliás e o choque quando você descobre que a enfermeira é o David Lynch? O que dizer disso? hahahah Apesar deste aspecto novo a ser percebido, o curta em si não possui nada muito diferente ou inovador em comparação ao que Lynch já produziu, e por isso não acho que deva ser assim tão bem considerado. É um devaneio interessante, mas nada de outro mundo. Não é tão expressivo como "A Avó" ou "O Cowboy e o Francês". Meio-a-meio.
Percebi aqui quase um prenúncio para o filme "Eraserhead": estética de pesadelo, família em conflito, árvore "sangrando", aspecto mórbido dos medos e aflições do protagonista... Vi muita coisa semelhante ao primeiro longa de David Lynch. Além disso, vale lembrar sempre que esta foi a primeira experiência em que ele tinha total controle da produção, das finanças e da logística de um filme - ganhou uma bolsa para tal. Com "A Avó", Lynch mostrou ser extremamente habilidoso na comunhão entre o surrealismo e o simbolismo. Vale dar uma olhada.
Gostei mais desse aqui. Começa a entrar em cena a questão mórbida do Lynch, o aspecto onírico, quase de pesadelo mesmo, que acabou entrando em "Eraserhead". Alguma coisa me diz que aqui, mais que em "Six Figures Getting Sick", o Lynch arranjou seu big bang criativo - que viria a ter sua mais significativa explosão no consequente "A Avó". É quase como se observássemos a evolução do imaginário de um artista. Maneirinho.
A título de conhecer na totalidade o trabalho do diretor, assistir a "Six Figures Getting Sick" até que passa. Como obra de arte, porém, é um curta bem limitado - um trabalho conceitual bastante repetitivo que se esgota lá pelos dois minutos. Não acho que mereça cinco estrelas só porque é do Lynch: é a sua produção mais pobre, é o Lynch na sua fase mais amadora. Vale por ser a sua primeira experiência cinematográfica. Mas eu não assistiria de novo.
Acho muita pretensão dizer que se entendeu tudo desse curta. Percebi que o diálogo foi propositalmente embaralhado, mas gosto disso. Isso me agrada. E pra cacete, aliás. Todo o mistério é muito fascinante - "Rabbits" é mais um Lynch a que assisto que me deixa embasbacado, furioso e com muito, muito medo. Me lembrou bastante a literatura do Samuel Beckett. As pontuações, a contemplatividade, a falta (ou não) de lógica... Não acho ruim que uma ideia fique evasiva assim; afinal, acredito que o ponto de todo esse subversivo cinema é nos fazer SENTIR as coisas, não QUESTIONAR, PROCURAR e COMPREENDER. O cinema do Lynch é um cinema de sensações, não de raciocínio lógico e montagem de historinha. E é disso que eu gosto mais nele - a falta da resposta, o vazio; esse surrealismo tão labiríntico, tão minimalista, tão arrebatador. Dizer que se entendeu esse enigma por inteiro para mim é bobagem e pretensão. Não foi feito para ser entendido - mas para abraçar-mo-lo como uma experiência única (traumática, sim), mas diferente de verdade de muitas das produções que são feitas por aí. Perdeu umas estrelas por eu tê-lo achado um pouco monótono, porém. "Rabbits" foge da curva e se assenta no imaginário do nosso mais profundo pesadelo.
Vou mentir não; é uma bela história de amor. Especialmente se tratando de um tema tão, mas tão complicado e tabu como o incesto. O problema, para mim, foi que esse curta ficou, ironicamente, curto demais – se fosse um filme, certamente que determinados detalhes teriam aparecido e a nota teria subido consideravelmente. Como não foi o caso, a nota, para mim, desceu. Algumas falhas e furos ficaram muito evidentes – e vou citá-las. Tudo acontece muitíssimo rápido. Em um minuto vemos os meninos como crianças, no próximo já tem uma coisa completamente diferente! Não há respiro nesse pequeno enredo, não há muito background. O diretor focou-se muito apenas na questão de ilustrar um desejo muitíssimo oprimido, sem se preocupar com as implicações dos detalhes da sua consumação:
mesmo que seja incompreensível para a maior parte das pessoas, como assim o irmão menor se apaixona pelo maior? Ele deseja-o efetivamente? Há essa distinção entre o “querer ser o irmão mais velho” e o “querer namorar o irmão mais velho”? Entre o “amar o irmão mais velho como irmão” e o “amar como um amante”? Por que a mãe aparece numa única cena, e por apenas três ou quatro segundos? Por que não há nenhum outro tipo de situação para demonstrar que o irmão mais novo começou a se apaixonar pelo mais velho? Por que é tão rápido assim? – eu teria entendido se houvesse pelo menos uma cena, num banheiro, por exemplo, em que o irmão mais novo observa o mais velho com admiração. Não tem nada disso; em uma cena eles estão na casa dos 8 anos, nadando, e na outra já estão quase com vinte, e o mais novo já apaixonado pelo mais velho. Pode ser, realmente, que o amor seja irracional a tal ponto, mas, mesmo assim, não haveria de ter alguma outra explicação?
O final te toca, mas, também, como em inúmeros outros filmes com a temática gay, acaba em
tragédia. E não é que não seja bonita a tragédia gay – claro que não. Quem já viu “O Segredo de Brokeback Mountain” sabe do que estou falando. É só que esse tipo de final contribui muito para o assentamento, por parte do cinema, de uma determinada imagem sobre o relacionamento gay – que pode fugir de estereótipos antigos e imbecis, claro – mas que não consegue escapar de uma espécie de punição, de uma condenação ao fim de sua existência. Óbvio que vivemos numa época em que gays ainda são apedrejados e mortos, mas daí a contribuir para essa imagem de que a relação gay “““sempre dá errado”””? Só estou dizendo que teria sido muito melhor se houvesse algum tipo de fuga, por exemplo, dos meninos, em busca da compreensão profunda de sua própria psiquê. E não uma morte assim, como única e exclusiva opção de quem é gay – e participa de um incesto.
Por acaso a sexualidade humana é assim tão frágil?
Até o final, você não imagina qual o emprego do protagonista... Acho que tem muito a ver com o mercado de trabalho cada dia mais competitivo e visceral; um dia vai chegar em que não haverá empregos para todos - precisar-se-á encontrar novas formas rentáveis de ocupar o indivíduo no dia-a-dia. É até meio cômico como alguns dos empregos são apresentados, mas é por aí que o mundo caminha - cada dia mais gente, cada dia menos opção e oportunidade. Grande.
A narrativa deste curte-documentário é BRILHANTE. As ironias e as "desnecessárias" superdescrições são incríveis e realmente fazem a gente pensar; caramba, o que realmente faz os seres humanos ficarem ATRÁS dos porcos na prioridade do tomate? Aonde vai nos levar esta indiferença, este desdém? Por que não fazemos nada em relação à justiça social propriamente dita? Me assusta muito perceber que ainda estamos longe do ideal para todos. A Ilha das Flores está em todos os lugares.
Eu gosto de como a gente não consegue entender 100% do que acontece, a gente não consegue saber o que o Bam está querendo saber (o what e o where), a gente não sabe nada! Mas, mesmo assim, é tudo muito claro; e isso que é o barato no Beckett: temos total consciência do que acontece, mas não temos o contexto, não temos o fundo, não temos a única coisa que deveríamos ter para compreendê-lo de forma plena. Não dá para ser assistido apenas uma vez, é bem complexo apesar de simples. Aliás, talvez jamais compreendamos por que procuramos pelas respostas. Metalinguagem? Eu também não sei, mas acho que é! Incrível.
Esse cara é sensacional! Documentário curto, mas muito interessante sobre a vida e obra de Leminski até aquele momento. Ainda há a recitação de versos por ele próprio, algo que eu acho digno sorriso. O detetive das palavras, a "chuva em qualquer pique-nique". Adorável.
Absorvendo o Tabu
4.4 201 Assista AgoraDisruptivo, "Absorvendo o Tabu" vem com o pé na porta para falar sobre empoderamento feminino e sororidade, temas atuais e super necessários, sobretudo em culturas em que a mulher segue sendo considerada posse/direito/objeto de seu marido.
PERIOD. aborda a produção de absorventes para mulheres que vivem numa aldeia nos arredores de Delhi, na Índia. A ausência de diálogo, de comunicação efetiva entre elas e eles, e mesmo entre elas e elas prejudica a formação sexual de basicamente toda a população, que não sabe dizer o que significa menstruar ou o que pode ocorrer se uma mulher para de menstruar, por exemplo.
Para além da questão do empoderamento, o documentário de média-metragem assinado pela Rayka Zehtabchi questiona que sociedade poderia se desenvolver se não abre espaço para discutir seus tabus - que são absolutamente culturais e específicos para cada uma... É possível haver crescimento de saber, de relação e de vida em sociedade se não somos nem capazes de lidar com o nosso próprio corpo, na sua forma e consequência mais natural? Estaremos prontos para lidar com o outro se desconhecemos mesmo as partes mais íntimas de nós - para nós mesmos?
A pergunta ressoa, muitíssimo poderosa.
Grande doc, merecedor do Óscar deste ano!
E tenho dito.
ASSISTAM!!
The 100 Years Show
4.4 10É muito tocante ver o trabalho vanguardista da Carmen Herrera, feito com tanto afinco desde os anos 50, e afinado com tudo que então se dava nos Estados Unidos... É ainda mais lindo saber que este documentário pôde encontrar luz enquanto ela ainda está viva, e trabalhando com a mesma dedicação de décadas atrás...
Com muito bom humor, e absorta em produzir o melhor de sua pintura geométrica e minimalista, Carmen é um exemplo vivo de como o trabalho de um(a) artista pode ser reconhecido se este for corajoso e original, mesmo que isso se dê muito tardiamente. O que nos consola, pelo menos, é que a Netflix tenha tido a iniciativa de produzir este material, absolutamente necessário nos tempos de hoje, em que a profissão “artista” se vê cada vez menos “necessária no capitalismo”.
O que dá pra levar, além da lição de vida que sua trajetória representa, é o que a própria Carmen diz ali perto do meio do filme, simples e perfeitamente; “arte não é feita para ser debatida. Não se ‘debate’ arte. ‘Arte’-se arte”.
Este doc é lindo.
Assistam!!
Profissões
4.1 4Sen-sa-cio-nal!
Se bobear o mais engraçado do Lars Von Trier.
Talvez o único engraçado, na real.
Porque né.
Absurda
3.5 23Assistindo a esse curta em "Cada Um Com Seu Cinema", eu tive uma sensação realmente absurda de que aquele cenário, aquele cinema, aquele clima, aquilo tudo era familiar. Lembrei do final de "Império dos Sonhos" na hora. Quando surgiu a tesoura e o cara no filme começou a falar, eu tinha certeza - era do David Lynch! Qual não foi a minha surpresa quando os créditos confirmaram?
No mais, é um curta de suspense/terror que de certa forma traumatiza um pouco a gente. Os lugares-comuns do cinema do diretor estão bastante presentes. Parece fazer referência a "Ballerina" e ao INLAND EMPIRE. Posso estar viajando também, mas senti um pouco desses outros trabalhos.
O surrealismo aqui é uma intenção ainda latente.
"So I went dancing. I've always loved to dance."
TBD716
2.5 6Realmente difícil chamar de um "curta artístico" um teaser imagético de um CD do David Lynch. Especialmente quando é uma animação tão simples.
Por mim dava pra descadastrar, né.
Selecionei por puro completismo, risos.
How to Make a David Lynch Film
4.1 7Eu AMO esse curta! Hilário!
De se rever o tempo todo.
Uma puta homenagem a este verdadeiro gênio da atmosfera e da tensão.
"Does that look familiar to you...? And how about this...? 'Lynchian' enough for you...?"
Cinema Anêmico
3.6 29Como em "Um Cão Andaluz", pelo valor simbólico e histórico deste curta, devemos assisti-lo despidos de preconceitos ou tentando procurar maiores significados para aquilo que nos é mostrado. É uma produção diferente do cinema convencional, e aliás de um pioneirismo gráfico memorável. Niilismo, vanguarda, experimentalização. Não foi um filme que me disse algo a mais, mas definitivamente foi relevante em algum nível para os cinemas de Buñuel e Dalí, por exemplo.
Interessante.
O Código Tarantino
4.4 716Engraçadíssimo. Achei que ia ver um monte de besteiras sobre os filmes do Quentin, mas acabou que me diverti muito com os pensamentos do personagem de Selton Melo! Algumas coisas ali são realmente muito interessantes sobre os roteiros do Tarantino - a espada de Hanzo de "Kill Bill" em "Pulp Fiction", a ligação entre Vic Vega de "Cães de Aluguel" e Vincent Vega de "Pulp Fiction"... E "O Código Tarantino" acabou virando para mim uma divertida homenagem ao cara!
Veria de novo amarradão.
"Vai tomar no seu cu largo!"
Um Cão Andaluz
4.1 706Pela marca histórica que este curta possui (de quebrar barreiras de continuidade, lógica, roteiro, etc), "Um Cão Andaluz" vale pelo conhecimento. À época - e ainda hoje - causa um estranhamento; como se as pinturas de Dalí tomassem vida na forma de pianos com veados mortos em cima ou mãos furadas de onde saem formigas. O surrealismo desta produção é uma intenção latente, a cena do olho cortado é um clássico absoluto do cinema - mas eu não veria de novo. Não pela falta de sentido ou pelo desconforto, mas pela impressão que eu tenho de que, além disso que eu falei, ele não é mais nada. A película de Buñuel é uma novidade? Sim, e que inspirou muitos outros diretores; mas que não ME diz nada. O simbolismo neste trabalho não me faz sentir algo além do desconforto. Se esta é a sua intenção - me deixar incomodado, desconfortável - ele foi feliz em sua proposta e realização.
Mas se evidentemente havia algo superior, uma análise profunda, um questionamento a respeito da consciência, da realidade e tudo mais, acredito que não pesquei.
E reitero; "Um Cão Andaluz" vale pela experiência, mas não é um dos maiores filmes do mundo ou algo do tipo - muitos outros materiais surgiram a partir dele que trouxeram muito mais para a questão do surrealismo no cinema.
Ele foi o big-bang, e merece tal reconhecimento.
Mas só.
O Cowboy e o francês
3.2 22Divertidinho. Dos curtas do Lynch esse é o que passa mais longe da estética mais recorrente (pesadelo, onirismo, surrealismo), e acaba se destacando por isso - é uma comédia despretensiosa sobre um cowboy quase-surdo que conhece um francês perdido.
Nem por isso vira o melhor trabalho do cara, né. Por favor. É divertidinho - mas só.
Não é porque é do Lynch que merece uma salva de palmas.
A Amputada
3.0 37Diferente dos curtas anteriores do Lynch, este tem uma novidade que viria a ser um dos maiores charmes do seu cinema: a trama "indireta". Em "A Amputada", o que vemos é uma situação, mas damos mais atenção a uma trama que está sendo, nesse caso, recitada numa carta; como acontece em diversas cenas de INLAND EMPIRE ou de Cidade dos Sonhos - vemos uma coisa, mas prestamos mais atenção em outra, mais interior, mais subjetiva, menos visual necessariamente. Pode ser sob a forma de um comentário entre personagens, ou de cenas que não têm absolutamente nada a ver com o que é considerado "principal" no filme. São os conflitos paralelos.
Aliás e o choque quando você descobre que a enfermeira é o David Lynch? O que dizer disso? hahahah
Apesar deste aspecto novo a ser percebido, o curta em si não possui nada muito diferente ou inovador em comparação ao que Lynch já produziu, e por isso não acho que deva ser assim tão bem considerado.
É um devaneio interessante, mas nada de outro mundo. Não é tão expressivo como "A Avó" ou "O Cowboy e o Francês".
Meio-a-meio.
A Avó
4.0 69Percebi aqui quase um prenúncio para o filme "Eraserhead": estética de pesadelo, família em conflito, árvore "sangrando", aspecto mórbido dos medos e aflições do protagonista... Vi muita coisa semelhante ao primeiro longa de David Lynch. Além disso, vale lembrar sempre que esta foi a primeira experiência em que ele tinha total controle da produção, das finanças e da logística de um filme - ganhou uma bolsa para tal. Com "A Avó", Lynch mostrou ser extremamente habilidoso na comunhão entre o surrealismo e o simbolismo.
Vale dar uma olhada.
O Alfabeto
3.7 121Gostei mais desse aqui. Começa a entrar em cena a questão mórbida do Lynch, o aspecto onírico, quase de pesadelo mesmo, que acabou entrando em "Eraserhead". Alguma coisa me diz que aqui, mais que em "Six Figures Getting Sick", o Lynch arranjou seu big bang criativo - que viria a ter sua mais significativa explosão no consequente "A Avó".
É quase como se observássemos a evolução do imaginário de um artista.
Maneirinho.
Six Figures Getting Sick
3.2 40A título de conhecer na totalidade o trabalho do diretor, assistir a "Six Figures Getting Sick" até que passa. Como obra de arte, porém, é um curta bem limitado - um trabalho conceitual bastante repetitivo que se esgota lá pelos dois minutos. Não acho que mereça cinco estrelas só porque é do Lynch: é a sua produção mais pobre, é o Lynch na sua fase mais amadora.
Vale por ser a sua primeira experiência cinematográfica. Mas eu não assistiria de novo.
Rabbits
3.9 152Acho muita pretensão dizer que se entendeu tudo desse curta.
Percebi que o diálogo foi propositalmente embaralhado, mas gosto disso. Isso me agrada. E pra cacete, aliás. Todo o mistério é muito fascinante - "Rabbits" é mais um Lynch a que assisto que me deixa embasbacado, furioso e com muito, muito medo. Me lembrou bastante a literatura do Samuel Beckett. As pontuações, a contemplatividade, a falta (ou não) de lógica... Não acho ruim que uma ideia fique evasiva assim; afinal, acredito que o ponto de todo esse subversivo cinema é nos fazer SENTIR as coisas, não QUESTIONAR, PROCURAR e COMPREENDER. O cinema do Lynch é um cinema de sensações, não de raciocínio lógico e montagem de historinha.
E é disso que eu gosto mais nele - a falta da resposta, o vazio; esse surrealismo tão labiríntico, tão minimalista, tão arrebatador. Dizer que se entendeu esse enigma por inteiro para mim é bobagem e pretensão. Não foi feito para ser entendido - mas para abraçar-mo-lo como uma experiência única (traumática, sim), mas diferente de verdade de muitas das produções que são feitas por aí.
Perdeu umas estrelas por eu tê-lo achado um pouco monótono, porém.
"Rabbits" foge da curva e se assenta no imaginário do nosso mais profundo pesadelo.
"It was the man on the green coat."
Starcrossed - O Amor Contra o Destino
3.3 245Vou mentir não; é uma bela história de amor. Especialmente se tratando de um tema tão, mas tão complicado e tabu como o incesto. O problema, para mim, foi que esse curta ficou, ironicamente, curto demais – se fosse um filme, certamente que determinados detalhes teriam aparecido e a nota teria subido consideravelmente. Como não foi o caso, a nota, para mim, desceu. Algumas falhas e furos ficaram muito evidentes – e vou citá-las.
Tudo acontece muitíssimo rápido. Em um minuto vemos os meninos como crianças, no próximo já tem uma coisa completamente diferente! Não há respiro nesse pequeno enredo, não há muito background. O diretor focou-se muito apenas na questão de ilustrar um desejo muitíssimo oprimido, sem se preocupar com as implicações dos detalhes da sua consumação:
mesmo que seja incompreensível para a maior parte das pessoas, como assim o irmão menor se apaixona pelo maior? Ele deseja-o efetivamente? Há essa distinção entre o “querer ser o irmão mais velho” e o “querer namorar o irmão mais velho”? Entre o “amar o irmão mais velho como irmão” e o “amar como um amante”? Por que a mãe aparece numa única cena, e por apenas três ou quatro segundos? Por que não há nenhum outro tipo de situação para demonstrar que o irmão mais novo começou a se apaixonar pelo mais velho? Por que é tão rápido assim? – eu teria entendido se houvesse pelo menos uma cena, num banheiro, por exemplo, em que o irmão mais novo observa o mais velho com admiração. Não tem nada disso; em uma cena eles estão na casa dos 8 anos, nadando, e na outra já estão quase com vinte, e o mais novo já apaixonado pelo mais velho. Pode ser, realmente, que o amor seja irracional a tal ponto, mas, mesmo assim, não haveria de ter alguma outra explicação?
O final te toca, mas, também, como em inúmeros outros filmes com a temática gay, acaba em
tragédia. E não é que não seja bonita a tragédia gay – claro que não. Quem já viu “O Segredo de Brokeback Mountain” sabe do que estou falando. É só que esse tipo de final contribui muito para o assentamento, por parte do cinema, de uma determinada imagem sobre o relacionamento gay – que pode fugir de estereótipos antigos e imbecis, claro – mas que não consegue escapar de uma espécie de punição, de uma condenação ao fim de sua existência. Óbvio que vivemos numa época em que gays ainda são apedrejados e mortos, mas daí a contribuir para essa imagem de que a relação gay “““sempre dá errado”””?
Só estou dizendo que teria sido muito melhor se houvesse algum tipo de fuga, por exemplo, dos meninos, em busca da compreensão profunda de sua própria psiquê. E não uma morte assim, como única e exclusiva opção de quem é gay – e participa de um incesto.
Por acaso a sexualidade humana é assim tão frágil?
O Emprego
4.5 355Até o final, você não imagina qual o emprego do protagonista... Acho que tem muito a ver com o mercado de trabalho cada dia mais competitivo e visceral; um dia vai chegar em que não haverá empregos para todos - precisar-se-á encontrar novas formas rentáveis de ocupar o indivíduo no dia-a-dia. É até meio cômico como alguns dos empregos são apresentados, mas é por aí que o mundo caminha - cada dia mais gente, cada dia menos opção e oportunidade.
Grande.
Ilha das Flores
4.5 1,0KA narrativa deste curte-documentário é BRILHANTE. As ironias e as "desnecessárias" superdescrições são incríveis e realmente fazem a gente pensar; caramba, o que realmente faz os seres humanos ficarem ATRÁS dos porcos na prioridade do tomate? Aonde vai nos levar esta indiferença, este desdém? Por que não fazemos nada em relação à justiça social propriamente dita?
Me assusta muito perceber que ainda estamos longe do ideal para todos.
A Ilha das Flores está em todos os lugares.
What Where
4.4 2 Assista AgoraEu gosto de como a gente não consegue entender 100% do que acontece, a gente não consegue saber o que o Bam está querendo saber (o what e o where), a gente não sabe nada! Mas, mesmo assim, é tudo muito claro; e isso que é o barato no Beckett: temos total consciência do que acontece, mas não temos o contexto, não temos o fundo, não temos a única coisa que deveríamos ter para compreendê-lo de forma plena.
Não dá para ser assistido apenas uma vez, é bem complexo apesar de simples. Aliás, talvez jamais compreendamos por que procuramos pelas respostas.
Metalinguagem? Eu também não sei, mas acho que é!
Incrível.
Ervilha da Fantasia
4.5 12Esse cara é sensacional! Documentário curto, mas muito interessante sobre a vida e obra de Leminski até aquele momento. Ainda há a recitação de versos por ele próprio, algo que eu acho digno sorriso. O detetive das palavras, a "chuva em qualquer pique-nique". Adorável.
Nocturne
3.3 60Pesado. Acho que "surrealístico" é a melhor palavra para defini-lo.