É um filmaço que aponta pra o Brasil real, no momento em que mais precisamos olhar pra a nossa realidade. A classe política enxerga o personagem Cristiano apenas como um número, a elite e o mercado enxergam ele apenas como um número. Compreender a essência do Brasil real, que vive de bicos, ganhando menos que um salário mínimo e não sabe o que é uma "família tradicional", é perceber que a política e a economia precisam modificar urgentemente o foco da sua percepção. O Brasil real vive na marginalidade e Arábia demonstra isso claramente. É um filmaço, repito.
Para aqueles que estão cobrando um final mais redondo, é preciso atentar que esse filme é uma pergunta retórica. Como disse Victor Santanna mais abaixo, qualquer proposta de final fechado mutilaria a reflexão que já está posta. A importância do filme está na construção da trama que, apesar de ser muito didática em alguns momentos, envolve o espectador com situações típicas de um cotidiano que já vivemos há algum tempo. Nós vivemos tudo isso aí. É um tapa na cara da sociedade brasileira. Pra quem já assistiu ao episódio "Urso Branco", de Black Mirror, acho que temos, em Aos Teus Olhos, pitadas brasileiras pra essa mesma ideia. A diretora foi muito exitosa nesse sentido.
Como seria uma história em animação contando a vida dos adultos? Por que ninguém havia pensado isso antes? Foi a minha inquietação quando eu descobri Anomalisa (2016, drama/romance), o filme mais recente do meu querido e excêntrico roteirista Charlie Kaufman. Demorei algum tempo para assisti-lo, me perdi no meio do caminho contemplando Sinédoque, Nova Iorque (2008, primeira direção de Kaufman), um drama subestimado pelo público e crítica sobre um dramaturgo que intenta realizar um espetáculo megalomaníaco sobre sua própria vida. Acho interessante que, muitas vezes, o impulso criativo de Kaufman é o mais honesto possível com o seu público: nós só podemos falar sobre o que vivemos e compreendemos. Provavelmente, é mais fácil falar sobre si mesmo. É terapêutico, na verdade.
Vocês podem ler mais sobre minha visão de Anomalisa em: cinefronteira.blogspot .com.br
É preciso assistir a esse doc deixando a premissa sempre bem clara: "o patrão está filmando." Isso significa que nem todas as verdades serão ditas. Parece ingênuo, não é? Mas esse discurso quebrado, fragmentado pela censura a partir de quem carrega a câmera entrega indiretamente a relação de força ali existente. Quanto mais introjetamos essa ideia de patrão/empregada (o) em entrevistador/entrevistada (o), mais entendemos a perversidade da relação. E é aí que reside a força do documentário. Não é uma ideia inocente. Mascaro sabe que somos capazes de compreender a mensagem e que essa compreensão é um processo doloroso. Não é simplesmente apontar: "veja só, eles falam 'minha empregada' ou 'meu empregado'. como esse sentimento de posse é nojento". Mas a intenção é provocar a seguinte revelação: "eu também falo 'minha empregada'. quem sou eu nesse contexto?". Enfim, achei o filme genial e muito conectado com o Casa Grande e Que horas ela volta? que vem na sequência do cinema nacional.
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Glass Onion: Um Mistério Knives Out
3.5 653 Assista AgoraUma ode ao cinismo! Brilhante 👏🏻
Arábia
4.2 169 Assista AgoraÉ um filmaço que aponta pra o Brasil real, no momento em que mais precisamos olhar pra a nossa realidade. A classe política enxerga o personagem Cristiano apenas como um número, a elite e o mercado enxergam ele apenas como um número. Compreender a essência do Brasil real, que vive de bicos, ganhando menos que um salário mínimo e não sabe o que é uma "família tradicional", é perceber que a política e a economia precisam modificar urgentemente o foco da sua percepção. O Brasil real vive na marginalidade e Arábia demonstra isso claramente. É um filmaço, repito.
Aos Teus Olhos
3.4 288 Assista AgoraPara aqueles que estão cobrando um final mais redondo, é preciso atentar que esse filme é uma pergunta retórica. Como disse Victor Santanna mais abaixo, qualquer proposta de final fechado mutilaria a reflexão que já está posta. A importância do filme está na construção da trama que, apesar de ser muito didática em alguns momentos, envolve o espectador com situações típicas de um cotidiano que já vivemos há algum tempo. Nós vivemos tudo isso aí. É um tapa na cara da sociedade brasileira. Pra quem já assistiu ao episódio "Urso Branco", de Black Mirror, acho que temos, em Aos Teus Olhos, pitadas brasileiras pra essa mesma ideia. A diretora foi muito exitosa nesse sentido.
Anomalisa
3.8 497 Assista Agora"Anomalisa: um estudo social sobre o amor fugaz"
Como seria uma história em animação contando a vida dos adultos? Por que ninguém havia pensado isso antes? Foi a minha inquietação quando eu descobri Anomalisa (2016, drama/romance), o filme mais recente do meu querido e excêntrico roteirista Charlie Kaufman. Demorei algum tempo para assisti-lo, me perdi no meio do caminho contemplando Sinédoque, Nova Iorque (2008, primeira direção de Kaufman), um drama subestimado pelo público e crítica sobre um dramaturgo que intenta realizar um espetáculo megalomaníaco sobre sua própria vida. Acho interessante que, muitas vezes, o impulso criativo de Kaufman é o mais honesto possível com o seu público: nós só podemos falar sobre o que vivemos e compreendemos. Provavelmente, é mais fácil falar sobre si mesmo. É terapêutico, na verdade.
Vocês podem ler mais sobre minha visão de Anomalisa em: cinefronteira.blogspot .com.br
Doméstica
3.8 124É preciso assistir a esse doc deixando a premissa sempre bem clara: "o patrão está filmando." Isso significa que nem todas as verdades serão ditas. Parece ingênuo, não é? Mas esse discurso quebrado, fragmentado pela censura a partir de quem carrega a câmera entrega indiretamente a relação de força ali existente. Quanto mais introjetamos essa ideia de patrão/empregada (o) em entrevistador/entrevistada (o), mais entendemos a perversidade da relação. E é aí que reside a força do documentário. Não é uma ideia inocente. Mascaro sabe que somos capazes de compreender a mensagem e que essa compreensão é um processo doloroso. Não é simplesmente apontar: "veja só, eles falam 'minha empregada' ou 'meu empregado'. como esse sentimento de posse é nojento". Mas a intenção é provocar a seguinte revelação: "eu também falo 'minha empregada'. quem sou eu nesse contexto?". Enfim, achei o filme genial e muito conectado com o Casa Grande e Que horas ela volta? que vem na sequência do cinema nacional.