Há uma incoerência entre a mise-èn-scene segura, elegante e criteriosa do primeiro ato com o desenrolar perdido e redundante do segundo, repleto de personagens ensaiando uma falsa profundidade nos diálogos. Quando a Nicole Kidman diz para o jovem Saroo: "um dia, você vai me dizer quem é", queremos ver o garoto crescer e entender em quem ele se transformou, seus ideais, maneirismos, sua relação com o país atual, e claro, como se relaciona com a nova família. Mas muito é falado e pouco é visto. Vinte anos depois, não sabemos absolutamente nada do protagonista além do curso que escolheu e da obsessão repentina pelos entes biológicos na Índia.
Verbaliza-se que é atlético, ganhou muitos prêmios, e costuma proteger o irmão, mas não há qualquer sequência rotineira que comprove sua aptidão esportiva ou seu amor fraternal. O que existe por Mantosh é uma tolerância prestes a ruir, reduzindo este personagem a um drogado problemático. Sem mencionar a namorada que poderia ter sido, literalmente, qualquer pessoa dentro da trama.
De uma negligência que nem a narrativa melodiosa e bem fotografada conseguem sustentar. Na lembrança, as nuances encantadoras nos olhares do pequeno Sunny Pawar e a história real, como mote para a causa pelas crianças indianas desaparecidas. Uma grande premissa que se esvazia aos poucos em potencialidade. Uma pena.
Caramba, que filme meia boca. Montagem medíocre/redundante, protagonista insuportável e personagens que vão de nada a lugar algum, servindo de mero artifício pra o mistério que é mal cadenciado. Decepção.
Pequeno-grande filme da Andrea Arnold que transpõe a coletividade dos desajustados também para trás das câmeras (não à toa o paralelismo dos nomes nos créditos finais). A câmera na mão confere um ar naturalista no mesmo tom da atuação da estreante Sasha Lane, enquanto Riley Keogh e Shia LaBeouf encantam com seus próprios maneirismos. Embora falte um pouco de vida ao restante dos personagens, é revigorante assistir a peças que te fazem olhar o mundo com olhos contemplativos, ao som de Juicy J, e no último volume. Uma deliciosa descarga de transe, utopia, liberdade, sexo e adrenalina.
Quem nunca sentiu cada uma dessas incertezas diante da vida adulta e do chamado à responsabilidade? Realidades microcósmicas, contextos universais. Que sensibilidade apurada de Marília! De uma singeleza tão múltipla... Deu vontade de conhecer cada uma das meninas. Não presenciava um documentário tão sublime desde Elena, de Petra Costa.
"As pessoas não se tornam especiais pela maneira de ser ou agir, mas sim pela simplicidade que atinge nosso coração. Se você fosse escolher entre amar e viver, escolheria amar, pois viver depende de amar." <3
Tô ficando cada vez mais apaixonado pela Hailee Steinfeld. O filme é inteiramente dela. Os demais personagens poderiam ter sido melhor desenvolvidos, principalmente o do Woody Harrelson, mas em se tratando de uma comédia teen, me surpreendeu com o respeito e a multiplicidade com que aborda os conflitos da adolescência. Gostoso de ver.
Atrai pelo visual e até prende pela atmosfera (Gosling puxando muito do Winding Refn aí), mas peca fundamentalmente na construção dos personagens. Não dá pra construir empatia com nenhum, bem wathever mesmo.
Diante da delicadeza de abordar um episódio traumático do qual ninguém fala ou compreende, Robert Greene nos coloca na pele da atriz Kate Lyn Sheil no processo de laboratório, tentando se aproximar da persona que irá encenar: Christine Chubbuck. Pouco há disponível sobre Christine. Praticamente zero imagens de arquivo, a família não se pronuncia, e as pessoas que, de alguma forma, conviveram com ela ou acompanharam a repercussão do caso, demonstram não conhecê-la em absoluto. O doc. dispensa explicações aprofundadas sobre problemas psicológicos, preferindo enveredar por um lado mais sutil, edificado em relatos de atores, fontes e personagens reais que traçam um paralelo entre o suicídio de Christine e seus próprios medos e angústias. Uma experiência sensível, que apesar do desfecho deslocado, desfere críticas ao sensacionalismo e induz o autoquestionamento sobre romantizar o problema de outrem.
"Você morre duas vezes. A primeira é quando seu corpo morre. A segunda é quando citam seu nome pela última vez".
Esperava uma narrativa sutil e sensual a la Garota Exemplar, e me deparo com um thriller cru, seco e extremamente amargo. Embora falte camadas aos personagens, Tom Ford acerta ao preferir apostar na imersão ante a complexidade, na trama. A atmosfera é angustiante desde o primeiro ato e assim permanece até o desfecho. Somos hipócritas, egoístas e revanchistas, mas reagimos aos fatos de maneira particular - uns entorpecidos, e outros, sangrando por dentro. Um belo soco no estômago.
Tudo bem não curtir a história, mas grande parte das decepções aqui me pareceram decorrer apenas da expectativa que o filme tratasse de uma tema denso com igual densidade. Ele não tem a obrigação de fazer isso. Em Desconhecida, identidade é apenas um pano de fundo para um recorte de vidas comuns e questionamentos vomitados, desses corriqueiros que também passam pela nossa cabeça e continuam sem respostas. Não acho que o diretor foi antipático com o seu trabalho.
PS.: O Michael Shannon está cada vez mais maduro em cena. Pra mim, ele é o verdadeiro protagonista.
"Tenho pensado muito sobre aquele circo de pulgas. Fui com Nadine. Era dirigido por dois europeus - irmãos, possivelmente gêmeos idênticos, mas um era um pé mais alto que o outro. Eu não lembro o nome deles. Não sei sua opinião, mas minha eposa disse que era tudo um truque. Mesmo quando eles nos deram aquelas lupas e vimos pulgas puxando uma diligência para o depósito ou rolando canhões, aqueles minúsculos canhões no campo de batalha. Ela dizia que as pulgas estavam mortas. Que estavam apenas coladas a alguma engenhoca mecânica que se move por conta própria, como um relógio ou uma bobina. Pensei que era real, e disse a ela. Eu disse: "Não fale tão alto, os artistas poderão ouvi-la". Porque eu não sei que tipo de audição as pulgas têm, ou se podem sentir a bondade numa voz como um cão ouve. Elas bebem sangue de cão, então talvez. Acho que era real. Eu acredito que aquelas pulgas estavam vivas e eram talentosas."
"Marcelo Pedroso – É muito fácil falar [da aproximação entre estética e política] a partir do senso comum. Tudo é política, nada é política. A busca de uma articulação entre essas duas dimensões acontece, pra mim, quando o filme é capaz de transfigurar uma percepção da realidade. (...) Os filmes partem do real, de uma visão subjetiva do real, e a forma como a gente vai rearticulá-los no mundo também corresponde a um desejo político, não sei se de transformação, mas em algum nível, de confusão. De tentar tensionar outras realidades, outras configurações possíveis do sensível, da organização da vida social. Quando a gente consegue fazer com que imagens articulem possibilidades de sentir, de experienciar o mundo para além daquilo que seria possível dizer, isso também nos convida a uma forma de trabalhar esses filmes no mundo real, no retorno.
(...) Gabriel Mascaro – Eu lembro que participei da oficina de formação do Doc TV, e foi meu primeiro contato com Jean-Claude Bernardet. Nessa oficina, ele nos desafiou, com muita força: 'o documentário brasileiro vai mudar quando os diretores pararem de chamar os personagens para o palco no dia do lançamento'. Aquilo foi muito forte pra mim. Os filmes tinham uma condescendência, um pacto com a aprovação do personagem. No lançamento de Doméstica no Rio, um personagem do filme disse pra mim: 'Ó, você roubou esse filme de mim, viu? Eu quero autoria do filme. Fui em que filmei, é minha história'. Quando eu poderia imaginar que esse jogo perverso que instrumentalizou o olhar dos personagens, e virou o jogo contra eles, ia fazer com que, no final, o cara pedisse a autoria do filme, dizendo que eu estou enrolando? Isso traz uma força do próprio descontrole que esse método coloca em jogo. No Pacific, alguém fez uma crítica ao filme no Youtube: 'só tem gente bizarra nesse filme'. Aí um personagem respondeu: 'Que bizarro o quê? Não sou bizarro não. Minha viagem foi massa, minha esposa curtiu, o cara pediu pra fazer um filme e é isso aí, minha vida é essa. Estou muito feliz'. Quando você pensa o jogo e abre mão desse pacto, o próprio jogo se reverte. Se há um ponto em comum entre esses filmes que a gente está citando, talvez seja a possibilidade de um risco da não aprovação pelo personagem. É um jogo que se constitui como risco que leva em conta a câmera, o cinema, a arte como um tensionador de uma experiência de mundo.
Marcelo – Eu acho que a duração compartilhada, aquele instante em que documentarista e personagem dividem a cena, é capaz de implodir perspectivas de mundo que estão enraizadas nos dois. Se o filme não conseguir abrir essa dimensão que a gente consiga olhar, se identificar, se projetar, ver a nós mesmos ali dentro, a gente está fodido. Na primeira sessão do Pacific lá em Recife, no Janela, eu saí da sala. Porque as pessoas riram tanto durante o filme que eu fiquei numa crise. Fui pro debate mortificado. No outro dia eu reuni a equipe e disse: 'Ó, esse filme não vai existir não. A gente vai sepultar hoje mesmo, acabou. Obrigado, foi massa o trabalho de vocês, mas esse filme saiu pela tangente. Como é que pode a gente fazer um filme em que se exercita um olhar e uma sensibilidade sobre o mundo, sobre as pessoas e a reação é escárnio, é riso descontrolado?'. Aí passei por um processo de conversa com a equipe, e passei a entender o quanto esse riso de escárnio do público durante as sessões também denota a própria dificuldade do público de olhar para aquilo.
Gabriel – Acho também que tem um pacto que se estabelece entre mim, espectador, e aquele personagem que está sendo ridicularizado pelo grupo, que me faz negar que aquela experiência é válida. Por outro lado, pra mim, rir é muito mais complexo do que o ridículo. Eu me divirto muito com Pacific, mas na diversão existe a complexidade.
(...) Marcelo – Para mim o filme não tem que ser puro, ou puritano (o que seria pior ainda). Manter-se fiel a uma filiação estética, ou a um procedimento. O filme nasce de um gesto inicial e, até virar filme, passa por tanta coisa que se soma ali, que não importa. Não vou te achar mais honesto ou menos honesto. Para mim é como o filme foi capaz de se apoderar do mundo, transformar aquilo em imagem e som. A própria reação de desconfiança revela a matriz ideológica de quem espera algo dado do mundo."
Delícia de bate papo! revistacinetica .com.br/home/conversa-com-gabriel-mascaro-e-marcelo-pedroso/
Nunca achei que um filme de faroeste, cru e lento fosse me agradar tanto, 4 anos após assisti-lo pela primeira vez. Triste e contemporâneo. Vou investir mais tempo descobrindo os irmãos Coen.
"É tudo diferente isso aqui. É o preto no branco, o branco no preto... Diferente, que nem tu."
Val me lembra mulheres da minha família e domésticas que passaram pelo meu lar, com tantas expressões tipicamente nordestinas e um cuidado de avó, que me senti em casa assistindo à personagem. Não ha resquícios da apresentadora carioca aqui. Amei Camila também! E falar de Anna Muylaert é chover no molhado.
Fui completamente fisgado pela narrativa. O filme poderia focar a trajetória de Pierre tentando voltar à companhia da mãe e da irmã a todo custo, mas Muylaert prefere um caminho alternativo, mais difícil. A insistência em filmar a adaptação do protagonista fluido, rebelde e do subúrbio, ao novo lar tradicional, quadrado e de classe média alta, nos confronta com o fato de que ambos os mundos podem, sim, confluir. Apesar de todo o peso da situação que envolve o título, do sufocamento e da angústia vividos por um garoto roubado duas vezes, nenhum personagem é demonizado, a ponto de conseguimos sentir algum tipo de empatia pela nova família. Pela outra mãe cujo pavor é perder o filho novamente, e pisa em ovos ao lidar com ele, pelo pai preconceituoso que enfrenta (com extrema dificuldade) o egoísmo pra tentar entender o filho, e também pelo caçula iniciante nos problemas da adolescência que anseia por um irmão mais velho. Nada aqui é preto no branco e te faz refletir por diversos ângulos. Pierre é tão fascinante, visceral e cheio de camadas que é praticamente impossível não desejar ver mais dele e de suas aventuras em tela. Acho que esse foi o ponto que deixou a desejar. No mais, um belo filme da Anna com um elenco bastante afiado. Ansioso pelos próximos trabalhos do Naomi Nero.
Uma crônica que retrata a linha tênue entre amor, medo, ódio e morte, conduzida com uma violência lúdica (física e emocional) que nos faz confundir o que estamos sentindo pelo próprio filme. Afora os momentos muito explicativos, o exagero visual é estratégia da narrativa. Sem dúvidas, um trabalho que reverbera após os créditos. Vou me lembrar dele.
"Eu dormi mal essa noite, tive um sonho muito louco. A gente tava numa festa no play da Amanda. Tava todo muito dançando muito, luzes coloridas, fumaça. Numa hora, eu comecei a andar, andar... Quando vi, entrei no banheiro do segundo andar. Não tinha mais ninguém, tava escuro. Escutei uns passos, me virei e ele tava ali, bem na minha frente. Forte, alto, moreno, devia ter uns 20 anos. A gente começou a se agarrar, se beijar. Me empurrava na parede, me jogou na bancada da pia... Uma parada bem intensa, sabe? Mas aí chegou uma hora que ele não aguentou e rasgou minha calcinha. Enfiou lá dentro com toda a força. Eu tentei berrar, mas você sabe como é que é. Ele tapou minha boca com a mão. Ficou lá, o maior tempão dentro de mim. - E aí? - E aí, ele gozou né? Foi rápido. Se limpou e foi embora. Eu fiquei lá, jogada no chão do banheiro, até que olhei pra baixo e percebi que estava sangrando muito, sem parar. E aí, foi isso. Eu morri."
Adaptação dispensável. Não dá nem vontade de ler o livro, mesmo sabendo que Gillian Flynn escreve muito boas histórias. Um filme com roteiro tosquíssimo e grandes atores em papéis que não emplacam. As únicas coisas boas são Chlöe Moretz e a última cena.
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista AgoraHá uma incoerência entre a mise-èn-scene segura, elegante e criteriosa do primeiro ato com o desenrolar perdido e redundante do segundo, repleto de personagens ensaiando uma falsa profundidade nos diálogos. Quando a Nicole Kidman diz para o jovem Saroo: "um dia, você vai me dizer quem é", queremos ver o garoto crescer e entender em quem ele se transformou, seus ideais, maneirismos, sua relação com o país atual, e claro, como se relaciona com a nova família. Mas muito é falado e pouco é visto. Vinte anos depois, não sabemos absolutamente nada do protagonista além do curso que escolheu e da obsessão repentina pelos entes biológicos na Índia.
Verbaliza-se que é atlético, ganhou muitos prêmios, e costuma proteger o irmão, mas não há qualquer sequência rotineira que comprove sua aptidão esportiva ou seu amor fraternal. O que existe por Mantosh é uma tolerância prestes a ruir, reduzindo este personagem a um drogado problemático. Sem mencionar a namorada que poderia ter sido, literalmente, qualquer pessoa dentro da trama.
A Garota no Trem
3.6 1,6K Assista AgoraCaramba, que filme meia boca. Montagem medíocre/redundante, protagonista insuportável e personagens que vão de nada a lugar algum, servindo de mero artifício pra o mistério que é mal cadenciado. Decepção.
Docinho da América
3.5 215 Assista AgoraPequeno-grande filme da Andrea Arnold que transpõe a coletividade dos desajustados também para trás das câmeras (não à toa o paralelismo dos nomes nos créditos finais). A câmera na mão confere um ar naturalista no mesmo tom da atuação da estreante Sasha Lane, enquanto Riley Keogh e Shia LaBeouf encantam com seus próprios maneirismos. Embora falte um pouco de vida ao restante dos personagens, é revigorante assistir a peças que te fazem olhar o mundo com olhos contemplativos, ao som de Juicy J, e no último volume. Uma deliciosa descarga de transe, utopia, liberdade, sexo e adrenalina.
A Falta Que Me Faz
3.8 19Quem nunca sentiu cada uma dessas incertezas diante da vida adulta e do chamado à responsabilidade? Realidades microcósmicas, contextos universais. Que sensibilidade apurada de Marília! De uma singeleza tão múltipla... Deu vontade de conhecer cada uma das meninas. Não presenciava um documentário tão sublime desde Elena, de Petra Costa.
"As pessoas não se tornam especiais pela maneira de ser ou agir, mas sim pela simplicidade que atinge nosso coração. Se você fosse escolher entre amar e viver, escolheria amar, pois viver depende de amar." <3
Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois
2.6 42 Assista Agora"Qual era seu rosto antes de você nascer? Qual era seu rosto antes de seus pais nascerem?"
Quase 18
3.7 605 Assista AgoraTô ficando cada vez mais apaixonado pela Hailee Steinfeld. O filme é inteiramente dela. Os demais personagens poderiam ter sido melhor desenvolvidos, principalmente o do Woody Harrelson, mas em se tratando de uma comédia teen, me surpreendeu com o respeito e a multiplicidade com que aborda os conflitos da adolescência. Gostoso de ver.
Rio Perdido
3.0 199 Assista AgoraAtrai pelo visual e até prende pela atmosfera (Gosling puxando muito do Winding Refn aí), mas peca fundamentalmente na construção dos personagens. Não dá pra construir empatia com nenhum, bem wathever mesmo.
Kate Interpreta Christine
3.5 18Diante da delicadeza de abordar um episódio traumático do qual ninguém fala ou compreende, Robert Greene nos coloca na pele da atriz Kate Lyn Sheil no processo de laboratório, tentando se aproximar da persona que irá encenar: Christine Chubbuck. Pouco há disponível sobre Christine. Praticamente zero imagens de arquivo, a família não se pronuncia, e as pessoas que, de alguma forma, conviveram com ela ou acompanharam a repercussão do caso, demonstram não conhecê-la em absoluto. O doc. dispensa explicações aprofundadas sobre problemas psicológicos, preferindo enveredar por um lado mais sutil, edificado em relatos de atores, fontes e personagens reais que traçam um paralelo entre o suicídio de Christine e seus próprios medos e angústias. Uma experiência sensível, que apesar do desfecho deslocado, desfere críticas ao sensacionalismo e induz o autoquestionamento sobre romantizar o problema de outrem.
"Você morre duas vezes. A primeira é quando seu corpo morre. A segunda é quando citam seu nome pela última vez".
Animais Noturnos
4.0 2,2K Assista AgoraEsperava uma narrativa sutil e sensual a la Garota Exemplar, e me deparo com um thriller cru, seco e extremamente amargo. Embora falte camadas aos personagens, Tom Ford acerta ao preferir apostar na imersão ante a complexidade, na trama. A atmosfera é angustiante desde o primeiro ato e assim permanece até o desfecho. Somos hipócritas, egoístas e revanchistas, mas reagimos aos fatos de maneira particular - uns entorpecidos, e outros, sangrando por dentro. Um belo soco no estômago.
Desconhecida
2.7 56 Assista AgoraTudo bem não curtir a história, mas grande parte das decepções aqui me pareceram decorrer apenas da expectativa que o filme tratasse de uma tema denso com igual densidade. Ele não tem a obrigação de fazer isso. Em Desconhecida, identidade é apenas um pano de fundo para um recorte de vidas comuns e questionamentos vomitados, desses corriqueiros que também passam pela nossa cabeça e continuam sem respostas. Não acho que o diretor foi antipático com o seu trabalho.
PS.: O Michael Shannon está cada vez mais maduro em cena. Pra mim, ele é o verdadeiro protagonista.
The Fits
3.6 25Escolhemos ser escravos da gravidade?
Rastro de Maldade
3.7 408 Assista Agora"Tenho pensado muito sobre aquele circo de pulgas. Fui com Nadine. Era dirigido por dois europeus - irmãos, possivelmente gêmeos idênticos, mas um era um pé mais alto que o outro. Eu não lembro o nome deles. Não sei sua opinião, mas minha eposa disse que era tudo um truque. Mesmo quando eles nos deram aquelas lupas e vimos pulgas puxando uma diligência para o depósito ou rolando canhões, aqueles minúsculos canhões no campo de batalha. Ela dizia que as pulgas estavam mortas. Que estavam apenas coladas a alguma engenhoca mecânica que se move por conta própria, como um relógio ou uma bobina. Pensei que era real, e disse a ela. Eu disse: "Não fale tão alto, os artistas poderão ouvi-la". Porque eu não sei que tipo de audição as pulgas têm, ou se podem sentir a bondade numa voz como um cão ouve. Elas bebem sangue de cão, então talvez. Acho que era real. Eu acredito que aquelas pulgas estavam vivas e eram talentosas."
Brilho Eterno
3.2 37 Assista AgoraDaqueles que você pensa em como as coisas poderiam ter sido TÃO mais interessantes! Tô apaixonado pela Mackenzie Davis durona.
Pacific
3.4 23 Assista Agora"Marcelo Pedroso – É muito fácil falar [da aproximação entre estética e política] a partir do senso comum. Tudo é política, nada é política. A busca de uma articulação entre essas duas dimensões acontece, pra mim, quando o filme é capaz de transfigurar uma percepção da realidade. (...) Os filmes partem do real, de uma visão subjetiva do real, e a forma como a gente vai rearticulá-los no mundo também corresponde a um desejo político, não sei se de transformação, mas em algum nível, de confusão. De tentar tensionar outras realidades, outras configurações possíveis do sensível, da organização da vida social. Quando a gente consegue fazer com que imagens articulem possibilidades de sentir, de experienciar o mundo para além daquilo que seria possível dizer, isso também nos convida a uma forma de trabalhar esses filmes no mundo real, no retorno.
(...)
Gabriel Mascaro – Eu lembro que participei da oficina de formação do Doc TV, e foi meu primeiro contato com Jean-Claude Bernardet. Nessa oficina, ele nos desafiou, com muita força: 'o documentário brasileiro vai mudar quando os diretores pararem de chamar os personagens para o palco no dia do lançamento'. Aquilo foi muito forte pra mim. Os filmes tinham uma condescendência, um pacto com a aprovação do personagem. No lançamento de Doméstica no Rio, um personagem do filme disse pra mim: 'Ó, você roubou esse filme de mim, viu? Eu quero autoria do filme. Fui em que filmei, é minha história'. Quando eu poderia imaginar que esse jogo perverso que instrumentalizou o olhar dos personagens, e virou o jogo contra eles, ia fazer com que, no final, o cara pedisse a autoria do filme, dizendo que eu estou enrolando? Isso traz uma força do próprio descontrole que esse método coloca em jogo. No Pacific, alguém fez uma crítica ao filme no Youtube: 'só tem gente bizarra nesse filme'. Aí um personagem respondeu: 'Que bizarro o quê? Não sou bizarro não. Minha viagem foi massa, minha esposa curtiu, o cara pediu pra fazer um filme e é isso aí, minha vida é essa. Estou muito feliz'. Quando você pensa o jogo e abre mão desse pacto, o próprio jogo se reverte. Se há um ponto em comum entre esses filmes que a gente está citando, talvez seja a possibilidade de um risco da não aprovação pelo personagem. É um jogo que se constitui como risco que leva em conta a câmera, o cinema, a arte como um tensionador de uma experiência de mundo.
Marcelo – Eu acho que a duração compartilhada, aquele instante em que documentarista e personagem dividem a cena, é capaz de implodir perspectivas de mundo que estão enraizadas nos dois. Se o filme não conseguir abrir essa dimensão que a gente consiga olhar, se identificar, se projetar, ver a nós mesmos ali dentro, a gente está fodido. Na primeira sessão do Pacific lá em Recife, no Janela, eu saí da sala. Porque as pessoas riram tanto durante o filme que eu fiquei numa crise. Fui pro debate mortificado. No outro dia eu reuni a equipe e disse: 'Ó, esse filme não vai existir não. A gente vai sepultar hoje mesmo, acabou. Obrigado, foi massa o trabalho de vocês, mas esse filme saiu pela tangente. Como é que pode a gente fazer um filme em que se exercita um olhar e uma sensibilidade sobre o mundo, sobre as pessoas e a reação é escárnio, é riso descontrolado?'. Aí passei por um processo de conversa com a equipe, e passei a entender o quanto esse riso de escárnio do público durante as sessões também denota a própria dificuldade do público de olhar para aquilo.
Gabriel – Acho também que tem um pacto que se estabelece entre mim, espectador, e aquele personagem que está sendo ridicularizado pelo grupo, que me faz negar que aquela experiência é válida. Por outro lado, pra mim, rir é muito mais complexo do que o ridículo. Eu me divirto muito com Pacific, mas na diversão existe a complexidade.
(...)
Marcelo – Para mim o filme não tem que ser puro, ou puritano (o que seria pior ainda). Manter-se fiel a uma filiação estética, ou a um procedimento. O filme nasce de um gesto inicial e, até virar filme, passa por tanta coisa que se soma ali, que não importa. Não vou te achar mais honesto ou menos honesto. Para mim é como o filme foi capaz de se apoderar do mundo, transformar aquilo em imagem e som. A própria reação de desconfiança revela a matriz ideológica de quem espera algo dado do mundo."
Delícia de bate papo!
revistacinetica .com.br/home/conversa-com-gabriel-mascaro-e-marcelo-pedroso/
Onde os Fracos Não Têm Vez
4.1 2,4K Assista AgoraNunca achei que um filme de faroeste, cru e lento fosse me agradar tanto, 4 anos após assisti-lo pela primeira vez. Triste e contemporâneo. Vou investir mais tempo descobrindo os irmãos Coen.
Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista Agora"É tudo diferente isso aqui. É o preto no branco, o branco no preto... Diferente, que nem tu."
Val me lembra mulheres da minha família e domésticas que passaram pelo meu lar, com tantas expressões tipicamente nordestinas e um cuidado de avó, que me senti em casa assistindo à personagem. Não ha resquícios da apresentadora carioca aqui. Amei Camila também! E falar de Anna Muylaert é chover no molhado.
Um Cadáver para Sobreviver
3.5 936 Assista AgoraAssistir outras vezes só faz o filme crescer mais e mais. Absurdamente brilhante.
Mate-me Por Favor
3.0 231 Assista Agora"Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja."
Augusto dos Anjos
Mãe Só Há Uma
3.5 407 Assista AgoraFui completamente fisgado pela narrativa. O filme poderia focar a trajetória de Pierre
tentando voltar à companhia da mãe e da irmã a todo custo, mas Muylaert prefere um caminho alternativo, mais difícil. A insistência em filmar a adaptação do protagonista fluido, rebelde e do subúrbio, ao novo lar tradicional, quadrado e de classe média alta, nos confronta com o fato de que ambos os mundos podem, sim, confluir. Apesar de todo o peso da situação que envolve o título, do sufocamento e da angústia vividos por um garoto roubado duas vezes, nenhum personagem é demonizado, a ponto de conseguimos sentir algum tipo de empatia pela nova família. Pela outra mãe cujo pavor é perder o filho novamente, e pisa em ovos ao lidar com ele, pelo pai preconceituoso que enfrenta (com extrema dificuldade) o egoísmo pra tentar entender o filho, e também pelo caçula iniciante nos problemas da adolescência que anseia por um irmão mais velho. Nada aqui é preto no branco e te faz refletir por diversos ângulos. Pierre é tão fascinante, visceral e cheio de camadas que é praticamente impossível não desejar ver mais dele e de suas aventuras em tela. Acho que esse foi o ponto que deixou a desejar. No mais, um belo filme da Anna com um elenco bastante afiado. Ansioso pelos próximos trabalhos do Naomi Nero.
Confissões
4.2 854Uma crônica que retrata a linha tênue entre amor, medo, ódio e morte, conduzida com uma violência lúdica (física e emocional) que nos faz confundir o que estamos sentindo pelo próprio filme. Afora os momentos muito explicativos, o exagero visual é estratégia da narrativa. Sem dúvidas, um trabalho que reverbera após os créditos. Vou me lembrar dele.
Mate-me Por Favor
3.0 231 Assista Agora"Eu dormi mal essa noite, tive um sonho muito louco. A gente tava numa festa no play da Amanda. Tava todo muito dançando muito, luzes coloridas, fumaça. Numa hora, eu comecei a andar, andar... Quando vi, entrei no banheiro do segundo andar. Não tinha mais ninguém, tava escuro. Escutei uns passos, me virei e ele tava ali, bem na minha frente. Forte, alto, moreno, devia ter uns 20 anos. A gente começou a se agarrar, se beijar. Me empurrava na parede, me jogou na bancada da pia... Uma parada bem intensa, sabe? Mas aí chegou uma hora que ele não aguentou e rasgou minha calcinha. Enfiou lá dentro com toda a força. Eu tentei berrar, mas você sabe como é que é. Ele tapou minha boca com a mão. Ficou lá, o maior tempão dentro de mim.
- E aí?
- E aí, ele gozou né? Foi rápido. Se limpou e foi embora. Eu fiquei lá, jogada no chão do banheiro, até que olhei pra baixo e percebi que estava sangrando muito, sem parar. E aí, foi isso. Eu morri."
Lugares Escuros
3.1 410 Assista AgoraAdaptação dispensável. Não dá nem vontade de ler o livro, mesmo sabendo que Gillian Flynn escreve muito boas histórias. Um filme com roteiro tosquíssimo e grandes atores em papéis que não emplacam. As únicas coisas boas são Chlöe Moretz e a última cena.
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraO trailer conta demais... Porém, aparenta ser bom(!) e diferente.
Boi Neon
3.6 461Mascaro, Cazarré, Alyne Santana e Carlos Pessoa fazendo-me sentir em casa. Filme belo.