ao ‘ódio racial’ enrustido do pai, exacerbado quando o velho precisou conviver com a política de cotas no trampo, rs.
Depois de 1 hora e meia acompanhando uma das trajetórias narrativas mais corajosas que já vi sobre o tema (reforçada pela atuação monstruosa do Edward Norton), os caras entregam essa conclusão simplista (que parece ter saído diretamente da cabeça oca de algum dos folclóricos sociólogos brasileiros de internet) e culminam a cagada com aquele final imputando ao conjunto da obra um discurso digno de Ursinhos Carinhosos. Frustrante.
Seria muito mais honroso simplesmente terminar com o Vinyard saindo da prisão convicto a desbaratinar o movimento pra impedir que seu irmão entrasse na mesma roubada, e pronto. Poxa, ele já não se ferrou o suficiente? O sujeito teve o orgulho completamente aniquilado quando sacou que a única recompensa por sua militância racista foram os pontos que levou no rabo. Isso não bastou pra deixar claro a todos que ter um comportamento parecido não compensa? Precisavam mesmo apelar pro melodrama arranjando a morte do guri?
Se algo me serve de consolo, é que agora já tenho uma resposta preparada pra quando me perguntarem quais foram ‘os últimos 15 minutos de filme mais broxantes na história do cinema’.
Lars von Trier estuprou a inteligência dos espectadores, e a maioria parece que consentiu ou nem percebeu; pelo menos é o que os arroubos (“lindo!”, “poético!” & “libertador!”) da geral sugerem, fora a interpretação vomitável de ‘emancipação feminina’ que estão imbuindo à demência da protagonista.
Resumo da ópera: gente com pulsões sexuais destrutivas são coitadinhos reprimidos pela sociedade judaico-cristã ocidental malvadona e merecem ganhar uma medalha de honra ao mérito por isso, ao invés de continuarem sendo mantidos sob tratamento psiquiátrico intensivo (preferencialmente, vestindo uma camisa de força) pra impedir que causem enormes estragos na vida dos outros e promovam a perpetuação de suas condutas insanas. Como o diretor utiliza um personagem feminino pra expor essa ideia nefasta – lhe faltou colhões pra também incluir o pedófilo como um ‘herói’ na trama –, o ‘cinéfilo’, humanitário defensor dos fracos e oprimidos que é, se emociona todo. E a nova cutucada antissemita que o Seligman representa? O que foi aquilo? Só faltou aparecer um maluco berrando no final: “Háááá!!! Pegadinha do Mallandro!!!”.
Não entendo essa insistência do Lars von Trier em ficar se fazendo de "o enfant terrible do cinema", até porque já está com quase 60 anos nas costas, mas enquanto ele manter essa postura, continuarei dando uma de Gep Gambardella (de ‘A Grande Beleza’) quando precisou lidar com a falácia de uma ‘artista’ desse naipe: “não gaste suas energias, há coisas mais importantes do que me provocar”. Minha inteligência não merece ser estuprada.
a melhor cena de beijo que eu já vi tá nesse filme. rs
no fim das contas acabei perdoando os caras do REC por terem cometido essa bobageira, já que, pensando bem, a coisa foi divertida. o Sam Raimi fez algo parecido com Evil Dead (inclusive, há algumas referências aqui) e não vejo tanta gente de mimimi por causa disso. se for pra alguém avacalhar com uma ideia, que seja quem a teve; mas talvez declarar essa 'outra proposta' como subproduto da franquia fosse a escolha mais acertada, porque fica mesmo difícil de engolir uma sequência podreira quando seus dois predecessores se levavam a sério dentro do gênero.
a megalomania humana sucumbindo esmagada diante da imensidão da natureza. Werner Herzog e Klaus Kinski, inspiradíssimos. das mais impactantes experiências cinematográficas que já tive, tratando de um dos meus temas favoritos: a prepotência inabalável da ‘força civilizatória’ sendo confrontada por sua própria insignificância.
obrigado, Martin Scorsese; agora sempre que me perguntarem o motivo pra eu não gostar de sair de casa, dispensarei explicações e indicarei 'After Hours', porque é mais ou menos isso aí o que acontece quando ponho os pés na rua.
um dos filmes mais belos e sensíveis que assisti. apresenta uma filosofia de existência contemplativa – saborear as pequenas coisas, se ater aos detalhes, emergir nas texturas – que me tocou a alma como poucas vezes o cinema já conseguiu fazer. sobeja sutileza focando a atenção na vida privada de uma família vietnamita, apresentando um ponto de vista bem diferente do país, contrastando ao costumeiro retrato cheio de estardalhaço das abordagens beligerantes. a guerra está ali, interferindo diretamente no cotidiano doméstico das pessoas e agravando seus problemas paralelos, mas no mundo particular da menina/moça Mùi – QUE É UMA GRAÇA, diga-se de passagem – não passa de um fator externo, pois há coisas muito mais belas e interessantes em que se concentrar. as referências à cinderela são tão bem trabalhadas que passam quase imperceptíveis, e no fim acabei ficando com a forte impressão de que uns franceses aí andaram se inspirando na protagonista, quer dizer, O CHEIRO DO PAPAIA VERDE entrou na minha categoria pessoal de ‘separadores do joio e do trigo’, no seu caso específico, eu diria que todos os embriagados pela essência de Amélie Poulain deveriam ‘aplica-lo’ em si mesmos pra tirar a prova real e descobrir se realmente assimilaram o espírito da personagem que tanto cultuam, porque sua verdade está impregnada em estado de pureza bruta no conceito dessa obra, completamente livre dos conflitos de uma ‘trama’ desenvolvida pra atingir um final apoteótico, e portanto sem muita margem pra banalização. é, estou encantado (e isso não ocorre com muita frequência).
a princípio me pareceu um filme intencionalmente ‘errado’, feito pra causar polêmica gratuita, defendendo o ‘método corretivo’, tão execrado pela maré ideológica que está em voga atualmente – até já ia apelidando mentalmente de ‘precisamos dar uma camaçada de pau no Kevin’ –, mas, pensando melhor... não, não é isso.
bem, passei uns anos aí (me angustiando) num curso de licenciatura, e o que mais me irritou na parte pedagógica da coisa, foi a empáfia da maioria dos teóricos disseminando o mesmo paradigma: a educação DEVE apresentar uma resposta, uma solução pra TUDO. Kevin é a canalização de todos os meus questionamentos a respeito dessa ‘verdade’. não discordo que a conduta do personagem título seja exacerbada. duvido que exista essa personalidade insulada por completo num comportamento ‘transgressor’; a crueldade está arraigada na natureza humana, mas a afetividade também, e QUASE sempre, são extremadas pelos estímulos que o individuo recebe durante a fase em que se reconhece como tal e blábláblá – o papel da educação, e aqui estou falando desde aquela que ‘vem de berço’, seria ‘adequar’ esses instintos primitivos ao que é moralmente aceito em nosso modo de organização social (o que a coloca na condição de um instrumento de controle, mas isso já é outro assunto) –, porém, diferente dos entusiastas da ‘soberania civilizatória’, eu admito o fator CAOS, evocado na frase proferida por Kevin: “não há propósito algum. esse é o propósito”. há exceções à regra. um ser humano de todo mau é algo improvável, mas acho bem plausível que em atitudes e circunstâncias específicas, esses tais instintos primitivos (pra evitar a expressão ‘tendências naturais’) suplantem qualquer noção adquirida de ‘certo’ e ‘errado’. é nesse ponto que nossa estrutura social imperfeita encontra seu limite, pois não pode oferecer outro recurso pra ‘domesticação’ completa do homem que não seja punição. a brutalidade de Kevin só é contida com uma retribuição à altura, ou seja: apesar de nos sentirmos o suprassumo quanto espécie por todo o ‘progresso’ que atingimos, ainda dependemos da violência como recurso na manutenção da ordem. nós estamos falando sobre o Kevin, mas acho que a coisa toda é mais sobre a estranheza que a mãe e o mundo sentem diante do inexplicável que desafia a razão estabelecida.
fotografia em preto e branco é uma opção que dificilmente dá errado; aí somando INCONTÁVEIS enquadramentos incríveis e uma edição que me permita digerir com tranquilidade cada um deles, fica difícil eu não colocar a coisa no patamar da excelência. sério, esse filme foi uma verdadeira aula de como aproveitar bem os elementos em cena, e reforçou minha ideia de que a ‘febre do ritmo acelerado’, que acomete a maioria das produções atuais vocacionadas ao gênero de ação, está ali apenas pra fazer passar despercebida a decadência no esmero artístico dos realizadores. John Frankenheimer era até agora um diretor pouco representativo pra mim, mas depois dessa, não mais. o Labiche de Burt Lancaster foi a personificação do herói solitário e obstinado muito antes da era em que os Stallones e Schwarzeneggers arrebentariam o que lhes cruzasse o caminho, e Jeanne Moreau convence como a mulher que já perdeu tudo mas segue sobrevivendo enquanto a guerra não acaba. o diálogo final, pós-climático e questionador – “a beleza pertence ao homem que sabe apreciá-la” (...) “neste momento você não saberia dizer por que fez o que fez” – e o peso da dúvida posto numa balança através de imagens que se sobrepõem escancarando a contradição – ao que se deve outorgar maior valor: arte ou vida? – garantem o desfecho que derruba qualquer resistência; quem assistir ‘THE TRAIN’ vai reconhecer um desses filmes meio esquecidos que já se deveria ter descoberto antes.
tão 'artificial' quanto frutas de plástico decorando a mesa. o visual até engana, mas aí quando tu vai procurar conteúdo... bem, pelo menos serviu pra sacramentar minha certeza de que não perco nada me esquivando dessas 'raves' - se Aldous Huxley estivesse vivo pra ver o peiote sendo tratado com tanta leviandade por esse povo, certamente repensaria muitas de suas considerações em ‘As Portas da Percepção’.
a tal prostituta até aparece, e há uma cota razoável de ‘aberrações’, só que mesmo assim esse título consegue sobrepujar o sensacionalismo do conteúdo inteiro, e olha que não tem pouco. faltou algo à primeira parte pra fazer o resultado final se igualar aos melhores filmes (ou menos ruins) do Francisco Cavalcanti, mas assim que o mistério inicial se revela, a coisa assume um ritmo ‘eletrizante’ progressivo tão envolvente que preciso admitir: apesar de tudo permanecer tecnicamente tão grotesco quanto sempre, o diretor se superou nas cenas de ação, que culminam num desfecho western temperado com a apelação gratuita habitual de sua obra.
acho que esse foi um dos filmes mais relevantes e acertados dos últimos anos entre os que pretenderam trazer um debate a público: incomoda como deve, mas em nenhum momento levanta a bandeira e sai distribuindo o tradicional 'tapa na cara da sociedade'. rejeitando as soluções simplistas, mais do que reivindicar qualquer coisa, a história de Alex - inapelável mesmo ao maior dos conservadores - foi contada pra declarar que a natureza pode ter ambiguidades além do que nossas concepções morais pressupõem. abordagem corretíssima pra um assunto que geralmente é convite ao intercâmbio de afrontas. gostei bastante também das particularidades do personagem do Ricardo Darín; Kraken é um cara que não esconde seu repúdio às convenções sociais, um tipo que sempre terá o meu respeito.
tirando o personagem do Carlos Imperial, que poderia ter justificado seu momento relevante na trama com uma única aparição anterior, a legitimidade desse filme em se propor a discutir a condição da mulher dentro do contexto familiar é inquestionável. senti um baque no momento que o roteiro dá sua reviravolta, e só lembro ter me ocorrido outro semelhante no desfecho de 'Ladrões de Bicicleta'.
Tom Green, notabilizado como o pior humorista dos Estados Unidos, tentando seu próprio 'Plano 9 do Espaço Sideral'. deviam avisar pra ele que esse tipo de humor só tem graça quando é involuntário.
o sítio que serviu de locação tem ares de jardim das histórias de fantasia, parece até estar murmurando algo, mas se o filme tem alguma força, ficou só no cenário mesmo. no demais, desde que a trupe de bichos-grilos chega ali com suas motos, o clima é de TÉDIO PROFUNDO: silêncios abissais, cenas repetitivas e intermináveis, gurias saltitando pra lá e pra cá no meio das árvores numa mistura de ‘ninfa do bosque encantado’ com ‘pomba gira das encruzilhadas’; enquanto um dos malucos só abre a boca pra declamar frases típicas da genialidade fora de contexto, o outro está louco pra agarrar a mulher do capataz; já a criada novinha é advertida umas três vezes a voltar pro seu cotidiano doméstico porque esse negócio de homens e mulheres zanzando por aí em trajes sumários não a pertence – “Isabela, fecha os olhos, sai da janela”. tudo isso pra criar um clima de ‘estamos esperando que as forças da natureza decidam quem vai comer quem’. claro que a tal virgem do título está boiando no meio disso tudo e nem sonha que planejam traçar seu destino (sem o perdão do trocadilho) no palitinho, com o consentimento meio contrariado do cara que chegou como seu par. antes do ‘vamos ver’ com pretensões poéticas, ainda há tempo pra uma cena constrangedora de luta entre Nuno Leal Maia e Kadu Moliterno que merece essa menção desonrosa.
no fim das contas, a gente fica convencido de que o único desfecho capaz de satisfazer quem suportou assistir a sessão inteira seria ver TODOS aqueles malas levando tiro e sangrando até a morte, tamanha a chateação que causam. se isso aí era a ‘juventude brasileira descolada’ dos anos 1960/70, tá competindo seriamente em xaropice com a atual. enfim, decepcionante.
tem baixos e altos, respectivamente: a primeira parte se perde numa sequência de cenas onde as tradicionais e quase sempre despropositadas demonstrações do erotismo cafajeste da boca de lixo são intercaladas por fiapos melodramáticos; a coisa segue nesse ritmo até Helena Ramos surgir mostrando a que veio*, aí o filme cresce MUITO - o roteiro flui, os demais personagens ganham força e as cenas de sexo passam a fazer sentido dentro da trama. por fim, seguindo a linha da exploração de temas polêmicos, uma das constantes do período, o conflito existencial da esposa paralítica assegura um desfecho que promove o 'pano pra manga' fundamental à conversa de mesa de bar após o final da sessão.
*a enfermeira pragmática e sem ilusões com a vida já virou um dos meus personagens femininos favoritos no cinema nacional.
não estou afirmando que o filme tem alguma inspiração na obra de Edgar Allan Poe, mas o clima, as situações e principalmente o perturbado protagonista me evocaram os contos mais soturnos do escritor, onde seus personagens vão sendo progressivamente vitimados pela degradação psicológica.
não sei onde Francisco Cavalcanti (o Charles Bronson da Boca do Lixo) exagerava mais: se era na apelação gratuita, no sensacionalismo ou na ingenuidade. esse 'Horas Fatais - Cabeça Trocadas' (QUE DIABO DE SUBTÍTULO É ESSE?!?!) é mais uma pérola esquecida do extremo mau gosto que pra mim ganhou status de cult. tem de tudo um pouco: a boa e velha vendeta, sangueira, explosões, barangas horrorosas, Zé do Caixão delegado, o pior ator mirim da história, um 'franco-atirador' caolho chamado Robledo e diálogos impagáveis. o fino do humor involuntário. o que mais alguém pode querer da vida?
eu não assistirei especificamente por causa de nenhum ator. nem porque é do Walter Salles. É ON THE ROAD, É JACK KEROUAC, meu! não vai ser uma Kirsten Stewart que conseguirá estragar. PAREM DE FICAR AQUI AGOURANDO E VÃO LER/RELER O LIVRO.
2001 é uma experiência sensorial. ponto. é GENIAL (assim mesmo, BERRANDO. e olha que não gosto da banalização desse termo, nem mesmo em minúsculas). só vai te dar um nó nas ideias se for assistido atrelado à lógica limítrofe que 'filtra' nossas noções de realidade. tem que esquecer as sequências narrativas, o roteiro não foi escrito com a intenção de 'contar uma história', a proposta é ir além da superficialidade das palavras e mergulhar no subconsciente do espectador. é ver pra se libertar - "se pudéssemos limpar as portas da percepção, tudo se revelaria ao homem tal qual é: infinito" (Blake, William). se trata disso. o TUDO, o ETERNO, o fluxo da ONISCIÊNCIA. uma visão transcendente. eu tenho minhas teorias, existem muitas outras; o filme é todas elas.
é uma espécie de extensão da Malhação com o acréscimo de uns palavrõezinhos + os peitos da Rosanne Mulholland. sei que vou ofender alguns, mas: tem que ser muito papa mingau pra se impressionar com isso. eu tentei, EU TENTEI relevar e esquecer o fato de que foi um estágio do Chorão como roteirista (roteiro, onde?), mas não deu. a megalomania, a falta de auto-crítica, os trejeitos, as gírias abobadas, as músicas sempre iguais e aquela mentalidade eterno-pueril estão por toda a parte; afinal porcaria concentrada não se desvincula. se tivesse ao menos assumido suas ENORMES limitações e abraçado o pastiche à la ‘cinderela baiana’ – aí pelo menos faria rir –, mas nem isso. o diretor novato quis mostrar serviço e optou por abrir a caixa de ferramentas e empunhar todos os seus recursos de uma vez só, utilizando cada um na hora e da maneira errada, uma verdadeira aula de como não fazer cinema; taí uma utilidade pra esse filme, além de servir pra comprovar que Milhem Cortaz definitivamente bate cartão em TODAS as produções nacionais, e Maria Luísa Mendonça como mãe de amigo meu, seria uma amiga e tanto. ‘alívio cômico’, os dois mais tolinhos entre os puxa-sacos do protagonista não são engraçados, são apenas babacas. Marcelo Nova como a consciência do Magnata foi a pior e mais mal explorada ideia da tentativa de roteiro, é de dar pena do quão descartáveis são suas aparições, um cara com o histórico dele deveria ter ido se enterrar sem essa. a trilha é irritante, não importa em que lugar os personagens vão, de São Paulo a Santos, de uma festinha de aniversário pra guria a um bordel de luxo (desde quando gente com grana frequenta zonas gerenciadas por caras iguais ao Tiririca?!), O MUNDO INTEIRO escuta Charlie Brown e seus genéricos. enfim, vou parar de falar, porque nunca na história desse país uma captação de recursos da lei de incentivo à cultura foi tão bem sucedida em comprovar a máxima do Barão de Itararé: “de onde menos se espera, daí é que não sai nada”.
obs: já sei, estou correndo risco de terminar com um olho roxo, no mais puro estilo ‘Marcelo Camelo’.
Vá lá, não é tão diferente assim dos outros nacionais. O tema, o clima e os lugares são os mesmos de sempre, a surpresa é a ausência daquele discurso moralizador "vamos-salvar-o-mundo/tapa-na-cara-da-sociedade” pra filhinho de papai metido a engajado aplaudir, que é uma marca registrada do cinema brasileiro quando o negócio é dissecar as misérias humanas. Me identifiquei MUITO com as referências e as bases filosóficas do roteiro, mesmo que tenham sido lançadas de maneira apenas superficial, mas enfim, a ideia aqui é contar uma história, não doutrinar mentes. Ponto positivo. O desenvolvimento individual dos personagens, a construção do vínculo entre o trio principal, a coisa toda funciona muito bem e de maneira natural. Poucas vezes vi uma música absolutamente improvável como a dos Saltimbancos se encaixar tão bem em uma cena igual aquela em que os protagonistas estão comemorando no carro após o primeiro golpe bem sucedido; me evocou muitas boas recordações e causou um daqueles raros momentos em que realmente me sinto transportado pra dentro da trama. A atuação do Cauã Reymond não tem nada demais, só que acaba sendo maximizada diante da mediocridade que se costumava ver nas suas constantes presenças em novelas. Caroline Abras sim, eleva e muito o filme nas cenas que participa; quero ver mais trabalhos dessa moça. Destaque também para o onipresente Milhem Cortaz – se não olhar nos créditos, nem dá pra saber qual personagem ele fez, apesar da participação de destaque. Minhas ressalvas ficam por conta da câmera por vezes colada na cara dos atores, um recurso quase sempre irritante, e só serviu pra me embaralhar a vista. Também não gostei da escuridão confusa no clímax, provavelmente o diretor buscou passar uma visão aproximada da que os personagens tinham na situação, mas não acho que foi a melhor escolha. No geral é um bom filme que mereceu ser visto e que talvez em uma outra oportunidade eu volte a assistir pra tentar apreciar melhor.
A Outra História Americana
4.4 2,2K Assista AgoraE no fim das contas, toda a ideologia neonazista do Vinyard nasceu graças
ao ‘ódio racial’ enrustido do pai, exacerbado quando o velho precisou conviver com a política de cotas no trampo, rs.
Depois de 1 hora e meia acompanhando uma das trajetórias narrativas mais corajosas que já vi sobre o tema (reforçada pela atuação monstruosa do Edward Norton), os caras entregam essa conclusão simplista (que parece ter saído diretamente da cabeça oca de algum dos folclóricos sociólogos brasileiros de internet) e culminam a cagada com aquele final imputando ao conjunto da obra um discurso digno de Ursinhos Carinhosos. Frustrante.
Seria muito mais honroso simplesmente terminar com o Vinyard saindo da prisão convicto a desbaratinar o movimento pra impedir que seu irmão entrasse na mesma roubada, e pronto. Poxa, ele já não se ferrou o suficiente? O sujeito teve o orgulho completamente aniquilado quando sacou que a única recompensa por sua militância racista foram os pontos que levou no rabo. Isso não bastou pra deixar claro a todos que ter um comportamento parecido não compensa? Precisavam mesmo apelar pro melodrama arranjando a morte do guri?
Se algo me serve de consolo, é que agora já tenho uma resposta preparada pra quando me perguntarem quais foram ‘os últimos 15 minutos de filme mais broxantes na história do cinema’.
Ninfomaníaca: Volume 2
3.6 1,6K Assista AgoraLars von Trier estuprou a inteligência dos espectadores, e a maioria parece que consentiu ou nem percebeu; pelo menos é o que os arroubos (“lindo!”, “poético!” & “libertador!”) da geral sugerem, fora a interpretação vomitável de ‘emancipação feminina’ que estão imbuindo à demência da protagonista.
Resumo da ópera: gente com pulsões sexuais destrutivas são coitadinhos reprimidos pela sociedade judaico-cristã ocidental malvadona e merecem ganhar uma medalha de honra ao mérito por isso, ao invés de continuarem sendo mantidos sob tratamento psiquiátrico intensivo (preferencialmente, vestindo uma camisa de força) pra impedir que causem enormes estragos na vida dos outros e promovam a perpetuação de suas condutas insanas. Como o diretor utiliza um personagem feminino pra expor essa ideia nefasta – lhe faltou colhões pra também incluir o pedófilo como um ‘herói’ na trama –, o ‘cinéfilo’, humanitário defensor dos fracos e oprimidos que é, se emociona todo. E a nova cutucada antissemita que o Seligman representa? O que foi aquilo? Só faltou aparecer um maluco berrando no final: “Háááá!!! Pegadinha do Mallandro!!!”.
Não entendo essa insistência do Lars von Trier em ficar se fazendo de "o enfant terrible do cinema", até porque já está com quase 60 anos nas costas, mas enquanto ele manter essa postura, continuarei dando uma de Gep Gambardella (de ‘A Grande Beleza’) quando precisou lidar com a falácia de uma ‘artista’ desse naipe: “não gaste suas energias, há coisas mais importantes do que me provocar”. Minha inteligência não merece ser estuprada.
Ninfomaníaca: Volume 1
3.7 2,7K Assista AgoraIncluiu 'Ninfomaníaca' entre os filmes favoritos, já sei que não vai ser a mãe dos meus filhos.
Os Selvagens da Noite
4.0 597 Assista Agoracadê as piadas com o lance dos 'rolezinhos'? vocês já foram mais oportunistas.
[REC]³ Gênesis
2.2 1,5K Assista Agoraa melhor cena de beijo que eu já vi tá nesse filme. rs
no fim das contas acabei perdoando os caras do REC por terem cometido essa bobageira, já que, pensando bem, a coisa foi divertida. o Sam Raimi fez algo parecido com Evil Dead (inclusive, há algumas referências aqui) e não vejo tanta gente de mimimi por causa disso. se for pra alguém avacalhar com uma ideia, que seja quem a teve; mas talvez declarar essa 'outra proposta' como subproduto da franquia fosse a escolha mais acertada, porque fica mesmo difícil de engolir uma sequência podreira quando seus dois predecessores se levavam a sério dentro do gênero.
Aguirre, a Cólera dos Deuses
4.1 159a megalomania humana sucumbindo esmagada diante da imensidão da natureza. Werner Herzog e Klaus Kinski, inspiradíssimos. das mais impactantes experiências cinematográficas que já tive, tratando de um dos meus temas favoritos: a prepotência inabalável da ‘força civilizatória’ sendo confrontada por sua própria insignificância.
Depois de Horas
4.0 452 Assista Agoraobrigado, Martin Scorsese; agora sempre que me perguntarem o motivo pra eu não gostar de sair de casa, dispensarei explicações e indicarei 'After Hours', porque é mais ou menos isso aí o que acontece quando ponho os pés na rua.
O Cheiro do Papaia Verde
3.8 53 Assista Agoraum dos filmes mais belos e sensíveis que assisti. apresenta uma filosofia de existência contemplativa – saborear as pequenas coisas, se ater aos detalhes, emergir nas texturas – que me tocou a alma como poucas vezes o cinema já conseguiu fazer. sobeja sutileza focando a atenção na vida privada de uma família vietnamita, apresentando um ponto de vista bem diferente do país, contrastando ao costumeiro retrato cheio de estardalhaço das abordagens beligerantes. a guerra está ali, interferindo diretamente no cotidiano doméstico das pessoas e agravando seus problemas paralelos, mas no mundo particular da menina/moça Mùi – QUE É UMA GRAÇA, diga-se de passagem – não passa de um fator externo, pois há coisas muito mais belas e interessantes em que se concentrar. as referências à cinderela são tão bem trabalhadas que passam quase imperceptíveis, e no fim acabei ficando com a forte impressão de que uns franceses aí andaram se inspirando na protagonista, quer dizer, O CHEIRO DO PAPAIA VERDE entrou na minha categoria pessoal de ‘separadores do joio e do trigo’, no seu caso específico, eu diria que todos os embriagados pela essência de Amélie Poulain deveriam ‘aplica-lo’ em si mesmos pra tirar a prova real e descobrir se realmente assimilaram o espírito da personagem que tanto cultuam, porque sua verdade está impregnada em estado de pureza bruta no conceito dessa obra, completamente livre dos conflitos de uma ‘trama’ desenvolvida pra atingir um final apoteótico, e portanto sem muita margem pra banalização. é, estou encantado (e isso não ocorre com muita frequência).
Precisamos Falar Sobre o Kevin
4.1 4,2K Assista Agoraa princípio me pareceu um filme intencionalmente ‘errado’, feito pra causar polêmica gratuita, defendendo o ‘método corretivo’, tão execrado pela maré ideológica que está em voga atualmente – até já ia apelidando mentalmente de ‘precisamos dar uma camaçada de pau no Kevin’ –, mas, pensando melhor... não, não é isso.
bem, passei uns anos aí (me angustiando) num curso de licenciatura, e o que mais me irritou na parte pedagógica da coisa, foi a empáfia da maioria dos teóricos disseminando o mesmo paradigma: a educação DEVE apresentar uma resposta, uma solução pra TUDO. Kevin é a canalização de todos os meus questionamentos a respeito dessa ‘verdade’. não discordo que a conduta do personagem título seja exacerbada. duvido que exista essa personalidade insulada por completo num comportamento ‘transgressor’; a crueldade está arraigada na natureza humana, mas a afetividade também, e QUASE sempre, são extremadas pelos estímulos que o individuo recebe durante a fase em que se reconhece como tal e blábláblá – o papel da educação, e aqui estou falando desde aquela que ‘vem de berço’, seria ‘adequar’ esses instintos primitivos ao que é moralmente aceito em nosso modo de organização social (o que a coloca na condição de um instrumento de controle, mas isso já é outro assunto) –, porém, diferente dos entusiastas da ‘soberania civilizatória’, eu admito o fator CAOS, evocado na frase proferida por Kevin: “não há propósito algum. esse é o propósito”. há exceções à regra. um ser humano de todo mau é algo improvável, mas acho bem plausível que em atitudes e circunstâncias específicas, esses tais instintos primitivos (pra evitar a expressão ‘tendências naturais’) suplantem qualquer noção adquirida de ‘certo’ e ‘errado’. é nesse ponto que nossa estrutura social imperfeita encontra seu limite, pois não pode oferecer outro recurso pra ‘domesticação’ completa do homem que não seja punição. a brutalidade de Kevin só é contida com uma retribuição à altura, ou seja: apesar de nos sentirmos o suprassumo quanto espécie por todo o ‘progresso’ que atingimos, ainda dependemos da violência como recurso na manutenção da ordem. nós estamos falando sobre o Kevin, mas acho que a coisa toda é mais sobre a estranheza que a mãe e o mundo sentem diante do inexplicável que desafia a razão estabelecida.
O Trem
4.1 36 Assista Agorafotografia em preto e branco é uma opção que dificilmente dá errado; aí somando INCONTÁVEIS enquadramentos incríveis e uma edição que me permita digerir com tranquilidade cada um deles, fica difícil eu não colocar a coisa no patamar da excelência. sério, esse filme foi uma verdadeira aula de como aproveitar bem os elementos em cena, e reforçou minha ideia de que a ‘febre do ritmo acelerado’, que acomete a maioria das produções atuais vocacionadas ao gênero de ação, está ali apenas pra fazer passar despercebida a decadência no esmero artístico dos realizadores. John Frankenheimer era até agora um diretor pouco representativo pra mim, mas depois dessa, não mais. o Labiche de Burt Lancaster foi a personificação do herói solitário e obstinado muito antes da era em que os Stallones e Schwarzeneggers arrebentariam o que lhes cruzasse o caminho, e Jeanne Moreau convence como a mulher que já perdeu tudo mas segue sobrevivendo enquanto a guerra não acaba. o diálogo final, pós-climático e questionador – “a beleza pertence ao homem que sabe apreciá-la” (...) “neste momento você não saberia dizer por que fez o que fez” – e o peso da dúvida posto numa balança através de imagens que se sobrepõem escancarando a contradição – ao que se deve outorgar maior valor: arte ou vida? – garantem o desfecho que derruba qualquer resistência; quem assistir ‘THE TRAIN’ vai reconhecer um desses filmes meio esquecidos que já se deveria ter descoberto antes.
Paraísos Artificiais
3.2 1,8K Assista Agoratão 'artificial' quanto frutas de plástico decorando a mesa. o visual até engana, mas aí quando tu vai procurar conteúdo... bem, pelo menos serviu pra sacramentar minha certeza de que não perco nada me esquivando dessas 'raves' - se Aldous Huxley estivesse vivo pra ver o peiote sendo tratado com tanta leviandade por esse povo, certamente repensaria muitas de suas considerações em ‘As Portas da Percepção’.
Aberrações de Uma Prostituta
2.5 12a tal prostituta até aparece, e há uma cota razoável de ‘aberrações’, só que mesmo assim esse título consegue sobrepujar o sensacionalismo do conteúdo inteiro, e olha que não tem pouco. faltou algo à primeira parte pra fazer o resultado final se igualar aos melhores filmes (ou menos ruins) do Francisco Cavalcanti, mas assim que o mistério inicial se revela, a coisa assume um ritmo ‘eletrizante’ progressivo tão envolvente que preciso admitir: apesar de tudo permanecer tecnicamente tão grotesco quanto sempre, o diretor se superou nas cenas de ação, que culminam num desfecho western temperado com a apelação gratuita habitual de sua obra.
XXY
3.8 506 Assista Agoraacho que esse foi um dos filmes mais relevantes e acertados dos últimos anos entre os que pretenderam trazer um debate a público: incomoda como deve, mas em nenhum momento levanta a bandeira e sai distribuindo o tradicional 'tapa na cara da sociedade'. rejeitando as soluções simplistas, mais do que reivindicar qualquer coisa, a história de Alex - inapelável mesmo ao maior dos conservadores - foi contada pra declarar que a natureza pode ter ambiguidades além do que nossas concepções morais pressupõem. abordagem corretíssima pra um assunto que geralmente é convite ao intercâmbio de afrontas. gostei bastante também das particularidades do personagem do Ricardo Darín; Kraken é um cara que não esconde seu repúdio às convenções sociais, um tipo que sempre terá o meu respeito.
Amada amante
3.4 16tirando o personagem do Carlos Imperial, que poderia ter justificado seu momento relevante na trama com uma única aparição anterior, a legitimidade desse filme em se propor a discutir a condição da mulher dentro do contexto familiar é inquestionável. senti um baque no momento que o roteiro dá sua reviravolta, e só lembro ter me ocorrido outro semelhante no desfecho de 'Ladrões de Bicicleta'.
Os Aliens Estão Entre Nós
1.4 9Tom Green, notabilizado como o pior humorista dos Estados Unidos, tentando seu próprio 'Plano 9 do Espaço Sideral'. deviam avisar pra ele que esse tipo de humor só tem graça quando é involuntário.
A Virgem
1.7 10o sítio que serviu de locação tem ares de jardim das histórias de fantasia, parece até estar murmurando algo, mas se o filme tem alguma força, ficou só no cenário mesmo. no demais, desde que a trupe de bichos-grilos chega ali com suas motos, o clima é de TÉDIO PROFUNDO: silêncios abissais, cenas repetitivas e intermináveis, gurias saltitando pra lá e pra cá no meio das árvores numa mistura de ‘ninfa do bosque encantado’ com ‘pomba gira das encruzilhadas’; enquanto um dos malucos só abre a boca pra declamar frases típicas da genialidade fora de contexto, o outro está louco pra agarrar a mulher do capataz; já a criada novinha é advertida umas três vezes a voltar pro seu cotidiano doméstico porque esse negócio de homens e mulheres zanzando por aí em trajes sumários não a pertence – “Isabela, fecha os olhos, sai da janela”. tudo isso pra criar um clima de ‘estamos esperando que as forças da natureza decidam quem vai comer quem’. claro que a tal virgem do título está boiando no meio disso tudo e nem sonha que planejam traçar seu destino (sem o perdão do trocadilho) no palitinho, com o consentimento meio contrariado do cara que chegou como seu par. antes do ‘vamos ver’ com pretensões poéticas, ainda há tempo pra uma cena constrangedora de luta entre Nuno Leal Maia e Kadu Moliterno que merece essa menção desonrosa.
no fim das contas, a gente fica convencido de que o único desfecho capaz de satisfazer quem suportou assistir a sessão inteira seria ver TODOS aqueles malas levando tiro e sangrando até a morte, tamanha a chateação que causam. se isso aí era a ‘juventude brasileira descolada’ dos anos 1960/70, tá competindo seriamente em xaropice com a atual. enfim, decepcionante.
Corpo e Alma de Mulher
2.6 13tem baixos e altos, respectivamente: a primeira parte se perde numa sequência de cenas onde as tradicionais e quase sempre despropositadas demonstrações do erotismo cafajeste da boca de lixo são intercaladas por fiapos melodramáticos; a coisa segue nesse ritmo até Helena Ramos surgir mostrando a que veio*, aí o filme cresce MUITO - o roteiro flui, os demais personagens ganham força e as cenas de sexo passam a fazer sentido dentro da trama. por fim, seguindo a linha da exploração de temas polêmicos, uma das constantes do período, o conflito existencial da esposa paralítica assegura um desfecho que promove o 'pano pra manga' fundamental à conversa de mesa de bar após o final da sessão.
*a enfermeira pragmática e sem ilusões com a vida já virou um dos meus personagens femininos favoritos no cinema nacional.
O Alucinado
4.2 27não estou afirmando que o filme tem alguma inspiração na obra de Edgar Allan Poe, mas o clima, as situações e principalmente o perturbado protagonista me evocaram os contos mais soturnos do escritor, onde seus personagens vão sendo progressivamente vitimados pela degradação psicológica.
Horas Fatais - Cabeças Trocadas
2.8 15não sei onde Francisco Cavalcanti (o Charles Bronson da Boca do Lixo) exagerava mais: se era na apelação gratuita, no sensacionalismo ou na ingenuidade. esse 'Horas Fatais - Cabeça Trocadas' (QUE DIABO DE SUBTÍTULO É ESSE?!?!) é mais uma pérola esquecida do extremo mau gosto que pra mim ganhou status de cult. tem de tudo um pouco: a boa e velha vendeta, sangueira, explosões, barangas horrorosas, Zé do Caixão delegado, o pior ator mirim da história, um 'franco-atirador' caolho chamado Robledo e diálogos impagáveis. o fino do humor involuntário. o que mais alguém pode querer da vida?
Com o Pé na Estrada
2.7 76SÉRIO que a Avril Lavigne faz alguma diferença nesse filme (na música e na vida de vocês)?
Na Estrada
3.3 1,9Keu não assistirei especificamente por causa de nenhum ator. nem porque é do Walter Salles. É ON THE ROAD, É JACK KEROUAC, meu! não vai ser uma Kirsten Stewart que conseguirá estragar. PAREM DE FICAR AQUI AGOURANDO E VÃO LER/RELER O LIVRO.
2001: Uma Odisseia no Espaço
4.2 2,4K Assista Agora2001 é uma experiência sensorial. ponto. é GENIAL (assim mesmo, BERRANDO. e olha que não gosto da banalização desse termo, nem mesmo em minúsculas). só vai te dar um nó nas ideias se for assistido atrelado à lógica limítrofe que 'filtra' nossas noções de realidade. tem que esquecer as sequências narrativas, o roteiro não foi escrito com a intenção de 'contar uma história', a proposta é ir além da superficialidade das palavras e mergulhar no subconsciente do espectador. é ver pra se libertar - "se pudéssemos limpar as portas da percepção, tudo se revelaria ao homem tal qual é: infinito" (Blake, William). se trata disso. o TUDO, o ETERNO, o fluxo da ONISCIÊNCIA. uma visão transcendente. eu tenho minhas teorias, existem muitas outras; o filme é todas elas.
O Magnata
2.7 232é uma espécie de extensão da Malhação com o acréscimo de uns palavrõezinhos + os peitos da Rosanne Mulholland. sei que vou ofender alguns, mas: tem que ser muito papa mingau pra se impressionar com isso. eu tentei, EU TENTEI relevar e esquecer o fato de que foi um estágio do Chorão como roteirista (roteiro, onde?), mas não deu. a megalomania, a falta de auto-crítica, os trejeitos, as gírias abobadas, as músicas sempre iguais e aquela mentalidade eterno-pueril estão por toda a parte; afinal porcaria concentrada não se desvincula. se tivesse ao menos assumido suas ENORMES limitações e abraçado o pastiche à la ‘cinderela baiana’ – aí pelo menos faria rir –, mas nem isso. o diretor novato quis mostrar serviço e optou por abrir a caixa de ferramentas e empunhar todos os seus recursos de uma vez só, utilizando cada um na hora e da maneira errada, uma verdadeira aula de como não fazer cinema; taí uma utilidade pra esse filme, além de servir pra comprovar que Milhem Cortaz definitivamente bate cartão em TODAS as produções nacionais, e Maria Luísa Mendonça como mãe de amigo meu, seria uma amiga e tanto. ‘alívio cômico’, os dois mais tolinhos entre os puxa-sacos do protagonista não são engraçados, são apenas babacas. Marcelo Nova como a consciência do Magnata foi a pior e mais mal explorada ideia da tentativa de roteiro, é de dar pena do quão descartáveis são suas aparições, um cara com o histórico dele deveria ter ido se enterrar sem essa. a trilha é irritante, não importa em que lugar os personagens vão, de São Paulo a Santos, de uma festinha de aniversário pra guria a um bordel de luxo (desde quando gente com grana frequenta zonas gerenciadas por caras iguais ao Tiririca?!), O MUNDO INTEIRO escuta Charlie Brown e seus genéricos. enfim, vou parar de falar, porque nunca na história desse país uma captação de recursos da lei de incentivo à cultura foi tão bem sucedida em comprovar a máxima do Barão de Itararé: “de onde menos se espera, daí é que não sai nada”.
obs: já sei, estou correndo risco de terminar com um olho roxo, no mais puro estilo ‘Marcelo Camelo’.
Se Nada Mais Der Certo
3.6 114Vá lá, não é tão diferente assim dos outros nacionais. O tema, o clima e os lugares são os mesmos de sempre, a surpresa é a ausência daquele discurso moralizador "vamos-salvar-o-mundo/tapa-na-cara-da-sociedade” pra filhinho de papai metido a engajado aplaudir, que é uma marca registrada do cinema brasileiro quando o negócio é dissecar as misérias humanas. Me identifiquei MUITO com as referências e as bases filosóficas do roteiro, mesmo que tenham sido lançadas de maneira apenas superficial, mas enfim, a ideia aqui é contar uma história, não doutrinar mentes. Ponto positivo. O desenvolvimento individual dos personagens, a construção do vínculo entre o trio principal, a coisa toda funciona muito bem e de maneira natural. Poucas vezes vi uma música absolutamente improvável como a dos Saltimbancos se encaixar tão bem em uma cena igual aquela em que os protagonistas estão comemorando no carro após o primeiro golpe bem sucedido; me evocou muitas boas recordações e causou um daqueles raros momentos em que realmente me sinto transportado pra dentro da trama. A atuação do Cauã Reymond não tem nada demais, só que acaba sendo maximizada diante da mediocridade que se costumava ver nas suas constantes presenças em novelas. Caroline Abras sim, eleva e muito o filme nas cenas que participa; quero ver mais trabalhos dessa moça. Destaque também para o onipresente Milhem Cortaz – se não olhar nos créditos, nem dá pra saber qual personagem ele fez, apesar da participação de destaque. Minhas ressalvas ficam por conta da câmera por vezes colada na cara dos atores, um recurso quase sempre irritante, e só serviu pra me embaralhar a vista. Também não gostei da escuridão confusa no clímax, provavelmente o diretor buscou passar uma visão aproximada da que os personagens tinham na situação, mas não acho que foi a melhor escolha. No geral é um bom filme que mereceu ser visto e que talvez em uma outra oportunidade eu volte a assistir pra tentar apreciar melhor.