O novo trabalho do mestre Guillermo del Toro é um remake do filme noir de 1947 chamado "O Beco das Almas Perdidas", sendo baseado no romance homônimo de William Lindsay Gresham de 1946. O longa é dirigido e roteirizado pelo Del Toro (juntamente com a canadense Kim Morgan), contando com J. Miles Dale e Bradley Cooper na produção. Inicialmente Del Toro anunciou o seu novo projeto em dezembro de 2017, logo após o seu último longa-metragem, "A Forma da Água", porém as gravações teve algumas pausas devido à pandemia do Coronavírus.
É realmente incrível como este filme é a cara do Del Toro, como tem suas marcas, suas características autorais, sua visão de cinema, sua forma de conduzir a direção, quem conhece o diretor e acompanha os seus trabalhos (assim como eu, que sou fã) vai perceber imediatamente todo os seu propósitos e se localizar instantaneamente com o seu mais novo trabalho. Dessa vez Del Toro deixa um pouco de lado as suas fábulas e seus contos para nos imergir em um drama, um suspense, um Thriller, misturado com horror, pesadelo, mistério, sendo bem dosado com a ação, a complexidade, mas sem deixar de lado aquela boa dose de fantasia (sua marca registrada). Del Toro sempre nos impressionou em suas produções por nos confrontar com seus inúmeros monstros, mas aqui ele vai além, ele nos apresenta algo mais enigmático, mais grotesco, mais perturbante, que é a forma monstruosa do próprio ser humano, ou talvez a sua forma de evolução até chegar nessa posição. Sim, temos um Del Toro ainda mais inovador e surpreendente - magnífico!
"O Beco do Pesadelo" é dividido em duas partes, nas quais ambas se conversam e se amarram perfeitamente ao final. Temos a primeira parte do longa, onde somos confrontados com o dom da surpresa, do inesperado, onde começamos a nossa caminhada e suas descobertas junto com o Stanton Carlisle (Bradley Cooper). Nesse primeiro ato o longa funciona a todo vapor e nos prende gradativamente, pois estamos diante de um ambiente circense, onde somos confrontados com a mágica, o ilusionismo, onde tudo funciona e flui com muito dinamismo, nos apresentando uma parte do roteiro um tanto quanto extrovertida e leve (dado ao contexto do filme).
Já no segundo ato é a parte que o longa cai um pouco de ritmo, se torna mais cansativo, pois esta parte o filme já muda totalmente de tom, se tornando mais tenso, ficando mais pesado, mais complexo e mais intrigante. Pois nessa parte o roteiro brinca (no bom sentido) com o espectador ao nos confrontarmos entre o embate de ideias de Stanton Carlisle e a Doutora Lilith Ritter (Cate Blanchett), aquele jogo de gato e rato, recheado com diálogos ácidos, bem construídos e envolventes. Exatamente nesse ponto que o longa de Del Toro nos cansa um pouco, pois acredito que ele quis nos entregar uma parte bem detalhada, bem arquitetada, bem complexa, bem intrigante, porém ele se alongou demais, o que contribuiu diretamente pra queda de ritmo do filme, deixando esta parte um pouco monótona.
Tirando esse pequeno deslize (se é que podemos considerar assim), o longa de Del Toro é muito bem projetado, muito bem arquitetado, muito bem transplantado pra tela, pois temos um roteiro bem coeso, onde tudo se interliga e se amarra perfeitamente ao final (vide a primeira e a última cena, onde as duas se amarram perfeitamente), nada fica solto e tudo funciona em perfeita harmonia. A direção de Del Toro se sobressai novamente, pois temos mais um trabalho absurdo e muito competente. Ter o Del Toro na direção de um longa já é sinônimo de show e de um trabalho bem feito, e aqui só comprovamos esta afirmação, pois com um elenco desse porte, ele conduz cada um em seu determinado caminho com muita perfeição e objetividade (Del Toro foi reconhecido por sua direção somente no Critics).
Tecnicamente o longa de Del Toro é perfeito! Temos uma fotografia do Dan Laustsen completamente impecável, é assustador como a fotografia do longa se destaca em praticamente 100% das cenas. Que trabalho genial entregue pelo Dan Laustsen, justíssima indicação ao Oscar. A direção de arte de Tamara Deverell (também indicada ao Oscar) é muito notável e competente, pois ela materializa as ideias e conceitos quase abstratos do roteiro, de certa forma ela colabora diretamente para que as ideias do Del Toro sejam representadas fisicamente em tela. Uma direção de arte rica em detalhes e que atua em estreita parceria com a equipe de direção de fotografia. A cenografia é magnífica, pois tudo no filme se destaca, como os cenários, os objetos trazidos para compor os cenários (completamente fiel aos anos 40). Os figurinos de Luís Sequeira (indicado ao Oscar) estão um luxo de beleza, se destacando bem em cada um dos personagens, principalmente nas damas que compõem toda história (o que dizer dos vestidos estonteantes da Cate Blanchett). A trilha sonora de Nathan Johnson é boa, até se destacada em cena, mas nada comparado com a trilha sonora de Alexandre Desplat (campeão do Oscar pela "A Forma da Água"), mas ainda ele conseguiu uma indicação no Critics.
Bradley Cooper dá vida ao Stanton "Stan" Carlisle, um ser trapaceiro, mesquinho, vigarista, manipulador, charlatão, aproveitador. É interessante acompanhar às mudanças de personalidades na atuação do Cooper, que se inicia mais branda, mais curiosa, dado ao momento, logo após ele muda totalmente a chavinha, já nos mostra uma personalidade obscura, maquiavélica, ardilosa, totalmente inversa do seu início. Cooper dá um show em cena, é realmente impressionante como ele está bem no personagem.
Cate Blanchett não atua, ela dá aula! É praticamente impossível apontar um filme em toda a sua carreira que ela esteja no mínimo mediana em cena. Em "O Beco do Pesadelo" Cate dá mais um show de atuação, mais uma aula de interpretação na pele da intrigante Doutora Lilith Ritter, nos apresentando sua faceta misteriosa, complexa, excêntrica, adentrando no nosso psicológico, e nos comprando com um sorriso letal. É muito interessante acompanhar aquele jogo de gato e rato entre ela e o Bradley Cooper. Cate Blanchett é realmente uma belíssima atriz, uma das melhores de todos os tempos (sem nenhuma dúvida). Muito me surpreendeu a Cate está indicada somente no SAG's, na minha opinião caberia sim uma indicação ao Oscar.
Toni Collette é mais uma atriz magnífica que compõe este elenco estrelado. Collette fez a madame Zeena, que interfere diretamente nas primeiras decisões do Stan, sendo a grande responsável em instigar todos os seus desejos e ambições. Collette participa somente do primeiro ato do filme, porém ela nos entrega o que sabe fazer de melhor na arte de atuar (é sempre um grande prazer poder contemplar uma atuação da Toni Collette). Rooney Mara fez a Molly, que inicialmente pode até ser considerada como a mocinha inocente da história, mas com o passar do tempo podemos observar que ela não passava de uma cobaia do Stan, sendo que ele se aproveitou de sua inocência amorosa para aplicar os seus golpes e suas traições. Rooney Mara nos entregou uma atuação mais introspectiva, mais contida, sem um grande avanço na personagem, porém ela não esteve mal, conseguiu entregar uma boa atuação.
Willem Dafoe é um verdadeiro gênio da sétima arte e vê-lo atuar é sempre um colírio para os olhos de qualquer cinéfilo. Dafoe deu vida ao personagem Clem, sendo peça-chave na história de vida de Stan e muitas das vezes o confrontando com suas próprias ideias e decisões. Uma atuação completamente soberana de Willem Dafoe. David Strathairn fez o Pete, talvez o personagem mais engraçado, mais extrovertido e mais carismático da história. Sem dúvidas, Pete foi o mentor por trás do Stan, aquele que ensinou os seus truques, que o incentivou a possivelmente seguir este caminho das farsas. David Strathairn é um ator muito carismático, e isto só contribuiu ainda mais para a sua atuação nesse personagem. Ainda tivemos às participações de Ron Perlman (o eterno Hellboy do Del Toro), Richard Jenkins e a Mary Steenburgen, completando este belíssimo elenco.
"O Beco do Pesadelo" foi indicado em 8 categorias no Critics, sendo Trilha Sonora, Efeitos Visuais, Cabelo e Maquiagem, Figurino, Direção de Arte, Fotografia, Direção e Melhor Filme. No BAFTA o longa obteve indicações em Figurino, Direção de Arte e Fotografia. No SAG's obteve apenas a única indicação para a Cate Blanchett. No Globo de Ouro o longa foi completamente esquecido, completamente esnobado em todas as categorias (devo dizer: no irrelevante Globo de Ouro). No Oscar o longa aparece concorrendo nas categorias de Direção de Arte, Figurino, Fotografia e Melhor Filme. O novo longa do Del Toro não teve a mesma força nessa temporada de premiações como foi com "A Forma da Água" lá em 2018, onde ele se sagrou campeão do Oscar de Melhor Filme.
Devo finalizar afirmando que pra mim o Del Toro entregou mais um grandioso trabalho, que entra diretamente no mesmo Hall de "O Labirinto do Fauno" e "A Forma da Água". "O Beco do Pesadelo" é mágico, assustador, surpreendente, complexo, intrigante, psicológico, divertido e acima de tudo - traz a assinatura desse mestre das fábulas e fantasias - Guillermo del Toro! [16/02/2022]
O longa é escrito e dirigido por Aaron Sorkin, e nos retrata diretamente à cinebiografia de Lucille Ball (muito bem interpretada pela talentosíssima Nicole Kidman). A trama transcorre durante uma semana específica de produção da série 'I Love Lucy' (um dos maiores sucessos na TV americana nos anos 50), nos evidenciando como a Lucy Ball se tornou uma das grandes lendas do entretenimento hollywoodiano. Lucy foi uma das maiores personalidades em sua época, uma artista completa, ela foi atriz, comediante, cantora, modelo, executiva cinematográfica, e produtora televisiva norte-americana.
"Being the Ricardos" pode ser interpretado como uma biografia, ou até mesmo um documentário do casal Lucille Ball e Desi Arnaz (Javier Bardem), pois acompanhamos diretamente todo o processo de criação pelo qual cada um é submetido ao longa de suas vidas, desde suas descobertas, passando pelas suas pretensões, almejando às suas ambições, até chegar em suas inevitáveis frustrações. Somos confrontados com os bastidores de gravação do sitcom 'I Love Lucy', juntamente com a inevitável crise no casamento, o que poderia colocar em risco (e até arruinar) a vida profissional de cada um. Ainda acompanhamos a surpresa da descoberta da gravidez da Lucy (durante o programa), e a acusação de comunista que lhe caiu sobre os ombros.
Particularmente eu prefiro o Aaron Sorkin como roteirista do que diretor, e isso está muito evidente nos roteiros que ele assina em "Steve Jobs", "O Homem que Mudou o Jogo", "Jogos do Poder", e ganhando o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por "A Rede Social", em 2011. Já em direção, Sorkin nos entregou obras que pra mim são completamente contestáveis, como "A Grande Jogada", de 2017, e o próprio "Being the Ricardos". Não posso falar de "Os 7 de Chicago" porque ainda não assisti.
Eu não conheço a fundo a biografia de vida da Lucille Ball, portanto eu não posso afirmar sobre os acontecimentos que permeia o roteiro do longa de Sorkin, ou até mesmo sua ordem cronológica dos fatos que nos foi entregue, mas acredito que o Sorkin utilizou uma liberdade criativa em seu roteiro, e de certa forma misturou vários pontos entre si, tentando focar em vários acontecimentos naquela única semana da vida da Lucy, que pra mim ficou um tanto quanto perdido e meio desconexo. O roteiro em si tenta focar no drama, na ambição, na incerteza, mas depois já romantiza, já suaviza, e entra com uma válvula de escape mais leve (em certas partes soando até mais cômico). E o roteiro ainda vai mais além, quando tenta tocar em uma certa parte política, se utilizando apenas como um mero elemento de discurso, ao nos apresentar a acusação sobre o comunismo da Lucy Ball, mas de uma forma totalmente vaga, vazia, sem um aprofundamento, me soando apenas como uma parte obrigatória do roteiro que deveriam mencionar de alguma forma.
Acredito que o Sorkin quis focar em vários acontecimentos da vida da Lucy Ball, mas faltou tempo (até tempo de duração do filme), faltou desenvolvimento, e o tiro saiu pela culatra, acabou ficando um roteiro sem coesão e sem harmonia (e ainda está concorrendo nas premiações deste ano....estou pasmo!). Definitivamente este novo trabalho do Aaron Sorkin não me pegou, não me cativou, não consegui me conectar, não consegui me envolver com a trama, em todos os momentos eu estava com aquela sensação de que faltava alguma coisa. Por ser um roteiro baseado em uma história real (que poderia agradar mais facilmente), eu achei a história chata, maçante, monótona, chegando até a me entediar (principalmente no primeiro ato).
A fotografia do longa é muito boa, fazendo um bom uso do preto e branco, se destacando ainda mais com aquele contraponto entre às cenas coloridas e às cenas em preto e branco. A trilha sonora de Daniel Pemberton é boa, está aceitável, com destaque maior paras às cenas em musicais e cantadas pelo Javier Bardem (Daniel Pemberton ainda conseguiu uma indicação no BAFTA). Apesar que eu ainda senti uns pequenos (porém notáveis) problemas de montagem e edição.
O principal (e único) ponto positivo no longa está justamente no elenco. Nicole Kidman é uma das melhores atrizes de sua geração e nunca nos decepciona. Kidman dá uma personalidade bem estruturada e muito segura para a sua interpretação dessa personalidade tão influente em sua época, Lucille Ball. Kidman está leve, solta, alegre, se diverte em cena, nem parece uma atuação. Kidman está em perfeita harmonia e sintonia com Javier Bardem, alcançando uma ótima química em cada cena que nos era apresentada. Nicole Kidman já levou este ano o Globo de Ouro e está concorrendo no SAG's, Critics, sendo totalmente esnobada no BAFTA. No Oscar ela integra a lista de Melhor Atriz, e na minha opinião, com chances claríssimas de levar o prêmio (uma das favoritas).
Javier Bardem conversa diretamente com a Nicole Kidman, pois juntos eles tiveram às melhores atuações do longa. Bardem dá alma, dá definição, dá uma direção muito bem ajustada em sua interpretação na pele do cubano Desi Arnaz, onde ele se destaca atuando, performando, cantando e até arriscando uns pequenos passos de dança. Uma atuação rica em detalhes, com um timing perfeito e um resultado muito satisfatório, que lhe rendeu indicações no Globo de Ouro e no SAG's, sendo esnobado no BAFTA e no Critics. No Oscar Bardem também está indicado, mas a meu ver, completamente fora da disputa entre Benedict Cumberbatch, Andrew Garfield e Will Smith (meu favorito).
J. K. Simmons é um ator que eu gosto muito, já tive experiências incríveis com ele, como em "Whiplash", de 2014, onde ele entrega uma atuação que me deixou boquiaberto até hoje. Aqui ele nos entrega um personagem bastante curioso e intrigante, mas que funciona perfeitamente em cena, e principalmente no que o roteiro lhe impõe. Gostei da atuação do J. K. Simmons em "Being the Ricardos", não está no mesmo nível de "Whiplash" (muito óbvio), mas já lhe garante uma indicação de Coadjuvante no Oscar, que na minha opinião, ficará apenas como lembrança, mas dificilmente ele terá forças para ganhar. (ele também está indicado no Critics)
É realmente impressionante como os serviços de streeming vem ganhando, a cada ano, mais força e destaques nas premiações: como a Netflix este ano com "Tick, Tick... Boom!", "Não Olhe para Cima" e "Ataque dos Cães", e a Apple TV com "A Tragédia de Macbeth". "Being the Ricardos" é a nova aposta da Amazon Prime para esta temporada de premiações, porém o longa do Aaron Sorkin corre bem por fora, obtendo pouquíssimas indicações: no SAG's o filme teve apenas uma indicação para o Javier Bardem. No Critics obteve apenas três indicações - para a Nicole Kidman, J. K. Simmons e Roteiro Original para o Sorkin. No BAFTA o longa obteve nomeações de Roteiro Original e Trilha Sonora (esnobando todos do elenco). No Globo de ouro o longa ganhou a estatueta com a Nicole Kidman e obteve mais duas indicações, Ator e Roteiro. Uma das poucas vezes em que eu concordei plenamente com às indicações do Oscar, foi em "Being the Ricardos", pois pra mim o filme falha em vários pontos e acerta somente em três, que são exatamente os três indicados ao Oscar, Ator, Ator Coadjuvante e Atriz.
"Being the Ricardos" é um filme bem mediano, bem fraco, que pra mim não funcionou em praticamente nada, salva-se o elenco. Aaron Sorkin já domina os roteiros (em produções passadas), mas falta evoluir como diretor, falta acertar a mão, falta nos apresentar um trabalho que salte aos nossos olhos também em direção. "Being the Ricardos" se segura apenas pelos seus protagonistas, pois é muito claro que o objetivo traçado pelo Sorkin não foi alcançado.
Não posso deixar de mencionar uma cena do filme que aparece uns belos quadros da sétima arte ao fundo que são: "Suspicion", de 1942, do Alfred Hitchcock / "Stromboli", de 1951, do Roberto Rossellini / "Swing Time", de 1936, do George Stevens / "Top Hat", de 1935, do Mark Sandrich. [12/02/2022]
"West Side Story" é um remake do filme de 1961, dirigido por Robert Wise e Jerome Robbins, sendo uma adaptação do musical da Broadway, de 1957, de Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim. O longa é magistralmente dirigido pelo gênio Steven Spielberg, com com roteiro de Tony Kushner, sendo vagamente baseado no romance de Romeu e Julieta, de William Shakespeare. O próprio roteirista, Tony Kushner, disse que esperava que este roteiro se aproximasse mais da adaptação da Broadway, do que da própria adaptação do filme de 1961.
"West Side Story" pode ser considerado um conto, uma passagem, uma peça teatral, um musical, porém com uma boa dose de drama, de romance, de forma leve, singela, divertida, extrovertida, mas tocando diretamente (ou indiretamente) em pontos como o racismo, a desigualdade social, o preconceito racial, o preconceito cultural, a intolerância, os conflitos de identidade, a violência contra os imigrantes, a discriminação feminina e até o assédio. O que realmente me surpreendeu foi a forma adotada para explicitar estes pontos que eu destaquei, com uma forma ácida, porém leve, sem pesar a mão, sendo desenvolvido e nos entregue diretamente de dentro das peças e coreografias musicais, o que de certa forma nos imergia e nos envolvia cada vez mais com toda a história que estava sendo contada.
Steven Spielberg é um verdadeiro gênio da sétima arte e estamos diante de mais uma prova disso. A forma como ele dirige as cenas, como ele tem todo o elenco nas mãos, juntamente com um trabalho de câmeras, onde tínhamos a exata sensação de que a câmera estivesse realmente dançando e acompanhando cada passo das coreografias - é uma coisa magnífica! A forma como Spielberg nos entrega todo o seu trabalho sendo filmado, contracenado, interpretado e atuado diretamente de uma película dos anos 60. Exatamente mais um ponto muito positivo de todo o trabalho desenvolvido pelo o Spielberg, pois estamos diante de uma obra totalmente inspirada e influenciada nos próprios filmes dos anos 60. É impressionante como tudo se conversa entre si, por exemplo: a fotografia do mestre Janusz Kamiński (responsável pela as fotografias de pérolas como "A Lista de Schindler", "O Resgate do Soldado Ryan" e "Cavalo de Guerra") está totalmente imersa nos trabalhos de câmeras do Spielberg, uma conversa com a outra, pois temos uma fotografia completamente absurda em "West Side Story" (nota 10 para a direção do Spielberg e a fotografia do Kamiński).
A coreografia de Justin Peck é mais um ponto positivo no longa, pois as combinações de coreografia + fotografia + movimento de câmera são absurdas de tão genial. "West Side Story" é muito bem coreografado, muito bem dançado, muito bem cantado, muito bem atuado, muito bem interpretado, tudo funciona de forma leve, delicada e prazerosa. As músicas são muito boas e muito gostosas de ouvir e acompanhar, com um destaque para a canção "In America" (impossível não vibrar com esta música). Exatamente um dos pontos alto do filme, a trilha sonora, que está incrível e muito bem encaixada e amarrada na trama. A trilha sonora de "West Side Story" é primorosa, rica, abrangente, influente, que com certeza eu buscarei para guardar com muito carinho.
A direção de arte é ótima e trabalha em completa harmonia com a fotografia. A cenografia é estupenda, pois acompanha com muita perfeição os cenários, os objetos de cena, os figurinos, suas cores e seu tratamento estético. Como não se maravilhar com todo carinho e atenção que nos foi entregue os detalhes como os carros, as ruas, as lojas, os figurinos (méritos para Paul Tazewell), tudo muito bem feito e totalmente fiel à Nova York dos anos 50 e 60. A edição de som de Gary Rydstrom (campeão do Oscar por "O Exterminador do Futuro 2", "Jurassic Park", "Titanic" e "O Resgate do Soldado Ryan") também é muito boa e se destaca ao longo das apresentações musicais. A montagem de Michael Kahn ("Poltergeist" e "A Lista de Schindler") é muito bem feita e muito bem arquitetada.
O longa do Spielberg beira a perfeição, porém, devo destacar dois pontos que me incomodaram: primeiro, a forma como foi retratado o romance entre Tony (Ansel Elgort) e Maria (Rachel Zegler) me soou vazio e sem um desenvolvimento que pudesse nos convencer diretamente. Eles praticamente já se conhecem e se apaixonam instantaneamente, não tem um aprofundamento, não tem um tempo de eles sequer se conhecerem melhor, dessa forma me pareceu um pouco forçado (tudo bem que o romance foi vagamente inspirado em Romeu e Julieta). Segundo, a tradução das legendas para o português nas partes dos musicais ficaram totalmente desconexas, ao ponto de me irritar ao querer acompanhar a tradução do que estava sendo cantado. Acho que a forma que eles tentaram traduzir as rimas para o português que não deram certo.
O maior destaque do longa é sem dúvidas a Ariana DeBose, o filme é praticamente dela. Ariana é uma atriz completa, ela canta, dança, interpreta, atua, contracena, faz tudo com muita segurança, com muita entrega, com muita voracidade, com muito carinho, nos entrega uma atuação completamente magnífica na pele da Anita. Típica atuação impecável, sem um erro, sem um deslize, domina completamente a personagem, ocupa toda a tela com muita dignidade e grandeza - que atuação da Ariana DeBose senhoras e senhores! Ariana está indicada em todas as premiações desse ano, incluindo o Globo de Ouro (que ela já levou a estatueta), SAG, Critics, BAFTA e Oscar. Ouso a dizer que no Oscar ela é a principal favorita ao prêmio da noite, por mais que eu tenha adorado a Kirsten Dunst (Ataque dos Cães) e a Jessie Buckley (A Filha Perdida), acho que dificilmente ela perca o Oscar de Atriz Coadjuvante.
Rachel Zegler é uma jovem atriz que me encantou desde a sua primeira cena no filme. Ela é doce, bela, delicada, primorosa, carismática, graciosa, meiga, que atua com o coração, com muita leveza, com muita dedicação, com muita atenção. Zegler tem uma voz muito doce ao cantar, tem um olhar muito profundo ao atuar, é de uma sutileza e uma singularidade tão bela que me deixou completamente apaixonado por ela (estou muito curioso para vê-la em "A Branca de Neve e os Sete Anões"). Zegler levou o Globo de Ouro e está indicada a Melhor Revelação no Critics. Torcerei muito por ela, apesar de ter amado a Emilia Jones (CODA) e adorado a Saniyya Sidney (King Richard).
O que me chamou a atenção foi na cena em que a Rachel Zegler e a Ariana DeBose estavam cantando e olhando fixamente uma para a outra, as suas expressões, os seus olhares, a forma como elas estavam realmente cantando exatamente naquele momento, sem o uso da dublagem, elas estavam realmente cantando e atuando uma com a outra na mesma hora em que ambas estavam sendo filmadas - maravilhoso!
Ansel Elgort foi um ator que me chamou muita a atenção em "Baby Driver" - 2017. Lá já podíamos notar esta sua veia para musicais, esta sua competência para atuar e cantar, e aqui está totalmente comprovado. Elgort tem um papel muito importante na trama, principalmente por querer se livrar das marcas do seu passado e pela paixão que acaba de se acender pela a Maria. Queria muito que este casal tivesse mais química, tivesse sido mais explorado, eles tinham muito mais para entregar do que de fato foi entregue.
Rita Moreno foi um grande acerto do Spielberg, pois vê-la em cena só aumentou a nossa emoção e satisfação em acompanhar este remake de "West Side Story". Rita Moreno interpretou a Anita na versão de 1961 e levou o Oscar pela sua atuação.
Mike Faist foi uma grata surpresa, pois não o conhecia, não sabia que ele era este ótimo ator. Ótima atuação, o que lhe rendeu uma indicação ao BAFTA. Assim como o próprio David Alvarez (também não o conhecia), que esteve muito bem em cena ao contracenar com a Ariana DeBose, ótima química entre os dois, principalmente entre as coreografias musicais.
"West Side Story" levou as estatuetas no Globo de Ouro por Atriz Coadjuvante (Ariana DeBose), Atriz (Rachel Zegler) e Melhor Filme Comédia/Musical (que eu concordo plenamente). Em direção o Spielberg perdeu a estatueta para a Jane Campion (que eu concordo mais uma vez). No Critics o longa lidera as indicações (juntamente com "Belfast"), sendo para Figurino, Edição, Design de Produção, Fotografia, Roteiro Adaptado, Direção, Elenco, Revelação (Rachel Zegler), Atriz Coadjuvante (Ariana DeBose) e Melhor Filme. No SAG o filme tem apenas a indicação de Atriz Coadjuvante para a Ariana DeBose. No BAFTA o longa aparece indicado em Som, Design de Produção, Elenco, Ator Coadjuvante (Mike Faist) e Atriz Coadjuvante. No Oscar o longa obteve 7 indicações, incluindo as principais categorias, Atriz Coadjuvante, Direção e Melhor Filme.
O ano de 2022 está sendo o ano que está me fazendo quebrar todos os tipos de preconceitos que eu tinha pelos musicais. Pois este ano já fui surpreendido positivamente pelo maravilhoso "Tick, Tick... Boom!" e agora com esta bela obra do Spielberg. "West Side Story" é uma belíssima peça teatral em forma de musical, uma ótima readaptação, uma obra completamente magnífica, beirando a perfeição dos musicais.
"West Side Story" vem muito forte no Oscar, é sim um filme para ficarmos de olho, principalmente nas categorias principais (onde eu acho que o filme ganha mais força). Nas categorias técnicas eu acho que o longa pode angariar algumas estatuetas (como em fotografia e som). Já na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, eu acredito que ninguém tira o prêmio das mãos da Ariana DeBose. Em direção eu acho que teremos uma briga muito boa entre a Jane Campion e o Steven Spielberg (como já aconteceu em 1994, quando o Spielberg levou a melhor pela "A Lista de Schindler"), mas também não devemos desconsiderar os outros concorrentes e principalmente o japonês Ryûsuke Hamaguchi, de "Drive My Car". Já em Melhor Filme que teremos o grande embate da noite, e eu coloco "West Side Story" como um dos principais favoritos ao maior prêmio da noite, pois não podemos esquecer que a sua versão de 1961 levou o Oscar de Melhor Filme, e os americanos amam premiar os musicais. [09/02/2022]
O primeiro longa dirigido e roteirizado pela Maggie Gyllenhaal (casada com Peter Sarsgaard e irmã do Jake Gyllenhaal) é uma produção original Netflix, baseado no livro de mesmo nome escrito por Elena Ferrante.
"A Filha Perdida" é um filme difícil, profundo, misterioso, que nos incomoda, nos confronta com várias realidades e suas experiências traumáticas, como a obsessão e a sua forma de retratar a maternidade, que não segue em uma linha cronológica, que muita das vezes nos confunde, por terem acontecimentos atrasados e adiantados em um curto espaço de tempo (típica produção que não segue aquela linha de começo, meio e fim). A própria protagonista, Leda (Olivia Colman), é tão perdida e confusa na trama quanto nós, pois observamos suas nuances, seus traumas, suas alegrias, seus sofrimentos, suas frustrações, de uma forma totalmente misturada e de certa forma até bagunçada. O elenco em si também é confuso, parece que eles estão ali unicamente para nos confundir sem um propósito e confundir a cabeça da própria Leda. De certa forma podemos aprender com as experiências de vida da Leda: que você nunca conseguirá viver sempre seguindo uma linha reta (como na clara alusão na cena em que ela descasca a laranja sem deixar que a sua casca se quebre, e ainda ela ensina isso para a sua filha ), não existe uma cartilha que devemos seguir à risca, devemos vivenciar nossos medos e traumas e confrontar os nossos próprios fantasmas.
Por outro lado o longa ainda peca em vários pontos: como o fato do roteiro ser de certa forma bagunçado e se perder em algumas partes. A forma como o roteiro aborda alguns pontos dentro da trama soa como confuso, deixando aquele emaranhado de perguntas em nossas cabeças e sem explicações - como o fato do contraponto que o longa faz com os flashbacks entre a Leda jovem (Jessie Buckley) e a Leda da meia-idade (Olivia Colman). A narrativa por sua vez também é confusa, falta ritmo, falta imersão, não conseguimos se apegar por ninguém, falta empatia, falta química, o que irá dificultar muito a experiência como um todo, soando até como monótono em algumas partes e se retratando como uma obra sem alma.
Os pontos positivos são: A direção da Maggie é incrível, a forma como ela conduz os takes, os focos, que muita das vezes eram diretamente tomado da própria visão da protagonista, como se nós estivéssemos vivenciando o drama da Leda pelos seus próprios olhos, pela sua própria perspectiva. Assim como os planos mais abertos e principalmente os mais fechados, que davam os focos exatamente nos rostos dos personagens, mostrando perfeitamente as suas diferentes expressões (aproximando bem a câmera). A Maggie dirige o seu longa de uma forma singela, com uma sensibilidade em retratar a mensagem que ela queria nos passar, sem a necessidade de entrar em um discurso que poderia soar como piegas. A fotografia também merece destaque, pois acompanha e casa perfeitamente em cada cena, se mostrando ainda mais explorável e perceptível nos takes mais abertos da Maggie nas cenas da praia. Já a trilha sonora é mediana, não chega a se destacar, mas também não chega a comprometer, é uma trilha mais tímida, mais pacata, dado o contexto do longa. Nessas condições eu considero a trilha sonora como um ponto positivo.
Gostei bastante das atuações e considero mais um ponto positivo! Olivia Colman é uma atriz maravilhosa e o que ela nos entrega aqui é claramente mais um grande trabalho. Colman dá vida a uma mulher introspectiva, solitária, amargurada, que esta arrasada pela as suas próprias memórias do passado, mas em contrapartida ela se mostra com uma personalidade forte, muito particular, que carrega uma individualidade que a favorece e ao mesmo tempo lhe prejudica. Colman pode até ter atuações melhores (como em "A Favorita" que lhe rendeu o Oscar), mas aqui ela está diferente do que esperamos, fora do trivial, e ao meu ver a sua atuação tem um tom solitário que funciona muito bem casado com a sua dramaticidade. Colman foi indicada em várias premiações e na minha opinião cabe sim a sua indicação, pelo menos para destacar este belo trabalho, vale como lembrança.
A linda Dakota Johnson traz uma personalidade ambígua para a sua personagem, com uma profundidade no olhar que transmitia toda sua insegurança, sua vulnerabilidade, sua instabilidade, seus medos, suas dores, suas aflições. Era como se a Nina se espelhasse na Leda (Colman) e vice e versa, como se uma fosse a experiência da outra, onde a própria Leda conseguia ver o seu passado através da Nina. Confesso que não sou de acompanhar os trabalhos da Dakota, mas aqui ela me surpreendeu positivamente, ela está ótima na personagem e tem uma atuação muito digna.
Jessie Buckley é outro grande destaque no longa. Jessie faz a Leda mais jovem, que parecia não estar pronta para lidar com a maternidade, que aparentemente não possuía os instintos maternos, ou aquela aptidão para ser mãe, tão logo de duas filhas. Leda também tinha suas nuances e aflorava todos os seus sentimentos, explicitando as suas inseguranças. Jessie tem uma ótima atuação, muito bem executada, performada, fazendo aquele contraponto muito interessante da sua Leda jovem para com a Leda mais de meia-idade da Colman. Jessie está indicada no BAFTA e eu concordo com a sua nomeação, mas acho que dificilmente ela levará, ficará apenas como lembrança.
Temos algumas alusões, menções, citações ao decorrer do filme que constantemente nos obriga a tirar as nossas próprias interpretações/conclusões. Eu tirei minhas próprias conclusões e fiz as minhas próprias interpretações. Agora se está certo ou errado, se vão concordar ou discordar....enfim!!!
Na cena em que a Leda (Colman) conversa com a Nina funciona como uma espécie de terapia, para ambas, sendo exatamente o momento em que você começa a ligar as pontas soltas, começa a fazer sentido aquela sua obsessão pela Nina como mãe de uma criança, até pelo fato da Leda revelar para a Nina que abandonou as suas filhas por 3 anos quando elas ainda eram crianças. Isso fez aflorar seus pensamentos e suas lembranças do passado, pelas suas lembranças lhe machucar e seus pensamentos lhe corroer por dentro. Sem falar que é uma bela performance da Olivia Colman, por toda sua dramaticidade entregue nesta cena.
Na cena em que a Leda (Colman) decidi partir em busca da filha da Nina que se perdeu (ou a própria Leda a tomou pra si), funciona com uma espécie de objetivo de mãe frustrada, como se sair em busca daquela criança que se perdeu fosse de alguma forma aliviá-la de seus traumas e fantasmas do seu passado, até por a própria Leda ter abandonado as filhas.
A cena em que a pinha cai diretamente nas costas da Leda (Colman), deixando uma marca, um machucado (como uma marca da vida pelo o que ela passou), que logo em seguida é amenizado pela Callie (Dagmara Domińczyk), mas unicamente pelo fato da Leda ter encontrado a filha perdida da Nina. Parece uma forma politicamente correta de se recompensar um bem que você fez para outra pessoa em sua vida, mas com um conceito estereotipado, ou de uma forma vulgar, falsa, fria, como se fosse uma obrigação o fato da Callie passar a pomada para aliviar o machucado da Leda, unicamente pelo "bem" que ela fez para todos, mesmo sem o claro interesse (se é que podemos considerar dessa forma).
O fato da Leda (Colman) ter roubado a boneca da filha da Nina me parece mais uma alusão a maternidade (ou por tudo que ela passou), até pelo fato da Nina querer proteger sua filha como mãe e sua filha querer estar sempre com a boneca. Possivelmente pelo fato da Leda ter abandonado as suas filhas no passado, por querer de certa forma estar com elas como aquela boneca sempre estava com a criança. Parece que realmente a Leda falha como mãe até em posse da boneca, pois tem cenas em que ela entra em constantes conflitos com a boneca, como na cena em que ela joga a boneca pela janela e ela se quebra toda ao chegar ao chão, ou o fato de ela jogar a boneca no lixo e depois se arrepender, exatamente como ela abandonou as suas duas filhas e depois se arrependeu amargamente. Também fico me perguntando se a filha perdida pudesse de certa forma ser aquela boneca, como uma espécie de alusão que o filme faz com a Leda, até pelo fato da boneca estar em evidência o tempo todo em quase todas as cenas, e mais em posse da Leda do que da filha da Nina. Também cheguei a cogitar que a filha perdida pudesse ser a própria Nina, ou não, enfim!
A cena inicial e a cena final (quando a Leda cai na beira da praia), eu fiquei me perguntando se tudo aquilo realmente existiu, ou se ela realmente morreu, ou se tudo não passou de uma ilusão.
No Globo de Ouro o longa foi indicado em Direção (Maggie) e Atriz (Colman). No SAG obteve apenas a indicação para a Olivia Colman. No Critics está indicado em Atriz para Colman e Roteiro Adaptado para Maggie. No BAFTA (recentemente anunciado) o longa está indicado em Atriz Coadjuvante para Jessie Buckley e Roteiro Adaptado para a Maggie, esnobando a Olivia Colman, que até então vinha sendo indicada em todas as premiações.
Em seu trabalho de estreia como diretora e roteirista, Maggie Gyllenhaal já nos entrega um longa que dividi inúmeras opiniões, aquele típico 8 ou 80, ame ou odeie. Por mais que o filme peque no roteiro e na narrativa, eu gostei das atuações, das alusões e da direção. No final o longa ainda nos entrega um final ambíguo, livre de amarras, fora do trivial, que você pode facilmente tirar as suas próprias conclusões do que de fato aconteceu com a Leda. Pra mim "A Filha Perdida" é um filme muito subjetivo, que com certeza vai decepcionar uma pessoa e agradar uma outra, já eu fico no lado que se agradou com o filme. Pra mim o longa da Maggie Gyllenhaal tem o saldo mais positivo do que negativo.[05/02/2022]
"CODA" é dirigido e roteirizado pela americana Sian Heder, o longa é uma refilmagem americana em inglês do filme francês, La Famille Bélier de 2014, dirigido por Éric Lartigau. O nome original do filme, CODA, é a sigla que significa "Child of Deaf Adults" ou "Filho de Adultos Surdos", ou também pode significar uma passagem final da música em uma composição.
"CODA" é uma obra tocante, singela, intimista, singular, realista, verdadeira, que vai te emocionar, vai te fazer sorrir, ao mesmo tempo em que nos concentramos e torcemos com os números musicais. O longa uni a comédia, o drama e a música com muita maestria, pois ao longo da trama temos vários momentos cômicos por parte da família Rossi, em contrapartida, temos todo o drama vivido pela própria família e pela própria Ruby (Emilia Jones), com a sua decisão em continuar ajudando sua família ou ir atrás dos seus sonhos. O longa ainda toca (de uma forma mais leve) em pontos como a inclusão na sociedade das pessoas 'surdas-mudas', nos mostrando verdadeiramente como são o dia a dia dessas pessoas, como elas vivem em uma sociedade preconceituosa e prepotente, tendo que se adequar aos ambientes e enfrentar todas as suas dificuldades.
A direção e o roteiro da Sian Heder é muito bom e muito bem desenvolvido, pois somos confrontados em uma comédia dramática pelo ponto de vista da família Rossi, com um contraponto de amadurecimento, descobrimento, realização, dedicação e perseverança pelo ponto de vista da Ruby. O roteiro pode até ser considerado um clichê, pois inicialmente já imaginamos todo o percurso e o final do longa, e também muitas das coisas que vemos nesse filme, já tínhamos visto em outros. Mas é exatamente nesse ponto que o roteiro nos ganha, pela sua simplicidade e singularidade em contar a sua história, e nesse quesito ele é bem escrito e funciona muito bem.
A forma como a Sian Heder dirige a sua obra é fenomenal, pois ela constrói as cenas com muita objetividade e muita atenção, dando o espaço e o tempo necessário para o desenvolvimento de todo o elenco. As atuações nos cativa e funciona de uma forma tão boa, que fica completamente impossível não se afeiçoar por eles, a empatia é alcançada imediatamente. O elenco de "CODA" é tão bom que facilmente nos apegamos e torcemos por eles, sem tomar partido de nenhum lado da história, unicamente sentimos a dor e a alegria de cada um, se importamos com cada um, queremos proteger cada um. Nesse quesito o roteiro de Sian Heder é totalmente funcional e nos prende gradativamente, espontaneamente, sem o apelo emocional, sem se tornar um caça-lágrimas - o que de fato é muito plausível!
Emilia Jones é um show em cena, um verdadeiro espetáculo, não tem como não simpatizarmos por ela, não se apegarmos a ela. Ruby era a única da família que ouvia e falava normalmente, dessa forma ela era muito importante para o dia a dia de sua família, pois através dela que todos conseguiam se comunicar. Porém, Ruby era uma jovem que estava se descobrindo entre o amor e a sua verdadeira vocação, e queria ir em busca do seu sonho, mesmo que pra isso ela tivesse que se desprender da sua família. Emilia nos entregou uma bela atuação, que transcorreu de forma muito segura na personagem, dosando muito bem os momentos mais dramáticos e mais eufóricos. Emilia Jones é uma jovem atriz que soube se preparar para a personagem: ela passou nove meses aprendendo a linguagem de sinais americana, tendo aulas de canto e aprendendo a operar uma traineira de pesca - realmente uma grande entrega! Emilia está indicada no Critics como Melhor Revelação.
Eugenio Derbez é um ator muito bom, muito bom mesmo! Bernardo Villalobos é o professor de coral que viu o potencial e o talento de Ruby, dessa forma, ele é o principal responsável por aflorar (colocar pra fora) todo o seu potencial vocal. Mr. V também foi o que mais acreditou e incentivou a Ruby a ingressar na faculdade de música. Grande atuação do mexicano Eugenio Derbez, que nos mostrou aquele professor sisudo, mais linha dura, que queria extrair o máximo da perfeição vocal dos seus alunos (principalmente da Ruby). Uma atuação completamente perfeita! Troy Kotsur (que fez o Frank) entrega um personagem com uma veia cômica e outra dramática, e de fato funcionou muito bem, ele soube utilizar de suas vertentes para construir um personagem muito eficaz para o desenrolar de toda trama. Troy ganhou um Gotham Award e foi indicado para o Globo de Ouro, o Critics, o SAG e o Independent Spirit Award. Marlee Matlin (que fez a Jackie) fez o contraponto perfeito com Troy, entregou o papel de mãe verdadeira (do jeito dela) e de esposa dedicada (também da forma dela). Marlee é a única atriz surda a ganhar o Oscar de Melhor Atriz em um papel principal, tendo conquistado o prêmio por sua atuação em "Children of a Lesser God" (Filhos do silêncio de 1986). Daniel Durant (que fez o Leo) completa a família, e mesmo sem entregar uma atuação do mesmo nível do elenco já citado, ele tem uma colaboração direta para o funcionamento de toda engrenagem (a família) na trama. Troy Kotsur, Daniel Durant e Marlee Matlin são surdos e mudos, porém, a Marlee adquiriu a habilidade da fala e já emprestou a sua voz para a série animada "Family Guy" (Uma Família da Pesada de 1999).
Não posso deixar de mencionar as principais cenas do filme, aquelas de maiores destaques, aquelas que realmente engrandece toda a obra de Sian Heder.
O longa se passa quase que inteiramente mudo, se tornando um enorme desafio em cena, principalmente para a Emilia Jones. Porém, devo destacar as belíssimas cenas de diálogos mudos, principalmente uma em específico entre a Ruby e a Jackie, que realmente me prendeu e me conquistou, quando ela estava contando e aconselhando a filha sobre os perigos da vida, ainda mais por ela ser jovem - eu achei sensacional esta cena. A belíssima cena em que o Frank pede para a Ruby cantar para ele e ele coloca a mão na garganta dela, na intensão de sentir as vibrações causadas pela sua voz - cena completamente magnífica! A cena onde a Ruby canta na audição fazendo os sinais para que a sua família (que estava sentada acima) pudesse entender a música, ou, as palavras que ela estava cantando. Outra cena maravilhosa, a cena da apresentação musical, em que a Ruby está cantando com o Miles (Ferdia Walsh-Peelo) e de repente tudo fica em um completo silêncio, nessa hora passamos a acompanhar a sua apresentação pela perspectiva da sua família, pelos olhos dos seus pais. É exatamente nessa hora que observamos eles olhando para as reações das pessoas ao redor, uma forma que eles encontraram de observar que as pessoas de fato estavam gostando da apresentação da Ruby, e que de fato ela era realmente muito boa cantando. E aquela cena final do Troy se esforçando para soltar um tímido "GO", quando se despedia de sua filha. Acho aquela cena de uma beleza sem igual, dentro de tantas belas cenas do filme, esta realmente me tocou verdadeiramente, pela emoção da família em liberar a sua filha em busca do seu sonho, e pela forte emoção que estava explícita no pai em se despedir da sua filha - genial!
"CODA" foi muito aclamado pela crítica e levou o prêmio especial do júri de elenco na competição dramática dos EUA em sua estreia mundial no Festival de Cinema de Sundance de 2021. No Critics o longa aparece nas categorias Roteiro Adaptado (Sian Heder), Revelação (Emilia Jones), Ator Coadjuvante (Troy Kotsur) e Melhor Filme. No SAG está indicado a Melhor Elenco, além da indicação para o Troy a Ator Coadjuvante, e eu vou sem bem sincero: eu daria o prêmio de Melhor Elenco em Filme para o "CODA" no SAG, mesmo faltando eu conferir "Belfast". De fato o belo trabalho da Sian Heder vai lhe render algumas indicações no BAFTA e no Oscar. No Oscar o longa com certeza estará entre os indicados a Melhor Filme, mas sinceramente eu não o vejo como um franco favorito na briga pela estatueta, ao contrário, acho que "CODA" ficará somente com a nomeação, o que não é nenhum demérito, mas acho que o filme corre por fora e não tem forças para brigar pela principal categoria da noite.[30/01/2022]
Eu nunca fui um adpeto à musicais, sempre tive um certo preconceito, um pé-atrás, sendo que o único musical que de fato me conquistou foi "Os Miseráveis". Fui conferir 'Tick, Tick... Boom!' por uma indicação de um amigo e também pela temporada de premiações.
'Tick, Tick... Boom!' simplesmente explodiu a minha cabeça, jamais poderia imaginar como este filme é bom, como ele te conquista, como ele te prende, de uma forma leve, gostosa, prazerosa, que sequer você percebe o tempo passar.
Confesso não conhecer os trabalhos do Lin-Manuel Miranda, mas pelo o que eu pesquisei, sei que ele foi o idealizador e escritor de "Hamilton", além de ser uma artista completo. Miranda é ator, rapper, compositor, dramaturgo, cantor, produtor, letrista, além de já ter ganhado vários prêmios e ter revolucionado a Broadway. Em 'Tick, Tick... Boom!' Miranda nos traz um longa que foi baseado no musical semi-autobiográfico de Jonathan Larson. Larson foi um escritor e compositor de peças mais intimistas, que abordava temas muito delicados como drogas, AIDS e a homossexualidade, assuntos esses que também foram abordados em 'Tick, Tick... Boom!' e 'Rent' (este último eu ainda não conheço).
Lin-Manuel Miranda faz a sua estreia como diretor e nos entrega um excelente trabalho feito com muita dedicação, com muita coesão, com muita atenção, com muito respeito, e como uma forma de homenagear Jonathan Larson em sua própria criação. Steven Levenson nos entrega um belíssimo roteiro onde tudo funciona em perfeita harmonia, tudo muito bem interligado, tudo muito bem transplantado em cena, você não se perde, não se cansa, ao contrário, você é completamente envolvido e imergido na trama de uma forma completamente satisfatória e magnífica.
O longa já começa de uma forma excelente ao nos mostrar o jovem compositor Jon (Andrew Garfield) nos contando sobre o Tick, Tick, o que de certa forma funcionava exatamente como um bomba relógio, que sempre estava em sua cabeça, que sempre nos pegava em cada cena, como se esperássemos sempre o Boom. Curiosamente também ao início temos uma das melhores músicas de todo o filme, que é exatamente a parte em que ele relata o seu medo de chegar aos 30 anos. Me identifiquei demais com esta parte, até por pensar exatamente da mesma forma quando eu estava chegando nos meus 30 anos, aquela fase em que eu estava saindo da juventude para a idade adulta mais velha, ou de certa forma, eu também pensava que estava ficando ultrapassado. Aliás, preciso destacar aqui que todas as músicas do filme são excelentes, eu gostei de todas, vou pesquisar uma por uma pra guardar comigo para sempre.
Pra mim 'Tick, Tick... Boom!' é um musical, mas um musical diferente, que ora nos mostrava o lúdico em contrapartida já nos confrontava com a vulnerabilidade em cena. O longa funciona em duas fases diferentes, inicialmente somos imergidos em um tom mais extrovertido, mais alegre, logo em seguida já caminhamos para um tom mais denso, mais pesado, é exatamente este contraponto entre o drama e a leveza que me cativou no filme. O longa é realmente um musical mais dramático, até por navegarmos no drama do próprio Jon em busca da sua realização pessoal e profissional. Na medida que também somos inseridos no drama da sua namorada Susan (Alexandra Shipp), que também tem seu sonho, seu objetivo e busca realizá-lo, mesmo que pra isso ela tenha que abrir mão do seu relacionamento com o Jon. Também temos o drama do seu melhor amigo Michael (Robin de Jesús), por todas as suas decisões e suas consequências, se destacando como uma das melhores partes de todo o filme ao final. Outro ponto que me deixou maravilhado era como as canções acompanhava cada mudança de tom no filme, ora sendo mais eufórica em momentos mais leve e ora mais pesada em momentos mais dramáticos, fazendo aquele contraponto entre a realidade e a imaginação.
Andrew Garfield é o coração do filme, é impressionante como ele está bem inserido no personagem, como ele atua com a alma, com bastante leveza, simpatia, carisma, sendo extrovertido e dramático nas horas certas. Típico personagem em que nos cria empatia, amor, admiração, euforia, com aquele misto de tristeza e aperto no coração com o decorrer da trama. Andrew é um ator incrível, que já nos entregou maravilhosas atuações como o Padre Rodrigues em "Silêncio" (2016) e o soldado Desmond Doss em "Até o Último Homem" (2017). Em 2017 Andrew ganhou a sua primeira indicação ao Oscar na categoria Melhor Ator pelo seu trabalho estupendo em "Até o Último Homem". Este ano ele já levou o Globo de Ouro de Melhor Ator Comédia/Musical (muito justo por sinal) e está indicado no SAGs e no Critics. No Oscar é o grande ponto em questão, Andrew Garfield com certeza ganhará uma merecida indicação à Melhor Ator, mas concorrerá com atuações de Benedict Cumberbatch e Will Smith, que dificultará muito a sua vitória na categoria. Estou admirado, pois eu não sabia que o Andrew Garfield cantasse tão bem.
Alexandra Shipp também entrega um ótimo trabalho e uma grande atuação. Gostei muito da sua personagem, esteve o tempo todo em perfeita harmonia e obteve uma ótima química com o Andrew Garfield - destaque para a maravilhosa cena musical entre ela e a Vanessa Hudgens (mais uma bela musica do filme). Robin de Jesús é mais um que entrega um grandiosa atuação, mais um que esteve em perfeita harmonia com Andrew Garfield, principalmente no último ato do filme, onde ele chega ao ápice de seu personagem. Bradley Whitford (meu velho conhecido da série The Handmaid's Tale) está bem no filme, ele entrega um personagem com a dosagem certa para todo o desenrolar da trama, gostei muito do seu trabalho. Vanessa Hudgens me surpreendeu positivamente, não imaginava que a sua personagem fosse tão boa no filme, e de fato ela foi excelente (até pelo fato dela já ser cantora, dançarina...enfim!). Temos várias cenas memoráveis da Vanessa durante todo filme: como a sua performance musical na cena junto com o Andrew Garfield, assim como a cena em que ela canta junto com a Alexandra Shipp - sensacional!
'Tick, Tick... Boom!' teve duas indicações no Globo de Ouro, levando a estatueta de Melhor Ator Comédia/Musical para Andrew Garfield e perdendo a estatueta de Melhor Filme Comédia/Musical justamente para "Amor, Sublime Amor". No Critics o longa aparece em duas categorias (Melhor Filme e Ator), e no SAGs somente na categoria de Melhor Ator para o Andrew Garfield. Estou muito curioso nas indicações do Oscar, quero muito saber em quais categorias que o longa aparecerá entre os indicados. Eu aposto nas categorias de Melhor Ator e Melhor Filme, nas demais é uma incógnita, a gente nunca sabe o que se passa na cabeça das pessoas que indicam e que votam na academia.
Assim como "Os Miseráveis" me fez quebrar o preconceito com musicais lá em 2013, 'Tick, Tick... Boom!' me fez quebrar mais uma vez este ano. Eu estou completamente maravilhado com o filme, completamente agradecido ao Lin-Manuel Miranda por nos entregar esta obra musical tão magnífica e tão intimista, completamente agraciado pela bela atuação e entrega do Andrew Garfield. 'Tick, Tick... Boom!' é sim um belíssimo drama musical, que por mais que você não goste de musicais, mas você precisa dar uma chance de ser surpreendido e impactado, assim como eu fui. [25/01/2022]
(Curiosamente eu assisti ao filme hoje, no dia 25 de janeiro, exatamente o mesmo dia em que Jonathan Larson faleceu em 1996)
O longa dirigido por Reinaldo Marcus Green e roteirizado por Zach Baylin realmente nos impressiona pela audácia aplicada em nos surpreender, em nos contar uma história em que possivelmente todos (assim como eu) achavam que seria sobre a vida das duas maiores tenistas da história - Venus e Serena Williams. Até podemos considerar que sim, que o roteiro também abrange o início da vida de cada uma (até mais da Venus), mas o fato que realmente me ganhou e me surpreendeu, é exatamente o foco em nos entregar uma cinebiografia pela perspectiva do Richard Williams (o pai delas, que foi magistralmente interpretado por Will Smith).
O roteiro de Zach Baylin nos confronta diretamente com a verdadeira fé, garra, força, motivação, ambição, determinação por parte do Richard, ao focar no treino das filhas usando seus métodos próprios para torná-las campeãs. Richard já havia traçado o seu plano em sua cabeça de tornar as suas filhas campeãs desde o início, ele sempre esteve focado nesse objetivo como pai, como treinador, como incentivador, enfrentando todas as suas dificuldades e principalmente com o objetivo de afastá-las das ruas, até por residirem em um bairro pobre e violento. Richard sempre teve que conviver com o preconceito, com a desigualdade, com a indiferença, até por ter sido criado na época da segregação racial, dessa forma ele estava remando contra a maré ao dedicar a sua vida em tornar as suas duas filhas negras em futuras campeãs no tênis, consequentemente um esporte voltado para os brancos.
Will Smith mais uma vez nos impressiona e nos impacta com mais uma bela atuação, assim como já havia feito em suas performances em "Beleza Oculta", "À Procura da Felicidade" e "Sete Vidas". Will Smith é um ator incrível, que usa uma versatilidade incrível em suas atuações, que consegue nos levar do riso ao choro em questões de segundos. Em 'King Richard' ele traz um personagem que era tido como um velho ranzinzo, rabugento, reclamão, chato, aquele mau humor imposto pela vida, que lhe obrigava a criar aquela casca dura pra se defender e defender a sua família de tudo e de todos ao seu redor. A caracterização do Will Smith estava muito fiel ao personagem, assim como o trabalho de maquiagem, que o deixou mais envelhecido, que nos mostrava aquele rosto sofrido e cansado. Will Smith tem uma veia para o drama, ele sempre consegue nos impactar em suas atuações, exatamente como ele faz aqui, ao nos entregar um personagem que está completamente carregado emocionalmente. Depois de alguns trabalhos que facilmente já poderia ter lhe rendido a estatueta do Oscar, eu acho que de fato chegou a sua hora (Will Smith já levou o Globo de Ouro e está indicado em praticamente todas as premiações).
Saniyya Sidney faz um grande trabalho ao interpretar a jovem Venus Williams, principalmente na cena do jogo final, onde podemos comprovar ainda mais o seu grande talento para atuar. Saniyya já nos chamou a atenção em "Fences", onde ela interpretava a pequenina Raynell, filha do casal Troy e Rose (Denzel Washington e Viola Davis), logo em sua estreia nos cinemas com apenas 10 anos. Saniyya Sidney está indicada no Critics à Melhor Revelação. Demi Singleton fez a Serena Williams, e de certa forma ela não teve o mesmo destaque da Saniyya, mas ai já foi uma decisão de roteiro (que explicarei adiante). Aunjanue Ellis faz a esposa Brandi Williams, sendo mais uma que entrega uma ótima atuação. Aunjanue faz aquela esposa que apoia o marido em suas decisões, que sempre está ao seu lado para o que der e vier, sempre ativa e que não aceita a submissão, tanto que uma das melhores cenas do filme é exatamente um confronto de ideias e opiniões entre ela e o Richard (Aunjanue Ellis foi indicada à Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro e está indicada no Critics). Sem deixar de mencionar o Jon Bernthal, que esteve ótimo como o treinador Rick Macci.
A fotografia do longa é boa, de certa forma até mais escurecida e acinzentada, que nos dava a dimensão de todo o drama familiar, e mesmo nas cenas em que teoricamente exigiria uma fotografia mais viva e animada (como na cena da disputa final), ela continuava com aquele tom mais denso. A trilha sonora de Kris Bowers (Green Book: O Guia) está bem dosada, bem adicionada e acompanha muito bem a trama. A direção de arte também se destaca, a cenografia é muito boa, assim como a montagem, a edição, tudo se destaca pelas riquezas de detalhes.
O roteiro de Zach Baylin nos ganha exatamente pela forma como ele decide contar a história focada propriamente no Richard Williams e não em suas duas filhas que aspiravam ao estrelato. De fato o filme é sobre o Richard, sobre a sua visão da história, sobre a sua forma adotada para treinar as suas duas filhas, até por isso que nos perguntamos: porquê será que a Venus teve um maior destaque (um maior tempo de tela) do que a Serena? Até pelo fato de ela ser a mais velha e o Richard já ter em sua mente (seu plano) em tornar a Venus como a número 1 do mundo e a Serena como a maior tenista de todos os tempos - exatamente na cena em que o Richard conversa com a Serena, que por sinal é uma cena maravilhosa!
"King Richard" esteve indicado no Globo de Ouro em quatro categorias, levando apenas a de Melhor Ator para Will Smith e perdendo a categoria principal de Melhor Filme Drama para "Ataque dos Cães". No Critics o longa está indicado em Melhor Canção ("Be Alive" da Beyoncé), Roteiro Original (Zach Baylin), Revelação (Saniyya Sidney), Melhor Atriz Coadjuvante (Aunjanue Ellis), Ator (Will Smith) e Melhor Filme. No SAG o filme só aparece nas categorias de Melhor Elenco e Melhor Ator, para Will Smith. A grande disputa de "King Richard" ficará para o Oscar, que com certeza estará entre os favoritos da noite. Eu ainda não assisti a todos os indicados (até porque a lista ainda não saiu), mas eu acredito que a maior disputa de "King Richard" será com "Ataque dos Cães". Na categoria de Melhor Ator eu acredito que a disputa ficará entre Benedict Cumberbatch e Will Smith, e se eu tivesse que decidir entre os dois, seria muito difícil, mas eu escolheria o Will Smith por muito pouco, apesar do trabalho do Benedict em "Ataque dos Cães" está estupendo. Já pensando na disputa de Melhor Filme somente entre esses dois, eu daria a estatueta para "Ataque dos Cães", que por mais que "King Richard" seja carregado em um excelente drama familiar verdadeiro, "Ataque dos Cães" é mais completo, mais surpreendente e mais fantástico como um todo. [18/01/2022]
Um elenco estrelado por Lady Gaga, Adam Driver, Jared Leto, Jeremy Irons, Al Pacino e o gênio Ridley Scott na direção, é a verdadeira receita para o sucesso. O longa é baseado no livro The House of Gucci: A Sensational Story of Murder, Madness, Glamour, and Greed, escrito por Sara Gay Forden.
Eu diria que o último filme excelente do Ridley Scott foi "Perdido em Marte", de lá pra cá seus últimos trabalhos foram de razoáveis para ruins, como é o caso de "Todo o Dinheiro do Mundo", que por sinal é um filme muito ruim. Casa Gucci chega para quebrar esta sequência ruim do Scott, e de fato o longa é muito bom, muito divertido, muito gostoso de acompanhar, te prende desde o início até o final dos créditos.
Começando pelos pontos positivos: Temos uma direção de arte estupidamente perfeita, com uma cenografia e uma ambientação do mais alto nível de qualidade. É realmente impressionante como os cenários do filme são perfeitos e estão perfeitos, como os carros, as cidades, as casas, os móveis, são tudo muito fiéis ao fato do longa se passar entre os anos 70 e 90, e justamente todos os detalhes corroboram para a qualidade ser cada vez mais sentida e mais perceptível. As maquiagens e cabelos também estão muito bem ajustadas pra época, assim como os figurinos do mais alto padrão de requinte e elegância (como os inúmeros modelitos usados pela Patrizia Gucci), e de fato não poderia ser diferente em um longa justamente sobre os padrões da moda.
A fotografia de Dariusz Wolski é muito bem destacada ao longo da trama e colabora intensamente em cada cena, principalmente entre os cenários mais abertos e gelados, onde os contraste de cores da fotografia tende a melhorar muito. A trilha sonora de Harry Gregson-Williams é um casamento perfeito com a trama e acompanha muito bem os passos dos personagens. Com músicas conhecidas (algumas Italianas) e destacadas dentro do mundo da moda, que intensifica ainda mais as qualidades técnicas do longa (teve várias cenas em que sem querer eu me pegava cantando as músicas, principalmente ao final).
O ponto mais positivo do longa do Ridley Scott é sem dúvidas o elenco e suas atuações, que simplesmente estavam completamente impecáveis. Pra mim a melhor atuação do filme é sem dúvidas do Jared Leto, que nos entrega mais um belíssimo trabalho na pele do Paolo Gucci. É realmente impressionante a sua capacidade de caracterização, de concentração, de interpretação, de atuação, com aqueles seus trejeitos e sotaques, que o deixou completamente irreconhecível, que me deixou completamente embasbacado e se perguntando se realmente era o Jared Leto ali. Mais um trabalho de alto nível e de grande entrega, assim como ele já havia nos impressionado em 2014 em "Clube de Compras Dallas" (trabalho que lhe rendeu o Oscar). Que ator que é esse Jared Leto senhoras e senhores! Ele está indicado no Critics Choice e no SAG Awards na categoria Ator Coadjuvante, e com certeza brigará no Oscar pela estatueta junto com Kodi Smit-McPhee. (sem esquecer do BAFTA)
Lady Gaga é a segunda melhor do filme. Mais uma atuação em alto nível, assim com ela já havia nos entregado em "Nasce uma Estrela", que por sinal briga em pé de igualdade pela a sua melhor atuação. É difícil apontar em qual dos dois trabalhos ela está melhor, acho que são trabalhos diferentes e atuações completamente opostas, mas o fato é que são performances memoráveis e prazerosas. Gaga traz uma personagem que tem muitas vertentes, muitas facetas, que consegue navegar com muita propriedade no drama, na comédia, na sátira, na ira, se passando por uma boa moça para conseguir conquistar a sua presa e ainda mais maquiavélica para planejar e atacar. Uma interpretação que nos mostrava todo o seu poder em cena e a sua capacidade em atuar de forma serena e de forma letal, fazendo aquele contraponto no drama e no cinismo - SENSACIONAL - vide a sua última cena no tribunal (que performance meus amigos). Gaga esteve indicada no Globo de Ouro (mas não levou), está indicada no Critics Choice e no SAG Awards, e com certeza estará no BAFTA e no Oscar. Agora se de fato ela vai levar, aí já é outra história.
Adam Driver esteve muito bem como Maurizio Gucci, o grande ponto em questão do filme, o divisor de águas. Uma atuação muito segura, jogando na segurança, sem sair da sua zona de conforto, porém sem um grande destaque (como foi com a Gaga e o Leto), mas de fato conseguiu manter o padrão de atuação de todo o elenco. Jeremy Irons também entrega uma atuação bem fiel ao personagem, contribuiu muito bem. Assim como o mestre Al Pacino, que nos deu muitas risadas com seu personagem mais cômico. Em questões de atuações não tem muito o que falar de Al Pacino, sempre será aquele gênio que já estamos acostumados. Completando o elenco ainda tivemos a Salma Hayek como Giuseppina "Pina" Auriemma, com ótimas cenas com a Patrizia por sinal. Jack Huston como Domenico De Sole e Camille Cottin como Paola Franchi (uma personagem um tanto quanto estranha eu diria).
Agora os pontos negativos: Eu diria que o roteiro do longa não é nada excepcional, nada muito complexo, de fato não é um ponto fora da curva. Eu diria que é um roteiro bem simples, até pelo fato da própria história da família Gucci ser encontrada facilmente na internet, e ainda por cima o wikipédia entrega todos os acontecimentos e exatamente o que acontece com o Maurizio Gucci e todos os seus envolvidos. Então em questões de roteiros não tinha muito o que fazer, realmente teriam que jogar na segurança, como de fato fizeram. Outro ponto que me incomodou foi os avanços no tempo do filme, eu achei muito rápido e de certa forma até sem coesão, com acontecimentos que saltavam de um lado para o outro de uma forma muito abrupta, com uns cortes de cenas mal feitos. Acho que isso se deu pelo fato do filme querer abranger toda a história da família Gucci, desde lá no início quando a Patrizia conhece o Maurizio, até os acontecimentos finais de cada um. Exatamente por isso que o roteiro acelerava muito em algumas passagens de tempo.
Casa Gucci foi completamente esnobado no Globo de Ouro, com apenas uma indicação para Melhor Atriz em Filme Drama para Lady Gaga. No Critics Choice Awards o longa aparece indicado nas categorias Melhor Atriz para Gaga e Melhor Ator Coadjuvante para Jared Leto, além de Melhor Figurino e Melhor Cabelo e Maquiagem. No SAG Awards o filme concorre em Melhor Ator Coadjuvante para Jared Leto, Melhor Atriz para Gaga e Melhor Elenco. No BAFTA saiu uma pré-lista de indicados e o filme aparece em várias categorias, inclusive nas principais (agora é esperar a lista de indicações definitivas). Agora a minha grande dúvida é no Oscar, em quais categorias o filme aparecerá? Será que ficará apenas com as categorias técnicas de figurino, cabelo e maquiagem? A Lady Gaga com certeza estará indicada à Melhor Atriz, mas e o Jared Leto? A Academia vai bancar a sua indicação? E Melhor Filme? Será que o Longa aparecerá entre os indicados na principal categoria da noite? Eu acredito que não.
Casa Gucci é um ótimo filme, muito leve, muito prazeroso, daqueles que nos diverte e prende a nossa atenção o tempo todo dentro da sala de cinema. De fato o novo trabalho do Ridley Scott tem sim seus probleminhas de roteiros, mas nos ganha pelas belíssimas qualidades técnicas e um elenco que entrega atuações afiadíssimas. Eu adorei o filme do início ao fim, me divertiu demais e me deixou completamente paralisado na cena final da Gaga no tribunal - quando ela profere a frase - 'You can call me Signora Gucci' - fechando com chave de ouro ao som da bela canção "Baby Can I Hold You" de "Luciano Pavarotti & Tracy Chapman" - simplesmente magnífico! [17/01/2022]
Jane Campion (campeã do Oscar de Melhor Roteiro Original pelo "O Piano" de 1993) escreve e dirige o longa que é baseado no romance de mesmo nome de Thomas Savage (escritor americano falecido em 2003).
Campion nos traz uma obra enigmática e muito inteligente que usa como pano de fundo o cenário do faroeste, que necessariamente pode ser considerado um ambiente predominantemente masculino, para tocar em pontos como a intolerância, a rivalidade, a dualidade, o machismo, a homofobia, a intransigência e até o alcoolismo e a opressão. Campion não faz questão de retratar a sua obra de uma forma completamente aberta (onde tudo esteja bem explicado), ela usa de uma forma que tudo esteja nas entrelinhas, que necessariamente ocorra em subtextos com um misto de ríspido e delicado, agressivo e sensível, tenso e suave, o que nos deixa completamente imerso na trama.
O roteiro de Jane Campion é bem escrito, bem trabalhado, bem orquestrado, bem transportado para a tela, onde tudo funciona com autenticidade e coesão. Como a maneira em que é mostrada aquela certa rivalidade entre os dois irmãos, mas de uma forma leve e não completamente aflorada. A inveja também é destacada juntamente com a oposição, mas sempre de uma forma sutil. A descaracterização, a quebra de barreiras, a intolerância, a desconstrução da imagem, o confronto de ideias, tudo está nas entrelinhas do roteiro. Campion acerta exatamente nessa forma que o roteiro tem de lidar com cada ponto em que é trazido para a trama, onde nos prende pela sutileza, pela curiosidade, por despertar a nossa vontade de querer ir cada vez mais além.
Phil Burbank (Benedict Cumberbatch) é aquele típico personagem com pinta de 'caubói machão', um ser inatingível, intocável, superior, que fazia o que queria e falava o que queria. Um ser prepotente, invejoso, odioso, preconceituoso, intolerante, mas no fundo era vazio, amargurado, infeliz, que vivia de aparências e com um rótulo que no fundo não o representava verdadeiramente. Benedict Cumberbatch entrega uma atuação completamente primorosa, genial, forte, impactante, com uma grande entrega e uma performance magnífica. É realmente impressionante o quanto Benedict estava incorporado no personagem, pelo seus trejeitos, suas expressões faciais, seu linguajar chulo e pesado - sensacional! Benedict Cumberbatch estava indicado no Globo de Ouro na categoria Melhor Ator (perdendo para o Will Smith, por 'King Richard: Criando Campeãs'). Ainda está indicado no Critics, no SAG's e com certeza também estará no BAFTA e no Oscar.
Peter (Kodi Smit-McPhee) é aquele contraponto do Phil, é completamente o inverso do rótulo de 'caubói machão'. Peter é um jovem doce, sonhador, sensível, delicado, que ainda está se descobrindo. Outro acerto do roteiro da Jane Campion é exatamente o confronto/embate entre Phil e Peter, sendo muito necessário para o desenrolar de toda a trama e com um plot twist completamente avassalador, curioso, impressionante e magnífico. Kodi Smit-McPhee traz um personagem com uma grande carga dramática, que nos entrega toda essa dramaticidade em cena, chegando ao seu ápice em sua última cena, quando ele está sentado com o rolo de cordas feito pelo Phil no chão - perfeito! Kodi Smit-McPhee está no papel da sua vida em "Ataque dos Cães", sendo muito bem premiado com o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante. Ele também está indicado no Critics, no SAG's e também estará no BAFTA e no Oscar.
Kirsten Dunst completa a trinca de ouro de "Ataque dos Cães". Kirsten é Rose, uma viúva que inicialmente vive com seu filho adolescente Peter, mas com a sua mudança de vida e até de status social, ela passa a ser confrontada por Phil (seu cunhado), o que de certa forma lhe causa muito desconforto e uma entrega ao alcoolismo, principalmente com a aproximação entre Peter e Phil. Kirsten é mais uma desse elenco que entrega uma atuação em altíssimo nível, com uma personagem sofrida, amargurada, carregada emocionalmente, que também se sentia insegura e amedrontada, dando um completo show em cena, uma aula de atuação. Destaque para a cena do jantar em que ela trava sentada no piano - uma maravilha de atuação! Kirsten Dunst foi indicada à Melhor Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro, perdendo para Ariana DeBose, por "Amor, Sublime Amor". Está indicada no Critics, no SAG's, e assim como o Kodi e o Benedict, também estará no BAFTA e no Oscar.
Jesse Plemons é George Burbank, irmão do Phil e casado com a Rose! Na minha opinião, Jesse entrega uma atuação ok, nada surpreendente, mas é notável que ele está abaixo do trio mencionado acima.
A detalhista trilha sonora de Jonny Greenwood acompanha cada cena com muita harmonia, conseguindo nos aproximar de cada personagem e nos imergindo profundamente na trama (aquela típica trilha sonora que é o coração do filme). A fotografia de Ari Wegner é completamente sublime e genial. A própria Jane Campion faz um trabalho absurdo na direção do longa. Aqueles focos de câmeras mais abertos nos dava a exata dimensão de como era filmar em um cenário que se passava no ano de 1925, assim como os focos mais fechados dentro do estábulo e nos rostos dos personagens. A cenografia, edição, direção de arte, figurinos, tudo muito perfeito e feito com muito amor à arte cinematográfica.
O longa de Jane Campion beira a perfeição, porém: o ritmo inicial do filme é lento e demora um pouco para engrenar, não chega a ser arrastado, mas confesso que me incomodou um pouco. Isso não quer dizer que o filme seja cansativo, apenas não consegui me envolver logo de cara, talvez pelo tom mais pacato inicialmente. Isso não tira o brilho dessa maravilhosa obra, apenas um certo pontinho que eu não poderia deixar de mencionar.
O mais interessante do longa é a forma como ele te dá margens para algumas interpretações como:
Peter pode ser considerado uma vítima inicialmente, mas como o passar do tempo você o descobre como o verdadeiro vilão. Me pareceu uma espécie de comportamento psicopata, por sua forma de acariciar os animais e logo após matá-los. O que me leva a acreditar que ele possa ter matado o próprio pai para proteger a mãe, pelo fato do pai também ser um alcoólatra. Também acredito que o Peter premeditou a morte do Phil, até pela cena em que a Rose vê o Peter e o Phil partindo sozinhos para as montanhas, o que poderia a fazer acreditar que seu filho estivesse em perigo sozinho com o Phil, quando na verdade quem estava em perigo era o próprio Phil, porquê a Rose já sabia do que seu filho era capaz.
A própria Rose ora poderia ser a vítima, ora poderia também ser a vilã, por nutrir um certo ciúme para com o seu filho, ou até por saber do que seu filho era capaz (por ela saber que ele era um psicopata) e talvez pelo seu próprio desejo que seu filho matasse o Phil.
Phil por sua vez é o ser mais mascarado da história, que mais tem a esconder, que mais vive de aparências. Eu acredito que o Phil teve um certo romance com Bronco Henry, até pela forma amável em que ele sempre fala dele e pela a cena em que o Phil conta para o Peter que o Bronco Henry salvou a sua vida quando ambos dormiram juntos e pelados, ou até posso considerar que o Phil foi abusado. Na verdade o Phil era exatamente como o Peter quando era jovem, também tinha aquele jeito meio afeminado, o que de certa forma o fez criar aquela aparência de 'machão' e aquele jeito intolerante com o Peter, para esconder o seu verdadeiro segredo. Eu confirmei a minha tese exatamente na cena em que o Peter acha o local secreto do Phil, onde ele guarda as revistas de fisiculturismo.
Na verdade o Peter tem aquele jeito frágil, afeminado e inocente, enquanto o Phil aquele jeito de 'machão', carrancudo e intolerante, mas um é exatamente o inverso do outro. Peter é de fato o letal e o Phil a vítima final.
Com certeza o Peter matou o Phil no final quando o entregou o couro do boi contaminado, contaminando o corte na mão do Phil. Isso fica bem claro quando o Peter começa a fumar aquele cigarro na frente do Phil, como uma forma de comemorar a execução do seu objetivo. Objetivo esse em que a Rose também tem a sua parcela de culpa, por ajudar a sumir com todos os couros da fazenda (dando para os índios), uma forma que ela encontrou de ter o único couro do boi contaminado para que o Phil terminasse a corda do Peter. Está ai mais uma prova de que a Rose não era tão vítima quanto parecia.
No Globo de Ouro "Ataque dos Cães" teve indicações nas categorias Melhor Trilha Sonora (Jonny Greenwood), Melhor Roteiro (Jane Campion), Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante que já mencionei acima, além das estatuetas por Direção para Jane Campion, Melhor Ator Coadjuvante para Kodi Smit-McPhee e a principal categoria da noite - Melhor Filme Drama. No Critics Choice Awards o longa está indicado nas categorias Trilha, Edição, Fotografia, Roteiro Adaptado, Elenco, Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante, Ator, Diretor e Melhor Filme. No SAG Awards o longa aparece indicado em três categorias: Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante e Ator.
"Ataque dos Cães" é um dos grandes favoritos para esta época de premiações, com certeza o longa aparecerá em várias categorias no BAFTA e no Oscar. No Oscar eu aposto em indicações para trilha sonora, fotografia, os três atores já mencionados, direção e com certeza a Melhor Filme. E digo mais: o longa de Jane Campion é um dos fortes candidatos para levar o maior prêmio da noite, mesmo sem ainda ter conferido os demais concorrentes. [15/01/2022]
É inegável que 'Matrix' (1999) moldou o mundo cinematográfico, revolucionou completamente os efeitos especiais nos cinemas. O longa das irmãs Wachowski era atemporal, à frente do seu tempo, serviu de inspiração para várias produções dos cinemas, e muitas coisas são tiradas de 'Matrix' até os dias atuais.
O primeiro 'Matrix' é uma obra-prima do cinema mundial, o segundo e o terceiro são ótimos e se complementam muito bem, dando assim um final perfeito para a trilogia (na minha opinião sem a menor necessidade de um quarto filme). O meu primeiro contato com 'Matrix' foi em 1999, quando consegui a locação da fita VHS para assistir como muitas dificuldades em meu primeiro vídeo cassete de míseras 4 cabeças (quem viveu na época sabe muito bem do que estou me referindo). Me apaixonei pelo o filme, me tornei fã, e a partir do segundo já acompanhei nos cinemas (o terceiro 'Matrix' junto com 'Homem Aranha 2' foram os filmes de maior lotação que eu já assisti em uma sala de cinema).
Eu nunca fui a favor de reviver franquias do passado, de trazer produções que já construíram os seus sucessos, que já criaram as suas histórias em suas épocas. Acho que a magia se encontra exatamente nesse ponto, em poder manter vivo na memória todo o brilhantismo e grandiosidade que um determinado filme/franquia construiu em seu tempo (sim, eu sou nostálgico e saudosista). Temos vários casos em que decidiram reviver uma franquia do passado depois de alguns anos e que não deram certo: como "Jogos Mortais", "Aliens", "O Exterminador do Futuro" e com certeza "Matrix" acabou de entrar nessa lista.
Matrix Resurrections funciona como um reboot na primeira hora do filme e a partir da segunda ele tenta expandir todo o seu universo (de uma forma bem falha por sinal). O mais novo filme da franquia aposta novamente nas irmãs Wachowski (dessa vez com Lana na direção e Lily no roteiro) como também aposta em 'quase' o mesmo elenco.
Eu vou ser bem sincero, pra mim o longa funciona apenas pelo grande saudosismo da franquia e só. O filme é bem mediano, tem vários problemas, a começar pelo roteiro, que também é mediano (pra não dizer inteiramente ruim). O roteiro é mal escrito, básico, preguiçoso, que tenta se segurar unicamente pelo o que já construiu lá atrás, como o fato de a todo momento ficar nos mostrando inúmeros flasbacks de cenas dos filmes anteriores (como uma forma de tentar comprar a nossa atenção a qualquer custo). O ritmo do filme é lento (até meio arrastado), falta emoção, falta imersão, falta ação, principalmente nas lutas, que por sinal são muito ruins se comparadas com os filmes anteriores. Por falar em lutas, elas não foram bem coreografadas, pelo contrário, foram bem preguiçosas.
Matrix sempre se destacou em seus efeitos especiais (um dos pontos cruciais da trilogia). Nesse quarto filme por incrível que pareça eu senti falta de uns efeitos especiais à nível dos filmes passados (e olha que estamos falando de 18 anos atrás). A direção não é mais a mesma, o trabalho de câmeras está muito distante de nos imergir e nos empolgar nas cenas de lutas como fazia anteriormente (como aquela belíssima cena do Neo lutando contra milhares de agentes em Matrix Reloaded). A trilha sonora é até funcional, consegue se destacar em algumas cenas (principalmente na abertura). Assim como a fotografia que também é muito boa.
Em questões de elenco é nostalgia pura! Poder rever Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Anne Moss) juntos novamente depois de tantos anos é completamente emocionante. Na minha memória a todos os momentos aparecia a figura daquele Neo do Keanu Reeves novinho, sem barba, de cabelos curtos, que logo era sobreposto por um Neo mais velho, barbudo, cabeludo. Em questão de atuação não tenho muito o que falar: Neo do Keanus Reeves é um personagem que já virou um clássico (apesar de sentir falta daquelas lutas bem coreografadas no maior estilo Neo). A Trinity da Carrie-Anne Moss é outra personagem clássica (possivelmente a principal personagem de sua carreira). O problema é o fato da Trinity ser mal aproveitada, senti falta de uma participação maior, principalmente junto com o Neo, como aquele casal incrível que aprendemos a amar lá no início dos anos 2000.
É completamente notável e sentida a enorme falta que o Morpheus do Laurence Fishburne faz para o filme, tanto é que não paramos de rever as suas cenas em constantes flashbacks. Mas devo confessar que o Yahya Abdul-Mateen II entrega um ótimo Morpheus, com um carisma na medida certa e uma ótima atuação. Jonathan Groff como Smith eu não gostei, caricato demais, não funcionou. O Smith do Jonathan Groff é completamente esquecível e está muito, muito, muuuuuito longe do agente Smith do grande Hugo Weaving. O projeto de vilão mal executado do Neil Patrick Harris é uma tristeza de tão ruim, aquele típico vilão canastrão, cheio de frases de efeito e que definitivamente é mais um personagem completamente esquecível nesse filme. Uma grata e feliz surpresa foi a Niobe da Jada Pinkett Smith, que assim como o Neo e a Trinity, me encheu de nostalgia e emoção.
Matrix Resurrections bate exatamente naquela tecla que eu já destaquei acima, que é o fato de trazer uma franquia que deu certo lá atrás para os dias atuais, sendo que dificilmente dará certo novamente - estamos diante de mais uma prova disso! Para quem é fã de longa data (assim como eu) irá sentir aquele saudosismo pelo elenco, pelas irmãs Wachowski, pela trilha sonora e principalmente por ser 'Matrix' e contar com o Neo e a Trinity em cena, porquê definitivamente 'Matrix Resurrections' se segura unicamente pela nostalgia. [08/01/2022]
Adam McKay veio da comédia, sempre esteve presente nesse meio escrevendo e produzindo. A partir de 2015 ele começa a trabalhar com um tom puxado para humor negro, mais crítico, mais satírico, e nos entrega o maior sucesso de sua carreira até aqui - 'A Grande Aposta', que lhe rendeu o seu primeiro Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Em 2018 McKay trouxe seu filme mais político, 'Vice', que funciona como uma biografia, ou até um documentário sobre Dick Cheney (vice-presidente de George W. Bush), mas sem deixar de lado a comédia, a sátira, aquela crítica ácida. Em 'Não Olhe para Cima' McKay traz muitas coisas de seus filmes anteriores, como aquele tom mais político de 'Vice' misturado com aquela sátira de 'A Grande Aposta'.
O novo longa de Adam McKay é uma comédia satírica, uma crítica ácida a sociedade, as classes sociais, ao negacionismo, uma sátira à política como um todo, mostrando uma certa descrença das pessoas perante os governos, o sistema democrático e a sua capacidade de interferir, diagnosticar ou até mesmo resolver os problemas que estão por vir. É incrível como o longa de forma satírica mostra a forma como o globalismo interfere diretamente nos governos políticos, que por sua vez interfere nas mídias sociais, que por sua vez interfere e até controlam a população.
O roteiro de Adam Mckay é absurdamente inteligente e funcional, aquele típico roteiro que expõe, que aflora, que coloca o dedo na ferida em várias questões de uma forma muito coesa (um roteiro à nível de Oscar). Como o fato da sociedade viver em um completo negacionismo, aquela desinformação opcional (os famosos fake news), onde hoje em dia tudo é praticamente moldado via internet, onde a própria internet tem a força de moldar as nossas cabeças e passar a nos controlar como marionetes. Aqui no Brasil não é somente a internet que tem esse poder, os próprios canais de TVs (como a Globo) controlam a população e ditam o que devem seguir, acreditar, fazer - mais marionetes que isso é impossível.
É incrível como o roteiro expõe a grande jogada de marketing, a grande jogada política que a Presidente Janie Orlean (Meryl Streep) utiliza somente quando o caso está ao seu favor, mesmo que de uma forma falha. Falando da própria Presidente Americana, eu vejo como mais uma pitada do humor ácido de Adam McKay, pelo fato dos americanos nunca terem tido uma mulher no comando da "Casa Branca". Também vejo como uma cutucada no governo do ex-presidente americano Donald Trump, até pelos trejeitos e a forma debochada e ácida que a Meryl Streep trouxe para a sua personagem ao encarar os fatos, e nos caso dos EUA, isso vindo de uma Presidente mulher se torna ainda mais relevante dentro do contexto que o filme queria nos passar.
Aqui no Brasil podemos facilmente comparar o governo da Presidente americana com o nosso governo atual. Quando ela não quer que ninguém olhe para cima, seria para não ver a realidade do cometa que está vindo para a terra, ou até mesmo a verdade sobre a sua forma de governar. Podemos facilmente comparar com o nosso governo atual que exibe uma forma de governo antivacina e anti-máscara, uma forma genocida de governar, exatamente a mesma forma genocida que Janie Orlean governou. A forma descrente como o governo e toda população encarou a vinda do cometa para a terra me remete exatamente a pandemia em que vivemos, onde grande parte da população e governos encaram com a mesma descrença (e estamos caminhando exatamente para o mesmo final do filme). Ainda posso destacar a cena do salgadinho: porquê cobrar algo que já é de graça? Viver é de graça, respirar é de graça, será mesmo? Pode ser até entrarmos em convívio em uma sociedade, onde tudo dentro do sistema é cobrado - sensacional!
Um grande elenco que funciona em perfeita harmonia. É incrível como todos do elenco estão bem e entregam performances primorosas. Jennifer Lawrence e Leonardo DiCaprio seguram muito bem o filme e são os grandes responsáveis em cativar as nossas atenções. Elogiar uma atuação da grande Meryl Streep é simplesmente chover no molhado, simplesmente um show em cena. Cate Blanchett também está fantástica, é impressionante a facilidade e leveza que ela atua. Cate é aquela atriz que tudo que faz fica perfeito - genial! Tyler Perry foi o contraponto da Cate Blanchett, simplesmente um completava o outro naquele programa que tentava mascarar tudo. Uma grande atuação de Tyler Perry. Rob Morgan esteve em harmonia com a Jennifer e o DiCaprio sendo bastante importante, principalmente no começo dos acontecimentos. Jonah Hill também entrega um ótimo trabalho. Gosto muito do Jonah Hill e aqui ele foi aquele alívio cômico perfeito, aquela válvula de escape bastante funcional, o filhinho mimado da Presidente - perfeito! Mark Rylance é outro que entrega uma performance do mais alto nível. É incrível como o seu personagem funciona como uma mistura de várias personalidades que temos hoje na mídia e que são capazes de moldar as nossas cabeças - um trabalho e uma atuação completamente genial! A bela Ariana Grande atua no que ela faz de melhor, cantando e sendo uma personalidade influenciadora, exatamente o ponto certo que o filme queria nos passar. Ainda tivemos as participações do Timothée Chalamet e do Chris Evans.
Não Olhe para Cima está indicado no Globo de Ouro à Melhor Filme - Comédia/Musical, Melhor Ator em Filme - Comédia/Musical (DiCaprio), Melhor Atriz em Filme - Comédia/Musical (J Law) e Melhor Roteiro em Filme (McKay). No Critics Choice Awards o longa aparece nas categorias Melhor Filme, Melhor Elenco e Melhor Roteiro Original. No Oscar eu aposto que o longa ganhará algumas indicações, principalmente à Melhor Roteiro Original e Melhor Filme.
Podemos facilmente colocar 'Não Olhe para Cima' como um filme-documentário possivelmente fictício, baseado em possíveis fatos reais, com certeza irá se encaixar, mas também se encaixa com mais perfeição como um filme baseado em fatos bem reais e bem brasileiros.
Adam McKay ainda nos entrega a cereja do bolo na cena final em que podemos facilmente nos perguntar: realmente o ser humano poderia viver e procriar em um outro planeta? Ou talvez não? Porquê de fato os seres humanos são a maior ameaça a qualquer planeta existente. E na cena pós-créditos temos mais uma importante crítica ácida e satírica - aquela cutucada nas mídias sociais, nas redes sociais, youtubers, que aconteça o que acontecer, o importante na vida será sempre o follow e o like - sensacional! Não poderia ter uma época melhor para este filme, ainda mais para os dias atuais, com os governos atuais.
Adam McKay estou te aplaudindo de pé! [04/01/2022]
É realmente complicado falar do que Velozes e Furiosos se tornou. Sou um fã da saga desde o primeiro filme lá no início dos anos 2000. Acompanhei filme por filme, história por história, entrada e saída de personagens, tudo que que a franquia passou durante esses quase 21 anos de existência. Aprendi a amar a série, os personagens, praticamente se tornando algo da minha vida. Porém devo confessar que o rumo que a franquia tomou está cada vez mais complicado.
Eu compreendo que a franquia deveria se reinventar, deveria se adequar ao momento (ao público atual). Se você pegar um por um dos 9 filmes e assistir hoje, você notará várias mudanças, e de certa forma são mudanças necessárias, até porquê seria complicado manter viva uma franquia de 20 anos sempre no mesmo rumo. Porém devo confessar como um grande fã da saga - Velozes e Furiosos já deveria ter acabado, porque não faz mais nenhum sentido manter viva esta franquia.
Com o anúncio da nova trilogia iniciada em F8, me agradou bastante o roteiro iniciado naquele filme, porém em F9 as coisas complicaram (assim como já havia complicado nos filmes anteriores). Um dos pontos que me faz pensar que a franquia já deveria ter acabo é exatamente os roteiros. É completamente nítido que Velozes e Furiosos não tem mais pra onde caminhar, não tem mais o que inventar em questões de roteiros. F9 tem um dos piores roteiros de toda a franquia (se não for o pior), essa ideia de ficar caçando furos no passado dos personagens pra encaixar novos personagens na franquia não me convenceu, pelo contrário, eu achei bem ruim. Sempre irá aparecer um irmão, um primo, um cunhado pra conseguir compor um novo enredo baseado em um novo filme da franquia. Pra mim falta originalidade, verossimilhança, a saga já fugiu demais do que realmente era. Se reinventar depois de vários anos é uma coisa, mas apelar para ideias galhofas e estapafúrdias ai já é demais.
Em questões de elencos temos o mais do mesmo! Vin Diesel sempre dominando o seu personagem. Michelle Rodriguez sempre entregando o que ela sabe fazer de melhor na pele da Letty. A volta (para a minha alegria) da Jordana Brewster e sua doce Mia (é difícil ver a Mia e não ver o Brian). Com um destaque para a cena em que ela fala em português (a mãe da Jordana é Brasileira). Tyrese Gibson e Chris "Ludacris" Bridges já foram melhores aproveitados na franquia, hoje eles não passam de um alívio cômico em cena, assim como a própria Nathalie Emmanuel. Charlize Theron esteve muito melhor em F8, aqui é apenas uma reprise piorada da sua vilã Cipher. Lucas Black é mais um mal aproveitado nesse filme.
John Cena definitivamente entrou na franquia pra ocupar o lugar antes ocupado pelo Dwayne Johnson. A volta improvável de Sung Kang, que pra todos estava morto, mas em Velozes e Furiosos trazer os mortos pra vida novamente é só uma questão de inventar uma história e pronto. Assim como já fizeram anteriormente com a própria Letty Ortiz, e não dúvido nada que no próximo filme não tragam de volta dos mortos a Gisele da Gal Gadot (eu não duvido de mais nada). Temos uma cena inusitada porém muito boa da mamãe Shaw (Helen Mirren). Michael Rooker esteve muito bem em cena (uma grata surpresa) e ainda uma participação da Cardi B.
Infelizmente Velozes e Furiosos virou aquela franquia que hoje em dia vive pendurada no peso do próprio nome que construiu lá atrás. O fato da saga render milhões para a sua produtora virou a galinha dos ovos de ouro, aquela fonte que jamais irão deixar secar, como vemos em várias franquias hoje em dia (pra citar uma: 'Piratas do Caribe'). Para nós fãs é completamente triste ver o rumo que a saga tomou, que pra quem amava assistir anteriormente, hoje em dia é assistido apenas como uma obrigação.
E quando eu achava que já tinha visto de tudo em Velozes e Furiosos - um carro no espaço sideral? É sério? Realmente a franquia não para, ainda temos uma cena pós-créditos entre os personagens de Sung Kang e Jason Statham.
E lá vamos nós para Velozes e Furiosos 10!!! [01/01/2022]
Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City (Resident Evil: Welcome to Raccoon City)
Como um fã e amante da franquia de jogos desde 1996, e já tendo jogado todos os jogos da série até hoje, posso afirmar que dificilmente ficarei satisfeito com um filme baseado em 'Resident Evil'.
A série de filmes do Paul W. S. Anderson eu considero um completo fiasco. Assim como nunca engoli a sua ideia em exigir que a sua adorada esposa (Milla Jovovich) fosse a protagonista de toda franquia, deixando de lado todos os personagens originais dos jogos. Na minha opinião os únicos que se salvam são "Resident Evil: O Hóspede Maldito" e "Resident Evil 2: Apocalipse", este segundo com bastante ressalvas sobre o que decidiram fazer com o 'Nemesis' no filme. Do terceiro em diante é um pior do que o outro, chegando ao masterpiece de filmes que nunca deveriam ter existido - temos "Resident Evil 6: O Capítulo Final". Eu considero apenas "Silent Hill" como a melhor adaptação de um jogo de vídeo game para os cinemas.
Quando eu ouvi os boatos sobre o novo filme da franquia 'Resident Evil' eu já fiquei com um pé-atrás, ainda mais por contar com Paul W. S. Anderson na produção executiva do longa (eu peguei um ranço desse diretor). A escolha do elenco foi outro ponto que eu questionei bastante, e hoje eu vejo que não estava errado. Assim como o próprio diretor e roteirista Johannes Roberts, outro questionamento - difícil ein!
Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City é mais uma tentativa frustrada em trazer para as telonas a icônica saga dos vídeo games. O filme não é bom, tem vários problemas, assim como o próprio roteiro que é péssimo, a direção que é horrível. Essa tentativa de contar toda a história de uma franquia como RE em duas horas não funciona. Como tentaram contar as partes de Raccoon City juntamente com a mansão na floresta, onde até no próprio jogo são partes separadas em "Resident Evil" e "Resident Evil 2". Ficou uma forçada de barra muito grande do roteiro, com muitas cenas coladas umas nas outras, muita correria em desenvolver a história que por fim não obteve desenvolvimento nenhum. Muitos furos de roteiro, muitas invenções estapafúrdias, típica produção que vive de tentativas e passa as duas horas tentando acertar e no fim tudo não passa de um grande erro.
Se por um lado o roteiro é péssimo, por outro o elenco é completamente deplorável! O pior é sem dúvidas a versão de Leon S. Kennedy de Avan Jogia, que é simplesmente uma vergonha alheia de tão ruim. Um personagem bobo, sem graça, sem desenvolvimento, como se o fato de ele estar ali em seu primeiro dia de trabalho (assim como em RE2) fosse obrigatório ele ser um completo inútil. Hannah John-Kamen como Jill Valentine é outra tristeza! Eu me recusei em acreditar que aquela fosse realmente a toda poderosa 'Jill Valentine'. Totalmente descaracterizada da personagem, muito canastrona, tentado se impor como superior como a própria Jill é nos jogos, mas totalmente fora da personagem (aquela primeira cena dela no bar é de doer na alma de tão ruim). Robbie Amell como Chris Redfield não ficou bom, mas também não foi uma total tragédia como o Leon e a Jill. Tom Hopper e sua versão esquisita de Albert Wesker é outro que não ficou legal, apesar de ainda acreditar que ele poderia ter sido melhor aproveitado (ou ainda será).
Neal McDonough como William Birkin é razoavelmente bom, apesar de achar que a sua versão grotesca do icônico Boss de RE2 poderia ter sido mais aproveitada. Com um destaque para a sua versão no trem, quando o Leon tem a sua única cena boa de todo o filme. Donal Logue e sua versão caricata do Chefe de departamento Brian Irons ficou boa, teve potencial, apesar que seu final - enfim! Agora a única que ainda se salva desse elenco é a Kaya Scodelario e sua Claire Redfield. Eu gostei dela, acho que ela não fez um trabalho brilhante, mas até que estava ok, foi aceitável. Na verdade a Claire da Kaya foi a melhor caracterização de todos os personagens, principalmente ela na moto, ou com a shotgun nas mãos com aquela jaqueta vermelha (quem viveu sabe).
Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City não é completamente ruim em tudo que ele se propõe a fazer. O filme nos traz várias partes que funciona como um verdadeiro 'Fan service' (assim como Mortal Kombat fez este ano). A própria Raccoon City está fiel ao jogo. A RPD é de encher os olhos, principalmente a tomada de câmera de fora pra dentro. A sala da 'Equipe S.T.A.R.S.' aonde eles conversam entre si em uma determinada cena é perfeita. A parte que o Wesker toca o piano e se abre a porta secreta é perfeita (lembrei da Rebecca Chambers nessa hora). A Claire de moto na chuva, o caminhão desgovernado com o motorista mordido, a parte do helicóptero sobrevoando a floresta aos arredores de Raccoon City, com eles descendo na floresta e a chegada na mansão do RE1, com aquela visão inicial da mansão é maravilhosa. A cena clássica do link caindo do teto (RE2). A cena da garagem com os cachorros (faltou a Ada aparecer ali) e claro, a icônica cena da aparição do primeiro zumbi em RE1. (ainda vi uma cena com uma pequena alusão ao quarto sobrevivente de RE2)
Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City tem várias cenas que pra mim que sou um fã de longa data da franquia vai achar legal, vai trazer um certa nostalgia, mas também é só. Todo 'Fan service' que foi entregue não mascaram os inúmeros problemas do longa. Fica apenas a tentativa (mais uma vez) de nos entregar um filme à altura da grande franquia de jogos. Mas a verdade tem que ser dita: eu consegui gostar mais desse RE do que a franquia de filmes do terceiro ao sexto do fraco Paul W. S. Anderson. [26/12/2021]
Muito curiosa a cena pós-créditos entre a Ada Wong (Lily Gao) e o Albert Wesker. O que deixa claro que teremos uma continuação, o que pode ser até interessante. Ada Wong e Albert Wesker juntos, já vi muito isso (RE4), e não deu muito certo - kkkkkkkkk! (só um ponto aqui: a Ada Wong da atriz Li Bingbing era muito melhor caracterizada, ela era praticamente a cara da Ada dos games)
Quando eu assisti ao primeiro 'Mulher-Maravilha' lá em 2017, eu sai da sala de cinema completamente anestesiado e embasbacado, por tudo que havia acabado de presenciar ali. Foi realmente um "Marco" na história das adaptações em HQs, e por tudo que a Patty Jenkins trouxe para o filme e tudo que a Gal Gadot conseguiu entregar na pele da princesa guerreira. E posso afirmar que este filme faltou muito pouco para se tornar uma verdadeira obra-prima.
Infelizmente não posso dizer o mesmo de Mulher-Maravilha 1984! É realmente uma grande pena, mas a Patty Jenkins não trouxe a mesma inspiração do anterior, não conseguiu atingir a mesma grandeza, até se perdendo ou se contradizendo em algumas cenas que ela mesmo defendia a sua tese em seu primeiro filme. O roteiro por sua vez é outro ponto bastante questionável, em até certo ponto eu o coloco como um roteiro um pouco perdido, de certa forma até cansativo.
Outro ponto falho são os embates com os vilões. São lutas bem medianas e que não empolga, os próprios vilões não empolgam. Acho que poderiam dosar com um pouquinho mais de ação que não faria mal a ninguém. A própria Kristen Wiig e sua Mulher-Leopardo eu achei bem fraquinha, acho que a personagem tinha muito mais potencial do que de fato foi apresentado. O mestre/gênio Hans Zimmer sempre nos entregou trabalhos inesquecíveis, mas aqui nem ele se salvou, infelizmente!
Pontos positivos posso destacar a sempre bela Gal Gadot e sua encantadora Mulher-Maravilha, que apesar do filme não empolgar como seu anterior, ainda assim ela consegue se destacar positivamente (que casamento perfeito). Gostei muito da sua armadura dourada. Chris Pine é outro destaque com seu Steve Trevor, que assim como no anterior, aqui ele nos empolga em cada cena apresentada, principalmente nas cenas com a Diana Prince.
No mais, Mulher-Maravilha 1984 é mais um que sofre do 'mal de segundo filme'. Aquele típico caso de não conseguir acompanhar/entregar o mesmo ritmo com a mesma proporção do seu anterior. Nesse caso aqui caindo bastante em relação ao primeiro filme da 'Mulher-Maravilha - uma pena! [assistido nos cinemas em 19/12/2020 e reassistido em 24/12/2021]
Spider-Man: No Way Home (Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa)
De fato é o melhor da trilogia Tom Holland, isso é inquestionável, mas não é o melhor filme do Aranha nos cinemas. Pra mim Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa entra no top 3, mas atrás de 'Homem-Aranha 2' e 'Homem-Aranha', ambos de Sam Raimi.
Tom Holland tem a sua melhor atuação em um filme da Marvel, isso contando a trilogia 'Homem Aranha', 'Capitão América Guerra Civil' e 'Vingadores'. De fato os acontecimentos que o envolve no filme contou muito para o seu crescimento como personagem. A sacada do Multiverso eu achei sensacional, trazer os vilões antigos foi algo sublime e engrandeceu ainda mais a trama, te dando espaço pra criar inúmeras possibilidades.
Os vilões do passado foi uma jogada de mestre. Pra quem, assim como eu, viveu os filmes anteriores do Aranha, principalmente a trilogia do Sam Raimi, poder rever um por um ali presente, foi algo completamente nostálgico e satisfatório. Com um destaque para o Alfred Molina e seu sempre surpreendente Dr. Otto Octavius / Doutor Octopus. Assim como o mestre Willem Dafoe, que reviveu o seu icônico Duende Verde.
A grande cereja do bolo é de fato a aparição dos antigos Peter Parker / Homem-Aranha (grande responsável pelo o maior momento de êxtase da sala de cinema). A química alcançada pelos três em cena foi algo realmente incrível, ainda mais se falarmos dos momentos de diálogos entre Tobey Maguire e Andrew Garfield. Entregaram ótimas atuações em seus personagens e nos trouxe um pouco daquele gostinho nostálgico e saudosista do passado. Particularmente devo confessar que rever o Tobey Maguire (meu Aranha favorito) atuando novamente na pele do Homem-Aranha depois de 14 anos, foi algo no mínimo mágico.
Não posso deixar de mencionar a minha frustração (se é que podemos chamar assim) em não rever a Emma Stone como Gwen Stacy e a Kirsten Dunst como a icônica Mary Jane. Tudo bem, confesso que foi algo da minha cabeça, ainda mais se tratando da Gwen Stacy, seria pouco provável. Mas a Kirsten eu poderia apostar que ela apareceria, nem que fosse em uma pontinha, ainda mais por terem aparecidos boatos e fotos dela deixando o set de filmagem do longa.
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é mais um grande acerto da Marvel, sem dúvidas entra no hall das maiores produções do studios. Sem deixar de destacar as duas cenas pós-créditos, com ligações bastante curiosas. [18/12/2021]
Desde 2019 que não temos um filme da Marvel, sendo que de lá pra cá ela passou a investir nas séries dos seus personagens. O próprio filme da Viúva Negra foi adiado diversas vezes por causa da pandemia, o que de fato contribuiu ainda mais pra todo esse tempo.
Eu sempre achei que a Natasha Romanoff merecia ter seu filme solo, assim como o próprio Clint Barton/Gavião Arqueiro, isso desde a época dos Vingadores. Talvez este filme tenha chegado um pouco tarde demais, ou não na época que realmente deveria ter saído. Dessa forma eu vejo Viúva Negra mais como um tributo do que propriamente uma surpresa, por de fato achar que seu filme solo deveria ter saído antes da sua morte em "Vingadores: Ultimato", acho que causaria mais impacto.
Viúva Negra tem um começo muito bom, de fato a parte inicial é muito boa e conversa diretamente com o seguimento adotado pelo roteiro. Como o fato da Natasha Romanoff reviver todo o seu passado e descobrir que o programa responsável pela sua criação e treinamento ainda existir e continuar fazendo novas vítimas. Cate Shortland tem uma direção ok, afinal de contas não seria uma tarefa nada fácil contar a história de uma personagem cujo o seu final todos já conhecerem.
Natasha Romanoff sempre foi conhecida como uma espiã, porém seu filme não é propriamente uma espionagem, também temos os seus dramas e seu conflitos familiares. O longa aposta bastante na ação e traz cenas de lutas bem coreografadas, o que de fato nos faz lembrar diretamente de "Capitão América: Guerra Civil" (a própria inspiração do filme). O elenco conhecido como uma segunda família de Natasha é até funcional, apesar de achar que faltou espaço e tempo para criarmos uma empatia por cada um. Já entre as duas irmãs a empatia foi alcançada rapidamente.
Porém, mesmo com todos os pontos positivos destacados, Viúva Negra pode soar como um filme mais do mesmo, onde não temos grandes surpresas ou grandes reviravoltas. Talvez pelo fato da própria Viúva Negra já ter sido bastante explorada dentro do universo Marvel em todos os filmes que ela apareceu? Bem, eu não sei! O vilão que imita tudo que ver eu achei bem razoável, no começo eu até achei que ele oferecia mais perigo do que de fato foi entregue. O personagem Dreykov (Ray Winstone) é bem questionável.
Scarlett Johansson sempre foi uma realidade ao interpretar a Viúva Negra (como já vimos ao longo de todos esses anos) e mesmo com um certo atraso em seu filme solo, ela se despede bem da sua icônica personagem. A lindíssima Florence Pugh entrega uma ótima personagem, que consegue alcançar uma química muito boa (de irmã) com a Scarlett Johansson. A personagem Yelena me chamou bastante a atenção ao longo de todo o filme, achei uma personagem bem interessante e com muito potencial. David Harbour tem um começo promissor, mas depois fica canastrão e caricato demais, acho que deram uma pesada de mão encima do seu personagem do meio para o final do filme. Rachel Weisz é uma ótima atriz, porém pouco aproveitada no filme, eu fiquei com um gostinho de quero mais da sua personagem Melina Vostokoff.
Mesmo com todos os problemas que o longa enfrentou até a sua estreia e mesmo achando que poderiam ter lançado o filme bem antes, Scarlett Johansson consegue fechar muito bem o seu ciclo e a sua história como Natasha Romanoff/Viúva Negra.[18/07/2021]
Eu passei praticamente a minha infância e adolescência jogando Mortal Kombat nos saudosos Super Nintendo e Mega Drive. Conheço o jogo desde 1995/1996, quando na época eu não saía das extintas locadoras onde eu jogava o jogo por 1 hora 1 real. Até hoje sou um fã completamente apaixonado pela franquia de jogos e os acompanho de geração após geração. Não há como negar que Mortal Kombat, juntamente com Street Fighter e Killer Instinct, moldaram o mundo dos jogos eletrônicos de lutas.
Em questões de adaptações para o cinema temos Mortal Kombat (1995), do fraquíssimo Paul W.S. Anderson, e Mortal Kombat - A Aniquilação (1997), de John R. Leonetti. Como um fã da franquia de jogos eu curtia muito os filmes na época, até gostava mais do segundo pelo fato de apresentar mais personagens icônicos, e querendo ou não, os dois filmes dos anos 90 fizeram muito sucesso na época, agradando uns e desagradando outros. Porém eu vou confessar que os desenhos do Mortal Kombat me agradava muito mais que os filmes.
Confesso que eu não sou um fã das adaptações de jogos de vídeo games para o cinema, sendo que até hoje a única adaptação que eu achei mais aceitável foi 'Silent Hill'. Portanto eu não achava que Mortal Kombat ganharia uma nova adaptação, ainda mais depois de 24 anos. O mais novo Mortal Kombat nada mais é do que um "Fan service". Claramente podemos notar inúmeras referências trazidas dos jogos para o filme, referências essas que todos os fãs de Mortal Kombat irão vibrar ao assistir. Como os icônicos 'fatalities', desde o clássico do Kano arrancando o coração (do MK1), até um dos mais recentes, como o da serra com o chapéu do Kung Lao. Ainda temos os fatalities do Jax, da Sonya, do Shang Tsung, além do clássico dragão do Liu Kang e do bafo de fogo do Scorpion. Ainda temos referências aos golpes clássicos (como o do Liu Kang), aos cenários de lutas clássicos como a ponte (the pit), as trilhas sonoras clássicas dos jogos (ou pelo menos uma mera tentativa). Além é claro, o Kano wins, o Kung Lao flawless victory, o finish him do Shang Tsung e o Scorpion mandando o icônico get over here.
Se por um lado o novo Mortal Kombat trouxe referências clássicas e icônicas dos jogos que agradaram aos fãs, por outro o filme está mergulhado em inúmeros problemas. Começando pelo roteiro que é raso, desconexo, mal elaborado, mal explorado, com uma história pífia. Os personagens foram mal aproveitados, mal desenvolvidos, lutavam entre si sem um objetivo claro, e nem mesmo o grande torneio 'Mortal Kombat' foi apresentado. O personagem Cole Young (Lewis Tan), que a própria Warner Bros exigiu que fosse o protagonista (já eu acho que ele está unicamente ocupando o espaço que deveria ser do Johnny Cage), é a coisa mais babaca e sem nexo de todo filme. Um personagem bobo, chato, vazio, perdido, claramente sem nenhum objetivo que não fosse defender a sua família, por sinal a pior parte do filme, onde fica muito melodramático e piegas demais. E o que foi aquele projeto de Reptile que o filme nos mostrou com outro nome? RIDICULO!
O filme ainda nos entrega lutas bem coreografadas, bem desenvolvidas, bem violentas e sangrentas no estilo Quentin Tarantino, como na excelente luta inicial (por sinal a melhor parte de todo o filme). Os efeitos especiais são muito bons e funcionam muito bem. Eu destacaria a fotografia na parte inicial do longa, onde ela está sublime e completamente impecável.
Mortal Kombat é aquele típico filme que devemos assistir unicamente por sermos fãs da franquia de jogos, sem nos preocuparmos com roteiros, enredos, histórias. É aquele filme descompromissado, descontraído, feito unicamente com o propósito de entreter (e nisso ele funciona direitinho), pra assistirmos com os amigos, com a galera, pra nos divertirmos e curtirmos a porradaria como se estivéssemos na frente do Super Nintendo nos saudosos anos 90. [13/07/2021]
Um Lugar Silencioso - Parte II (A Quiet Place Part II)
Um Lugar Silencioso foi um filme de terror/suspense que mais se destacou em 2018, sendo considerado um dos melhores filmes desse gênero dos últimos tempos (pra mim um dos melhores filmes do ano de 2018).
O primeiro filme é sensacional, John Krasinski dirige e roteiriza um longa que chega a beirar a perfeição. O clima de tensão, suspense, terror psicológico, com ambientes claustrofóbicos que te obrigava a viver em extremo silêncio se comunicando apenas por sinais, é a coisa mais magnífica que eu já assisti em um filme desse gênero. Com o tamanho sucesso de críticas que Krasinski obteve, seria mais do que lógico uma continuação.
Um Lugar Silencioso - Parte II já se inicia nos apresentando (ou pelo menos tentando explicar) como seu deu a origem das criaturas, e até mesmo como era a vida antes delas aparecerem. Foi um ponto positivo que eu destaquei no roteiro do primeiro longa, em ser um roteiro mais direto e não perder tempo tentando explicar, ou até mesmo mostrar, como as criaturas surgiram e chegaram até o nosso planeta. Talvez no primeiro filme realmente não tivesse uma necessidade de acrescentar esta parte, e talvez nesse segundo se deu unicamente para o encaixe na história do personagem Emmett (Cillian Murphy).
O segundo longa de Krasinski continua com aquele clima de tensão e medo que esteve muito bem inserido no primeiro filme (não na mesma proporção). Todo os percursos e acontecimentos que ocorrem com a família Abbott está inserido naquele cenário pós-apocalíptico, que necessariamente transcende a angustia e a agonia. O filme continua te obrigando a assistir em um completo silêncio, continua te deixando tenso em cada cena apresentada. Com os maiores destaques para edição/mixagem de som, que assim como no filme anterior, também nos impressiona com a riqueza de detalhes que podemos captar com o som em diversas formas. A ambientação claustrofóbica está bem inserida, assim como a fotografia que se destaca muito bem, principalmente nas partes noturnas. A trilha sonora de Marco Beltrami está ok, apesar de achar que o trabalho que ele apresentou no primeiro esteve melhor encaixado.
Apesar de Um Lugar Silencioso - Parte II continuar naquele clima de tensão, ele perde muito a sua essência em relação ao primeiro. Eu achei que este segundo sai um pouco do suspense e parte para a ação, o que definitivamente me incomodou. Assim como está muito claro a enorme falta que fez o personagem Lee, de John Krasinski, para o roteiro (devido os seus acontecimentos no primeiro filme). Outra coisa que me incomodou neste segundo filme foi este 'novo tipo de ameaças' que eles tiveram que enfrentar ao longo do caminho.
Assim como no primeiro, Emily Blunt é o maior destaque do longa, novamente ela nos apresenta mais uma bela atuação. Cillian Murphy é a mais nova adição do roteiro e ele entrega um personagem enigmático e misterioso que funciona muito bem (apesar de me soar como um substituto para o lugar de Krasinski). Também vale ressaltar a jovem Millicent Simmonds, que neste segundo longa tem mais protagonismo e mais tempo de tela, conseguindo desenvolver muito mais a sua personagem e nos mostrar todo o seu talento na arte de atuar. A atriz Millicent Simmonds é portadora de deficiência auditiva na vida real.
Ao que tudo indica John Krasinski quer expandir o universo de 'Um Lugar Silencioso' para um possível spin-off da franquia. Acho até que se deve a isto o fato de logo ao início desse segundo filme ele querer mostrar o surgimento das criaturas. Eu particularmente não sei se este caminho vai dar certo. Um Lugar Silencioso - Parte II não é um fiasco e nem um filme ruim, mas pra mim é muito claro que ele está completamente abaixo do primeiro. Se no primeiro fomos surpreendidos por todo aquele clima de tensão e suspense, aqui isso não acontece na mesma proporção (na verdade eu senti até falta). Pra mim faltou mais imersão no terror/suspense, a direção que o longa seguiu e decidiu adotar me frustrou um pouco. O primeiro é praticamente uma obra-prima, já este segundo deixa um pouco a desejar. [05/07/2021]
Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio (The Conjuring: The Devil Made Me Do It)
Invocação do Mal é o filme de terror que mais esteve na moda (não gosto muito desse termo) desde 2013, quando o primeiro foi lançado, isso é fato. Porém devo confessar que este terceiro é o melhor da trilogia.
Dessa vez trouxeram um roteiro mais bem elaborado e mais encaixadinho, com um tom mais investigativo do que paranormal/sobrenatural (como nos anteriores). Achei muito interessante a forma como os roteiristas direcionaram e desafiaram o casal Warren, quando os confrontaram com um dos maiores desafios que eles já enfrentaram. Essa ideia de confrontar a crença humana (no caso da justiça) sobre o crime ter sido cometido, ou não, sobre o efeito de possessão é muito boa. O que me remete diretamente ao filme 'O Exorcismo de Emily Rose / 2005', quando tínhamos um linha de fatos e acontecimentos sobre a crença humana parecida.
Outro acerto do longa é o fato de não buscarem a todo momento o susto gratuito, de certa forma até dosando o uso dos famosos "jump scare". Que é um ponto que parece ser obrigatório nos filmes do gênero, ainda mais quando esse filme conta na produção com um certo James Wan. Além, é claro, a diminuição bem significativa do uso das figuras grotescas e chifrudas que o próprio James Wan adora utilizar em suas produções. O longa segue em um caminho um pouco controverso em relação a essas produções triviais, até por tentar se manter em uma linha um pouco mais racional em relação aos acontecimentos que permeia o enredo (o que é bem difícil dentro de um filme no gênero terror).
O casal Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga) é um dos grandes responsáveis por este terceiro filme da saga ir tão bem. Suas atuações como sempre estão formidáveis e conversam sempre na mesma língua. Eles já possuem uma química inquestionável há muitos anos, praticamente não tem como dar errado. O pequeno Julian Hilliard dá um show de atuação. Fico imaginando o quanto deve ser difícil interpretar uma cena de possessão para um ator veterano, imagina para uma criança de 10 anos.
Em questões técnicas o longa está bem servido - como em cenários e ambientação, que consegue transcender a tensão e todo clima sombrio/macabro. Assim como a mixagem e edição de som, que nos permite identificar nos mínimos detalhes o que está acontecendo além das nossas vistas utilizando unicamente o som. A fotografia também se destaca em diversas formas entre os vários cenários do longa.
Destaque para a cena do padre chegando de táxi e se portando de frente para a casa, o que me trouxe a clara alusão (ou até mesmo homenagem) ao "O Exorcista / 1973".
É muito notável os diversos filmes sobre possessões que temos hoje em dia, e mais difícil ainda é encontrar um que se destaque dentro desse cenário tão batido. Invocação do Mal 3 consegue esse destaque. [28/06/2021]
Me pareceu mais um documentário do propriamente um filme. Nomadland tem suas peculiaridades e seus objetivos claro, que é mostrar os desafios enfrentados pela vida que decidi levar a protagonista Fern (Frances McDormand).
Nesse ponto eu considero o maior acerto do longa, em nos mergulhar naquela forma de vida adotada por muitos nos EUA e nos confrontarmos com seus medos, suas ambições, suas decisões, suas frustrações, o que se deve ou não acatar ao longo do caminho. Outro ponto a se destacar é a inclusão das pessoas reais contracenando frente a frente com a Frances McDormand, o que engrandece ainda mais tanto o trabalho dela como atriz, quanto o trabalho da Chloé Zhao como diretora.
Falar do trabalho apresentado pela Frances é simplesmente chover no molhado, esta mulher é incrível na arte de atuar. Aqui ela nos entrega mais uma grandiosa performance, o que culminou em sua terceira estatueta do Oscar (particularmente como gosto pessoal, eu prefiro a sua atuação em "Três Anúncios Para Um Crime"). A jovem diretora chinesa Chloé Zhao faz história, tanto pelo trabalho apresentado nesse filme, quanto pela estatueta de Melhor Diretora no Oscar. Realmente o trabalho que ela nos entrega em Nomadland é fantástico.
Gostei do filme, consegui vivenciar e me encantar com a sua beleza, com a sua liberdade e com a sua poesia. Também consegui sentir aquela solidão que o filme nos passa na pele da protagonista (e de solidão eu entendo bem). Agora se de fato era pra ser o campeão de Melhor Filme do ano.......bem.....vou precisar conferir os demais concorrentes. [30/04/2021]
Annabelle 3: De Volta Para Casa (Annabelle Comes Home)
Os dois filmes anteriores são bons (ainda considerando o segundo o melhor da trilogia) e este terceiro segue na mesma linha.
Annabelle 3 cumpre bem o seu papel, apesar de achar que neste a boneca é bem coadjuvante, ficando bem de lado, mas isso não é nenhum demérito, visto que temos histórias secundárias que foram bem desenvolvidas na trama. A começar pela personagem Daniela (Katie Sarife) que trouxe seu arco pessoal para a trama e se encaixou muito bem.
A nova integrante do casal Warren, Judy Warren (Mckenna Grace) é o maior destaque (sem dúvidas). Ela rouba pra si todas as cenas, se apresentando e interpretando muito bem (gostei muito das suas expressões e seus trejeitos). O casal Warren (Vera Farmiga e Patrick Wilson) estão mais deslocados da história, mas continuam sendo importantes para o contexto.
Gary Dauberman, que escreveu os roteiros dos filmes anteriores, dessa vez está na direção do longa, e até certo ponto ele entrega um roteiro ok dentro do padrão que se propõe o 'The Conjuring Universe'. Aquele toque de James Wan com suas figuras chifrudas e grotescas, que mais me fazem rir do que assustar, que sempre esteve nos filmes anteriores da Annabelle, nesse também está presente - o que de certa forma pra mim é um ponto negativo, mesmo sendo este o universo da Annabelle. Mas devo concordar que aqui suas aparições estão mais medianas.
Dentro desse contexto Annabelle 3 consegue se destacar, até por não abusar demais nos famosos "jump scare" e manter aquela linha mais feijão com arroz e jogar na segurança do que já havia feito no passado. Pra mim funcionou! [23/06/2021]
Um filme que eu tinha uma grande expectativa para assistir, e quanto mais expectativa mais o risco da frustração. Dito e feito!
Eu sempre curti e acompanhei esse 'MonsterVerse' da legendary. Aqueles típicos filmes unicamente pra descontrair, se empolgar e se divertir. Mas eu confesso que eu esperava mais do embate dessas duas figuras, ou pelo menos não da forma que se desenrolou. Principalmente a parte do Kong com a 'Terra Oca' (que é bem mal explorada por sinal) e a parte final, aonde acontece a última luta entre todos os envolvidos (definitivamente não gostei dessa parte).
Não posso reclamar muito do roteiro, porque vindo de um filme desse gênero não podemos esperar grandes coisas. Mas é um roteiro totalmente perdido e bagunçado, naquela linha que coloca a narrativa no moto automático e segue em frente.
Agora tem suas qualidades - como os efeitos visuais que estão incríveis e nas cenas de lutas são de saltar aos olhos, e que cenas de lutas bem feitas por sinal. A qualidade sonora também é incrível, fico imaginando como seria esse filme em uma sala XD do cinema.
No mais é só! Apenas cumpre o seu papel que é entreter! [16/06/2021]
Quando eu assisti ao primeiro filme lá em 2017 eu achei um tanto quanto interessante, gostei de algumas coisas e outras já não curti tanto assim. Na minha opinião o maior acerto daquele longa era sem dúvidas o elenco infantil (que deram um show), juntamente com o Pennywise (Bill Skarsgård).
IT2 traz a mesma fórmula do primeiro - sendo novamente dirigido por Andy Muschietti e roteirizado por Gary Dauberman. Em questões de direção Muschietti faz um trabalho convincente e competente, na medida que ele utiliza de diversos tipos de ângulos e tomadas de câmeras ao longa da trama. Com destaque logo para o início do filme com a cena do ataque na ponte, a cena da reunião no restaurante chinês, as cenas do parque de diversões juntamente com a sala de espelhos. Temos várias cenas ao longo do filme em que percebemos o seu trabalho se sobressair. A fotografia do longa também está muito bem trabalhada, juntamente com aquele contraponto de cores com a escuridão. É muito perceptível como a fotografia se destaca ao longo do filme - como no início e na metade do filme no parque de diversões, várias cenas que se passa na cidade e nas redondezas de Derry. A trilha sonora está à cargo do compositor Benjamin Wallfisch (que também esteve no primeiro IT), e de certa forma está mediana, consegue acompanhar bem as cenas mais descontraídas e as cenas mais tensas. A trilha sonora não é um grande destaque, mas também não chega a comprometer.
Já no roteiro não podemos esperar grandes coisas - pra ser bem sincero é um roteiro bem clichê, onde só de lermos a sinopse já imaginamos todo o filme (e assim ele transcorre até o final). O maior acerto do roteiro é a volta da reunião do "Losers Club" depois de 27 anos, agora com cada personagem na sua fase adulta, onde cada um tem suas próprias vidas seguindo os seus próprios caminhos. Destaco o ponto que eu mais gostei do enredo: o fato de cada um retornar para a cidade de Derry e naturalmente todos os seus traumas, medos e frustrações de infância retornarem com eles, ou possivelmente eles não retornaram, mas estiveram todos esses anos guardados com cada um. A partir de então o filme passa a ficar bastante interessante, ao começarmos a acompanhar cada um revivendo o seu passado em um determinado local da cidade. Cada passo da sua vida adulta era um contraponto com a figura de cada um na sua infância, revivendo seus traumas quando encontravam um local ou algo que revivia os seus pensamentos passados. Pra mim esta parte ficou muito funcional, achei uma sacada muito boa do roteiro em expor a figura adulta com a figura da infância ali frente a frente no mesmo local revivendo o que viveram 27 anos atrás (e principalmente porque muitas das coisas que foi revivida não foram mostradas no primeiro IT).
Embora as subtramas de cada personagem tenha me agradado, eu acho que o roteiro se alonga demais, se estica demais, ao ponto de se tornar cansativo. Claramente o roteirista queria dar bastante ênfase em cada personagem na sua vida adulta fazendo um contraponto com a sua infância. Porém, se pegarmos o início do filme (até a reunião do grupo), passando pelas subtramas, até chegar no embate final com o Pennywise, fica claro que o roteirista Gary Dauberman deu uma pesada na mão (por mais que o filme seja uma adaptação da obra de Stephen King). Eu acho que o filme ficou longo demais e na minha opinião não era necessário quase 3 horas de duração, podendo facilmente retirar uns 30 minutos.
As escolhas dos atores eu achei acertadíssimo, com uma semelhança incrível das crianças do primeiro filme. Era como se cada um ali fosse realmente a forma adulta de cada criança. Jessica Chastain pra mim é a melhor de todos no elenco! Sua aparência com a Beverly de Sophia Lillis está incrível - pelos cabelos, o tom de pele, a sua expressão, seus olhares e seus gestos. Não poderia ter uma atriz melhor pra viver a Bev adulta do que a Jessica Chastain. Jessica entregou a melhor atuação do filme, tanto em questões emotivas, dramáticas, com um gestual e uma expressão que condizia muito bem com o que a sua personagem havia vivido no passado (destaque para a cena em que ela chega na sua antiga casa e descobre o que aconteceu com o seu pai). Assim como a jovem Sophia Lillis (que é uma graça de atriz), que assim como no primeiro IT, aqui também ela deu um show de interpretação e atuação.
James McAvoy também foi um escolha bem acertada para viver o Bill Denbrough de Jaeden Lieberher na fase adulta. McAvoy conseguiu fazer o contraponto perfeito com o Jaeden, principalmente nas cenas em que os dois estavam contracenando juntos. McAvoy é um belíssimo ator e parece que não existe um trabalho que ele não faça com o amor na arte de atuar. Jay Ryan é o que mais sai do personagem Ben Hanscom de Jeremy Ray Taylor, muito pela a sua forma física de infância e de fase adulta - porém ambos fizeram um bom trabalho. Bill Hader e Finn Wolfhard fizeram o Richie Tozier em suas duas fases e ficou bastante convincente. Isaiah Mustafa foi um personagem bastante curioso em interpretar a fase adulta de Mike Hanlon, principalmente pelas suas escolhas em relação a fase de infância do Mike de Chosen Jacobs - Mike adulto foi o responsável pela união do grupo depois dos 27 anos, e eu achei interessante. James Ransone e Jack Dylan Grazer fizeram o Eddie Kaspbrak em suas duas fases e entregaram um bom trabalho. Assim como Andy Bean e Wyatt Oleff, que interpretaram as duas fases da vida de Stanley Uris - porém ambos não foram grandes destaques, muito pelas escolhas de roteiro para com os seus personagens.
Bill Skarsgård faz novamente um ótimo trabalho na pele do Pennywise. Apesar que aqui temos uma menor exploração sobre o próprio Pennywise em relação ao IT1. Acho que pelas escolhas de roteiros com as subtramas das fases adultas das crianças, o Pennywise acabou ficando bastante coadjuvante. Mas o trabalho multifacetado de Bill Skarsgard continua sendo um show à parte, ele entrega mais uma vez um Pennywise tenebroso, sombrio, macabro, com um gestual e umas expressões de nos deixar boquiabertos (e assustados também). E pra quem prefere assistir filmes legendados (assim como eu), vai se espantar com o tom que ele impõe em sua voz e a maneira como ele utiliza a sua voz na interpretação do palhaço Pennywise - é mais um detalhe desse trabalho fantástico de Bill Skarsgård.
Porém, assim como eu já havia relatado em minha crítica de IT1 lá em 2017, quando mencionei que o diretor Andy Muschietti exagerava demais nos efeitos especiais em cima das criaturas bizarras (como ele também já havia feito em "MAMA", de 2013). Aqui ele persiste no mesmo erro (pelo menos na minha opinião), que é colocar um certo exagero de efeitos especiais em suas criaturas (como no próprio Pennywise), achando que de alguma forma isso impactará ou causará os famosos 'Jump scare' em seus espectadores. Bem, pode até funcionar para alguns, mas não funciona pra mim, de certa forma eu acho muito bobo e até mal feito, chegando até achar engraçado ao invés de assustador (que é o claro intuito). Mesmo compreendendo que essas escolhas não passam apenas pelo diretor, mas também pelos roteiristas, produtores e outros mais envolvidos no filme. E mesmo se tratando de um 'terror trash', eu acho que tem partes que o filme viaja demais (poderiam dar uma segurada), e dessa forma este modo James Wan de Andy Muschietti não me agrada tanto.
Entre erros e acertos, 'It – Capítulo Dois' consegue ser um bom filme de terror, conseguindo nos prender (apesar do seu longo tempo) e nos entreter. Mas é o típico filme que dividirá centenas de opiniões, acho que até desagradando mais do que agradando. Pra mim ele desagrada em umas coisas e agrada em outras, mas de certa forma as partes que me agradou supera as que me desagradou, e no final eu gostei do filme [20/05/2020]
Sam Mendes (do icônico "Beleza Americana") dirige, produz ( juntamente com Jayne-Ann Tenggren, Callum McDougall, Pippa Haris e Brian Oliver) e roteiriza (também com Krysty Wilson-Cairns) o longa. E o interessante é o fato do enredo ser vagamente baseado em uma história contada a Sam Mendes por seu avô paterno, Alfred Mendes. Onde podemos acompanhar a narrativa sobre dois jovens soldados britânicos durante a primeira guerra mundial, quando lhe é designado a missão de levar uma carta transmitindo a mensagem que salvaria da emboscada alemã cerca de 1600 soldados.
1917 é contado a partir de uma pequena passagem na primeira guerra mundial, o que eu já acho um fato totalmente plausível de todos os elogios que o longa recebeu. Fazer um filme sobre a segunda guerra mundial em diante, teoricamente é mais fácil, até por ainda ser possível encontrar relatos, contos e até pessoas que viveu à época que ainda podem contar algumas passagens. Mas a primeira guerra mundial é bem mais difícil, é muito mais complicado partir de um relato que aconteceu naquela época (ou até uma pequena passagem, como é o fato contado aqui). Nesse quesito encontramos a peculiaridade de 1917, em conseguir nos imergir em uma passagem tão antiga de uma forma tão cativante.
O longa se passa em um período de guerra, trata sobre o tema guerra, mas não é propriamente um filme de guerra e sim um suspense, um drama vivido pelos jovens cabos William "Will" Schofield (George MacKay) e Thomas "Tom" Blake (Dean-Charles Chapman). Este é o grande trunfo de Sam Mendes, nos mergulhar em uma obra singular, peculiar, nos trazer uma experiência imersiva, cativante, que nos despertava a empatia pelos jovens que estavam envolvidos na missão. Um ponto que engradece ainda mais a obra, a maneira como acompanhamos os passos dos soldados em cada canto que eles iam, e de uma forma apreensiva e sufocante, onde cada fato que acontecia nos prendia de uma forma que era difícil até se lembrar de respirar.
Um dos pontos cruciais do filme está na direção de Sam Mendes, onde ele desenvolveu um trabalho primoroso, competente, que elevou ainda mais a sua obra. É difícil acompanharmos um trabalho de filmagem feita com a qualidade que Sam Mendes trouxe para seu filme. Como o fato do longa se desenvolver quase que inteiramente em um 'plano-sequência', sem edições, sem cortes e colagens de cenas. Um fato que me deixou curioso e completamente maravilhado, em poder acompanhar o relato sendo contado de uma forma ininterrupta, que definitivamente me imergiu ainda mais na história. Na minha opinião, Sam Mendes fez um trabalho em altíssimo nível, elevando a qualidade de direção do seu longa à um outro patamar, e que definitivamente foi injustiçado no Oscar desse ano. O prêmio de Melhor Diretor deveria ter sido entregue a ele, porquê pra mim o trabalho que ele desenvolveu em 1917, nenhum dos indicados na categoria chegaram perto.
Em qualidades técnicas o longa realmente é uma obra-prima. A começar pela direção de arte, que esteve absurdamente bem feita e bem destacada. Como observamos em várias partes do filme, com cenários, casas, campos, trincheiras, tudo feito com uma riqueza de detalhes incríveis. A qualidade técnica da direção de arte era tão grande, que durante as duas horas do filme eu sempre me pegava observando cada detalhe desse quesito. Os figurinos, cabelos e maquiagens também estavam muito bem ajustados e dentro dos padrões da época. A fotografia de Roger Deakins ("Um Sonho de Liberdade" é o seu trabalho que eu mais gosto) estava estupidamente bem destacada ao longo de toda caminhada do filme. Um trabalho primoroso, que também foi o grande responsável em nos adentrar ainda mais na obra, com uma qualidade de fotografia genial que só o grande mestre Roger Deakins sabe fazer (Oscar muito justo por sinal). A trilha sonora do gênio Thomas Newman (grande amigo de Sam Mendes de longa data) é sempre um show à parte. Um grande compositor que eu acompanho de longas datas, que me entregou verdadeiras pérolas que eu nunca vou esquecer em filmes como "Um Sonho de Liberdade", "À Espera de um Milagre" e "Beleza Americana". Aqui Newman entrega mais um dos seus grandiosos trabalhos, que foi muito bem reconhecido com sua indicação ao Oscar. Além, é claro, a edição de som, mixagem de som e efeitos visuais, que acompanhavam as qualidade técnicas do longa com muita qualidade.
Em questões de elencos: George MacKay e Dean-Charles Chapman entregaram um trabalho nos personagens muito bem desenvolvido e muito bem interpretado. Dean-Charles entrega uma ótima atuação, porém eu acho que George esteve um passo à frente, sua atuação condiz muito mais com o seu personagem que esteve o tempo todo carregado de uma grande carga dramática. Colin Firth também entrega uma ótima atuação como general Erinmore. Assim como Benedict Cumberbatch, que quando entrou em cena me ganhou completamente. Sua atuação como coronel Mackenzie é fantástica, a cena é completamente dele, ganha todas as atenções, e eu achei uma performance grandiosa.
Porém devo destacar o roteiro, que nos mostra uma missão dada durante a primeira guerra mundial, mas que definitivamente não é algo impactante, ou marcante pra história em geral (até por se tratar de um roteiro original). Tem sim suas várias qualidades como já destaquei e não deixa de ser uma experiência incrível, até pela sua imersão, mas em questão histórica eu achei um tanto quanto simples.
1917 esteve indicado em 10 categorias no Oscar desse ano, incluindo Melhor Filme, porém levou apenas 3 estatuetas por mixagem de som, efeitos visuais e fotografia. No Globo de Ouro foi indicado em 3 categorias, ganhando duas por diretor e filme drama. No BAFTA foi nomeado em 8 categorias e venceu em 7, incluindo a principal, Melhor Filme. No Critic's Choice também esteve nomeado em 8 categorias e se sagrou campeão em edição, fotografia e direção.
Sam Mendes nos entrega mais um belíssimo trabalho, com todos os méritos pra sua direção e suas qualidades técnicas, que realmente estiveram acima da média. Mas na minha opinião o longa não é uma obra-prima do cinema, que será lembrado por muitos e muitos anos. Como em "Beleza Americana", que é uma grande obra-prima do cinema, sendo muito bem lembrada por todos até hoje (20 anos depois), e ainda será por muitos anos. Também não acho que 1917 é o melhor trabalho de Sam Mendes, ainda considero "Beleza Americana" (um dos meus filmes preferidos) como o seu melhor trabalho da carreira até hoje. [10/05/2020]
O Beco do Pesadelo
3.5 496 Assista AgoraO Beco do Pesadelo (Nightmare Alley)
O novo trabalho do mestre Guillermo del Toro é um remake do filme noir de 1947 chamado "O Beco das Almas Perdidas", sendo baseado no romance homônimo de William Lindsay Gresham de 1946. O longa é dirigido e roteirizado pelo Del Toro (juntamente com a canadense Kim Morgan), contando com J. Miles Dale e Bradley Cooper na produção. Inicialmente Del Toro anunciou o seu novo projeto em dezembro de 2017, logo após o seu último longa-metragem, "A Forma da Água", porém as gravações teve algumas pausas devido à pandemia do Coronavírus.
É realmente incrível como este filme é a cara do Del Toro, como tem suas marcas, suas características autorais, sua visão de cinema, sua forma de conduzir a direção, quem conhece o diretor e acompanha os seus trabalhos (assim como eu, que sou fã) vai perceber imediatamente todo os seu propósitos e se localizar instantaneamente com o seu mais novo trabalho. Dessa vez Del Toro deixa um pouco de lado as suas fábulas e seus contos para nos imergir em um drama, um suspense, um Thriller, misturado com horror, pesadelo, mistério, sendo bem dosado com a ação, a complexidade, mas sem deixar de lado aquela boa dose de fantasia (sua marca registrada). Del Toro sempre nos impressionou em suas produções por nos confrontar com seus inúmeros monstros, mas aqui ele vai além, ele nos apresenta algo mais enigmático, mais grotesco, mais perturbante, que é a forma monstruosa do próprio ser humano, ou talvez a sua forma de evolução até chegar nessa posição. Sim, temos um Del Toro ainda mais inovador e surpreendente - magnífico!
"O Beco do Pesadelo" é dividido em duas partes, nas quais ambas se conversam e se amarram perfeitamente ao final. Temos a primeira parte do longa, onde somos confrontados com o dom da surpresa, do inesperado, onde começamos a nossa caminhada e suas descobertas junto com o Stanton Carlisle (Bradley Cooper). Nesse primeiro ato o longa funciona a todo vapor e nos prende gradativamente, pois estamos diante de um ambiente circense, onde somos confrontados com a mágica, o ilusionismo, onde tudo funciona e flui com muito dinamismo, nos apresentando uma parte do roteiro um tanto quanto extrovertida e leve (dado ao contexto do filme).
Já no segundo ato é a parte que o longa cai um pouco de ritmo, se torna mais cansativo, pois esta parte o filme já muda totalmente de tom, se tornando mais tenso, ficando mais pesado, mais complexo e mais intrigante. Pois nessa parte o roteiro brinca (no bom sentido) com o espectador ao nos confrontarmos entre o embate de ideias de Stanton Carlisle e a Doutora Lilith Ritter (Cate Blanchett), aquele jogo de gato e rato, recheado com diálogos ácidos, bem construídos e envolventes. Exatamente nesse ponto que o longa de Del Toro nos cansa um pouco, pois acredito que ele quis nos entregar uma parte bem detalhada, bem arquitetada, bem complexa, bem intrigante, porém ele se alongou demais, o que contribuiu diretamente pra queda de ritmo do filme, deixando esta parte um pouco monótona.
Tirando esse pequeno deslize (se é que podemos considerar assim), o longa de Del Toro é muito bem projetado, muito bem arquitetado, muito bem transplantado pra tela, pois temos um roteiro bem coeso, onde tudo se interliga e se amarra perfeitamente ao final (vide a primeira e a última cena, onde as duas se amarram perfeitamente), nada fica solto e tudo funciona em perfeita harmonia. A direção de Del Toro se sobressai novamente, pois temos mais um trabalho absurdo e muito competente. Ter o Del Toro na direção de um longa já é sinônimo de show e de um trabalho bem feito, e aqui só comprovamos esta afirmação, pois com um elenco desse porte, ele conduz cada um em seu determinado caminho com muita perfeição e objetividade (Del Toro foi reconhecido por sua direção somente no Critics).
Tecnicamente o longa de Del Toro é perfeito!
Temos uma fotografia do Dan Laustsen completamente impecável, é assustador como a fotografia do longa se destaca em praticamente 100% das cenas. Que trabalho genial entregue pelo Dan Laustsen, justíssima indicação ao Oscar. A direção de arte de Tamara Deverell (também indicada ao Oscar) é muito notável e competente, pois ela materializa as ideias e conceitos quase abstratos do roteiro, de certa forma ela colabora diretamente para que as ideias do Del Toro sejam representadas fisicamente em tela. Uma direção de arte rica em detalhes e que atua em estreita parceria com a equipe de direção de fotografia. A cenografia é magnífica, pois tudo no filme se destaca, como os cenários, os objetos trazidos para compor os cenários (completamente fiel aos anos 40). Os figurinos de Luís Sequeira (indicado ao Oscar) estão um luxo de beleza, se destacando bem em cada um dos personagens, principalmente nas damas que compõem toda história (o que dizer dos vestidos estonteantes da Cate Blanchett). A trilha sonora de Nathan Johnson é boa, até se destacada em cena, mas nada comparado com a trilha sonora de Alexandre Desplat (campeão do Oscar pela "A Forma da Água"), mas ainda ele conseguiu uma indicação no Critics.
Bradley Cooper dá vida ao Stanton "Stan" Carlisle, um ser trapaceiro, mesquinho, vigarista, manipulador, charlatão, aproveitador. É interessante acompanhar às mudanças de personalidades na atuação do Cooper, que se inicia mais branda, mais curiosa, dado ao momento, logo após ele muda totalmente a chavinha, já nos mostra uma personalidade obscura, maquiavélica, ardilosa, totalmente inversa do seu início. Cooper dá um show em cena, é realmente impressionante como ele está bem no personagem.
Cate Blanchett não atua, ela dá aula! É praticamente impossível apontar um filme em toda a sua carreira que ela esteja no mínimo mediana em cena. Em "O Beco do Pesadelo" Cate dá mais um show de atuação, mais uma aula de interpretação na pele da intrigante Doutora Lilith Ritter, nos apresentando sua faceta misteriosa, complexa, excêntrica, adentrando no nosso psicológico, e nos comprando com um sorriso letal. É muito interessante acompanhar aquele jogo de gato e rato entre ela e o Bradley Cooper. Cate Blanchett é realmente uma belíssima atriz, uma das melhores de todos os tempos (sem nenhuma dúvida). Muito me surpreendeu a Cate está indicada somente no SAG's, na minha opinião caberia sim uma indicação ao Oscar.
Toni Collette é mais uma atriz magnífica que compõe este elenco estrelado. Collette fez a madame Zeena, que interfere diretamente nas primeiras decisões do Stan, sendo a grande responsável em instigar todos os seus desejos e ambições. Collette participa somente do primeiro ato do filme, porém ela nos entrega o que sabe fazer de melhor na arte de atuar (é sempre um grande prazer poder contemplar uma atuação da Toni Collette). Rooney Mara fez a Molly, que inicialmente pode até ser considerada como a mocinha inocente da história, mas com o passar do tempo podemos observar que ela não passava de uma cobaia do Stan, sendo que ele se aproveitou de sua inocência amorosa para aplicar os seus golpes e suas traições. Rooney Mara nos entregou uma atuação mais introspectiva, mais contida, sem um grande avanço na personagem, porém ela não esteve mal, conseguiu entregar uma boa atuação.
Willem Dafoe é um verdadeiro gênio da sétima arte e vê-lo atuar é sempre um colírio para os olhos de qualquer cinéfilo. Dafoe deu vida ao personagem Clem, sendo peça-chave na história de vida de Stan e muitas das vezes o confrontando com suas próprias ideias e decisões. Uma atuação completamente soberana de Willem Dafoe. David Strathairn fez o Pete, talvez o personagem mais engraçado, mais extrovertido e mais carismático da história. Sem dúvidas, Pete foi o mentor por trás do Stan, aquele que ensinou os seus truques, que o incentivou a possivelmente seguir este caminho das farsas. David Strathairn é um ator muito carismático, e isto só contribuiu ainda mais para a sua atuação nesse personagem. Ainda tivemos às participações de Ron Perlman (o eterno Hellboy do Del Toro), Richard Jenkins e a Mary Steenburgen, completando este belíssimo elenco.
"O Beco do Pesadelo" foi indicado em 8 categorias no Critics, sendo Trilha Sonora, Efeitos Visuais, Cabelo e Maquiagem, Figurino, Direção de Arte, Fotografia, Direção e Melhor Filme. No BAFTA o longa obteve indicações em Figurino, Direção de Arte e Fotografia. No SAG's obteve apenas a única indicação para a Cate Blanchett. No Globo de Ouro o longa foi completamente esquecido, completamente esnobado em todas as categorias (devo dizer: no irrelevante Globo de Ouro). No Oscar o longa aparece concorrendo nas categorias de Direção de Arte, Figurino, Fotografia e Melhor Filme. O novo longa do Del Toro não teve a mesma força nessa temporada de premiações como foi com "A Forma da Água" lá em 2018, onde ele se sagrou campeão do Oscar de Melhor Filme.
Devo finalizar afirmando que pra mim o Del Toro entregou mais um grandioso trabalho, que entra diretamente no mesmo Hall de "O Labirinto do Fauno" e "A Forma da Água". "O Beco do Pesadelo" é mágico, assustador, surpreendente, complexo, intrigante, psicológico, divertido e acima de tudo - traz a assinatura desse mestre das fábulas e fantasias - Guillermo del Toro! [16/02/2022]
Apresentando os Ricardos
3.2 179Apresentando os Ricardos (Being the Ricardos)
O longa é escrito e dirigido por Aaron Sorkin, e nos retrata diretamente à cinebiografia de Lucille Ball (muito bem interpretada pela talentosíssima Nicole Kidman). A trama transcorre durante uma semana específica de produção da série 'I Love Lucy' (um dos maiores sucessos na TV americana nos anos 50), nos evidenciando como a Lucy Ball se tornou uma das grandes lendas do entretenimento hollywoodiano. Lucy foi uma das maiores personalidades em sua época, uma artista completa, ela foi atriz, comediante, cantora, modelo, executiva cinematográfica, e produtora televisiva norte-americana.
"Being the Ricardos" pode ser interpretado como uma biografia, ou até mesmo um documentário do casal Lucille Ball e Desi Arnaz (Javier Bardem), pois acompanhamos diretamente todo o processo de criação pelo qual cada um é submetido ao longa de suas vidas, desde suas descobertas, passando pelas suas pretensões, almejando às suas ambições, até chegar em suas inevitáveis frustrações. Somos confrontados com os bastidores de gravação do sitcom 'I Love Lucy', juntamente com a inevitável crise no casamento, o que poderia colocar em risco (e até arruinar) a vida profissional de cada um. Ainda acompanhamos a surpresa da descoberta da gravidez da Lucy (durante o programa), e a acusação de comunista que lhe caiu sobre os ombros.
Particularmente eu prefiro o Aaron Sorkin como roteirista do que diretor, e isso está muito evidente nos roteiros que ele assina em "Steve Jobs", "O Homem que Mudou o Jogo", "Jogos do Poder", e ganhando o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por "A Rede Social", em 2011. Já em direção, Sorkin nos entregou obras que pra mim são completamente contestáveis, como "A Grande Jogada", de 2017, e o próprio "Being the Ricardos". Não posso falar de "Os 7 de Chicago" porque ainda não assisti.
Eu não conheço a fundo a biografia de vida da Lucille Ball, portanto eu não posso afirmar sobre os acontecimentos que permeia o roteiro do longa de Sorkin, ou até mesmo sua ordem cronológica dos fatos que nos foi entregue, mas acredito que o Sorkin utilizou uma liberdade criativa em seu roteiro, e de certa forma misturou vários pontos entre si, tentando focar em vários acontecimentos naquela única semana da vida da Lucy, que pra mim ficou um tanto quanto perdido e meio desconexo. O roteiro em si tenta focar no drama, na ambição, na incerteza, mas depois já romantiza, já suaviza, e entra com uma válvula de escape mais leve (em certas partes soando até mais cômico). E o roteiro ainda vai mais além, quando tenta tocar em uma certa parte política, se utilizando apenas como um mero elemento de discurso, ao nos apresentar a acusação sobre o comunismo da Lucy Ball, mas de uma forma totalmente vaga, vazia, sem um aprofundamento, me soando apenas como uma parte obrigatória do roteiro que deveriam mencionar de alguma forma.
Acredito que o Sorkin quis focar em vários acontecimentos da vida da Lucy Ball, mas faltou tempo (até tempo de duração do filme), faltou desenvolvimento, e o tiro saiu pela culatra, acabou ficando um roteiro sem coesão e sem harmonia (e ainda está concorrendo nas premiações deste ano....estou pasmo!). Definitivamente este novo trabalho do Aaron Sorkin não me pegou, não me cativou, não consegui me conectar, não consegui me envolver com a trama, em todos os momentos eu estava com aquela sensação de que faltava alguma coisa. Por ser um roteiro baseado em uma história real (que poderia agradar mais facilmente), eu achei a história chata, maçante, monótona, chegando até a me entediar (principalmente no primeiro ato).
A fotografia do longa é muito boa, fazendo um bom uso do preto e branco, se destacando ainda mais com aquele contraponto entre às cenas coloridas e às cenas em preto e branco. A trilha sonora de Daniel Pemberton é boa, está aceitável, com destaque maior paras às cenas em musicais e cantadas pelo Javier Bardem (Daniel Pemberton ainda conseguiu uma indicação no BAFTA). Apesar que eu ainda senti uns pequenos (porém notáveis) problemas de montagem e edição.
O principal (e único) ponto positivo no longa está justamente no elenco.
Nicole Kidman é uma das melhores atrizes de sua geração e nunca nos decepciona. Kidman dá uma personalidade bem estruturada e muito segura para a sua interpretação dessa personalidade tão influente em sua época, Lucille Ball. Kidman está leve, solta, alegre, se diverte em cena, nem parece uma atuação. Kidman está em perfeita harmonia e sintonia com Javier Bardem, alcançando uma ótima química em cada cena que nos era apresentada. Nicole Kidman já levou este ano o Globo de Ouro e está concorrendo no SAG's, Critics, sendo totalmente esnobada no BAFTA. No Oscar ela integra a lista de Melhor Atriz, e na minha opinião, com chances claríssimas de levar o prêmio (uma das favoritas).
Javier Bardem conversa diretamente com a Nicole Kidman, pois juntos eles tiveram às melhores atuações do longa. Bardem dá alma, dá definição, dá uma direção muito bem ajustada em sua interpretação na pele do cubano Desi Arnaz, onde ele se destaca atuando, performando, cantando e até arriscando uns pequenos passos de dança. Uma atuação rica em detalhes, com um timing perfeito e um resultado muito satisfatório, que lhe rendeu indicações no Globo de Ouro e no SAG's, sendo esnobado no BAFTA e no Critics. No Oscar Bardem também está indicado, mas a meu ver, completamente fora da disputa entre Benedict Cumberbatch, Andrew Garfield e Will Smith (meu favorito).
J. K. Simmons é um ator que eu gosto muito, já tive experiências incríveis com ele, como em "Whiplash", de 2014, onde ele entrega uma atuação que me deixou boquiaberto até hoje. Aqui ele nos entrega um personagem bastante curioso e intrigante, mas que funciona perfeitamente em cena, e principalmente no que o roteiro lhe impõe. Gostei da atuação do J. K. Simmons em "Being the Ricardos", não está no mesmo nível de "Whiplash" (muito óbvio), mas já lhe garante uma indicação de Coadjuvante no Oscar, que na minha opinião, ficará apenas como lembrança, mas dificilmente ele terá forças para ganhar. (ele também está indicado no Critics)
É realmente impressionante como os serviços de streeming vem ganhando, a cada ano, mais força e destaques nas premiações: como a Netflix este ano com "Tick, Tick... Boom!", "Não Olhe para Cima" e "Ataque dos Cães", e a Apple TV com "A Tragédia de Macbeth". "Being the Ricardos" é a nova aposta da Amazon Prime para esta temporada de premiações, porém o longa do Aaron Sorkin corre bem por fora, obtendo pouquíssimas indicações: no SAG's o filme teve apenas uma indicação para o Javier Bardem. No Critics obteve apenas três indicações - para a Nicole Kidman, J. K. Simmons e Roteiro Original para o Sorkin. No BAFTA o longa obteve nomeações de Roteiro Original e Trilha Sonora (esnobando todos do elenco). No Globo de ouro o longa ganhou a estatueta com a Nicole Kidman e obteve mais duas indicações, Ator e Roteiro. Uma das poucas vezes em que eu concordei plenamente com às indicações do Oscar, foi em "Being the Ricardos", pois pra mim o filme falha em vários pontos e acerta somente em três, que são exatamente os três indicados ao Oscar, Ator, Ator Coadjuvante e Atriz.
"Being the Ricardos" é um filme bem mediano, bem fraco, que pra mim não funcionou em praticamente nada, salva-se o elenco. Aaron Sorkin já domina os roteiros (em produções passadas), mas falta evoluir como diretor, falta acertar a mão, falta nos apresentar um trabalho que salte aos nossos olhos também em direção. "Being the Ricardos" se segura apenas pelos seus protagonistas, pois é muito claro que o objetivo traçado pelo Sorkin não foi alcançado.
Não posso deixar de mencionar uma cena do filme que aparece uns belos quadros da sétima arte ao fundo que são: "Suspicion", de 1942, do Alfred Hitchcock / "Stromboli", de 1951, do Roberto Rossellini / "Swing Time", de 1936, do George Stevens / "Top Hat", de 1935, do Mark Sandrich. [12/02/2022]
Amor, Sublime Amor
3.4 355 Assista AgoraAmor, Sublime Amor (West Side Story)
"West Side Story" é um remake do filme de 1961, dirigido por Robert Wise e Jerome Robbins, sendo uma adaptação do musical da Broadway, de 1957, de Arthur Laurents, Leonard Bernstein e Stephen Sondheim. O longa é magistralmente dirigido pelo gênio Steven Spielberg, com com roteiro de Tony Kushner, sendo vagamente baseado no romance de Romeu e Julieta, de William Shakespeare. O próprio roteirista, Tony Kushner, disse que esperava que este roteiro se aproximasse mais da adaptação da Broadway, do que da própria adaptação do filme de 1961.
"West Side Story" pode ser considerado um conto, uma passagem, uma peça teatral, um musical, porém com uma boa dose de drama, de romance, de forma leve, singela, divertida, extrovertida, mas tocando diretamente (ou indiretamente) em pontos como o racismo, a desigualdade social, o preconceito racial, o preconceito cultural, a intolerância, os conflitos de identidade, a violência contra os imigrantes, a discriminação feminina e até o assédio. O que realmente me surpreendeu foi a forma adotada para explicitar estes pontos que eu destaquei, com uma forma ácida, porém leve, sem pesar a mão, sendo desenvolvido e nos entregue diretamente de dentro das peças e coreografias musicais, o que de certa forma nos imergia e nos envolvia cada vez mais com toda a história que estava sendo contada.
Steven Spielberg é um verdadeiro gênio da sétima arte e estamos diante de mais uma prova disso. A forma como ele dirige as cenas, como ele tem todo o elenco nas mãos, juntamente com um trabalho de câmeras, onde tínhamos a exata sensação de que a câmera estivesse realmente dançando e acompanhando cada passo das coreografias - é uma coisa magnífica! A forma como Spielberg nos entrega todo o seu trabalho sendo filmado, contracenado, interpretado e atuado diretamente de uma película dos anos 60. Exatamente mais um ponto muito positivo de todo o trabalho desenvolvido pelo o Spielberg, pois estamos diante de uma obra totalmente inspirada e influenciada nos próprios filmes dos anos 60. É impressionante como tudo se conversa entre si, por exemplo: a fotografia do mestre Janusz Kamiński (responsável pela as fotografias de pérolas como "A Lista de Schindler", "O Resgate do Soldado Ryan" e "Cavalo de Guerra") está totalmente imersa nos trabalhos de câmeras do Spielberg, uma conversa com a outra, pois temos uma fotografia completamente absurda em "West Side Story" (nota 10 para a direção do Spielberg e a fotografia do Kamiński).
A coreografia de Justin Peck é mais um ponto positivo no longa, pois as combinações de coreografia + fotografia + movimento de câmera são absurdas de tão genial. "West Side Story" é muito bem coreografado, muito bem dançado, muito bem cantado, muito bem atuado, muito bem interpretado, tudo funciona de forma leve, delicada e prazerosa. As músicas são muito boas e muito gostosas de ouvir e acompanhar, com um destaque para a canção "In America" (impossível não vibrar com esta música). Exatamente um dos pontos alto do filme, a trilha sonora, que está incrível e muito bem encaixada e amarrada na trama. A trilha sonora de "West Side Story" é primorosa, rica, abrangente, influente, que com certeza eu buscarei para guardar com muito carinho.
A direção de arte é ótima e trabalha em completa harmonia com a fotografia. A cenografia é estupenda, pois acompanha com muita perfeição os cenários, os objetos de cena, os figurinos, suas cores e seu tratamento estético. Como não se maravilhar com todo carinho e atenção que nos foi entregue os detalhes como os carros, as ruas, as lojas, os figurinos (méritos para Paul Tazewell), tudo muito bem feito e totalmente fiel à Nova York dos anos 50 e 60. A edição de som de Gary Rydstrom (campeão do Oscar por "O Exterminador do Futuro 2", "Jurassic Park", "Titanic" e "O Resgate do Soldado Ryan") também é muito boa e se destaca ao longo das apresentações musicais. A montagem de Michael Kahn ("Poltergeist" e "A Lista de Schindler") é muito bem feita e muito bem arquitetada.
O longa do Spielberg beira a perfeição, porém, devo destacar dois pontos que me incomodaram: primeiro, a forma como foi retratado o romance entre Tony (Ansel Elgort) e Maria (Rachel Zegler) me soou vazio e sem um desenvolvimento que pudesse nos convencer diretamente. Eles praticamente já se conhecem e se apaixonam instantaneamente, não tem um aprofundamento, não tem um tempo de eles sequer se conhecerem melhor, dessa forma me pareceu um pouco forçado (tudo bem que o romance foi vagamente inspirado em Romeu e Julieta). Segundo, a tradução das legendas para o português nas partes dos musicais ficaram totalmente desconexas, ao ponto de me irritar ao querer acompanhar a tradução do que estava sendo cantado. Acho que a forma que eles tentaram traduzir as rimas para o português que não deram certo.
O maior destaque do longa é sem dúvidas a Ariana DeBose, o filme é praticamente dela. Ariana é uma atriz completa, ela canta, dança, interpreta, atua, contracena, faz tudo com muita segurança, com muita entrega, com muita voracidade, com muito carinho, nos entrega uma atuação completamente magnífica na pele da Anita. Típica atuação impecável, sem um erro, sem um deslize, domina completamente a personagem, ocupa toda a tela com muita dignidade e grandeza - que atuação da Ariana DeBose senhoras e senhores! Ariana está indicada em todas as premiações desse ano, incluindo o Globo de Ouro (que ela já levou a estatueta), SAG, Critics, BAFTA e Oscar. Ouso a dizer que no Oscar ela é a principal favorita ao prêmio da noite, por mais que eu tenha adorado a Kirsten Dunst (Ataque dos Cães) e a Jessie Buckley (A Filha Perdida), acho que dificilmente ela perca o Oscar de Atriz Coadjuvante.
Rachel Zegler é uma jovem atriz que me encantou desde a sua primeira cena no filme. Ela é doce, bela, delicada, primorosa, carismática, graciosa, meiga, que atua com o coração, com muita leveza, com muita dedicação, com muita atenção. Zegler tem uma voz muito doce ao cantar, tem um olhar muito profundo ao atuar, é de uma sutileza e uma singularidade tão bela que me deixou completamente apaixonado por ela (estou muito curioso para vê-la em "A Branca de Neve e os Sete Anões"). Zegler levou o Globo de Ouro e está indicada a Melhor Revelação no Critics. Torcerei muito por ela, apesar de ter amado a Emilia Jones (CODA) e adorado a Saniyya Sidney (King Richard).
O que me chamou a atenção foi na cena em que a Rachel Zegler e a Ariana DeBose estavam cantando e olhando fixamente uma para a outra, as suas expressões, os seus olhares, a forma como elas estavam realmente cantando exatamente naquele momento, sem o uso da dublagem, elas estavam realmente cantando e atuando uma com a outra na mesma hora em que ambas estavam sendo filmadas - maravilhoso!
Ansel Elgort foi um ator que me chamou muita a atenção em "Baby Driver" - 2017. Lá já podíamos notar esta sua veia para musicais, esta sua competência para atuar e cantar, e aqui está totalmente comprovado. Elgort tem um papel muito importante na trama, principalmente por querer se livrar das marcas do seu passado e pela paixão que acaba de se acender pela a Maria. Queria muito que este casal tivesse mais química, tivesse sido mais explorado, eles tinham muito mais para entregar do que de fato foi entregue.
Rita Moreno foi um grande acerto do Spielberg, pois vê-la em cena só aumentou a nossa emoção e satisfação em acompanhar este remake de "West Side Story". Rita Moreno interpretou a Anita na versão de 1961 e levou o Oscar pela sua atuação.
Mike Faist foi uma grata surpresa, pois não o conhecia, não sabia que ele era este ótimo ator. Ótima atuação, o que lhe rendeu uma indicação ao BAFTA. Assim como o próprio David Alvarez (também não o conhecia), que esteve muito bem em cena ao contracenar com a Ariana DeBose, ótima química entre os dois, principalmente entre as coreografias musicais.
"West Side Story" levou as estatuetas no Globo de Ouro por Atriz Coadjuvante (Ariana DeBose), Atriz (Rachel Zegler) e Melhor Filme Comédia/Musical (que eu concordo plenamente). Em direção o Spielberg perdeu a estatueta para a Jane Campion (que eu concordo mais uma vez). No Critics o longa lidera as indicações (juntamente com "Belfast"), sendo para Figurino, Edição, Design de Produção, Fotografia, Roteiro Adaptado, Direção, Elenco, Revelação (Rachel Zegler), Atriz Coadjuvante (Ariana DeBose) e Melhor Filme. No SAG o filme tem apenas a indicação de Atriz Coadjuvante para a Ariana DeBose. No BAFTA o longa aparece indicado em Som, Design de Produção, Elenco, Ator Coadjuvante (Mike Faist) e Atriz Coadjuvante. No Oscar o longa obteve 7 indicações, incluindo as principais categorias, Atriz Coadjuvante, Direção e Melhor Filme.
O ano de 2022 está sendo o ano que está me fazendo quebrar todos os tipos de preconceitos que eu tinha pelos musicais. Pois este ano já fui surpreendido positivamente pelo maravilhoso "Tick, Tick... Boom!" e agora com esta bela obra do Spielberg. "West Side Story" é uma belíssima peça teatral em forma de musical, uma ótima readaptação, uma obra completamente magnífica, beirando a perfeição dos musicais.
"West Side Story" vem muito forte no Oscar, é sim um filme para ficarmos de olho, principalmente nas categorias principais (onde eu acho que o filme ganha mais força). Nas categorias técnicas eu acho que o longa pode angariar algumas estatuetas (como em fotografia e som). Já na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, eu acredito que ninguém tira o prêmio das mãos da Ariana DeBose. Em direção eu acho que teremos uma briga muito boa entre a Jane Campion e o Steven Spielberg (como já aconteceu em 1994, quando o Spielberg levou a melhor pela "A Lista de Schindler"), mas também não devemos desconsiderar os outros concorrentes e principalmente o japonês Ryûsuke Hamaguchi, de "Drive My Car". Já em Melhor Filme que teremos o grande embate da noite, e eu coloco "West Side Story" como um dos principais favoritos ao maior prêmio da noite, pois não podemos esquecer que a sua versão de 1961 levou o Oscar de Melhor Filme, e os americanos amam premiar os musicais. [09/02/2022]
A Filha Perdida
3.6 573A Filha Perdida (The Lost Daughter)
O primeiro longa dirigido e roteirizado pela Maggie Gyllenhaal (casada com Peter Sarsgaard e irmã do Jake Gyllenhaal) é uma produção original Netflix, baseado no livro de mesmo nome escrito por Elena Ferrante.
"A Filha Perdida" é um filme difícil, profundo, misterioso, que nos incomoda, nos confronta com várias realidades e suas experiências traumáticas, como a obsessão e a sua forma de retratar a maternidade, que não segue em uma linha cronológica, que muita das vezes nos confunde, por terem acontecimentos atrasados e adiantados em um curto espaço de tempo (típica produção que não segue aquela linha de começo, meio e fim). A própria protagonista, Leda (Olivia Colman), é tão perdida e confusa na trama quanto nós, pois observamos suas nuances, seus traumas, suas alegrias, seus sofrimentos, suas frustrações, de uma forma totalmente misturada e de certa forma até bagunçada.
O elenco em si também é confuso, parece que eles estão ali unicamente para nos confundir sem um propósito e confundir a cabeça da própria Leda. De certa forma podemos aprender com as experiências de vida da Leda: que você nunca conseguirá viver sempre seguindo uma linha reta (como na clara alusão na cena em que ela descasca a laranja sem deixar que a sua casca se quebre, e ainda ela ensina isso para a sua filha ), não existe uma cartilha que devemos seguir à risca, devemos vivenciar nossos medos e traumas e confrontar os nossos próprios fantasmas.
Por outro lado o longa ainda peca em vários pontos: como o fato do roteiro ser de certa forma bagunçado e se perder em algumas partes. A forma como o roteiro aborda alguns pontos dentro da trama soa como confuso, deixando aquele emaranhado de perguntas em nossas cabeças e sem explicações - como o fato do contraponto que o longa faz com os flashbacks entre a Leda jovem (Jessie Buckley) e a Leda da meia-idade (Olivia Colman). A narrativa por sua vez também é confusa, falta ritmo, falta imersão, não conseguimos se apegar por ninguém, falta empatia, falta química, o que irá dificultar muito a experiência como um todo, soando até como monótono em algumas partes e se retratando como uma obra sem alma.
Os pontos positivos são:
A direção da Maggie é incrível, a forma como ela conduz os takes, os focos, que muita das vezes eram diretamente tomado da própria visão da protagonista, como se nós estivéssemos vivenciando o drama da Leda pelos seus próprios olhos, pela sua própria perspectiva. Assim como os planos mais abertos e principalmente os mais fechados, que davam os focos exatamente nos rostos dos personagens, mostrando perfeitamente as suas diferentes expressões (aproximando bem a câmera). A Maggie dirige o seu longa de uma forma singela, com uma sensibilidade em retratar a mensagem que ela queria nos passar, sem a necessidade de entrar em um discurso que poderia soar como piegas. A fotografia também merece destaque, pois acompanha e casa perfeitamente em cada cena, se mostrando ainda mais explorável e perceptível nos takes mais abertos da Maggie nas cenas da praia. Já a trilha sonora é mediana, não chega a se destacar, mas também não chega a comprometer, é uma trilha mais tímida, mais pacata, dado o contexto do longa. Nessas condições eu considero a trilha sonora como um ponto positivo.
Gostei bastante das atuações e considero mais um ponto positivo!
Olivia Colman é uma atriz maravilhosa e o que ela nos entrega aqui é claramente mais um grande trabalho. Colman dá vida a uma mulher introspectiva, solitária, amargurada, que esta arrasada pela as suas próprias memórias do passado, mas em contrapartida ela se mostra com uma personalidade forte, muito particular, que carrega uma individualidade que a favorece e ao mesmo tempo lhe prejudica. Colman pode até ter atuações melhores (como em "A Favorita" que lhe rendeu o Oscar), mas aqui ela está diferente do que esperamos, fora do trivial, e ao meu ver a sua atuação tem um tom solitário que funciona muito bem casado com a sua dramaticidade. Colman foi indicada em várias premiações e na minha opinião cabe sim a sua indicação, pelo menos para destacar este belo trabalho, vale como lembrança.
A linda Dakota Johnson traz uma personalidade ambígua para a sua personagem, com uma profundidade no olhar que transmitia toda sua insegurança, sua vulnerabilidade, sua instabilidade, seus medos, suas dores, suas aflições. Era como se a Nina se espelhasse na Leda (Colman) e vice e versa, como se uma fosse a experiência da outra, onde a própria Leda conseguia ver o seu passado através da Nina. Confesso que não sou de acompanhar os trabalhos da Dakota, mas aqui ela me surpreendeu positivamente, ela está ótima na personagem e tem uma atuação muito digna.
Jessie Buckley é outro grande destaque no longa. Jessie faz a Leda mais jovem, que parecia não estar pronta para lidar com a maternidade, que aparentemente não possuía os instintos maternos, ou aquela aptidão para ser mãe, tão logo de duas filhas. Leda também tinha suas nuances e aflorava todos os seus sentimentos, explicitando as suas inseguranças. Jessie tem uma ótima atuação, muito bem executada, performada, fazendo aquele contraponto muito interessante da sua Leda jovem para com a Leda mais de meia-idade da Colman. Jessie está indicada no BAFTA e eu concordo com a sua nomeação, mas acho que dificilmente ela levará, ficará apenas como lembrança.
Temos algumas alusões, menções, citações ao decorrer do filme que constantemente nos obriga a tirar as nossas próprias interpretações/conclusões. Eu tirei minhas próprias conclusões e fiz as minhas próprias interpretações. Agora se está certo ou errado, se vão concordar ou discordar....enfim!!!
Na cena em que a Leda (Colman) conversa com a Nina funciona como uma espécie de terapia, para ambas, sendo exatamente o momento em que você começa a ligar as pontas soltas, começa a fazer sentido aquela sua obsessão pela Nina como mãe de uma criança, até pelo fato da Leda revelar para a Nina que abandonou as suas filhas por 3 anos quando elas ainda eram crianças. Isso fez aflorar seus pensamentos e suas lembranças do passado, pelas suas lembranças lhe machucar e seus pensamentos lhe corroer por dentro. Sem falar que é uma bela performance da Olivia Colman, por toda sua dramaticidade entregue nesta cena.
Na cena em que a Leda (Colman) decidi partir em busca da filha da Nina que se perdeu (ou a própria Leda a tomou pra si), funciona com uma espécie de objetivo de mãe frustrada, como se sair em busca daquela criança que se perdeu fosse de alguma forma aliviá-la de seus traumas e fantasmas do seu passado, até por a própria Leda ter abandonado as filhas.
A cena em que a pinha cai diretamente nas costas da Leda (Colman), deixando uma marca, um machucado (como uma marca da vida pelo o que ela passou), que logo em seguida é amenizado pela Callie (Dagmara Domińczyk), mas unicamente pelo fato da Leda ter encontrado a filha perdida da Nina. Parece uma forma politicamente correta de se recompensar um bem que você fez para outra pessoa em sua vida, mas com um conceito estereotipado, ou de uma forma vulgar, falsa, fria, como se fosse uma obrigação o fato da Callie passar a pomada para aliviar o machucado da Leda, unicamente pelo "bem" que ela fez para todos, mesmo sem o claro interesse (se é que podemos considerar dessa forma).
O fato da Leda (Colman) ter roubado a boneca da filha da Nina me parece mais uma alusão a maternidade (ou por tudo que ela passou), até pelo fato da Nina querer proteger sua filha como mãe e sua filha querer estar sempre com a boneca. Possivelmente pelo fato da Leda ter abandonado as suas filhas no passado, por querer de certa forma estar com elas como aquela boneca sempre estava com a criança. Parece que realmente a Leda falha como mãe até em posse da boneca, pois tem cenas em que ela entra em constantes conflitos com a boneca, como na cena em que ela joga a boneca pela janela e ela se quebra toda ao chegar ao chão, ou o fato de ela jogar a boneca no lixo e depois se arrepender, exatamente como ela abandonou as suas duas filhas e depois se arrependeu amargamente. Também fico me perguntando se a filha perdida pudesse de certa forma ser aquela boneca, como uma espécie de alusão que o filme faz com a Leda, até pelo fato da boneca estar em evidência o tempo todo em quase todas as cenas, e mais em posse da Leda do que da filha da Nina. Também cheguei a cogitar que a filha perdida pudesse ser a própria Nina, ou não, enfim!
A cena inicial e a cena final (quando a Leda cai na beira da praia), eu fiquei me perguntando se tudo aquilo realmente existiu, ou se ela realmente morreu, ou se tudo não passou de uma ilusão.
No Globo de Ouro o longa foi indicado em Direção (Maggie) e Atriz (Colman). No SAG obteve apenas a indicação para a Olivia Colman. No Critics está indicado em Atriz para Colman e Roteiro Adaptado para Maggie. No BAFTA (recentemente anunciado) o longa está indicado em Atriz Coadjuvante para Jessie Buckley e Roteiro Adaptado para a Maggie, esnobando a Olivia Colman, que até então vinha sendo indicada em todas as premiações.
Em seu trabalho de estreia como diretora e roteirista, Maggie Gyllenhaal já nos entrega um longa que dividi inúmeras opiniões, aquele típico 8 ou 80, ame ou odeie. Por mais que o filme peque no roteiro e na narrativa, eu gostei das atuações, das alusões e da direção. No final o longa ainda nos entrega um final ambíguo, livre de amarras, fora do trivial, que você pode facilmente tirar as suas próprias conclusões do que de fato aconteceu com a Leda. Pra mim "A Filha Perdida" é um filme muito subjetivo, que com certeza vai decepcionar uma pessoa e agradar uma outra, já eu fico no lado que se agradou com o filme. Pra mim o longa da Maggie Gyllenhaal tem o saldo mais positivo do que negativo.[05/02/2022]
No Ritmo do Coração
4.1 754 Assista AgoraNo Ritmo do Coração (CODA)
"CODA" é dirigido e roteirizado pela americana Sian Heder, o longa é uma refilmagem americana em inglês do filme francês, La Famille Bélier de 2014, dirigido por Éric Lartigau. O nome original do filme, CODA, é a sigla que significa "Child of Deaf Adults" ou "Filho de Adultos Surdos", ou também pode significar uma passagem final da música em uma composição.
"CODA" é uma obra tocante, singela, intimista, singular, realista, verdadeira, que vai te emocionar, vai te fazer sorrir, ao mesmo tempo em que nos concentramos e torcemos com os números musicais. O longa uni a comédia, o drama e a música com muita maestria, pois ao longo da trama temos vários momentos cômicos por parte da família Rossi, em contrapartida, temos todo o drama vivido pela própria família e pela própria Ruby (Emilia Jones), com a sua decisão em continuar ajudando sua família ou ir atrás dos seus sonhos. O longa ainda toca (de uma forma mais leve) em pontos como a inclusão na sociedade das pessoas 'surdas-mudas', nos mostrando verdadeiramente como são o dia a dia dessas pessoas, como elas vivem em uma sociedade preconceituosa e prepotente, tendo que se adequar aos ambientes e enfrentar todas as suas dificuldades.
A direção e o roteiro da Sian Heder é muito bom e muito bem desenvolvido, pois somos confrontados em uma comédia dramática pelo ponto de vista da família Rossi, com um contraponto de amadurecimento, descobrimento, realização, dedicação e perseverança pelo ponto de vista da Ruby. O roteiro pode até ser considerado um clichê, pois inicialmente já imaginamos todo o percurso e o final do longa, e também muitas das coisas que vemos nesse filme, já tínhamos visto em outros. Mas é exatamente nesse ponto que o roteiro nos ganha, pela sua simplicidade e singularidade em contar a sua história, e nesse quesito ele é bem escrito e funciona muito bem.
A forma como a Sian Heder dirige a sua obra é fenomenal, pois ela constrói as cenas com muita objetividade e muita atenção, dando o espaço e o tempo necessário para o desenvolvimento de todo o elenco. As atuações nos cativa e funciona de uma forma tão boa, que fica completamente impossível não se afeiçoar por eles, a empatia é alcançada imediatamente. O elenco de "CODA" é tão bom que facilmente nos apegamos e torcemos por eles, sem tomar partido de nenhum lado da história, unicamente sentimos a dor e a alegria de cada um, se importamos com cada um, queremos proteger cada um. Nesse quesito o roteiro de Sian Heder é totalmente funcional e nos prende gradativamente, espontaneamente, sem o apelo emocional, sem se tornar um caça-lágrimas - o que de fato é muito plausível!
Emilia Jones é um show em cena, um verdadeiro espetáculo, não tem como não simpatizarmos por ela, não se apegarmos a ela. Ruby era a única da família que ouvia e falava normalmente, dessa forma ela era muito importante para o dia a dia de sua família, pois através dela que todos conseguiam se comunicar. Porém, Ruby era uma jovem que estava se descobrindo entre o amor e a sua verdadeira vocação, e queria ir em busca do seu sonho, mesmo que pra isso ela tivesse que se desprender da sua família. Emilia nos entregou uma bela atuação, que transcorreu de forma muito segura na personagem, dosando muito bem os momentos mais dramáticos e mais eufóricos. Emilia Jones é uma jovem atriz que soube se preparar para a personagem: ela passou nove meses aprendendo a linguagem de sinais americana, tendo aulas de canto e aprendendo a operar uma traineira de pesca - realmente uma grande entrega! Emilia está indicada no Critics como Melhor Revelação.
Eugenio Derbez é um ator muito bom, muito bom mesmo! Bernardo Villalobos é o professor de coral que viu o potencial e o talento de Ruby, dessa forma, ele é o principal responsável por aflorar (colocar pra fora) todo o seu potencial vocal. Mr. V também foi o que mais acreditou e incentivou a Ruby a ingressar na faculdade de música. Grande atuação do mexicano Eugenio Derbez, que nos mostrou aquele professor sisudo, mais linha dura, que queria extrair o máximo da perfeição vocal dos seus alunos (principalmente da Ruby). Uma atuação completamente perfeita!
Troy Kotsur (que fez o Frank) entrega um personagem com uma veia cômica e outra dramática, e de fato funcionou muito bem, ele soube utilizar de suas vertentes para construir um personagem muito eficaz para o desenrolar de toda trama. Troy ganhou um Gotham Award e foi indicado para o Globo de Ouro, o Critics, o SAG e o Independent Spirit Award. Marlee Matlin (que fez a Jackie) fez o contraponto perfeito com Troy, entregou o papel de mãe verdadeira (do jeito dela) e de esposa dedicada (também da forma dela). Marlee é a única atriz surda a ganhar o Oscar de Melhor Atriz em um papel principal, tendo conquistado o prêmio por sua atuação em "Children of a Lesser God" (Filhos do silêncio de 1986). Daniel Durant (que fez o Leo) completa a família, e mesmo sem entregar uma atuação do mesmo nível do elenco já citado, ele tem uma colaboração direta para o funcionamento de toda engrenagem (a família) na trama. Troy Kotsur, Daniel Durant e Marlee Matlin são surdos e mudos, porém, a Marlee adquiriu a habilidade da fala e já emprestou a sua voz para a série animada "Family Guy" (Uma Família da Pesada de 1999).
Não posso deixar de mencionar as principais cenas do filme, aquelas de maiores destaques, aquelas que realmente engrandece toda a obra de Sian Heder.
O longa se passa quase que inteiramente mudo, se tornando um enorme desafio em cena, principalmente para a Emilia Jones. Porém, devo destacar as belíssimas cenas de diálogos mudos, principalmente uma em específico entre a Ruby e a Jackie, que realmente me prendeu e me conquistou, quando ela estava contando e aconselhando a filha sobre os perigos da vida, ainda mais por ela ser jovem - eu achei sensacional esta cena.
A belíssima cena em que o Frank pede para a Ruby cantar para ele e ele coloca a mão na garganta dela, na intensão de sentir as vibrações causadas pela sua voz - cena completamente magnífica!
A cena onde a Ruby canta na audição fazendo os sinais para que a sua família (que estava sentada acima) pudesse entender a música, ou, as palavras que ela estava cantando.
Outra cena maravilhosa, a cena da apresentação musical, em que a Ruby está cantando com o Miles (Ferdia Walsh-Peelo) e de repente tudo fica em um completo silêncio, nessa hora passamos a acompanhar a sua apresentação pela perspectiva da sua família, pelos olhos dos seus pais. É exatamente nessa hora que observamos eles olhando para as reações das pessoas ao redor, uma forma que eles encontraram de observar que as pessoas de fato estavam gostando da apresentação da Ruby, e que de fato ela era realmente muito boa cantando.
E aquela cena final do Troy se esforçando para soltar um tímido "GO", quando se despedia de sua filha. Acho aquela cena de uma beleza sem igual, dentro de tantas belas cenas do filme, esta realmente me tocou verdadeiramente, pela emoção da família em liberar a sua filha em busca do seu sonho, e pela forte emoção que estava explícita no pai em se despedir da sua filha - genial!
"CODA" foi muito aclamado pela crítica e levou o prêmio especial do júri de elenco na competição dramática dos EUA em sua estreia mundial no Festival de Cinema de Sundance de 2021. No Critics o longa aparece nas categorias Roteiro Adaptado (Sian Heder), Revelação (Emilia Jones), Ator Coadjuvante (Troy Kotsur) e Melhor Filme. No SAG está indicado a Melhor Elenco, além da indicação para o Troy a Ator Coadjuvante, e eu vou sem bem sincero: eu daria o prêmio de Melhor Elenco em Filme para o "CODA" no SAG, mesmo faltando eu conferir "Belfast". De fato o belo trabalho da Sian Heder vai lhe render algumas indicações no BAFTA e no Oscar. No Oscar o longa com certeza estará entre os indicados a Melhor Filme, mas sinceramente eu não o vejo como um franco favorito na briga pela estatueta, ao contrário, acho que "CODA" ficará somente com a nomeação, o que não é nenhum demérito, mas acho que o filme corre por fora e não tem forças para brigar pela principal categoria da noite.[30/01/2022]
CODA aquece o nosso coração!
tick, tick... BOOM!
3.8 450Tick, Tick... Boom!
Eu nunca fui um adpeto à musicais, sempre tive um certo preconceito, um pé-atrás, sendo que o único musical que de fato me conquistou foi "Os Miseráveis". Fui conferir 'Tick, Tick... Boom!' por uma indicação de um amigo e também pela temporada de premiações.
'Tick, Tick... Boom!' simplesmente explodiu a minha cabeça, jamais poderia imaginar como este filme é bom, como ele te conquista, como ele te prende, de uma forma leve, gostosa, prazerosa, que sequer você percebe o tempo passar.
Confesso não conhecer os trabalhos do Lin-Manuel Miranda, mas pelo o que eu pesquisei, sei que ele foi o idealizador e escritor de "Hamilton", além de ser uma artista completo. Miranda é ator, rapper, compositor, dramaturgo, cantor, produtor, letrista, além de já ter ganhado vários prêmios e ter revolucionado a Broadway. Em 'Tick, Tick... Boom!' Miranda nos traz um longa que foi baseado no musical semi-autobiográfico de Jonathan Larson. Larson foi um escritor e compositor de peças mais intimistas, que abordava temas muito delicados como drogas, AIDS e a homossexualidade, assuntos esses que também foram abordados em 'Tick, Tick... Boom!' e 'Rent' (este último eu ainda não conheço).
Lin-Manuel Miranda faz a sua estreia como diretor e nos entrega um excelente trabalho feito com muita dedicação, com muita coesão, com muita atenção, com muito respeito, e como uma forma de homenagear Jonathan Larson em sua própria criação. Steven Levenson nos entrega um belíssimo roteiro onde tudo funciona em perfeita harmonia, tudo muito bem interligado, tudo muito bem transplantado em cena, você não se perde, não se cansa, ao contrário, você é completamente envolvido e imergido na trama de uma forma completamente satisfatória e magnífica.
O longa já começa de uma forma excelente ao nos mostrar o jovem compositor Jon (Andrew Garfield) nos contando sobre o Tick, Tick, o que de certa forma funcionava exatamente como um bomba relógio, que sempre estava em sua cabeça, que sempre nos pegava em cada cena, como se esperássemos sempre o Boom. Curiosamente também ao início temos uma das melhores músicas de todo o filme, que é exatamente a parte em que ele relata o seu medo de chegar aos 30 anos. Me identifiquei demais com esta parte, até por pensar exatamente da mesma forma quando eu estava chegando nos meus 30 anos, aquela fase em que eu estava saindo da juventude para a idade adulta mais velha, ou de certa forma, eu também pensava que estava ficando ultrapassado. Aliás, preciso destacar aqui que todas as músicas do filme são excelentes, eu gostei de todas, vou pesquisar uma por uma pra guardar comigo para sempre.
Pra mim 'Tick, Tick... Boom!' é um musical, mas um musical diferente, que ora nos mostrava o lúdico em contrapartida já nos confrontava com a vulnerabilidade em cena. O longa funciona em duas fases diferentes, inicialmente somos imergidos em um tom mais extrovertido, mais alegre, logo em seguida já caminhamos para um tom mais denso, mais pesado, é exatamente este contraponto entre o drama e a leveza que me cativou no filme. O longa é realmente um musical mais dramático, até por navegarmos no drama do próprio Jon em busca da sua realização pessoal e profissional. Na medida que também somos inseridos no drama da sua namorada Susan (Alexandra Shipp), que também tem seu sonho, seu objetivo e busca realizá-lo, mesmo que pra isso ela tenha que abrir mão do seu relacionamento com o Jon. Também temos o drama do seu melhor amigo Michael (Robin de Jesús), por todas as suas decisões e suas consequências, se destacando como uma das melhores partes de todo o filme ao final. Outro ponto que me deixou maravilhado era como as canções acompanhava cada mudança de tom no filme, ora sendo mais eufórica em momentos mais leve e ora mais pesada em momentos mais dramáticos, fazendo aquele contraponto entre a realidade e a imaginação.
Andrew Garfield é o coração do filme, é impressionante como ele está bem inserido no personagem, como ele atua com a alma, com bastante leveza, simpatia, carisma, sendo extrovertido e dramático nas horas certas. Típico personagem em que nos cria empatia, amor, admiração, euforia, com aquele misto de tristeza e aperto no coração com o decorrer da trama. Andrew é um ator incrível, que já nos entregou maravilhosas atuações como o Padre Rodrigues em "Silêncio" (2016) e o soldado Desmond Doss em "Até o Último Homem" (2017). Em 2017 Andrew ganhou a sua primeira indicação ao Oscar na categoria Melhor Ator pelo seu trabalho estupendo em "Até o Último Homem". Este ano ele já levou o Globo de Ouro de Melhor Ator Comédia/Musical (muito justo por sinal) e está indicado no SAGs e no Critics. No Oscar é o grande ponto em questão, Andrew Garfield com certeza ganhará uma merecida indicação à Melhor Ator, mas concorrerá com atuações de Benedict Cumberbatch e Will Smith, que dificultará muito a sua vitória na categoria. Estou admirado, pois eu não sabia que o Andrew Garfield cantasse tão bem.
Alexandra Shipp também entrega um ótimo trabalho e uma grande atuação. Gostei muito da sua personagem, esteve o tempo todo em perfeita harmonia e obteve uma ótima química com o Andrew Garfield - destaque para a maravilhosa cena musical entre ela e a Vanessa Hudgens (mais uma bela musica do filme). Robin de Jesús é mais um que entrega um grandiosa atuação, mais um que esteve em perfeita harmonia com Andrew Garfield, principalmente no último ato do filme, onde ele chega ao ápice de seu personagem. Bradley Whitford (meu velho conhecido da série The Handmaid's Tale) está bem no filme, ele entrega um personagem com a dosagem certa para todo o desenrolar da trama, gostei muito do seu trabalho. Vanessa Hudgens me surpreendeu positivamente, não imaginava que a sua personagem fosse tão boa no filme, e de fato ela foi excelente (até pelo fato dela já ser cantora, dançarina...enfim!). Temos várias cenas memoráveis da Vanessa durante todo filme: como a sua performance musical na cena junto com o Andrew Garfield, assim como a cena em que ela canta junto com a Alexandra Shipp - sensacional!
'Tick, Tick... Boom!' teve duas indicações no Globo de Ouro, levando a estatueta de Melhor Ator Comédia/Musical para Andrew Garfield e perdendo a estatueta de Melhor Filme Comédia/Musical justamente para "Amor, Sublime Amor". No Critics o longa aparece em duas categorias (Melhor Filme e Ator), e no SAGs somente na categoria de Melhor Ator para o Andrew Garfield. Estou muito curioso nas indicações do Oscar, quero muito saber em quais categorias que o longa aparecerá entre os indicados. Eu aposto nas categorias de Melhor Ator e Melhor Filme, nas demais é uma incógnita, a gente nunca sabe o que se passa na cabeça das pessoas que indicam e que votam na academia.
Assim como "Os Miseráveis" me fez quebrar o preconceito com musicais lá em 2013, 'Tick, Tick... Boom!' me fez quebrar mais uma vez este ano. Eu estou completamente maravilhado com o filme, completamente agradecido ao Lin-Manuel Miranda por nos entregar esta obra musical tão magnífica e tão intimista, completamente agraciado pela bela atuação e entrega do Andrew Garfield. 'Tick, Tick... Boom!' é sim um belíssimo drama musical, que por mais que você não goste de musicais, mas você precisa dar uma chance de ser surpreendido e impactado, assim como eu fui. [25/01/2022]
(Curiosamente eu assisti ao filme hoje, no dia 25 de janeiro, exatamente o mesmo dia em que Jonathan Larson faleceu em 1996)
King Richard: Criando Campeãs
3.8 409King Richard: Criando Campeãs (King Richard)
O longa dirigido por Reinaldo Marcus Green e roteirizado por Zach Baylin realmente nos impressiona pela audácia aplicada em nos surpreender, em nos contar uma história em que possivelmente todos (assim como eu) achavam que seria sobre a vida das duas maiores tenistas da história - Venus e Serena Williams. Até podemos considerar que sim, que o roteiro também abrange o início da vida de cada uma (até mais da Venus), mas o fato que realmente me ganhou e me surpreendeu, é exatamente o foco em nos entregar uma cinebiografia pela perspectiva do Richard Williams (o pai delas, que foi magistralmente interpretado por Will Smith).
O roteiro de Zach Baylin nos confronta diretamente com a verdadeira fé, garra, força, motivação, ambição, determinação por parte do Richard, ao focar no treino das filhas usando seus métodos próprios para torná-las campeãs. Richard já havia traçado o seu plano em sua cabeça de tornar as suas filhas campeãs desde o início, ele sempre esteve focado nesse objetivo como pai, como treinador, como incentivador, enfrentando todas as suas dificuldades e principalmente com o objetivo de afastá-las das ruas, até por residirem em um bairro pobre e violento. Richard sempre teve que conviver com o preconceito, com a desigualdade, com a indiferença, até por ter sido criado na época da segregação racial, dessa forma ele estava remando contra a maré ao dedicar a sua vida em tornar as suas duas filhas negras em futuras campeãs no tênis, consequentemente um esporte voltado para os brancos.
Will Smith mais uma vez nos impressiona e nos impacta com mais uma bela atuação, assim como já havia feito em suas performances em "Beleza Oculta", "À Procura da Felicidade" e "Sete Vidas". Will Smith é um ator incrível, que usa uma versatilidade incrível em suas atuações, que consegue nos levar do riso ao choro em questões de segundos. Em 'King Richard' ele traz um personagem que era tido como um velho ranzinzo, rabugento, reclamão, chato, aquele mau humor imposto pela vida, que lhe obrigava a criar aquela casca dura pra se defender e defender a sua família de tudo e de todos ao seu redor. A caracterização do Will Smith estava muito fiel ao personagem, assim como o trabalho de maquiagem, que o deixou mais envelhecido, que nos mostrava aquele rosto sofrido e cansado. Will Smith tem uma veia para o drama, ele sempre consegue nos impactar em suas atuações, exatamente como ele faz aqui, ao nos entregar um personagem que está completamente carregado emocionalmente. Depois de alguns trabalhos que facilmente já poderia ter lhe rendido a estatueta do Oscar, eu acho que de fato chegou a sua hora (Will Smith já levou o Globo de Ouro e está indicado em praticamente todas as premiações).
Saniyya Sidney faz um grande trabalho ao interpretar a jovem Venus Williams, principalmente na cena do jogo final, onde podemos comprovar ainda mais o seu grande talento para atuar. Saniyya já nos chamou a atenção em "Fences", onde ela interpretava a pequenina Raynell, filha do casal Troy e Rose (Denzel Washington e Viola Davis), logo em sua estreia nos cinemas com apenas 10 anos. Saniyya Sidney está indicada no Critics à Melhor Revelação. Demi Singleton fez a Serena Williams, e de certa forma ela não teve o mesmo destaque da Saniyya, mas ai já foi uma decisão de roteiro (que explicarei adiante). Aunjanue Ellis faz a esposa Brandi Williams, sendo mais uma que entrega uma ótima atuação. Aunjanue faz aquela esposa que apoia o marido em suas decisões, que sempre está ao seu lado para o que der e vier, sempre ativa e que não aceita a submissão, tanto que uma das melhores cenas do filme é exatamente um confronto de ideias e opiniões entre ela e o Richard (Aunjanue Ellis foi indicada à Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro e está indicada no Critics). Sem deixar de mencionar o Jon Bernthal, que esteve ótimo como o treinador Rick Macci.
A fotografia do longa é boa, de certa forma até mais escurecida e acinzentada, que nos dava a dimensão de todo o drama familiar, e mesmo nas cenas em que teoricamente exigiria uma fotografia mais viva e animada (como na cena da disputa final), ela continuava com aquele tom mais denso. A trilha sonora de Kris Bowers (Green Book: O Guia) está bem dosada, bem adicionada e acompanha muito bem a trama. A direção de arte também se destaca, a cenografia é muito boa, assim como a montagem, a edição, tudo se destaca pelas riquezas de detalhes.
O roteiro de Zach Baylin nos ganha exatamente pela forma como ele decide contar a história focada propriamente no Richard Williams e não em suas duas filhas que aspiravam ao estrelato. De fato o filme é sobre o Richard, sobre a sua visão da história, sobre a sua forma adotada para treinar as suas duas filhas, até por isso que nos perguntamos: porquê será que a Venus teve um maior destaque (um maior tempo de tela) do que a Serena? Até pelo fato de ela ser a mais velha e o Richard já ter em sua mente (seu plano) em tornar a Venus como a número 1 do mundo e a Serena como a maior tenista de todos os tempos - exatamente na cena em que o Richard conversa com a Serena, que por sinal é uma cena maravilhosa!
"King Richard" esteve indicado no Globo de Ouro em quatro categorias, levando apenas a de Melhor Ator para Will Smith e perdendo a categoria principal de Melhor Filme Drama para "Ataque dos Cães". No Critics o longa está indicado em Melhor Canção ("Be Alive" da Beyoncé), Roteiro Original (Zach Baylin), Revelação (Saniyya Sidney), Melhor Atriz Coadjuvante (Aunjanue Ellis), Ator (Will Smith) e Melhor Filme. No SAG o filme só aparece nas categorias de Melhor Elenco e Melhor Ator, para Will Smith. A grande disputa de "King Richard" ficará para o Oscar, que com certeza estará entre os favoritos da noite.
Eu ainda não assisti a todos os indicados (até porque a lista ainda não saiu), mas eu acredito que a maior disputa de "King Richard" será com "Ataque dos Cães". Na categoria de Melhor Ator eu acredito que a disputa ficará entre Benedict Cumberbatch e Will Smith, e se eu tivesse que decidir entre os dois, seria muito difícil, mas eu escolheria o Will Smith por muito pouco, apesar do trabalho do Benedict em "Ataque dos Cães" está estupendo. Já pensando na disputa de Melhor Filme somente entre esses dois, eu daria a estatueta para "Ataque dos Cães", que por mais que "King Richard" seja carregado em um excelente drama familiar verdadeiro, "Ataque dos Cães" é mais completo, mais surpreendente e mais fantástico como um todo. [18/01/2022]
Casa Gucci
3.2 706 Assista AgoraCasa Gucci (House of Gucci)
Um elenco estrelado por Lady Gaga, Adam Driver, Jared Leto, Jeremy Irons, Al Pacino e o gênio Ridley Scott na direção, é a verdadeira receita para o sucesso. O longa é baseado no livro The House of Gucci: A Sensational Story of Murder, Madness, Glamour, and Greed, escrito por Sara Gay Forden.
Eu diria que o último filme excelente do Ridley Scott foi "Perdido em Marte", de lá pra cá seus últimos trabalhos foram de razoáveis para ruins, como é o caso de "Todo o Dinheiro do Mundo", que por sinal é um filme muito ruim. Casa Gucci chega para quebrar esta sequência ruim do Scott, e de fato o longa é muito bom, muito divertido, muito gostoso de acompanhar, te prende desde o início até o final dos créditos.
Começando pelos pontos positivos:
Temos uma direção de arte estupidamente perfeita, com uma cenografia e uma ambientação do mais alto nível de qualidade. É realmente impressionante como os cenários do filme são perfeitos e estão perfeitos, como os carros, as cidades, as casas, os móveis, são tudo muito fiéis ao fato do longa se passar entre os anos 70 e 90, e justamente todos os detalhes corroboram para a qualidade ser cada vez mais sentida e mais perceptível. As maquiagens e cabelos também estão muito bem ajustadas pra época, assim como os figurinos do mais alto padrão de requinte e elegância (como os inúmeros modelitos usados pela Patrizia Gucci), e de fato não poderia ser diferente em um longa justamente sobre os padrões da moda.
A fotografia de Dariusz Wolski é muito bem destacada ao longo da trama e colabora intensamente em cada cena, principalmente entre os cenários mais abertos e gelados, onde os contraste de cores da fotografia tende a melhorar muito. A trilha sonora de Harry Gregson-Williams é um casamento perfeito com a trama e acompanha muito bem os passos dos personagens. Com músicas conhecidas (algumas Italianas) e destacadas dentro do mundo da moda, que intensifica ainda mais as qualidades técnicas do longa (teve várias cenas em que sem querer eu me pegava cantando as músicas, principalmente ao final).
O ponto mais positivo do longa do Ridley Scott é sem dúvidas o elenco e suas atuações, que simplesmente estavam completamente impecáveis.
Pra mim a melhor atuação do filme é sem dúvidas do Jared Leto, que nos entrega mais um belíssimo trabalho na pele do Paolo Gucci. É realmente impressionante a sua capacidade de caracterização, de concentração, de interpretação, de atuação, com aqueles seus trejeitos e sotaques, que o deixou completamente irreconhecível, que me deixou completamente embasbacado e se perguntando se realmente era o Jared Leto ali. Mais um trabalho de alto nível e de grande entrega, assim como ele já havia nos impressionado em 2014 em "Clube de Compras Dallas" (trabalho que lhe rendeu o Oscar). Que ator que é esse Jared Leto senhoras e senhores! Ele está indicado no Critics Choice e no SAG Awards na categoria Ator Coadjuvante, e com certeza brigará no Oscar pela estatueta junto com Kodi Smit-McPhee. (sem esquecer do BAFTA)
Lady Gaga é a segunda melhor do filme. Mais uma atuação em alto nível, assim com ela já havia nos entregado em "Nasce uma Estrela", que por sinal briga em pé de igualdade pela a sua melhor atuação. É difícil apontar em qual dos dois trabalhos ela está melhor, acho que são trabalhos diferentes e atuações completamente opostas, mas o fato é que são performances memoráveis e prazerosas. Gaga traz uma personagem que tem muitas vertentes, muitas facetas, que consegue navegar com muita propriedade no drama, na comédia, na sátira, na ira, se passando por uma boa moça para conseguir conquistar a sua presa e ainda mais maquiavélica para planejar e atacar. Uma interpretação que nos mostrava todo o seu poder em cena e a sua capacidade em atuar de forma serena e de forma letal, fazendo aquele contraponto no drama e no cinismo - SENSACIONAL - vide a sua última cena no tribunal (que performance meus amigos). Gaga esteve indicada no Globo de Ouro (mas não levou), está indicada no Critics Choice e no SAG Awards, e com certeza estará no BAFTA e no Oscar. Agora se de fato ela vai levar, aí já é outra história.
Adam Driver esteve muito bem como Maurizio Gucci, o grande ponto em questão do filme, o divisor de águas. Uma atuação muito segura, jogando na segurança, sem sair da sua zona de conforto, porém sem um grande destaque (como foi com a Gaga e o Leto), mas de fato conseguiu manter o padrão de atuação de todo o elenco. Jeremy Irons também entrega uma atuação bem fiel ao personagem, contribuiu muito bem. Assim como o mestre Al Pacino, que nos deu muitas risadas com seu personagem mais cômico. Em questões de atuações não tem muito o que falar de Al Pacino, sempre será aquele gênio que já estamos acostumados. Completando o elenco ainda tivemos a Salma Hayek como Giuseppina "Pina" Auriemma, com ótimas cenas com a Patrizia por sinal. Jack Huston como Domenico De Sole e Camille Cottin como Paola Franchi (uma personagem um tanto quanto estranha eu diria).
Agora os pontos negativos:
Eu diria que o roteiro do longa não é nada excepcional, nada muito complexo, de fato não é um ponto fora da curva. Eu diria que é um roteiro bem simples, até pelo fato da própria história da família Gucci ser encontrada facilmente na internet, e ainda por cima o wikipédia entrega todos os acontecimentos e exatamente o que acontece com o Maurizio Gucci e todos os seus envolvidos. Então em questões de roteiros não tinha muito o que fazer, realmente teriam que jogar na segurança, como de fato fizeram. Outro ponto que me incomodou foi os avanços no tempo do filme, eu achei muito rápido e de certa forma até sem coesão, com acontecimentos que saltavam de um lado para o outro de uma forma muito abrupta, com uns cortes de cenas mal feitos. Acho que isso se deu pelo fato do filme querer abranger toda a história da família Gucci, desde lá no início quando a Patrizia conhece o Maurizio, até os acontecimentos finais de cada um. Exatamente por isso que o roteiro acelerava muito em algumas passagens de tempo.
Casa Gucci foi completamente esnobado no Globo de Ouro, com apenas uma indicação para Melhor Atriz em Filme Drama para Lady Gaga. No Critics Choice Awards o longa aparece indicado nas categorias Melhor Atriz para Gaga e Melhor Ator Coadjuvante para Jared Leto, além de Melhor Figurino e Melhor Cabelo e Maquiagem. No SAG Awards o filme concorre em Melhor Ator Coadjuvante para Jared Leto, Melhor Atriz para Gaga e Melhor Elenco. No BAFTA saiu uma pré-lista de indicados e o filme aparece em várias categorias, inclusive nas principais (agora é esperar a lista de indicações definitivas). Agora a minha grande dúvida é no Oscar, em quais categorias o filme aparecerá? Será que ficará apenas com as categorias técnicas de figurino, cabelo e maquiagem? A Lady Gaga com certeza estará indicada à Melhor Atriz, mas e o Jared Leto? A Academia vai bancar a sua indicação? E Melhor Filme? Será que o Longa aparecerá entre os indicados na principal categoria da noite? Eu acredito que não.
Casa Gucci é um ótimo filme, muito leve, muito prazeroso, daqueles que nos diverte e prende a nossa atenção o tempo todo dentro da sala de cinema. De fato o novo trabalho do Ridley Scott tem sim seus probleminhas de roteiros, mas nos ganha pelas belíssimas qualidades técnicas e um elenco que entrega atuações afiadíssimas. Eu adorei o filme do início ao fim, me divertiu demais e me deixou completamente paralisado na cena final da Gaga no tribunal - quando ela profere a frase - 'You can call me Signora Gucci' - fechando com chave de ouro ao som da bela canção "Baby Can I Hold You" de "Luciano Pavarotti & Tracy Chapman" - simplesmente magnífico! [17/01/2022]
"Father, Son, and House of Gucci"
Ataque dos Cães
3.7 933Ataque dos Cães (The Power of the Dog)
Jane Campion (campeã do Oscar de Melhor Roteiro Original pelo "O Piano" de 1993) escreve e dirige o longa que é baseado no romance de mesmo nome de Thomas Savage (escritor americano falecido em 2003).
Campion nos traz uma obra enigmática e muito inteligente que usa como pano de fundo o cenário do faroeste, que necessariamente pode ser considerado um ambiente predominantemente masculino, para tocar em pontos como a intolerância, a rivalidade, a dualidade, o machismo, a homofobia, a intransigência e até o alcoolismo e a opressão. Campion não faz questão de retratar a sua obra de uma forma completamente aberta (onde tudo esteja bem explicado), ela usa de uma forma que tudo esteja nas entrelinhas, que necessariamente ocorra em subtextos com um misto de ríspido e delicado, agressivo e sensível, tenso e suave, o que nos deixa completamente imerso na trama.
O roteiro de Jane Campion é bem escrito, bem trabalhado, bem orquestrado, bem transportado para a tela, onde tudo funciona com autenticidade e coesão. Como a maneira em que é mostrada aquela certa rivalidade entre os dois irmãos, mas de uma forma leve e não completamente aflorada. A inveja também é destacada juntamente com a oposição, mas sempre de uma forma sutil. A descaracterização, a quebra de barreiras, a intolerância, a desconstrução da imagem, o confronto de ideias, tudo está nas entrelinhas do roteiro. Campion acerta exatamente nessa forma que o roteiro tem de lidar com cada ponto em que é trazido para a trama, onde nos prende pela sutileza, pela curiosidade, por despertar a nossa vontade de querer ir cada vez mais além.
Phil Burbank (Benedict Cumberbatch) é aquele típico personagem com pinta de 'caubói machão', um ser inatingível, intocável, superior, que fazia o que queria e falava o que queria. Um ser prepotente, invejoso, odioso, preconceituoso, intolerante, mas no fundo era vazio, amargurado, infeliz, que vivia de aparências e com um rótulo que no fundo não o representava verdadeiramente. Benedict Cumberbatch entrega uma atuação completamente primorosa, genial, forte, impactante, com uma grande entrega e uma performance magnífica. É realmente impressionante o quanto Benedict estava incorporado no personagem, pelo seus trejeitos, suas expressões faciais, seu linguajar chulo e pesado - sensacional! Benedict Cumberbatch estava indicado no Globo de Ouro na categoria Melhor Ator (perdendo para o Will Smith, por 'King Richard: Criando Campeãs'). Ainda está indicado no Critics, no SAG's e com certeza também estará no BAFTA e no Oscar.
Peter (Kodi Smit-McPhee) é aquele contraponto do Phil, é completamente o inverso do rótulo de 'caubói machão'. Peter é um jovem doce, sonhador, sensível, delicado, que ainda está se descobrindo. Outro acerto do roteiro da Jane Campion é exatamente o confronto/embate entre Phil e Peter, sendo muito necessário para o desenrolar de toda a trama e com um plot twist completamente avassalador, curioso, impressionante e magnífico. Kodi Smit-McPhee traz um personagem com uma grande carga dramática, que nos entrega toda essa dramaticidade em cena, chegando ao seu ápice em sua última cena, quando ele está sentado com o rolo de cordas feito pelo Phil no chão - perfeito! Kodi Smit-McPhee está no papel da sua vida em "Ataque dos Cães", sendo muito bem premiado com o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante. Ele também está indicado no Critics, no SAG's e também estará no BAFTA e no Oscar.
Kirsten Dunst completa a trinca de ouro de "Ataque dos Cães". Kirsten é Rose, uma viúva que inicialmente vive com seu filho adolescente Peter, mas com a sua mudança de vida e até de status social, ela passa a ser confrontada por Phil (seu cunhado), o que de certa forma lhe causa muito desconforto e uma entrega ao alcoolismo, principalmente com a aproximação entre Peter e Phil. Kirsten é mais uma desse elenco que entrega uma atuação em altíssimo nível, com uma personagem sofrida, amargurada, carregada emocionalmente, que também se sentia insegura e amedrontada, dando um completo show em cena, uma aula de atuação. Destaque para a cena do jantar em que ela trava sentada no piano - uma maravilha de atuação! Kirsten Dunst foi indicada à Melhor Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro, perdendo para Ariana DeBose, por "Amor, Sublime Amor". Está indicada no Critics, no SAG's, e assim como o Kodi e o Benedict, também estará no BAFTA e no Oscar.
Jesse Plemons é George Burbank, irmão do Phil e casado com a Rose! Na minha opinião, Jesse entrega uma atuação ok, nada surpreendente, mas é notável que ele está abaixo do trio mencionado acima.
A detalhista trilha sonora de Jonny Greenwood acompanha cada cena com muita harmonia, conseguindo nos aproximar de cada personagem e nos imergindo profundamente na trama (aquela típica trilha sonora que é o coração do filme). A fotografia de Ari Wegner é completamente sublime e genial. A própria Jane Campion faz um trabalho absurdo na direção do longa. Aqueles focos de câmeras mais abertos nos dava a exata dimensão de como era filmar em um cenário que se passava no ano de 1925, assim como os focos mais fechados dentro do estábulo e nos rostos dos personagens. A cenografia, edição, direção de arte, figurinos, tudo muito perfeito e feito com muito amor à arte cinematográfica.
O longa de Jane Campion beira a perfeição, porém: o ritmo inicial do filme é lento e demora um pouco para engrenar, não chega a ser arrastado, mas confesso que me incomodou um pouco. Isso não quer dizer que o filme seja cansativo, apenas não consegui me envolver logo de cara, talvez pelo tom mais pacato inicialmente. Isso não tira o brilho dessa maravilhosa obra, apenas um certo pontinho que eu não poderia deixar de mencionar.
O mais interessante do longa é a forma como ele te dá margens para algumas interpretações como:
Peter pode ser considerado uma vítima inicialmente, mas como o passar do tempo você o descobre como o verdadeiro vilão. Me pareceu uma espécie de comportamento psicopata, por sua forma de acariciar os animais e logo após matá-los. O que me leva a acreditar que ele possa ter matado o próprio pai para proteger a mãe, pelo fato do pai também ser um alcoólatra. Também acredito que o Peter premeditou a morte do Phil, até pela cena em que a Rose vê o Peter e o Phil partindo sozinhos para as montanhas, o que poderia a fazer acreditar que seu filho estivesse em perigo sozinho com o Phil, quando na verdade quem estava em perigo era o próprio Phil, porquê a Rose já sabia do que seu filho era capaz.
A própria Rose ora poderia ser a vítima, ora poderia também ser a vilã, por nutrir um certo ciúme para com o seu filho, ou até por saber do que seu filho era capaz (por ela saber que ele era um psicopata) e talvez pelo seu próprio desejo que seu filho matasse o Phil.
Phil por sua vez é o ser mais mascarado da história, que mais tem a esconder, que mais vive de aparências. Eu acredito que o Phil teve um certo romance com Bronco Henry, até pela forma amável em que ele sempre fala dele e pela a cena em que o Phil conta para o Peter que o Bronco Henry salvou a sua vida quando ambos dormiram juntos e pelados, ou até posso considerar que o Phil foi abusado. Na verdade o Phil era exatamente como o Peter quando era jovem, também tinha aquele jeito meio afeminado, o que de certa forma o fez criar aquela aparência de 'machão' e aquele jeito intolerante com o Peter, para esconder o seu verdadeiro segredo. Eu confirmei a minha tese exatamente na cena em que o Peter acha o local secreto do Phil, onde ele guarda as revistas de fisiculturismo.
Na verdade o Peter tem aquele jeito frágil, afeminado e inocente, enquanto o Phil aquele jeito de 'machão', carrancudo e intolerante, mas um é exatamente o inverso do outro. Peter é de fato o letal e o Phil a vítima final.
Com certeza o Peter matou o Phil no final quando o entregou o couro do boi contaminado, contaminando o corte na mão do Phil. Isso fica bem claro quando o Peter começa a fumar aquele cigarro na frente do Phil, como uma forma de comemorar a execução do seu objetivo. Objetivo esse em que a Rose também tem a sua parcela de culpa, por ajudar a sumir com todos os couros da fazenda (dando para os índios), uma forma que ela encontrou de ter o único couro do boi contaminado para que o Phil terminasse a corda do Peter. Está ai mais uma prova de que a Rose não era tão vítima quanto parecia.
No Globo de Ouro "Ataque dos Cães" teve indicações nas categorias Melhor Trilha Sonora (Jonny Greenwood), Melhor Roteiro (Jane Campion), Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante que já mencionei acima, além das estatuetas por Direção para Jane Campion, Melhor Ator Coadjuvante para Kodi Smit-McPhee e a principal categoria da noite - Melhor Filme Drama. No Critics Choice Awards o longa está indicado nas categorias Trilha, Edição, Fotografia, Roteiro Adaptado, Elenco, Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante, Ator, Diretor e Melhor Filme. No SAG Awards o longa aparece indicado em três categorias: Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante e Ator.
"Ataque dos Cães" é um dos grandes favoritos para esta época de premiações, com certeza o longa aparecerá em várias categorias no BAFTA e no Oscar. No Oscar eu aposto em indicações para trilha sonora, fotografia, os três atores já mencionados, direção e com certeza a Melhor Filme. E digo mais: o longa de Jane Campion é um dos fortes candidatos para levar o maior prêmio da noite, mesmo sem ainda ter conferido os demais concorrentes. [15/01/2022]
Matrix Resurrections
2.8 1,3K Assista AgoraMatrix Resurrections (The Matrix Resurrections)
É inegável que 'Matrix' (1999) moldou o mundo cinematográfico, revolucionou completamente os efeitos especiais nos cinemas. O longa das irmãs Wachowski era atemporal, à frente do seu tempo, serviu de inspiração para várias produções dos cinemas, e muitas coisas são tiradas de 'Matrix' até os dias atuais.
O primeiro 'Matrix' é uma obra-prima do cinema mundial, o segundo e o terceiro são ótimos e se complementam muito bem, dando assim um final perfeito para a trilogia (na minha opinião sem a menor necessidade de um quarto filme). O meu primeiro contato com 'Matrix' foi em 1999, quando consegui a locação da fita VHS para assistir como muitas dificuldades em meu primeiro vídeo cassete de míseras 4 cabeças (quem viveu na época sabe muito bem do que estou me referindo). Me apaixonei pelo o filme, me tornei fã, e a partir do segundo já acompanhei nos cinemas (o terceiro 'Matrix' junto com 'Homem Aranha 2' foram os filmes de maior lotação que eu já assisti em uma sala de cinema).
Eu nunca fui a favor de reviver franquias do passado, de trazer produções que já construíram os seus sucessos, que já criaram as suas histórias em suas épocas. Acho que a magia se encontra exatamente nesse ponto, em poder manter vivo na memória todo o brilhantismo e grandiosidade que um determinado filme/franquia construiu em seu tempo (sim, eu sou nostálgico e saudosista). Temos vários casos em que decidiram reviver uma franquia do passado depois de alguns anos e que não deram certo: como "Jogos Mortais", "Aliens", "O Exterminador do Futuro" e com certeza "Matrix" acabou de entrar nessa lista.
Matrix Resurrections funciona como um reboot na primeira hora do filme e a partir da segunda ele tenta expandir todo o seu universo (de uma forma bem falha por sinal). O mais novo filme da franquia aposta novamente nas irmãs Wachowski (dessa vez com Lana na direção e Lily no roteiro) como também aposta em 'quase' o mesmo elenco.
Eu vou ser bem sincero, pra mim o longa funciona apenas pelo grande saudosismo da franquia e só. O filme é bem mediano, tem vários problemas, a começar pelo roteiro, que também é mediano (pra não dizer inteiramente ruim). O roteiro é mal escrito, básico, preguiçoso, que tenta se segurar unicamente pelo o que já construiu lá atrás, como o fato de a todo momento ficar nos mostrando inúmeros flasbacks de cenas dos filmes anteriores (como uma forma de tentar comprar a nossa atenção a qualquer custo). O ritmo do filme é lento (até meio arrastado), falta emoção, falta imersão, falta ação, principalmente nas lutas, que por sinal são muito ruins se comparadas com os filmes anteriores. Por falar em lutas, elas não foram bem coreografadas, pelo contrário, foram bem preguiçosas.
Matrix sempre se destacou em seus efeitos especiais (um dos pontos cruciais da trilogia). Nesse quarto filme por incrível que pareça eu senti falta de uns efeitos especiais à nível dos filmes passados (e olha que estamos falando de 18 anos atrás). A direção não é mais a mesma, o trabalho de câmeras está muito distante de nos imergir e nos empolgar nas cenas de lutas como fazia anteriormente (como aquela belíssima cena do Neo lutando contra milhares de agentes em Matrix Reloaded). A trilha sonora é até funcional, consegue se destacar em algumas cenas (principalmente na abertura). Assim como a fotografia que também é muito boa.
Em questões de elenco é nostalgia pura! Poder rever Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Anne Moss) juntos novamente depois de tantos anos é completamente emocionante. Na minha memória a todos os momentos aparecia a figura daquele Neo do Keanu Reeves novinho, sem barba, de cabelos curtos, que logo era sobreposto por um Neo mais velho, barbudo, cabeludo. Em questão de atuação não tenho muito o que falar: Neo do Keanus Reeves é um personagem que já virou um clássico (apesar de sentir falta daquelas lutas bem coreografadas no maior estilo Neo). A Trinity da Carrie-Anne Moss é outra personagem clássica (possivelmente a principal personagem de sua carreira). O problema é o fato da Trinity ser mal aproveitada, senti falta de uma participação maior, principalmente junto com o Neo, como aquele casal incrível que aprendemos a amar lá no início dos anos 2000.
É completamente notável e sentida a enorme falta que o Morpheus do Laurence Fishburne faz para o filme, tanto é que não paramos de rever as suas cenas em constantes flashbacks. Mas devo confessar que o Yahya Abdul-Mateen II entrega um ótimo Morpheus, com um carisma na medida certa e uma ótima atuação. Jonathan Groff como Smith eu não gostei, caricato demais, não funcionou. O Smith do Jonathan Groff é completamente esquecível e está muito, muito, muuuuuito longe do agente Smith do grande Hugo Weaving. O projeto de vilão mal executado do Neil Patrick Harris é uma tristeza de tão ruim, aquele típico vilão canastrão, cheio de frases de efeito e que definitivamente é mais um personagem completamente esquecível nesse filme. Uma grata e feliz surpresa foi a Niobe da Jada Pinkett Smith, que assim como o Neo e a Trinity, me encheu de nostalgia e emoção.
Matrix Resurrections bate exatamente naquela tecla que eu já destaquei acima, que é o fato de trazer uma franquia que deu certo lá atrás para os dias atuais, sendo que dificilmente dará certo novamente - estamos diante de mais uma prova disso! Para quem é fã de longa data (assim como eu) irá sentir aquele saudosismo pelo elenco, pelas irmãs Wachowski, pela trilha sonora e principalmente por ser 'Matrix' e contar com o Neo e a Trinity em cena, porquê definitivamente 'Matrix Resurrections' se segura unicamente pela nostalgia. [08/01/2022]
(três estrelas por ser muito fã da franquia)
Não Olhe para Cima
3.7 1,9K Assista AgoraNão Olhe para Cima (Don’t Look Up)
Adam McKay veio da comédia, sempre esteve presente nesse meio escrevendo e produzindo. A partir de 2015 ele começa a trabalhar com um tom puxado para humor negro, mais crítico, mais satírico, e nos entrega o maior sucesso de sua carreira até aqui - 'A Grande Aposta', que lhe rendeu o seu primeiro Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Em 2018 McKay trouxe seu filme mais político, 'Vice', que funciona como uma biografia, ou até um documentário sobre Dick Cheney (vice-presidente de George W. Bush), mas sem deixar de lado a comédia, a sátira, aquela crítica ácida. Em 'Não Olhe para Cima' McKay traz muitas coisas de seus filmes anteriores, como aquele tom mais político de 'Vice' misturado com aquela sátira de 'A Grande Aposta'.
O novo longa de Adam McKay é uma comédia satírica, uma crítica ácida a sociedade, as classes sociais, ao negacionismo, uma sátira à política como um todo, mostrando uma certa descrença das pessoas perante os governos, o sistema democrático e a sua capacidade de interferir, diagnosticar ou até mesmo resolver os problemas que estão por vir. É incrível como o longa de forma satírica mostra a forma como o globalismo interfere diretamente nos governos políticos, que por sua vez interfere nas mídias sociais, que por sua vez interfere e até controlam a população.
O roteiro de Adam Mckay é absurdamente inteligente e funcional, aquele típico roteiro que expõe, que aflora, que coloca o dedo na ferida em várias questões de uma forma muito coesa (um roteiro à nível de Oscar). Como o fato da sociedade viver em um completo negacionismo, aquela desinformação opcional (os famosos fake news), onde hoje em dia tudo é praticamente moldado via internet, onde a própria internet tem a força de moldar as nossas cabeças e passar a nos controlar como marionetes. Aqui no Brasil não é somente a internet que tem esse poder, os próprios canais de TVs (como a Globo) controlam a população e ditam o que devem seguir, acreditar, fazer - mais marionetes que isso é impossível.
É incrível como o roteiro expõe a grande jogada de marketing, a grande jogada política que a Presidente Janie Orlean (Meryl Streep) utiliza somente quando o caso está ao seu favor, mesmo que de uma forma falha. Falando da própria Presidente Americana, eu vejo como mais uma pitada do humor ácido de Adam McKay, pelo fato dos americanos nunca terem tido uma mulher no comando da "Casa Branca". Também vejo como uma cutucada no governo do ex-presidente americano Donald Trump, até pelos trejeitos e a forma debochada e ácida que a Meryl Streep trouxe para a sua personagem ao encarar os fatos, e nos caso dos EUA, isso vindo de uma Presidente mulher se torna ainda mais relevante dentro do contexto que o filme queria nos passar.
Aqui no Brasil podemos facilmente comparar o governo da Presidente americana com o nosso governo atual. Quando ela não quer que ninguém olhe para cima, seria para não ver a realidade do cometa que está vindo para a terra, ou até mesmo a verdade sobre a sua forma de governar. Podemos facilmente comparar com o nosso governo atual que exibe uma forma de governo antivacina e anti-máscara, uma forma genocida de governar, exatamente a mesma forma genocida que Janie Orlean governou. A forma descrente como o governo e toda população encarou a vinda do cometa para a terra me remete exatamente a pandemia em que vivemos, onde grande parte da população e governos encaram com a mesma descrença (e estamos caminhando exatamente para o mesmo final do filme). Ainda posso destacar a cena do salgadinho: porquê cobrar algo que já é de graça? Viver é de graça, respirar é de graça, será mesmo? Pode ser até entrarmos em convívio em uma sociedade, onde tudo dentro do sistema é cobrado - sensacional!
Um grande elenco que funciona em perfeita harmonia. É incrível como todos do elenco estão bem e entregam performances primorosas.
Jennifer Lawrence e Leonardo DiCaprio seguram muito bem o filme e são os grandes responsáveis em cativar as nossas atenções. Elogiar uma atuação da grande Meryl Streep é simplesmente chover no molhado, simplesmente um show em cena. Cate Blanchett também está fantástica, é impressionante a facilidade e leveza que ela atua. Cate é aquela atriz que tudo que faz fica perfeito - genial! Tyler Perry foi o contraponto da Cate Blanchett, simplesmente um completava o outro naquele programa que tentava mascarar tudo. Uma grande atuação de Tyler Perry. Rob Morgan esteve em harmonia com a Jennifer e o DiCaprio sendo bastante importante, principalmente no começo dos acontecimentos. Jonah Hill também entrega um ótimo trabalho. Gosto muito do Jonah Hill e aqui ele foi aquele alívio cômico perfeito, aquela válvula de escape bastante funcional, o filhinho mimado da Presidente - perfeito! Mark Rylance é outro que entrega uma performance do mais alto nível. É incrível como o seu personagem funciona como uma mistura de várias personalidades que temos hoje na mídia e que são capazes de moldar as nossas cabeças - um trabalho e uma atuação completamente genial! A bela Ariana Grande atua no que ela faz de melhor, cantando e sendo uma personalidade influenciadora, exatamente o ponto certo que o filme queria nos passar. Ainda tivemos as participações do Timothée Chalamet e do Chris Evans.
Não Olhe para Cima está indicado no Globo de Ouro à Melhor Filme - Comédia/Musical, Melhor Ator em Filme - Comédia/Musical (DiCaprio), Melhor Atriz em Filme - Comédia/Musical (J Law) e Melhor Roteiro em Filme (McKay). No Critics Choice Awards o longa aparece nas categorias Melhor Filme, Melhor Elenco e Melhor Roteiro Original. No Oscar eu aposto que o longa ganhará algumas indicações, principalmente à Melhor Roteiro Original e Melhor Filme.
Podemos facilmente colocar 'Não Olhe para Cima' como um filme-documentário possivelmente fictício, baseado em possíveis fatos reais, com certeza irá se encaixar, mas também se encaixa com mais perfeição como um filme baseado em fatos bem reais e bem brasileiros.
Adam McKay ainda nos entrega a cereja do bolo na cena final em que podemos facilmente nos perguntar: realmente o ser humano poderia viver e procriar em um outro planeta? Ou talvez não? Porquê de fato os seres humanos são a maior ameaça a qualquer planeta existente. E na cena pós-créditos temos mais uma importante crítica ácida e satírica - aquela cutucada nas mídias sociais, nas redes sociais, youtubers, que aconteça o que acontecer, o importante na vida será sempre o follow e o like - sensacional!
Não poderia ter uma época melhor para este filme, ainda mais para os dias atuais, com os governos atuais.
Adam McKay estou te aplaudindo de pé! [04/01/2022]
Velozes e Furiosos 9
2.8 415 Assista AgoraVelozes e Furiosos 9 (F9: The Fast Saga)
É realmente complicado falar do que Velozes e Furiosos se tornou.
Sou um fã da saga desde o primeiro filme lá no início dos anos 2000. Acompanhei filme por filme, história por história, entrada e saída de personagens, tudo que que a franquia passou durante esses quase 21 anos de existência. Aprendi a amar a série, os personagens, praticamente se tornando algo da minha vida. Porém devo confessar que o rumo que a franquia tomou está cada vez mais complicado.
Eu compreendo que a franquia deveria se reinventar, deveria se adequar ao momento (ao público atual). Se você pegar um por um dos 9 filmes e assistir hoje, você notará várias mudanças, e de certa forma são mudanças necessárias, até porquê seria complicado manter viva uma franquia de 20 anos sempre no mesmo rumo. Porém devo confessar como um grande fã da saga - Velozes e Furiosos já deveria ter acabado, porque não faz mais nenhum sentido manter viva esta franquia.
Com o anúncio da nova trilogia iniciada em F8, me agradou bastante o roteiro iniciado naquele filme, porém em F9 as coisas complicaram (assim como já havia complicado nos filmes anteriores). Um dos pontos que me faz pensar que a franquia já deveria ter acabo é exatamente os roteiros. É completamente nítido que Velozes e Furiosos não tem mais pra onde caminhar, não tem mais o que inventar em questões de roteiros. F9 tem um dos piores roteiros de toda a franquia (se não for o pior), essa ideia de ficar caçando furos no passado dos personagens pra encaixar novos personagens na franquia não me convenceu, pelo contrário, eu achei bem ruim. Sempre irá aparecer um irmão, um primo, um cunhado pra conseguir compor um novo enredo baseado em um novo filme da franquia. Pra mim falta originalidade, verossimilhança, a saga já fugiu demais do que realmente era. Se reinventar depois de vários anos é uma coisa, mas apelar para ideias galhofas e estapafúrdias ai já é demais.
Em questões de elencos temos o mais do mesmo!
Vin Diesel sempre dominando o seu personagem. Michelle Rodriguez sempre entregando o que ela sabe fazer de melhor na pele da Letty. A volta (para a minha alegria) da Jordana Brewster e sua doce Mia (é difícil ver a Mia e não ver o Brian). Com um destaque para a cena em que ela fala em português (a mãe da Jordana é Brasileira). Tyrese Gibson e Chris "Ludacris" Bridges já foram melhores aproveitados na franquia, hoje eles não passam de um alívio cômico em cena, assim como a própria Nathalie Emmanuel. Charlize Theron esteve muito melhor em F8, aqui é apenas uma reprise piorada da sua vilã Cipher. Lucas Black é mais um mal aproveitado nesse filme.
John Cena definitivamente entrou na franquia pra ocupar o lugar antes ocupado pelo Dwayne Johnson. A volta improvável de Sung Kang, que pra todos estava morto, mas em Velozes e Furiosos trazer os mortos pra vida novamente é só uma questão de inventar uma história e pronto. Assim como já fizeram anteriormente com a própria Letty Ortiz, e não dúvido nada que no próximo filme não tragam de volta dos mortos a Gisele da Gal Gadot (eu não duvido de mais nada). Temos uma cena inusitada porém muito boa da mamãe Shaw (Helen Mirren). Michael Rooker esteve muito bem em cena (uma grata surpresa) e ainda uma participação da Cardi B.
Infelizmente Velozes e Furiosos virou aquela franquia que hoje em dia vive pendurada no peso do próprio nome que construiu lá atrás. O fato da saga render milhões para a sua produtora virou a galinha dos ovos de ouro, aquela fonte que jamais irão deixar secar, como vemos em várias franquias hoje em dia (pra citar uma: 'Piratas do Caribe'). Para nós fãs é completamente triste ver o rumo que a saga tomou, que pra quem amava assistir anteriormente, hoje em dia é assistido apenas como uma obrigação.
E quando eu achava que já tinha visto de tudo em Velozes e Furiosos - um carro no espaço sideral? É sério?
Realmente a franquia não para, ainda temos uma cena pós-créditos entre os personagens de Sung Kang e Jason Statham.
E lá vamos nós para Velozes e Furiosos 10!!! [01/01/2022]
Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City
2.2 581Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City (Resident Evil: Welcome to Raccoon City)
Como um fã e amante da franquia de jogos desde 1996, e já tendo jogado todos os jogos da série até hoje, posso afirmar que dificilmente ficarei satisfeito com um filme baseado em 'Resident Evil'.
A série de filmes do Paul W. S. Anderson eu considero um completo fiasco. Assim como nunca engoli a sua ideia em exigir que a sua adorada esposa (Milla Jovovich) fosse a protagonista de toda franquia, deixando de lado todos os personagens originais dos jogos. Na minha opinião os únicos que se salvam são "Resident Evil: O Hóspede Maldito" e "Resident Evil 2: Apocalipse", este segundo com bastante ressalvas sobre o que decidiram fazer com o 'Nemesis' no filme. Do terceiro em diante é um pior do que o outro, chegando ao masterpiece de filmes que nunca deveriam ter existido - temos "Resident Evil 6: O Capítulo Final". Eu considero apenas "Silent Hill" como a melhor adaptação de um jogo de vídeo game para os cinemas.
Quando eu ouvi os boatos sobre o novo filme da franquia 'Resident Evil' eu já fiquei com um pé-atrás, ainda mais por contar com Paul W. S. Anderson na produção executiva do longa (eu peguei um ranço desse diretor). A escolha do elenco foi outro ponto que eu questionei bastante, e hoje eu vejo que não estava errado. Assim como o próprio diretor e roteirista Johannes Roberts, outro questionamento - difícil ein!
Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City é mais uma tentativa frustrada em trazer para as telonas a icônica saga dos vídeo games. O filme não é bom, tem vários problemas, assim como o próprio roteiro que é péssimo, a direção que é horrível. Essa tentativa de contar toda a história de uma franquia como RE em duas horas não funciona. Como tentaram contar as partes de Raccoon City juntamente com a mansão na floresta, onde até no próprio jogo são partes separadas em "Resident Evil" e "Resident Evil 2". Ficou uma forçada de barra muito grande do roteiro, com muitas cenas coladas umas nas outras, muita correria em desenvolver a história que por fim não obteve desenvolvimento nenhum. Muitos furos de roteiro, muitas invenções estapafúrdias, típica produção que vive de tentativas e passa as duas horas tentando acertar e no fim tudo não passa de um grande erro.
Se por um lado o roteiro é péssimo, por outro o elenco é completamente deplorável!
O pior é sem dúvidas a versão de Leon S. Kennedy de Avan Jogia, que é simplesmente uma vergonha alheia de tão ruim. Um personagem bobo, sem graça, sem desenvolvimento, como se o fato de ele estar ali em seu primeiro dia de trabalho (assim como em RE2) fosse obrigatório ele ser um completo inútil. Hannah John-Kamen como Jill Valentine é outra tristeza! Eu me recusei em acreditar que aquela fosse realmente a toda poderosa 'Jill Valentine'. Totalmente descaracterizada da personagem, muito canastrona, tentado se impor como superior como a própria Jill é nos jogos, mas totalmente fora da personagem (aquela primeira cena dela no bar é de doer na alma de tão ruim). Robbie Amell como Chris Redfield não ficou bom, mas também não foi uma total tragédia como o Leon e a Jill. Tom Hopper e sua versão esquisita de Albert Wesker é outro que não ficou legal, apesar de ainda acreditar que ele poderia ter sido melhor aproveitado (ou ainda será).
Neal McDonough como William Birkin é razoavelmente bom, apesar de achar que a sua versão grotesca do icônico Boss de RE2 poderia ter sido mais aproveitada. Com um destaque para a sua versão no trem, quando o Leon tem a sua única cena boa de todo o filme. Donal Logue e sua versão caricata do Chefe de departamento Brian Irons ficou boa, teve potencial, apesar que seu final - enfim! Agora a única que ainda se salva desse elenco é a Kaya Scodelario e sua Claire Redfield. Eu gostei dela, acho que ela não fez um trabalho brilhante, mas até que estava ok, foi aceitável. Na verdade a Claire da Kaya foi a melhor caracterização de todos os personagens, principalmente ela na moto, ou com a shotgun nas mãos com aquela jaqueta vermelha (quem viveu sabe).
Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City não é completamente ruim em tudo que ele se propõe a fazer. O filme nos traz várias partes que funciona como um verdadeiro 'Fan service' (assim como Mortal Kombat fez este ano). A própria Raccoon City está fiel ao jogo. A RPD é de encher os olhos, principalmente a tomada de câmera de fora pra dentro. A sala da 'Equipe S.T.A.R.S.' aonde eles conversam entre si em uma determinada cena é perfeita. A parte que o Wesker toca o piano e se abre a porta secreta é perfeita (lembrei da Rebecca Chambers nessa hora). A Claire de moto na chuva, o caminhão desgovernado com o motorista mordido, a parte do helicóptero sobrevoando a floresta aos arredores de Raccoon City, com eles descendo na floresta e a chegada na mansão do RE1, com aquela visão inicial da mansão é maravilhosa. A cena clássica do link caindo do teto (RE2). A cena da garagem com os cachorros (faltou a Ada aparecer ali) e claro, a icônica cena da aparição do primeiro zumbi em RE1.
(ainda vi uma cena com uma pequena alusão ao quarto sobrevivente de RE2)
Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City tem várias cenas que pra mim que sou um fã de longa data da franquia vai achar legal, vai trazer um certa nostalgia, mas também é só. Todo 'Fan service' que foi entregue não mascaram os inúmeros problemas do longa. Fica apenas a tentativa (mais uma vez) de nos entregar um filme à altura da grande franquia de jogos. Mas a verdade tem que ser dita: eu consegui gostar mais desse RE do que a franquia de filmes do terceiro ao sexto do fraco Paul W. S. Anderson. [26/12/2021]
Muito curiosa a cena pós-créditos entre a Ada Wong (Lily Gao) e o Albert Wesker. O que deixa claro que teremos uma continuação, o que pode ser até interessante. Ada Wong e Albert Wesker juntos, já vi muito isso (RE4), e não deu muito certo - kkkkkkkkk! (só um ponto aqui: a Ada Wong da atriz Li Bingbing era muito melhor caracterizada, ela era praticamente a cara da Ada dos games)
Mulher-Maravilha 1984
3.0 1,4K Assista AgoraMulher-Maravilha 1984 (Wonder Woman 1984)
Quando eu assisti ao primeiro 'Mulher-Maravilha' lá em 2017, eu sai da sala de cinema completamente anestesiado e embasbacado, por tudo que havia acabado de presenciar ali. Foi realmente um "Marco" na história das adaptações em HQs, e por tudo que a Patty Jenkins trouxe para o filme e tudo que a Gal Gadot conseguiu entregar na pele da princesa guerreira. E posso afirmar que este filme faltou muito pouco para se tornar uma verdadeira obra-prima.
Infelizmente não posso dizer o mesmo de Mulher-Maravilha 1984! É realmente uma grande pena, mas a Patty Jenkins não trouxe a mesma inspiração do anterior, não conseguiu atingir a mesma grandeza, até se perdendo ou se contradizendo em algumas cenas que ela mesmo defendia a sua tese em seu primeiro filme. O roteiro por sua vez é outro ponto bastante questionável, em até certo ponto eu o coloco como um roteiro um pouco perdido, de certa forma até cansativo.
Outro ponto falho são os embates com os vilões. São lutas bem medianas e que não empolga, os próprios vilões não empolgam. Acho que poderiam dosar com um pouquinho mais de ação que não faria mal a ninguém. A própria Kristen Wiig e sua Mulher-Leopardo eu achei bem fraquinha, acho que a personagem tinha muito mais potencial do que de fato foi apresentado. O mestre/gênio Hans Zimmer sempre nos entregou trabalhos inesquecíveis, mas aqui nem ele se salvou, infelizmente!
Pontos positivos posso destacar a sempre bela Gal Gadot e sua encantadora Mulher-Maravilha, que apesar do filme não empolgar como seu anterior, ainda assim ela consegue se destacar positivamente (que casamento perfeito). Gostei muito da sua armadura dourada. Chris Pine é outro destaque com seu Steve Trevor, que assim como no anterior, aqui ele nos empolga em cada cena apresentada, principalmente nas cenas com a Diana Prince.
No mais, Mulher-Maravilha 1984 é mais um que sofre do 'mal de segundo filme'. Aquele típico caso de não conseguir acompanhar/entregar o mesmo ritmo com a mesma proporção do seu anterior. Nesse caso aqui caindo bastante em relação ao primeiro filme da 'Mulher-Maravilha - uma pena! [assistido nos cinemas em 19/12/2020 e reassistido em 24/12/2021]
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa
4.2 1,8K Assista AgoraSpider-Man: No Way Home (Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa)
De fato é o melhor da trilogia Tom Holland, isso é inquestionável, mas não é o melhor filme do Aranha nos cinemas. Pra mim Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa entra no top 3, mas atrás de 'Homem-Aranha 2' e 'Homem-Aranha', ambos de Sam Raimi.
Tom Holland tem a sua melhor atuação em um filme da Marvel, isso contando a trilogia 'Homem Aranha', 'Capitão América Guerra Civil' e 'Vingadores'. De fato os acontecimentos que o envolve no filme contou muito para o seu crescimento como personagem. A sacada do Multiverso eu achei sensacional, trazer os vilões antigos foi algo sublime e engrandeceu ainda mais a trama, te dando espaço pra criar inúmeras possibilidades.
Os vilões do passado foi uma jogada de mestre. Pra quem, assim como eu, viveu os filmes anteriores do Aranha, principalmente a trilogia do Sam Raimi, poder rever um por um ali presente, foi algo completamente nostálgico e satisfatório. Com um destaque para o Alfred Molina e seu sempre surpreendente Dr. Otto Octavius / Doutor Octopus. Assim como o mestre Willem Dafoe, que reviveu o seu icônico Duende Verde.
A grande cereja do bolo é de fato a aparição dos antigos Peter Parker / Homem-Aranha (grande responsável pelo o maior momento de êxtase da sala de cinema). A química alcançada pelos três em cena foi algo realmente incrível, ainda mais se falarmos dos momentos de diálogos entre Tobey Maguire e Andrew Garfield. Entregaram ótimas atuações em seus personagens e nos trouxe um pouco daquele gostinho nostálgico e saudosista do passado. Particularmente devo confessar que rever o Tobey Maguire (meu Aranha favorito) atuando novamente na pele do Homem-Aranha depois de 14 anos, foi algo no mínimo mágico.
Não posso deixar de mencionar a minha frustração (se é que podemos chamar assim) em não rever a Emma Stone como Gwen Stacy e a Kirsten Dunst como a icônica Mary Jane. Tudo bem, confesso que foi algo da minha cabeça, ainda mais se tratando da Gwen Stacy, seria pouco provável. Mas a Kirsten eu poderia apostar que ela apareceria, nem que fosse em uma pontinha, ainda mais por terem aparecidos boatos e fotos dela deixando o set de filmagem do longa.
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é mais um grande acerto da Marvel, sem dúvidas entra no hall das maiores produções do studios. Sem deixar de destacar as duas cenas pós-créditos, com ligações bastante curiosas. [18/12/2021]
Viúva Negra
3.5 1,0K Assista AgoraViúva Negra (Black Widow)
Desde 2019 que não temos um filme da Marvel, sendo que de lá pra cá ela passou a investir nas séries dos seus personagens. O próprio filme da Viúva Negra foi adiado diversas vezes por causa da pandemia, o que de fato contribuiu ainda mais pra todo esse tempo.
Eu sempre achei que a Natasha Romanoff merecia ter seu filme solo, assim como o próprio Clint Barton/Gavião Arqueiro, isso desde a época dos Vingadores. Talvez este filme tenha chegado um pouco tarde demais, ou não na época que realmente deveria ter saído. Dessa forma eu vejo Viúva Negra mais como um tributo do que propriamente uma surpresa, por de fato achar que seu filme solo deveria ter saído antes da sua morte em "Vingadores: Ultimato", acho que causaria mais impacto.
Viúva Negra tem um começo muito bom, de fato a parte inicial é muito boa e conversa diretamente com o seguimento adotado pelo roteiro. Como o fato da Natasha Romanoff reviver todo o seu passado e descobrir que o programa responsável pela sua criação e treinamento ainda existir e continuar fazendo novas vítimas. Cate Shortland tem uma direção ok, afinal de contas não seria uma tarefa nada fácil contar a história de uma personagem cujo o seu final todos já conhecerem.
Natasha Romanoff sempre foi conhecida como uma espiã, porém seu filme não é propriamente uma espionagem, também temos os seus dramas e seu conflitos familiares. O longa aposta bastante na ação e traz cenas de lutas bem coreografadas, o que de fato nos faz lembrar diretamente de "Capitão América: Guerra Civil" (a própria inspiração do filme). O elenco conhecido como uma segunda família de Natasha é até funcional, apesar de achar que faltou espaço e tempo para criarmos uma empatia por cada um. Já entre as duas irmãs a empatia foi alcançada rapidamente.
Porém, mesmo com todos os pontos positivos destacados, Viúva Negra pode soar como um filme mais do mesmo, onde não temos grandes surpresas ou grandes reviravoltas. Talvez pelo fato da própria Viúva Negra já ter sido bastante explorada dentro do universo Marvel em todos os filmes que ela apareceu? Bem, eu não sei! O vilão que imita tudo que ver eu achei bem razoável, no começo eu até achei que ele oferecia mais perigo do que de fato foi entregue. O personagem Dreykov (Ray Winstone) é bem questionável.
Scarlett Johansson sempre foi uma realidade ao interpretar a Viúva Negra (como já vimos ao longo de todos esses anos) e mesmo com um certo atraso em seu filme solo, ela se despede bem da sua icônica personagem. A lindíssima Florence Pugh entrega uma ótima personagem, que consegue alcançar uma química muito boa (de irmã) com a Scarlett Johansson. A personagem Yelena me chamou bastante a atenção ao longo de todo o filme, achei uma personagem bem interessante e com muito potencial. David Harbour tem um começo promissor, mas depois fica canastrão e caricato demais, acho que deram uma pesada de mão encima do seu personagem do meio para o final do filme. Rachel Weisz é uma ótima atriz, porém pouco aproveitada no filme, eu fiquei com um gostinho de quero mais da sua personagem Melina Vostokoff.
Mesmo com todos os problemas que o longa enfrentou até a sua estreia e mesmo achando que poderiam ter lançado o filme bem antes, Scarlett Johansson consegue fechar muito bem o seu ciclo e a sua história como Natasha Romanoff/Viúva Negra.[18/07/2021]
Mortal Kombat
2.7 1,0K Assista AgoraMortal Kombat
Eu passei praticamente a minha infância e adolescência jogando Mortal Kombat nos saudosos Super Nintendo e Mega Drive. Conheço o jogo desde 1995/1996, quando na época eu não saía das extintas locadoras onde eu jogava o jogo por 1 hora 1 real. Até hoje sou um fã completamente apaixonado pela franquia de jogos e os acompanho de geração após geração. Não há como negar que Mortal Kombat, juntamente com Street Fighter e Killer Instinct, moldaram o mundo dos jogos eletrônicos de lutas.
Em questões de adaptações para o cinema temos Mortal Kombat (1995), do fraquíssimo Paul W.S. Anderson, e Mortal Kombat - A Aniquilação (1997), de John R. Leonetti. Como um fã da franquia de jogos eu curtia muito os filmes na época, até gostava mais do segundo pelo fato de apresentar mais personagens icônicos, e querendo ou não, os dois filmes dos anos 90 fizeram muito sucesso na época, agradando uns e desagradando outros. Porém eu vou confessar que os desenhos do Mortal Kombat me agradava muito mais que os filmes.
Confesso que eu não sou um fã das adaptações de jogos de vídeo games para o cinema, sendo que até hoje a única adaptação que eu achei mais aceitável foi 'Silent Hill'. Portanto eu não achava que Mortal Kombat ganharia uma nova adaptação, ainda mais depois de 24 anos.
O mais novo Mortal Kombat nada mais é do que um "Fan service". Claramente podemos notar inúmeras referências trazidas dos jogos para o filme, referências essas que todos os fãs de Mortal Kombat irão vibrar ao assistir. Como os icônicos 'fatalities', desde o clássico do Kano arrancando o coração (do MK1), até um dos mais recentes, como o da serra com o chapéu do Kung Lao. Ainda temos os fatalities do Jax, da Sonya, do Shang Tsung, além do clássico dragão do Liu Kang e do bafo de fogo do Scorpion. Ainda temos referências aos golpes clássicos (como o do Liu Kang), aos cenários de lutas clássicos como a ponte (the pit), as trilhas sonoras clássicas dos jogos (ou pelo menos uma mera tentativa). Além é claro, o Kano wins, o Kung Lao flawless victory, o finish him do Shang Tsung e o Scorpion mandando o icônico get over here.
Se por um lado o novo Mortal Kombat trouxe referências clássicas e icônicas dos jogos que agradaram aos fãs, por outro o filme está mergulhado em inúmeros problemas. Começando pelo roteiro que é raso, desconexo, mal elaborado, mal explorado, com uma história pífia. Os personagens foram mal aproveitados, mal desenvolvidos, lutavam entre si sem um objetivo claro, e nem mesmo o grande torneio 'Mortal Kombat' foi apresentado. O personagem Cole Young (Lewis Tan), que a própria Warner Bros exigiu que fosse o protagonista (já eu acho que ele está unicamente ocupando o espaço que deveria ser do Johnny Cage), é a coisa mais babaca e sem nexo de todo filme. Um personagem bobo, chato, vazio, perdido, claramente sem nenhum objetivo que não fosse defender a sua família, por sinal a pior parte do filme, onde fica muito melodramático e piegas demais. E o que foi aquele projeto de Reptile que o filme nos mostrou com outro nome? RIDICULO!
O filme ainda nos entrega lutas bem coreografadas, bem desenvolvidas, bem violentas e sangrentas no estilo Quentin Tarantino, como na excelente luta inicial (por sinal a melhor parte de todo o filme). Os efeitos especiais são muito bons e funcionam muito bem. Eu destacaria a fotografia na parte inicial do longa, onde ela está sublime e completamente impecável.
Mortal Kombat é aquele típico filme que devemos assistir unicamente por sermos fãs da franquia de jogos, sem nos preocuparmos com roteiros, enredos, histórias. É aquele filme descompromissado, descontraído, feito unicamente com o propósito de entreter (e nisso ele funciona direitinho), pra assistirmos com os amigos, com a galera, pra nos divertirmos e curtirmos a porradaria como se estivéssemos na frente do Super Nintendo nos saudosos anos 90. [13/07/2021]
Um Lugar Silencioso - Parte II
3.6 1,2K Assista AgoraUm Lugar Silencioso - Parte II
(A Quiet Place Part II)
Um Lugar Silencioso foi um filme de terror/suspense que mais se destacou em 2018, sendo considerado um dos melhores filmes desse gênero dos últimos tempos (pra mim um dos melhores filmes do ano de 2018).
O primeiro filme é sensacional, John Krasinski dirige e roteiriza um longa que chega a beirar a perfeição. O clima de tensão, suspense, terror psicológico, com ambientes claustrofóbicos que te obrigava a viver em extremo silêncio se comunicando apenas por sinais, é a coisa mais magnífica que eu já assisti em um filme desse gênero. Com o tamanho sucesso de críticas que Krasinski obteve, seria mais do que lógico uma continuação.
Um Lugar Silencioso - Parte II já se inicia nos apresentando (ou pelo menos tentando explicar) como seu deu a origem das criaturas, e até mesmo como era a vida antes delas aparecerem. Foi um ponto positivo que eu destaquei no roteiro do primeiro longa, em ser um roteiro mais direto e não perder tempo tentando explicar, ou até mesmo mostrar, como as criaturas surgiram e chegaram até o nosso planeta. Talvez no primeiro filme realmente não tivesse uma necessidade de acrescentar esta parte, e talvez nesse segundo se deu unicamente para o encaixe na história do personagem Emmett (Cillian Murphy).
O segundo longa de Krasinski continua com aquele clima de tensão e medo que esteve muito bem inserido no primeiro filme (não na mesma proporção). Todo os percursos e acontecimentos que ocorrem com a família Abbott está inserido naquele cenário pós-apocalíptico, que necessariamente transcende a angustia e a agonia. O filme continua te obrigando a assistir em um completo silêncio, continua te deixando tenso em cada cena apresentada. Com os maiores destaques para edição/mixagem de som, que assim como no filme anterior, também nos impressiona com a riqueza de detalhes que podemos captar com o som em diversas formas. A ambientação claustrofóbica está bem inserida, assim como a fotografia que se destaca muito bem, principalmente nas partes noturnas. A trilha sonora de Marco Beltrami está ok, apesar de achar que o trabalho que ele apresentou no primeiro esteve melhor encaixado.
Apesar de Um Lugar Silencioso - Parte II continuar naquele clima de tensão, ele perde muito a sua essência em relação ao primeiro. Eu achei que este segundo sai um pouco do suspense e parte para a ação, o que definitivamente me incomodou. Assim como está muito claro a enorme falta que fez o personagem Lee, de John Krasinski, para o roteiro (devido os seus acontecimentos no primeiro filme). Outra coisa que me incomodou neste segundo filme foi este 'novo tipo de ameaças' que eles tiveram que enfrentar ao longo do caminho.
Assim como no primeiro, Emily Blunt é o maior destaque do longa, novamente ela nos apresenta mais uma bela atuação. Cillian Murphy é a mais nova adição do roteiro e ele entrega um personagem enigmático e misterioso que funciona muito bem (apesar de me soar como um substituto para o lugar de Krasinski). Também vale ressaltar a jovem Millicent Simmonds, que neste segundo longa tem mais protagonismo e mais tempo de tela, conseguindo desenvolver muito mais a sua personagem e nos mostrar todo o seu talento na arte de atuar. A atriz Millicent Simmonds é portadora de deficiência auditiva na vida real.
Ao que tudo indica John Krasinski quer expandir o universo de 'Um Lugar Silencioso' para um possível spin-off da franquia. Acho até que se deve a isto o fato de logo ao início desse segundo filme ele querer mostrar o surgimento das criaturas. Eu particularmente não sei se este caminho vai dar certo.
Um Lugar Silencioso - Parte II não é um fiasco e nem um filme ruim, mas pra mim é muito claro que ele está completamente abaixo do primeiro. Se no primeiro fomos surpreendidos por todo aquele clima de tensão e suspense, aqui isso não acontece na mesma proporção (na verdade eu senti até falta). Pra mim faltou mais imersão no terror/suspense, a direção que o longa seguiu e decidiu adotar me frustrou um pouco. O primeiro é praticamente uma obra-prima, já este segundo deixa um pouco a desejar. [05/07/2021]
Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio
3.2 960 Assista AgoraInvocação do Mal 3: A Ordem do Demônio
(The Conjuring: The Devil Made Me Do It)
Invocação do Mal é o filme de terror que mais esteve na moda (não gosto muito desse termo) desde 2013, quando o primeiro foi lançado, isso é fato. Porém devo confessar que este terceiro é o melhor da trilogia.
Dessa vez trouxeram um roteiro mais bem elaborado e mais encaixadinho, com um tom mais investigativo do que paranormal/sobrenatural (como nos anteriores). Achei muito interessante a forma como os roteiristas direcionaram e desafiaram o casal Warren, quando os confrontaram com um dos maiores desafios que eles já enfrentaram. Essa ideia de confrontar a crença humana (no caso da justiça) sobre o crime ter sido cometido, ou não, sobre o efeito de possessão é muito boa. O que me remete diretamente ao filme 'O Exorcismo de Emily Rose / 2005', quando tínhamos um linha de fatos e acontecimentos sobre a crença humana parecida.
Outro acerto do longa é o fato de não buscarem a todo momento o susto gratuito, de certa forma até dosando o uso dos famosos "jump scare". Que é um ponto que parece ser obrigatório nos filmes do gênero, ainda mais quando esse filme conta na produção com um certo James Wan. Além, é claro, a diminuição bem significativa do uso das figuras grotescas e chifrudas que o próprio James Wan adora utilizar em suas produções. O longa segue em um caminho um pouco controverso em relação a essas produções triviais, até por tentar se manter em uma linha um pouco mais racional em relação aos acontecimentos que permeia o enredo (o que é bem difícil dentro de um filme no gênero terror).
O casal Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga) é um dos grandes responsáveis por este terceiro filme da saga ir tão bem. Suas atuações como sempre estão formidáveis e conversam sempre na mesma língua. Eles já possuem uma química inquestionável há muitos anos, praticamente não tem como dar errado. O pequeno Julian Hilliard dá um show de atuação. Fico imaginando o quanto deve ser difícil interpretar uma cena de possessão para um ator veterano, imagina para uma criança de 10 anos.
Em questões técnicas o longa está bem servido - como em cenários e ambientação, que consegue transcender a tensão e todo clima sombrio/macabro. Assim como a mixagem e edição de som, que nos permite identificar nos mínimos detalhes o que está acontecendo além das nossas vistas utilizando unicamente o som. A fotografia também se destaca em diversas formas entre os vários cenários do longa.
Destaque para a cena do padre chegando de táxi e se portando de frente para a casa, o que me trouxe a clara alusão (ou até mesmo homenagem) ao "O Exorcista / 1973".
É muito notável os diversos filmes sobre possessões que temos hoje em dia, e mais difícil ainda é encontrar um que se destaque dentro desse cenário tão batido. Invocação do Mal 3 consegue esse destaque. [28/06/2021]
Nomadland
3.9 896 Assista AgoraNomadland
Me pareceu mais um documentário do propriamente um filme. Nomadland tem suas peculiaridades e seus objetivos claro, que é mostrar os desafios enfrentados pela vida que decidi levar a protagonista Fern (Frances McDormand).
Nesse ponto eu considero o maior acerto do longa, em nos mergulhar naquela forma de vida adotada por muitos nos EUA e nos confrontarmos com seus medos, suas ambições, suas decisões, suas frustrações, o que se deve ou não acatar ao longo do caminho. Outro ponto a se destacar é a inclusão das pessoas reais contracenando frente a frente com a Frances McDormand, o que engrandece ainda mais tanto o trabalho dela como atriz, quanto o trabalho da Chloé Zhao como diretora.
Falar do trabalho apresentado pela Frances é simplesmente chover no molhado, esta mulher é incrível na arte de atuar. Aqui ela nos entrega mais uma grandiosa performance, o que culminou em sua terceira estatueta do Oscar (particularmente como gosto pessoal, eu prefiro a sua atuação em "Três Anúncios Para Um Crime"). A jovem diretora chinesa Chloé Zhao faz história, tanto pelo trabalho apresentado nesse filme, quanto pela estatueta de Melhor Diretora no Oscar. Realmente o trabalho que ela nos entrega em Nomadland é fantástico.
Gostei do filme, consegui vivenciar e me encantar com a sua beleza, com a sua liberdade e com a sua poesia. Também consegui sentir aquela solidão que o filme nos passa na pele da protagonista (e de solidão eu entendo bem). Agora se de fato era pra ser o campeão de Melhor Filme do ano.......bem.....vou precisar conferir os demais concorrentes. [30/04/2021]
Annabelle 3: De Volta Para Casa
2.8 680 Assista AgoraAnnabelle 3: De Volta Para Casa (Annabelle Comes Home)
Os dois filmes anteriores são bons (ainda considerando o segundo o melhor da trilogia) e este terceiro segue na mesma linha.
Annabelle 3 cumpre bem o seu papel, apesar de achar que neste a boneca é bem coadjuvante, ficando bem de lado, mas isso não é nenhum demérito, visto que temos histórias secundárias que foram bem desenvolvidas na trama. A começar pela personagem Daniela (Katie Sarife) que trouxe seu arco pessoal para a trama e se encaixou muito bem.
A nova integrante do casal Warren, Judy Warren (Mckenna Grace) é o maior destaque (sem dúvidas). Ela rouba pra si todas as cenas, se apresentando e interpretando muito bem (gostei muito das suas expressões e seus trejeitos). O casal Warren (Vera Farmiga e Patrick Wilson) estão mais deslocados da história, mas continuam sendo importantes para o contexto.
Gary Dauberman, que escreveu os roteiros dos filmes anteriores, dessa vez está na direção do longa, e até certo ponto ele entrega um roteiro ok dentro do padrão que se propõe o 'The Conjuring Universe'. Aquele toque de James Wan com suas figuras chifrudas e grotescas, que mais me fazem rir do que assustar, que sempre esteve nos filmes anteriores da Annabelle, nesse também está presente - o que de certa forma pra mim é um ponto negativo, mesmo sendo este o universo da Annabelle. Mas devo concordar que aqui suas aparições estão mais medianas.
Dentro desse contexto Annabelle 3 consegue se destacar, até por não abusar demais nos famosos "jump scare" e manter aquela linha mais feijão com arroz e jogar na segurança do que já havia feito no passado. Pra mim funcionou! [23/06/2021]
Godzilla vs. Kong
3.1 799 Assista AgoraGodzilla vs. Kong
Um filme que eu tinha uma grande expectativa para assistir, e quanto mais expectativa mais o risco da frustração. Dito e feito!
Eu sempre curti e acompanhei esse 'MonsterVerse' da legendary. Aqueles típicos filmes unicamente pra descontrair, se empolgar e se divertir. Mas eu confesso que eu esperava mais do embate dessas duas figuras, ou pelo menos não da forma que se desenrolou. Principalmente a parte do Kong com a 'Terra Oca' (que é bem mal explorada por sinal) e a parte final, aonde acontece a última luta entre todos os envolvidos (definitivamente não gostei dessa parte).
Não posso reclamar muito do roteiro, porque vindo de um filme desse gênero não podemos esperar grandes coisas. Mas é um roteiro totalmente perdido e bagunçado, naquela linha que coloca a narrativa no moto automático e segue em frente.
Agora tem suas qualidades - como os efeitos visuais que estão incríveis e nas cenas de lutas são de saltar aos olhos, e que cenas de lutas bem feitas por sinal. A qualidade sonora também é incrível, fico imaginando como seria esse filme em uma sala XD do cinema.
No mais é só!
Apenas cumpre o seu papel que é entreter!
[16/06/2021]
It: Capítulo Dois
3.4 1,5K Assista AgoraIT - CAPÍTULO 2 (It Chapter Two)
Quando eu assisti ao primeiro filme lá em 2017 eu achei um tanto quanto interessante, gostei de algumas coisas e outras já não curti tanto assim. Na minha opinião o maior acerto daquele longa era sem dúvidas o elenco infantil (que deram um show), juntamente com o Pennywise (Bill Skarsgård).
IT2 traz a mesma fórmula do primeiro - sendo novamente dirigido por Andy Muschietti e roteirizado por Gary Dauberman. Em questões de direção Muschietti faz um trabalho convincente e competente, na medida que ele utiliza de diversos tipos de ângulos e tomadas de câmeras ao longa da trama. Com destaque logo para o início do filme com a cena do ataque na ponte, a cena da reunião no restaurante chinês, as cenas do parque de diversões juntamente com a sala de espelhos. Temos várias cenas ao longo do filme em que percebemos o seu trabalho se sobressair. A fotografia do longa também está muito bem trabalhada, juntamente com aquele contraponto de cores com a escuridão. É muito perceptível como a fotografia se destaca ao longo do filme - como no início e na metade do filme no parque de diversões, várias cenas que se passa na cidade e nas redondezas de Derry. A trilha sonora está à cargo do compositor Benjamin Wallfisch (que também esteve no primeiro IT), e de certa forma está mediana, consegue acompanhar bem as cenas mais descontraídas e as cenas mais tensas. A trilha sonora não é um grande destaque, mas também não chega a comprometer.
Já no roteiro não podemos esperar grandes coisas - pra ser bem sincero é um roteiro bem clichê, onde só de lermos a sinopse já imaginamos todo o filme (e assim ele transcorre até o final). O maior acerto do roteiro é a volta da reunião do "Losers Club" depois de 27 anos, agora com cada personagem na sua fase adulta, onde cada um tem suas próprias vidas seguindo os seus próprios caminhos. Destaco o ponto que eu mais gostei do enredo: o fato de cada um retornar para a cidade de Derry e naturalmente todos os seus traumas, medos e frustrações de infância retornarem com eles, ou possivelmente eles não retornaram, mas estiveram todos esses anos guardados com cada um. A partir de então o filme passa a ficar bastante interessante, ao começarmos a acompanhar cada um revivendo o seu passado em um determinado local da cidade. Cada passo da sua vida adulta era um contraponto com a figura de cada um na sua infância, revivendo seus traumas quando encontravam um local ou algo que revivia os seus pensamentos passados. Pra mim esta parte ficou muito funcional, achei uma sacada muito boa do roteiro em expor a figura adulta com a figura da infância ali frente a frente no mesmo local revivendo o que viveram 27 anos atrás (e principalmente porque muitas das coisas que foi revivida não foram mostradas no primeiro IT).
Embora as subtramas de cada personagem tenha me agradado, eu acho que o roteiro se alonga demais, se estica demais, ao ponto de se tornar cansativo. Claramente o roteirista queria dar bastante ênfase em cada personagem na sua vida adulta fazendo um contraponto com a sua infância. Porém, se pegarmos o início do filme (até a reunião do grupo), passando pelas subtramas, até chegar no embate final com o Pennywise, fica claro que o roteirista Gary Dauberman deu uma pesada na mão (por mais que o filme seja uma adaptação da obra de Stephen King). Eu acho que o filme ficou longo demais e na minha opinião não era necessário quase 3 horas de duração, podendo facilmente retirar uns 30 minutos.
As escolhas dos atores eu achei acertadíssimo, com uma semelhança incrível das crianças do primeiro filme. Era como se cada um ali fosse realmente a forma adulta de cada criança.
Jessica Chastain pra mim é a melhor de todos no elenco! Sua aparência com a Beverly de Sophia Lillis está incrível - pelos cabelos, o tom de pele, a sua expressão, seus olhares e seus gestos. Não poderia ter uma atriz melhor pra viver a Bev adulta do que a Jessica Chastain. Jessica entregou a melhor atuação do filme, tanto em questões emotivas, dramáticas, com um gestual e uma expressão que condizia muito bem com o que a sua personagem havia vivido no passado (destaque para a cena em que ela chega na sua antiga casa e descobre o que aconteceu com o seu pai). Assim como a jovem Sophia Lillis (que é uma graça de atriz), que assim como no primeiro IT, aqui também ela deu um show de interpretação e atuação.
James McAvoy também foi um escolha bem acertada para viver o Bill Denbrough de Jaeden Lieberher na fase adulta. McAvoy conseguiu fazer o contraponto perfeito com o Jaeden, principalmente nas cenas em que os dois estavam contracenando juntos. McAvoy é um belíssimo ator e parece que não existe um trabalho que ele não faça com o amor na arte de atuar. Jay Ryan é o que mais sai do personagem Ben Hanscom de Jeremy Ray Taylor, muito pela a sua forma física de infância e de fase adulta - porém ambos fizeram um bom trabalho. Bill Hader e Finn Wolfhard fizeram o Richie Tozier em suas duas fases e ficou bastante convincente. Isaiah Mustafa foi um personagem bastante curioso em interpretar a fase adulta de Mike Hanlon, principalmente pelas suas escolhas em relação a fase de infância do Mike de Chosen Jacobs - Mike adulto foi o responsável pela união do grupo depois dos 27 anos, e eu achei interessante. James Ransone e Jack Dylan Grazer fizeram o Eddie Kaspbrak em suas duas fases e entregaram um bom trabalho. Assim como Andy Bean e Wyatt Oleff, que interpretaram as duas fases da vida de Stanley Uris - porém ambos não foram grandes destaques, muito pelas escolhas de roteiro para com os seus personagens.
Bill Skarsgård faz novamente um ótimo trabalho na pele do Pennywise. Apesar que aqui temos uma menor exploração sobre o próprio Pennywise em relação ao IT1. Acho que pelas escolhas de roteiros com as subtramas das fases adultas das crianças, o Pennywise acabou ficando bastante coadjuvante. Mas o trabalho multifacetado de Bill Skarsgard continua sendo um show à parte, ele entrega mais uma vez um Pennywise tenebroso, sombrio, macabro, com um gestual e umas expressões de nos deixar boquiabertos (e assustados também). E pra quem prefere assistir filmes legendados (assim como eu), vai se espantar com o tom que ele impõe em sua voz e a maneira como ele utiliza a sua voz na interpretação do palhaço Pennywise - é mais um detalhe desse trabalho fantástico de Bill Skarsgård.
Porém, assim como eu já havia relatado em minha crítica de IT1 lá em 2017, quando mencionei que o diretor Andy Muschietti exagerava demais nos efeitos especiais em cima das criaturas bizarras (como ele também já havia feito em "MAMA", de 2013). Aqui ele persiste no mesmo erro (pelo menos na minha opinião), que é colocar um certo exagero de efeitos especiais em suas criaturas (como no próprio Pennywise), achando que de alguma forma isso impactará ou causará os famosos 'Jump scare' em seus espectadores. Bem, pode até funcionar para alguns, mas não funciona pra mim, de certa forma eu acho muito bobo e até mal feito, chegando até achar engraçado ao invés de assustador (que é o claro intuito). Mesmo compreendendo que essas escolhas não passam apenas pelo diretor, mas também pelos roteiristas, produtores e outros mais envolvidos no filme. E mesmo se tratando de um 'terror trash', eu acho que tem partes que o filme viaja demais (poderiam dar uma segurada), e dessa forma este modo James Wan de Andy Muschietti não me agrada tanto.
Entre erros e acertos, 'It – Capítulo Dois' consegue ser um bom filme de terror, conseguindo nos prender (apesar do seu longo tempo) e nos entreter. Mas é o típico filme que dividirá centenas de opiniões, acho que até desagradando mais do que agradando. Pra mim ele desagrada em umas coisas e agrada em outras, mas de certa forma as partes que me agradou supera as que me desagradou, e no final eu gostei do filme [20/05/2020]
1917
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Sam Mendes (do icônico "Beleza Americana") dirige, produz ( juntamente com Jayne-Ann Tenggren, Callum McDougall, Pippa Haris e Brian Oliver) e roteiriza (também com Krysty Wilson-Cairns) o longa. E o interessante é o fato do enredo ser vagamente baseado em uma história contada a Sam Mendes por seu avô paterno, Alfred Mendes. Onde podemos acompanhar a narrativa sobre dois jovens soldados britânicos durante a primeira guerra mundial, quando lhe é designado a missão de levar uma carta transmitindo a mensagem que salvaria da emboscada alemã cerca de 1600 soldados.
1917 é contado a partir de uma pequena passagem na primeira guerra mundial, o que eu já acho um fato totalmente plausível de todos os elogios que o longa recebeu. Fazer um filme sobre a segunda guerra mundial em diante, teoricamente é mais fácil, até por ainda ser possível encontrar relatos, contos e até pessoas que viveu à época que ainda podem contar algumas passagens. Mas a primeira guerra mundial é bem mais difícil, é muito mais complicado partir de um relato que aconteceu naquela época (ou até uma pequena passagem, como é o fato contado aqui). Nesse quesito encontramos a peculiaridade de 1917, em conseguir nos imergir em uma passagem tão antiga de uma forma tão cativante.
O longa se passa em um período de guerra, trata sobre o tema guerra, mas não é propriamente um filme de guerra e sim um suspense, um drama vivido pelos jovens cabos William "Will" Schofield (George MacKay) e Thomas "Tom" Blake (Dean-Charles Chapman). Este é o grande trunfo de Sam Mendes, nos mergulhar em uma obra singular, peculiar, nos trazer uma experiência imersiva, cativante, que nos despertava a empatia pelos jovens que estavam envolvidos na missão. Um ponto que engradece ainda mais a obra, a maneira como acompanhamos os passos dos soldados em cada canto que eles iam, e de uma forma apreensiva e sufocante, onde cada fato que acontecia nos prendia de uma forma que era difícil até se lembrar de respirar.
Um dos pontos cruciais do filme está na direção de Sam Mendes, onde ele desenvolveu um trabalho primoroso, competente, que elevou ainda mais a sua obra. É difícil acompanharmos um trabalho de filmagem feita com a qualidade que Sam Mendes trouxe para seu filme. Como o fato do longa se desenvolver quase que inteiramente em um 'plano-sequência', sem edições, sem cortes e colagens de cenas. Um fato que me deixou curioso e completamente maravilhado, em poder acompanhar o relato sendo contado de uma forma ininterrupta, que definitivamente me imergiu ainda mais na história. Na minha opinião, Sam Mendes fez um trabalho em altíssimo nível, elevando a qualidade de direção do seu longa à um outro patamar, e que definitivamente foi injustiçado no Oscar desse ano. O prêmio de Melhor Diretor deveria ter sido entregue a ele, porquê pra mim o trabalho que ele desenvolveu em 1917, nenhum dos indicados na categoria chegaram perto.
Em qualidades técnicas o longa realmente é uma obra-prima. A começar pela direção de arte, que esteve absurdamente bem feita e bem destacada. Como observamos em várias partes do filme, com cenários, casas, campos, trincheiras, tudo feito com uma riqueza de detalhes incríveis. A qualidade técnica da direção de arte era tão grande, que durante as duas horas do filme eu sempre me pegava observando cada detalhe desse quesito. Os figurinos, cabelos e maquiagens também estavam muito bem ajustados e dentro dos padrões da época. A fotografia de Roger Deakins ("Um Sonho de Liberdade" é o seu trabalho que eu mais gosto) estava estupidamente bem destacada ao longo de toda caminhada do filme. Um trabalho primoroso, que também foi o grande responsável em nos adentrar ainda mais na obra, com uma qualidade de fotografia genial que só o grande mestre Roger Deakins sabe fazer (Oscar muito justo por sinal). A trilha sonora do gênio Thomas Newman (grande amigo de Sam Mendes de longa data) é sempre um show à parte. Um grande compositor que eu acompanho de longas datas, que me entregou verdadeiras pérolas que eu nunca vou esquecer em filmes como "Um Sonho de Liberdade", "À Espera de um Milagre" e "Beleza Americana". Aqui Newman entrega mais um dos seus grandiosos trabalhos, que foi muito bem reconhecido com sua indicação ao Oscar. Além, é claro, a edição de som, mixagem de som e efeitos visuais, que acompanhavam as qualidade técnicas do longa com muita qualidade.
Em questões de elencos: George MacKay e Dean-Charles Chapman entregaram um trabalho nos personagens muito bem desenvolvido e muito bem interpretado. Dean-Charles entrega uma ótima atuação, porém eu acho que George esteve um passo à frente, sua atuação condiz muito mais com o seu personagem que esteve o tempo todo carregado de uma grande carga dramática. Colin Firth também entrega uma ótima atuação como general Erinmore. Assim como Benedict Cumberbatch, que quando entrou em cena me ganhou completamente. Sua atuação como coronel Mackenzie é fantástica, a cena é completamente dele, ganha todas as atenções, e eu achei uma performance grandiosa.
Porém devo destacar o roteiro, que nos mostra uma missão dada durante a primeira guerra mundial, mas que definitivamente não é algo impactante, ou marcante pra história em geral (até por se tratar de um roteiro original). Tem sim suas várias qualidades como já destaquei e não deixa de ser uma experiência incrível, até pela sua imersão, mas em questão histórica eu achei um tanto quanto simples.
1917 esteve indicado em 10 categorias no Oscar desse ano, incluindo Melhor Filme, porém levou apenas 3 estatuetas por mixagem de som, efeitos visuais e fotografia. No Globo de Ouro foi indicado em 3 categorias, ganhando duas por diretor e filme drama. No BAFTA foi nomeado em 8 categorias e venceu em 7, incluindo a principal, Melhor Filme. No Critic's Choice também esteve nomeado em 8 categorias e se sagrou campeão em edição, fotografia e direção.
Sam Mendes nos entrega mais um belíssimo trabalho, com todos os méritos pra sua direção e suas qualidades técnicas, que realmente estiveram acima da média. Mas na minha opinião o longa não é uma obra-prima do cinema, que será lembrado por muitos e muitos anos. Como em "Beleza Americana", que é uma grande obra-prima do cinema, sendo muito bem lembrada por todos até hoje (20 anos depois), e ainda será por muitos anos. Também não acho que 1917 é o melhor trabalho de Sam Mendes, ainda considero "Beleza Americana" (um dos meus filmes preferidos) como o seu melhor trabalho da carreira até hoje. [10/05/2020]