Goste-se ou não dos filmes de James Cameron, sua importância para o cinema é inegável. Há décadas, Cameron atua em uma cruzada pessoal para aprimorar a tecnologia não somente usada na produção de filmes, mas em toda a indústria de entretenimento. Foi assim com os efeitos especiais de O Exterminador do Futuro II, foi assim com as câmeras inventadas somente para captar imagens do Titanic, foi assim com o 3D de Avatar.
E é justamente o 3D que continua como prioridade tecnológica na vida do cineasta.
Não é segredo para ninguém que os filmes em 3D afastaram a sombra de uma crise que ameaçava Hollywood há anos. Faturando cada vez menos, os estúdios viram seus números darem um salto graças à nova tecnologia.
E o melhor de tudo é que nem foi preciso mudar radicalmente o tema, os atores ou os gêneros dos filmes (como aconteceu na outra grande crise que deu origem ao novo cinema americano dos anos 70). Não, os filmes eram os mesmos e a venda de ingressos também. Mas como o valor dos ingressos das sessões 3D são mais altos, fatura-se mais vendendo o mesmo para o mesmo número de pessoas. Quase mágica.
Mas, evidentemente, Hollywood matou sua galinha dos ovos de ouro em poucos anos, utilizando uma boa ideia à exaustão. Bastou Avatar definir os caminhos do 3D que começaram a pipocar filmes com a tecnologia nos cinemas – a maior parte deles, incluindo animações, que poderiam dar um show no assunto, sem qualquer cena que justificasse a escolha. Se pararmos para pensar, encontramos até mesmo exemplos catastróficos, como Fúria de Titãs, cuja conversão apressada para o 3D simplesmente arruinou o visual do filme - até hoje o diretor Louis Leterrier afirma publicamente que a decisão foi do estúdio e não dele.Com isso, o público passou a entender que o 3D, na maior parte das vezes, é apenas uma armadilha, algo usado somente para cobrar mais caro por um ingresso. Com isso, a febre do 3D começou a minguar e a venda destes ingressos caiu muito nos EUA – se pegarmos um Universidade Monstros, por exemplo, cerca de 30% dos tickets são para sessões com tecnologia tridimensional. No exterior, a busca pelo 3D se mantém - ainda - mas os estúdios não podem abrir mão da renda no mercado doméstico.
Cameron, contudo, continua acreditando no formato, como deixou claro numa entrevista à BBC. O diretor – que já afirmou ter como meta criar uma tecnologia tridimensional que dispense o uso de óculos. “Para mim, é absolutamente inevitável que o entretenimento será em 3D, pois é assim que enxergamos o mundo”, declarou, argumentando que, à exceção de A Origem, os últimos Oscar de Melhor Fotografia foram entregues para filmes 3D (Avatar, A Invenção de Hugo Cabret e As Aventuras de Pi).
Atualmente, Cameron prepara três novos filmes de Avatar, que serão lançados anualmente a partir de 2016. Sim, muita gente vai reclamar que “o roteiro é igual Pocahontas”, “o filme não é tudo isso” e “não vai justificar a bilheteria” – até mesmo o bom e velho “o primeiro era melhor” deve entrar em campo. Não importa. A indústria está esperando ansiosamente por estes filmes.
Pois Cameron revolucionou o cinema – não em termos de linguagem, mas no que diz respeito à indústria – mais de uma vez. E a quantidade de reboots e sequências com cara de produtos requentados mostram que a indústria precisa desesperadamente de uma nova revolução.