Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (Doctor Strange in the Multiverse of Madness)
"Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" é dirigido por Sam Raimi, escrito por Michael Waldron (Produtor executivo na série do Loki), e estrelado por Benedict Cumberbatch como Stephen Strange, ao lado de Elizabeth Olsen, Chiwetel Ejiofor, Benedict Wong, Xochitl Gomez, Michael Stuhlbarg e Rachel McAdams. O longa é a sequência de "Doutor Estranho" (2016) e nos leva até a nova missão de Strange ao protege a jovem América Chavez (Xochitl Gomez), uma adolescente capaz de viajar pelo multiverso, enquanto são perseguidos por um demônio no espaço e por Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), entre os universos enquanto procuram o Livro de Vishanti.
Sai do cinema boquiaberto, completamente maravilhado com tudo que o Universo MCU nos entregou em "Doutor Estranho 2". A cada produção o meu apreço pela Marvel cresce cada vez mais, pois de fato é um studio muito competente e muito aplicado em tudo que se propõe a fazer, sempre buscando se enquadrar e se adaptar da melhor forma possível dentro do universo das HQs. E olha que eu achava que a Marvel não atingiria mais a mesma proporção que ela atingiu ao fechamento do seu ciclo com a saga Vingadores, porém, o studio é tão grandioso e tão competente, ao ponto de sempre estar se reinventando dentro do seu universo e sempre buscando nos impressionar com cada produção entregue, e de fato ela conseguiu me impressionar mais uma vez.
"Doutor Estranho 2" é um dos filmes do MCU que tem a melhor direção, e isso só foi alcançado pelo trabalho perfeito e genial entregue por nada mais nada menos que o mestre Sam Raimi. Raimi já nos entregou a grandiosa trilogia de "Homem Aranha" (pra mim a melhor até hoje), sendo que os dois primeiros são trabalhos incríveis, são duas obras completamente icônicas (os melhores filmes do Aranha até hoje). Após a saída de Scott Derrikson (diretor do primeiro filme), Kevin Feige entrega a direção de "Doutor Estranho 2" para Sam Raimi, o que já seria motivo para um completo êxtase, mas Feige vai ainda mais além, ao permitir que Sam Raimi trabalhe da sua forma, coloque a sua identidade, e isto está muito explícito no filme, pois de fato "Doutor Estranho 2" tem a cara do Sam Raimi, tem a sua assinatura, que pra quem é fã do diretor e o acompanha, vai se deliciar com tudo que foi entregue.
Este foi um dos pontos de maior acerto no filme, a liberdade criativa que foi dada para o Sam Raimi, pois de fato o longa tem aquela "fórmula Marvel", mas o que impressiona foi o tom que Raimi trouxe pro filme, nos entregando um filme de fantasia (claro, é Marvel), mas completamente imerso no gênero terror. "Doutor Estranho 2" é um deleite pra quem conhece às obras de Sam Raimi, pois aqui ele impõe a sua marca que o consagrou ao longo dos anos, nos entregando um trabalho que homenageia os grandes filmes de Terror dos anos 60, 70 em diante (como A Noite dos Mortos-Vivos, Carrie, a Estranha, entre outros), e não só homenageando estas obras mas sim nos trazendo várias referências dos seus próprios filmes, como "Darkman", "Arraste-me para o Inferno" e o clássico e icônico "The Evil Dead". Como não pegar as inúmeras referências que encontramos ao longo do filme em várias cenas como: às luzes piscando em um ambiente escuro, aquele Doutor Estranho zumbi, a cena da Feiticeira saindo do espelho, a cena do zumbi colocando a mão pra fora da tumba, a cena que a Wanda está debaixo da terra, sendo vista por uma espécie de bueiro - enfim - temos muitas cenas que Raimi brinca com o Terror e nos entrega uma verdadeira carta de amor aos amantes do gênero.
Além da direção absurda de Sam Raimi, que salta os nossos olhos em praticamente 100% das cenas, temos uma ótima ambientação envolto em um clima soturno, com cenários mais sombrios e macabros, totalmente imersos em uma fotografia pragmática, densa, escura. A trilha sonora é outro ponto muito positivo, pois ela acompanha o clima dark do filme, se sobressaindo justamente nas cenas em que o Horror e o suspense estão mais em evidências.
Em questão de roteiro o filme não é nada surpreendente ou grandioso, na verdade é até clichê, pois de fato temos uma história bem mediana e com motivações um tanto quanto duvidosas, eu diria, citando por exemplo todo propósito que impulsionou a Feiticeira Escarlate a buscar o seu objetivo e o que a levou a tomar a decisão que tomou ao final - um discurso bem raso e sem inspiração! Por outro lado temos apenas uma história do vilão que quer se apossar da vítima e a vítima tem que ser protegida pelo herói até o fim, ou seja, mais do mesmo, uma história bem corriqueira - nesse ponto eu considero bem clichê e um roteiro pouco desenvolvido e pouco inspirado. Em questões de roteiros eu acho que a Marvel precisa se reinventar e dar uma atenção melhor em suas produções.
O elenco de "Doutor Estranho 2" é algo sublime, sem dúvidas um dos maiores acertos do longa. Benedict Cumberbatch já domina o seu personagem há muito tempo e aqui ele entrega um Doutor Estranho ainda mais funcional dentro do contexto do filme. Elizabeth Olsen está em seu melhor momento, visto que ela vem da sua minissérie (que é excelente) e aqui entrega a sua melhor atuação dentro do Universo MCU. Olsen já tinha nos entregado um verdadeiro show como Wanda Maximoff em sua minissérie e aqui ela destrói completamente como Feiticeira Escarlate, e olha que ela estava sendo apenas 'razoável' - como ela mesmo afirmou. America Chavez é uma personagem que até então eu desconhecia, porém gostei bastante do que foi entregue pela jovem Xochitl Gomez, uma grata surpresa, ela tem bastante potencial para estrelar futuras produções. Chiwetel Ejiofor e Benedict Wong fazem o que sabem de melhor em seus personagens. Michael Stuhlbarg teve uma pequena participação. Rachel McAdams (atriz que eu amo) volta a reprisar a Christine Palmer do primeiro filme. Pra mim foi uma ótima surpresa poder rever a amada do Strange, e gostei ainda mais de todo clima que se criou em volta do ex-casal, pois de fato ele ainda nutri sentimentos por ela e possivelmente lamenta essa decisão.
Uma surpresa muito agradável foi poder acompanhar a aparição dos heróis da terra 838 - os "Illuminati" - formados pelo Sr. Fantástico (o sempre maravilhoso John Krasinski), Raio Negro (Anson Mount, de volta), Capitã Carter (Hayley Atwell, a lendária Peggy Carter apresentada em Capitão América: O Primeiro Vingador), Capitã Marvel (Lashana Lynch, a Maria Rambeau) e a presença sempre ilustre do lendário Charles Xavier (o mestre Patrick Stewart). Com esta aparição do Professor Xavier eu comecei a pensar que realmente os X-Men poderão finalmente integrar o Universo do MCU. Imaginem como seria uma nova saga dos X-Men nas mãos da Marvel, poderia se tornar o suprassumo dos lendários mutantes.
Outro fato curioso: quando o filme estava em produção eu vi vários boatos que rondavam sobre às possíveis presenças de algumas novas personalidades dentro do Universo do MCU - personalidades essas como o "Homem de Ferro" alternativo do Tom Cruise e o "Wolverine" do Daniel Radcliffe. Apesar de tudo não passar de boatos, pois de fato parece que o Tom Cruise teria sido cogitado para viver o personagem lá no passado, mas Robert Downey Jr acabou ficando com o papel, já o Wolverine do Daniel Radcliffe não passou de uma brincadeira de 1 de Abril, apesar de quando perguntado sobre o boato ao ator ele responder: "Não os vejo indo do Hugh Jackman para mim, mas quem sabe? Provem que estou errado, Marvel".
Sem deixar de mencionar a impactante cena pós-créditos - nos trazendo a sempre linda e bela Charlize Theron e nos revelando a sua personagem Clea, pra mim totalmente desconhecida.
"Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" é mais um Filmaço do MCU, o que só prova que a cada fase a Marvel só engrandece e eleva ainda mais o nível das suas produções. Apesar de ter um roteiro mediano e alguns pontos negativos, a integração do mestre Sam Raimi contou muito para o filme crescer ainda mais nos meus conceitos, sem falar no nível excepcional do elenco e suas atuações, é claro! Um completo colírio para os meus olhos! Ah, e só pra constar aqui - Te Amo Elizabeth Olsen, você é a Feiticeira do meu sonho Escarlate! [03/06/2022]
"Capitã Marvel" é escrito e dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck (ambos são diretores de Perseguindo Um Sonho, de 2008), com Geneva Robertson-Dworet também contribuindo para o roteiro. Baseado na Marvel Comics e produzido pela Marvel Studios o filme traz Brie Larson como Carol Danvers/Capitã Marvel, ao lado de Samuel L. Jackson, Ben Mendelsohn, Djimon Hounsou, Lee Pace, Lashana Lynch, Gemma Chan, Annette Bening, Clark Gregg e Jude Law. A história se passa em 1995 e nos relata como a Carol Danvers se tornou a Capitã Marvel, depois que a Terra é pega no centro de um conflito galáctico entre duas civilizações alienígenas.
"Capitã Marvel" foi um filme muito esperado e muito aguardado dentro do Universo Cinematográfico do MCU, pois havia uma grande expectativa envolta da apresentação solo de uma heroína muito importante para todo o contexto de "Vingadores: Ultimato", filme que veio logo na sequência dentro da cinematografia Marvel. E devo confessar que ao assistir pela segunda vez o filme melhorou bastante em relação à sua época de lançamento lá em 2019. Acredito que após ter conferido a excelente minissérie "WandaVision" a experiência com este filme me agradou muito mais, pois de fato todas às ligações que temos em relação a personagem da Maria Rambeau e sua filha Mônica com a Capitã Marvel é mais compreendida após ter assistido a minissérie, que de fato lá temos a Mônica já adulta e toda uma construção e uma revelação envolta da personagem. Que também faz ligações direta entre a Capitã Marvel e a Mônica Rambeau na sequência, "The Marvels", que será lançada no próximo ano. Então, pra mim este filme ficou melhor encaixado em minha cabeça ao assistir pela segunda vez e após todos esses acontecimentos dentro do Universo MCU.
"Capitã Marvel" também foi alvo de inúmeras críticas em sua época de lançamento, sendo considerado por muitos como um filme fraco, mal feito, que não trouxe nenhuma inovação dentro do Universo MCU, e muitos indo ainda mais além, o colocando como um dos piores filmes do Studios e a Brie Larson como uma heroína bem mediana. Devo confessar que ao assistir o filme pela primeira vez eu compactuei de algumas dessas opiniões, que de fato não melhorou ao reassistir. Como é o caso da direção de Anna Boden e Ryan Fleck, que de fato é bem questionável, bem mediana e sem inovação. Acredito que a falta de experiência dentro desse Universo pode ter contado muito para eles empregarem uma direção tão falha. O roteiro é outro ponto negativo na conta de Boden e Fleck, pois realmente temos construções bem duvidosas e que são difíceis de comprar...como é o caso da história que nos foi contada da Carol Danvers em transição para a Capitã Marvel, colocando aquele - de que lado você vai ficar? Qual foi realmente toda a sua origem? Em quem realmente devo acreditar? Enfim! Também senti falta de uma exploração mais aprofundada sobre à guerra entre Kree vs Skrull. Acho que poderiam ter dado uma atenção mais detalhada nessa parte.
Sobre a Brie Larson: ela está bem crua na personagem (é fato), ainda sem experiência (é claro), mais travada, um pouco sem confiança, e isso fica bem evidente principalmente quando ela ainda está como Vers, que pra mim é aonde a sua atuação é bem mediana. Como Capitã Marvel ela já melhora, ocupando uma posição mais destacável, mais sisuda, mais forte e mais destemida. Acredito que a sua atuação começa em um grau mediano e engrandece com o avanço na trama, pois ao final já temos uma heroína completa, onde até as suas expressões faciais melhoram bastante em relação ao seu início. Com toda certeza em "The Marvels" ela chegará com mais bagagem e muito mais confiante, o quê culminará para um verdadeiro show na personagem.
Samuel L. Jackson nos apresenta uma versão mais novata, mais burocrática do seu Nick Fury, o que me deixou bastante curioso sobre os seus acontecimentos no filme. Porém, Mr Jackson já domina o seu personagem há muitos anos. Jude Law (Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore) traz um personagem muito curioso, o Yon-Rogg, um comandante e mentor da Carol Danvers, o responsável em treiná-la para usar os seus novos poderes. Muito Bom a participação de Jude Law, toda sua experiência contou muito para a construção do seu personagem. Ben Mendelsohn (Cyrano) teve uma das melhores interpretações do filme, sendo o Talos, o líder dos Skrulls. Lashana Lynch (007 - Sem Tempo Para Morrer) fez uma das amigas mais antigas de Danvers, a Maria Rambeau, se destacando com uma personagem muito importante para a história, principalmente pela sua filha Mônica (Akira Akbar). Annette Bening, atriz que eu amo de paixão desde a eterna Carolyn Burnham em "Beleza Americana", nos traz a Inteligência Suprema, a Mar-Vell, a Dra. Wendy Lawson...a governante do Império Kree. Ótima participação de Annette Bening.
Outro ponto falho do longa: a trilha sonora é bem selecionada, de acordo com os clássicos dos anos 80 e 90, visto que o filme se passa na década de 90, mas é bem desconexa, mal inserida nas cenas, deixando um descompasso muito perceptível - uma pena!
Realmente a Marvel tem essa magia de interligar todos os seus filmes e séries, o que nos deixa muito bem situado em cada sequência que ocorre. Um ponto muito positivo e que deveria servir de inspiração para os outros Studios, pois a competência que a Marvel aplica em ligar uma produção com a outra é completamente incrível.
Em questão de representatividade feminina das super-heroínas nos cinemas: pra mim cada uma representa muito bem esse empoderamento com às suas histórias, cada uma agrega diretamente para este quesito. Como foi no caso da Mulher-Maravilha com o seu filme, a Viúva Negra com o seu filme, a Wanda Maximoff com a sua série e com certeza a Capitã Marvel integra esta lista com seu filme.
Como mencionei anteriormente, "Capitã Marvel" melhorou bastante ao reassistir pela segunda vez, mas de fato é um filme muito aquém do que realmente se esperava, faltou um pouquinho mais de ambição. Porém, não deixa de ser uma produção muito agradável, muito gostosa, que nos entretém e nos diverte em vários momentos. Nesse quesito o longa cumpre muito bem o que promete. [Março de 2019 / 02/06/2022]
"O Homem nas Trevas 2" é dirigido por Rodo Sayagués (roteirista de A Morte do Demônio, de 2013) em sua estreia na direção, a partir de um roteiro que ele co-escreveu com Fede Álvarez (o diretor do primeiro filme, "O Homem nas Trevas", de 2016). O longa é uma sequência direta do primeiro filme, sendo produzido por Fede Álvarez, Sam Raimi e Robert Tapert, e estrelado por Stephen Lang, reprisando seu papel como Norman Nordstrom / 'O Homem Cego'. A trama gira em torno da história de um homem cego que aterroriza invasores de sua casa. A sequência se passa 8 anos após a primeira invasão; quando Norman vive isolado em sua residência junto com Phoenix (Madelyn Grace), uma garota órfã que ele começou a cuidar após um incêndio.
Quando eu assisti ao primeiro filme eu realmente me impressionei com um um Thriller de terror, suspense, com uma ambientação sombria, macabra, claustrofóbica, que nos transmitia uma tensão, um medo, uma agonia, ou seja, "O Homem nas Trevas" realmente se destacou como um ótimo filme. Aqui temos uma sequência que aparentemente é desnecessária, mas como o primeiro filme deu muito certo e rendeu uma ótima bilheteria, seria mais do que esperado que eles fossem espremer toda a história até pingar a última gota, e dessa gota preparar uma grande jarra de suco, que não deu muito certo e ficou meio amargo.
"O Homem nas Trevas 2" até soube reaproveitar e reutilizar a fórmula do antecessor, mas em partes, pois temos dois atos distintos, um que funciona muito bem e o outro que não é muito bom. O primeiro ato é a melhor parte de todo o filme, pois temos aquela perseguição dentro da casa, aquele jogo de gato e rato que deu muito certo no filme anterior, ou seja, temos novamente um jogo de sobrevivência vividos por Norman e Phoenix contra os invasores da sua casa. Nesse primeiro ato o diretor soube utilizar muito bem o clima de terror, suspense, nos imergir novamente em uma ambientação sombria, tensa, claustrofóbica, nos apresentar a violência das mortes brutais, que foi uma das principais características do primeiro filme.
Já no segundo ato é a parte que o filme cai muito de produção, deixando totalmente de lado o terror e o suspense para mergulhar de cabeça na ação. Este ato funciona como uma missão de resgate do Norman para encontrar a Phoenix, ou seja, é a parte mais inverossímil de toda a história (o filme inteiro já é inverossímil, mas esta parte é ainda pior), onde o ar desafiador da saga é perdido, falta originalidade, o roteiro peca em exagerar no drama e cria subtramas que diminuem totalmente toda a credibilidade de toda história já apresentada anteriormente. Nesse ato o diretor perde totalmente a mão ao mergulhar a história no clichê de filmes do mesmo gênero, que é apostar na ação desenfreada. Outro ponto: a troca de cenários e a forma como o Norman chega até lá compromete ainda mais toda a história. Aquela forma implacável e destruidora do Norman é bem difícil de engolir, que por mais que ele já fosse assim no primeiro filme, mas lá ele estava em seu ambiente, conhecia cada cômodo da sua casa, projetava armadilhas e sabia aonde localizá-las quando precisasse.
Outro erro que eu considero grotesco nesse segundo filme: a tentativa de redenção, de humanização, de criar uma espécie de herói para o Norman, que pra mim não desceu, não me convenceu. Pois de fato um dos maiores acertos no primeiro filme era exatamente nos expor personalidades dúbias, personagens que poderiam ser vistos como vilões, como antagonistas, pois ali ninguém era santo e todos carregavam a sua dose de culpa. Porém, aqui temos a tentativa de redenção, de descaracterização, de heroísmo, ao tentar colocar uma personalidade que já nos foi apresentada anteriormente como um assassino e estuprador - bola fora do roteiro!
Stephen Lang (o inesquecível Coronel Miles Quaritch de Avatar) reprisa muito bem o seu personagem. Novamente temos um Norman destruidor, implacável, maquiavélico, sedento por sangue e vingança. Todas as características que engrandeceram a atuação de Lang no primeiro filme está de volta e com uma forma ainda mais brutal e violenta, e aqui ele entrega tudo e mais um pouco. A adição da jovem atriz Madelyn Grace (O Assassinato da Cheerleader) eu considero como um acerto do filme, pois de fato ela é peça-chave e é muito importante para o desenrolar de toda a história. Apesar de achar que em algumas partes o roteiro peca ao tentar trazer o seu drama pessoal a qualquer custo, ao tentar forçar a sua busca em ser uma criança normal como todas as outras, pois de fato isso pode até funcionar em uma outra temática, mas não cabe aqui. Tirando o Stephen Lang e a Madelyn Grace, o resto do elenco é bem genérico, bem esquecível! Como é o caso de Brendan Sexton III (Teia de Mentiras), que fez um líder de gangue que se revela ser o pai biológico de Phoenix. Uma espécie de antagonista, de anti-herói, mas que não funcionou em nenhum momento, uma atuação bem fraca. O mesmo vale para a Fiona O'Shaughnessy (Maria e João: O Conto das Bruxas), que fez Josephine, a mãe de Phoenix. Outra personagem totalmente aleatória e irrelevante para o contexto, sem contar que sua atuação é deprimente.
"O Homem nas Trevas 2" possui uma ambientação muito boa, desafiadora, com um clima soturno que foi o grande responsável em prender o espectador na trama. A direção de Rodo Sayagués é muito competente, pois ele soube trabalhar com excelência cada take, cada cena, soube extrair o melhor de cada ângulo, o que nos dava a exata dimensão de cada acontecimento bizarro. A fotografia é excelente, perfeita, muito bem enquadrada em praticamente 100% de cada cenário. A cenografia e a direção de arte é outro grande acerto. A trilha sonora é bem tensa, muito bem ajustada em cada cena, nos fazendo imergir cada vez mais na história.
Temos mais um caso em que o segundo filme não consegue superar o primeiro, e aqui isso é muito nítido, pois de fato o longa anterior é muito melhor e muito superior. "O Homem nas Trevas 2" até consegue entregar um Thriller de terror e suspense que funciona incialmente, mas ao descambar para a ação o longa perde totalmente a credibilidade. De fato o filme serve apenas como entretenimento por ser uma produção descomprometida e despretensiosa, mas é bem passável e completamente esquecível.
Ainda temos uma cena-pós crédito que deixa um arco para um terceiro filme, que eu particularmente torço pra que não aconteça, pois de fato será mais uma continuação completamente desnecessária como esta. [28/05/2022]
"Tempo" é escrito, dirigido e produzido por M. Night Shyamalan. É inspirado na graphic novel (HQ) Sandcastle de Pierre Oscar Levy e Frederik Peeters. O filme apresenta um elenco composto por Gael García Bernal, Vicky Krieps, Rufus Sewell, Alex Wolff, Thomasin McKenzie, Abbey Lee, Nikki Amuka-Bird, Ken Leung, Eliza Scanlen, Aaron Pierre, Embeth Davidtz e Emun Elliott. A trama acompanha uma família em umas férias durante uma viagem para uma ilha tropical, quando eles descobrem que a praia isolada onde estão relaxando por algumas horas está de algum modo fazendo eles envelhecerem rapidamente, drasticamente, reduzindo suas vidas em apenas um dia.
M. Night Shyamalan sempre foi um diretor original, que sempre nos trouxe originalidade em suas diversas obras ao longo de todos esses anos. A originalidade e o ineditismo sempre foram às verdadeiras marcas registradas deste visionário cineasta. Shyamalan sempre esteve marcado por ser um diretor 'Ame ou Odeie', e é bem dessa forma que a sua carreira foi percorrendo ao longo de toda a sua filmografia. Em seus tempos áureos, Shyamalan nos entregou o maior suspense do final dos anos 90 e início dos anos 2000 - "O Sexto Sentido" - pra mim uma verdadeira obra-prima do suspense e melhor filme de toda a sua carreira. Logo após vieram o clássico cult "Corpo Fechado", o ótimo "Sinais" e o controverso "A Vila". De fato esta época foi a melhor época de toda a carreira do Shyamalan, pois logo após ele entra na pior fase de toda a sua história, nos entregando verdadeiras tragédias como "A Dama na Água", "Fim dos Tempos", "O Último Mestre do Ar" e "Depois da Terra". Depois da tempestade vem a calmaria, e ela veio com os ótimos "Fragmentado" e "Vidro".
"Tempo" é mais um filme totalmente controverso do Shyamalan, pois de fato ele acerta em umas coisas e falha miseravelmente em outras. Uma ideia muito boa porém mal executada e mal desenvolvida, onde temos uma premissa que soa como instigante, intrigante, que tem potencial para se tonar algo muito interessante e muito grandioso, mas não é bem isso que acontece. Shyamalan constrói todo um universo para nos revelar um novo thriller misterioso, pitoresco, excêntrico, e no fim é apenas uma trama ambiciosa com alguns momentos pretensiosos. Não posso negar que o roteiro de Shyamalan é promissor e bastante oportuno, pois de fato ele é mestre em criar um ambiente que é cheio de mistérios, metáforas, alusões, reflexões, que nos prende gradativamente por ficarmos cada vez mais instigados com o rumo que a sua trama irá tomar. Porém, "Tempo" é mais um filme mediano de Shyamalan, que definitivamente não conversa com às suas melhores obras, e infelizmente entra na lista daquelas tragédias que eu mencionei acima.
"Tempo" até começa com ar de suspense que nos intriga e desperta o nosso interesse, mas o roteiro peca exatamente na tentativa desesperada em tentar criar mistérios o tempo todo, deixando uma trama cansativa, embarrigada e muito maçante, principalmente por fazer muita enrolação e ao final entregar um plot completamente broxante e vergonhoso. Por falar em final, MEU DEUS, o final de "Tempo" é horrível, medonho, pavoroso, pois...
Toda aquela explicação que inventaram da empresa farmacêutica usar aquela praia (que eles diziam ser algo divino dado à eles pela natureza) para testar medicamentos em pessoas que já tinham algum tipo de enfermidade para salvar outros enfermos, ou até mesmo a humanidade, eu não comprei, achei muito ruim - tipo, vamos matar 10 cobaias para salvar milhões. E a explicação que deram ao fato do tempo passar muito rápido na praia? Diziam que na verdade eram as rochas dessa praia que meio que aceleravam o metabolismo e o envelhecimento das células - é....enfim!!! Aquele final dos irmãos chegando e desmascarando o 'grande plano' é muito ruim. Por mais que os dois fossem crianças em corpos de adultos, que necessariamente não reagiriam com ódio por tudo que fizeram com eles, mas aquele plot é muito raso, muito frio, muito vazio, poderiam ter dado um final mais decente, mais criativo, mais inteligente, no mínimo. Aliás, o final entrega tudo muito de bandeja, não deixa nada para que o espectador pudesse desvendar ou interpretar.
A cinematografia do filme juntamente coma direção do Shyamalan é horrível, pois temos closes bizarros, onde tínhamos várias cenas desfocadas, várias cenas onde a câmera girava infinitamente e nos incomodava, nos fazendo perder a atenção em um determinado ponto da trama. Poderiam ter dado uma atenção maior ao fato de parecer que só as crianças envelheciam e os adultos não, ou pelo menos não da forma que esperávamos, muito por falta de um trabalho mais caprichado na maquiagem. Porém, devo elogiar a estética do filme, como a praia, que de fato é um local muito belo, muito paradisíaco, envolto em um tom mais colorido, mais vívido, que realmente fotografava muito bem. A trilha sonora agrega muito bem na trama, sendo bem dosada entre às cenas mais leves, mais eufóricas, fazendo um contraponto acertado com os momentos mais tensos.
O elenco de "Tempo" é outro ponto falho! Os personagens não são interessantes, não são cativantes, não convencem, não criamos empatia por ninguém, são artificiais. Temos algumas atuações robóticas, preguiçosas, desinteressadas, desprovidas de atenção e preparo. Alex Wolff (Pig e Hereditário) e Thomasin McKenzie (Jojo Rabbit e Ataque dos Cães) foram os únicos que me chamaram um pouco da atenção, os únicos que ainda conseguiram se destacar em meio à um elenco que entregaram atuações tão genéricas.
Um ponto que eu achei bastante interessante: a forma como o longa nos traz uma crítica social direta às pessoas que sempre vivem preocupadas com o corpo, com a beleza jovial, colocando um contraponto com uma personalidade mais velha, mais cansada, que necessariamente não tem mais essas preocupações. Também temos uma reflexão sobre às pessoas que vivem querendo que o tempo passe cada vez mais rápido, em contrapartida temos aquelas que vivem presas aos seus passados. De fato o longa de Shyamalan aborda algumas camadas do ser humano que nos faz pensar e refletir de várias formas - este é um dos poucos pontos positivos no filme!
Infelizmente "Tempo" não funcionou pra mim, não consegui comprar toda a ideia vendida no filme e o considero bem mediano, de mediano pra ruim (pegando leve). M. Night Shyamalan veio de duas obras que eu considero boas, mas infelizmente ele volta a cometer os mesmos erros cometidos lá atrás - uma pena! "Tempo" é aquele típico filme que tem uma premissa ótima e um final péssimo.[27/05/2022]
"Moonfall" é co-escrito, dirigido e produzido por Roland Emmerich, que ainda conta com às participações de Spencer Cohen (Extinção) e Harald Kloser (2012) assinando o roteiro. O filme é uma coprodução americana, britânica e chinesa estrelado por Halle Berry, Patrick Wilson, John Bradley, Michael Peña, Charlie Plummer, Kelly Yu e Donald Sutherland.
O longa nos conta a estória de uma força misteriosa que tira a Lua de sua órbita fazendo com que ela se mova em direção à Terra, prestes a causar a extinção de toda humanidade. Apenas algumas semanas antes do impacto, a NASA envia dois ex-astronautas, Jo Fowler (Halle Berry) e Brian Harper (Patrick Wilson), juntamente com o teórico da conspiração K.C. Houseman (John Bradley) em uma difícil missão ao espaço; eles tem que deixar suas famílias para trás e arriscar pousar na superfície lunar para salvar o planeta da extinção.
Na minha opinião o Roland Emmerich sempre foi um diretor fraquíssimo, limitadíssimo, que já nos entregou várias bombas ao longo da sua carreira cinematográfica - bombas estas como "O Dia Depois de Amanhã", "2012", "10.000 A.C." e "O Ataque". Emmerich até pode ter umas produções ou outras que já agradaram ou até funcionaram lá atrás em suas épocas como "Soldado Universal", "Independence Day" e "Godzilla", mas no saldo total é só catástrofes (literalmente). Pra mim o único filme que ainda se salva dentro da sua filmografia é "O Patriota", que de fato é uma belíssima obra.
"Moonfall" é o típico filme que você não precisa assistir pra saber que é ruim, mas eu vou ser bem sincero, dessa vez o Emmerich me surpreendeu, pois seu filme não é apenas ruim, é uma das coisas mais bizarra, grotesca, pavorosa, vergonhosa, vexatória, mal feita que eu já assisti em toda a minha vida.
Roland Emmerich é de fato o diretor das grandes catástrofes, mas ele leva esta colocação muito ao pé da letra em seus filmes, pois quando ele quer fazer uma bomba ninguém consegue superá-lo. "Moonfall" é de fato uma produção escapista, aquela descompromissada com a realidade, despretensiosa com o nosso imaginário, que tem uma premissa até interessante e até pode ser funcional, dado à estória que o enredo quer nos contar, sobre quais seriam os reais motivos que levaram a lua a sair de órbita, e claro, a descrença de todos inicialmente, e é exatamente desse ponto que o filme parte, como mais uma produção do Emmerich que aborda uma grande catástrofe. Porém o roteiro parte do nada para lugar nenhum ao descambar para a ficção científica em querer abordar contatos com seres alienígenas, como uma espécie de IA, que eles acreditam que possam ter sido os construtores da lua. O roteiro tenta construir toda uma abordagem em cima das catástrofes e do possível extermínio humano para nos elucidar que tudo que está acontecendo foi causado por uma guerra intergaláctica que começou há bilhões de anos, por isso aquele enxame alienígena (que mais pareciam as Sentinelas do Matrix) estavam vasculhando todo o universo em busca da única lua que escapou deles. É sério mesmo? Quer dizer que este era o grande plot do filme? Os grandes responsáveis por a lua ter saído de órbita foram os alienígenas? MEU DEUS!!!
O último ato do filme é ainda pior (como se isso fosse possível), onde o filme cai na pieguice, no melodrama, usando frases de efeitos para querer de alguma forma nos emocionar, ou passar aquela história bonitinha de um final feliz pelo simples fato da pessoa que sempre foi taxada de fracassada dar a sua vida em prol da salvação de toda humanidade - ai que fofinho, caiu um cisco no meu olho! Sem falar na forçada de barra do roteiro em querer criar alguns arcos pessoais de seus personagens, querendo de alguma forma nos expor os seus problemas familiares, como uma forma de humanizá-los, como se isso fosse despertar a nossa simpatia por eles. Muito pelo contrário, não simpatizei com ninguém, não torci por ninguém, todos os personagens criados são simplesmente péssimos, horrorosos, que ao final eu estava torcendo para a lua de fato se chocar com a terra e todos morrerem.
"Moonfall" não funciona como Sci-fi, não funciona como uma aventura espacial, não funciona como uma abordagem de uma grande catástrofe, não funciona como drama, não funciona como ação, não funciona como absolutamente nada, atira para todos os lados e ao final não se decide o que de fato queria nos passar. Um roteiro absurdamente horroroso, pavoroso, parece que foi escrito por amadores, iniciantes, completamente falho e totalmente perdido. Eu fico me perguntando como o Roland Emmerich conseguiu a proeza de alguém se interessar em financiar esta bomba, e olha que estamos falando de uma produção orçada entre US$ 138 a 146 milhões de dólares, o que o tornou um dos filmes produzidos independentemente mais caros de todos os tempos. Porém o tombo veio e foi grande, pois o fiasco de Emmerich fracassou nas bilheterias e arrecadou apenas US$ 57 milhões em todo o mundo.
Tecnicamente o filme de Emmerich é desastroso. A produção abusou tanto do CGI que chegava a incomodar em várias partes, e detalhe, um CGI completamente péssimo, horrível, que mais parecia uma produção amadora. Os próprios efeitos especiais eram muito digitalizados, onde tinham cenas que você via claramente que tudo não passava de um mero cenário computadorizado com um gráfico limitadíssimo. O longa tem uma edição péssima, muitos cortes, muitas colagens de cenas, como se alguma coisa não estivesse saindo da forma que pretendiam e decidiam consertar com cortes. Uma fotografia feia, escura, cega, faltou um tratamento digital mais caprichado, para esteticamente ficar uma fotografia mais atrativa. Aquela mesma trilha sonora cansativa dos filmes de catástrofes, que também faltou uma repaginada, uma composição melhor, que não se tornasse repetitiva em praticamente 100% do filme.
Sobre o elenco eu vou me abster de fazer um comentário mais detalhado. Quero apenas deixar algumas perguntas em aberto: como a Halle Berry, o Patrick Wilson e o Donald Sutherland aceitaram participar dessa bomba? Será que eles leram o roteiro? será que eles gostaram dos seus personagens ao final? Pra mim não salva absolutamente ninguém do elenco, são atuações completamente genéricas e limitadas. Ah Halle Berry, eu gosto muito de você, te acompanho há tantos anos, o que você está fazendo da sua carreira.
Roland Emmerich consegue se superar mais uma vez, ao nos entregar um filme que possivelmente entra no hall das piores produções já feitas na história do cinema. De fato ele já fez muitas bombas, mas acredito que "Moonfall" está no topo como um dos seus piores filmes, se não for o pior. Isso deveria ser proibido de ser exibido nos cinemas. Uma coisa vergonhosa, vexatória, absurda, horrível, péssima, um completo desrespeito, uma afronta, um desserviço à qualquer gênero cinematográfico e principalmente ao Sci-fi. Parabéns Roland Emmerich! [21/05/2022]
"Os Imperdoáveis" foi lançado em 1992, dirigido, produzido e estrelado por Clint Eastwood no papel principal e escrito por David Webb Peoples (que escreveu o filme indicado ao Oscar 'The Day After Trinity' de 1981, e co-escreveu Blade Runner, de 1982, com Hampton Fancher). O filme conta a história de William Munny (Eastwood), um velho fora-da-lei e assassino de aluguel que assume mais uma missão, como um caçador de recompensas, anos depois de ter se aposentado e voltado para a agricultura e a vida na fazenda. O filme é co-estrelado por Gene Hackman, Morgan Freeman e Richard Harris.
Clint Eastwood é um dos maiores ícones da história da sétima arte, um mestre, um gênio, um dos maiores realizadores e um dos maiores cineastas que já passou por esta terra. Ele fez história a partir da década de 50 como uma das estrelas máximas de Hollywood, sendo que em 1964 ele passou a trabalhar com o mestre dos westerns, o cineasta italiano Sergio Leone, se tornando o seu legítimo pupilo, o seu garoto de ouro. Eastwood dirige, produz, roteiriza, atua e compõe a trilha sonora de várias das suas obras ao longo da sua vasta, respeitada e premiada carreira. Já nos entregou atuações icônicas, obras-primas históricas e memoráveis como "O Estranho Sem Nome", "O Cavaleiro Solitário", "As Pontes de Madison", "Sobre Meninos e Lobos", "Menina de Ouro", "Gran Torino" e "A Troca".
"Os Imperdoáveis" é uma das maiores obras-primas da história do cinema, um dos maiores westerns de todos os tempos, que juntamente com o filme "Dança com Lobos", são as duas melhores obras-primas do faroeste dos anos 90 que eu já assisti na vida. Uma verdadeira pérola cinematográfica, uma verdadeira obra de arte do cinema, o último grande faroeste, o último western a ganhar o Oscar de Melhor Filme, a obra-prima do mestre Eastwood que ficou marcada como a despedida com chave de ouro do gênero que o consagrou.
O maior trunfo do filme está exatamente na forma como ele nos retrata a figura do cowboy, do pistoleiro, pois teoricamente os faroestes nos traria as velhas histórias sobre a sede de vingança, com pistoleiros de mira infalível e moral dúbia salvando damas em perigo ou até mesmo as cidades, sempre envolto nos maiores tiroteios. Aqui temos uma verdadeira quebra de arquétipos, de estereótipos, uma verdadeira desconstrução daquela imagem clássica do estilo western, uma desmistificação daquela imagem contundente do cowboy que sempre age em prol do heroísmo. "Os Imperdoáveis" é um filme revisionista, intrínseco, mais cru, algo mais realista e mais pesado. Pois de fato temos aquelas figuras dos pistoleiros semi-aposentados que trabalham como caçadores de recompensas, como matadores de aluguel, mas nos confrontando diretamente como um desmistificador do Velho Oeste, cuja violência nem sempre é vista como algo glorioso e se manifesta como reação da insegurança dos cowboys ou quase sempre pelo efeito das bebidas - como o próprio discurso feito pelo Munny. Também temos a quebra dos estereótipos sobre a posição feminina, pois de certa forma elas se impõe e desacata a decisão colocada pelo Xerife. E até mesmo às alusões aos antigos heróis que eram celebrados pela cultura popular dos westerns, de certa forma até os colocando como farsantes ou algo do tipo - como a própria figura do English Bob, personagem do Richard Harris.
A figura do William Munny é a fiel descaracterização do cowboy, do pistoleiro do Velho Oeste, pois ele já está aposentado há 11 anos e teve uma verdadeira redenção quando conheceu a sua esposa já falecida, Cláudia, com quem teve dois filhos. Ou seja, temos também uma abordagem sobre o drama de Munny e todos os seus traumas e seus fantasmas do passado. Acredito que se deva a isso a sua principal motivação em aceitar o trabalho de caçador de recompensas, e até financeiramente, pela criação dos seus filhos. Uma atuação soberba, esplendorosa, estratosférica, magnífica de Clint Eastwood. É realmente impressionante e assustador o poder de atuação que este homem tem, é algo surreal, pois em todos os seus filmes eu me pego boquiaberto diante da magnitude do seu trabalho e sua entrega no personagem - incrível!
O elenco de "Os Imperdoáveis" é uma obra-prima dos cinemas, pois juntar em um mesmo filme as lendas como Clint Eastwood, Gene Hackman, Morgan Freeman e Richard Harris, no mínimo é merecedor de uma salva de palmas por uns 10 minutos.
O lendário Gene Hackman está incrível na pele do Xerife Little Bill. Aqui temos mais uma desmistificação da figura de um Xerife, do homem que impõe às leis, que segue regras, pois Little Bill era totalmente ao inverso de tudo isso, ele fazia às suas próprias leis e às impunha à todos da sua forma violenta e cruel. Que atuação do Gene Hackman, Ave Maria, Jesus Cristo. Little Bill foi um personagem que lhe caiu como uma luva, e ele alcançou uma perfeição absurda, sempre se impondo à todos como aquele ser soberano, com suas expressões sádicas, que usava e se aproveitava do seu poder de justiça para aplicar às regras da sua maneira - completamente magnífico a atuação de Gene Hackman! Morgan Freeman é outro gentleman da sétima arte, outro que nos entregou mais uma atuação absurda como o velho parceiro de Munny, Ned Logan. Logan era aquele braço direito de Munny, seu fiel escudeiro, porém, ele também já mostrava sinais de cansaço, de uma vida sofrida, e mesmo assim ele se vangloriava como sendo um ótimo atirador de rifles, mesmo que ultimamente ele se renegava a puxar o gatilho. O icônico Richard Harris (já falecido) fez um personagem completamente inusitado, o English Bob, que entrou em um confronto direto com o Xerife Little Bill quando adentrou em sua cidade. Um personagem muito bom, muito interessante, mas que de certa forma não foi aproveitado como realmente deveria, ou poderia. O jovem ator Jaimz Woolvett estava fazendo a sua estreia nos cinemas, e de cara já contracenou com duas lendas como Freeman e Eastwood, mas ele deu conta do recado direitinho, conseguiu impor o seu inexperiente e desajeitado personagem,The Schofield Kid. A atriz Frances Fisher fez Alice, a prostitua chefe, que sempre entrava em conflitos com o Xerife e qualquer um para defender às suas meninas, tanto que ela não aceitou a pena imposta pelo o Xerife referente ao cowboy que cortou o rosto da prostituta Delilah Fitzgerald (Anna Levine). Outra atriz que entregou uma ótima personagem, muito doce, muito delicada, que dava vontade de cuidar dela, literalmente - aquela cena que ela conversa com o Munny é o seu ápice no filme.
"Os Imperdoáveis" possui um roteiro brilhante, de uma inteligência absurda, muito bem escrito, muito bem idealizado. Tem uma narrativa muito fluida, que transcorre com muita inteligência entre o conceito de começo, meio e fim. Possui diálogos envolventes, pertinentes e prazerosos. Uma fotografia majestosa, que se destacava como muita dignidade entre os cenários mais belos do longa. A trilha sonora e os arranjos foram do compositor já falecido Lennie Niehaus, mas o tema principal foi composto por Clint Eastwood - uma trilha sonora completamente impecável, que nos remetia diretamente aos clássicos dos westerns. A própria direção do Eastwood é perfeita, feita com muita dedicação e com muita competência, daquelas que só um gênio como ele consegue nos entregar. Assim como a direção de arte, cenografia, ambientação, designer, decoração, montagem, edição, som...tudo 100% perfeito, sem um erro - estupendo!
"Os Imperdoáveis" foi indicado a nove Oscars e foi premiado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Gene Hackman) e Melhor Montagem (Joel Cox). Eastwood foi indicado ao Oscar de Melhor Ator por sua belíssima atuação, mas perdeu para Al Pacino por "Perfume de Mulher". O filme foi o terceiro western a ganhar o Oscar de Melhor Filme, após "Cimarron" (1931) e "Dança com Lobos" (1990).
De fato o longa de Eastwood foi uma grande homenagem aos faroestes das grandes décadas dos westerns. Uma verdadeira carta de amor aos seus mestres, aos seus diretores e aos seus mentores Sergio Leone e Don Siegel, como uma espécie de agradecimento, de reconhecimento por tudo que lhe foi ensinado e lhe foi passado ao longa da sua vida cinematográfica. Como podemos comprovar claramente nos créditos finais com a linda mensagem: "Dedicated to Sergio and Don".
"Os Imperdoáveis" ainda possui uma cena final épica, icônica, apoteótica, umas das maiores maravilhas que meus olhos pode presenciar ao longo de toda a minha vida cinéfila.
Um Clássico. Uma Lenda. Uma Obra Épica. Uma Obra de Arte. Uma Pérola Cinematográfica. Uma Verdadeira Obra-Prima dos Cinemas. [20/05/2022]
"The Northman" é dirigido por Robert Eggers, que co-escreveu o roteiro com o roteirista Islandês Sjón. O enredo segue a mesma história da tragédia de 'Hamlet', o nome do protagonista, Amelth, é um anagrama de 'Hamelt' e foi baseado principalmente na lenda de Amleth, escrita pelo historiador dinamarquês Saxo Grammaticus, conhecida como a inspiração direta para a criação da clássica peça 'Hamlet', de William Shakespeare. O filme é estrelado pelo co-produtor Alexander Skarsgård, Nicole Kidman, Claes Bang, Anya Taylor-Joy, Ethan Hawke, Björk e Willem Dafoe. A trama segue Amleth, um príncipe viking que parte em uma missão para vingar o assassinato de seu pai e salvar a sua mãe.
O jovem diretor Robert Eggers estreou em 2015 com o ótimo filme "A Bruxa", uma espécie de terror psicológico simplesmente horripilante. Logo após ele trouxe mais uma ótima obra, "O Farol" em 2019, um terror suspense muito intrigante. Eggers sempre esteve ligado ao suspense e ao terror, ou seja, dessa vez ele sai da sua zona de conforto ao nos entregar o seu projeto mais ambicioso, mais caro, mais longo, um verdadeiro épico viking.
O novo longa de Eggers é muito ambicioso e muito centrado em busca do seu objetivo maior, pois aqui temos um filme viking bárbaro, uma história de vingança e brutalidade que flerta com o misticismo, uma narrativa de amor e traição totalmente imergida na cultura nórdica na idade do ferro da Escandinávia. Eggers se mostra um ótimo cineasta ao nos trazer uma película baseada em uma aventura histórica, que mistura a mística pagã com o principal deus nórdico Odin, mas em contrapartida nos expondo um roteiro que direciona a sua história e navega no drama, na ação, no romance, na barbárie, usando como pano de fundo a violência extrema e a brutalidade grotesca da era viking - é uma sacada muito boa!
Um dos pontos cruciais e que mais me chamou a atenção no filme é de fato a violência dos confrontos, pois para um filme viking que se passa na virada do século 10 isso era mais do que natural, mais do que normal. De fato Eggers não poupou o espectador em nenhuma cena, entregando cenas bárbaras e sem nenhum pudor, com uma violência extrema e grotesca. Os confrontos e os embates eram trazidos com uma brutalidade absurda, uma sanguinolência pesada, uma carnificina bizarra, você conseguia sentir a violência, a crueldade e a dor no fio da espada quando adentrava e penetrava no fundo das entranhas, deixando os locais completamente ensanguentados. Eu considero um ponto muito positivo no longa, um grande acerto de Eggers, em retratar fielmente e verdadeiramente os confrontos brutais da era viking sem nenhum receio, sem nenhum pudor, o que poderia fatalmente incomodar grande parte do público que não goste de violência extrema da forma que foi demonstrada.
Outro ponto positivo no filme é a direção de Robert Eggers, muito ajustada, muito competente, muito segura, principalmente por ter cenas que são filmadas em plano-sequência, o que exige um forte trabalho de coreografia e claro, da direção. A fotografia de Jarin Blaschke (grande parceiro de Eggers em seus dois filmes anteriores) é completamente fiel à temática viking, se destaca com perfeição entre as cenas das batalhas brutais, e nos confronta diretamente com um tom denso, morto, acinzentado e escuro. A trilha sonora de Robin Carolan é bem modesta, bem mediana, na verdade eu senti falta exatamente de uma trilha sonora mais envolvente, mais relevante, que estivesse mais incorporada no filme. A direção de arte está muito fiel, esteticamente nos traz cenários bem compostos e visualmente perfeitos com a temática do filme.
Apesar de todos os elogios pelo trabalho apresentado por Robert Eggers, devo confessar que o seu roteiro não foi bem desenvolvido, pois temos um início bem morno e aos pouco ele vai engrenando e se achando dentro da trama, mas de certa forma o ritmo cai bastante em algumas partes e o roteiro embarriga em outras. O que eu acho que poderiam ter dado uma atenção mais caprichada, mais minuciosa, mais enxuta, o que de certa forma ajudaria bastante no ritmo vagaroso de algumas partes do filme. Por outro lado temos uma história bem comum, bem corriqueira, aquela típica guerra em família, onde o irmão mata o irmão e fica com a cunhada, que por sua vez o sobrinho quer vingança por parte do pai e libertar a mãe. Nada de novo, nada de surpreendente, nada que já não tenhamos vistos inúmeras vezes. Tudo acontece exatamente como está descrito na sinopse, tudo muito normal - nesse sentindo eu acho que faltou mais um pouquinho de ambição!
Todo o elenco começa em um ritmo lento e vai se engrandecendo com o passar do tempo. Alexander Skarsgård (do recente Godzilla vs Kong) é Amleth, o príncipe Viking guerreiro. Uma escolha perfeita para incorporar na pele do viking sedento por vingança. Uma atuação forte, aguerrida, destemida, onde ele nos impressiona com a demonstração da sua ira, do seu ódio, do seu desejo insaciável por vingança a qualquer preço. Uma bela atuação de Alexander Skarsgård. Anya Taylor-Joy (de Vidro e Fragmentado) é uma belíssima atriz, ela é linda, talentosa, dedicada, com um grande potencial, que nos foi apresentada exatamente no filme "A Bruxa", fazendo um papel muito forte e já se destacando em seu primeiro trabalho cinematográfico. Eggers foi o grande responsável em praticamente lançar e alavancar a sua carreira. Novamente trabalhando com o Eggers a Anya faz um trabalho impecável como a Olga, uma atuação fina, certeira, primorosa, que tem um começo mais morno, mas com o passar do tempo ela cresce e começa a dividir todo o protagonismo, elevando o nível de sua atuação principalmente no ato final - perfeito, mais um belíssimo trabalho entregue por esta jovem que já é realidade e tem um futuro cada vez mais promissor!
Nicole Kidman (que recentemente concorreu ao Oscar por Being the Ricardos) nos surpreende mais uma vez, é impressionante, essa mulher parece vinho, vai ficando mais velha e vai ficando cada vez melhor. Mais uma grande atuação da Nicole como a Rainha Gudrún, mãe de Amleth, que me impressionou e me deixou boquiaberto com a sua virada na trama. Willem Dafoe (que trabalhou com Eggers em O Farol) segue a mesma linha da Nicole, é impossível ele apresentar um trabalho ruim ou uma atuação ruim, um completo gênio da sétima arte. Dafoe tem pouco tempo de tela, mas pra ele isso já é mais do que suficiente para nos maravilhar e nos agraciar com todo o seu talento na pele do Heimir, o bobo da corte.
Ethan Hawke (do lendário Dia de Treinamento) tem um começo morno porém muito interessante e intrigante, nos entrega uma atuação que condiz diretamente com o seu personagem Rei Aurvandill, pai de Amleth, que é peça-chave para a toda história. Claes Bang (Tudo Pela Arte) também tem um começo morno, porém depois de um certo tempo ele tem uma virada na trama e no seu personagem Fjölnir, tio de Amleth, que de certa forma funciona perfeitamente com o que lhe é designado. Claes é o principal vilão, o principal antagonista de toda a história (se é que podemos considerar assim), e ele entrega uma atuação bastante pertinente, ficando ainda melhor no embate final com o personagem do Alexander Skarsgård. A cantora Björk faz a Seeress, a vidente tradicional da cultura viking. Ela está com um figurino impecável, uma maquiagem pesada, que a deixava praticamente irreconhecível - um verdadeiro show!
Podemos considerar que Robert Eggers é um nome certeiro dentro da indústria hollywoodiana, e que seus três trabalhos são muito bons e estão em um altíssimo nível, pois até agora ele ainda não fez um filme ruim e nem mediano. Em "The Northman" ele sai da sua zona de conforto e se dá muito bem, nos entrega um épico viking em grande estilo, que ainda termina com uma cena final em um clima épico e apoteótico. [14/05/2022]
'Parasita' é um filme sul-coreano de 2019, dirigido por Bong Joon-ho (do filme original Netflix Okja), que co-escreveu o roteiro com Han Jin-won. O longa segue uma família pobre que planeja ser empregada por uma família rica e se infiltrar em sua casa se passando por indivíduos não relacionados e altamente qualificados.
O longa sul-coreano tem um roteiro muito interessante e abrangente aos nos apresentar diretamente uma crítica ácida sobre as diferenças entre as classes sociais, nos mostrando uma forma seca e crua do ser humano. É interessante notar como o filme tem um poder de navegar no suspense, no drama, no terror, no humor negro, ao mesmo tempo que contrapõe com uma comédia, uma sátira, de uma forma tragicômica. Outro ponto muito interessante está no contraponto que o diretor Bong Joon-ho expõe em sua visão, já iniciando o filme nos apresentando a casa da família pobre, que fica em uma espécie de porão na rua, confrontando diretamente com a mansão da família rica, que foi construída por um famoso arquiteto.
Parasita: Biologia...diz-se de um organismo que vive de um outro organismo, dele obtendo alimento e não raro causando-lhe dano. Medicina...diz-se de gêmeo que tira seu sustento de outro quase normal. Também podemos associar como uma espécie de ser vivo de menor porte que vive associado a outro ser vivo de maior porte, à custa ou na dependência deste. Parasita: uma pessoa que não trabalha, ociosa e indolente e que vive à custa alheia; chupa-sangue, comedor, desfrutador, esponja, gandulo, gaudério, godero, inútil, sanguessuga, vagabundo e zângano.
O título do filme é completamente magistral, uma sacada de mestre, pois como podemos notar, existem inúmeros significados para um parasita, ou para uma pessoa parasita. Exatamente este é o ponto a ser explorado pelo filme, a forma como uma pessoa parasita se propaga, pois na minha opinião todos nós temos ou fomos de certa forma um parasita em algumas circunstância na vida, por mais que você possa achar que não, mas de alguma forma você já agiu como um parasita.
'Parasita' também pode ser interpretado como uma crítica, uma sátira, que está ligada diretamente ao dinheiro, ou seja, a sua abundância e também a sua ausência, lado a lado. Tudo isso vai ficando mais evidente através da narrativa, que vai esclarecendo e confundindo o espectador a cada cena. Pois temos a família rica que é ingênua e a família pobre que são os humildes, mas até que ponto podemos colocar que a família rica são os mais ingênuos e a família pobre são os mais humildes? No caso da mãe da família rica: ela é rica e gentil? Ou ela é gentil porquê é rica? No caso da família pobre: eles são humildes porquê são pobres? Ser pobre é sinônimo de humildade? O que é ser humilde pra você? O filme levanta várias perguntas que você fará à você mesmo, é incrível! Ao mesmo tempo que o filme também tem o dom de nos explicitar sobre a pobreza extrema e a riqueza ostentatória ali frente a frente.
Outro ponto: como o enredo vai nos estabelecendo sobre os personagens da família pobre se infiltrando na casa e na vida da família rica, seria muito óbvio assimilarmos como se a família pobre fossem de fato os parasitas da história. Porém, se você olhar para o outro lado, pode se dizer que a família rica também pode ser considerada como parasitas em termos de trabalhos, pois eles não podem nem lavar a louça, não podem dirigir sozinhos, não podem cuidar dos seus filhos, eles sugam o trabalho da família pobre o tempo todo. Então, ambos são parasitas.
'Parasita' é um filme metafórico, que faz alusões e menções em vários sentidos. Por exemplo: a alusão entre a classe rica e a classe pobre...quando a chuva cai e desce pelo bueiro na cidade chegando até a parte do porão, onde a família pobre mora, ou seja, a forma como a câmera nos mostra o rico na parte de cima da cidade e vai descendo lentamente para o pobre na parte de baixo, logo abaixo dos bueiros. A forma como a forte chuva é recebida pela esposa da família rica, como uma benção divina, como uma forma de limpar o céu e o ar seco da cidade - ao mesmo tempo que para a família pobre a chuva é algo devastador, pois inundam às suas casas e os obrigam a irem para um abrigo.
Metaforicamente temos a parte onde o pai da família pobre se incomoda com o inseto que estava se aproveitando das migalhas de pães na mesa, onde o próprio chama o inseto de nojento e o arremessa para longe dali. Claramente um parasita se incomodando com um outro parasita. Temos uma alusão à classe pobre sobre o cheiro que sempre estava entranhado em todos os membros da família pobre, como se pobreza fosse uma marca, tivesse um cheiro próprio, fosse algo pavoroso, ou até mesmo ser da classe pobre é ser considerado uma pessoa que sempre carrega consigo um mau odor impregnado em sua pele. Como a menção feita pelo pai da família rica, quando ele colocou que aquele mau odor da família de empregados era o mesmo cheiro que sempre era exalado pelas pessoas nos metrôs da cidade.
A direção de Bong Joon-ho é muito competente, pois é incrível como os seus takes e seus focos também fazem parte de toda história. A maneira como a câmera passeava em um determinado local nos elucidava exatamente sobre o que aquela cena queria nos propor. Como por exemplo a cena que o garoto pobre se encanta com a mansão, o seu espanto ao adentrar aquele ambiente pela primeira vez em sua vida. Era como se a câmera tivesse vida própria, pois em várias cenas ela praticamente andava sozinha, nos confrontando entre o ambiente inóspito do local onde vivia a família pobre, com o contraponto da mansão luxuosa da família rica, cuja mansão também guardava os seus segredos e seu ambiente inóspito logo abaixo em seu porão. A trilha sonora do longa é muito boa e muito bem destacada ao longo da trama. Uma trilha sonora penetrante, profunda, intrigante, que acompanhava muito bem cada passo, cada acontecimento, tanto pelo lado bom quanto pelo lado ruim - a trilha sonora literalmente nos incomodava.
Em questões de elenco não temos muito o que se destacar. Realmente o elenco de 'Parasita' é bom e bastante funcional dentro do que o filme de fato pedia. Mas pra mim o filme nos ganha mais pelo roteiro do que pelo elenco, apesar de todos manterem um certo carisma e uma certa sintonia. Song Kang-ho (Kim Ki-taek, o pai da família pobre) é bom, entrega um papel decente. Woo-sik Choi (Ki-woo, o irmão) é um dos mais carismático em cena, nos ganha exatamente nesse quesito. Park So-dam (Ki-jung, a irmã) além de linda é uma atriz muito boa, a que eu mais gostei em cena, ela é de longe a melhor de todo o elenco. Jang Hye-jin (Chung-sook, a mãe) é a mais mediana entre todo o elenco. Lee Sun-kyun (Mr. Park) e Cho Yeo-jeong (Mrs. Park) são os pais da família rica. Ele é mais comedido em cena e se destaca pouco, já ela é um pouco melhor nas cenas mais cômicas, aquela sua ingenuidade era seu ponto alto da atuação. Lee Jung-eun (Moon-gwang, a governanta) está bem, porém ela ganha mais relevância e se destaca mais para o final do filme. Park Myung-hoon (Geun-sae, o marido da governanta que vivia no porão) faz um ótimo personagem, ele faz bem com seu pouco tempo de tela e se destaca notavelmente na parte final da festa de aniversário.
Um ponto que eu considero como uma derrapada do filme está exatamente na parte final, mais precisamente na cena do aniversário e seus acontecimentos. Eu achei um tanto quanto forçada esta cena, acredito que não precisaria tomar o rumo das mortes gratuitas, por mais que o roteiro lhe desse esta opção dado aos acontecimentos passados durante à trama. Mas eu achei que esta parte foi usada como uma mera válvula de escape para compor um final para história. Até pode ser considerada como uma parte importante dentro do roteiro, se de fato você considerar a história e seus acontecimentos como um todo - até ok! Mas eu achei um pouco desnecessário seguir por este rumo.
'Parasita' ganhou quatro prêmios no Oscar 2020: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Longa-Metragem Internacional, tornando-se o primeiro filme de língua não inglesa a ganhar o Oscar de Melhor Filme. 'Parasita' é o primeiro filme sul-coreano a receber o reconhecimento do Oscar, além de ser um dos três filmes a ganhar a Palma de Ouro e o Oscar de Melhor Filme, a primeira conquista desse tipo em mais de 60 anos. Ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e o Prêmio BAFTA de Melhor Filme Não em Língua Inglesa, e se tornou o primeiro filme de língua não inglesa a ganhar o Screen Actors Guild Award de Melhor Performance de um Elenco em um filme. Um fato completamente histórico para o filme sul-coreano. [Assistido nos cinemas em 15/02/2020 / Reassistido em 13/05/2022]
O mais novo "Batman" é dirigido por Matt Reeves (Planeta dos Macacos: O Confronto e A Guerra), que escreveu o roteiro com Peter Craig (Jogos Vorazes: A Esperança Parte 1 e O Final). É estrelado por Robert Pattinson como Bruce Wayne / Batman, ao lado de Zoë Kravitz, Paul Dano, Jeffrey Wright, John Turturro, Peter Sarsgaard, Andy Serkis e Colin Farrell. O longa nos mostra uma nova história do Batman, que luta contra o crime em Gotham City há dois anos, descobrindo a corrupção e buscando a vingança, enquanto persegue o Charada (Paul Dano), um enigmático serial killer que tem como alvo a grande elite de Gotham.
De antemão já adianto que este filme do "Batman" junto com "Batman: O Cavaleiro das Trevas", do Nolan, são os dois melhores filmes do Homem-Morcego que eu já assisti em toda a minha vida.
Realmente não é nada fácil contar um nova história do Batman hoje em dia, visto que o super-herói já teve inúmeras adaptações para as telonas ao longo desses quase 60 anos. Foi um desafio muito grande para o diretor Matt Reeves e o roteirista Peter Craig, mas eu devo admitir que eles mandaram super bem, fizeram um trabalho completamente fantástico e satisfatório, beirando a perfeição. O novo "Batman" é incrivelmente bom, mais uma vez a DC/Warner acertou a mão (como fez em Mulher-Maravilha e Coringa), e olha que não é sempre que isso acontece, pois ao mesmo tempo que os studios nos entregam verdadeiras pérolas das adaptações das HQs, também temos diversas bombas (olá Liga da Justiça).
Matt Reeves nos traz um Batman diferente, totalmente sombrio, com uma pegada mais dark, mais obscura, mais mórbida, a própria Gotham City está repaginada e imersa nesse clima gótico, tenebroso, denso, escuro, o que nos dá uma dimensão do que esperar do novo protagonista. Exatamente nesse mesmo clima que entra o nosso protagonista, pois aqui temos uma nova versão do Batman, dessa vez mais frio, mais introspectivo, mais tenebroso, cada vez mais o Cavaleiro das Trevas, com um ar melancólico e depressivo mas sempre brutal e implacável. O próprio filme nos é apresentado em praticamente 100% do seu tempo em um estilo mais sombrio e obscuro, o que favorece diretamente o Batman, pois aquela Gotham City mais escura e com a chuva forte caindo, e o personagem aparecendo de fundo com sua nova armadura escurecida e aquele seu ar mórbido, é uma cena que podemos chamar de obra-prima das adaptações (como várias cenas que tivemos ao longo da trama e principalmente a cena inicial da primeira aparição do Homem-Morcego).
O roteiro é outro ponto que me agradou muito! Achei um roteiro bem pensado, bem idealizado, em decidir seguir por uma lado mais investigativo e não mergulhar na ação desenfreada, o que me remete diretamente em filmes como "Seven", pelo seu tom investigativo e policial, e até a própria franquia "Jogos Mortais", pelo seu tom mais macabro e sombrio praticado nos assassinatos - eu achei essa ideia genial. Outro ponto que preciso destacar, o direcionamento que a história seguiu desde o seu início, pois este não é um filme de origem mas de amadurecimento, dado aos acontecimentos passados dos pais do Bruce Wayne, e até pelo fato do próprio Bruce Wayne ainda ser jovem e está enfrentando reviravoltas e acontecimentos em sua vida, que até então soava como descobertas para ele, tanto pelo lado dos seus poucos aliados quanto pelo lado dos seus inimigos. Considero um ponto de enorme acerto do longa, pois já somos mergulhados diretamente em uma história do novo Batman em seu segundo ano de luta contra o crime em busca de vingança, e não em um novo início de tudo, nos mostrando mais uma vez todos os seus acontecimentos, como no maçante "Batman Begins" (também do Nolan).
Tenho que exaltar a direção de Matt Reeves, pois temos um trabalho afiadíssimo, muito competente. Todo o trabalho de câmeras de Reeves nos impressiona, desde os focos em ângulos mais aberto da cidade sombria, até os takes mais fechados entre os diálogos das idas e vindas do Batman e da Mulher-Gato. As cenas de lutas foram bem coreografadas e a câmera acompanhava precisamente cada detalhe, isso pode parecer bobo mas conta muito para a nossa imersão em cada cena. A fotografia de Greig Fraser (recentemente campeão do Oscar por Duna) é um trabalho absurdo, estonteante, pois aqui temos uma fotografia mais escura, com um tom mais denso, que nos maravilhou em 100% das cenas. A trilha sonora de Michael Giacchino (Planetas dos Macacos e Rogue One) é delicada e voraz, é tímida e suave, é densa e sombria, praticamente tudo se misturando em diferentes pontos da trama - uma trilha sonora muito bem acertada.
O Batman é o anti-herói mais famoso de todos os tempos e teve diversas interpretações no cinema. Ao todo foram sete versões do Cavaleiro das Trevas em filmes live-action, passando por: Adam West, Michael Keaton, Val Kilmer, George Clooney, Christian Bale, Ben Affleck e chegando no então Robert Pattinson. Pattinson ficou marcado negativamente por "Crepúsculo" ao longo de sua carreira (pelo menos aqui no Brasil), mas isso foi algo que ficou para trás e assim como a Kristen Stewart, que nos entregou o seu papel da vida recentemente em "Spencer", ele nos entrega o seu papel da vida nesse "Batman. Pattinson está magnificamente bem, uma atuação que surpreendeu à todos, muito pelas críticas que ele recebeu em sua escolha para viver o novo Homem-Morcego. Um Bruce Wayne introspectivo, complexo, depressivo, sombrio, macabro, que luta para alcançar respostas infindáveis em suas inúmeras questões familiares. Um Batman frio, tenebroso, brutal, implacável, que enfrenta tudo que pairar em sua frente, que luta por justiças almejando a vingança. Eu achei a atuação do Robert Pattinson perfeita, até mais sendo o Batman do que o Bruce Wayne, ele deu o ritmo certo, deu o tom certo, pra mim entra na lista do top 3 melhores Batmans dos cinemas, junto com Michael Keaton e Christian Bale.
Zoë Kravitz (Mad Max: Estrada da Fúria) é a nova Selina Kyle / Mulher-Gato, esta icônica personagem que já passou pelas mãos de Julie Newmar, Lee Meriwether, Eartha Kitt, Michelle Pfeiffer, Halle Berry, Anne Hathaway e Camren Bicondova. De fato Zoë não é a melhor Mulher-Gato de todas (posto este que sempre foi ocupado pela a minha preferida, Michelle Pfeiffer) mas deu o seu melhor na pele da personagem ao lado do Batman. Ela também tinha seus traumas e questões do seu passado em aberto, e também estava em busca de respostas, sempre se portando com uma figura forte e durona, ao mesmo tempo que se mostrava mais introspectiva e menos carismática, mas no fim eu achei que casou bem com o Batman, ainda não rolou aquela química mas está no caminho certo. Ainda falta um pouquinho para a Zoë Kravitz incorporar esse lado mais 'Bad Ass', mais 'Femme Fatale', que foi uma marca da personagem ao longo das produções passadas, mas com certeza ela vai ganhar bagagem nessa personagem e ainda vai nos surpreender, ela é uma ótima atriz.
Se há um membro da galeria de vilões do Batman que é claramente seu arqui-inimigo, bem, esse é o Coringa. Ainda assim, o Charada é definitivamente um dos oponentes mais valiosos do Homem-Morcego, com seu intelecto e estratégias muitas vezes provando ser um verdadeiro oponente para o maior detetive do mundo. Um personagem que já foi vivido por ninguém menos que o grande Jim Carrey, dessa vez dá espaço para o sempre genial Paul Dano (12 Anos de Escravidão), que também impõe a sua marca no personagem. Gostei bastante do Paul como Charada, ele soube ditar o ritmo certo do seu personagem metódico, sempre em uma medida correta e sem exagerar, o que poderia facilmente o transformar literalmente em uma piada. Porém ele me ganhou bastante com sua atuação, principalmente nas últimas partes do filme, onde eu acho que ele ganhou ainda mais relevância.
Colin Farrell (Demolidor - O Homem Sem Medo) é outro que nos chama bastante atenção, com seu enigmático Pinguim, papel que também já foi eternizado pelo icônico Danny DeVito. Destaque para o belíssimo trabalho de maquiagem feito no Colin Farrell, o deixando mais envelhecido e praticamente irreconhecível (tem um vídeo dessa transformação que é bizarro). Jeffrey Wright (007 - Quantum of Solace) como o inseparável James Gordon, muito bem no papel, deu uma grande contribuição para à trama sempre ao lado do Batman. John Turturro (da franquia Transformers) como o meio antagonista Carmine Falcone, que possui um fato curioso na história de vida da Selina Kyle. Outro que esteve bem, Turturro tem uma veia mágica para fazer esses tipos de personagens. Andy Serkis (eternamente esnobado pela academia, isso não é um filme é uma constatação) como o eterno mordomo Alfred, papel imortalizado pelo gênio Michael Caine na trilogia Nolan. E completando com Peter Sarsgaard (recentemente esteve em A Filha Perdida) como Gil Colson, que teve uma breve participação, mas sempre de forma imponente.
Realmente "Batman" foi um grande acerto da DC/Warner, um filme que a princípio eu não dava nada, mas me surpreendi positivamente por contar com uma ótima direção, um bom roteiro, ótimos efeitos visuais, uma boa cenografia, uma boa direção de arte, uma linda fotografia, bem montado, bem editado e bem atuado. De fato as quase 3h de duração não me incomodou em nenhum momento, ao contrário, não vi o tempo passar, pois o filme me prendeu em todos os milésimo de segundos. Agora é aguardar ansiosamente as duas sequências que estão planejadas e as duas séries de televisão spin-off que estão em desenvolvimento para o HBO Max. [29/04/2022]
"As Panteras" é escrito, produzido, dirigido e atuado por Elizabeth Banks, usando como base a história desenvolvida pelos roteiristas Evan Spiliotopoulos (A Bela e a Fera de 2017) e David Auburn (diretor de A Garota do Parque de 2007). É estrelado por Kristen Stewart, Naomi Scott e Ella Balinska como a nova geração das Charlie's Angels, que estão trabalhando para uma agência de detetives particulares chamada Townsend Agency. O longa é a terceira parte da série de filmes "As Panteras" e serve como uma continuação da história que começou com a série homônima de televisão de mesmo nome de Ivan Goff e Ben Roberts, em 1976, e os dois filmes anteriores do McG, "As Panteras" (2000) e "As Panteras Detonando" (2003).
"As Panteras" foi visto por todo mundo como uma verdadeira representatividade feminina em sua época, tanto pela série de Tv lá nos anos 70 quanto pelos dois filmes lançados nos anos 2000. De fato a série ganhou uma notoriedade e alcançou o seu devido sucesso em sua época, e consequentemente os dois filmes do McG também representaram este 'Girl Power' nos cinemas com o trio icônico e infalível de Cameron Diaz, Lucy Liu e Drew Barrymore (que também esteve presente na produção desse novo filme).
Todos nós sabemos que os dois filmes anteriores de "As Panteras" são um verdadeiro clássico do entretenimento dos cinemas dos anos 2000. Dito isto, a primeira pergunta que me vem na mente é a seguinte: qual a necessidade desse novo filme? Claramente esta nova versão de "As Panteras" é um filme completamente dispensável e totalmente desnecessário, mas como hoje em dia está na moda reviver franquias do passado pra compor uma continuação, ou um remake/reboot, cuja sua finalidade é unicamente lucrar. Mas de fato nem essa finalidade foi alcançada por esta nova versão, visto que o filme teve um fraco desempenho de bilheteria no fim de semana de abertura e foi classificado pelo USA Today e pela Variety como uma das maiores decepções de bilheteria de 2019.
O terceiro trabalho na direção de Elizabeth Banks (anteriormente ela havia dirigido Para Maiores de 2013, e A Escolha Perfeita 2 de 2015) é até esforçado, pois ela trouxe bastante ação, cenas de lutas (destaque para a cena de abertura do filme, que é boa), várias tiradas cômicas, o 'Girl Power' super aflorado, de fato são todos os elementos que constrói o universo de um filme das Charlie's Angels e principalmente de um bom blockbuster. Porém tudo é muito raso, muito vazio, mal feito mesmo, cujo roteiro é bem preguiçoso e se alonga demais, claramente sem a menor necessidade, pois suas 2h é bem desnecessária, serviu apenas para esticar cada vez mais uma história pífia e deixar um roteiro embarrigado e cansativo. O roteiro é tão meia boca que o filme poderia facilmente ter apenas 1h30min, já estaria de bom tamanho.
"As Panteras" sempre representaram o empoderamento feminino nos cinemas, mas aqui forçaram a barra demais. Acho que pelo fato da franquia sempre ter sido protagonizada por mulheres mas nunca dirigida, esse 'Girl Power' contou muito com a entrada da Elizabeth Banks na direção, deixando bem claro o quanto o longa está imergido no feminismo que tomou conta de Hollywood nos últimos anos. Não vejo nenhum problema em um filme demonstrar o empoderamento feminino (acho muito válido), mas desde que não seja confundido com misandria, e de fato não sei se aqui é o caso, mas quiseram exaltar tanto o 'Girl Power' que ridicularizaram os personagens masculinos em simples coadjuvantes totalmente babacas e marionetes. Achei bem desnecessário o que fizeram com o Charlie ao final do filme, e principalmente na forma como o roteiro utilizou o personagem John Bosley (Patrick Stewart). Mais uma exaltada no 'Girl Power' sobre o tratamento que deram ao personagem do Patrick Stewart - claramente o transformaram em um babaca para enaltecer o elenco feminino. Esse tipo de demonstração do empoderamento feminino que eu acho desnecessário, você não precisa diminuir e até ridicularizar o núcleo masculino para enaltecer o núcleo feminino.
Em questões de elencos temos as duas melhores do filme: Kristen Stewart (recentemente nos entregou a sua melhor atuação da carreira em Spencer) e Ella Balinska (que estará presente na vindoura série Resident Evil da Netflix). Kristen se encaixou muito bem na personagem Sabina, realmente me impressionou, pois não conhecia esse seu lado badass, femme fatale, que nos demonstrou muito bem logo em sua primeira cena. Balinska deu uma boa forma para a sua personagem Jane, sendo a mais durona do trio, a mais decidida, que enfrentava qualquer um sem pestanejar, algo parecido com o que foi a Drew Barrymore em seus tempos áureos. Elizabeth Banks esteve ok em sua personagem Rebekah Bosley, aquele típico não se destaca mas não chega a comprometer. Elizabeth fez tantas funções no filme que no fim nenhuma se destacou, apenas ok em todas elas e nada mais. Naomi Scott (Perdido em Marte) das três Panteras foi a mais sem graça, sua personagem Elena é completamente perdida em cena e em nenhum momento mostra a que veio, uma apresentação bem fraca. O elenco masculino composto por Sam Claflin (Jogos Vorazes), Djimon Hounsou (Diamante de Sangue), Noah Centineo (do vindouro Adão Negro) e Patrick Stewart (eterno Professor Charles Xavier) não serviram para absolutamente nada no filme, apenas para compor o elenco masculino mesmo, mas o que mais me doeu foi de fato o Patrick Stewart.
Infelizmente esta nova versão de "As Panteras" entra naquela lista dos filmes que fizeram história em sua época e que jamais deveriam ter sido trazidos de volta - e essa lista é enorme hein! De fato essa versão da Elizabeth Banks tem problemas de roteiro, de desenvolvimento, de ideia, de elenco, de atuações, de praticamente tudo. Salva-se uma coisa ou outra, como por exemplo a trilha sonora que está bem pop, bem a cara do filme - com um destaque para "Don't Call Me Angel", interpretado por Ariana Grande, Miley Cyrus e Lana Del Rey. De resto é só, "As Panteras" 2019 é um filme desnecessário, passável e totalmente esquecível! [25/04/2022]
Os Outros (Espanhol: Los Otros / Inglês: The Others)
'Os Outros' é um filme espanhol/americano de 2001, escrito, dirigido e trilhado por Alejandro Amenábar (roteirista de Vanilla Sky com Tom Cruise, Penélope Cruz e Cameron Diaz, de 2002), além de contar com o próprio Tom Cruise como produtor executivo. É estrelado por Nicole Kidman, Fionnula Flanagan, Christopher Eccleston, Elaine Cassidy, Eric Sykes, Alakina Mann e James Bentley. O longa é baseado na obra literária "The Turn of the Screw", originalmente publicado em 1898, considerado como uma novela de fantasma escrita por Henry James (uma das principais figuras do realismo na literatura do século XIX).
O longa de Amenábar conta a história de uma mulher chamada Grace (magnificamente interpretada pela talentosíssima Nicole Kidman) que se aposenta com seus dois filhos em um velho casarão na ilha de Jersey, no final da Segunda Guerra Mundial, onde ela aguarda incansavelmente que seu marido retorne da batalha. As crianças têm uma doença rara chamada fotossensibilidade, o que significa que elas não podem ser tocadas pela luz solar direta, pois ao serem expostas elas podem se machucarem de alguma forma. Eles vivem sozinhos com regras opressivas, estranhas e quase religiosas, até que Grace precise contratar um grupo de servos para lhe servir na casa. A chegada dos novos empregados acidentalmente (ou não) começará a quebrar as regras com consequências inesperadas.
É completamente impossível falar de filmes de terror e suspense e não citar 'Os Outros', principalmente se referindo ao gênero dos anos 2000. O filme virou um clássico do terror e do suspense daquela década, sendo comparado diretamente com a obra-prima do Shyamalan, "O Sexto Sentido", que havia acabado de ser lançado dois anos antes. Porém, na minha opinião cada um tem o seu charme, cada um tem o seu objetivo, cada um tem a sua finalidade, podem ser comparados, mas são distintos.
'Os Outros' é um clássico do terror psicológico, do gótico sobrenatural, do drama oculto, um thriller poderoso e intenso totalmente inserido no suspense, no mistério, envolto em um terror inimaginável, sombrio, tenebroso, macabro, com um clima denso e uma ambientação claustrofóbica. O longa tem um completo charme trashistico setentista e oitentista, que nos remete diretamente para os thrillers de terror e suspense daquela época. 'Os Outros' é um suspense totalmente fora do trivial moderno, que segue uma outra linha do gênero, fugindo totalmente dos famosos Jumpscare e do jeito James Wan de ser, nos expondo ao um terror mais psicológico, mais sombrio, mais intrigante, que age com inteligência ao nos apresentar os pontos da trama mais obscuro, mais enigmático, mais complexo, que mexe diretamente com o nosso psicológico, nos fazendo pensar e analisar cada detalhe, cada acontecimento, até juntarmos todos os fatos em um só ao final. De fato é um roteiro absurdamente inteligente de Alejandro Amenábar - nota10!
A maravilhosa, a talentosa, a magnífica Nicole Kidman (que viveu recentemente a Lucille Ball em Being the Ricardos) nos brinda mais uma vez com uma das suas melhores atuações da carreira (sem nenhum exagero). Nicole já era muito conceituada naquela época, já tinha feito enormes trabalhos e justamente no mesmo ano de 'Os Outros', ela também havia feito a Satine em "Moulin Rouge", trabalho que lhe rendeu uma indicação ao Oscar em 2002, Oscar esse que só viria a ganhar um ano depois por "As Horas". Nicole Kidman tem um desempenho brilhante numa personagem que às vezes parecia muito amorosa, quase carente, e outras vezes parecia extraordinariamente dura, rígida, severa, principalmente com os seus empregados e com os seus filhos pelo fato da exposição da doença. Porém ela é apenas uma mulher frágil, que expõe o seu lado mais humana, mais materno, que suporta um fardo pesado, que arcá com tudo às costas enquanto o marido está fora, em perigo de morrer na guerra. Uma atuação completamente impecável e memorável da Nicole Kidman, daquelas pra ser aplaudida de pé por meia hora em um completo êxtase. O que ela fez na pele da Grace é absurdo, coisa de gênio, ela conseguia mudar seu comportamento, mudar seu tom, suas expressões, seu humor, assim de uma hora pra outra e sem nenhum esforço, sem sair nem um milímetro da personagem. Nos mostrou uma atuação com uma grande dose de carga dramática, com cenas bárbaras, com uma atuação em altíssimo nível, daquelas que só a própria Nicole sabe nos entregar. Nicole Kidman sempre esteve no auge da sua carreira, mas na década de 2000 foi absurdo: ela foi indicada ao Globo de Ouro e ao BAFTA por 'Os Outros', no mesmo ano foi indicada ao Oscar por "Moulin Rouge", e no ano seguinte ganhou o Oscar por "As Horas'. E digo mais, no Oscar de 2002 ela também merecia estar indicada por 'Os Outros'.
As crianças foram interpretadas por James Bentley e Alakina Mann, dois jovens atores que se destacaram notavelmente na trama. Anne e Nicholas são crianças ingênuas, doces, travessas, mas também muito inteligentes. A garota, especialmente, ajuda muito ao suspense ao parecer saber algo que ninguém mais sabe ou ter uma inteligência mais aguçada, já o garoto é mais assustado e vê na irmã a coragem que ele queria ter. Dois ótimos trabalhos e duas ótimas atuações para o nível de duas crianças, o que lhe renderam indicações para Melhor Performance de um Ator Jovem para Alakina Mann no Saturn Awards, Goya Awards e Young Artist Awards, e duas indicações para James Bentley no Young Artist e no Goya.
Christopher Eccleston (que interpreta o Charles, o pai que está na guerra) é uma mera figura na vida de todos, um personagem propositadamente ausente mas que está sempre presente pelo fato de 'os outros' estarem sempre a falar dele. Fionnula Flanagan (a Eloise Hawking de Lost), Eric Sykes (falecido em 2012) e Elaine Cassidy (de Prazeres Mortais) dão vida aos empregados que chegam de maneira abrupta ao casarão. Os três tiveram grandes destaques ao longo da trama, pois a maneira como agiram e contracenaram com a Nicole Kidman foi brilhante, dando ao filme uma atmosfera profundamente complexa e conspiratória. Fionnula Flanagan dos três foi a que esteve melhor em sua atuação, o que lhe rendeu o Saturn Awards de Melhor Atriz Coadjuvante.
O filme ganhou sete prêmios Goya, incluindo prêmios de Melhor Filme e Melhor Diretor. Este foi o primeiro filme em inglês a receber o prêmio de Melhor Filme no Goyas (prêmio nacional de cinema da Espanha), sem uma única palavra de espanhol falada nele. O longa foi indicado a seis Saturn Awards, incluindo Melhor Diretor e Melhor Roteiro para Amenábar, e Melhor Performance de um Ator Jovem para Alakina Mann, e ganhou três: Melhor Filme de Terror, Melhor Atriz para Kidman e Melhor Atriz Coadjuvante para Fionnula Flanagan. Kidman também foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama e ao Prêmio BAFTA de Melhor Atriz em Papel Principal, com Amenábar sendo indicado ao Prêmio BAFTA de Melhor Roteiro Original. Mesmo já tendo citado os prêmios e indicações individuais de cada um acima, eu precisava repetir aqui só pra contextualizar esta ocorrência rara para um filme de terror. Dá pra perceber o tamanho da importância que 'Os Outros' teve para o gênero terror.
O Longa foi um sucesso de bilheteria, arrecadando mais de US $ 209,9 milhões em todo o mundo, sendo considerado até hoje como um dos filmes de terror mais rentáveis e relevantes da história do cinema. Ainda recebeu críticas positivas dos críticos, com muitos elogiando a direção, a trilha sonora e o roteiro de Amenábar, bem como a bela fotografia, a atmosfera e a ambientação sombria, e principalmente a performance de Nicole Kidman. Realmente o filme possui pontos como a escuridão constante, a luz a gás, a enorme casa antiga e a neblina permanente, que de fato são elementos clichês, mas que dão ao filme um toque de elegância e ajudam o público a trilhar o caminho da trama até o fim, que é bastante inesperado e desconcertante. [23/04/2022]
'Pig' é escrito e dirigido por Michael Sarnoski (em sua estreia na direção), a partir de uma história de Vanessa Block e Sarnoski. O filme é estrelado por Nicolas Cage como um caçador de trufas que vive sozinho no deserto do Oregon e deve retornar ao seu passado em Portland em busca da sua amada porca farejadora depois que ela é sequestrada.
'Pig' é totalmente fora do trivial, totalmente ambíguo, um drama muito subjetivo, sobre redescobertas e aceitações, sobre o medo e a dor, sobre o amor e a solidão, sobre perdas e recomeços, sobre traumas e realizações. Um filme melancólico, contemplativo, intrigante, niilista, carregado emocionalmente, pesado dramaticamente, que tem o dom de nos fazer pensar nas diversas camadas da vida do protagonista Rob (Cage). O longa é muito hábil, muito crível, muito verossímil na forma de abordar o roteiro, pois o roteiro é composto por algumas camadas que vamos analisando profundamente e descobrindo ao longo da trama. Temos uma rápida introdução nos elucidando sobre a vida atual de Rob e sua porca, quando de repente o roteiro muda a sua engrenagem e nos confronta diretamente com uma busca incansável pelo animal sequestrado, o fazendo enfrentar diversas partes de sua vida que ele havia deixado para trás e que ele não gostaria de revivê-la, e principalmente confrontar certas pessoas que ele também havia deixado em seu passado.
Este é o ponto de maior virtude e de maior destaque em 'Ping', a forma enigmática, subjetiva e intrigante que vamos descobrindo e pegando as coisas no ar, a forma que vamos desvendando tudo que está escondido nas entrelinhas do roteiro, tudo que está nos subtextos - é fantástico! Eu adoro filmes que nos faz pensar, que nos faz analisar cada ponto, cada detalhe, cada cena, cada diálogo, que nos deixa intrigado e nos expõe à diversos pensamentos e análises distintas. Outro ponto que me deixou perplexo e que elevou ainda mais a ótima qualidade do roteiro de Michael Sarnoski e Vanessa Block: partindo do princípio de um sequestro, que necessariamente teríamos a sede por vingança (como induz erroneamente o subtítulo do filme no Brasil), aqui temos uma outra releitura dos fatos, uma abordagem que se desenvolve como um drama psicológico minimalista, que nos direciona diretamente para esse outro lado do Rob em suas redescobertas, enfrentando seus traumas, suas nuances, explorando as marcas do seu passado e o quanto elas ainda o impactava em seu cotidiano presente.
'Pig' é um enorme trabalho na carreira do Nicolas Cage, pois ao longo dos anos muitas pessoas o viam como uma espécie de piada, por se tratar dos inúmeros filmes ruins que ele fez ao longo dos anos, principalmente após ter ganhado o Oscar por "Despedida em Las Vegas", em 1996. Realmente a carreira cinematográfica do Nicolas Cage vive de altos e baixos, muito se deu pelos vários problemas pessoais que ele enfrentou ao longo de sua vida. Tanto é que ultimamente ele simplesmente decidiu fugir dos holofotes e das badalações das grandes produções hollywoodiana e mirar em projetos menos milionários, mais certeiros eu diria, exatamente como 'Pig'. Em 'Pig' Nicolas Cage tem uma entrega absurda, uma belíssima atuação como eu não via ele entregar há muitos anos. Muitos estão considerando como a sua melhor atuação da carreira, o que de fato não acho nenhum absurdo, mas eu particularmente não gosto de fazer esta afirmação, uma vez que eu não conferi todos os seus trabalhos. Mas de fato é um grandioso trabalho de interpretação do Cage, muito seguro, muito coeso, com uma carga dramática bem ajustada e um ar totalmente introspectivo na medida certa. Cage sempre foi um grande ator, já esteve no hall dos maiores atores da sua geração, sempre teve muita entrega e um grande potencial, às suas escolhas que não foram as mais acertadas ao longo de sua carreira, mas quando assistimos trabalhos como 'Pig' isso só evidencia o grande ator que ele sempre foi. Cage esteve indicado no Critics' Choice Movie Award na categoria de Melhor Ator (concordo plenamente).
Completando o elenco de 'Pig' ainda tivemos a ótima apresentação de Alex Wolff como Amir. Um filhinho de papai totalmente ao inverso de Rob, por ostentar roupas de grifes e um carrão, quando na verdade Rob era um sujeito que não dava a mínima para a sua aparência, já Amir fazia questão de sempre se exibir muito bem vestido. Um contraponto perfeito do roteiro ao colocar frente a frente o Rob e o Amir, ainda mais quando o Rob necessitava da ajuda de Amir pela busca da sua porca, ou seja, mais uma forma de nos explicitar as diferentes formas de abordagem do roteiro em relação as diferentes classes sociais, ou a colocação de cada um na sociedade atual, muito pelas escolhas individuais de cada um, como no caso do próprio Rob e seu trauma do passado. Alex Wolff já havia brilhado em "Hereditário" e aqui ele dá mais um show, mais uma grande apresentação, nos mostrando aquela desconstrução e aquela descaracterização do seu personagem ao final (aquela cena do jantar com o pai é incrível). Adam Arkin (Grey's Anatomy) está muito bem no filme, seu personagem Darius é bem asqueroso e de certa forma até doentio. Toda aquela cena do jantar junto com Amir e Rob, e principalmente as revelações subsequentes são um dos pontos alto do filme - realmente um show dos três em cena. Estes três pra mim foram os de maiores destaques dentro do elenco, o restante contribuíram bem em cada personagem e engrandeceram ainda mais à obra.
A fotografia do longa é muito boa, salta ao nossos olhos, principalmente nas partes densa da névoa sombria da floresta aonde vivia Rob e sua porca. A trilha sonora agrega muito bem na trama, aquela típica trilha sonora que não é uma obra-prima mas está bem inserida nos momentos mais oportunos, cujo os momentos sempre nos evidenciava com um acontecimento e aquela trilha sonora mais pacata de fundo. A direção de Michael Sarnoski é muito boa, ainda mais para um estreante. Sarnoski soube pegar os ângulos mais certeiros das cenas, onde nos elucidava cada acontecimento com detalhes mínimos, principalmente aqueles takes onde a câmera passeava de dentro para fora de um cômodo - ótimo mesmo o seu trabalho na direção do longa, tem muito futuro pela frente.
'Pig' foi indicado no Gotham Independent Film Award e Directors Guild of America Award na categoria de Melhor Filme, além da indicação do Nicolas Cage de Melhor Ator no Critics' Choice, e ganhou o Independent Spirit Award de Melhor Primeiro Roteiro.[21/04/2022]
"Coração Valente" foi lançado em Julho de 1995, dirigido e co-produzido por Mel Gibson, que interpreta Sir William Wallace, um guerreiro escocês do final do século XIII. O filme retrata a vida de Wallace liderando os escoceses na 'Primeira Guerra da Independência Escocesa' contra o Rei Edward I (Patrick McGoohan) da Inglaterra, logo após os soldados ingleses terem assassinado a sua esposa Murron MacClannough (Catherine McCormack) em plena noite de núpcias. A história é inspirada no poema épico do século 15 de Blind Harry, 'The Actes and Deidis of the Illustre and Vallyeant Campioun Schir William Wallace', e foi adaptado para a tela por Randall Wallace.
Os anos 90 foi uma década de ouro dos cinemas, pois era uma época em que as grandes obras cinematográficas nos retratava grandes histórias, grandes contos, grandes passagens, era uma época totalmente diferente de se fazer cinema. Sem dúvidas "Coração Valente" está incluso nessa lista de ouro dos cinemas do anos 90, pois o longa de Mel Gibson é um épico, uma lenda, uma obra de arte cinematográfica, uma pérola da sétima arte, uma verdadeira obra-prima da história dos cinemas. "Coração Valente" foi um 'marco' na história dos cinemas, um verdadeiro arrasa-quarteirões, alvo de inúmeras críticas (tanto positivas quanto negativas), alvo de grandes discursões, pois em todos os cantos só se falavam do longa de Mel Gibson, uns amavam e defendiam o filme, outros já criticavam pelo fato dos seus numerosos desvios históricos (de acordo com a opinião de cada um, e de acordo com o consenso dos historiadores, é claro).
Eu considero "Coração Valente" não só como um dos melhores filmes dos anos 90, mas uma das mais belas películas cinematográficas de todos os tempos. Mel Gibson fez história com o seu épico, foi um verdadeiro divisor de águas, sendo muito bem lembrado por todos até hoje (quase 27 anos depois), cuja história serviu de inspiração para vários filmes que viria nos anos seguintes, como por exemplo a obra-prima de Ridley Scott, "Gladiador", pra citar uma. Uma verdadeira obra-prima nunca é esquecida e sempre é lembrada, é comentada, é homenageada, é inspirada, e "Coração Valente" é exatamente tudo isso, pois pra mim o filme não ficou datado, não ficou ultrapassado, envelheceu muito bem. Os anos 90 era uma época que ainda não estávamos em um período tão evidente com a internet como hoje, e o longa explodiu da forma que foi, fez todo o alvoroço, foi badaladíssimo, principalmente no Oscar, imagine se tivesse a força que a internet tem hoje em dia, tanto pelo lado positivo quanto negativo. E hoje em dia é praticamente impossível não se esbarrar nos inúmeros memes que o filme carrega, isso só evidencia o quanto o poderoso épico de Mel Gibson é lembrado, seja da forma que for.
O roteiro de Randall Wallace (diretor e roteirista de Fomos Heróis - 2002) é magnífico, uma história soberba, primorosa, avassaladora, que transcorria entre o drama, o romance, a intriga e o heroísmo desesperado pela liberdade da Escócia. Pois o longa nos retrata exatamente a figura histórica de William Wallace como um guerreiro, um patriota escocês, um herói medieval, por outro lado temos uma faceta em até certo ponto mais romântica, mais idealista, mais pertinente, mais humanizada, porém sempre sanguinária. A narrativa do filme é esplendorosa, pois temos pontos que nos remete a um conjunto de acontecimentos que fundamentam a história que nos está sendo contada, pois em nenhum momento eu considero o filme maniqueísta historicamente. O mesmo digo das batalhas, pois pra mim "Coração Valente" nos traz verdadeiras batalhas épicas, do mais alto escalão da história dos cinemas, que nos relata os inúmeros confrontos de uma forma amarga, cruel e muito sanguinolenta, que nos incomodava em todos os sentidos, nos deixando completamente perplexo (principalmente no último ato do filme). Como não destacar aquela cena icônica do discurso de William sobre a liberdade que ele fez no campo de batalha encorajando e aflorando todo o seu exército contra os ingleses (que estavam em maior número). Cena épica, sensacional, maravilhosa, que ficou imortalizada. A própria cena da grande batalha é muito sangrenta, sem nenhum pudor, uma brutalidade absurda, uma marca registrada dos filmes desse gênero nos anos 90. Apenas mais uma das várias cenas épicas e icônicas desse clássico.
Outro ponto que eleva ainda mais a qualidade dessa obra-prima: a trilha sonora do gênio, do mestre, do icônico James Horner. Horner sempre foi um verdadeiro gênio na história das trilhas sonoras, que já nos brindou com verdadeiras pérolas da sétima arte como "Aliens, O Resgate", "Uma Mente Brilhante", "O Menino do Pijama Listrado" e "Titanic" (apenas pra contextualizar algumas das suas inúmeras obras-primas), e em "Coração Valente" temos mais uma obra de arte. Uma trilha sonora profunda, pesada, avassaladora, que seguia cada passo da história de uma forma brilhante, sempre nos evidenciando com diferentes ritmos, diferentes melodias, diferentes sons, com composições que iam de violinos, violões, pianos, até a clássica gaita escocesa - um verdadeiro marco, um verdadeiro show! Destaque para a cena que William Wallace grita proclamando a sua vitória com aquela trilha sonora de fundo ensurdecedora, é realmente magnífico. Poxa, gênios como James Horner jamais deveriam falecer - muito triste!
A fotografia do longa é outro grande destaque, belíssima, lindíssima, com enquadramentos perfeitos, principalmente nas cenas das batalhas. A direção de arte e a cenografia também estão incríveis, com cenários magníficos (como os gigantescos campos de batalhas), muito fiéis à época, ricos nos detalhes. Os figurinos e as maquiagens são um verdadeiro luxo, pois tudo estava rigorosamente bem arquitetado dentro dos padrões da época, tanto pelo lado dos plebeus, quanto pelo lado dos reis e seus súditos. A montagem é excelente, a edição é perfeita, assim como os efeitos sonoros, que se destacavam com bastante clareza, incrível, ainda mais se tratando de um filme feito nos anos 90, onde não tínhamos a tecnologia que temos hoje.
Eu não tenho nenhuma dúvida que "Coração Valente" é o melhor trabalho da carreira de Mel Gibson (juntamente com A Paixão de Cristo), tanto em direção, quanto em atuação e principalmente em personagem, onde temos o icônico William Wallace. Em direção Gibson nos entregou um trabalho competente, magnífico, primoroso, feito com muita atenção e com muita dedicação, principalmente nas batalhas, onde tínhamos um trabalho de câmeras impecáveis, sempre frisando cada movimento dos embates, sempre nos elucidando o quanto os confrontos eram brutais e sanguinolentos, sendo muito bem coroado com o Oscar de direção. Em atuação Gibson estava em seu momento, estava no seu ápice, estava em seus tempos áureos, e o William Wallace lhe caiu como uma luva, pois não existiria ninguém melhor do que ele para dar vida a um personagem tão épico, tão histórico e tão icônico, que ficou eternizado em sua filmografia e principalmente na história dos cinemas.
Completando o elenco com a Catherine McCormack (Jogo de Espiões), a Murron MacClannough, grande amor de William inicialmente e a grande responsável em lhe suavizar e lhe humanizar, mas em contrapartida também foi a principal válvula para acender a faísca do conflito. Atuação impecável de Catherine, um doce de atriz. Patrick McGoohan (falecido em 2009), o Rei Inglês Edward, um ser perverso, inescrupuloso, doentio, com uma forma de governar totalmente contraditória. Atuação de gênio já resume todo o trabalho entregue por Patrick McGoohan. Sophie Marceau (007 - O Mundo Não é o Bastante), a Princesa Isabelle da França, que até tentou um certo envolvimento com William, mas não deu tempo, porém acredito que esse envolvimento era mais trazido para o campo do interesse. A cena final dela lamentando todo os acontecimentos que estavam por vir e que ela não poderia impedir é sensacional, uma belíssima atuação e entrega de Sophie Marceau. Brendan Gleeson (Harnish Campbell), Peter Hanly (Edward Príncipe de Gales), Brian Cox (Argyle Wallace), todos entregaram trabalhos primorosos. Ainda tivemos a participação do irmão mais novo de Mel Gibson, Donal Gibson.
"Coração Valente" foi o grande vencedor do Oscar de 1996, o longa foi indicado em 10 categorias e ganhou 5: Efeitos Sonoros, Maquiagem, Fotografia, Direção e, claro, Melhor Filme. Também ganhou três prêmios BAFTA (Fotografia, Figurino e Som) e um Globo de Ouro (Diretor).
Aquela cena final do William Wallace gritando 'FREEDOOOOOOOM' imortalizou na história dos cinemas, e ainda ecoa pelos quatro cantos do planeta e da minha mente. Isso é o que eu chamo de cena clássica e épica dos cinemas!
Verdadeiro clássico dos anos 90. Campeão do Oscar de Melhor Filme de 1996. Pérola cinematográfica. Obra de arte histórica. Épico. Icônico. Lendário. Obra-prima incontestável. [15/04/2022]
'A Pior Pessoa do Mundo' é um filme norueguês escrito e dirigido por Joachim Trier (juntamente com seu parceiro Eskil Vogt). É o terceiro longa da chamada trilogia de Oslo, ao lado de 'Reprise' (2006) e 'Oslo, 31 de Agosto' (2011). O longa se passa em Oslo, capital da Noruega, e nos conta a história de Julie (Renate Reinsve). Uma jovem muito bonita, inteligente, sensual, porém muito indecisa em tudo na vida, desde a profissão que deseja seguir, até os seus envolvimentos amorosos.
'A Pior Pessoa do Mundo' funciona como uma comédia romântica inserida em um drama. Julie é uma mulher que está beirando os 30 anos e vive em uma constante crise existencial que se mistura entre sua juventude, que está se acabando, até suas próprias aceitações, decisões, desejos e prazeres de uma idade mais adulta. Julie ainda não tem filhos, não se decidiu em qual carreira profissional deseja seguir, não se decide com qual namorado quer ficar, ela vive em um misto constante de dúvidas, incertezas, inseguranças, tentando se encontrar e se aceitar da forma que ela é, ou da forma que ela deseja ser.
Este é o maior trunfo da obra de Joachim Trier, o poder que o filme tem em conversar diretamente com o espectador, em explorar o nosso lado humano, que sempre foi regado com inseguranças, incertezas, traumas, medos, frustrações, misturado com desejos, ambições, transições. A força que o longa tem em mergulhar diretamente em nossa mente e aflorar o nosso lado existencial (a nossa crise existencial), pois todos nós sempre passamos por conflitos internos caracterizados pela impressão de que a vida carece de algum sentido, de algum propósito, aquela confusão sobre a identidade pessoal em sua definição, temos várias nuances em diferentes vertentes. É exatamente dessa forma que eu vejo toda a história da Julie.
O roteiro de Joachim Trier e Eskil Vogt é maravilhoso, de alto nível, feito com uma inteligência absurda, pois temos um tema que pode parecer complexo, intrigante e dramático, ao mesmo temo que se desenvolve como uma comédia romântica, engraçada, leve e prazerosa. Este é o verdadeiro ponto alto do roteiro, a forma suave como ele se desenvolve, ao mesmo tempo que temos viradas inesperadas que nos causa impacto, que nos prende diretamente na trama da Julie. Achei muito interessante a decisão em dividir toda a história em um prólogo, um epílogo e 12 capítulos, o que poderia facilmente soar como uma decisão controversa se não fosse feito de uma forma assertiva, e de fato foi. Realmente o roteiro do longa é muito eficiente, muito coerente, muito formidável, Joachim Trier e Eskil Vogt foram muito competentes ao nos entregar um roteiro inteligente, feito de uma forma verossímil que conversa diretamente com todos nós. Indicação mais do que justa no Oscar, e digo mais, eu realmente fico na dúvida se 'Belfast' deveria ter levado a estatueta, pois o que temos aqui em relação à roteiro deveria ser premiado de alguma forma.
A direção de Joachim Trier é outro ponto que tem que ser destacado, pois o seu trabalho de câmeras é absurdo, feito de uma forma inteligente e competente totalmente imersa na trama. Todos os seus takes eram certeiros e acompanhavam perfeitamente todos os acontecimentos, como por exemplo às várias cenas em que ele apostava na nudez bem explícita e nas cenas de sexo bem explícitas, onde sua câmera acompanhava fielmente cada passo, cada movimento, cada detalhe, sempre com muita atenção - show! Se Joachim Trier aparecesse indicado a Melhor Diretor no Oscar não seria nenhum absurdo. A trilha sonora também foi outro acerto no longa. Uma trilha sonora leve e divertida nos momentos mais comédia, com várias músicas conhecidas mundialmente, porém bem densa e comovente nos momentos mais dramáticos - um contraponto perfeito. A fotografia é muito boa e bem destacada (um exemplo é a cena em que Julie corre pelas ruas, ali a fotografia se destaca ainda mais). A direção de arte é muito bem feita, assim como a cenografia, ambientação, edição, montagem, tudo muito bem caprichado.
Joachim Trier tinha todo o seu elenco nas mãos e soube explorá-los com perfeição. Renate Reinsve é o principal nome do longa e a de maior destaque, sem dúvidas. Me impressionei com a entrega de Renate, uma atuação muito rica, muito prazerosa, muito bem acertada, onde ela não parecia estar atuando mas sim vivendo em seu dia a dia normalmente. Uma atuação muito leve, muito suave, muito segura, sem precisar se esforçar pra entregar nada, agindo naturalmente, espontaneamente, verdadeiramente, porém quando a trama lhe exigia uma carga mais dramática ela também sabia entregar com perfeição. Renate Reinsve além de linda é carismática, é extrovertida, é espontânea, é competente, uma atriz completa, virei fã. Renate Reinsve conquistou o Prêmio Festival de Cinema de Cannes de Melhor Atriz, e uma indicação ao Satellite e ao BAFTA de Melhor Atriz. E eu vou ser bem sincero, assim como eu defendi a indicação da Lady Gaga no Oscar desse ano, eu também defendo uma indicação para a Renate Reinsve, pois o que ela nos entregou em 'A Pior Pessoa do Mundo' poderia facilmente lhe incluir na categoria de Melhor Atriz, pelo menos para coroar este trabalho magnífico.
Anders Danielsen Lie (Aksel, o primeiro amor de Julie 15 anos mais velho que ela) foi outro ator que me impressionou, mais precisamente nas cenas finais, quando ele percebe realmente que se distanciou da Julie (ou realmente a perdeu de vez), dando um verdadeiro show de atuação naquela cena em que ele abre seu coração para ela, aflorando e expondo toda sua carga dramática - outra bela atuação! Herbert Nordrum (Eivind, segundo interesse de Julie) é outro ator que nos chamou a atenção no longa, pois a forma que seu personagem conhece e se envolve com a Julie é um tanto quanto curiosa e totalmente inusitada. Herbert Nordrum dos três foi o que esteve mais abaixo em questão de atuação, mas ainda assim ele foi muito bem em compor o seu personagem e nos entregar o que realmente o filme lhe pedia.
'A Pior Pessoa do Mundo' estreou no Festival de Cannes 2021 em 8 de julho. O longa foi muito bem aceito, criticado e elogiado ao longo dos festivais de premiações, adquirindo indicações no BAFTA (Atriz e Filme Estrangeiro), no Critics Choice Awards (Filme Estrangeiro), no Satellite Awards (Atriz e Filme Estrangeiro) e no Oscar, onde o longa apareceu indicado nas categorias de Roteiro Original e Filme Estrangeiro. E mais uma vez sendo bem sincero: eu daria o prêmio de Filme estrangeiro para o longa se não tivesse na disputa aquela obra de arte japonesa, 'Drive My Car'.
'A Pior Pessoa do Mundo' é um belíssimo filme, muito bem dirigido, muito bem construído, muito bem idealizado, muito bem atuado. Um filme bastante reflexivo, que vai nos fazer pensar em diferentes camadas de nossas vidas, que vai nos expor à realidades cruas e secas sobre os nossos propósitos e sentidos na vida, que vai nos aflorar sobre nosso existencialismo - realmente um filme para fazermos uma autoavaliação - fantástico! Isso só prova cada vez mais que também temos ótimos filmes e belíssimas obras cinematográficas fora do mundo hollywoodiano, 'A Pior Pessoa do Mundo' está aí para se provar como um ótimo filme do cinema norueguês. [09/04/2022]
Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw (Fast and Furious Presents: Hobbs and Shaw)
'Hobbs & Shaw' é dirigido por David Leitch (diretor de Deadpool 2) e escrito por Chris Morgan (roteirista dos outros Velozes) e Drew Pearce (roteirista de Homem de Ferro 3), a partir de uma história de Morgan. É um spin-off da franquia 'Velozes e Furiosos' ambientado após os eventos de 'Velozes e Furiosos' (2017) e antes dos eventos de F9 (2021). O filme traz Dwayne Johnson e Jason Statham reprisando seus papéis da série principal como Luke Hobbs e Deckard Shaw, respectivamente, e também estrelado por Idris Elba, Vanessa Kirby, Eiza González, Cliff Curtis e Helen Mirren. A trama segue o improvável par dos personagens titulares enquanto eles se unem à irmã de Shaw (Kirby) para combater um terrorista ciberneticamente aprimorado (Elba) que ameaça o mundo com um vírus mortal. A estrela da série e produtor Vin Diesel disse pela primeira vez em 2015 que possíveis spin-offs estavam em desenvolvimento inicial, e Hobbs & Shaw foi anunciado oficialmente em outubro de 2017, sendo lançado em agosto de 2019.
Quando ouvi os rumores sobre um possível spin-off da franquia 'Velozes e Furiosos' eu fiquei bastante curioso, pois sou um fã de longa data da saga e via nos personagens de Dwayne Johnson e Jason Statham um certo potencial para tal evento, mas confesso que não dei a mínima, principalmente pelo rumo que a série tinha tomado em seus últimos anos. Tanto é que só estou conferindo o filme hoje, com quase três anos do seu lançamento.
'Velozes e Furiosos' sempre foi uma franquia marcada pelos roteiros galhofas e seus acontecimentos totalmente mentirosos e impossíveis (por exemplo o último filme lançado no ano passado). Uma franquia totalmente descompromissada com a realidade e despretensiosa com ideias e roteiros bem elaborados, feito unicamente com a intenção de entreter, divertir e nos prender naquele blockbuster bem pipoca. E nesse quesito 'Hobbs & Shaw' acerta em cheio, pois o longa é totalmente coerente no que se propõe, que é exatamente ser um filme de ação totalmente descompromissado com a realidade. 'Hobbs & Shaw' é pastelão mesmo e não tem vergonha disso, pois o filme entrega o que promete, que é nos divertir e nos entreter com sequências de ação que são de tirar o fôlego.
Quando você decidi assistir 'Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw' você já vai esperando tudo que irá acontecer, mesmo que você nunca tenha assistido nenhum filme da franquia original, mas só pelos trailers você já identifica a proposta do filme. Então não adianta criticar que o filme é mentiroso, foge da realidade, é absurdo, é clichê, é caça-níquel, e eu concordo que é, mas 'Hobbs & Shaw' é exatamente tudo isso misturado, esse é o direcionamento do filme, essa é a verdadeira proposta do filme. E eu não tenho nenhum receio em afirmar que 'Hobbs & Shaw' é um dos melhores filmes de ação daquele ano, e é muito melhor que 'Velozes e Furiosos 9'.
Dwayne Johnson e Jason Statham são um verdadeiro espetáculo em cena, pois já conhecendo os seus personagens da franquia original, já podemos esperar tudo do mais impossível e mentiroso que eles podem nos entregar, e é exatamente tudo isso que eles nos entrega - desde às sequências mais absurdas de uma queda livre de um prédio até segurar um helicóptero por uma corrente unicamente com a força - praticamente o Hulk...rsrs! Porém os dois são mitos, showman, cada um à sua maneira, como a inteligência do Shaw e a força bruta de Hobbs, e vê aquele embate entre os dois pra decidir quem é o mais foda é impagável. Realmente Dwayne Johnson e Jason Statham são os protagonistas perfeitos para a história, entregam exatamente o que o filme precisa, nasceram pra estrelarem filmes de ação, são ótimos nesse quesito, e pra quem curte um bom filme de ação, não tem como não achar foda os seus personagens.
A adição da belíssima Vanessa Kirby (de Missão Impossível - Efeito Fallout e Pieces of a Woman) foi um grande acerto, pois sua personagem Hattie Shaw (irmã de Deckard Shaw) funciona perfeitamente dentro da trama, fazendo uma ligação muito interessante com a história e adquirindo uma química certeira com o Hobbs e o Shaw (poderiam levá-la para a franquia principal sem nenhum receio). Vanessa Kirby é uma ótima atriz e é muito boa e muito funcional em filmes de ação, como no próprio ' Missão Impossível - Efeito Fallout'. Trio perfeito para o longa - Dwayne Johnson, Jason Statham e Vanessa Kirby. Idris Elba poderia mudar esse trio para um quarteto facilmente, pois seu vilão ciberneticamente aprimorado é muito bom e muito mentiroso (kkkkk). Pra mim também acertaram na escolha do vilão e na escolha do Idris Elba. Aquela cena final do embate entre Hobbs e Shaw contra Brixton é incrível, são sequências de ação do mais alto nível.
Gostei da parte que envolveu a família do Hobbs, achei interessante entrar nesse ponto e de alguma forma tentar explorar esse seu arco pessoal, apesar que poderiam ter explorado um pouco mais (quem sabe no próximo filme). Por falar em família, a família Shaw esteve quase que toda reunida, faltando apenas o Owen Shaw (Luke Evans). E como não poderia ser diferente, a mamãe Shaw (Helen Mirren) foi uma graça, deu mais um show em suas breves aparições. Impossível não se deliciar com a presença de Helen Mirren em um filme da franquia 'Velozes e Furiosos', ele é sempre maravilhosa, uma verdadeira dama, com aquele seu ar sempre soberano e intocável. Vanessa Kirby caiu como uma luva para esta família, como podemos constatar naquela cena final dos três na prisão.
Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw é sim um bom filme de ação, fugindo mais uma vez dos rachas de carros que elevou o nome da franquia lá no início dos anos 2000, mas isso também não é nenhuma surpresa, visto que nos últimos filmes da franquia original esta parte também foi meio que deixado de lado. O longa funciona perfeitamente em sua ideia original, e é isso que importa, nos entrega o que realmente queríamos em um filme dessa temática e ainda mais tirado da franquia 'Velozes e Furiosos'. 'Hobbs & Shaw' me divertiu, me entreteve, garantiu minhas 2h com muita diversão e funcionou como uma válvula de escape depois de um dia cansativo e estressante de trabalho, pois no final das contas eu acho que essa é a verdadeira proposta desse filme, nos aliviar, nos suavizar e nos divertir.
E vamos aguardar a sequência já confirmada em Abril de 2020 pelo próprio Dwayne Johnson, que afirmou que o próximo filme está em desenvolvimento e o roteiro será do Chris Morgan. [08/04/2022]
'O Leitor' é um drama romântico de 2008 dirigido por Stephen Daldry (Billy Elliot e As Horas) e escrito por David Hare, baseado no romance alemão (Der Vorleser) de 1995 de Bernhard Schlink. É estrelado por Kate Winslet, Ralph Fiennes e David Kross. Foi o último filme dos produtores Anthony Minghella e Sydney Pollack, que morreram antes de seu lançamento.
O filme conta a história de Michael Berg (David Kross / Ralph Fiennes), um advogado alemão que, aos 15 anos de idade, em 1958, mantém um relacionamento sexual com uma mulher mais velha, Hanna Schmitz (Kate Winslet). Ela desaparece apenas para ressurgir anos depois como um dos réus em um julgamento de crimes de guerra decorrentes de suas ações como guarda em um campo de concentração nazista. Michael percebe que Hanna está guardando um segredo pessoal que ela acredita ser pior do que seu passado nazista – um segredo que, se revelado, poderia ajudá-la no julgamento.
O longa é uma verdadeira pérola da sétima arte, pois temos um roteiro absurdamente complexo, criativo, niilista, cujo resultado é nos entregue de forma densa, pesada, pragmática, nos soando como uma obra peculiar, verdadeira, introspectiva, intragável e ao mesmo tempo emocionante. O filme nos faz pensarmos em diferentes temas, seja pelo relacionamento do casal, ou pelos crimes desumanos durante a segunda guerra, ou o problema visto socialmente pelo analfabetismo, mas ao tratar especificamente sobre o Holocausto, podemos refletir um pouco sobre o que seria ético, legal e/ou moral. Exatamente um dos pontos cruciais do roteiro de David Hare que o torna tão peculiar e coeso, o contraponto entre um romance regado à sexo, ou até mesmo o nascimento de uma linda história de amor entre duas pessoas com uma certa diferença de idade, com o confronto de um tema tão pesado e importante para a humanidade, o nazismo juntamente com o Holocausto nos campos de concentração de auschwitz (mesmo sem um aprofundamento em tal tema).
O primeiro ato do filme é de uma beleza e uma delicadeza genuína e muito peculiar, pois temos a descoberta do primeiro amor por parte de Michael (David Kross) e o desejo sexual pelo garoto por parte de Hanna. Stephen Daldry acerta muito bem ao nos relatar inúmeras cenas de nudez por parte da Kate e do David, mas de uma forma singular, artística, sem soar ofensiva ou apelativa, o mesmo vale para às várias cenas sexuais entre eles. Eu pude assistir estas cenas com um olhar mais ambíguo, mais romântico, sem me sentir ofendido ou desrespeitado, ou achar que a obra poderia levantar discussões com temas voltados para a pedofilia ou algo do tipo. Exatamente outro ponto muito bem acertado na obra de Stephen Daldry, a sua forma única, poética e artística em nos trazer a sua adaptação unicamente com a intenção voltada para a arte cinematográfica, sem levantar bandeiras entre o certo ou o errado, sem entrar em discursos sobre ética e moralismo, tanto pelo lado do romance e da nudez do casal em questão, quanto pelo posicionamento político e nazista levantado em cima da protagonista Hanna. Pois alguns historiadores criticaram o filme por fazer de Hanna Schmitz um objeto de simpatia do público e acusaram os cineastas de revisionismo do Holocausto - o que discordo veementemente!
Kate Winslet (nossa eterna Rose DeWitt Bukater) é a verdadeira dona do filme! Kate está no papel da sua vida, interpretando uma das melhores personagens de toda a sua carreira. Hanna levava a sua vida trabalhando normalmente até conhecer Michael, pois a partir daí a sua vida dá uma verdadeira virada, com o seu envolvimento sexual com o garoto e a sua paixão em ouvir às leituras que ele fazia para ela sempre antes do sexo. O nível de atuação e entrega de Kate na pele da Hanna chega a nos assustar, pois ela conseguia ir do cômico ao drama instantaneamente, nos mostrando suas múltiplas facetas, sua personalidade dramática, suas expressões de prazeres e de sofrimentos, ambas praticamente interligadas. Temos inúmeras cenas onde Kate entrega atuações em altíssimo nível: às próprias cenas eróticas, a cena da sua condenação, seu reencontro com Michael, entre várias outras. Kate ganhou tudo que foi indicada naquele ano, fez a limpa em todas premiações, muito justo por sinal. Como por exemplo o próprio Oscar de Melhor Atriz, onde Kate concorria contra aquela atuação estupenda de Angelina Jolie por 'A Troca', mas realmente aquele ano era o ano da Kate Winslet - completamente perfeita!
David Kross (da obra-prima Cavalo de Guerra) fez um ótimo contraponto com a Kate Winslet, alcançou uma ótima química, ao ponto de nos fazer simpatizarmos pelo casal durante toda a trama. Michael é um garoto que estava se descobrindo e descobrindo todos os prazeres que a vida podia lhe oferecer, principalmente os prazeres sexuais e amorosos. Porém com o passar do tempo vieram grandes responsabilidades, ao ponto de lhe exigir medidas e decisões que o influenciaria pelo resto de sua vida. Uma baita atuação de David Kross, muito segura nos momentos sexuais e de nudez, bem dosada nos momentos mais românticos e mais dramáticos, conseguindo uma ótima atuação contracenando ao lado da Kate Winslet, o que não seria nada fácil, principalmente em cenas eróticas com uma atriz do calibre da Kate e quando se tem apenas 18 anos - David Kross mandou muito bem!
Ralph Fiennes (o inescrupuloso Amon Goeth de A Lista de Schindler) completa com sua atuação fina, prazerosa, rica, charmosa, um verdadeiro gentleman na arte de atuar. Fiennes deu vida ao Michael mais velho, um personagem visivelmente sofrível, resguardado, depressivo, com um ar introspectivo, complexo, misterioso, que guardava todos os seus segredos pra si. O último ato do filme é inteiramente do Ralph Fiennes, onde ele brilha e se destaca ao lado da Kate Winslet, juntos nos levaram às lágrimas, literalmente, principalmente na última cena com a Hanna e na última com sua filha, quando ele decide lhe contar toda a sua história de adolescência - um final simplesmente avassalador, daqueles que a gente jamais esquecerá.
Tecnicamente o longa de Stephen Daldry é uma das melhores obras-primas do cinema naquele ano! Ouso a falar que em 'O Leitor' temos uma das melhores trilhas sonoras de Alberto Iglesias, que foi injustamente esnobada no Oscar daquele ano (é academia). Uma trilha sonora forte, pesada, incômoda, tensa, regada as mais belas e suaves melodias tiradas de pianos e violinos, o que definitivamente nos emocionava verdadeiramente, principalmente no último ato do filme - nota 10 para a obra-prima de Alberto Iglesias. A fotografia do mestre Roger Deakins e Chris Menges é completamente sublime a avassaladora. É incrível como a fotografia se sobressaia e acompanhava em todas as cenas, saltando aos nossos olhos (bela indicação ao Oscar). A direção de arte, cenografia, figurinos e maquiagens estão todos perfeitos e foram feitos com o maior cuidado e atenção possível, com um destaque maior para o trabalho de maquiagem e cabelo feito na Kate Winslet no último ato do filme, que a deixou praticamente irreconhecível e bem envelhecida. A direção de Stephen Daldry é muito bem ajustada e muito rica nos detalhes, com um trabalho de câmeras magistral, que só nos imergia em sua trama cada vez mais - indicação mais do que justa ao Oscar.
Na temporada de premiações de 2009 'O Leitor' foi bem reconhecido e bem indicado (mas poderia ter sido ainda melhor). O longa ganhou inúmeras indicações ao longo dos festivais, incluindo SAG's, Critics, BAFTA e Globo de Ouro. Além, é claro, do Oscar, onde esteve indicado em Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Diretor, Melhor Atriz e Melhor Filme, perdendo para 'Quem Quer Ser Um Milionário?', e levando apenas a estatueta da Kate Winslet.
Me recordo de ter assistido 'O Leitor' uma vez lá em 2009, logo após o Oscar, porém na época eu não tinha o olhar crítico e a visão que eu tenho hoje. Me lembro de ter gostado demais do filme e ter me emocionado com o último ato, e hoje não foi diferente, me emocionei exatamente na mesma parte. Hoje com um olhar mais crítico posso afirmar que 'O Leitor' é um belíssimo filme, uma pérola cinematográfica, uma obra de arte esplendorosa, pois o longa tem o dom de nos fazer sorrir, suspirar, paralisar, se emocionar e se encantar verdadeiramente. Um filme único, forte, pesado, incômodo, mas também leve, primoroso, emocionante e singular, que vai dos prazeres e das descobertas amorosas e sexuais até os temas mais fortes, importantes e significativos na história da humanidade - perfeito! Difícil encontrar uma obra hoje em dia que nos faça aflorar um misto de sentimentos diferentes em apenas 2h. 5 estrela para esta obra-prima artística, poética e contemporânea do cinema moderno de Stephen Daldry! [01/04/2022]
'Drive My Car' é um belíssimo drama do cinema japonês co-escrito e dirigido por Ryusuke Hamaguchi. É baseado e inspirado no conto de mesmo nome do renomado autor japonês Haruki Murakami, em seu livro de coletânea de contos de 2014, Homens sem Mulheres, enquanto se inspira em outras histórias. O filme segue Yūsuke Kafuku (interpretado por Hidetoshi Nishijima) enquanto dirige uma produção multilíngue de "Tio Vânia" em Hiroshima e lida com a morte de sua esposa, Oto (interpretada por Reika Kirishima).
O cinema asiático está em bastante evidência nos últimos anos, principalmente após a vitória histórica de 'Parasita' no Oscar de 2020. Se naquele ano tivemos uma grande obra do cinema coreano, este ano temos uma grande obra do cinema japonês.
'Drive My Car' é diferente de tudo que eu já assisti, um jeito totalmente diferente de se fazer cinema, praticamente fugindo de tudo que pode soar trivial no cinema moderno. Um filme contemplativo, intrigante, complexo, intimista, carregado dramaticamente e com várias camadas que sobrepõe cada personagem na trama, que nos confronta diretamente com o luto e a solidão em várias nuances e em diferente vertentes. O longa nos evidencia com a descaracterização e a desconstrução do ser humano quando lhe é imposto em diferentes consequências da vida. Uma obra profunda, tocante, singular, primorosa, que nos conscientiza sobre o medo, o trauma, a frustração humana em diferentes aspectos e em diferentes pontos de vista, e sempre com uma forma totalmente verossímil.
O roteiro de Ryusuke Hamaguchi e Takamasa Oe é a verdadeira cereja do bolo, pois temos um roteiro coerente, formidável, com um texto muito bem escrito e muito bem adaptado, onde se dividi magistralmente em 3 atos que se conversam entre si. O enredo tem um ótimo desenvolvimento e uma ótima transição entre os 3 atos, nos apresentando e estabelecendo cada personagem que faz e fez parte da vida e da história de Yusuke. A narrativa é excelente, pois a forma adotada para contar toda a história é simplesmente perfeita, com um transporte temporal para nos elucidar sobre cada ponto de virada na trama, seja no primeiro ato, no segundo, ou no terceiro - genial!
Outro ponto que me deixou completamente boquiaberto ao final do filme....suas 3h de duração que me pareceram 1. Vou ser bem sincero, eu não senti em nenhum momento que o longa tinha praticamente 3h de duração, pois o filme é tão envolvente que prende a sua atenção em todas as cenas, você quer buscar sempre além, quer ir cada vez mais longe - é incrível! Pois um filme com quase 3h de duração seria mais do que inevitável (e até normal) cansar o espectador e o fazer perder o interesse pela história que estava sendo contada. Mas não, pelo contrário, o longa não é arrastado, não é cansativo, por mais que seu ritmo seja lento, mas você se prende no texto, nos diálogos afiadíssimos e nas ótimas interpretações. Porém, vou entender perfeitamente quem não conseguir sentir o filme, quem não conseguir se prender na história como eu me prendi, quem achar o filme cansativo e arrastado, pois o longa foge completamente dos filmes triviais modernos, por se tratar de uma obra mais intimista que mantém um ritmo mais lento, mais profundo, que definitivamente não vai prender o espectador pelo dinamismo e sim pela peculiaridade que nos está sendo contada toda a história.
Ryusuke Hamaguchi está completamente perfeito na direção do longa, um trabalho muito competente, onde em todos os momentos nos evidenciava sobre a dor, o sofrimento, a angústia, a frustração e o trauma de cada um ali presente, feito unicamente pelas lentes de sua câmera em diferentes takes certeiros - mais do que merecida a sua indicação ao Oscar. A fotografia de Hidetoshi Shinomiya é muito bem apresentada em cena, acompanha muito bem os diferentes locais imerso dentro desse 'road movie'. A trilha sonora da cantora e compositora Eiko Ishibashi é bem intimista, bem local, agrega ainda mais na obra, apesar de ser uma trilha mais modesta. Assim como a direção de arte de Kensaki Jo, que está muito bem montada e arquitetada.
Em questões de elenco é outro show à parte! Temos um elenco afiado que entregaram ótimas atuações! Como no caso do Hidetoshi Nishijima (o Yusuke Kufuku), que fez um personagem carregado emocionalmente e que transplantava toda essa carga dramática em tela - ótima atuação! Toko Miura (que fez a Misaki Watari) é outra que esteve perfeita em praticamente 100% do tempo. Foi impressionante e gratificante acompanhar às idas e vindas de Misaki e Yusuke a bordo do Saab 900, onde nos evidenciaram com suas histórias semelhantes e que se conversava entre si ao final - cena belíssima aquela dos dois abraçados naquele cenário de gelo, e uma bela atuação de Toko Miura. Reika Kirishima (que fez Oto Kafuku, esposa de Yusuke) tem um destaque excepcional no primeiro ato do filme, sendo dela praticamente todas as cenas de maiores relevâncias naquela parte - belíssima atriz, aquela cena do sexo é um absurdo de interpretação, tá louco!!! Masaki Okada (que fez o Koji Takatsuki) foi outro ator que gostei demais, sua atuação condizia perfeitamente no que se propunha o seu personagem em cena - aquela cena bem dialogada entre Koji e Yusuke é outra barbaridade de interpretação de ambos os atores.
Na temporada de premiações Drive My Car é o principal nome entre os filmes internacionais, inclusive já levou a estatueta no Globo de Ouro, no BAFTA e no Critics. No Oscar o longa está indicado em 4 categorias, sendo Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Diretor, Melhor Filme Internacional (principal favorito) e Melhor Filme.
Desde que foi anunciado a lista dos indicados ao Oscar eu fiquei muito curioso com 'Drive My Car', afinal de contas o longa japonês foi indicado em Filme Estrangeiro e com certeza não foi à toa a sua indicação na principal categoria da noite, Melhor Filme. Assim como a indicação de Ryusuke Hamaguchi em direção, que a princípio eu fiquei me perguntando se realmente ele merecia estar entre os indicados nessa categoria, e hoje eu afirmo com toda certeza que sim, merece e muito. A princípio eu também me perguntei se por acaso o Ryusuke não estaria ocupando a vaga que deveria ser do Denis Villeneuve (Duna), e hoje eu vejo que eu estava completamente errado, a vaga que deveria ser do Denis Villeneuve quem está ocupando injustamente é o Paul Thomas Anderson pelo seu fraco filme 'Licorice Pizza'. Já na principal disputa da noite, 'Drive My Car' é sim um dos principais favoritos para levar a estatueta, apesar das atenções ultimamente estarem voltadas para 'Ataque dos Cães' e principalmente para 'CODA'. Meu favorito na categoria Melhor Filme é 'Ataque dos Cães', pois dentre os 10 indicados é disparado o melhor filme de todos e o que de fato merece ser o campeão da noite. Mas se por acaso a academia decidir premiar o longa japonês, pra mim não será nenhuma surpresa, afinal de contas 'Drive My Car' é um belíssimo filme e também é merecedor da principal estatueta do Oscar, mesmo não tendo a minha torcida.[25/03/2022]
'Belfast' é um filme britânico escrito, produzido e dirigido por Kenneth Branagh. O Longa é estrelado por Caitriona Balfe, Judi Dench, Jamie Dornan, Ciarán Hinds, Colin Morgan, Lewis McAskie, Lara McDonnell e o estreante Jude Hill. Belfast é a capital da Irlanda do Norte, local onde Branagh nasceu, sendo o palco principal para ele contar o seu filme mais pessoal, mais intimista, pois o longa é exatamente baseado em uma história real da sua infância.
O longa segue exatamente a infância de Buddy (Jude Hill) em Belfast, no ano de 1969, época em que estava acontecendo o "The Troubles" (um conflito de grande violência pelo estatuto político da Irlanda do Norte).
É interessante notar que Kenneth Branagh nasceu em 1960 e o filme começa em agosto de 1969, sendo assim ele deveria ter entre 8 a 9 anos na época. Um ponto muito inteligente que Branagh trouxe em seu roteiro ao encaixar a sua história sendo contada a partir da perspectiva de Buddy (que parecia ter mais ou menos essa idade). Pois é exatamente assim que a história de Branagh se desenvolve, pelos olhos de Buddy, um garotinho que vivia com sua família naquela época turbulenta. Buddy era de uma família protestante da classe trabalhadora, que lutava para conseguir saldar as suas dívidas e obter uma vida melhor futuramente.
Este é o ponto mais singelo e mais tocante na obra de Branagh, pois ele uniu um contraponto perfeito pelos olhos de Buddy ao nos mostrar a sua inocência, a sua pureza, os seus sonhos, sendo confrontados diretamente com a brutalidade dos conflitos entre os católicos e os protestantes, os confrontos entre os manifestantes e a polícia, os massacres da guerra civil. Acredito que Branagh decidiu contar a sua história em preto e branco pra literalmente nos passar a falta de vida, de alegria, de cores naquele momento da sua infância, que por mais que tínhamos momentos mais leves por parte de Buddy e seus avós, mas sempre inserido dentro daquele pano de fundo de guerras, conflitos e violência. Até por isso quando o filme nos apresentava um acontecimento que estava fora desse contexto, nos era contado em cores, como na cena do cinema e do teatro.
Branagh escreve um dos seus roteiros mais geniais em 'Belfast', que por mais que aquele momento era tomado pelos acontecimentos do "The Troubles", por mais que o Buddy estava em meio às mudanças culturais e sendo exposto diretamente a violência extrema, por mais que a sua família estava enfrentando dificuldades e tendo que tomar decisões difíceis, mas o seu toque singelo estava em sua forma mais íntima de nos passar a sua inocência nas descobertas que o pequenino Buddy estava fazendo. Por exemplo o seu primeiro amor, como era puro a descoberta daquele nascimento do primeiro amor de infância entre Buddy e Catherine (Olive Tennant). Como era gostoso e gratificante acompanhar a relação de Buddy com seus avós, juntamente com os conselhos que seu vô lhe dava em como se aproximar de Catherine. Os próprios conselhos da vida que seus avós que lhe dava era uma coisa genial. Os pequenos delitos que Buddy cometia ao roubar os chocolates da lojinha, ou ao se juntar na gangue e saquear o sabão em pó no supermercado, outro ponto bastante interessante, em como uma criança na idade do Buddy era facilmente influenciada. A cena final do Buddy se despedindo da Catherine é muito singela e verdadeira, quando seu pai lhe dá aquele conselho que ele vai levar pelo resto de sua vida - uma cena tocante e profunda, genial!
Além do roteiro de Branagh ser bastante intimista, a sua forma de filmar também é bem íntima, pois ele emprega a sua câmera acompanhando os passos de Buddy em todos os momentos, sempre captando os takes em suas diferentes reações e expressões (como em várias cenas em que ele se mostra surpreso com algo que estava acontecendo). A trilha sonora de Van Morrison é um dos principais pontos positivos dentro do longa de Branagh. É impressionante como a trilha sonora está bem casada dentro da trama, como ela acompanha bem a trama, como ela influencia diretamente em todas as cenas e dita o ritmo certeiro de cada acontecimento - destaque para a sua belíssima composição, "Down to Joy", que está concorrendo ao Oscar. 'Belfast' tem uma das mais belas fotografias que eu já vi em um filme este ano, até por se tratar de uma película em preto e branco, onde contribui demais para a fotografia - méritos para o diretor Haris Zambarloukos (de Mamma Mia! e Thor). Até agora estou me perguntando como o filme não ganhou indicação por fotografia no Oscar, mais uma bola fora este ano academia. A direção de arte, juntamente com a cenografia, é outro ponto que merece destaque, pois está muito bem caprichada e muito fiel dentro da proposta do tema abordado pelo filme.
O elenco de 'Belfast' é uma obra-prima à parte! Um elenco onde todos estão bem, todos tem atuações bem destacadas, criamos uma empatia por todos, torcemos por todos, sofremos por todos. Branagh foi muito feliz ao escolher o seu elenco (cujo vários membros da produção também nasceram em Belfast), um elenco muito bem ajustado, onde todos possuíam uma ótima química. Eu gostei muito do elenco de 'Coda' e de 'West Side Story', mas depois de conferir esta obra eu afirmo que 'Belfast' tem o melhor elenco dessa temporada de premiações - sem sombra de dúvida.
Jude Hill é um doce, um ator-mirim que se destaca dentre o elenco adulto, entregando um verdadeiro show em cena. Impossível não simpatizarmos com ele, impossível não nos emocionarmos com ele, ele nos cativa e prende a nossa atenção em todos os momentos (e olha que ele estava fazendo a sua estreia nos cinemas). A categoria Revelação no Critics este ano está disputadíssima, pois além de ter amado a atuação do Jude Hill, ainda temos Emilia Jones (Coda), Saniyya Sidney (King Richard) e Rachel Zegler (West Side Story). Vai ser difícil decidir a minha torcida, mas vou ficar dividido entre o Jude Hill e a Emilia Jones.
Caitríona Balfe (de Ford vs. Ferrari) está ótima, entrega uma atuação soberba e tem uma carga dramática bem dosada, e assim como Jamie Dornan (de Cinquenta Tons de Cinza), que também está maravilhoso, formam o casal dos pais de Buddy, que por sua vez possuem uma ótima química entre eles. Judi Dench (de Shakespeare Apaixonado) e Ciarán Hinds (de Munique e Sangue Negro) estão maravilhosos como os avós do Buddy. Uma das melhores cenas era exatamente os diálogos (conselhos) entre os avós e Buddy, onde eu conseguia sentir o amor verdadeiro pela sétima arte bem explicita nas atuações de Judi Dench e Ciarán Hinds. Completando a família com Lewis McAskie (Will, o irmão mais velho de Buddy) e Josie Walker (como a tia Violet). Sem deixar de mencionar a Lara McDonnell (Moira), amiga inseparável de Buddy.
'Belfast' foi indicado em 7 categorias no Globo de Ouro, incluindo Canção Original, Roteiro, Atriz Coadjuvante (Caitríona Balfe), Ator Coadjuvante (Jamie Dornan e Ciarán Hinds), Direção e Filme Drama. No SAG's o filme esteve indicado em 2 categorias, Atriz Coadjuvante e Elenco. No Critics o longa está indicado em Edição, Direção de Arte, Fotografia, Roteiro Original, Direção, Elenco, Revelação, Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante (os 2 atores) e Melhor Filme (sendo bem sincero, eu daria o prêmio de Elenco para 'Belfast'). No BAFTA o longa está indicado em 6 categorias, incluindo as principais de Melhor Filme e Melhor Filme Britânico, sendo esnobado em Direção (BAFTA sendo BAFTA). No Oscar o longa está nomeado em 7 categorias, incluindo Som, Canção Original, Roteiro Original, Atriz Coadjuvante (Judi Dench, Caitríona Balfe ficou de fora), Ator Coadjuvante (Ciarán Hinds, Jamie Dornan também ficou de fora), Direção e Melhor Filme.
Kenneth Branagh nos traz o seu filme mais intimista, mais pessoal, e eu simplesmente amo esse estilo intimista em nos relatar uma parte da sua infância, que me remete diretamente a obra-prima de Alfonso Cuarón (Roma). Outro ponto que me prende e me emociona em obras como 'Belfast', é a forma em nos contar a história pela perspectiva de um ator-mirim, como no magnífico 'O Quarto de Jack' e a obra-prima 'O Menino do Pijama Listrado'. 'Belfast' de fato é a obra-prima mais intimista de Kenneth Branagh, o longa é realmente excelente, possui um belíssimo elenco, que nos entrega ótimas atuações, tecnicamente é uma obra-prima, e vai brigar diretamente no Oscar. Por falar em Oscar, acredito que o longa de Branagh não deve brigar em Som, Direção, Ator e Atriz Coadjuvante, já em Canção e Roteiro podem ter uma chance, porém a grande briga ficará na principal categoria da noite, Melhor Filme, onde eu vejo o longa com grandes possibilidades para levar a estatueta. E a partir de agora, 'Belfast' e 'Ataque dos Cães' são os meus favoritos na principal categoria do Oscar 2022. [11/03/2022]
O longa é escrito e dirigido pelo grande cineasta espanhol, Pedro Almodóvar, cuja produção conta com Agustín Almodóvar, seu irmão mais novo, e Esther Garcia. Almodóvar sempre foi reconhecido como um dos mais cultuado cineastas autorais dos cinemas, por empregar seu estilo cinematográfico único, e sempre nos apresentar as suas obras com sagacidade, inteligência, por sempre nos imergir em suas histórias fortes, pesadas, dramáticas, por sempre nos trazer seus roteiros bem elaborados e nos impor a sua forma novelística de nos fazer mergulhar em suas tramas.
Em "Madres Paralelas", Almodóvar nos traz um roteiro inteligente, sagaz, intrigante, curioso, enigmático, que nos prende e nos instiga a querer desvendar tudo que está por trás de cada história, dos personagem, queremos desvendar tudo que está nas entrelinhas do roteiro. Exatamente nesse ponto que eu considero o roteiro de Almodóvar bem astuto, pois ele é realizado de uma forma que nos intriga, que nos deixa curioso o tempo todo. Almodóvar vai costurando as linhas do seu roteiro aos poucos, sem nos entregar nada instantaneamente (ou inicialmente), vamos criando inúmeras possibilidades e vamos sendo confrontados com cada acontecimento. Pois o longa possui dois temas distintos, que inicialmente podem parecer um roteiro perdido, uma narrativa confusa, mas se realmente pararmos para analisar friamente, eles se ligam extraordinariamente ao final.
"Madres Paralelas" pode funcionar como uma novela, um conto, ou algo parecido, pois Almodóvar decide nos confrontar com uma história excêntrica sobre às dores da maternidade, o resgate do passado, a crise existencial, o drama e o peso de ser mãe solteira, tanto adolescente quanto na meia-idade. Ao mesmo tempo que ele propõe e desenvolve um tema que está diretamente inserido em um contexto político histórico, a guerra civil espanhola.
Penélope Cruz é a alma do filme, realmente compreendo a sua indicação ao Oscar. Penélope dá vida à Janis Martinez, uma mulher na meia-idade que engravida (por acidente) e tem que conviver com o peso de ser uma mãe sozinha e solteira, mesmo que ela tenha condições financeiras para isso. Janis mostra uma personalidade forte e destemida, ao mesmo tempo ela se sente vulnerável, sensível, perdida, tentando se conectar, ou reconectar, à sua vida com o mundo ao seu redor, por todos os acontecimentos que ela está sendo submetida naquele momento. Ótima atuação da Penélope Cruz....podíamos sentir suas dores, seus traumas, suas nuances, seus conflitos, tudo imposto unicamente pelo seu olhar, com uma carga mais dramática muito bem dosada - sim, temos mais um bela atuação da Penélope Cruz!
A atriz espanhola Milena Smit faz um contraponto bem acertado com a Penélope Cruz. Milena traz uma personagem (Ana) que está dentro do mesmo contexto de ser mãe, ainda mais uma mãe adolescente, solteira, sozinha, sem o apoio dos pais na criação da sua filha. Milena Smit foi uma grata surpresa, gostei da sua atuação, deu o toque certo dentro da história do Almodóvar. Israel Elejalde está bem como Arturo, o problemático caso de Janis, e até então, pai de sua filha. Completando com Aitana Sánchez-Gijón, que fez Teresa, a mãe de Ana - mais uma boa atuação, totalmente dentro do que a sua personagem exigia para a história.
Um dos pontos que mais me chama a atenção nas obras do Almodóvar, está exatamente na sua forma intimista de executar as suas filmagens. Almodóvar dá uma atenção e um carinho ao movimento literário que prioriza a expressão dos sentimentos mais íntimos dos seus personagens em cenas - aproximando cada vez mais a câmera, em um ângulo que dava o exato foco no que estava sendo proposto naquele ambiente. A trilha sonora de Alberto Iglesias (compositor daquela maravilhosa trilha de "O Leitor", com a Kate Winslet) acompanhava fielmente cada passo dos personagens, pois a mesma se destacava em um ritmo mais intenso nos momentos de tensão e nos momentos mais dramáticos - uma trilha sonora muito bem notada e sentida ao longo da trama. A fotografia de José Luis Alcaine também merece um destaque, realmente estava muito bem executada.
Quando eu afirmo que Almodóvar trouxe um roteiro muito inteligente.....vamos aos fatos:
Um ponto que eu achei bastante curioso e muito intrigante no roteiro do Almodóvar, foi exatamente os dois temas que ele estava abordando em seu longa - por um lado a maternidade e suas dores, e por outro às questões políticas. É fato que a personagem da Penélope Cruz (Janis) buscava incansavelmente descobrir sobre suas origens e de alguma forma tentar honrar a memória do seu bisavô. Exatamente dentro desse contexto que ela busca ajuda com o Arturo, que era arqueólogo, para escavar o local que poderia está os ossos de seu bisavô e dos antepassados que foram assassinados durante a ditadura espanhola.
Mas e como ligar esses dois temas dentro da história?
Bem, eu acredito que a Janis era uma pessoa que sempre buscava a verdade do seu passado, isso de fato era muito importante para ela (é ai que entra o tema político em querer saber a verdade escavando os ossos). Por isso, quando Janis descobre que não era a mãe da pequena Cecília, e que a filha morta da Ana de fato não era dela, Janis entra em um completo dilema pessoal em querer contar a verdade para Ana, pois ela não aguentava a ideia de ocultar a verdade sobre os fatos, exatamente o que fizeram quando ocultaram os fatos verdadeiros sobre seu bisavô na guerra.
Janis poderia muito bem mentir sobre a Cecília para Ana, de fato ela poderia ficar com sua "filha" para sempre, mas como ela iria conseguir conviver com essa incoerência, uma vez que ela própria sempre buscava a coerência (a verdade) sobre o assassinato do seu bisavô na guerra.
Logo após a cena em que o Arturo conta para Janis que se separou da sua esposa por ter contado para ela sobre a sua infidelidade, é exatamente o momento em que Janis fica ainda mais conturbada em saber como é difícil suportar uma mentira, tanto a mentira sobre a filha verdadeira da Ana, quanto a mentira que lhe contaram a vida toda sobre seu bisavô e os antepassados da guerra. É......se esta reflexão dos dois temas se unindo no roteiro do Almodóvar não for considerado inteligente e sagaz....eu não sei mais o que é!
Na temporada de premiações, "Madres Paralelas" esteve indicado no Globo de Ouro nas categorias Trilha Sonora e Filme Estrangeiro. O BAFTA indicou o longa a Filme Estrangeiro. No Oscar o longa tem duas indicações, Trilha Sonora e Atriz, sendo esnobado em Filme Estrangeiro (como também foi no Critics). Sobre Melhor Atriz, acho o trabalho da Penélope Cruz ótimo e de fato ela mereceu uma indicação, mas pra mim ela corre por fora, vejo a Nicole, a Jessica e a Kristen um passo à frente, principalmente a Kristen.
Pedro Almodóvar nos entrega uma bela obra intimista, "Madres Paralelas" é um ótimo drama, bastante refletivo, interpretativo, curioso e intrigante. Mais um belo filme do cinema espanhol. [04/03/2022]
"Spencer" é uma cinebiografia inserida em um drama psicológico de ficção histórica, dirigido por Pablo Larraín e escrito por Steven Knight. O filme é sobre a crise existencial da princesa Diana e se passa em um fim de semana em Sandringham House, no Natal de 1991, nos relatando a sua decisão em querer se divorciar do príncipe Charles, o Príncipe de Gales, e deixar a família real britânica. Kristen Stewart e Jack Farthing estrelam como a princesa Diana e o príncipe Charles, respectivamente, acompanhados por Timothy Spall, Sean Harris e Sally Hawkins.
Vale lembrar que tudo que nos é contado no filme é feito de forma especulativa, lúdica, com uma liberdade criativa, com teorias sobre o que de fato pode ter acontecido na vida da Princesa Diana durante aquela época turbulenta em sua vida, o quê culminou com os acontecimentos que antecederam o natal daquele ano e os dias subsequentes após o seu pedido oficial de divórcio. De fato pode ser uma obra com ares fictício, mas totalmente imersa em uma história verdadeira e angustiante. Uma fábula inspirada em uma tragédia real!
"Spencer" é o típico filme feito para a sua protagonista brilhar. Tudo é pensado exatamente dentro desse contexto, tudo é trazido com os minuciosos detalhes, com todos os cuidados, com muita atenção, tudo é voltado para a Princesa Diana (Kristen Stewart), lhe transformando no pilar central da trama e tudo que acontecia girava ao seu redor.
Pablo Larraín conseguiu nos imergir dentro daquela passagem na vida da Diana com muita competência e de uma forma totalmente crível. É realmente impressionante e assustador ao nos confrontarmos com o modo de vida que a Diana levava em seu dia a dia, praticamente um passarinho preso dentro da gaiola, sendo totalmente controlada e vigiada, cuja próprias roupas sequer ela podia escolher quais queriam usar. Conseguimos sentir a sua angústia, a sua dor, o seu desespero, pois até o seu belíssimo colar de pérolas lhe sufocava como uma coleira em seu pescoço. Diana nos expõe a sua opressão, tensão, abuso, vulnerabilidade, desgaste mental, sanidade mental, pressão psicológica, crise existencial, pois em sua vida ela sofria constantes perseguições da família real e dos paparazzis.
"Spencer" é uma belíssima cinebiografia da Princesa Diana. Por mais que o roteiro se desenvolva de forma fictícia, quem viveu os anos 90 vai conseguir sentir veracidade em tudo que está sendo entregue em cena. Méritos para o diretor Pablo Larraín, que conseguiu nos entregar uma direção competente, ajustada, refinada, pois seus inúmeros takes eram sempre certeiros em diferentes ângulos do rosto da Lady Di, sempre nos evidenciando sobre os diferentes momentos e situações que ela estava enfrentando. O roteiro de Steven Knight é outro ponto certeiro, pois ele entrega exatamente o que se propõe, se desenvolvendo bem dentro daquele pequeno período na vida da Lady Di.
A direção de arte e a cenografia estão soberbas, nos entregando um cenário dentro da mansão real (ou a mansão de férias natalina) totalmente voltada para os anos 90 (méritos para Sebastián Sepúlveda). Os cenários, os objetos de cena, os figurinos, os adereços, os apetrechos, às maquiagens e cabelos estavam realmente incríveis e totalmente fiéis à época. Como não destacar os figurinos luxuosos da Lady Di, juntamente com a sua maquiagem e seus penteados - grande responsável em deixar a Kristen 100% fiel e caracterizada de Princesa Diana (méritos para Jacqueline Durran). A fotografia de Claire Mathon é outro ponto crucial, se destacava em todas as cenas, principalmente as cenas dentro da mansão. A trilha sonora do grande Jonny Greenwood é avassaladora, pois suas composições soavam perfeitas quando confrontadas com os momentos de angústia do dia a dia da Princesa Diana - um casamento perfeito!
Um trabalho sublime, encantador, avassalador, primoroso, genial, estupendo, magnífico, me deixando completamente apaixonado pela Kristen Stewart em "Spencer". Kristen estudou à fundo a Princesa Diana, assistiu séries, filmes, leu relatos, documentários, buscou informações em tudo que se referia à personalidade que ela iria interpretar nos cinemas. Um verdadeiro estudo na personagem, onde ela buscou se especializar nos sotaques britânicos, nos trejeitos, nas facetas, nos olhares, nas expressões, na postura, no jeito de andar, tudo para ficar o mais próximo possível da princesa Diana. Kristen ainda contou com a ajuda de antigos conselheiros da realeza para viver uma versão mais semelhante dos hábitos de Lady Di. Kristen está perfeita, totalmente dentro da personagem, muito bem caracterizada, uma atuação monstruosa, sendo praticamente impossível reconhecê-la em tela, estávamos realmente assistindo a Princesa Diana. Pra quem viveu na época da Princesa Diana, vai se impressionar com a tamanha semelhança que a Kristen alcançou com esta atuação. Kristen realmente calou todos os críticos, pois ela sofreu ao longa de sua carreira marcada pela Bella de "Crepúsculo". Eu mesmo confesso que sempre achei às suas atuações inexpressivas, nunca me cativou, mas agora eu estou engolindo o meu preconceito e admitindo que Kristen Stewart é uma belíssima atriz e nos entregou um trabalho estupendo como Princesa Diana. Mais uma performance para brigar diretamente no Oscar (ela já levou o prêmio no Hollywood Critics Association ), Kristen vem forte e acaba de se tornar uma das minhas preferidas nessa temporada de premiações (juntamente com a Jessica Chastain).
Completando o elenco ainda tivemos Jack Farthing como Charles, Príncipe de Gales, sem grandes destaques, apenas para contextualizar a história da Lady Di. Timothy Spall como Major Alistair Gregory, sendo uma espécie de mordomo totalmente invasivo e inoportuno (pra não dizer chato pra cacete) no dia a dia da Princesa Diana. E minha querida atriz Sally Hawkins (da qual gosto muito) como Maggie, a Costureira Real e confidente de Lady Di.
No Globo de Ouro "Spencer" teve apenas a indicação da Kristen Stewart. No Critics, além da indicação da Kristen, ainda teve uma para o Jonny Greenwood. O BAFTA ignorou totalmente "Spencer", não indicou em nenhuma categoria, mas há quem diga que a família real pode ter interferido diretamente na decisão, afinal de contas o BAFTA é uma premiação britânica. No Oscar também só tem a indicação da Kristen, porém, eu indicaria fácil na categoria de Melhor Filme, se até "Licorice Pizza" foi, porquê "Spencer" não poderia? Aliás, pra mim, "Spencer" é muito mais filme.
Esta é a temporada das cinebiografias: temos "King Richard", "Being the Ricardos", "Os Olhos de Tammy Faye", "Tick, Tick... Boom!" e completando a lista, "Spencer".
"Spencer" é um ótimo filme, bem editado, bem montado, bem arquitetado, muito bem transplantado para a tela. Tecnicamente o filme é perfeito, tem um roteiro acertado e uma atuação estupidamente maravilhosa da Kristen Stewart. Pablo Larraín nos entrega uma bela cinebiografia dessa específica passagem na vida dessa figura tão importante, tão admirada e tão influente. A Princesa Diana foi e ainda é um ícone mundial, ainda brilha na cultura pop e é lembrada, respeitada, condecorada e homenageada até hoje. A mulher mais fotografada do mundo, Princesa de Gales, Lady Di, uma verdadeira Dama, uma verdadeira Lenda, a Princesa do Povo. Diana Frances Spencer - de uma simples plebeia para uma princesa!!! [01/03/2022]
Paul Thomas Anderson é um diretor que admiro demais, um verdadeiro mestre nos roteiros e na direção dos seus filmes. Ao longo dos anos já nos entregou obras maravilhosas como "Boogie Nights", "Magnólia", "O Mestre", "Sangue Negro" e "Trama Fantasma". Considero "Sangue Negro" como a sua melhor obra-prima até hoje.
"Licorice Pizza" é o mais novo trabalho do diretor, que também assina os roteiros (como de praxe). O longa é uma ideia original de PTA, que novamente se reencontra com a família HAIM (da qual ele é um amigo próximo) depois de realizar vários dos videoclipes do grupo. PTA convida a Alana Haim para estrear nos cinemas e dividir o protagonismo juntamente com Cooper Hoffman, que também está fazendo a sua estreia.
"Licorice Pizza" é o trabalho mais diferente de PTA, é totalmente o inverso do que sempre esperamos dele, ou do que estamos mais acostumados. O longa funciona como uma comédia romântica nostálgica, com algumas pitadas de drama, cuja narrativa se desenvolve mais leve, numa marcante história de “coming of age”. Também pode funcionar com uma carta de amor aos filmes e os seus realizadores da década de 70, pois é completamente notável a forma adotada por PTA ao dirigir o seu filme com ares daquela época. A paleta de cores que observamos em tela é mais envelhecida, com um tom mais amarelado puxando para o acinzentado, cuja fotografia (do próprio PTA) se destaca exatamente nesses pontos. Os próprios figurinos dos jovens daquela década é muito bem notado no elenco (principalmente na Alana e no Cooper Hoffman). A direção de arte é muito atraente, a cenografia é ótima, pois os cenários e todos os seus objetos estão completamente fiéis aos anos 70. Não posso esquecer de mencionar a trilha sonora de Jonny Greenwood que está completamente magnífica. Uma trilha sonora contemporânea, ajustada, muito bem encaixada e notada ao longo da trama, que enriquecia às qualidades técnicas do filme.
A história acompanha os dois jovens que se apaixonam no Vale de São Fernando, Califórnia, na década de 1970. Temos Alana Haim no papel de Alana Kane, uma jovem de 25 anos que se apaixona por um insistente adolescente de 15 anos, Gary Valentine, interpretado por Cooper Hoffman, filho do falecido Philip Seymour Hoffman.
De fato "Licorice Pizza" tem o estilo de PTA, quem conhece o diretor e acompanha às suas obras vai consegui pegar várias coisas que ele traz de seus trabalhos anteriores. Porém, devo confessar que esse estilo de comédia romântica mais humorada não me pegou, não me envolveu, não me conquistou, pelo contrário, achei uma história bem mediana, bem bobinha, um romance bem água com açúcar, bem chatinho. Típica história romântica que não se desenvolve, não engrena, estaciona, mesmo sendo influenciado por um romance da década de 70, onde literalmente poderia se desenvolver dessa forma que foi contada. Outro ponto, não simpatizei com o casal, não consegui me conectar com eles, não consegui torcer por ninguém, não tive aquela atração pela a sua história. Pra mim faltou clima, faltou química, faltou imersão, faltou alma, faltou estrutura, faltou muita coisa para eu me conectar com aquele romance. Não sei se de repente o fato dos dois estarem estreando nos cinemas interferiu, ou não, mas de fato toda a história criada por PTA ao realizar 'Licorice Pizza' não me agradou.
Por falar em estreias, Alana Haim vem da música para os cinemas, e ela faz uma atuação ok, nada acima da média, apenas ok. Não podemos negar que Alana está bem natural na personagem, traz uma atuação normal, como se fosse ela mesma no seu dia a dia, e isso funciona muito bem, pois era exatamente isso que o filme pedia. Porém, eu vejo a Alana Haim como um diamante bruto, que precisa ser lapidado, precisa de um amadurecimento, e isso é um fato, afinal de contas aqui é seu primeiro trabalho. Mas ela tem talento, tem potencial para ir cada vez mais longe, se escolher os papéis corretos.
Cooper Hoffman está no mesmo nível da Alana Haim, consegue levar o seu personagem bem, em até certos pontos, mas também não tem um grande destaque, apenas compõe a trama. Também acredito que o tempo ajudará no seu amadurecimento cinematográfico, afinal de contas seu pai era um verdadeiro gênio da sétima arte. Ainda tivemos as belas participações de Sean Penn, um verdadeiro showman em cena (aquela cena da moto é muito boa), e Bradley Cooper, nos agraciando com mais uma das suas belas atuações (como o Bradley Cooper é um ator fenomenal - Ave Maria!!!).
No Globo de Ouro o longa de PTA recebeu indicações em Roteiro, Atriz (Alana), Ator (Cooper) e Filme Comédia/Musical. No Critics o longa recebeu 8 nomeações, incluindo as principais de Ator, Atriz, Direção e Elenco. No BAFTA também recebeu 5 indicações, também incluindo as principais e principalmente a de Melhor Filme.
Falando do Oscar: devo mencionar que "Licorice Pizza" está indicado em três categorias, Roteiro Original, Direção e Melhor Filme. Disto isto, devo expor a minha indignação com a academia (mais uma vez), pois é completamente notável que o PTA está indicado a Melhor Diretor somente por ser o PTA, pois em nenhum momento o seu trabalho em "Licorice Pizza" condiz com a sua indicação. Tudo bem que de fato o PTA é um mestre na direção e em "Licorice Pizza" ele faz um trabalho competente, mas não chega aos pés do Denis Villeneuve em "Duna", que foi completamente esnobado pela academia - me desculpem, mas eu achei a indicação do PTA muito forçada e me soou como uma injustiça. O mesmo vale para a categoria de Melhor Filme, pois "Licorice Pizza" está indicado somente por ser um trabalho do PTA e a categoria contar com 10 vagas, porque em nenhum momento o longa faz jus à esta indicação. Tínhamos filmes melhores e que poderiam facilmente entrar nessa vaga, como o caso de "Tick, Tick... Boom!". Este caso me remete diretamente ao Oscar 2018, onde também tínhamos um filme bem mediano (Lady Bird) que foi erroneamente indicado na categoria de Melhor Filme. Pra falar a verdade: "Licorice Pizza" é o "Lady Bird" dessa temporada.
No mais, "Licorice Pizza" se destaca apenas por ser um trabalho do Paul Thomas Anderson e pelas às suas qualidades técnicas, mas de fato este é o trabalho menos inspirado do diretor, o que definitivamente o coloca como um dos seus piores filmes. Pra mim completamente passável e totalmente esquecível! [28/02/2022]
(uma estrela por ser um trabalho do PTA e a outra pelas qualidades técnicas)
Os Olhos de Tammy Faye é uma cinebiografia dramática dirigido por Michael Showalter, baseado no documentário de 2000 de mesmo nome de Fenton Bailey e Randy Barbato de World of Wonder. O longa conta a história de Tammy Faye Bakker (interpretada por Jessica Chastain), desde seu humilde começo crescendo em International Falls, Minnesota, até a ascensão e queda de sua carreira de televangelismo e casamento com Jim Bakker (interpretado por Andrew Garfield). O roteiro é escrito por Abe Sylvia, enquanto Jessica Chastain também é um dos produtores do filme.
Assim como no filme "Being the Ricardos", onde tínhamos a cinebiografia de Lucille Ball, aqui temos a cinebiografia de Tammy Faye, o curioso é o fato de eu não conhecer ambas personalidades e suas respectivas histórias. Dito isto, da mesma forma como eu analisei "Being the Ricardos" vou analisar "Os Olhos de Tammy Faye" unicamente pela minha experiência com o filme, sem afirmar se os acontecimentos ocorreram corretamente na ordem cronológica, se teve veracidade nos fatos contados da vida de Tammy e Jim, até porque sem conhecer a história real, fica difícil apontar se a forma como Michael Showalter decidiu contar a história da vida do casal está certa ou errada.
O longa se dividi em duas partes, na primeira hora temos a melhor parte de todo o filme, pois é nela que começamos a conhecer a vida de Tammy Faye ainda criança. Começamos a acompanhar a criação de Tammy, a forma como seus pais moldava a sua cabeça em relação a religião e a igreja, toda sua curiosidade em descobrir o que as pessoas faziam reunidas nas pequenas igrejas. Logo após temos o começo do envolvimento de Tammy e Jim nos anos 60 (por sinal uma parte maravilhosa de Jessica e Andrew), passamos a acompanhar o casamento e a forma como eles começaram a galgar no meio religioso, utilizando-se das pregações de Jim e as apresentações dos bonecos de fantoches de Tammy para chamar a atenção das crianças, que por sua vez chamaria a atenção dos pais para frequentarem as igrejas. Juntamente com a primeira gravidez de Tammy, que viria logo na sequência.
Na segunda parte do filme temos a criação da PTL Club, se tornando a maior rede de transmissão religiosa do mundo. O que viria a elevar a Tammy Faye ao posto de maior apresentadora gospel da TV norte-americana. Mas também nessa segunda parte temos a mudança no tom do filme, que inicialmente era leve e extrovertido, agora já era tenso e pesado, pois começamos a acompanhar a queda da televangelista e de seu marido nos anos 70 e 80, começaram aparecer as primeiras infelicidades no casamento, às traições, os escândalos sexuais, os rivais, a imprensa e as irregularidades fiscais. Definitivamente acompanhamos da ascensão a queda do casamento e do império de Tammy Faye.
O longa de Michael Showalter é muito bom, é muito gostoso de acompanhar, pois toda a história da Tammy Faye é contada de uma forma completamente acertada, sendo leve e tensa nos momentos corretos, conseguindo nos imergir na trama e nos simpatizar pelo casal. Com um destaque mais do que merecido para o trabalho de maquiagem e cabelo, que estão completamente estonteantes. Tammy sempre se destacou pelas suas maquiagens, seus penteados, seus cílios, nada mais justo do que a sua cinebiografia acertar em grande estilo nessas qualidades técnicas. Outro ponto a destacar no trabalho de maquiagem, a forma como o casal eram envelhecidos de acordo com o passar dos anos - magnífico! A direção de arte e a cenografia estão soberbas, impossível não nos maravilharmos com os belos cenários que compõem o longa, muito bem montados, muito bem projetados, com objetos de cenas e figurinos que nos remetia diretamente às décadas de 60, 70, 80 e 90. A fotografia se destaca muito bem, assim como a trilha sonora, que está bem ajustada de acordo com os acontecimentos que permeava a trama.
É inegável que a Jessica Chastain e o Andrew Garfield são os donos do filme, pois ambos estão perfeitos em suas respectivas atuações, ambos conseguem uma química invejável, conseguem comprar a nossa atenção e a nossa empatia instantaneamente.
Jessica incorpora a Tammy Faye de uma forma tão natural, tão leve, tão espetacular, tão minimalista, tão forte, que nos ganha em todas às suas aparições em cenas. É impressionante a facilidade que a Jessica tem para atuar em diferentes situações, pois quando o filme lhe pede uma atuação mais serena, mais jovial, mais moleca ela nos entrega uma Tammy que tinha aquele seu jeito inocente, doce, meigo, que estava descobrindo o seu amor pelos ensinamentos de Deus e descobrindo a sua paixão pelo Jim. Porém, quando o filme muda de tom, sua atuação acompanha diretamente a mudança, pois temos uma Tammy mais sisuda, mais tempestuosa, mais dramática, mais vulnerável, uma atuação que condizia com tudo que ela estava passando naquele momento da sua vida. Que a Jessica Chastain é uma atriz maravilhosa, espetacular, fenomenal, isso todos nós já sabemos, mas o que ela nos entrega na pele da Tammy Faye é para ser aplaudida de pé em completo êxtase. Jessica atua com a alma e o coração, tem uma performance excelente, interpreta muito bem, canta maravilhosamente bem (destaque para a sua última cena), uma apresentação e uma entrega completamente perfeita, sem um erro. Jessica foi indicada no Globo de Ouro, perdendo para a Nicole Kidman, está indicada no Critics, e ontem à noite levou o prêmio no SAG's (justíssimo por sinal). No Oscar a disputa será mais acirrada, pois temos a Nicole com um leve favoritismo, mas na minha modesta opinião, eu gostei mais da atuação da Jessica do que da Nicole, disto isto, eu daria a estatueta para a Jessica Chastain sem pestanejar.
Andrew Garfield vem se destacando como um dos melhores atores da sua geração, e não é de hoje. Aqui temos um Andrew totalmente solto, leve, inspirado, carismático (sua marca registrada), envolvente, que nos impressionou mais uma vez com a sua atuação. Andrew interpretou um Jim que inicialmente era visto como o par perfeito de Tammy, aquele casal perfeito, como observamos logo ao início com o seu relato do pacto que ele fez perante Deus, nos evidenciando o que o levou a querer seguir a palavra de Deus. Outro destaque estava em sua forma de pregar os desígnios de Deus, sendo bastante incisivo, enfático, firme, convincente, mas sempre de uma forma leve, e com um sorriso no rosto esbanjando toda a sua simpatia (foi exatamente assim que ele começou a conquistar a atenção da Tammy Faye). Tudo isso condiz com a bela atuação que Andrew nos entrega, pois assim como a Jessica, ele também tem variações de tom em sua atuação, que são muito dignas por sinal. Andrew Garfield já nos entregou ótimos trabalhos e belíssimas atuações como em "A Rede Social", "Silêncio", "Até o Último Homem" e recentemente em "Tick, Tick…Boom!" e "Os Olhos de Tammy Faye". Andrew foi indicado ao Oscar por "Até o Último Homem" e está indicado por "Tick, Tick…Boom!". Na minha opinião, já passou da hora do Andrew Garfield ser reconhecido pela academia, pois ele é um ator completo, ele já fez drama, já fez comédia, já fez musical, já fez super-herói, já fez romance, e tudo em alto nível, que sempre o eleva, o destaca e o coloca em busca dos principais prêmios nos festivais. E só pra deixar registrado, eu indicaria o Andrew pelo seu trabalho apresentado em "Os Olhos de Tammy Faye", pra mim cabe tranquilamente uma indicação a coadjuvante no Oscar, ou em qualquer premiação, sem nenhum exagero.
O longa de Michael Showalter está indicado no Critics, no BAFTA e no Oscar na categoria de Maquiagem e Cabelo.
"Os Olhos de Tammy Faye" é uma ótima cinebiografia, é leve, divertida, prazerosa, gostosa, que não pesa a mão em discursos sobre religião, e não defende nenhuma tese e nem impõe nada sobre a fé, ou a crença de cada um, o que poderia facilmente cansar e desinteressar o espectador, pelo contrário, temos apenas uma releitura de como foi a vida de Tammy Faye e Jim Bakker. Há muito tempo que eu não assistia um filme biográfico tão bom quanto este. Tecnicamente o longa é bem feito e bem caprichado. O roteiro é bem funcional e dita o ritmo correto que a trama percorre durante às suas 2h. O filme não é cansativo, não é arrastado, nos prende gradativamente e tem um ritmo acertado. Às atuações nos ganha imediatamente, pois temos um bom elenco de apoio, mas o que realmente nos conquista e eleva o nível do filme são estes dois nomes: Andrew Garfield e Jessica Chastain. [28/02/2022]
A Tragédia de Macbeth é um longa (original Apple Films) histórico americano de 2021 escrito e dirigido por Joel Coen e baseado na peça Macbeth de William Shakespeare. É o primeiro filme dirigido por um dos irmãos Coen sem o envolvimento do outro. O filme é estrelado por Denzel Washington, Frances McDormand, Bertie Carvel, Alex Hassell, Corey Hawkins, Harry Melling, Kathryn Hunter e Brendan Gleeson.
Eu tive uma grande curiosidade ao descobrir que pela primeira vez os irmãos Coen iriam se separar em um filme, pois isso me soava um tanto quanto arriscado, visto que eles sempre trabalharam juntos e nos entregou verdadeiras pérolas cinematográficas como "Fargo" e "Onde os Fracos Não Têm Vez" (pra citar duas). Criei grandes expectativas ao imaginar como seria a direção e o roteiro de Joel Coen, sem o seu irmão Ethan Coen, em "A Tragédia de Macbeth". Pois bem, aqui temos uma ótima adaptação Shakespeariana em preto e branco feita por Joel Coen, juntamente com a sua esposa Frances McDormand, que além de atuar, também está presente na produção do longa.
Joel nos entrega uma ótima uma peça teatral filmada como um longa-metragem. Um verdadeiro teatro, desde às apresentações, às atuações, os diálogos, os monólogos, os cenários, os figurinos, às filmagens, que muita das vezes eram bem próximas dos rostos dos personagens em cena, captando todas as suas expressões faciais. A direção de Joel está muito segura, pois o trabalho de câmeras que ele adota em seu filme é incrível, muita das vezes feito com câmeras fixas, em ângulos fixos, uma filmagem com ares teatrais, totalmente imersa na peça, no conto, na trama que estava sendo apresentada.
A cenografia do longa é bem ajustada e funciona dentro do que o filme precisa, pois temos cenários voltados para o reino, para o castelo, que nos remete diretamente aos cenários de uma peça teatral, exatamente por isso que o longa se desenvolve quase que 100% do seu tempo em cenários fechados e não em ambientes mais abertos. A direção de arte (que está indicada ao Oscar) é bastante competente e acompanha bem a construção dos cenários, figurinos e maquiagens, estando presente no enquadramento com a direção de fotografia. Por falar em fotografia, Bruno Delbonnel está completamente sublime ao destacar a fotografia do longa, a película em preto e branco favorece muito a fotografia, pois a mesma está belíssima. Delbonnel está indicado ao Oscar, mas o páreo é duríssimo, pois ele enfrenta Dan Lautsen (O Beco do Pesadelo), Ari Wegner (Ataque dos Cães), Greig Fraser (Duna) e Janusz Kominski (Amor Sublime Amor). A trilha sonora de Carter Burwell é branda, suave, tensa nos momentos certeiros, dita o ritmo da trama.
Denzel Washington está muito bem como Lord Macbeth, é realmente incrível como ele se dá bem em longas que são voltados para uma peça teatral, como ele domina bem os diálogos e os monólogos, como foi em "Fences", um longa que também funciona com uma peça teatral (trabalho que também lhe rendeu uma indicação ao Oscar). Denzel faz o que sabe de melhor ao interpretar um personagem tirano, ambicioso, ardiloso, maquiavélico, que desejava ocupar o trono a qualquer custo, mesmo que isso o levasse diretamente para a tragédia de Macbeth. Obviamente o Denzel já esteve em trabalhos mais inspirados e mais ambiciosos, já nos entregou melhores atuações, porém, devo afirmar que aqui ele traz uma atuação mais teatral na medida certa, que está bem ajustada e compõe muito bem o propósito do seu personagem. Denzel Washington tem uma boa atuação e realmente ele está bem no personagem, mas sinceramente não acho que seja uma atuação para indicá-lo ao Oscar.
Frances McDormand é uma atriz refinada, requintada, renomada, oscarizada, uma das melhores atrizes de todos os tempos (e não é de hoje). Frances dá vida a Lady Macbeth, o braço direito de seu marido (Lord Macbeth) e peça-chave no desenrolar de toda a trama, sendo a principal responsável em instigá-lo em seus desejos e ambições perante à sua visão de que ele será o próximo rei da Escócia. Uma personagem astuta, sagaz, fria, calculista, que planejava às suas ideias mirabolantes e às colocava sempre em prática (ou pelo menos tentava). Frances e Denzel formam a dupla perfeita do longa, um contraponto muito funcional pra história. Destaque para a cena do sonambulismo, onde Frances eleva a sua atuação e nos mostra outra faceta da Lady Macbeth - perfeita!
Jamais poderia deixar de mencionar a atriz Kathryn Hunter. Kathryn chega a nos assustar e nos deixar boquiabertos perante a sua performance ao incorporar uma bruxa maléfica, sombria, pitoresca, que usava da sua astúcia ao discursar para convencer o Lord Macbeth a seguir em busca da sua visão. Eu fiquei completamente impressionado ao presenciar o alto nível de atuação que Kathryn Hunter deu ao nos exibir seu contorcionismo, seus trejeitos, suas expressões sádicas, sua faceta tirana, sua voz sombria - um verdadeiro show em cena, sem nenhum exagero.
Ainda tivemos Corey Hawkins como Macduff, mais uma boa atuação, principalmente no embate final com o Lord Macbeth. Alex Hassell como Ross, se destacando bem como uma espécie de conselheiro. Completando com Brendan Gleeson como King Duncan, Bertie Carvel como Banquo, Harry Melling como Malcolm e Moses Ingram como Lady Macduff.
No Globo de ouro e no SAG's o longa foi indicado somente em Ator (Denzel). No BAFTA também só tem uma indicação, que é Fotografia. No Critics tem duas indicações, Fotografia e Ator. No Oscar o longa está indicado em três categorias, Direção de Arte, Fotografia e Melhor Ator, e na minha opinião, não é favorito em nenhuma.
A Tragédia de Macbeth é uma bela adaptação Shakespeariana, de fato Joel Coen conseguiu nos imergir diretamente em uma peça teatral totalmente introduzida em um longa-metragem, funcionando perfeitamente. O filme é bom, às atuações teatrais são boas, a película em preto e branco é sublime e o resultado final do primeiro trabalho solo de Joel Coen é bastante convincente. [27/02/2022]
Duna é dirigido por Denis Villeneuve e escrito por Jon Spaihts e Eric Roth (juntamente com o próprio Villeneuve). É a primeira de uma adaptação em duas partes do romance de 1965 de Frank Herbert, cobrindo principalmente a primeira metade do livro. O filme é a terceira adaptação de Duna após o filme de David Lynch de 1984, que foi um fracasso de crítica e comercial, e a minissérie de John Harrison em 2000. Após uma tentativa frustrada da Paramount Pictures de produzir uma nova adaptação, a Legendary Entertainment adquiriu os direitos de filme e TV de Duna em 2016, com Villeneuve assinando como diretor em fevereiro de 2017.
Villeneuve nos entrega um longa de fantasia, ficção científica, aventura, levemente inserido no drama. Acredito que Denis Villeneuve foi o nome certo para a direção de Duna, pois o próprio já trabalhou em produções voltadas para a ficção e fantasia, como em seus longas "A Chegada" e "Blade Runner 2049". Villeneuve trouxe toda a sua experiência e deu os toques certeiros na direção do longa, deixando o filme praticamente com a sua cara, pois quem já assistiu "A Chegada", vai notar imediatamente vários pontos trazidos por Villeneuve para Duna, como os seus trabalhos de filmagens e seus takes aéreos (que estão espetaculares), acompanhando diretamente o movimento de cada acontecimento que se desenvolvia e se movia em cena - completamente perfeita a direção de Villeneuve em Duna, nota 10. Já quero de antemão deixar aqui a minha profunda indignação com a 'irrelevante' academia (mais uma vez), pois não indicar o Villeneuve a direção no Oscar é praticamente um crime que presenciamos (exatamente como o BAFTA também fez).
É muito interessante e satisfatório observar (ao longa da trama) às inúmeras referências trazidas para Duna de filmes como a franquia "Star Wars" e "Matrix". Às próprias coreografias das lutas nos remete diretamente à "Star Wars", funcionando como uma espécie de homenagem ao épico de George Lucas - eu achei fantástico!
Tecnicamente o longa de Denis Villeneuve é uma obra-prima do gênero. Como a fotografia de Greig Fraser, que se destaca como uma obra-prima visual. É impressionante como a fotografia de Duna é bela, magnífica, estonteante, se destacando notavelmente em todas às cenas e sendo a grande responsável pela nossa imersão nos cenários gigantesco do longa. Greig Fraser está indicado ao Oscar e vai brigar diretamente com Dan Lautsen (O Beco do Pesadelo), Ari Wegner (Ataque dos Cães) e Janusz Kominski (Amor Sublime Amor). A trilha sonora do gênio Hans Zimmer é outra obra-prima, pois a mesma é única, contemporânea, intimista, que se destaca nos momentos mais oportunos, como na tensão de um ataque, um embate, uma guerra, uma morte, onde a trilha estava mais suave e ia se elevando (aumentando o ritmo) de acordo com os seguimentos dos acontecimentos em tela - magnífico! Hans Zimmer já levou o Globo de Ouro e na minha opinião, é favorito ao Oscar.
Completando com às partes técnicas temos: os efeitos visuais que estão soberbos e se destaca bem em todas às cenas. A edição e mixagem de som de Mac Ruth é majestosa. A direção de arte de Tibor Lazar é outra obra-prima, como nos impressiona a estética do filme, onde a narrativa casava perfeitamente com a unidade visual do longa. A cenografia também merece um destaque, pois estamos diante de cenários completamente estonteantes. Cabelo e maquiagem também tem que ser mencionado, assim como os figurinos de Jacqueline West e Robert Morgan, que são um show visual em cena, impossível não ser contagiado pelos belíssimos figurinos dos reinos de Duna. O longa é muito bem editado, muito bem montado, méritos para Joe Walker.
Eu não conheço a obra de Frank Herbert, tampouco assisti o longa de David Lynch, dito isto, devo destacar o principal ponto fraco do longa de Denis Villeneuve. Eu gostei do roteiro do filme, acho que ele percorre um caminho correto de acordo com os acontecimentos que permeia toda a história, mas o que me incomoda está no enredo, mais precisamente no desenvolvimento onde nos é apresentado e estabelecido os personagens. O longa peca exatamente no ritmo, pois a primeira hora é completamente arrastada, o ritmo é extremamente lento, falta imersão, dessa forma o desinteresse pela trama é inevitável, fazendo o espectador se cansar até chegar a segunda hora do filme (que até melhora um pouco). Pra quem já leu o livro, ou assistiu o longa de 1984, ou já conferiu a minissérie, estará mais familiarizado com esta parte (ou talvez não), poderá levar esta parte arrastada do filme numa boa, sem se incomodar como eu me incomodei, mas no meu caso o ritmo do longa me cansou bastante, chegando até me desanimar em algumas partes. Acredito que esta primeira parte da adaptação de Duna funcione mais como um prólogo, uma apresentação dos personagens na trama que irá se desenrolar no segundo filme, porém acredito que toda esta apresentação e desenvolvimento fez o ritmo do filme cair muito e se destacar como um ponto negativo do longa de Denis Villeneuve.
Timothée Chalamet entrega um boa atuação na pele do Paul Atreides, o descendente da Casa Atreides. Timothée segura bem o personagem, até se destacando em algumas partes, principalmente às que envolvia sua mãe. Rebecca Ferguson é a Lady Jessica, a mãe de Paul. Rebecca está mediana, sua atuação em até certo ponto condiz com a sua personagem, mas nada de grande destaque, não vi como um grande trabalho. Oscar Isaac é o duque Leto Atreides. Isaac tem uma curiosa participação na história, e se destaca com bastante relevância para os acontecimentos que irão ocorrer na segunda parte do longa. Uma boa atuação entregue por Oscar Isaac. Josh Brolin é o Gurney Halleck, e ele está bem no filme, apesar de ficar me perguntando o que de fato aconteceu com o seu personagem na segunda metade da história. O grande Stellan Skarsgård está irreconhecível como o Barão Vladimir Harkonnen, e nos entrega mais uma atuação digna do grande ator que é.
Dave Bautista nos entregou o brutal Glossu Rabban. Bautista teve menos tempo de tela, porém foi bem até onde conseguiu. Jason Momoa foi um dos meus personagens preferido da história, o espadachim Duncan Idaho. É sempre gratificante vê o Jason Momoa atuar em personagens que lhe exige força, ímpeto, coragem, e aqui ele nos entrega exatamente isso. O belíssimo ator Javier Bardem nos brinda com mais uma ótima atuação na pele do sagaz Stilgar. É impressionante como em todos os papeis que o Bardem atua, ele nos contagia e nos deixa maravilhado - que baita ator que é o Javier Bardem. Zendaya deu vida à Chani, uma misteriosa jovem Fremen que aparece nas visões de Paul, Chani é o contraponto de Paul e seu interesse amoroso. Zendaya está mais contida, mais mediana, acredito que seu maior destaque virá no segundo filme, acredito que inicialmente o roteiro não lhe favoreceu nessa primeira parte da adaptação.
Duna foi indicado em 3 categorias no Globo de Ouro, Direção, Melhor Filme Drama, e venceu na categoria Trilha Sonora. No Critics Duna empatou com "Ataque dos Cães", recebendo 10 nomeações, entre elas às principais de Direção e Melhor Filme. No SAG's o longa tem uma indicação em Melhor Elenco de Dublês em Filme. No BAFTA o longa é o campeão de indicações, tendo recebido 11, porém com tantas indicações, faltou uma das principais, Melhor Diretor pro Villeneuve (Valeu pela incoerência BAFTA). O mesmo discurso vale para o Oscar, que indicou Duna em 10 categorias (ficando atrás somente de Ataque dos Cães), mas a direção de Villeneuve foi completamente esnobada - que absurdo academia...AFF!
Duna é um bom filme, ele consegue entregar o que se propõe, que é exatamente uma aventura na fantasia. Os maiores destaques é sem dúvidas às partes técnicas, que são um show à parte, mas peca exatamente no que prenderia a atenção do público, que é o ritmo do filme, por ser extremamente lento, arrastado e cansativo. Villeneuve de fato faz um bom trabalho em Duna, ele acerta em umas coisas e erra em outras, mas isso pode servir de lição para a continuação da segunda parte do filme. Duna apresenta resquício de espetáculo, tem grandeza, tem uma ótima premissa, acredito que a adaptação tem potencial para se tornar um dos épicos na lista das obras-primas da fantasia, da ficção e da aventura - como "Avatar", "O Senhor dos Anéis" "Matrix", "Aliens" e "Star Wars", mas se for feito da forma correta.[20/02/2022]
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
3.5 1,2K Assista AgoraDoutor Estranho no Multiverso da Loucura (Doctor Strange in the Multiverse of Madness)
"Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" é dirigido por Sam Raimi, escrito por Michael Waldron (Produtor executivo na série do Loki), e estrelado por Benedict Cumberbatch como Stephen Strange, ao lado de Elizabeth Olsen, Chiwetel Ejiofor, Benedict Wong, Xochitl Gomez, Michael Stuhlbarg e Rachel McAdams. O longa é a sequência de "Doutor Estranho" (2016) e nos leva até a nova missão de Strange ao protege a jovem América Chavez (Xochitl Gomez), uma adolescente capaz de viajar pelo multiverso, enquanto são perseguidos por um demônio no espaço e por Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), entre os universos enquanto procuram o Livro de Vishanti.
Sai do cinema boquiaberto, completamente maravilhado com tudo que o Universo MCU nos entregou em "Doutor Estranho 2". A cada produção o meu apreço pela Marvel cresce cada vez mais, pois de fato é um studio muito competente e muito aplicado em tudo que se propõe a fazer, sempre buscando se enquadrar e se adaptar da melhor forma possível dentro do universo das HQs. E olha que eu achava que a Marvel não atingiria mais a mesma proporção que ela atingiu ao fechamento do seu ciclo com a saga Vingadores, porém, o studio é tão grandioso e tão competente, ao ponto de sempre estar se reinventando dentro do seu universo e sempre buscando nos impressionar com cada produção entregue, e de fato ela conseguiu me impressionar mais uma vez.
"Doutor Estranho 2" é um dos filmes do MCU que tem a melhor direção, e isso só foi alcançado pelo trabalho perfeito e genial entregue por nada mais nada menos que o mestre Sam Raimi. Raimi já nos entregou a grandiosa trilogia de "Homem Aranha" (pra mim a melhor até hoje), sendo que os dois primeiros são trabalhos incríveis, são duas obras completamente icônicas (os melhores filmes do Aranha até hoje). Após a saída de Scott Derrikson (diretor do primeiro filme), Kevin Feige entrega a direção de "Doutor Estranho 2" para Sam Raimi, o que já seria motivo para um completo êxtase, mas Feige vai ainda mais além, ao permitir que Sam Raimi trabalhe da sua forma, coloque a sua identidade, e isto está muito explícito no filme, pois de fato "Doutor Estranho 2" tem a cara do Sam Raimi, tem a sua assinatura, que pra quem é fã do diretor e o acompanha, vai se deliciar com tudo que foi entregue.
Este foi um dos pontos de maior acerto no filme, a liberdade criativa que foi dada para o Sam Raimi, pois de fato o longa tem aquela "fórmula Marvel", mas o que impressiona foi o tom que Raimi trouxe pro filme, nos entregando um filme de fantasia (claro, é Marvel), mas completamente imerso no gênero terror. "Doutor Estranho 2" é um deleite pra quem conhece às obras de Sam Raimi, pois aqui ele impõe a sua marca que o consagrou ao longo dos anos, nos entregando um trabalho que homenageia os grandes filmes de Terror dos anos 60, 70 em diante (como A Noite dos Mortos-Vivos, Carrie, a Estranha, entre outros), e não só homenageando estas obras mas sim nos trazendo várias referências dos seus próprios filmes, como "Darkman", "Arraste-me para o Inferno" e o clássico e icônico "The Evil Dead". Como não pegar as inúmeras referências que encontramos ao longo do filme em várias cenas como: às luzes piscando em um ambiente escuro, aquele Doutor Estranho zumbi, a cena da Feiticeira saindo do espelho, a cena do zumbi colocando a mão pra fora da tumba, a cena que a Wanda está debaixo da terra, sendo vista por uma espécie de bueiro - enfim - temos muitas cenas que Raimi brinca com o Terror e nos entrega uma verdadeira carta de amor aos amantes do gênero.
Além da direção absurda de Sam Raimi, que salta os nossos olhos em praticamente 100% das cenas, temos uma ótima ambientação envolto em um clima soturno, com cenários mais sombrios e macabros, totalmente imersos em uma fotografia pragmática, densa, escura. A trilha sonora é outro ponto muito positivo, pois ela acompanha o clima dark do filme, se sobressaindo justamente nas cenas em que o Horror e o suspense estão mais em evidências.
Em questão de roteiro o filme não é nada surpreendente ou grandioso, na verdade é até clichê, pois de fato temos uma história bem mediana e com motivações um tanto quanto duvidosas, eu diria, citando por exemplo todo propósito que impulsionou a Feiticeira Escarlate a buscar o seu objetivo e o que a levou a tomar a decisão que tomou ao final - um discurso bem raso e sem inspiração! Por outro lado temos apenas uma história do vilão que quer se apossar da vítima e a vítima tem que ser protegida pelo herói até o fim, ou seja, mais do mesmo, uma história bem corriqueira - nesse ponto eu considero bem clichê e um roteiro pouco desenvolvido e pouco inspirado. Em questões de roteiros eu acho que a Marvel precisa se reinventar e dar uma atenção melhor em suas produções.
O elenco de "Doutor Estranho 2" é algo sublime, sem dúvidas um dos maiores acertos do longa.
Benedict Cumberbatch já domina o seu personagem há muito tempo e aqui ele entrega um Doutor Estranho ainda mais funcional dentro do contexto do filme. Elizabeth Olsen está em seu melhor momento, visto que ela vem da sua minissérie (que é excelente) e aqui entrega a sua melhor atuação dentro do Universo MCU. Olsen já tinha nos entregado um verdadeiro show como Wanda Maximoff em sua minissérie e aqui ela destrói completamente como Feiticeira Escarlate, e olha que ela estava sendo apenas 'razoável' - como ela mesmo afirmou. America Chavez é uma personagem que até então eu desconhecia, porém gostei bastante do que foi entregue pela jovem Xochitl Gomez, uma grata surpresa, ela tem bastante potencial para estrelar futuras produções.
Chiwetel Ejiofor e Benedict Wong fazem o que sabem de melhor em seus personagens.
Michael Stuhlbarg teve uma pequena participação.
Rachel McAdams (atriz que eu amo) volta a reprisar a Christine Palmer do primeiro filme. Pra mim foi uma ótima surpresa poder rever a amada do Strange, e gostei ainda mais de todo clima que se criou em volta do ex-casal, pois de fato ele ainda nutri sentimentos por ela e possivelmente lamenta essa decisão.
Uma surpresa muito agradável foi poder acompanhar a aparição dos heróis da terra 838 - os "Illuminati" - formados pelo Sr. Fantástico (o sempre maravilhoso John Krasinski), Raio Negro (Anson Mount, de volta), Capitã Carter (Hayley Atwell, a lendária Peggy Carter apresentada em Capitão América: O Primeiro Vingador), Capitã Marvel (Lashana Lynch, a Maria Rambeau) e a presença sempre ilustre do lendário Charles Xavier (o mestre Patrick Stewart).
Com esta aparição do Professor Xavier eu comecei a pensar que realmente os X-Men poderão finalmente integrar o Universo do MCU. Imaginem como seria uma nova saga dos X-Men nas mãos da Marvel, poderia se tornar o suprassumo dos lendários mutantes.
Outro fato curioso: quando o filme estava em produção eu vi vários boatos que rondavam sobre às possíveis presenças de algumas novas personalidades dentro do Universo do MCU - personalidades essas como o "Homem de Ferro" alternativo do Tom Cruise e o "Wolverine" do Daniel Radcliffe. Apesar de tudo não passar de boatos, pois de fato parece que o Tom Cruise teria sido cogitado para viver o personagem lá no passado, mas Robert Downey Jr acabou ficando com o papel, já o Wolverine do Daniel Radcliffe não passou de uma brincadeira de 1 de Abril, apesar de quando perguntado sobre o boato ao ator ele responder: "Não os vejo indo do Hugh Jackman para mim, mas quem sabe? Provem que estou errado, Marvel".
Sem deixar de mencionar a impactante cena pós-créditos - nos trazendo a sempre linda e bela Charlize Theron e nos revelando a sua personagem Clea, pra mim totalmente desconhecida.
"Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" é mais um Filmaço do MCU, o que só prova que a cada fase a Marvel só engrandece e eleva ainda mais o nível das suas produções. Apesar de ter um roteiro mediano e alguns pontos negativos, a integração do mestre Sam Raimi contou muito para o filme crescer ainda mais nos meus conceitos, sem falar no nível excepcional do elenco e suas atuações, é claro! Um completo colírio para os meus olhos!
Ah, e só pra constar aqui - Te Amo Elizabeth Olsen, você é a Feiticeira do meu sonho Escarlate! [03/06/2022]
Capitã Marvel
3.7 1,9K Assista AgoraCapitã Marvel (Captain Marvel)
"Capitã Marvel" é escrito e dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck (ambos são diretores de Perseguindo Um Sonho, de 2008), com Geneva Robertson-Dworet também contribuindo para o roteiro. Baseado na Marvel Comics e produzido pela Marvel Studios o filme traz Brie Larson como Carol Danvers/Capitã Marvel, ao lado de Samuel L. Jackson, Ben Mendelsohn, Djimon Hounsou, Lee Pace, Lashana Lynch, Gemma Chan, Annette Bening, Clark Gregg e Jude Law. A história se passa em 1995 e nos relata como a Carol Danvers se tornou a Capitã Marvel, depois que a Terra é pega no centro de um conflito galáctico entre duas civilizações alienígenas.
"Capitã Marvel" foi um filme muito esperado e muito aguardado dentro do Universo Cinematográfico do MCU, pois havia uma grande expectativa envolta da apresentação solo de uma heroína muito importante para todo o contexto de "Vingadores: Ultimato", filme que veio logo na sequência dentro da cinematografia Marvel. E devo confessar que ao assistir pela segunda vez o filme melhorou bastante em relação à sua época de lançamento lá em 2019. Acredito que após ter conferido a excelente minissérie "WandaVision" a experiência com este filme me agradou muito mais, pois de fato todas às ligações que temos em relação a personagem da Maria Rambeau e sua filha Mônica com a Capitã Marvel é mais compreendida após ter assistido a minissérie, que de fato lá temos a Mônica já adulta e toda uma construção e uma revelação envolta da personagem. Que também faz ligações direta entre a Capitã Marvel e a Mônica Rambeau na sequência, "The Marvels", que será lançada no próximo ano. Então, pra mim este filme ficou melhor encaixado em minha cabeça ao assistir pela segunda vez e após todos esses acontecimentos dentro do Universo MCU.
"Capitã Marvel" também foi alvo de inúmeras críticas em sua época de lançamento, sendo considerado por muitos como um filme fraco, mal feito, que não trouxe nenhuma inovação dentro do Universo MCU, e muitos indo ainda mais além, o colocando como um dos piores filmes do Studios e a Brie Larson como uma heroína bem mediana. Devo confessar que ao assistir o filme pela primeira vez eu compactuei de algumas dessas opiniões, que de fato não melhorou ao reassistir. Como é o caso da direção de Anna Boden e Ryan Fleck, que de fato é bem questionável, bem mediana e sem inovação. Acredito que a falta de experiência dentro desse Universo pode ter contado muito para eles empregarem uma direção tão falha. O roteiro é outro ponto negativo na conta de Boden e Fleck, pois realmente temos construções bem duvidosas e que são difíceis de comprar...como é o caso da história que nos foi contada da Carol Danvers em transição para a Capitã Marvel, colocando aquele - de que lado você vai ficar? Qual foi realmente toda a sua origem? Em quem realmente devo acreditar? Enfim! Também senti falta de uma exploração mais aprofundada sobre à guerra entre Kree vs Skrull. Acho que poderiam ter dado uma atenção mais detalhada nessa parte.
Sobre a Brie Larson: ela está bem crua na personagem (é fato), ainda sem experiência (é claro), mais travada, um pouco sem confiança, e isso fica bem evidente principalmente quando ela ainda está como Vers, que pra mim é aonde a sua atuação é bem mediana. Como Capitã Marvel ela já melhora, ocupando uma posição mais destacável, mais sisuda, mais forte e mais destemida. Acredito que a sua atuação começa em um grau mediano e engrandece com o avanço na trama, pois ao final já temos uma heroína completa, onde até as suas expressões faciais melhoram bastante em relação ao seu início. Com toda certeza em "The Marvels" ela chegará com mais bagagem e muito mais confiante, o quê culminará para um verdadeiro show na personagem.
Samuel L. Jackson nos apresenta uma versão mais novata, mais burocrática do seu Nick Fury, o que me deixou bastante curioso sobre os seus acontecimentos no filme. Porém, Mr Jackson já domina o seu personagem há muitos anos. Jude Law (Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore) traz um personagem muito curioso, o Yon-Rogg, um comandante e mentor da Carol Danvers, o responsável em treiná-la para usar os seus novos poderes. Muito Bom a participação de Jude Law, toda sua experiência contou muito para a construção do seu personagem. Ben Mendelsohn (Cyrano) teve uma das melhores interpretações do filme, sendo o Talos, o líder dos Skrulls. Lashana Lynch (007 - Sem Tempo Para Morrer) fez uma das amigas mais antigas de Danvers, a Maria Rambeau, se destacando com uma personagem muito importante para a história, principalmente pela sua filha Mônica (Akira Akbar). Annette Bening, atriz que eu amo de paixão desde a eterna Carolyn Burnham em "Beleza Americana", nos traz a Inteligência Suprema, a Mar-Vell, a Dra. Wendy Lawson...a governante do Império Kree. Ótima participação de Annette Bening.
Outro ponto falho do longa: a trilha sonora é bem selecionada, de acordo com os clássicos dos anos 80 e 90, visto que o filme se passa na década de 90, mas é bem desconexa, mal inserida nas cenas, deixando um descompasso muito perceptível - uma pena!
Realmente a Marvel tem essa magia de interligar todos os seus filmes e séries, o que nos deixa muito bem situado em cada sequência que ocorre. Um ponto muito positivo e que deveria servir de inspiração para os outros Studios, pois a competência que a Marvel aplica em ligar uma produção com a outra é completamente incrível.
Em questão de representatividade feminina das super-heroínas nos cinemas: pra mim cada uma representa muito bem esse empoderamento com às suas histórias, cada uma agrega diretamente para este quesito. Como foi no caso da Mulher-Maravilha com o seu filme, a Viúva Negra com o seu filme, a Wanda Maximoff com a sua série e com certeza a Capitã Marvel integra esta lista com seu filme.
Como mencionei anteriormente, "Capitã Marvel" melhorou bastante ao reassistir pela segunda vez, mas de fato é um filme muito aquém do que realmente se esperava, faltou um pouquinho mais de ambição. Porém, não deixa de ser uma produção muito agradável, muito gostosa, que nos entretém e nos diverte em vários momentos. Nesse quesito o longa cumpre muito bem o que promete. [Março de 2019 / 02/06/2022]
O Homem nas Trevas 2
3.0 464 Assista AgoraO Homem nas Trevas 2 (Don't Breathe 2)
"O Homem nas Trevas 2" é dirigido por Rodo Sayagués (roteirista de A Morte do Demônio, de 2013) em sua estreia na direção, a partir de um roteiro que ele co-escreveu com Fede Álvarez (o diretor do primeiro filme, "O Homem nas Trevas", de 2016). O longa é uma sequência direta do primeiro filme, sendo produzido por Fede Álvarez, Sam Raimi e Robert Tapert, e estrelado por Stephen Lang, reprisando seu papel como Norman Nordstrom / 'O Homem Cego'. A trama gira em torno da história de um homem cego que aterroriza invasores de sua casa. A sequência se passa 8 anos após a primeira invasão; quando Norman vive isolado em sua residência junto com Phoenix (Madelyn Grace), uma garota órfã que ele começou a cuidar após um incêndio.
Quando eu assisti ao primeiro filme eu realmente me impressionei com um um Thriller de terror, suspense, com uma ambientação sombria, macabra, claustrofóbica, que nos transmitia uma tensão, um medo, uma agonia, ou seja, "O Homem nas Trevas" realmente se destacou como um ótimo filme. Aqui temos uma sequência que aparentemente é desnecessária, mas como o primeiro filme deu muito certo e rendeu uma ótima bilheteria, seria mais do que esperado que eles fossem espremer toda a história até pingar a última gota, e dessa gota preparar uma grande jarra de suco, que não deu muito certo e ficou meio amargo.
"O Homem nas Trevas 2" até soube reaproveitar e reutilizar a fórmula do antecessor, mas em partes, pois temos dois atos distintos, um que funciona muito bem e o outro que não é muito bom.
O primeiro ato é a melhor parte de todo o filme, pois temos aquela perseguição dentro da casa, aquele jogo de gato e rato que deu muito certo no filme anterior, ou seja, temos novamente um jogo de sobrevivência vividos por Norman e Phoenix contra os invasores da sua casa. Nesse primeiro ato o diretor soube utilizar muito bem o clima de terror, suspense, nos imergir novamente em uma ambientação sombria, tensa, claustrofóbica, nos apresentar a violência das mortes brutais, que foi uma das principais características do primeiro filme.
Já no segundo ato é a parte que o filme cai muito de produção, deixando totalmente de lado o terror e o suspense para mergulhar de cabeça na ação. Este ato funciona como uma missão de resgate do Norman para encontrar a Phoenix, ou seja, é a parte mais inverossímil de toda a história (o filme inteiro já é inverossímil, mas esta parte é ainda pior), onde o ar desafiador da saga é perdido, falta originalidade, o roteiro peca em exagerar no drama e cria subtramas que diminuem totalmente toda a credibilidade de toda história já apresentada anteriormente. Nesse ato o diretor perde totalmente a mão ao mergulhar a história no clichê de filmes do mesmo gênero, que é apostar na ação desenfreada. Outro ponto: a troca de cenários e a forma como o Norman chega até lá compromete ainda mais toda a história. Aquela forma implacável e destruidora do Norman é bem difícil de engolir, que por mais que ele já fosse assim no primeiro filme, mas lá ele estava em seu ambiente, conhecia cada cômodo da sua casa, projetava armadilhas e sabia aonde localizá-las quando precisasse.
Outro erro que eu considero grotesco nesse segundo filme: a tentativa de redenção, de humanização, de criar uma espécie de herói para o Norman, que pra mim não desceu, não me convenceu. Pois de fato um dos maiores acertos no primeiro filme era exatamente nos expor personalidades dúbias, personagens que poderiam ser vistos como vilões, como antagonistas, pois ali ninguém era santo e todos carregavam a sua dose de culpa. Porém, aqui temos a tentativa de redenção, de descaracterização, de heroísmo, ao tentar colocar uma personalidade que já nos foi apresentada anteriormente como um assassino e estuprador - bola fora do roteiro!
Stephen Lang (o inesquecível Coronel Miles Quaritch de Avatar) reprisa muito bem o seu personagem. Novamente temos um Norman destruidor, implacável, maquiavélico, sedento por sangue e vingança. Todas as características que engrandeceram a atuação de Lang no primeiro filme está de volta e com uma forma ainda mais brutal e violenta, e aqui ele entrega tudo e mais um pouco.
A adição da jovem atriz Madelyn Grace (O Assassinato da Cheerleader) eu considero como um acerto do filme, pois de fato ela é peça-chave e é muito importante para o desenrolar de toda a história. Apesar de achar que em algumas partes o roteiro peca ao tentar trazer o seu drama pessoal a qualquer custo, ao tentar forçar a sua busca em ser uma criança normal como todas as outras, pois de fato isso pode até funcionar em uma outra temática, mas não cabe aqui.
Tirando o Stephen Lang e a Madelyn Grace, o resto do elenco é bem genérico, bem esquecível! Como é o caso de Brendan Sexton III (Teia de Mentiras), que fez um líder de gangue que se revela ser o pai biológico de Phoenix. Uma espécie de antagonista, de anti-herói, mas que não funcionou em nenhum momento, uma atuação bem fraca. O mesmo vale para a Fiona O'Shaughnessy (Maria e João: O Conto das Bruxas), que fez Josephine, a mãe de Phoenix. Outra personagem totalmente aleatória e irrelevante para o contexto, sem contar que sua atuação é deprimente.
"O Homem nas Trevas 2" possui uma ambientação muito boa, desafiadora, com um clima soturno que foi o grande responsável em prender o espectador na trama. A direção de Rodo Sayagués é muito competente, pois ele soube trabalhar com excelência cada take, cada cena, soube extrair o melhor de cada ângulo, o que nos dava a exata dimensão de cada acontecimento bizarro. A fotografia é excelente, perfeita, muito bem enquadrada em praticamente 100% de cada cenário. A cenografia e a direção de arte é outro grande acerto. A trilha sonora é bem tensa, muito bem ajustada em cada cena, nos fazendo imergir cada vez mais na história.
Temos mais um caso em que o segundo filme não consegue superar o primeiro, e aqui isso é muito nítido, pois de fato o longa anterior é muito melhor e muito superior. "O Homem nas Trevas 2" até consegue entregar um Thriller de terror e suspense que funciona incialmente, mas ao descambar para a ação o longa perde totalmente a credibilidade. De fato o filme serve apenas como entretenimento por ser uma produção descomprometida e despretensiosa, mas é bem passável e completamente esquecível.
Ainda temos uma cena-pós crédito que deixa um arco para um terceiro filme, que eu particularmente torço pra que não aconteça, pois de fato será mais uma continuação completamente desnecessária como esta. [28/05/2022]
Tempo
3.1 1,1K Assista AgoraTempo (Old)
"Tempo" é escrito, dirigido e produzido por M. Night Shyamalan. É inspirado na graphic novel (HQ) Sandcastle de Pierre Oscar Levy e Frederik Peeters. O filme apresenta um elenco composto por Gael García Bernal, Vicky Krieps, Rufus Sewell, Alex Wolff, Thomasin McKenzie, Abbey Lee, Nikki Amuka-Bird, Ken Leung, Eliza Scanlen, Aaron Pierre, Embeth Davidtz e Emun Elliott. A trama acompanha uma família em umas férias durante uma viagem para uma ilha tropical, quando eles descobrem que a praia isolada onde estão relaxando por algumas horas está de algum modo fazendo eles envelhecerem rapidamente, drasticamente, reduzindo suas vidas em apenas um dia.
M. Night Shyamalan sempre foi um diretor original, que sempre nos trouxe originalidade em suas diversas obras ao longo de todos esses anos. A originalidade e o ineditismo sempre foram às verdadeiras marcas registradas deste visionário cineasta. Shyamalan sempre esteve marcado por ser um diretor 'Ame ou Odeie', e é bem dessa forma que a sua carreira foi percorrendo ao longo de toda a sua filmografia. Em seus tempos áureos, Shyamalan nos entregou o maior suspense do final dos anos 90 e início dos anos 2000 - "O Sexto Sentido" - pra mim uma verdadeira obra-prima do suspense e melhor filme de toda a sua carreira. Logo após vieram o clássico cult "Corpo Fechado", o ótimo "Sinais" e o controverso "A Vila". De fato esta época foi a melhor época de toda a carreira do Shyamalan, pois logo após ele entra na pior fase de toda a sua história, nos entregando verdadeiras tragédias como "A Dama na Água", "Fim dos Tempos", "O Último Mestre do Ar" e "Depois da Terra". Depois da tempestade vem a calmaria, e ela veio com os ótimos "Fragmentado" e "Vidro".
"Tempo" é mais um filme totalmente controverso do Shyamalan, pois de fato ele acerta em umas coisas e falha miseravelmente em outras. Uma ideia muito boa porém mal executada e mal desenvolvida, onde temos uma premissa que soa como instigante, intrigante, que tem potencial para se tonar algo muito interessante e muito grandioso, mas não é bem isso que acontece. Shyamalan constrói todo um universo para nos revelar um novo thriller misterioso, pitoresco, excêntrico, e no fim é apenas uma trama ambiciosa com alguns momentos pretensiosos. Não posso negar que o roteiro de Shyamalan é promissor e bastante oportuno, pois de fato ele é mestre em criar um ambiente que é cheio de mistérios, metáforas, alusões, reflexões, que nos prende gradativamente por ficarmos cada vez mais instigados com o rumo que a sua trama irá tomar. Porém, "Tempo" é mais um filme mediano de Shyamalan, que definitivamente não conversa com às suas melhores obras, e infelizmente entra na lista daquelas tragédias que eu mencionei acima.
"Tempo" até começa com ar de suspense que nos intriga e desperta o nosso interesse, mas o roteiro peca exatamente na tentativa desesperada em tentar criar mistérios o tempo todo, deixando uma trama cansativa, embarrigada e muito maçante, principalmente por fazer muita enrolação e ao final entregar um plot completamente broxante e vergonhoso. Por falar em final, MEU DEUS, o final de "Tempo" é horrível, medonho, pavoroso, pois...
Toda aquela explicação que inventaram da empresa farmacêutica usar aquela praia (que eles diziam ser algo divino dado à eles pela natureza) para testar medicamentos em pessoas que já tinham algum tipo de enfermidade para salvar outros enfermos, ou até mesmo a humanidade, eu não comprei, achei muito ruim - tipo, vamos matar 10 cobaias para salvar milhões. E a explicação que deram ao fato do tempo passar muito rápido na praia? Diziam que na verdade eram as rochas dessa praia que meio que aceleravam o metabolismo e o envelhecimento das células - é....enfim!!!
Aquele final dos irmãos chegando e desmascarando o 'grande plano' é muito ruim. Por mais que os dois fossem crianças em corpos de adultos, que necessariamente não reagiriam com ódio por tudo que fizeram com eles, mas aquele plot é muito raso, muito frio, muito vazio, poderiam ter dado um final mais decente, mais criativo, mais inteligente, no mínimo. Aliás, o final entrega tudo muito de bandeja, não deixa nada para que o espectador pudesse desvendar ou interpretar.
A cinematografia do filme juntamente coma direção do Shyamalan é horrível, pois temos closes bizarros, onde tínhamos várias cenas desfocadas, várias cenas onde a câmera girava infinitamente e nos incomodava, nos fazendo perder a atenção em um determinado ponto da trama. Poderiam ter dado uma atenção maior ao fato de parecer que só as crianças envelheciam e os adultos não, ou pelo menos não da forma que esperávamos, muito por falta de um trabalho mais caprichado na maquiagem. Porém, devo elogiar a estética do filme, como a praia, que de fato é um local muito belo, muito paradisíaco, envolto em um tom mais colorido, mais vívido, que realmente fotografava muito bem. A trilha sonora agrega muito bem na trama, sendo bem dosada entre às cenas mais leves, mais eufóricas, fazendo um contraponto acertado com os momentos mais tensos.
O elenco de "Tempo" é outro ponto falho!
Os personagens não são interessantes, não são cativantes, não convencem, não criamos empatia por ninguém, são artificiais. Temos algumas atuações robóticas, preguiçosas, desinteressadas, desprovidas de atenção e preparo.
Alex Wolff (Pig e Hereditário) e Thomasin McKenzie (Jojo Rabbit e Ataque dos Cães) foram os únicos que me chamaram um pouco da atenção, os únicos que ainda conseguiram se destacar em meio à um elenco que entregaram atuações tão genéricas.
Um ponto que eu achei bastante interessante: a forma como o longa nos traz uma crítica social direta às pessoas que sempre vivem preocupadas com o corpo, com a beleza jovial, colocando um contraponto com uma personalidade mais velha, mais cansada, que necessariamente não tem mais essas preocupações. Também temos uma reflexão sobre às pessoas que vivem querendo que o tempo passe cada vez mais rápido, em contrapartida temos aquelas que vivem presas aos seus passados. De fato o longa de Shyamalan aborda algumas camadas do ser humano que nos faz pensar e refletir de várias formas - este é um dos poucos pontos positivos no filme!
Infelizmente "Tempo" não funcionou pra mim, não consegui comprar toda a ideia vendida no filme e o considero bem mediano, de mediano pra ruim (pegando leve). M. Night Shyamalan veio de duas obras que eu considero boas, mas infelizmente ele volta a cometer os mesmos erros cometidos lá atrás - uma pena!
"Tempo" é aquele típico filme que tem uma premissa ótima e um final péssimo.[27/05/2022]
Moonfall: Ameaça Lunar
2.4 550 Assista AgoraMoonfall - Ameaça Lunar (TEM SPOILERS)
"Moonfall" é co-escrito, dirigido e produzido por Roland Emmerich, que ainda conta com às participações de Spencer Cohen (Extinção) e Harald Kloser (2012) assinando o roteiro. O filme é uma coprodução americana, britânica e chinesa estrelado por Halle Berry, Patrick Wilson, John Bradley, Michael Peña, Charlie Plummer, Kelly Yu e Donald Sutherland.
O longa nos conta a estória de uma força misteriosa que tira a Lua de sua órbita fazendo com que ela se mova em direção à Terra, prestes a causar a extinção de toda humanidade. Apenas algumas semanas antes do impacto, a NASA envia dois ex-astronautas, Jo Fowler (Halle Berry) e Brian Harper (Patrick Wilson), juntamente com o teórico da conspiração K.C. Houseman (John Bradley) em uma difícil missão ao espaço; eles tem que deixar suas famílias para trás e arriscar pousar na superfície lunar para salvar o planeta da extinção.
Na minha opinião o Roland Emmerich sempre foi um diretor fraquíssimo, limitadíssimo, que já nos entregou várias bombas ao longo da sua carreira cinematográfica - bombas estas como "O Dia Depois de Amanhã", "2012", "10.000 A.C." e "O Ataque". Emmerich até pode ter umas produções ou outras que já agradaram ou até funcionaram lá atrás em suas épocas como "Soldado Universal", "Independence Day" e "Godzilla", mas no saldo total é só catástrofes (literalmente). Pra mim o único filme que ainda se salva dentro da sua filmografia é "O Patriota", que de fato é uma belíssima obra.
"Moonfall" é o típico filme que você não precisa assistir pra saber que é ruim, mas eu vou ser bem sincero, dessa vez o Emmerich me surpreendeu, pois seu filme não é apenas ruim, é uma das coisas mais bizarra, grotesca, pavorosa, vergonhosa, vexatória, mal feita que eu já assisti em toda a minha vida.
Roland Emmerich é de fato o diretor das grandes catástrofes, mas ele leva esta colocação muito ao pé da letra em seus filmes, pois quando ele quer fazer uma bomba ninguém consegue superá-lo.
"Moonfall" é de fato uma produção escapista, aquela descompromissada com a realidade, despretensiosa com o nosso imaginário, que tem uma premissa até interessante e até pode ser funcional, dado à estória que o enredo quer nos contar, sobre quais seriam os reais motivos que levaram a lua a sair de órbita, e claro, a descrença de todos inicialmente, e é exatamente desse ponto que o filme parte, como mais uma produção do Emmerich que aborda uma grande catástrofe. Porém o roteiro parte do nada para lugar nenhum ao descambar para a ficção científica em querer abordar contatos com seres alienígenas, como uma espécie de IA, que eles acreditam que possam ter sido os construtores da lua. O roteiro tenta construir toda uma abordagem em cima das catástrofes e do possível extermínio humano para nos elucidar que tudo que está acontecendo foi causado por uma guerra intergaláctica que começou há bilhões de anos, por isso aquele enxame alienígena (que mais pareciam as Sentinelas do Matrix) estavam vasculhando todo o universo em busca da única lua que escapou deles. É sério mesmo? Quer dizer que este era o grande plot do filme? Os grandes responsáveis por a lua ter saído de órbita foram os alienígenas? MEU DEUS!!!
O último ato do filme é ainda pior (como se isso fosse possível), onde o filme cai na pieguice, no melodrama, usando frases de efeitos para querer de alguma forma nos emocionar, ou passar aquela história bonitinha de um final feliz pelo simples fato da pessoa que sempre foi taxada de fracassada dar a sua vida em prol da salvação de toda humanidade - ai que fofinho, caiu um cisco no meu olho!
Sem falar na forçada de barra do roteiro em querer criar alguns arcos pessoais de seus personagens, querendo de alguma forma nos expor os seus problemas familiares, como uma forma de humanizá-los, como se isso fosse despertar a nossa simpatia por eles. Muito pelo contrário, não simpatizei com ninguém, não torci por ninguém, todos os personagens criados são simplesmente péssimos, horrorosos, que ao final eu estava torcendo para a lua de fato se chocar com a terra e todos morrerem.
"Moonfall" não funciona como Sci-fi, não funciona como uma aventura espacial, não funciona como uma abordagem de uma grande catástrofe, não funciona como drama, não funciona como ação, não funciona como absolutamente nada, atira para todos os lados e ao final não se decide o que de fato queria nos passar. Um roteiro absurdamente horroroso, pavoroso, parece que foi escrito por amadores, iniciantes, completamente falho e totalmente perdido. Eu fico me perguntando como o Roland Emmerich conseguiu a proeza de alguém se interessar em financiar esta bomba, e olha que estamos falando de uma produção orçada entre US$ 138 a 146 milhões de dólares, o que o tornou um dos filmes produzidos independentemente mais caros de todos os tempos. Porém o tombo veio e foi grande, pois o fiasco de Emmerich fracassou nas bilheterias e arrecadou apenas US$ 57 milhões em todo o mundo.
Tecnicamente o filme de Emmerich é desastroso.
A produção abusou tanto do CGI que chegava a incomodar em várias partes, e detalhe, um CGI completamente péssimo, horrível, que mais parecia uma produção amadora. Os próprios efeitos especiais eram muito digitalizados, onde tinham cenas que você via claramente que tudo não passava de um mero cenário computadorizado com um gráfico limitadíssimo. O longa tem uma edição péssima, muitos cortes, muitas colagens de cenas, como se alguma coisa não estivesse saindo da forma que pretendiam e decidiam consertar com cortes. Uma fotografia feia, escura, cega, faltou um tratamento digital mais caprichado, para esteticamente ficar uma fotografia mais atrativa. Aquela mesma trilha sonora cansativa dos filmes de catástrofes, que também faltou uma repaginada, uma composição melhor, que não se tornasse repetitiva em praticamente 100% do filme.
Sobre o elenco eu vou me abster de fazer um comentário mais detalhado.
Quero apenas deixar algumas perguntas em aberto: como a Halle Berry, o Patrick Wilson e o Donald Sutherland aceitaram participar dessa bomba? Será que eles leram o roteiro? será que eles gostaram dos seus personagens ao final?
Pra mim não salva absolutamente ninguém do elenco, são atuações completamente genéricas e limitadas.
Ah Halle Berry, eu gosto muito de você, te acompanho há tantos anos, o que você está fazendo da sua carreira.
Roland Emmerich consegue se superar mais uma vez, ao nos entregar um filme que possivelmente entra no hall das piores produções já feitas na história do cinema. De fato ele já fez muitas bombas, mas acredito que "Moonfall" está no topo como um dos seus piores filmes, se não for o pior. Isso deveria ser proibido de ser exibido nos cinemas. Uma coisa vergonhosa, vexatória, absurda, horrível, péssima, um completo desrespeito, uma afronta, um desserviço à qualquer gênero cinematográfico e principalmente ao Sci-fi.
Parabéns Roland Emmerich! [21/05/2022]
Os Imperdoáveis
4.3 655Os Imperdoáveis (Unforgiven)
"Os Imperdoáveis" foi lançado em 1992, dirigido, produzido e estrelado por Clint Eastwood no papel principal e escrito por David Webb Peoples (que escreveu o filme indicado ao Oscar 'The Day After Trinity' de 1981, e co-escreveu Blade Runner, de 1982, com Hampton Fancher). O filme conta a história de William Munny (Eastwood), um velho fora-da-lei e assassino de aluguel que assume mais uma missão, como um caçador de recompensas, anos depois de ter se aposentado e voltado para a agricultura e a vida na fazenda. O filme é co-estrelado por Gene Hackman, Morgan Freeman e Richard Harris.
Clint Eastwood é um dos maiores ícones da história da sétima arte, um mestre, um gênio, um dos maiores realizadores e um dos maiores cineastas que já passou por esta terra. Ele fez história a partir da década de 50 como uma das estrelas máximas de Hollywood, sendo que em 1964 ele passou a trabalhar com o mestre dos westerns, o cineasta italiano Sergio Leone, se tornando o seu legítimo pupilo, o seu garoto de ouro. Eastwood dirige, produz, roteiriza, atua e compõe a trilha sonora de várias das suas obras ao longo da sua vasta, respeitada e premiada carreira. Já nos entregou atuações icônicas, obras-primas históricas e memoráveis como "O Estranho Sem Nome", "O Cavaleiro Solitário", "As Pontes de Madison", "Sobre Meninos e Lobos", "Menina de Ouro", "Gran Torino" e "A Troca".
"Os Imperdoáveis" é uma das maiores obras-primas da história do cinema, um dos maiores westerns de todos os tempos, que juntamente com o filme "Dança com Lobos", são as duas melhores obras-primas do faroeste dos anos 90 que eu já assisti na vida. Uma verdadeira pérola cinematográfica, uma verdadeira obra de arte do cinema, o último grande faroeste, o último western a ganhar o Oscar de Melhor Filme, a obra-prima do mestre Eastwood que ficou marcada como a despedida com chave de ouro do gênero que o consagrou.
O maior trunfo do filme está exatamente na forma como ele nos retrata a figura do cowboy, do pistoleiro, pois teoricamente os faroestes nos traria as velhas histórias sobre a sede de vingança, com pistoleiros de mira infalível e moral dúbia salvando damas em perigo ou até mesmo as cidades, sempre envolto nos maiores tiroteios. Aqui temos uma verdadeira quebra de arquétipos, de estereótipos, uma verdadeira desconstrução daquela imagem clássica do estilo western, uma desmistificação daquela imagem contundente do cowboy que sempre age em prol do heroísmo.
"Os Imperdoáveis" é um filme revisionista, intrínseco, mais cru, algo mais realista e mais pesado. Pois de fato temos aquelas figuras dos pistoleiros semi-aposentados que trabalham como caçadores de recompensas, como matadores de aluguel, mas nos confrontando diretamente como um desmistificador do Velho Oeste, cuja violência nem sempre é vista como algo glorioso e se manifesta como reação da insegurança dos cowboys ou quase sempre pelo efeito das bebidas - como o próprio discurso feito pelo Munny. Também temos a quebra dos estereótipos sobre a posição feminina, pois de certa forma elas se impõe e desacata a decisão colocada pelo Xerife. E até mesmo às alusões aos antigos heróis que eram celebrados pela cultura popular dos westerns, de certa forma até os colocando como farsantes ou algo do tipo - como a própria figura do English Bob, personagem do Richard Harris.
A figura do William Munny é a fiel descaracterização do cowboy, do pistoleiro do Velho Oeste, pois ele já está aposentado há 11 anos e teve uma verdadeira redenção quando conheceu a sua esposa já falecida, Cláudia, com quem teve dois filhos. Ou seja, temos também uma abordagem sobre o drama de Munny e todos os seus traumas e seus fantasmas do passado. Acredito que se deva a isso a sua principal motivação em aceitar o trabalho de caçador de recompensas, e até financeiramente, pela criação dos seus filhos.
Uma atuação soberba, esplendorosa, estratosférica, magnífica de Clint Eastwood. É realmente impressionante e assustador o poder de atuação que este homem tem, é algo surreal, pois em todos os seus filmes eu me pego boquiaberto diante da magnitude do seu trabalho e sua entrega no personagem - incrível!
O elenco de "Os Imperdoáveis" é uma obra-prima dos cinemas, pois juntar em um mesmo filme as lendas como Clint Eastwood, Gene Hackman, Morgan Freeman e Richard Harris, no mínimo é merecedor de uma salva de palmas por uns 10 minutos.
O lendário Gene Hackman está incrível na pele do Xerife Little Bill. Aqui temos mais uma desmistificação da figura de um Xerife, do homem que impõe às leis, que segue regras, pois Little Bill era totalmente ao inverso de tudo isso, ele fazia às suas próprias leis e às impunha à todos da sua forma violenta e cruel. Que atuação do Gene Hackman, Ave Maria, Jesus Cristo. Little Bill foi um personagem que lhe caiu como uma luva, e ele alcançou uma perfeição absurda, sempre se impondo à todos como aquele ser soberano, com suas expressões sádicas, que usava e se aproveitava do seu poder de justiça para aplicar às regras da sua maneira - completamente magnífico a atuação de Gene Hackman!
Morgan Freeman é outro gentleman da sétima arte, outro que nos entregou mais uma atuação absurda como o velho parceiro de Munny, Ned Logan. Logan era aquele braço direito de Munny, seu fiel escudeiro, porém, ele também já mostrava sinais de cansaço, de uma vida sofrida, e mesmo assim ele se vangloriava como sendo um ótimo atirador de rifles, mesmo que ultimamente ele se renegava a puxar o gatilho.
O icônico Richard Harris (já falecido) fez um personagem completamente inusitado, o English Bob, que entrou em um confronto direto com o Xerife Little Bill quando adentrou em sua cidade. Um personagem muito bom, muito interessante, mas que de certa forma não foi aproveitado como realmente deveria, ou poderia.
O jovem ator Jaimz Woolvett estava fazendo a sua estreia nos cinemas, e de cara já contracenou com duas lendas como Freeman e Eastwood, mas ele deu conta do recado direitinho, conseguiu impor o seu inexperiente e desajeitado personagem,The Schofield Kid.
A atriz Frances Fisher fez Alice, a prostitua chefe, que sempre entrava em conflitos com o Xerife e qualquer um para defender às suas meninas, tanto que ela não aceitou a pena imposta pelo o Xerife referente ao cowboy que cortou o rosto da prostituta Delilah Fitzgerald (Anna Levine). Outra atriz que entregou uma ótima personagem, muito doce, muito delicada, que dava vontade de cuidar dela, literalmente - aquela cena que ela conversa com o Munny é o seu ápice no filme.
"Os Imperdoáveis" possui um roteiro brilhante, de uma inteligência absurda, muito bem escrito, muito bem idealizado. Tem uma narrativa muito fluida, que transcorre com muita inteligência entre o conceito de começo, meio e fim. Possui diálogos envolventes, pertinentes e prazerosos. Uma fotografia majestosa, que se destacava como muita dignidade entre os cenários mais belos do longa. A trilha sonora e os arranjos foram do compositor já falecido Lennie Niehaus, mas o tema principal foi composto por Clint Eastwood - uma trilha sonora completamente impecável, que nos remetia diretamente aos clássicos dos westerns. A própria direção do Eastwood é perfeita, feita com muita dedicação e com muita competência, daquelas que só um gênio como ele consegue nos entregar. Assim como a direção de arte, cenografia, ambientação, designer, decoração, montagem, edição, som...tudo 100% perfeito, sem um erro - estupendo!
"Os Imperdoáveis" foi indicado a nove Oscars e foi premiado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Gene Hackman) e Melhor Montagem (Joel Cox). Eastwood foi indicado ao Oscar de Melhor Ator por sua belíssima atuação, mas perdeu para Al Pacino por "Perfume de Mulher". O filme foi o terceiro western a ganhar o Oscar de Melhor Filme, após "Cimarron" (1931) e "Dança com Lobos" (1990).
De fato o longa de Eastwood foi uma grande homenagem aos faroestes das grandes décadas dos westerns. Uma verdadeira carta de amor aos seus mestres, aos seus diretores e aos seus mentores Sergio Leone e Don Siegel, como uma espécie de agradecimento, de reconhecimento por tudo que lhe foi ensinado e lhe foi passado ao longa da sua vida cinematográfica. Como podemos comprovar claramente nos créditos finais com a linda mensagem: "Dedicated to Sergio and Don".
"Os Imperdoáveis" ainda possui uma cena final épica, icônica, apoteótica, umas das maiores maravilhas que meus olhos pode presenciar ao longo de toda a minha vida cinéfila.
Um Clássico. Uma Lenda. Uma Obra Épica. Uma Obra de Arte. Uma Pérola Cinematográfica. Uma Verdadeira Obra-Prima dos Cinemas. [20/05/2022]
O Homem do Norte
3.7 945 Assista AgoraO Homem do Norte (The Northman)
"The Northman" é dirigido por Robert Eggers, que co-escreveu o roteiro com o roteirista Islandês Sjón. O enredo segue a mesma história da tragédia de 'Hamlet', o nome do protagonista, Amelth, é um anagrama de 'Hamelt' e foi baseado principalmente na lenda de Amleth, escrita pelo historiador dinamarquês Saxo Grammaticus, conhecida como a inspiração direta para a criação da clássica peça 'Hamlet', de William Shakespeare. O filme é estrelado pelo co-produtor Alexander Skarsgård, Nicole Kidman, Claes Bang, Anya Taylor-Joy, Ethan Hawke, Björk e Willem Dafoe. A trama segue Amleth, um príncipe viking que parte em uma missão para vingar o assassinato de seu pai e salvar a sua mãe.
O jovem diretor Robert Eggers estreou em 2015 com o ótimo filme "A Bruxa", uma espécie de terror psicológico simplesmente horripilante. Logo após ele trouxe mais uma ótima obra, "O Farol" em 2019, um terror suspense muito intrigante. Eggers sempre esteve ligado ao suspense e ao terror, ou seja, dessa vez ele sai da sua zona de conforto ao nos entregar o seu projeto mais ambicioso, mais caro, mais longo, um verdadeiro épico viking.
O novo longa de Eggers é muito ambicioso e muito centrado em busca do seu objetivo maior, pois aqui temos um filme viking bárbaro, uma história de vingança e brutalidade que flerta com o misticismo, uma narrativa de amor e traição totalmente imergida na cultura nórdica na idade do ferro da Escandinávia. Eggers se mostra um ótimo cineasta ao nos trazer uma película baseada em uma aventura histórica, que mistura a mística pagã com o principal deus nórdico Odin, mas em contrapartida nos expondo um roteiro que direciona a sua história e navega no drama, na ação, no romance, na barbárie, usando como pano de fundo a violência extrema e a brutalidade grotesca da era viking - é uma sacada muito boa!
Um dos pontos cruciais e que mais me chamou a atenção no filme é de fato a violência dos confrontos, pois para um filme viking que se passa na virada do século 10 isso era mais do que natural, mais do que normal. De fato Eggers não poupou o espectador em nenhuma cena, entregando cenas bárbaras e sem nenhum pudor, com uma violência extrema e grotesca. Os confrontos e os embates eram trazidos com uma brutalidade absurda, uma sanguinolência pesada, uma carnificina bizarra, você conseguia sentir a violência, a crueldade e a dor no fio da espada quando adentrava e penetrava no fundo das entranhas, deixando os locais completamente ensanguentados. Eu considero um ponto muito positivo no longa, um grande acerto de Eggers, em retratar fielmente e verdadeiramente os confrontos brutais da era viking sem nenhum receio, sem nenhum pudor, o que poderia fatalmente incomodar grande parte do público que não goste de violência extrema da forma que foi demonstrada.
Outro ponto positivo no filme é a direção de Robert Eggers, muito ajustada, muito competente, muito segura, principalmente por ter cenas que são filmadas em plano-sequência, o que exige um forte trabalho de coreografia e claro, da direção. A fotografia de Jarin Blaschke (grande parceiro de Eggers em seus dois filmes anteriores) é completamente fiel à temática viking, se destaca com perfeição entre as cenas das batalhas brutais, e nos confronta diretamente com um tom denso, morto, acinzentado e escuro. A trilha sonora de Robin Carolan é bem modesta, bem mediana, na verdade eu senti falta exatamente de uma trilha sonora mais envolvente, mais relevante, que estivesse mais incorporada no filme. A direção de arte está muito fiel, esteticamente nos traz cenários bem compostos e visualmente perfeitos com a temática do filme.
Apesar de todos os elogios pelo trabalho apresentado por Robert Eggers, devo confessar que o seu roteiro não foi bem desenvolvido, pois temos um início bem morno e aos pouco ele vai engrenando e se achando dentro da trama, mas de certa forma o ritmo cai bastante em algumas partes e o roteiro embarriga em outras. O que eu acho que poderiam ter dado uma atenção mais caprichada, mais minuciosa, mais enxuta, o que de certa forma ajudaria bastante no ritmo vagaroso de algumas partes do filme. Por outro lado temos uma história bem comum, bem corriqueira, aquela típica guerra em família, onde o irmão mata o irmão e fica com a cunhada, que por sua vez o sobrinho quer vingança por parte do pai e libertar a mãe. Nada de novo, nada de surpreendente, nada que já não tenhamos vistos inúmeras vezes. Tudo acontece exatamente como está descrito na sinopse, tudo muito normal - nesse sentindo eu acho que faltou mais um pouquinho de ambição!
Todo o elenco começa em um ritmo lento e vai se engrandecendo com o passar do tempo.
Alexander Skarsgård (do recente Godzilla vs Kong) é Amleth, o príncipe Viking guerreiro. Uma escolha perfeita para incorporar na pele do viking sedento por vingança. Uma atuação forte, aguerrida, destemida, onde ele nos impressiona com a demonstração da sua ira, do seu ódio, do seu desejo insaciável por vingança a qualquer preço. Uma bela atuação de Alexander Skarsgård.
Anya Taylor-Joy (de Vidro e Fragmentado) é uma belíssima atriz, ela é linda, talentosa, dedicada, com um grande potencial, que nos foi apresentada exatamente no filme "A Bruxa", fazendo um papel muito forte e já se destacando em seu primeiro trabalho cinematográfico. Eggers foi o grande responsável em praticamente lançar e alavancar a sua carreira. Novamente trabalhando com o Eggers a Anya faz um trabalho impecável como a Olga, uma atuação fina, certeira, primorosa, que tem um começo mais morno, mas com o passar do tempo ela cresce e começa a dividir todo o protagonismo, elevando o nível de sua atuação principalmente no ato final - perfeito, mais um belíssimo trabalho entregue por esta jovem que já é realidade e tem um futuro cada vez mais promissor!
Nicole Kidman (que recentemente concorreu ao Oscar por Being the Ricardos) nos surpreende mais uma vez, é impressionante, essa mulher parece vinho, vai ficando mais velha e vai ficando cada vez melhor. Mais uma grande atuação da Nicole como a Rainha Gudrún, mãe de Amleth, que me impressionou e me deixou boquiaberto com a sua virada na trama. Willem Dafoe (que trabalhou com Eggers em O Farol) segue a mesma linha da Nicole, é impossível ele apresentar um trabalho ruim ou uma atuação ruim, um completo gênio da sétima arte. Dafoe tem pouco tempo de tela, mas pra ele isso já é mais do que suficiente para nos maravilhar e nos agraciar com todo o seu talento na pele do Heimir, o bobo da corte.
Ethan Hawke (do lendário Dia de Treinamento) tem um começo morno porém muito interessante e intrigante, nos entrega uma atuação que condiz diretamente com o seu personagem Rei Aurvandill, pai de Amleth, que é peça-chave para a toda história. Claes Bang (Tudo Pela Arte) também tem um começo morno, porém depois de um certo tempo ele tem uma virada na trama e no seu personagem Fjölnir, tio de Amleth, que de certa forma funciona perfeitamente com o que lhe é designado. Claes é o principal vilão, o principal antagonista de toda a história (se é que podemos considerar assim), e ele entrega uma atuação bastante pertinente, ficando ainda melhor no embate final com o personagem do Alexander Skarsgård. A cantora Björk faz a Seeress, a vidente tradicional da cultura viking. Ela está com um figurino impecável, uma maquiagem pesada, que a deixava praticamente irreconhecível - um verdadeiro show!
Podemos considerar que Robert Eggers é um nome certeiro dentro da indústria hollywoodiana, e que seus três trabalhos são muito bons e estão em um altíssimo nível, pois até agora ele ainda não fez um filme ruim e nem mediano. Em "The Northman" ele sai da sua zona de conforto e se dá muito bem, nos entrega um épico viking em grande estilo, que ainda termina com uma cena final em um clima épico e apoteótico. [14/05/2022]
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraParasita (Inglês: Parasite ; Coreano: 기생충 ; Hanja: 寄生蟲 ; RR: Gisaengchung)
'Parasita' é um filme sul-coreano de 2019, dirigido por Bong Joon-ho (do filme original Netflix Okja), que co-escreveu o roteiro com Han Jin-won. O longa segue uma família pobre que planeja ser empregada por uma família rica e se infiltrar em sua casa se passando por indivíduos não relacionados e altamente qualificados.
O longa sul-coreano tem um roteiro muito interessante e abrangente aos nos apresentar diretamente uma crítica ácida sobre as diferenças entre as classes sociais, nos mostrando uma forma seca e crua do ser humano. É interessante notar como o filme tem um poder de navegar no suspense, no drama, no terror, no humor negro, ao mesmo tempo que contrapõe com uma comédia, uma sátira, de uma forma tragicômica. Outro ponto muito interessante está no contraponto que o diretor Bong Joon-ho expõe em sua visão, já iniciando o filme nos apresentando a casa da família pobre, que fica em uma espécie de porão na rua, confrontando diretamente com a mansão da família rica, que foi construída por um famoso arquiteto.
Parasita: Biologia...diz-se de um organismo que vive de um outro organismo, dele obtendo alimento e não raro causando-lhe dano. Medicina...diz-se de gêmeo que tira seu sustento de outro quase normal. Também podemos associar como uma espécie de ser vivo de menor porte que vive associado a outro ser vivo de maior porte, à custa ou na dependência deste.
Parasita: uma pessoa que não trabalha, ociosa e indolente e que vive à custa alheia; chupa-sangue, comedor, desfrutador, esponja, gandulo, gaudério, godero, inútil, sanguessuga, vagabundo e zângano.
O título do filme é completamente magistral, uma sacada de mestre, pois como podemos notar, existem inúmeros significados para um parasita, ou para uma pessoa parasita. Exatamente este é o ponto a ser explorado pelo filme, a forma como uma pessoa parasita se propaga, pois na minha opinião todos nós temos ou fomos de certa forma um parasita em algumas circunstância na vida, por mais que você possa achar que não, mas de alguma forma você já agiu como um parasita.
'Parasita' também pode ser interpretado como uma crítica, uma sátira, que está ligada diretamente ao dinheiro, ou seja, a sua abundância e também a sua ausência, lado a lado. Tudo isso vai ficando mais evidente através da narrativa, que vai esclarecendo e confundindo o espectador a cada cena. Pois temos a família rica que é ingênua e a família pobre que são os humildes, mas até que ponto podemos colocar que a família rica são os mais ingênuos e a família pobre são os mais humildes? No caso da mãe da família rica: ela é rica e gentil? Ou ela é gentil porquê é rica? No caso da família pobre: eles são humildes porquê são pobres? Ser pobre é sinônimo de humildade? O que é ser humilde pra você? O filme levanta várias perguntas que você fará à você mesmo, é incrível! Ao mesmo tempo que o filme também tem o dom de nos explicitar sobre a pobreza extrema e a riqueza ostentatória ali frente a frente.
Outro ponto: como o enredo vai nos estabelecendo sobre os personagens da família pobre se infiltrando na casa e na vida da família rica, seria muito óbvio assimilarmos como se a família pobre fossem de fato os parasitas da história. Porém, se você olhar para o outro lado, pode se dizer que a família rica também pode ser considerada como parasitas em termos de trabalhos, pois eles não podem nem lavar a louça, não podem dirigir sozinhos, não podem cuidar dos seus filhos, eles sugam o trabalho da família pobre o tempo todo. Então, ambos são parasitas.
'Parasita' é um filme metafórico, que faz alusões e menções em vários sentidos.
Por exemplo: a alusão entre a classe rica e a classe pobre...quando a chuva cai e desce pelo bueiro na cidade chegando até a parte do porão, onde a família pobre mora, ou seja, a forma como a câmera nos mostra o rico na parte de cima da cidade e vai descendo lentamente para o pobre na parte de baixo, logo abaixo dos bueiros. A forma como a forte chuva é recebida pela esposa da família rica, como uma benção divina, como uma forma de limpar o céu e o ar seco da cidade - ao mesmo tempo que para a família pobre a chuva é algo devastador, pois inundam às suas casas e os obrigam a irem para um abrigo.
Metaforicamente temos a parte onde o pai da família pobre se incomoda com o inseto que estava se aproveitando das migalhas de pães na mesa, onde o próprio chama o inseto de nojento e o arremessa para longe dali. Claramente um parasita se incomodando com um outro parasita. Temos uma alusão à classe pobre sobre o cheiro que sempre estava entranhado em todos os membros da família pobre, como se pobreza fosse uma marca, tivesse um cheiro próprio, fosse algo pavoroso, ou até mesmo ser da classe pobre é ser considerado uma pessoa que sempre carrega consigo um mau odor impregnado em sua pele. Como a menção feita pelo pai da família rica, quando ele colocou que aquele mau odor da família de empregados era o mesmo cheiro que sempre era exalado pelas pessoas nos metrôs da cidade.
A direção de Bong Joon-ho é muito competente, pois é incrível como os seus takes e seus focos também fazem parte de toda história. A maneira como a câmera passeava em um determinado local nos elucidava exatamente sobre o que aquela cena queria nos propor. Como por exemplo a cena que o garoto pobre se encanta com a mansão, o seu espanto ao adentrar aquele ambiente pela primeira vez em sua vida. Era como se a câmera tivesse vida própria, pois em várias cenas ela praticamente andava sozinha, nos confrontando entre o ambiente inóspito do local onde vivia a família pobre, com o contraponto da mansão luxuosa da família rica, cuja mansão também guardava os seus segredos e seu ambiente inóspito logo abaixo em seu porão.
A trilha sonora do longa é muito boa e muito bem destacada ao longo da trama. Uma trilha sonora penetrante, profunda, intrigante, que acompanhava muito bem cada passo, cada acontecimento, tanto pelo lado bom quanto pelo lado ruim - a trilha sonora literalmente nos incomodava.
Em questões de elenco não temos muito o que se destacar. Realmente o elenco de 'Parasita' é bom e bastante funcional dentro do que o filme de fato pedia. Mas pra mim o filme nos ganha mais pelo roteiro do que pelo elenco, apesar de todos manterem um certo carisma e uma certa sintonia.
Song Kang-ho (Kim Ki-taek, o pai da família pobre) é bom, entrega um papel decente. Woo-sik Choi (Ki-woo, o irmão) é um dos mais carismático em cena, nos ganha exatamente nesse quesito. Park So-dam (Ki-jung, a irmã) além de linda é uma atriz muito boa, a que eu mais gostei em cena, ela é de longe a melhor de todo o elenco. Jang Hye-jin (Chung-sook, a mãe) é a mais mediana entre todo o elenco. Lee Sun-kyun (Mr. Park) e Cho Yeo-jeong (Mrs. Park) são os pais da família rica. Ele é mais comedido em cena e se destaca pouco, já ela é um pouco melhor nas cenas mais cômicas, aquela sua ingenuidade era seu ponto alto da atuação. Lee Jung-eun (Moon-gwang, a governanta) está bem, porém ela ganha mais relevância e se destaca mais para o final do filme. Park Myung-hoon (Geun-sae, o marido da governanta que vivia no porão) faz um ótimo personagem, ele faz bem com seu pouco tempo de tela e se destaca notavelmente na parte final da festa de aniversário.
Um ponto que eu considero como uma derrapada do filme está exatamente na parte final, mais precisamente na cena do aniversário e seus acontecimentos. Eu achei um tanto quanto forçada esta cena, acredito que não precisaria tomar o rumo das mortes gratuitas, por mais que o roteiro lhe desse esta opção dado aos acontecimentos passados durante à trama. Mas eu achei que esta parte foi usada como uma mera válvula de escape para compor um final para história. Até pode ser considerada como uma parte importante dentro do roteiro, se de fato você considerar a história e seus acontecimentos como um todo - até ok! Mas eu achei um pouco desnecessário seguir por este rumo.
'Parasita' ganhou quatro prêmios no Oscar 2020: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Longa-Metragem Internacional, tornando-se o primeiro filme de língua não inglesa a ganhar o Oscar de Melhor Filme. 'Parasita' é o primeiro filme sul-coreano a receber o reconhecimento do Oscar, além de ser um dos três filmes a ganhar a Palma de Ouro e o Oscar de Melhor Filme, a primeira conquista desse tipo em mais de 60 anos. Ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e o Prêmio BAFTA de Melhor Filme Não em Língua Inglesa, e se tornou o primeiro filme de língua não inglesa a ganhar o Screen Actors Guild Award de Melhor Performance de um Elenco em um filme. Um fato completamente histórico para o filme sul-coreano.
[Assistido nos cinemas em 15/02/2020 / Reassistido em 13/05/2022]
Batman
4.0 1,9K Assista AgoraThe Batman
O mais novo "Batman" é dirigido por Matt Reeves (Planeta dos Macacos: O Confronto e A Guerra), que escreveu o roteiro com Peter Craig (Jogos Vorazes: A Esperança Parte 1 e O Final). É estrelado por Robert Pattinson como Bruce Wayne / Batman, ao lado de Zoë Kravitz, Paul Dano, Jeffrey Wright, John Turturro, Peter Sarsgaard, Andy Serkis e Colin Farrell. O longa nos mostra uma nova história do Batman, que luta contra o crime em Gotham City há dois anos, descobrindo a corrupção e buscando a vingança, enquanto persegue o Charada (Paul Dano), um enigmático serial killer que tem como alvo a grande elite de Gotham.
De antemão já adianto que este filme do "Batman" junto com "Batman: O Cavaleiro das Trevas", do Nolan, são os dois melhores filmes do Homem-Morcego que eu já assisti em toda a minha vida.
Realmente não é nada fácil contar um nova história do Batman hoje em dia, visto que o super-herói já teve inúmeras adaptações para as telonas ao longo desses quase 60 anos. Foi um desafio muito grande para o diretor Matt Reeves e o roteirista Peter Craig, mas eu devo admitir que eles mandaram super bem, fizeram um trabalho completamente fantástico e satisfatório, beirando a perfeição. O novo "Batman" é incrivelmente bom, mais uma vez a DC/Warner acertou a mão (como fez em Mulher-Maravilha e Coringa), e olha que não é sempre que isso acontece, pois ao mesmo tempo que os studios nos entregam verdadeiras pérolas das adaptações das HQs, também temos diversas bombas (olá Liga da Justiça).
Matt Reeves nos traz um Batman diferente, totalmente sombrio, com uma pegada mais dark, mais obscura, mais mórbida, a própria Gotham City está repaginada e imersa nesse clima gótico, tenebroso, denso, escuro, o que nos dá uma dimensão do que esperar do novo protagonista. Exatamente nesse mesmo clima que entra o nosso protagonista, pois aqui temos uma nova versão do Batman, dessa vez mais frio, mais introspectivo, mais tenebroso, cada vez mais o Cavaleiro das Trevas, com um ar melancólico e depressivo mas sempre brutal e implacável.
O próprio filme nos é apresentado em praticamente 100% do seu tempo em um estilo mais sombrio e obscuro, o que favorece diretamente o Batman, pois aquela Gotham City mais escura e com a chuva forte caindo, e o personagem aparecendo de fundo com sua nova armadura escurecida e aquele seu ar mórbido, é uma cena que podemos chamar de obra-prima das adaptações (como várias cenas que tivemos ao longo da trama e principalmente a cena inicial da primeira aparição do Homem-Morcego).
O roteiro é outro ponto que me agradou muito!
Achei um roteiro bem pensado, bem idealizado, em decidir seguir por uma lado mais investigativo e não mergulhar na ação desenfreada, o que me remete diretamente em filmes como "Seven", pelo seu tom investigativo e policial, e até a própria franquia "Jogos Mortais", pelo seu tom mais macabro e sombrio praticado nos assassinatos - eu achei essa ideia genial. Outro ponto que preciso destacar, o direcionamento que a história seguiu desde o seu início, pois este não é um filme de origem mas de amadurecimento, dado aos acontecimentos passados dos pais do Bruce Wayne, e até pelo fato do próprio Bruce Wayne ainda ser jovem e está enfrentando reviravoltas e acontecimentos em sua vida, que até então soava como descobertas para ele, tanto pelo lado dos seus poucos aliados quanto pelo lado dos seus inimigos. Considero um ponto de enorme acerto do longa, pois já somos mergulhados diretamente em uma história do novo Batman em seu segundo ano de luta contra o crime em busca de vingança, e não em um novo início de tudo, nos mostrando mais uma vez todos os seus acontecimentos, como no maçante "Batman Begins" (também do Nolan).
Tenho que exaltar a direção de Matt Reeves, pois temos um trabalho afiadíssimo, muito competente. Todo o trabalho de câmeras de Reeves nos impressiona, desde os focos em ângulos mais aberto da cidade sombria, até os takes mais fechados entre os diálogos das idas e vindas do Batman e da Mulher-Gato. As cenas de lutas foram bem coreografadas e a câmera acompanhava precisamente cada detalhe, isso pode parecer bobo mas conta muito para a nossa imersão em cada cena. A fotografia de Greig Fraser (recentemente campeão do Oscar por Duna) é um trabalho absurdo, estonteante, pois aqui temos uma fotografia mais escura, com um tom mais denso, que nos maravilhou em 100% das cenas. A trilha sonora de Michael Giacchino (Planetas dos Macacos e Rogue One) é delicada e voraz, é tímida e suave, é densa e sombria, praticamente tudo se misturando em diferentes pontos da trama - uma trilha sonora muito bem acertada.
O Batman é o anti-herói mais famoso de todos os tempos e teve diversas interpretações no cinema. Ao todo foram sete versões do Cavaleiro das Trevas em filmes live-action, passando por: Adam West, Michael Keaton, Val Kilmer, George Clooney, Christian Bale, Ben Affleck e chegando no então Robert Pattinson. Pattinson ficou marcado negativamente por "Crepúsculo" ao longo de sua carreira (pelo menos aqui no Brasil), mas isso foi algo que ficou para trás e assim como a Kristen Stewart, que nos entregou o seu papel da vida recentemente em "Spencer", ele nos entrega o seu papel da vida nesse "Batman. Pattinson está magnificamente bem, uma atuação que surpreendeu à todos, muito pelas críticas que ele recebeu em sua escolha para viver o novo Homem-Morcego. Um Bruce Wayne introspectivo, complexo, depressivo, sombrio, macabro, que luta para alcançar respostas infindáveis em suas inúmeras questões familiares. Um Batman frio, tenebroso, brutal, implacável, que enfrenta tudo que pairar em sua frente, que luta por justiças almejando a vingança. Eu achei a atuação do Robert Pattinson perfeita, até mais sendo o Batman do que o Bruce Wayne, ele deu o ritmo certo, deu o tom certo, pra mim entra na lista do top 3 melhores Batmans dos cinemas, junto com Michael Keaton e Christian Bale.
Zoë Kravitz (Mad Max: Estrada da Fúria) é a nova Selina Kyle / Mulher-Gato, esta icônica personagem que já passou pelas mãos de Julie Newmar, Lee Meriwether, Eartha Kitt, Michelle Pfeiffer, Halle Berry, Anne Hathaway e Camren Bicondova. De fato Zoë não é a melhor Mulher-Gato de todas (posto este que sempre foi ocupado pela a minha preferida, Michelle Pfeiffer) mas deu o seu melhor na pele da personagem ao lado do Batman. Ela também tinha seus traumas e questões do seu passado em aberto, e também estava em busca de respostas, sempre se portando com uma figura forte e durona, ao mesmo tempo que se mostrava mais introspectiva e menos carismática, mas no fim eu achei que casou bem com o Batman, ainda não rolou aquela química mas está no caminho certo. Ainda falta um pouquinho para a Zoë Kravitz incorporar esse lado mais 'Bad Ass', mais 'Femme Fatale', que foi uma marca da personagem ao longo das produções passadas, mas com certeza ela vai ganhar bagagem nessa personagem e ainda vai nos surpreender, ela é uma ótima atriz.
Se há um membro da galeria de vilões do Batman que é claramente seu arqui-inimigo, bem, esse é o Coringa. Ainda assim, o Charada é definitivamente um dos oponentes mais valiosos do Homem-Morcego, com seu intelecto e estratégias muitas vezes provando ser um verdadeiro oponente para o maior detetive do mundo. Um personagem que já foi vivido por ninguém menos que o grande Jim Carrey, dessa vez dá espaço para o sempre genial Paul Dano (12 Anos de Escravidão), que também impõe a sua marca no personagem. Gostei bastante do Paul como Charada, ele soube ditar o ritmo certo do seu personagem metódico, sempre em uma medida correta e sem exagerar, o que poderia facilmente o transformar literalmente em uma piada. Porém ele me ganhou bastante com sua atuação, principalmente nas últimas partes do filme, onde eu acho que ele ganhou ainda mais relevância.
Colin Farrell (Demolidor - O Homem Sem Medo) é outro que nos chama bastante atenção, com seu enigmático Pinguim, papel que também já foi eternizado pelo icônico Danny DeVito. Destaque para o belíssimo trabalho de maquiagem feito no Colin Farrell, o deixando mais envelhecido e praticamente irreconhecível (tem um vídeo dessa transformação que é bizarro). Jeffrey Wright (007 - Quantum of Solace) como o inseparável James Gordon, muito bem no papel, deu uma grande contribuição para à trama sempre ao lado do Batman. John Turturro (da franquia Transformers) como o meio antagonista Carmine Falcone, que possui um fato curioso na história de vida da Selina Kyle. Outro que esteve bem, Turturro tem uma veia mágica para fazer esses tipos de personagens. Andy Serkis (eternamente esnobado pela academia, isso não é um filme é uma constatação) como o eterno mordomo Alfred, papel imortalizado pelo gênio Michael Caine na trilogia Nolan. E completando com Peter Sarsgaard (recentemente esteve em A Filha Perdida) como Gil Colson, que teve uma breve participação, mas sempre de forma imponente.
Realmente "Batman" foi um grande acerto da DC/Warner, um filme que a princípio eu não dava nada, mas me surpreendi positivamente por contar com uma ótima direção, um bom roteiro, ótimos efeitos visuais, uma boa cenografia, uma boa direção de arte, uma linda fotografia, bem montado, bem editado e bem atuado. De fato as quase 3h de duração não me incomodou em nenhum momento, ao contrário, não vi o tempo passar, pois o filme me prendeu em todos os milésimo de segundos.
Agora é aguardar ansiosamente as duas sequências que estão planejadas e as duas séries de televisão spin-off que estão em desenvolvimento para o HBO Max. [29/04/2022]
"I'm vengeance"
As Panteras
3.1 706 Assista AgoraAs Panteras (Charlie's Angels)
"As Panteras" é escrito, produzido, dirigido e atuado por Elizabeth Banks, usando como base a história desenvolvida pelos roteiristas Evan Spiliotopoulos (A Bela e a Fera de 2017) e David Auburn (diretor de A Garota do Parque de 2007). É estrelado por Kristen Stewart, Naomi Scott e Ella Balinska como a nova geração das Charlie's Angels, que estão trabalhando para uma agência de detetives particulares chamada Townsend Agency. O longa é a terceira parte da série de filmes "As Panteras" e serve como uma continuação da história que começou com a série homônima de televisão de mesmo nome de Ivan Goff e Ben Roberts, em 1976, e os dois filmes anteriores do McG, "As Panteras" (2000) e "As Panteras Detonando" (2003).
"As Panteras" foi visto por todo mundo como uma verdadeira representatividade feminina em sua época, tanto pela série de Tv lá nos anos 70 quanto pelos dois filmes lançados nos anos 2000. De fato a série ganhou uma notoriedade e alcançou o seu devido sucesso em sua época, e consequentemente os dois filmes do McG também representaram este 'Girl Power' nos cinemas com o trio icônico e infalível de Cameron Diaz, Lucy Liu e Drew Barrymore (que também esteve presente na produção desse novo filme).
Todos nós sabemos que os dois filmes anteriores de "As Panteras" são um verdadeiro clássico do entretenimento dos cinemas dos anos 2000. Dito isto, a primeira pergunta que me vem na mente é a seguinte: qual a necessidade desse novo filme? Claramente esta nova versão de "As Panteras" é um filme completamente dispensável e totalmente desnecessário, mas como hoje em dia está na moda reviver franquias do passado pra compor uma continuação, ou um remake/reboot, cuja sua finalidade é unicamente lucrar. Mas de fato nem essa finalidade foi alcançada por esta nova versão, visto que o filme teve um fraco desempenho de bilheteria no fim de semana de abertura e foi classificado pelo USA Today e pela Variety como uma das maiores decepções de bilheteria de 2019.
O terceiro trabalho na direção de Elizabeth Banks (anteriormente ela havia dirigido Para Maiores de 2013, e A Escolha Perfeita 2 de 2015) é até esforçado, pois ela trouxe bastante ação, cenas de lutas (destaque para a cena de abertura do filme, que é boa), várias tiradas cômicas, o 'Girl Power' super aflorado, de fato são todos os elementos que constrói o universo de um filme das Charlie's Angels e principalmente de um bom blockbuster. Porém tudo é muito raso, muito vazio, mal feito mesmo, cujo roteiro é bem preguiçoso e se alonga demais, claramente sem a menor necessidade, pois suas 2h é bem desnecessária, serviu apenas para esticar cada vez mais uma história pífia e deixar um roteiro embarrigado e cansativo. O roteiro é tão meia boca que o filme poderia facilmente ter apenas 1h30min, já estaria de bom tamanho.
"As Panteras" sempre representaram o empoderamento feminino nos cinemas, mas aqui forçaram a barra demais. Acho que pelo fato da franquia sempre ter sido protagonizada por mulheres mas nunca dirigida, esse 'Girl Power' contou muito com a entrada da Elizabeth Banks na direção, deixando bem claro o quanto o longa está imergido no feminismo que tomou conta de Hollywood nos últimos anos. Não vejo nenhum problema em um filme demonstrar o empoderamento feminino (acho muito válido), mas desde que não seja confundido com misandria, e de fato não sei se aqui é o caso, mas quiseram exaltar tanto o 'Girl Power' que ridicularizaram os personagens masculinos em simples coadjuvantes totalmente babacas e marionetes.
Achei bem desnecessário o que fizeram com o Charlie ao final do filme, e principalmente na forma como o roteiro utilizou o personagem John Bosley (Patrick Stewart). Mais uma exaltada no 'Girl Power' sobre o tratamento que deram ao personagem do Patrick Stewart - claramente o transformaram em um babaca para enaltecer o elenco feminino. Esse tipo de demonstração do empoderamento feminino que eu acho desnecessário, você não precisa diminuir e até ridicularizar o núcleo masculino para enaltecer o núcleo feminino.
Em questões de elencos temos as duas melhores do filme: Kristen Stewart (recentemente nos entregou a sua melhor atuação da carreira em Spencer) e Ella Balinska (que estará presente na vindoura série Resident Evil da Netflix).
Kristen se encaixou muito bem na personagem Sabina, realmente me impressionou, pois não conhecia esse seu lado badass, femme fatale, que nos demonstrou muito bem logo em sua primeira cena. Balinska deu uma boa forma para a sua personagem Jane, sendo a mais durona do trio, a mais decidida, que enfrentava qualquer um sem pestanejar, algo parecido com o que foi a Drew Barrymore em seus tempos áureos.
Elizabeth Banks esteve ok em sua personagem Rebekah Bosley, aquele típico não se destaca mas não chega a comprometer. Elizabeth fez tantas funções no filme que no fim nenhuma se destacou, apenas ok em todas elas e nada mais.
Naomi Scott (Perdido em Marte) das três Panteras foi a mais sem graça, sua personagem Elena é completamente perdida em cena e em nenhum momento mostra a que veio, uma apresentação bem fraca.
O elenco masculino composto por Sam Claflin (Jogos Vorazes), Djimon Hounsou (Diamante de Sangue), Noah Centineo (do vindouro Adão Negro) e Patrick Stewart (eterno Professor Charles Xavier) não serviram para absolutamente nada no filme, apenas para compor o elenco masculino mesmo, mas o que mais me doeu foi de fato o Patrick Stewart.
Infelizmente esta nova versão de "As Panteras" entra naquela lista dos filmes que fizeram história em sua época e que jamais deveriam ter sido trazidos de volta - e essa lista é enorme hein! De fato essa versão da Elizabeth Banks tem problemas de roteiro, de desenvolvimento, de ideia, de elenco, de atuações, de praticamente tudo. Salva-se uma coisa ou outra, como por exemplo a trilha sonora que está bem pop, bem a cara do filme - com um destaque para "Don't Call Me Angel", interpretado por Ariana Grande, Miley Cyrus e Lana Del Rey. De resto é só, "As Panteras" 2019 é um filme desnecessário, passável e totalmente esquecível! [25/04/2022]
Os Outros
4.1 2,5K Assista AgoraOs Outros (Espanhol: Los Otros / Inglês: The Others)
'Os Outros' é um filme espanhol/americano de 2001, escrito, dirigido e trilhado por Alejandro Amenábar (roteirista de Vanilla Sky com Tom Cruise, Penélope Cruz e Cameron Diaz, de 2002), além de contar com o próprio Tom Cruise como produtor executivo. É estrelado por Nicole Kidman, Fionnula Flanagan, Christopher Eccleston, Elaine Cassidy, Eric Sykes, Alakina Mann e James Bentley. O longa é baseado na obra literária "The Turn of the Screw", originalmente publicado em 1898, considerado como uma novela de fantasma escrita por Henry James (uma das principais figuras do realismo na literatura do século XIX).
O longa de Amenábar conta a história de uma mulher chamada Grace (magnificamente interpretada pela talentosíssima Nicole Kidman) que se aposenta com seus dois filhos em um velho casarão na ilha de Jersey, no final da Segunda Guerra Mundial, onde ela aguarda incansavelmente que seu marido retorne da batalha. As crianças têm uma doença rara chamada fotossensibilidade, o que significa que elas não podem ser tocadas pela luz solar direta, pois ao serem expostas elas podem se machucarem de alguma forma. Eles vivem sozinhos com regras opressivas, estranhas e quase religiosas, até que Grace precise contratar um grupo de servos para lhe servir na casa. A chegada dos novos empregados acidentalmente (ou não) começará a quebrar as regras com consequências inesperadas.
É completamente impossível falar de filmes de terror e suspense e não citar 'Os Outros', principalmente se referindo ao gênero dos anos 2000. O filme virou um clássico do terror e do suspense daquela década, sendo comparado diretamente com a obra-prima do Shyamalan, "O Sexto Sentido", que havia acabado de ser lançado dois anos antes. Porém, na minha opinião cada um tem o seu charme, cada um tem o seu objetivo, cada um tem a sua finalidade, podem ser comparados, mas são distintos.
'Os Outros' é um clássico do terror psicológico, do gótico sobrenatural, do drama oculto, um thriller poderoso e intenso totalmente inserido no suspense, no mistério, envolto em um terror inimaginável, sombrio, tenebroso, macabro, com um clima denso e uma ambientação claustrofóbica. O longa tem um completo charme trashistico setentista e oitentista, que nos remete diretamente para os thrillers de terror e suspense daquela época. 'Os Outros' é um suspense totalmente fora do trivial moderno, que segue uma outra linha do gênero, fugindo totalmente dos famosos Jumpscare e do jeito James Wan de ser, nos expondo ao um terror mais psicológico, mais sombrio, mais intrigante, que age com inteligência ao nos apresentar os pontos da trama mais obscuro, mais enigmático, mais complexo, que mexe diretamente com o nosso psicológico, nos fazendo pensar e analisar cada detalhe, cada acontecimento, até juntarmos todos os fatos em um só ao final. De fato é um roteiro absurdamente inteligente de Alejandro Amenábar - nota10!
A maravilhosa, a talentosa, a magnífica Nicole Kidman (que viveu recentemente a Lucille Ball em Being the Ricardos) nos brinda mais uma vez com uma das suas melhores atuações da carreira (sem nenhum exagero). Nicole já era muito conceituada naquela época, já tinha feito enormes trabalhos e justamente no mesmo ano de 'Os Outros', ela também havia feito a Satine em "Moulin Rouge", trabalho que lhe rendeu uma indicação ao Oscar em 2002, Oscar esse que só viria a ganhar um ano depois por "As Horas".
Nicole Kidman tem um desempenho brilhante numa personagem que às vezes parecia muito amorosa, quase carente, e outras vezes parecia extraordinariamente dura, rígida, severa, principalmente com os seus empregados e com os seus filhos pelo fato da exposição da doença. Porém ela é apenas uma mulher frágil, que expõe o seu lado mais humana, mais materno, que suporta um fardo pesado, que arcá com tudo às costas enquanto o marido está fora, em perigo de morrer na guerra.
Uma atuação completamente impecável e memorável da Nicole Kidman, daquelas pra ser aplaudida de pé por meia hora em um completo êxtase. O que ela fez na pele da Grace é absurdo, coisa de gênio, ela conseguia mudar seu comportamento, mudar seu tom, suas expressões, seu humor, assim de uma hora pra outra e sem nenhum esforço, sem sair nem um milímetro da personagem. Nos mostrou uma atuação com uma grande dose de carga dramática, com cenas bárbaras, com uma atuação em altíssimo nível, daquelas que só a própria Nicole sabe nos entregar.
Nicole Kidman sempre esteve no auge da sua carreira, mas na década de 2000 foi absurdo: ela foi indicada ao Globo de Ouro e ao BAFTA por 'Os Outros', no mesmo ano foi indicada ao Oscar por "Moulin Rouge", e no ano seguinte ganhou o Oscar por "As Horas'. E digo mais, no Oscar de 2002 ela também merecia estar indicada por 'Os Outros'.
As crianças foram interpretadas por James Bentley e Alakina Mann, dois jovens atores que se destacaram notavelmente na trama. Anne e Nicholas são crianças ingênuas, doces, travessas, mas também muito inteligentes. A garota, especialmente, ajuda muito ao suspense ao parecer saber algo que ninguém mais sabe ou ter uma inteligência mais aguçada, já o garoto é mais assustado e vê na irmã a coragem que ele queria ter. Dois ótimos trabalhos e duas ótimas atuações para o nível de duas crianças, o que lhe renderam indicações para Melhor Performance de um Ator Jovem para Alakina Mann no Saturn Awards, Goya Awards e Young Artist Awards, e duas indicações para James Bentley no Young Artist e no Goya.
Christopher Eccleston (que interpreta o Charles, o pai que está na guerra) é uma mera figura na vida de todos, um personagem propositadamente ausente mas que está sempre presente pelo fato de 'os outros' estarem sempre a falar dele.
Fionnula Flanagan (a Eloise Hawking de Lost), Eric Sykes (falecido em 2012) e Elaine Cassidy (de Prazeres Mortais) dão vida aos empregados que chegam de maneira abrupta ao casarão. Os três tiveram grandes destaques ao longo da trama, pois a maneira como agiram e contracenaram com a Nicole Kidman foi brilhante, dando ao filme uma atmosfera profundamente complexa e conspiratória. Fionnula Flanagan dos três foi a que esteve melhor em sua atuação, o que lhe rendeu o Saturn Awards de Melhor Atriz Coadjuvante.
O filme ganhou sete prêmios Goya, incluindo prêmios de Melhor Filme e Melhor Diretor. Este foi o primeiro filme em inglês a receber o prêmio de Melhor Filme no Goyas (prêmio nacional de cinema da Espanha), sem uma única palavra de espanhol falada nele. O longa foi indicado a seis Saturn Awards, incluindo Melhor Diretor e Melhor Roteiro para Amenábar, e Melhor Performance de um Ator Jovem para Alakina Mann, e ganhou três: Melhor Filme de Terror, Melhor Atriz para Kidman e Melhor Atriz Coadjuvante para Fionnula Flanagan. Kidman também foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama e ao Prêmio BAFTA de Melhor Atriz em Papel Principal, com Amenábar sendo indicado ao Prêmio BAFTA de Melhor Roteiro Original. Mesmo já tendo citado os prêmios e indicações individuais de cada um acima, eu precisava repetir aqui só pra contextualizar esta ocorrência rara para um filme de terror. Dá pra perceber o tamanho da importância que 'Os Outros' teve para o gênero terror.
O Longa foi um sucesso de bilheteria, arrecadando mais de US $ 209,9 milhões em todo o mundo, sendo considerado até hoje como um dos filmes de terror mais rentáveis e relevantes da história do cinema. Ainda recebeu críticas positivas dos críticos, com muitos elogiando a direção, a trilha sonora e o roteiro de Amenábar, bem como a bela fotografia, a atmosfera e a ambientação sombria, e principalmente a performance de Nicole Kidman. Realmente o filme possui pontos como a escuridão constante, a luz a gás, a enorme casa antiga e a neblina permanente, que de fato são elementos clichês, mas que dão ao filme um toque de elegância e ajudam o público a trilhar o caminho da trama até o fim, que é bastante inesperado e desconcertante. [23/04/2022]
Pig: A Vingança
3.5 305Pig
'Pig' é escrito e dirigido por Michael Sarnoski (em sua estreia na direção), a partir de uma história de Vanessa Block e Sarnoski. O filme é estrelado por Nicolas Cage como um caçador de trufas que vive sozinho no deserto do Oregon e deve retornar ao seu passado em Portland em busca da sua amada porca farejadora depois que ela é sequestrada.
'Pig' é totalmente fora do trivial, totalmente ambíguo, um drama muito subjetivo, sobre redescobertas e aceitações, sobre o medo e a dor, sobre o amor e a solidão, sobre perdas e recomeços, sobre traumas e realizações. Um filme melancólico, contemplativo, intrigante, niilista, carregado emocionalmente, pesado dramaticamente, que tem o dom de nos fazer pensar nas diversas camadas da vida do protagonista Rob (Cage). O longa é muito hábil, muito crível, muito verossímil na forma de abordar o roteiro, pois o roteiro é composto por algumas camadas que vamos analisando profundamente e descobrindo ao longo da trama. Temos uma rápida introdução nos elucidando sobre a vida atual de Rob e sua porca, quando de repente o roteiro muda a sua engrenagem e nos confronta diretamente com uma busca incansável pelo animal sequestrado, o fazendo enfrentar diversas partes de sua vida que ele havia deixado para trás e que ele não gostaria de revivê-la, e principalmente confrontar certas pessoas que ele também havia deixado em seu passado.
Este é o ponto de maior virtude e de maior destaque em 'Ping', a forma enigmática, subjetiva e intrigante que vamos descobrindo e pegando as coisas no ar, a forma que vamos desvendando tudo que está escondido nas entrelinhas do roteiro, tudo que está nos subtextos - é fantástico! Eu adoro filmes que nos faz pensar, que nos faz analisar cada ponto, cada detalhe, cada cena, cada diálogo, que nos deixa intrigado e nos expõe à diversos pensamentos e análises distintas. Outro ponto que me deixou perplexo e que elevou ainda mais a ótima qualidade do roteiro de Michael Sarnoski e Vanessa Block: partindo do princípio de um sequestro, que necessariamente teríamos a sede por vingança (como induz erroneamente o subtítulo do filme no Brasil), aqui temos uma outra releitura dos fatos, uma abordagem que se desenvolve como um drama psicológico minimalista, que nos direciona diretamente para esse outro lado do Rob em suas redescobertas, enfrentando seus traumas, suas nuances, explorando as marcas do seu passado e o quanto elas ainda o impactava em seu cotidiano presente.
'Pig' é um enorme trabalho na carreira do Nicolas Cage, pois ao longo dos anos muitas pessoas o viam como uma espécie de piada, por se tratar dos inúmeros filmes ruins que ele fez ao longo dos anos, principalmente após ter ganhado o Oscar por "Despedida em Las Vegas", em 1996. Realmente a carreira cinematográfica do Nicolas Cage vive de altos e baixos, muito se deu pelos vários problemas pessoais que ele enfrentou ao longo de sua vida. Tanto é que ultimamente ele simplesmente decidiu fugir dos holofotes e das badalações das grandes produções hollywoodiana e mirar em projetos menos milionários, mais certeiros eu diria, exatamente como 'Pig'.
Em 'Pig' Nicolas Cage tem uma entrega absurda, uma belíssima atuação como eu não via ele entregar há muitos anos. Muitos estão considerando como a sua melhor atuação da carreira, o que de fato não acho nenhum absurdo, mas eu particularmente não gosto de fazer esta afirmação, uma vez que eu não conferi todos os seus trabalhos. Mas de fato é um grandioso trabalho de interpretação do Cage, muito seguro, muito coeso, com uma carga dramática bem ajustada e um ar totalmente introspectivo na medida certa. Cage sempre foi um grande ator, já esteve no hall dos maiores atores da sua geração, sempre teve muita entrega e um grande potencial, às suas escolhas que não foram as mais acertadas ao longo de sua carreira, mas quando assistimos trabalhos como 'Pig' isso só evidencia o grande ator que ele sempre foi. Cage esteve indicado no Critics' Choice Movie Award na categoria de Melhor Ator (concordo plenamente).
Completando o elenco de 'Pig' ainda tivemos a ótima apresentação de Alex Wolff como Amir. Um filhinho de papai totalmente ao inverso de Rob, por ostentar roupas de grifes e um carrão, quando na verdade Rob era um sujeito que não dava a mínima para a sua aparência, já Amir fazia questão de sempre se exibir muito bem vestido. Um contraponto perfeito do roteiro ao colocar frente a frente o Rob e o Amir, ainda mais quando o Rob necessitava da ajuda de Amir pela busca da sua porca, ou seja, mais uma forma de nos explicitar as diferentes formas de abordagem do roteiro em relação as diferentes classes sociais, ou a colocação de cada um na sociedade atual, muito pelas escolhas individuais de cada um, como no caso do próprio Rob e seu trauma do passado.
Alex Wolff já havia brilhado em "Hereditário" e aqui ele dá mais um show, mais uma grande apresentação, nos mostrando aquela desconstrução e aquela descaracterização do seu personagem ao final (aquela cena do jantar com o pai é incrível).
Adam Arkin (Grey's Anatomy) está muito bem no filme, seu personagem Darius é bem asqueroso e de certa forma até doentio. Toda aquela cena do jantar junto com Amir e Rob, e principalmente as revelações subsequentes são um dos pontos alto do filme - realmente um show dos três em cena. Estes três pra mim foram os de maiores destaques dentro do elenco, o restante contribuíram bem em cada personagem e engrandeceram ainda mais à obra.
A fotografia do longa é muito boa, salta ao nossos olhos, principalmente nas partes densa da névoa sombria da floresta aonde vivia Rob e sua porca. A trilha sonora agrega muito bem na trama, aquela típica trilha sonora que não é uma obra-prima mas está bem inserida nos momentos mais oportunos, cujo os momentos sempre nos evidenciava com um acontecimento e aquela trilha sonora mais pacata de fundo. A direção de Michael Sarnoski é muito boa, ainda mais para um estreante. Sarnoski soube pegar os ângulos mais certeiros das cenas, onde nos elucidava cada acontecimento com detalhes mínimos, principalmente aqueles takes onde a câmera passeava de dentro para fora de um cômodo - ótimo mesmo o seu trabalho na direção do longa, tem muito futuro pela frente.
'Pig' foi indicado no Gotham Independent Film Award e Directors Guild of America Award na categoria de Melhor Filme, além da indicação do Nicolas Cage de Melhor Ator no Critics' Choice, e ganhou o Independent Spirit Award de Melhor Primeiro Roteiro.[21/04/2022]
Coração Valente
4.1 1,3K Assista AgoraCoração Valente (Braveheart)
"Coração Valente" foi lançado em Julho de 1995, dirigido e co-produzido por Mel Gibson, que interpreta Sir William Wallace, um guerreiro escocês do final do século XIII. O filme retrata a vida de Wallace liderando os escoceses na 'Primeira Guerra da Independência Escocesa' contra o Rei Edward I (Patrick McGoohan) da Inglaterra, logo após os soldados ingleses terem assassinado a sua esposa Murron MacClannough (Catherine McCormack) em plena noite de núpcias. A história é inspirada no poema épico do século 15 de Blind Harry, 'The Actes and Deidis of the Illustre and Vallyeant Campioun Schir William Wallace', e foi adaptado para a tela por Randall Wallace.
Os anos 90 foi uma década de ouro dos cinemas, pois era uma época em que as grandes obras cinematográficas nos retratava grandes histórias, grandes contos, grandes passagens, era uma época totalmente diferente de se fazer cinema. Sem dúvidas "Coração Valente" está incluso nessa lista de ouro dos cinemas do anos 90, pois o longa de Mel Gibson é um épico, uma lenda, uma obra de arte cinematográfica, uma pérola da sétima arte, uma verdadeira obra-prima da história dos cinemas. "Coração Valente" foi um 'marco' na história dos cinemas, um verdadeiro arrasa-quarteirões, alvo de inúmeras críticas (tanto positivas quanto negativas), alvo de grandes discursões, pois em todos os cantos só se falavam do longa de Mel Gibson, uns amavam e defendiam o filme, outros já criticavam pelo fato dos seus numerosos desvios históricos (de acordo com a opinião de cada um, e de acordo com o consenso dos historiadores, é claro).
Eu considero "Coração Valente" não só como um dos melhores filmes dos anos 90, mas uma das mais belas películas cinematográficas de todos os tempos. Mel Gibson fez história com o seu épico, foi um verdadeiro divisor de águas, sendo muito bem lembrado por todos até hoje (quase 27 anos depois), cuja história serviu de inspiração para vários filmes que viria nos anos seguintes, como por exemplo a obra-prima de Ridley Scott, "Gladiador", pra citar uma. Uma verdadeira obra-prima nunca é esquecida e sempre é lembrada, é comentada, é homenageada, é inspirada, e "Coração Valente" é exatamente tudo isso, pois pra mim o filme não ficou datado, não ficou ultrapassado, envelheceu muito bem. Os anos 90 era uma época que ainda não estávamos em um período tão evidente com a internet como hoje, e o longa explodiu da forma que foi, fez todo o alvoroço, foi badaladíssimo, principalmente no Oscar, imagine se tivesse a força que a internet tem hoje em dia, tanto pelo lado positivo quanto negativo. E hoje em dia é praticamente impossível não se esbarrar nos inúmeros memes que o filme carrega, isso só evidencia o quanto o poderoso épico de Mel Gibson é lembrado, seja da forma que for.
O roteiro de Randall Wallace (diretor e roteirista de Fomos Heróis - 2002) é magnífico, uma história soberba, primorosa, avassaladora, que transcorria entre o drama, o romance, a intriga e o heroísmo desesperado pela liberdade da Escócia. Pois o longa nos retrata exatamente a figura histórica de William Wallace como um guerreiro, um patriota escocês, um herói medieval, por outro lado temos uma faceta em até certo ponto mais romântica, mais idealista, mais pertinente, mais humanizada, porém sempre sanguinária. A narrativa do filme é esplendorosa, pois temos pontos que nos remete a um conjunto de acontecimentos que fundamentam a história que nos está sendo contada, pois em nenhum momento eu considero o filme maniqueísta historicamente. O mesmo digo das batalhas, pois pra mim "Coração Valente" nos traz verdadeiras batalhas épicas, do mais alto escalão da história dos cinemas, que nos relata os inúmeros confrontos de uma forma amarga, cruel e muito sanguinolenta, que nos incomodava em todos os sentidos, nos deixando completamente perplexo (principalmente no último ato do filme).
Como não destacar aquela cena icônica do discurso de William sobre a liberdade que ele fez no campo de batalha encorajando e aflorando todo o seu exército contra os ingleses (que estavam em maior número). Cena épica, sensacional, maravilhosa, que ficou imortalizada.
A própria cena da grande batalha é muito sangrenta, sem nenhum pudor, uma brutalidade absurda, uma marca registrada dos filmes desse gênero nos anos 90. Apenas mais uma das várias cenas épicas e icônicas desse clássico.
Outro ponto que eleva ainda mais a qualidade dessa obra-prima: a trilha sonora do gênio, do mestre, do icônico James Horner. Horner sempre foi um verdadeiro gênio na história das trilhas sonoras, que já nos brindou com verdadeiras pérolas da sétima arte como "Aliens, O Resgate", "Uma Mente Brilhante", "O Menino do Pijama Listrado" e "Titanic" (apenas pra contextualizar algumas das suas inúmeras obras-primas), e em "Coração Valente" temos mais uma obra de arte. Uma trilha sonora profunda, pesada, avassaladora, que seguia cada passo da história de uma forma brilhante, sempre nos evidenciando com diferentes ritmos, diferentes melodias, diferentes sons, com composições que iam de violinos, violões, pianos, até a clássica gaita escocesa - um verdadeiro marco, um verdadeiro show!
Destaque para a cena que William Wallace grita proclamando a sua vitória com aquela trilha sonora de fundo ensurdecedora, é realmente magnífico. Poxa, gênios como James Horner jamais deveriam falecer - muito triste!
A fotografia do longa é outro grande destaque, belíssima, lindíssima, com enquadramentos perfeitos, principalmente nas cenas das batalhas. A direção de arte e a cenografia também estão incríveis, com cenários magníficos (como os gigantescos campos de batalhas), muito fiéis à época, ricos nos detalhes. Os figurinos e as maquiagens são um verdadeiro luxo, pois tudo estava rigorosamente bem arquitetado dentro dos padrões da época, tanto pelo lado dos plebeus, quanto pelo lado dos reis e seus súditos. A montagem é excelente, a edição é perfeita, assim como os efeitos sonoros, que se destacavam com bastante clareza, incrível, ainda mais se tratando de um filme feito nos anos 90, onde não tínhamos a tecnologia que temos hoje.
Eu não tenho nenhuma dúvida que "Coração Valente" é o melhor trabalho da carreira de Mel Gibson (juntamente com A Paixão de Cristo), tanto em direção, quanto em atuação e principalmente em personagem, onde temos o icônico William Wallace. Em direção Gibson nos entregou um trabalho competente, magnífico, primoroso, feito com muita atenção e com muita dedicação, principalmente nas batalhas, onde tínhamos um trabalho de câmeras impecáveis, sempre frisando cada movimento dos embates, sempre nos elucidando o quanto os confrontos eram brutais e sanguinolentos, sendo muito bem coroado com o Oscar de direção. Em atuação Gibson estava em seu momento, estava no seu ápice, estava em seus tempos áureos, e o William Wallace lhe caiu como uma luva, pois não existiria ninguém melhor do que ele para dar vida a um personagem tão épico, tão histórico e tão icônico, que ficou eternizado em sua filmografia e principalmente na história dos cinemas.
Completando o elenco com a Catherine McCormack (Jogo de Espiões), a Murron MacClannough, grande amor de William inicialmente e a grande responsável em lhe suavizar e lhe humanizar, mas em contrapartida também foi a principal válvula para acender a faísca do conflito. Atuação impecável de Catherine, um doce de atriz. Patrick McGoohan (falecido em 2009), o Rei Inglês Edward, um ser perverso, inescrupuloso, doentio, com uma forma de governar totalmente contraditória. Atuação de gênio já resume todo o trabalho entregue por Patrick McGoohan. Sophie Marceau (007 - O Mundo Não é o Bastante), a Princesa Isabelle da França, que até tentou um certo envolvimento com William, mas não deu tempo, porém acredito que esse envolvimento era mais trazido para o campo do interesse. A cena final dela lamentando todo os acontecimentos que estavam por vir e que ela não poderia impedir é sensacional, uma belíssima atuação e entrega de Sophie Marceau. Brendan Gleeson (Harnish Campbell), Peter Hanly (Edward Príncipe de Gales), Brian Cox (Argyle Wallace), todos entregaram trabalhos primorosos. Ainda tivemos a participação do irmão mais novo de Mel Gibson, Donal Gibson.
"Coração Valente" foi o grande vencedor do Oscar de 1996, o longa foi indicado em 10 categorias e ganhou 5: Efeitos Sonoros, Maquiagem, Fotografia, Direção e, claro, Melhor Filme. Também ganhou três prêmios BAFTA (Fotografia, Figurino e Som) e um Globo de Ouro (Diretor).
Aquela cena final do William Wallace gritando 'FREEDOOOOOOOM' imortalizou na história dos cinemas, e ainda ecoa pelos quatro cantos do planeta e da minha mente. Isso é o que eu chamo de cena clássica e épica dos cinemas!
Verdadeiro clássico dos anos 90. Campeão do Oscar de Melhor Filme de 1996. Pérola cinematográfica. Obra de arte histórica. Épico. Icônico. Lendário. Obra-prima incontestável. [15/04/2022]
A Pior Pessoa do Mundo
4.0 602 Assista AgoraA Pior Pessoa do Mundo (Verdens verste menneske)
'A Pior Pessoa do Mundo' é um filme norueguês escrito e dirigido por Joachim Trier (juntamente com seu parceiro Eskil Vogt). É o terceiro longa da chamada trilogia de Oslo, ao lado de 'Reprise' (2006) e 'Oslo, 31 de Agosto' (2011). O longa se passa em Oslo, capital da Noruega, e nos conta a história de Julie (Renate Reinsve). Uma jovem muito bonita, inteligente, sensual, porém muito indecisa em tudo na vida, desde a profissão que deseja seguir, até os seus envolvimentos amorosos.
'A Pior Pessoa do Mundo' funciona como uma comédia romântica inserida em um drama. Julie é uma mulher que está beirando os 30 anos e vive em uma constante crise existencial que se mistura entre sua juventude, que está se acabando, até suas próprias aceitações, decisões, desejos e prazeres de uma idade mais adulta. Julie ainda não tem filhos, não se decidiu em qual carreira profissional deseja seguir, não se decide com qual namorado quer ficar, ela vive em um misto constante de dúvidas, incertezas, inseguranças, tentando se encontrar e se aceitar da forma que ela é, ou da forma que ela deseja ser.
Este é o maior trunfo da obra de Joachim Trier, o poder que o filme tem em conversar diretamente com o espectador, em explorar o nosso lado humano, que sempre foi regado com inseguranças, incertezas, traumas, medos, frustrações, misturado com desejos, ambições, transições. A força que o longa tem em mergulhar diretamente em nossa mente e aflorar o nosso lado existencial (a nossa crise existencial), pois todos nós sempre passamos por conflitos internos caracterizados pela impressão de que a vida carece de algum sentido, de algum propósito, aquela confusão sobre a identidade pessoal em sua definição, temos várias nuances em diferentes vertentes. É exatamente dessa forma que eu vejo toda a história da Julie.
O roteiro de Joachim Trier e Eskil Vogt é maravilhoso, de alto nível, feito com uma inteligência absurda, pois temos um tema que pode parecer complexo, intrigante e dramático, ao mesmo temo que se desenvolve como uma comédia romântica, engraçada, leve e prazerosa. Este é o verdadeiro ponto alto do roteiro, a forma suave como ele se desenvolve, ao mesmo tempo que temos viradas inesperadas que nos causa impacto, que nos prende diretamente na trama da Julie. Achei muito interessante a decisão em dividir toda a história em um prólogo, um epílogo e 12 capítulos, o que poderia facilmente soar como uma decisão controversa se não fosse feito de uma forma assertiva, e de fato foi. Realmente o roteiro do longa é muito eficiente, muito coerente, muito formidável, Joachim Trier e Eskil Vogt foram muito competentes ao nos entregar um roteiro inteligente, feito de uma forma verossímil que conversa diretamente com todos nós. Indicação mais do que justa no Oscar, e digo mais, eu realmente fico na dúvida se 'Belfast' deveria ter levado a estatueta, pois o que temos aqui em relação à roteiro deveria ser premiado de alguma forma.
A direção de Joachim Trier é outro ponto que tem que ser destacado, pois o seu trabalho de câmeras é absurdo, feito de uma forma inteligente e competente totalmente imersa na trama. Todos os seus takes eram certeiros e acompanhavam perfeitamente todos os acontecimentos, como por exemplo às várias cenas em que ele apostava na nudez bem explícita e nas cenas de sexo bem explícitas, onde sua câmera acompanhava fielmente cada passo, cada movimento, cada detalhe, sempre com muita atenção - show! Se Joachim Trier aparecesse indicado a Melhor Diretor no Oscar não seria nenhum absurdo. A trilha sonora também foi outro acerto no longa. Uma trilha sonora leve e divertida nos momentos mais comédia, com várias músicas conhecidas mundialmente, porém bem densa e comovente nos momentos mais dramáticos - um contraponto perfeito. A fotografia é muito boa e bem destacada (um exemplo é a cena em que Julie corre pelas ruas, ali a fotografia se destaca ainda mais). A direção de arte é muito bem feita, assim como a cenografia, ambientação, edição, montagem, tudo muito bem caprichado.
Joachim Trier tinha todo o seu elenco nas mãos e soube explorá-los com perfeição.
Renate Reinsve é o principal nome do longa e a de maior destaque, sem dúvidas. Me impressionei com a entrega de Renate, uma atuação muito rica, muito prazerosa, muito bem acertada, onde ela não parecia estar atuando mas sim vivendo em seu dia a dia normalmente. Uma atuação muito leve, muito suave, muito segura, sem precisar se esforçar pra entregar nada, agindo naturalmente, espontaneamente, verdadeiramente, porém quando a trama lhe exigia uma carga mais dramática ela também sabia entregar com perfeição. Renate Reinsve além de linda é carismática, é extrovertida, é espontânea, é competente, uma atriz completa, virei fã. Renate Reinsve conquistou o Prêmio Festival de Cinema de Cannes de Melhor Atriz, e uma indicação ao Satellite e ao BAFTA de Melhor Atriz. E eu vou ser bem sincero, assim como eu defendi a indicação da Lady Gaga no Oscar desse ano, eu também defendo uma indicação para a Renate Reinsve, pois o que ela nos entregou em 'A Pior Pessoa do Mundo' poderia facilmente lhe incluir na categoria de Melhor Atriz, pelo menos para coroar este trabalho magnífico.
Anders Danielsen Lie (Aksel, o primeiro amor de Julie 15 anos mais velho que ela) foi outro ator que me impressionou, mais precisamente nas cenas finais, quando ele percebe realmente que se distanciou da Julie (ou realmente a perdeu de vez), dando um verdadeiro show de atuação naquela cena em que ele abre seu coração para ela, aflorando e expondo toda sua carga dramática - outra bela atuação! Herbert Nordrum (Eivind, segundo interesse de Julie) é outro ator que nos chamou a atenção no longa, pois a forma que seu personagem conhece e se envolve com a Julie é um tanto quanto curiosa e totalmente inusitada. Herbert Nordrum dos três foi o que esteve mais abaixo em questão de atuação, mas ainda assim ele foi muito bem em compor o seu personagem e nos entregar o que realmente o filme lhe pedia.
'A Pior Pessoa do Mundo' estreou no Festival de Cannes 2021 em 8 de julho. O longa foi muito bem aceito, criticado e elogiado ao longo dos festivais de premiações, adquirindo indicações no BAFTA (Atriz e Filme Estrangeiro), no Critics Choice Awards (Filme Estrangeiro), no Satellite Awards (Atriz e Filme Estrangeiro) e no Oscar, onde o longa apareceu indicado nas categorias de Roteiro Original e Filme Estrangeiro. E mais uma vez sendo bem sincero: eu daria o prêmio de Filme estrangeiro para o longa se não tivesse na disputa aquela obra de arte japonesa, 'Drive My Car'.
'A Pior Pessoa do Mundo' é um belíssimo filme, muito bem dirigido, muito bem construído, muito bem idealizado, muito bem atuado. Um filme bastante reflexivo, que vai nos fazer pensar em diferentes camadas de nossas vidas, que vai nos expor à realidades cruas e secas sobre os nossos propósitos e sentidos na vida, que vai nos aflorar sobre nosso existencialismo - realmente um filme para fazermos uma autoavaliação - fantástico! Isso só prova cada vez mais que também temos ótimos filmes e belíssimas obras cinematográficas fora do mundo hollywoodiano, 'A Pior Pessoa do Mundo' está aí para se provar como um ótimo filme do cinema norueguês. [09/04/2022]
Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw
3.1 456Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw (Fast and Furious Presents: Hobbs and Shaw)
'Hobbs & Shaw' é dirigido por David Leitch (diretor de Deadpool 2) e escrito por Chris Morgan (roteirista dos outros Velozes) e Drew Pearce (roteirista de Homem de Ferro 3), a partir de uma história de Morgan. É um spin-off da franquia 'Velozes e Furiosos' ambientado após os eventos de 'Velozes e Furiosos' (2017) e antes dos eventos de F9 (2021). O filme traz Dwayne Johnson e Jason Statham reprisando seus papéis da série principal como Luke Hobbs e Deckard Shaw, respectivamente, e também estrelado por Idris Elba, Vanessa Kirby, Eiza González, Cliff Curtis e Helen Mirren. A trama segue o improvável par dos personagens titulares enquanto eles se unem à irmã de Shaw (Kirby) para combater um terrorista ciberneticamente aprimorado (Elba) que ameaça o mundo com um vírus mortal.
A estrela da série e produtor Vin Diesel disse pela primeira vez em 2015 que possíveis spin-offs estavam em desenvolvimento inicial, e Hobbs & Shaw foi anunciado oficialmente em outubro de 2017, sendo lançado em agosto de 2019.
Quando ouvi os rumores sobre um possível spin-off da franquia 'Velozes e Furiosos' eu fiquei bastante curioso, pois sou um fã de longa data da saga e via nos personagens de Dwayne Johnson e Jason Statham um certo potencial para tal evento, mas confesso que não dei a mínima, principalmente pelo rumo que a série tinha tomado em seus últimos anos. Tanto é que só estou conferindo o filme hoje, com quase três anos do seu lançamento.
'Velozes e Furiosos' sempre foi uma franquia marcada pelos roteiros galhofas e seus acontecimentos totalmente mentirosos e impossíveis (por exemplo o último filme lançado no ano passado). Uma franquia totalmente descompromissada com a realidade e despretensiosa com ideias e roteiros bem elaborados, feito unicamente com a intenção de entreter, divertir e nos prender naquele blockbuster bem pipoca. E nesse quesito 'Hobbs & Shaw' acerta em cheio, pois o longa é totalmente coerente no que se propõe, que é exatamente ser um filme de ação totalmente descompromissado com a realidade. 'Hobbs & Shaw' é pastelão mesmo e não tem vergonha disso, pois o filme entrega o que promete, que é nos divertir e nos entreter com sequências de ação que são de tirar o fôlego.
Quando você decidi assistir 'Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw' você já vai esperando tudo que irá acontecer, mesmo que você nunca tenha assistido nenhum filme da franquia original, mas só pelos trailers você já identifica a proposta do filme. Então não adianta criticar que o filme é mentiroso, foge da realidade, é absurdo, é clichê, é caça-níquel, e eu concordo que é, mas 'Hobbs & Shaw' é exatamente tudo isso misturado, esse é o direcionamento do filme, essa é a verdadeira proposta do filme. E eu não tenho nenhum receio em afirmar que 'Hobbs & Shaw' é um dos melhores filmes de ação daquele ano, e é muito melhor que 'Velozes e Furiosos 9'.
Dwayne Johnson e Jason Statham são um verdadeiro espetáculo em cena, pois já conhecendo os seus personagens da franquia original, já podemos esperar tudo do mais impossível e mentiroso que eles podem nos entregar, e é exatamente tudo isso que eles nos entrega - desde às sequências mais absurdas de uma queda livre de um prédio até segurar um helicóptero por uma corrente unicamente com a força - praticamente o Hulk...rsrs! Porém os dois são mitos, showman, cada um à sua maneira, como a inteligência do Shaw e a força bruta de Hobbs, e vê aquele embate entre os dois pra decidir quem é o mais foda é impagável. Realmente Dwayne Johnson e Jason Statham são os protagonistas perfeitos para a história, entregam exatamente o que o filme precisa, nasceram pra estrelarem filmes de ação, são ótimos nesse quesito, e pra quem curte um bom filme de ação, não tem como não achar foda os seus personagens.
A adição da belíssima Vanessa Kirby (de Missão Impossível - Efeito Fallout e Pieces of a Woman) foi um grande acerto, pois sua personagem Hattie Shaw (irmã de Deckard Shaw) funciona perfeitamente dentro da trama, fazendo uma ligação muito interessante com a história e adquirindo uma química certeira com o Hobbs e o Shaw (poderiam levá-la para a franquia principal sem nenhum receio). Vanessa Kirby é uma ótima atriz e é muito boa e muito funcional em filmes de ação, como no próprio ' Missão Impossível - Efeito Fallout'. Trio perfeito para o longa - Dwayne Johnson, Jason Statham e Vanessa Kirby.
Idris Elba poderia mudar esse trio para um quarteto facilmente, pois seu vilão ciberneticamente aprimorado é muito bom e muito mentiroso (kkkkk). Pra mim também acertaram na escolha do vilão e na escolha do Idris Elba. Aquela cena final do embate entre Hobbs e Shaw contra Brixton é incrível, são sequências de ação do mais alto nível.
Gostei da parte que envolveu a família do Hobbs, achei interessante entrar nesse ponto e de alguma forma tentar explorar esse seu arco pessoal, apesar que poderiam ter explorado um pouco mais (quem sabe no próximo filme). Por falar em família, a família Shaw esteve quase que toda reunida, faltando apenas o Owen Shaw (Luke Evans). E como não poderia ser diferente, a mamãe Shaw (Helen Mirren) foi uma graça, deu mais um show em suas breves aparições. Impossível não se deliciar com a presença de Helen Mirren em um filme da franquia 'Velozes e Furiosos', ele é sempre maravilhosa, uma verdadeira dama, com aquele seu ar sempre soberano e intocável. Vanessa Kirby caiu como uma luva para esta família, como podemos constatar naquela cena final dos três na prisão.
Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw é sim um bom filme de ação, fugindo mais uma vez dos rachas de carros que elevou o nome da franquia lá no início dos anos 2000, mas isso também não é nenhuma surpresa, visto que nos últimos filmes da franquia original esta parte também foi meio que deixado de lado. O longa funciona perfeitamente em sua ideia original, e é isso que importa, nos entrega o que realmente queríamos em um filme dessa temática e ainda mais tirado da franquia 'Velozes e Furiosos'. 'Hobbs & Shaw' me divertiu, me entreteve, garantiu minhas 2h com muita diversão e funcionou como uma válvula de escape depois de um dia cansativo e estressante de trabalho, pois no final das contas eu acho que essa é a verdadeira proposta desse filme, nos aliviar, nos suavizar e nos divertir.
E vamos aguardar a sequência já confirmada em Abril de 2020 pelo próprio Dwayne Johnson, que afirmou que o próximo filme está em desenvolvimento e o roteiro será do Chris Morgan. [08/04/2022]
O Leitor
4.1 1,8K Assista AgoraO Leitor (The Reader)
'O Leitor' é um drama romântico de 2008 dirigido por Stephen Daldry (Billy Elliot e As Horas) e escrito por David Hare, baseado no romance alemão (Der Vorleser) de 1995 de Bernhard Schlink. É estrelado por Kate Winslet, Ralph Fiennes e David Kross. Foi o último filme dos produtores Anthony Minghella e Sydney Pollack, que morreram antes de seu lançamento.
O filme conta a história de Michael Berg (David Kross / Ralph Fiennes), um advogado alemão que, aos 15 anos de idade, em 1958, mantém um relacionamento sexual com uma mulher mais velha, Hanna Schmitz (Kate Winslet). Ela desaparece apenas para ressurgir anos depois como um dos réus em um julgamento de crimes de guerra decorrentes de suas ações como guarda em um campo de concentração nazista. Michael percebe que Hanna está guardando um segredo pessoal que ela acredita ser pior do que seu passado nazista – um segredo que, se revelado, poderia ajudá-la no julgamento.
O longa é uma verdadeira pérola da sétima arte, pois temos um roteiro absurdamente complexo, criativo, niilista, cujo resultado é nos entregue de forma densa, pesada, pragmática, nos soando como uma obra peculiar, verdadeira, introspectiva, intragável e ao mesmo tempo emocionante. O filme nos faz pensarmos em diferentes temas, seja pelo relacionamento do casal, ou pelos crimes desumanos durante a segunda guerra, ou o problema visto socialmente pelo analfabetismo, mas ao tratar especificamente sobre o Holocausto, podemos refletir um pouco sobre o que seria ético, legal e/ou moral. Exatamente um dos pontos cruciais do roteiro de David Hare que o torna tão peculiar e coeso, o contraponto entre um romance regado à sexo, ou até mesmo o nascimento de uma linda história de amor entre duas pessoas com uma certa diferença de idade, com o confronto de um tema tão pesado e importante para a humanidade, o nazismo juntamente com o Holocausto nos campos de concentração de auschwitz (mesmo sem um aprofundamento em tal tema).
O primeiro ato do filme é de uma beleza e uma delicadeza genuína e muito peculiar, pois temos a descoberta do primeiro amor por parte de Michael (David Kross) e o desejo sexual pelo garoto por parte de Hanna. Stephen Daldry acerta muito bem ao nos relatar inúmeras cenas de nudez por parte da Kate e do David, mas de uma forma singular, artística, sem soar ofensiva ou apelativa, o mesmo vale para às várias cenas sexuais entre eles. Eu pude assistir estas cenas com um olhar mais ambíguo, mais romântico, sem me sentir ofendido ou desrespeitado, ou achar que a obra poderia levantar discussões com temas voltados para a pedofilia ou algo do tipo. Exatamente outro ponto muito bem acertado na obra de Stephen Daldry, a sua forma única, poética e artística em nos trazer a sua adaptação unicamente com a intenção voltada para a arte cinematográfica, sem levantar bandeiras entre o certo ou o errado, sem entrar em discursos sobre ética e moralismo, tanto pelo lado do romance e da nudez do casal em questão, quanto pelo posicionamento político e nazista levantado em cima da protagonista Hanna. Pois alguns historiadores criticaram o filme por fazer de Hanna Schmitz um objeto de simpatia do público e acusaram os cineastas de revisionismo do Holocausto - o que discordo veementemente!
Kate Winslet (nossa eterna Rose DeWitt Bukater) é a verdadeira dona do filme!
Kate está no papel da sua vida, interpretando uma das melhores personagens de toda a sua carreira. Hanna levava a sua vida trabalhando normalmente até conhecer Michael, pois a partir daí a sua vida dá uma verdadeira virada, com o seu envolvimento sexual com o garoto e a sua paixão em ouvir às leituras que ele fazia para ela sempre antes do sexo. O nível de atuação e entrega de Kate na pele da Hanna chega a nos assustar, pois ela conseguia ir do cômico ao drama instantaneamente, nos mostrando suas múltiplas facetas, sua personalidade dramática, suas expressões de prazeres e de sofrimentos, ambas praticamente interligadas. Temos inúmeras cenas onde Kate entrega atuações em altíssimo nível: às próprias cenas eróticas, a cena da sua condenação, seu reencontro com Michael, entre várias outras.
Kate ganhou tudo que foi indicada naquele ano, fez a limpa em todas premiações, muito justo por sinal. Como por exemplo o próprio Oscar de Melhor Atriz, onde Kate concorria contra aquela atuação estupenda de Angelina Jolie por 'A Troca', mas realmente aquele ano era o ano da Kate Winslet - completamente perfeita!
David Kross (da obra-prima Cavalo de Guerra) fez um ótimo contraponto com a Kate Winslet, alcançou uma ótima química, ao ponto de nos fazer simpatizarmos pelo casal durante toda a trama. Michael é um garoto que estava se descobrindo e descobrindo todos os prazeres que a vida podia lhe oferecer, principalmente os prazeres sexuais e amorosos. Porém com o passar do tempo vieram grandes responsabilidades, ao ponto de lhe exigir medidas e decisões que o influenciaria pelo resto de sua vida. Uma baita atuação de David Kross, muito segura nos momentos sexuais e de nudez, bem dosada nos momentos mais românticos e mais dramáticos, conseguindo uma ótima atuação contracenando ao lado da Kate Winslet, o que não seria nada fácil, principalmente em cenas eróticas com uma atriz do calibre da Kate e quando se tem apenas 18 anos - David Kross mandou muito bem!
Ralph Fiennes (o inescrupuloso Amon Goeth de A Lista de Schindler) completa com sua atuação fina, prazerosa, rica, charmosa, um verdadeiro gentleman na arte de atuar. Fiennes deu vida ao Michael mais velho, um personagem visivelmente sofrível, resguardado, depressivo, com um ar introspectivo, complexo, misterioso, que guardava todos os seus segredos pra si. O último ato do filme é inteiramente do Ralph Fiennes, onde ele brilha e se destaca ao lado da Kate Winslet, juntos nos levaram às lágrimas, literalmente, principalmente na última cena com a Hanna e na última com sua filha, quando ele decide lhe contar toda a sua história de adolescência - um final simplesmente avassalador, daqueles que a gente jamais esquecerá.
Tecnicamente o longa de Stephen Daldry é uma das melhores obras-primas do cinema naquele ano!
Ouso a falar que em 'O Leitor' temos uma das melhores trilhas sonoras de Alberto Iglesias, que foi injustamente esnobada no Oscar daquele ano (é academia). Uma trilha sonora forte, pesada, incômoda, tensa, regada as mais belas e suaves melodias tiradas de pianos e violinos, o que definitivamente nos emocionava verdadeiramente, principalmente no último ato do filme - nota 10 para a obra-prima de Alberto Iglesias. A fotografia do mestre Roger Deakins e Chris Menges é completamente sublime a avassaladora. É incrível como a fotografia se sobressaia e acompanhava em todas as cenas, saltando aos nossos olhos (bela indicação ao Oscar). A direção de arte, cenografia, figurinos e maquiagens estão todos perfeitos e foram feitos com o maior cuidado e atenção possível, com um destaque maior para o trabalho de maquiagem e cabelo feito na Kate Winslet no último ato do filme, que a deixou praticamente irreconhecível e bem envelhecida. A direção de Stephen Daldry é muito bem ajustada e muito rica nos detalhes, com um trabalho de câmeras magistral, que só nos imergia em sua trama cada vez mais - indicação mais do que justa ao Oscar.
Na temporada de premiações de 2009 'O Leitor' foi bem reconhecido e bem indicado (mas poderia ter sido ainda melhor). O longa ganhou inúmeras indicações ao longo dos festivais, incluindo SAG's, Critics, BAFTA e Globo de Ouro. Além, é claro, do Oscar, onde esteve indicado em Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Diretor, Melhor Atriz e Melhor Filme, perdendo para 'Quem Quer Ser Um Milionário?', e levando apenas a estatueta da Kate Winslet.
Me recordo de ter assistido 'O Leitor' uma vez lá em 2009, logo após o Oscar, porém na época eu não tinha o olhar crítico e a visão que eu tenho hoje. Me lembro de ter gostado demais do filme e ter me emocionado com o último ato, e hoje não foi diferente, me emocionei exatamente na mesma parte. Hoje com um olhar mais crítico posso afirmar que 'O Leitor' é um belíssimo filme, uma pérola cinematográfica, uma obra de arte esplendorosa, pois o longa tem o dom de nos fazer sorrir, suspirar, paralisar, se emocionar e se encantar verdadeiramente. Um filme único, forte, pesado, incômodo, mas também leve, primoroso, emocionante e singular, que vai dos prazeres e das descobertas amorosas e sexuais até os temas mais fortes, importantes e significativos na história da humanidade - perfeito!
Difícil encontrar uma obra hoje em dia que nos faça aflorar um misto de sentimentos diferentes em apenas 2h.
5 estrela para esta obra-prima artística, poética e contemporânea do cinema moderno de Stephen Daldry! [01/04/2022]
Drive My Car
3.8 384 Assista AgoraDrive My Car
'Drive My Car' é um belíssimo drama do cinema japonês co-escrito e dirigido por Ryusuke Hamaguchi. É baseado e inspirado no conto de mesmo nome do renomado autor japonês Haruki Murakami, em seu livro de coletânea de contos de 2014, Homens sem Mulheres, enquanto se inspira em outras histórias. O filme segue Yūsuke Kafuku (interpretado por Hidetoshi Nishijima) enquanto dirige uma produção multilíngue de "Tio Vânia" em Hiroshima e lida com a morte de sua esposa, Oto (interpretada por Reika Kirishima).
O cinema asiático está em bastante evidência nos últimos anos, principalmente após a vitória histórica de 'Parasita' no Oscar de 2020. Se naquele ano tivemos uma grande obra do cinema coreano, este ano temos uma grande obra do cinema japonês.
'Drive My Car' é diferente de tudo que eu já assisti, um jeito totalmente diferente de se fazer cinema, praticamente fugindo de tudo que pode soar trivial no cinema moderno. Um filme contemplativo, intrigante, complexo, intimista, carregado dramaticamente e com várias camadas que sobrepõe cada personagem na trama, que nos confronta diretamente com o luto e a solidão em várias nuances e em diferente vertentes. O longa nos evidencia com a descaracterização e a desconstrução do ser humano quando lhe é imposto em diferentes consequências da vida. Uma obra profunda, tocante, singular, primorosa, que nos conscientiza sobre o medo, o trauma, a frustração humana em diferentes aspectos e em diferentes pontos de vista, e sempre com uma forma totalmente verossímil.
O roteiro de Ryusuke Hamaguchi e Takamasa Oe é a verdadeira cereja do bolo, pois temos um roteiro coerente, formidável, com um texto muito bem escrito e muito bem adaptado, onde se dividi magistralmente em 3 atos que se conversam entre si. O enredo tem um ótimo desenvolvimento e uma ótima transição entre os 3 atos, nos apresentando e estabelecendo cada personagem que faz e fez parte da vida e da história de Yusuke. A narrativa é excelente, pois a forma adotada para contar toda a história é simplesmente perfeita, com um transporte temporal para nos elucidar sobre cada ponto de virada na trama, seja no primeiro ato, no segundo, ou no terceiro - genial!
Outro ponto que me deixou completamente boquiaberto ao final do filme....suas 3h de duração que me pareceram 1. Vou ser bem sincero, eu não senti em nenhum momento que o longa tinha praticamente 3h de duração, pois o filme é tão envolvente que prende a sua atenção em todas as cenas, você quer buscar sempre além, quer ir cada vez mais longe - é incrível! Pois um filme com quase 3h de duração seria mais do que inevitável (e até normal) cansar o espectador e o fazer perder o interesse pela história que estava sendo contada. Mas não, pelo contrário, o longa não é arrastado, não é cansativo, por mais que seu ritmo seja lento, mas você se prende no texto, nos diálogos afiadíssimos e nas ótimas interpretações.
Porém, vou entender perfeitamente quem não conseguir sentir o filme, quem não conseguir se prender na história como eu me prendi, quem achar o filme cansativo e arrastado, pois o longa foge completamente dos filmes triviais modernos, por se tratar de uma obra mais intimista que mantém um ritmo mais lento, mais profundo, que definitivamente não vai prender o espectador pelo dinamismo e sim pela peculiaridade que nos está sendo contada toda a história.
Ryusuke Hamaguchi está completamente perfeito na direção do longa, um trabalho muito competente, onde em todos os momentos nos evidenciava sobre a dor, o sofrimento, a angústia, a frustração e o trauma de cada um ali presente, feito unicamente pelas lentes de sua câmera em diferentes takes certeiros - mais do que merecida a sua indicação ao Oscar. A fotografia de Hidetoshi Shinomiya é muito bem apresentada em cena, acompanha muito bem os diferentes locais imerso dentro desse 'road movie'. A trilha sonora da cantora e compositora Eiko Ishibashi é bem intimista, bem local, agrega ainda mais na obra, apesar de ser uma trilha mais modesta. Assim como a direção de arte de Kensaki Jo, que está muito bem montada e arquitetada.
Em questões de elenco é outro show à parte!
Temos um elenco afiado que entregaram ótimas atuações!
Como no caso do Hidetoshi Nishijima (o Yusuke Kufuku), que fez um personagem carregado emocionalmente e que transplantava toda essa carga dramática em tela - ótima atuação! Toko Miura (que fez a Misaki Watari) é outra que esteve perfeita em praticamente 100% do tempo. Foi impressionante e gratificante acompanhar às idas e vindas de Misaki e Yusuke a bordo do Saab 900, onde nos evidenciaram com suas histórias semelhantes e que se conversava entre si ao final - cena belíssima aquela dos dois abraçados naquele cenário de gelo, e uma bela atuação de Toko Miura. Reika Kirishima (que fez Oto Kafuku, esposa de Yusuke) tem um destaque excepcional no primeiro ato do filme, sendo dela praticamente todas as cenas de maiores relevâncias naquela parte - belíssima atriz, aquela cena do sexo é um absurdo de interpretação, tá louco!!! Masaki Okada (que fez o Koji Takatsuki) foi outro ator que gostei demais, sua atuação condizia perfeitamente no que se propunha o seu personagem em cena - aquela cena bem dialogada entre Koji e Yusuke é outra barbaridade de interpretação de ambos os atores.
Na temporada de premiações Drive My Car é o principal nome entre os filmes internacionais, inclusive já levou a estatueta no Globo de Ouro, no BAFTA e no Critics. No Oscar o longa está indicado em 4 categorias, sendo Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Diretor, Melhor Filme Internacional (principal favorito) e Melhor Filme.
Desde que foi anunciado a lista dos indicados ao Oscar eu fiquei muito curioso com 'Drive My Car', afinal de contas o longa japonês foi indicado em Filme Estrangeiro e com certeza não foi à toa a sua indicação na principal categoria da noite, Melhor Filme. Assim como a indicação de Ryusuke Hamaguchi em direção, que a princípio eu fiquei me perguntando se realmente ele merecia estar entre os indicados nessa categoria, e hoje eu afirmo com toda certeza que sim, merece e muito. A princípio eu também me perguntei se por acaso o Ryusuke não estaria ocupando a vaga que deveria ser do Denis Villeneuve (Duna), e hoje eu vejo que eu estava completamente errado, a vaga que deveria ser do Denis Villeneuve quem está ocupando injustamente é o Paul Thomas Anderson pelo seu fraco filme 'Licorice Pizza'.
Já na principal disputa da noite, 'Drive My Car' é sim um dos principais favoritos para levar a estatueta, apesar das atenções ultimamente estarem voltadas para 'Ataque dos Cães' e principalmente para 'CODA'. Meu favorito na categoria Melhor Filme é 'Ataque dos Cães', pois dentre os 10 indicados é disparado o melhor filme de todos e o que de fato merece ser o campeão da noite. Mas se por acaso a academia decidir premiar o longa japonês, pra mim não será nenhuma surpresa, afinal de contas 'Drive My Car' é um belíssimo filme e também é merecedor da principal estatueta do Oscar, mesmo não tendo a minha torcida.[25/03/2022]
Belfast
3.5 291 Assista AgoraBelfast
'Belfast' é um filme britânico escrito, produzido e dirigido por Kenneth Branagh. O Longa é estrelado por Caitriona Balfe, Judi Dench, Jamie Dornan, Ciarán Hinds, Colin Morgan, Lewis McAskie, Lara McDonnell e o estreante Jude Hill. Belfast é a capital da Irlanda do Norte, local onde Branagh nasceu, sendo o palco principal para ele contar o seu filme mais pessoal, mais intimista, pois o longa é exatamente baseado em uma história real da sua infância.
O longa segue exatamente a infância de Buddy (Jude Hill) em Belfast, no ano de 1969, época em que estava acontecendo o "The Troubles" (um conflito de grande violência pelo estatuto político da Irlanda do Norte).
É interessante notar que Kenneth Branagh nasceu em 1960 e o filme começa em agosto de 1969, sendo assim ele deveria ter entre 8 a 9 anos na época. Um ponto muito inteligente que Branagh trouxe em seu roteiro ao encaixar a sua história sendo contada a partir da perspectiva de Buddy (que parecia ter mais ou menos essa idade). Pois é exatamente assim que a história de Branagh se desenvolve, pelos olhos de Buddy, um garotinho que vivia com sua família naquela época turbulenta. Buddy era de uma família protestante da classe trabalhadora, que lutava para conseguir saldar as suas dívidas e obter uma vida melhor futuramente.
Este é o ponto mais singelo e mais tocante na obra de Branagh, pois ele uniu um contraponto perfeito pelos olhos de Buddy ao nos mostrar a sua inocência, a sua pureza, os seus sonhos, sendo confrontados diretamente com a brutalidade dos conflitos entre os católicos e os protestantes, os confrontos entre os manifestantes e a polícia, os massacres da guerra civil. Acredito que Branagh decidiu contar a sua história em preto e branco pra literalmente nos passar a falta de vida, de alegria, de cores naquele momento da sua infância, que por mais que tínhamos momentos mais leves por parte de Buddy e seus avós, mas sempre inserido dentro daquele pano de fundo de guerras, conflitos e violência. Até por isso quando o filme nos apresentava um acontecimento que estava fora desse contexto, nos era contado em cores, como na cena do cinema e do teatro.
Branagh escreve um dos seus roteiros mais geniais em 'Belfast', que por mais que aquele momento era tomado pelos acontecimentos do "The Troubles", por mais que o Buddy estava em meio às mudanças culturais e sendo exposto diretamente a violência extrema, por mais que a sua família estava enfrentando dificuldades e tendo que tomar decisões difíceis, mas o seu toque singelo estava em sua forma mais íntima de nos passar a sua inocência nas descobertas que o pequenino Buddy estava fazendo. Por exemplo o seu primeiro amor, como era puro a descoberta daquele nascimento do primeiro amor de infância entre Buddy e Catherine (Olive Tennant). Como era gostoso e gratificante acompanhar a relação de Buddy com seus avós, juntamente com os conselhos que seu vô lhe dava em como se aproximar de Catherine. Os próprios conselhos da vida que seus avós que lhe dava era uma coisa genial. Os pequenos delitos que Buddy cometia ao roubar os chocolates da lojinha, ou ao se juntar na gangue e saquear o sabão em pó no supermercado, outro ponto bastante interessante, em como uma criança na idade do Buddy era facilmente influenciada. A cena final do Buddy se despedindo da Catherine é muito singela e verdadeira, quando seu pai lhe dá aquele conselho que ele vai levar pelo resto de sua vida - uma cena tocante e profunda, genial!
Além do roteiro de Branagh ser bastante intimista, a sua forma de filmar também é bem íntima, pois ele emprega a sua câmera acompanhando os passos de Buddy em todos os momentos, sempre captando os takes em suas diferentes reações e expressões (como em várias cenas em que ele se mostra surpreso com algo que estava acontecendo). A trilha sonora de Van Morrison é um dos principais pontos positivos dentro do longa de Branagh. É impressionante como a trilha sonora está bem casada dentro da trama, como ela acompanha bem a trama, como ela influencia diretamente em todas as cenas e dita o ritmo certeiro de cada acontecimento - destaque para a sua belíssima composição, "Down to Joy", que está concorrendo ao Oscar. 'Belfast' tem uma das mais belas fotografias que eu já vi em um filme este ano, até por se tratar de uma película em preto e branco, onde contribui demais para a fotografia - méritos para o diretor Haris Zambarloukos (de Mamma Mia! e Thor). Até agora estou me perguntando como o filme não ganhou indicação por fotografia no Oscar, mais uma bola fora este ano academia. A direção de arte, juntamente com a cenografia, é outro ponto que merece destaque, pois está muito bem caprichada e muito fiel dentro da proposta do tema abordado pelo filme.
O elenco de 'Belfast' é uma obra-prima à parte! Um elenco onde todos estão bem, todos tem atuações bem destacadas, criamos uma empatia por todos, torcemos por todos, sofremos por todos. Branagh foi muito feliz ao escolher o seu elenco (cujo vários membros da produção também nasceram em Belfast), um elenco muito bem ajustado, onde todos possuíam uma ótima química. Eu gostei muito do elenco de 'Coda' e de 'West Side Story', mas depois de conferir esta obra eu afirmo que 'Belfast' tem o melhor elenco dessa temporada de premiações - sem sombra de dúvida.
Jude Hill é um doce, um ator-mirim que se destaca dentre o elenco adulto, entregando um verdadeiro show em cena. Impossível não simpatizarmos com ele, impossível não nos emocionarmos com ele, ele nos cativa e prende a nossa atenção em todos os momentos (e olha que ele estava fazendo a sua estreia nos cinemas). A categoria Revelação no Critics este ano está disputadíssima, pois além de ter amado a atuação do Jude Hill, ainda temos Emilia Jones (Coda), Saniyya Sidney (King Richard) e Rachel Zegler (West Side Story). Vai ser difícil decidir a minha torcida, mas vou ficar dividido entre o Jude Hill e a Emilia Jones.
Caitríona Balfe (de Ford vs. Ferrari) está ótima, entrega uma atuação soberba e tem uma carga dramática bem dosada, e assim como Jamie Dornan (de Cinquenta Tons de Cinza), que também está maravilhoso, formam o casal dos pais de Buddy, que por sua vez possuem uma ótima química entre eles. Judi Dench (de Shakespeare Apaixonado) e Ciarán Hinds (de Munique e Sangue Negro) estão maravilhosos como os avós do Buddy. Uma das melhores cenas era exatamente os diálogos (conselhos) entre os avós e Buddy, onde eu conseguia sentir o amor verdadeiro pela sétima arte bem explicita nas atuações de Judi Dench e Ciarán Hinds. Completando a família com Lewis McAskie (Will, o irmão mais velho de Buddy) e Josie Walker (como a tia Violet). Sem deixar de mencionar a Lara McDonnell (Moira), amiga inseparável de Buddy.
'Belfast' foi indicado em 7 categorias no Globo de Ouro, incluindo Canção Original, Roteiro, Atriz Coadjuvante (Caitríona Balfe), Ator Coadjuvante (Jamie Dornan e Ciarán Hinds), Direção e Filme Drama. No SAG's o filme esteve indicado em 2 categorias, Atriz Coadjuvante e Elenco. No Critics o longa está indicado em Edição, Direção de Arte, Fotografia, Roteiro Original, Direção, Elenco, Revelação, Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante (os 2 atores) e Melhor Filme (sendo bem sincero, eu daria o prêmio de Elenco para 'Belfast'). No BAFTA o longa está indicado em 6 categorias, incluindo as principais de Melhor Filme e Melhor Filme Britânico, sendo esnobado em Direção (BAFTA sendo BAFTA). No Oscar o longa está nomeado em 7 categorias, incluindo Som, Canção Original, Roteiro Original, Atriz Coadjuvante (Judi Dench, Caitríona Balfe ficou de fora), Ator Coadjuvante (Ciarán Hinds, Jamie Dornan também ficou de fora), Direção e Melhor Filme.
Kenneth Branagh nos traz o seu filme mais intimista, mais pessoal, e eu simplesmente amo esse estilo intimista em nos relatar uma parte da sua infância, que me remete diretamente a obra-prima de Alfonso Cuarón (Roma). Outro ponto que me prende e me emociona em obras como 'Belfast', é a forma em nos contar a história pela perspectiva de um ator-mirim, como no magnífico 'O Quarto de Jack' e a obra-prima 'O Menino do Pijama Listrado'.
'Belfast' de fato é a obra-prima mais intimista de Kenneth Branagh, o longa é realmente excelente, possui um belíssimo elenco, que nos entrega ótimas atuações, tecnicamente é uma obra-prima, e vai brigar diretamente no Oscar. Por falar em Oscar, acredito que o longa de Branagh não deve brigar em Som, Direção, Ator e Atriz Coadjuvante, já em Canção e Roteiro podem ter uma chance, porém a grande briga ficará na principal categoria da noite, Melhor Filme, onde eu vejo o longa com grandes possibilidades para levar a estatueta. E a partir de agora, 'Belfast' e 'Ataque dos Cães' são os meus favoritos na principal categoria do Oscar 2022. [11/03/2022]
Mães Paralelas
3.7 411Mães Paralelas (Madres Paralelas)
O longa é escrito e dirigido pelo grande cineasta espanhol, Pedro Almodóvar, cuja produção conta com Agustín Almodóvar, seu irmão mais novo, e Esther Garcia. Almodóvar sempre foi reconhecido como um dos mais cultuado cineastas autorais dos cinemas, por empregar seu estilo cinematográfico único, e sempre nos apresentar as suas obras com sagacidade, inteligência, por sempre nos imergir em suas histórias fortes, pesadas, dramáticas, por sempre nos trazer seus roteiros bem elaborados e nos impor a sua forma novelística de nos fazer mergulhar em suas tramas.
Em "Madres Paralelas", Almodóvar nos traz um roteiro inteligente, sagaz, intrigante, curioso, enigmático, que nos prende e nos instiga a querer desvendar tudo que está por trás de cada história, dos personagem, queremos desvendar tudo que está nas entrelinhas do roteiro. Exatamente nesse ponto que eu considero o roteiro de Almodóvar bem astuto, pois ele é realizado de uma forma que nos intriga, que nos deixa curioso o tempo todo. Almodóvar vai costurando as linhas do seu roteiro aos poucos, sem nos entregar nada instantaneamente (ou inicialmente), vamos criando inúmeras possibilidades e vamos sendo confrontados com cada acontecimento. Pois o longa possui dois temas distintos, que inicialmente podem parecer um roteiro perdido, uma narrativa confusa, mas se realmente pararmos para analisar friamente, eles se ligam extraordinariamente ao final.
"Madres Paralelas" pode funcionar como uma novela, um conto, ou algo parecido, pois Almodóvar decide nos confrontar com uma história excêntrica sobre às dores da maternidade, o resgate do passado, a crise existencial, o drama e o peso de ser mãe solteira, tanto adolescente quanto na meia-idade. Ao mesmo tempo que ele propõe e desenvolve um tema que está diretamente inserido em um contexto político histórico, a guerra civil espanhola.
Penélope Cruz é a alma do filme, realmente compreendo a sua indicação ao Oscar.
Penélope dá vida à Janis Martinez, uma mulher na meia-idade que engravida (por acidente) e tem que conviver com o peso de ser uma mãe sozinha e solteira, mesmo que ela tenha condições financeiras para isso. Janis mostra uma personalidade forte e destemida, ao mesmo tempo ela se sente vulnerável, sensível, perdida, tentando se conectar, ou reconectar, à sua vida com o mundo ao seu redor, por todos os acontecimentos que ela está sendo submetida naquele momento.
Ótima atuação da Penélope Cruz....podíamos sentir suas dores, seus traumas, suas nuances, seus conflitos, tudo imposto unicamente pelo seu olhar, com uma carga mais dramática muito bem dosada - sim, temos mais um bela atuação da Penélope Cruz!
A atriz espanhola Milena Smit faz um contraponto bem acertado com a Penélope Cruz. Milena traz uma personagem (Ana) que está dentro do mesmo contexto de ser mãe, ainda mais uma mãe adolescente, solteira, sozinha, sem o apoio dos pais na criação da sua filha. Milena Smit foi uma grata surpresa, gostei da sua atuação, deu o toque certo dentro da história do Almodóvar. Israel Elejalde está bem como Arturo, o problemático caso de Janis, e até então, pai de sua filha. Completando com Aitana Sánchez-Gijón, que fez Teresa, a mãe de Ana - mais uma boa atuação, totalmente dentro do que a sua personagem exigia para a história.
Um dos pontos que mais me chama a atenção nas obras do Almodóvar, está exatamente na sua forma intimista de executar as suas filmagens. Almodóvar dá uma atenção e um carinho ao movimento literário que prioriza a expressão dos sentimentos mais íntimos dos seus personagens em cenas - aproximando cada vez mais a câmera, em um ângulo que dava o exato foco no que estava sendo proposto naquele ambiente. A trilha sonora de Alberto Iglesias (compositor daquela maravilhosa trilha de "O Leitor", com a Kate Winslet) acompanhava fielmente cada passo dos personagens, pois a mesma se destacava em um ritmo mais intenso nos momentos de tensão e nos momentos mais dramáticos - uma trilha sonora muito bem notada e sentida ao longo da trama. A fotografia de José Luis Alcaine também merece um destaque, realmente estava muito bem executada.
Quando eu afirmo que Almodóvar trouxe um roteiro muito inteligente.....vamos aos fatos:
Um ponto que eu achei bastante curioso e muito intrigante no roteiro do Almodóvar, foi exatamente os dois temas que ele estava abordando em seu longa - por um lado a maternidade e suas dores, e por outro às questões políticas.
É fato que a personagem da Penélope Cruz (Janis) buscava incansavelmente descobrir sobre suas origens e de alguma forma tentar honrar a memória do seu bisavô. Exatamente dentro desse contexto que ela busca ajuda com o Arturo, que era arqueólogo, para escavar o local que poderia está os ossos de seu bisavô e dos antepassados que foram assassinados durante a ditadura espanhola.
Mas e como ligar esses dois temas dentro da história?
Bem, eu acredito que a Janis era uma pessoa que sempre buscava a verdade do seu passado, isso de fato era muito importante para ela (é ai que entra o tema político em querer saber a verdade escavando os ossos). Por isso, quando Janis descobre que não era a mãe da pequena Cecília, e que a filha morta da Ana de fato não era dela, Janis entra em um completo dilema pessoal em querer contar a verdade para Ana, pois ela não aguentava a ideia de ocultar a verdade sobre os fatos, exatamente o que fizeram quando ocultaram os fatos verdadeiros sobre seu bisavô na guerra.
Janis poderia muito bem mentir sobre a Cecília para Ana, de fato ela poderia ficar com sua "filha" para sempre, mas como ela iria conseguir conviver com essa incoerência, uma vez que ela própria sempre buscava a coerência (a verdade) sobre o assassinato do seu bisavô na guerra.
Logo após a cena em que o Arturo conta para Janis que se separou da sua esposa por ter contado para ela sobre a sua infidelidade, é exatamente o momento em que Janis fica ainda mais conturbada em saber como é difícil suportar uma mentira, tanto a mentira sobre a filha verdadeira da Ana, quanto a mentira que lhe contaram a vida toda sobre seu bisavô e os antepassados da guerra.
É......se esta reflexão dos dois temas se unindo no roteiro do Almodóvar não for considerado inteligente e sagaz....eu não sei mais o que é!
Na temporada de premiações, "Madres Paralelas" esteve indicado no Globo de Ouro nas categorias Trilha Sonora e Filme Estrangeiro. O BAFTA indicou o longa a Filme Estrangeiro. No Oscar o longa tem duas indicações, Trilha Sonora e Atriz, sendo esnobado em Filme Estrangeiro (como também foi no Critics). Sobre Melhor Atriz, acho o trabalho da Penélope Cruz ótimo e de fato ela mereceu uma indicação, mas pra mim ela corre por fora, vejo a Nicole, a Jessica e a Kristen um passo à frente, principalmente a Kristen.
Pedro Almodóvar nos entrega uma bela obra intimista, "Madres Paralelas" é um ótimo drama, bastante refletivo, interpretativo, curioso e intrigante. Mais um belo filme do cinema espanhol. [04/03/2022]
Spencer
3.7 569 Assista AgoraSpencer
"Spencer" é uma cinebiografia inserida em um drama psicológico de ficção histórica, dirigido por Pablo Larraín e escrito por Steven Knight. O filme é sobre a crise existencial da princesa Diana e se passa em um fim de semana em Sandringham House, no Natal de 1991, nos relatando a sua decisão em querer se divorciar do príncipe Charles, o Príncipe de Gales, e deixar a família real britânica. Kristen Stewart e Jack Farthing estrelam como a princesa Diana e o príncipe Charles, respectivamente, acompanhados por Timothy Spall, Sean Harris e Sally Hawkins.
Vale lembrar que tudo que nos é contado no filme é feito de forma especulativa, lúdica, com uma liberdade criativa, com teorias sobre o que de fato pode ter acontecido na vida da Princesa Diana durante aquela época turbulenta em sua vida, o quê culminou com os acontecimentos que antecederam o natal daquele ano e os dias subsequentes após o seu pedido oficial de divórcio. De fato pode ser uma obra com ares fictício, mas totalmente imersa em uma história verdadeira e angustiante. Uma fábula inspirada em uma tragédia real!
"Spencer" é o típico filme feito para a sua protagonista brilhar. Tudo é pensado exatamente dentro desse contexto, tudo é trazido com os minuciosos detalhes, com todos os cuidados, com muita atenção, tudo é voltado para a Princesa Diana (Kristen Stewart), lhe transformando no pilar central da trama e tudo que acontecia girava ao seu redor.
Pablo Larraín conseguiu nos imergir dentro daquela passagem na vida da Diana com muita competência e de uma forma totalmente crível. É realmente impressionante e assustador ao nos confrontarmos com o modo de vida que a Diana levava em seu dia a dia, praticamente um passarinho preso dentro da gaiola, sendo totalmente controlada e vigiada, cuja próprias roupas sequer ela podia escolher quais queriam usar. Conseguimos sentir a sua angústia, a sua dor, o seu desespero, pois até o seu belíssimo colar de pérolas lhe sufocava como uma coleira em seu pescoço. Diana nos expõe a sua opressão, tensão, abuso, vulnerabilidade, desgaste mental, sanidade mental, pressão psicológica, crise existencial, pois em sua vida ela sofria constantes perseguições da família real e dos paparazzis.
"Spencer" é uma belíssima cinebiografia da Princesa Diana. Por mais que o roteiro se desenvolva de forma fictícia, quem viveu os anos 90 vai conseguir sentir veracidade em tudo que está sendo entregue em cena. Méritos para o diretor Pablo Larraín, que conseguiu nos entregar uma direção competente, ajustada, refinada, pois seus inúmeros takes eram sempre certeiros em diferentes ângulos do rosto da Lady Di, sempre nos evidenciando sobre os diferentes momentos e situações que ela estava enfrentando. O roteiro de Steven Knight é outro ponto certeiro, pois ele entrega exatamente o que se propõe, se desenvolvendo bem dentro daquele pequeno período na vida da Lady Di.
A direção de arte e a cenografia estão soberbas, nos entregando um cenário dentro da mansão real (ou a mansão de férias natalina) totalmente voltada para os anos 90 (méritos para Sebastián Sepúlveda). Os cenários, os objetos de cena, os figurinos, os adereços, os apetrechos, às maquiagens e cabelos estavam realmente incríveis e totalmente fiéis à época. Como não destacar os figurinos luxuosos da Lady Di, juntamente com a sua maquiagem e seus penteados - grande responsável em deixar a Kristen 100% fiel e caracterizada de Princesa Diana (méritos para Jacqueline Durran). A fotografia de Claire Mathon é outro ponto crucial, se destacava em todas as cenas, principalmente as cenas dentro da mansão. A trilha sonora do grande Jonny Greenwood é avassaladora, pois suas composições soavam perfeitas quando confrontadas com os momentos de angústia do dia a dia da Princesa Diana - um casamento perfeito!
Um trabalho sublime, encantador, avassalador, primoroso, genial, estupendo, magnífico, me deixando completamente apaixonado pela Kristen Stewart em "Spencer".
Kristen estudou à fundo a Princesa Diana, assistiu séries, filmes, leu relatos, documentários, buscou informações em tudo que se referia à personalidade que ela iria interpretar nos cinemas. Um verdadeiro estudo na personagem, onde ela buscou se especializar nos sotaques britânicos, nos trejeitos, nas facetas, nos olhares, nas expressões, na postura, no jeito de andar, tudo para ficar o mais próximo possível da princesa Diana. Kristen ainda contou com a ajuda de antigos conselheiros da realeza para viver uma versão mais semelhante dos hábitos de Lady Di.
Kristen está perfeita, totalmente dentro da personagem, muito bem caracterizada, uma atuação monstruosa, sendo praticamente impossível reconhecê-la em tela, estávamos realmente assistindo a Princesa Diana. Pra quem viveu na época da Princesa Diana, vai se impressionar com a tamanha semelhança que a Kristen alcançou com esta atuação.
Kristen realmente calou todos os críticos, pois ela sofreu ao longa de sua carreira marcada pela Bella de "Crepúsculo". Eu mesmo confesso que sempre achei às suas atuações inexpressivas, nunca me cativou, mas agora eu estou engolindo o meu preconceito e admitindo que Kristen Stewart é uma belíssima atriz e nos entregou um trabalho estupendo como Princesa Diana.
Mais uma performance para brigar diretamente no Oscar (ela já levou o prêmio no Hollywood Critics Association ), Kristen vem forte e acaba de se tornar uma das minhas preferidas nessa temporada de premiações (juntamente com a Jessica Chastain).
Completando o elenco ainda tivemos Jack Farthing como Charles, Príncipe de Gales, sem grandes destaques, apenas para contextualizar a história da Lady Di. Timothy Spall como Major Alistair Gregory, sendo uma espécie de mordomo totalmente invasivo e inoportuno (pra não dizer chato pra cacete) no dia a dia da Princesa Diana. E minha querida atriz Sally Hawkins (da qual gosto muito) como Maggie, a Costureira Real e confidente de Lady Di.
No Globo de Ouro "Spencer" teve apenas a indicação da Kristen Stewart. No Critics, além da indicação da Kristen, ainda teve uma para o Jonny Greenwood. O BAFTA ignorou totalmente "Spencer", não indicou em nenhuma categoria, mas há quem diga que a família real pode ter interferido diretamente na decisão, afinal de contas o BAFTA é uma premiação britânica. No Oscar também só tem a indicação da Kristen, porém, eu indicaria fácil na categoria de Melhor Filme, se até "Licorice Pizza" foi, porquê "Spencer" não poderia? Aliás, pra mim, "Spencer" é muito mais filme.
Esta é a temporada das cinebiografias: temos "King Richard", "Being the Ricardos", "Os Olhos de Tammy Faye", "Tick, Tick... Boom!" e completando a lista, "Spencer".
"Spencer" é um ótimo filme, bem editado, bem montado, bem arquitetado, muito bem transplantado para a tela. Tecnicamente o filme é perfeito, tem um roteiro acertado e uma atuação estupidamente maravilhosa da Kristen Stewart. Pablo Larraín nos entrega uma bela cinebiografia dessa específica passagem na vida dessa figura tão importante, tão admirada e tão influente. A Princesa Diana foi e ainda é um ícone mundial, ainda brilha na cultura pop e é lembrada, respeitada, condecorada e homenageada até hoje. A mulher mais fotografada do mundo, Princesa de Gales, Lady Di, uma verdadeira Dama, uma verdadeira Lenda, a Princesa do Povo.
Diana Frances Spencer - de uma simples plebeia para uma princesa!!! [01/03/2022]
Licorice Pizza
3.5 597Licorice Pizza
Paul Thomas Anderson é um diretor que admiro demais, um verdadeiro mestre nos roteiros e na direção dos seus filmes. Ao longo dos anos já nos entregou obras maravilhosas como "Boogie Nights", "Magnólia", "O Mestre", "Sangue Negro" e "Trama Fantasma". Considero "Sangue Negro" como a sua melhor obra-prima até hoje.
"Licorice Pizza" é o mais novo trabalho do diretor, que também assina os roteiros (como de praxe). O longa é uma ideia original de PTA, que novamente se reencontra com a família HAIM (da qual ele é um amigo próximo) depois de realizar vários dos videoclipes do grupo. PTA convida a Alana Haim para estrear nos cinemas e dividir o protagonismo juntamente com Cooper Hoffman, que também está fazendo a sua estreia.
"Licorice Pizza" é o trabalho mais diferente de PTA, é totalmente o inverso do que sempre esperamos dele, ou do que estamos mais acostumados. O longa funciona como uma comédia romântica nostálgica, com algumas pitadas de drama, cuja narrativa se desenvolve mais leve, numa marcante história de “coming of age”. Também pode funcionar com uma carta de amor aos filmes e os seus realizadores da década de 70, pois é completamente notável a forma adotada por PTA ao dirigir o seu filme com ares daquela época. A paleta de cores que observamos em tela é mais envelhecida, com um tom mais amarelado puxando para o acinzentado, cuja fotografia (do próprio PTA) se destaca exatamente nesses pontos. Os próprios figurinos dos jovens daquela década é muito bem notado no elenco (principalmente na Alana e no Cooper Hoffman). A direção de arte é muito atraente, a cenografia é ótima, pois os cenários e todos os seus objetos estão completamente fiéis aos anos 70.
Não posso esquecer de mencionar a trilha sonora de Jonny Greenwood que está completamente magnífica. Uma trilha sonora contemporânea, ajustada, muito bem encaixada e notada ao longo da trama, que enriquecia às qualidades técnicas do filme.
A história acompanha os dois jovens que se apaixonam no Vale de São Fernando, Califórnia, na década de 1970. Temos Alana Haim no papel de Alana Kane, uma jovem de 25 anos que se apaixona por um insistente adolescente de 15 anos, Gary Valentine, interpretado por Cooper Hoffman, filho do falecido Philip Seymour Hoffman.
De fato "Licorice Pizza" tem o estilo de PTA, quem conhece o diretor e acompanha às suas obras vai consegui pegar várias coisas que ele traz de seus trabalhos anteriores. Porém, devo confessar que esse estilo de comédia romântica mais humorada não me pegou, não me envolveu, não me conquistou, pelo contrário, achei uma história bem mediana, bem bobinha, um romance bem água com açúcar, bem chatinho. Típica história romântica que não se desenvolve, não engrena, estaciona, mesmo sendo influenciado por um romance da década de 70, onde literalmente poderia se desenvolver dessa forma que foi contada. Outro ponto, não simpatizei com o casal, não consegui me conectar com eles, não consegui torcer por ninguém, não tive aquela atração pela a sua história. Pra mim faltou clima, faltou química, faltou imersão, faltou alma, faltou estrutura, faltou muita coisa para eu me conectar com aquele romance. Não sei se de repente o fato dos dois estarem estreando nos cinemas interferiu, ou não, mas de fato toda a história criada por PTA ao realizar 'Licorice Pizza' não me agradou.
Por falar em estreias, Alana Haim vem da música para os cinemas, e ela faz uma atuação ok, nada acima da média, apenas ok. Não podemos negar que Alana está bem natural na personagem, traz uma atuação normal, como se fosse ela mesma no seu dia a dia, e isso funciona muito bem, pois era exatamente isso que o filme pedia. Porém, eu vejo a Alana Haim como um diamante bruto, que precisa ser lapidado, precisa de um amadurecimento, e isso é um fato, afinal de contas aqui é seu primeiro trabalho. Mas ela tem talento, tem potencial para ir cada vez mais longe, se escolher os papéis corretos.
Cooper Hoffman está no mesmo nível da Alana Haim, consegue levar o seu personagem bem, em até certos pontos, mas também não tem um grande destaque, apenas compõe a trama. Também acredito que o tempo ajudará no seu amadurecimento cinematográfico, afinal de contas seu pai era um verdadeiro gênio da sétima arte. Ainda tivemos as belas participações de Sean Penn, um verdadeiro showman em cena (aquela cena da moto é muito boa), e Bradley Cooper, nos agraciando com mais uma das suas belas atuações (como o Bradley Cooper é um ator fenomenal - Ave Maria!!!).
No Globo de Ouro o longa de PTA recebeu indicações em Roteiro, Atriz (Alana), Ator (Cooper) e Filme Comédia/Musical. No Critics o longa recebeu 8 nomeações, incluindo as principais de Ator, Atriz, Direção e Elenco. No BAFTA também recebeu 5 indicações, também incluindo as principais e principalmente a de Melhor Filme.
Falando do Oscar: devo mencionar que "Licorice Pizza" está indicado em três categorias, Roteiro Original, Direção e Melhor Filme. Disto isto, devo expor a minha indignação com a academia (mais uma vez), pois é completamente notável que o PTA está indicado a Melhor Diretor somente por ser o PTA, pois em nenhum momento o seu trabalho em "Licorice Pizza" condiz com a sua indicação. Tudo bem que de fato o PTA é um mestre na direção e em "Licorice Pizza" ele faz um trabalho competente, mas não chega aos pés do Denis Villeneuve em "Duna", que foi completamente esnobado pela academia - me desculpem, mas eu achei a indicação do PTA muito forçada e me soou como uma injustiça.
O mesmo vale para a categoria de Melhor Filme, pois "Licorice Pizza" está indicado somente por ser um trabalho do PTA e a categoria contar com 10 vagas, porque em nenhum momento o longa faz jus à esta indicação. Tínhamos filmes melhores e que poderiam facilmente entrar nessa vaga, como o caso de "Tick, Tick... Boom!". Este caso me remete diretamente ao Oscar 2018, onde também tínhamos um filme bem mediano (Lady Bird) que foi erroneamente indicado na categoria de Melhor Filme. Pra falar a verdade: "Licorice Pizza" é o "Lady Bird" dessa temporada.
No mais, "Licorice Pizza" se destaca apenas por ser um trabalho do Paul Thomas Anderson e pelas às suas qualidades técnicas, mas de fato este é o trabalho menos inspirado do diretor, o que definitivamente o coloca como um dos seus piores filmes. Pra mim completamente passável e totalmente esquecível! [28/02/2022]
(uma estrela por ser um trabalho do PTA e a outra pelas qualidades técnicas)
Os Olhos de Tammy Faye
3.3 177 Assista AgoraOs Olhos de Tammy Faye (The Eyes of Tammy Faye)
Os Olhos de Tammy Faye é uma cinebiografia dramática dirigido por Michael Showalter, baseado no documentário de 2000 de mesmo nome de Fenton Bailey e Randy Barbato de World of Wonder. O longa conta a história de Tammy Faye Bakker (interpretada por Jessica Chastain), desde seu humilde começo crescendo em International Falls, Minnesota, até a ascensão e queda de sua carreira de televangelismo e casamento com Jim Bakker (interpretado por Andrew Garfield). O roteiro é escrito por Abe Sylvia, enquanto Jessica Chastain também é um dos produtores do filme.
Assim como no filme "Being the Ricardos", onde tínhamos a cinebiografia de Lucille Ball, aqui temos a cinebiografia de Tammy Faye, o curioso é o fato de eu não conhecer ambas personalidades e suas respectivas histórias. Dito isto, da mesma forma como eu analisei "Being the Ricardos" vou analisar "Os Olhos de Tammy Faye" unicamente pela minha experiência com o filme, sem afirmar se os acontecimentos ocorreram corretamente na ordem cronológica, se teve veracidade nos fatos contados da vida de Tammy e Jim, até porque sem conhecer a história real, fica difícil apontar se a forma como Michael Showalter decidiu contar a história da vida do casal está certa ou errada.
O longa se dividi em duas partes, na primeira hora temos a melhor parte de todo o filme, pois é nela que começamos a conhecer a vida de Tammy Faye ainda criança. Começamos a acompanhar a criação de Tammy, a forma como seus pais moldava a sua cabeça em relação a religião e a igreja, toda sua curiosidade em descobrir o que as pessoas faziam reunidas nas pequenas igrejas. Logo após temos o começo do envolvimento de Tammy e Jim nos anos 60 (por sinal uma parte maravilhosa de Jessica e Andrew), passamos a acompanhar o casamento e a forma como eles começaram a galgar no meio religioso, utilizando-se das pregações de Jim e as apresentações dos bonecos de fantoches de Tammy para chamar a atenção das crianças, que por sua vez chamaria a atenção dos pais para frequentarem as igrejas. Juntamente com a primeira gravidez de Tammy, que viria logo na sequência.
Na segunda parte do filme temos a criação da PTL Club, se tornando a maior rede de transmissão religiosa do mundo. O que viria a elevar a Tammy Faye ao posto de maior apresentadora gospel da TV norte-americana. Mas também nessa segunda parte temos a mudança no tom do filme, que inicialmente era leve e extrovertido, agora já era tenso e pesado, pois começamos a acompanhar a queda da televangelista e de seu marido nos anos 70 e 80, começaram aparecer as primeiras infelicidades no casamento, às traições, os escândalos sexuais, os rivais, a imprensa e as irregularidades fiscais. Definitivamente acompanhamos da ascensão a queda do casamento e do império de Tammy Faye.
O longa de Michael Showalter é muito bom, é muito gostoso de acompanhar, pois toda a história da Tammy Faye é contada de uma forma completamente acertada, sendo leve e tensa nos momentos corretos, conseguindo nos imergir na trama e nos simpatizar pelo casal. Com um destaque mais do que merecido para o trabalho de maquiagem e cabelo, que estão completamente estonteantes. Tammy sempre se destacou pelas suas maquiagens, seus penteados, seus cílios, nada mais justo do que a sua cinebiografia acertar em grande estilo nessas qualidades técnicas. Outro ponto a destacar no trabalho de maquiagem, a forma como o casal eram envelhecidos de acordo com o passar dos anos - magnífico! A direção de arte e a cenografia estão soberbas, impossível não nos maravilharmos com os belos cenários que compõem o longa, muito bem montados, muito bem projetados, com objetos de cenas e figurinos que nos remetia diretamente às décadas de 60, 70, 80 e 90. A fotografia se destaca muito bem, assim como a trilha sonora, que está bem ajustada de acordo com os acontecimentos que permeava a trama.
É inegável que a Jessica Chastain e o Andrew Garfield são os donos do filme, pois ambos estão perfeitos em suas respectivas atuações, ambos conseguem uma química invejável, conseguem comprar a nossa atenção e a nossa empatia instantaneamente.
Jessica incorpora a Tammy Faye de uma forma tão natural, tão leve, tão espetacular, tão minimalista, tão forte, que nos ganha em todas às suas aparições em cenas. É impressionante a facilidade que a Jessica tem para atuar em diferentes situações, pois quando o filme lhe pede uma atuação mais serena, mais jovial, mais moleca ela nos entrega uma Tammy que tinha aquele seu jeito inocente, doce, meigo, que estava descobrindo o seu amor pelos ensinamentos de Deus e descobrindo a sua paixão pelo Jim. Porém, quando o filme muda de tom, sua atuação acompanha diretamente a mudança, pois temos uma Tammy mais sisuda, mais tempestuosa, mais dramática, mais vulnerável, uma atuação que condizia com tudo que ela estava passando naquele momento da sua vida.
Que a Jessica Chastain é uma atriz maravilhosa, espetacular, fenomenal, isso todos nós já sabemos, mas o que ela nos entrega na pele da Tammy Faye é para ser aplaudida de pé em completo êxtase. Jessica atua com a alma e o coração, tem uma performance excelente, interpreta muito bem, canta maravilhosamente bem (destaque para a sua última cena), uma apresentação e uma entrega completamente perfeita, sem um erro. Jessica foi indicada no Globo de Ouro, perdendo para a Nicole Kidman, está indicada no Critics, e ontem à noite levou o prêmio no SAG's (justíssimo por sinal). No Oscar a disputa será mais acirrada, pois temos a Nicole com um leve favoritismo, mas na minha modesta opinião, eu gostei mais da atuação da Jessica do que da Nicole, disto isto, eu daria a estatueta para a Jessica Chastain sem pestanejar.
Andrew Garfield vem se destacando como um dos melhores atores da sua geração, e não é de hoje. Aqui temos um Andrew totalmente solto, leve, inspirado, carismático (sua marca registrada), envolvente, que nos impressionou mais uma vez com a sua atuação. Andrew interpretou um Jim que inicialmente era visto como o par perfeito de Tammy, aquele casal perfeito, como observamos logo ao início com o seu relato do pacto que ele fez perante Deus, nos evidenciando o que o levou a querer seguir a palavra de Deus. Outro destaque estava em sua forma de pregar os desígnios de Deus, sendo bastante incisivo, enfático, firme, convincente, mas sempre de uma forma leve, e com um sorriso no rosto esbanjando toda a sua simpatia (foi exatamente assim que ele começou a conquistar a atenção da Tammy Faye). Tudo isso condiz com a bela atuação que Andrew nos entrega, pois assim como a Jessica, ele também tem variações de tom em sua atuação, que são muito dignas por sinal.
Andrew Garfield já nos entregou ótimos trabalhos e belíssimas atuações como em "A Rede Social", "Silêncio", "Até o Último Homem" e recentemente em "Tick, Tick…Boom!" e "Os Olhos de Tammy Faye". Andrew foi indicado ao Oscar por "Até o Último Homem" e está indicado por "Tick, Tick…Boom!". Na minha opinião, já passou da hora do Andrew Garfield ser reconhecido pela academia, pois ele é um ator completo, ele já fez drama, já fez comédia, já fez musical, já fez super-herói, já fez romance, e tudo em alto nível, que sempre o eleva, o destaca e o coloca em busca dos principais prêmios nos festivais. E só pra deixar registrado, eu indicaria o Andrew pelo seu trabalho apresentado em "Os Olhos de Tammy Faye", pra mim cabe tranquilamente uma indicação a coadjuvante no Oscar, ou em qualquer premiação, sem nenhum exagero.
O longa de Michael Showalter está indicado no Critics, no BAFTA e no Oscar na categoria de Maquiagem e Cabelo.
"Os Olhos de Tammy Faye" é uma ótima cinebiografia, é leve, divertida, prazerosa, gostosa, que não pesa a mão em discursos sobre religião, e não defende nenhuma tese e nem impõe nada sobre a fé, ou a crença de cada um, o que poderia facilmente cansar e desinteressar o espectador, pelo contrário, temos apenas uma releitura de como foi a vida de Tammy Faye e Jim Bakker. Há muito tempo que eu não assistia um filme biográfico tão bom quanto este. Tecnicamente o longa é bem feito e bem caprichado. O roteiro é bem funcional e dita o ritmo correto que a trama percorre durante às suas 2h. O filme não é cansativo, não é arrastado, nos prende gradativamente e tem um ritmo acertado. Às atuações nos ganha imediatamente, pois temos um bom elenco de apoio, mas o que realmente nos conquista e eleva o nível do filme são estes dois nomes: Andrew Garfield e Jessica Chastain. [28/02/2022]
A Tragédia de Macbeth
3.7 191 Assista AgoraA Tragédia de Macbeth (The Tragedy of Macbeth)
A Tragédia de Macbeth é um longa (original Apple Films) histórico americano de 2021 escrito e dirigido por Joel Coen e baseado na peça Macbeth de William Shakespeare. É o primeiro filme dirigido por um dos irmãos Coen sem o envolvimento do outro. O filme é estrelado por Denzel Washington, Frances McDormand, Bertie Carvel, Alex Hassell, Corey Hawkins, Harry Melling, Kathryn Hunter e Brendan Gleeson.
Eu tive uma grande curiosidade ao descobrir que pela primeira vez os irmãos Coen iriam se separar em um filme, pois isso me soava um tanto quanto arriscado, visto que eles sempre trabalharam juntos e nos entregou verdadeiras pérolas cinematográficas como "Fargo" e "Onde os Fracos Não Têm Vez" (pra citar duas). Criei grandes expectativas ao imaginar como seria a direção e o roteiro de Joel Coen, sem o seu irmão Ethan Coen, em "A Tragédia de Macbeth". Pois bem, aqui temos uma ótima adaptação Shakespeariana em preto e branco feita por Joel Coen, juntamente com a sua esposa Frances McDormand, que além de atuar, também está presente na produção do longa.
Joel nos entrega uma ótima uma peça teatral filmada como um longa-metragem. Um verdadeiro teatro, desde às apresentações, às atuações, os diálogos, os monólogos, os cenários, os figurinos, às filmagens, que muita das vezes eram bem próximas dos rostos dos personagens em cena, captando todas as suas expressões faciais. A direção de Joel está muito segura, pois o trabalho de câmeras que ele adota em seu filme é incrível, muita das vezes feito com câmeras fixas, em ângulos fixos, uma filmagem com ares teatrais, totalmente imersa na peça, no conto, na trama que estava sendo apresentada.
A cenografia do longa é bem ajustada e funciona dentro do que o filme precisa, pois temos cenários voltados para o reino, para o castelo, que nos remete diretamente aos cenários de uma peça teatral, exatamente por isso que o longa se desenvolve quase que 100% do seu tempo em cenários fechados e não em ambientes mais abertos. A direção de arte (que está indicada ao Oscar) é bastante competente e acompanha bem a construção dos cenários, figurinos e maquiagens, estando presente no enquadramento com a direção de fotografia. Por falar em fotografia, Bruno Delbonnel está completamente sublime ao destacar a fotografia do longa, a película em preto e branco favorece muito a fotografia, pois a mesma está belíssima. Delbonnel está indicado ao Oscar, mas o páreo é duríssimo, pois ele enfrenta Dan Lautsen (O Beco do Pesadelo), Ari Wegner (Ataque dos Cães), Greig Fraser (Duna) e Janusz Kominski (Amor Sublime Amor). A trilha sonora de Carter Burwell é branda, suave, tensa nos momentos certeiros, dita o ritmo da trama.
Denzel Washington está muito bem como Lord Macbeth, é realmente incrível como ele se dá bem em longas que são voltados para uma peça teatral, como ele domina bem os diálogos e os monólogos, como foi em "Fences", um longa que também funciona com uma peça teatral (trabalho que também lhe rendeu uma indicação ao Oscar). Denzel faz o que sabe de melhor ao interpretar um personagem tirano, ambicioso, ardiloso, maquiavélico, que desejava ocupar o trono a qualquer custo, mesmo que isso o levasse diretamente para a tragédia de Macbeth. Obviamente o Denzel já esteve em trabalhos mais inspirados e mais ambiciosos, já nos entregou melhores atuações, porém, devo afirmar que aqui ele traz uma atuação mais teatral na medida certa, que está bem ajustada e compõe muito bem o propósito do seu personagem. Denzel Washington tem uma boa atuação e realmente ele está bem no personagem, mas sinceramente não acho que seja uma atuação para indicá-lo ao Oscar.
Frances McDormand é uma atriz refinada, requintada, renomada, oscarizada, uma das melhores atrizes de todos os tempos (e não é de hoje). Frances dá vida a Lady Macbeth, o braço direito de seu marido (Lord Macbeth) e peça-chave no desenrolar de toda a trama, sendo a principal responsável em instigá-lo em seus desejos e ambições perante à sua visão de que ele será o próximo rei da Escócia. Uma personagem astuta, sagaz, fria, calculista, que planejava às suas ideias mirabolantes e às colocava sempre em prática (ou pelo menos tentava). Frances e Denzel formam a dupla perfeita do longa, um contraponto muito funcional pra história. Destaque para a cena do sonambulismo, onde Frances eleva a sua atuação e nos mostra outra faceta da Lady Macbeth - perfeita!
Jamais poderia deixar de mencionar a atriz Kathryn Hunter. Kathryn chega a nos assustar e nos deixar boquiabertos perante a sua performance ao incorporar uma bruxa maléfica, sombria, pitoresca, que usava da sua astúcia ao discursar para convencer o Lord Macbeth a seguir em busca da sua visão. Eu fiquei completamente impressionado ao presenciar o alto nível de atuação que Kathryn Hunter deu ao nos exibir seu contorcionismo, seus trejeitos, suas expressões sádicas, sua faceta tirana, sua voz sombria - um verdadeiro show em cena, sem nenhum exagero.
Ainda tivemos Corey Hawkins como Macduff, mais uma boa atuação, principalmente no embate final com o Lord Macbeth. Alex Hassell como Ross, se destacando bem como uma espécie de conselheiro. Completando com Brendan Gleeson como King Duncan, Bertie Carvel como Banquo, Harry Melling como Malcolm e Moses Ingram como Lady Macduff.
No Globo de ouro e no SAG's o longa foi indicado somente em Ator (Denzel). No BAFTA também só tem uma indicação, que é Fotografia. No Critics tem duas indicações, Fotografia e Ator. No Oscar o longa está indicado em três categorias, Direção de Arte, Fotografia e Melhor Ator, e na minha opinião, não é favorito em nenhuma.
A Tragédia de Macbeth é uma bela adaptação Shakespeariana, de fato Joel Coen conseguiu nos imergir diretamente em uma peça teatral totalmente introduzida em um longa-metragem, funcionando perfeitamente. O filme é bom, às atuações teatrais são boas, a película em preto e branco é sublime e o resultado final do primeiro trabalho solo de Joel Coen é bastante convincente. [27/02/2022]
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraDuna (Dune)
Duna é dirigido por Denis Villeneuve e escrito por Jon Spaihts e Eric Roth (juntamente com o próprio Villeneuve). É a primeira de uma adaptação em duas partes do romance de 1965 de Frank Herbert, cobrindo principalmente a primeira metade do livro. O filme é a terceira adaptação de Duna após o filme de David Lynch de 1984, que foi um fracasso de crítica e comercial, e a minissérie de John Harrison em 2000. Após uma tentativa frustrada da Paramount Pictures de produzir uma nova adaptação, a Legendary Entertainment adquiriu os direitos de filme e TV de Duna em 2016, com Villeneuve assinando como diretor em fevereiro de 2017.
Villeneuve nos entrega um longa de fantasia, ficção científica, aventura, levemente inserido no drama. Acredito que Denis Villeneuve foi o nome certo para a direção de Duna, pois o próprio já trabalhou em produções voltadas para a ficção e fantasia, como em seus longas "A Chegada" e "Blade Runner 2049". Villeneuve trouxe toda a sua experiência e deu os toques certeiros na direção do longa, deixando o filme praticamente com a sua cara, pois quem já assistiu "A Chegada", vai notar imediatamente vários pontos trazidos por Villeneuve para Duna, como os seus trabalhos de filmagens e seus takes aéreos (que estão espetaculares), acompanhando diretamente o movimento de cada acontecimento que se desenvolvia e se movia em cena - completamente perfeita a direção de Villeneuve em Duna, nota 10. Já quero de antemão deixar aqui a minha profunda indignação com a 'irrelevante' academia (mais uma vez), pois não indicar o Villeneuve a direção no Oscar é praticamente um crime que presenciamos (exatamente como o BAFTA também fez).
É muito interessante e satisfatório observar (ao longa da trama) às inúmeras referências trazidas para Duna de filmes como a franquia "Star Wars" e "Matrix". Às próprias coreografias das lutas nos remete diretamente à "Star Wars", funcionando como uma espécie de homenagem ao épico de George Lucas - eu achei fantástico!
Tecnicamente o longa de Denis Villeneuve é uma obra-prima do gênero.
Como a fotografia de Greig Fraser, que se destaca como uma obra-prima visual. É impressionante como a fotografia de Duna é bela, magnífica, estonteante, se destacando notavelmente em todas às cenas e sendo a grande responsável pela nossa imersão nos cenários gigantesco do longa. Greig Fraser está indicado ao Oscar e vai brigar diretamente com Dan Lautsen (O Beco do Pesadelo), Ari Wegner (Ataque dos Cães) e Janusz Kominski (Amor Sublime Amor). A trilha sonora do gênio Hans Zimmer é outra obra-prima, pois a mesma é única, contemporânea, intimista, que se destaca nos momentos mais oportunos, como na tensão de um ataque, um embate, uma guerra, uma morte, onde a trilha estava mais suave e ia se elevando (aumentando o ritmo) de acordo com os seguimentos dos acontecimentos em tela - magnífico! Hans Zimmer já levou o Globo de Ouro e na minha opinião, é favorito ao Oscar.
Completando com às partes técnicas temos: os efeitos visuais que estão soberbos e se destaca bem em todas às cenas. A edição e mixagem de som de Mac Ruth é majestosa. A direção de arte de Tibor Lazar é outra obra-prima, como nos impressiona a estética do filme, onde a narrativa casava perfeitamente com a unidade visual do longa. A cenografia também merece um destaque, pois estamos diante de cenários completamente estonteantes. Cabelo e maquiagem também tem que ser mencionado, assim como os figurinos de Jacqueline West e Robert Morgan, que são um show visual em cena, impossível não ser contagiado pelos belíssimos figurinos dos reinos de Duna. O longa é muito bem editado, muito bem montado, méritos para Joe Walker.
Eu não conheço a obra de Frank Herbert, tampouco assisti o longa de David Lynch, dito isto, devo destacar o principal ponto fraco do longa de Denis Villeneuve. Eu gostei do roteiro do filme, acho que ele percorre um caminho correto de acordo com os acontecimentos que permeia toda a história, mas o que me incomoda está no enredo, mais precisamente no desenvolvimento onde nos é apresentado e estabelecido os personagens. O longa peca exatamente no ritmo, pois a primeira hora é completamente arrastada, o ritmo é extremamente lento, falta imersão, dessa forma o desinteresse pela trama é inevitável, fazendo o espectador se cansar até chegar a segunda hora do filme (que até melhora um pouco). Pra quem já leu o livro, ou assistiu o longa de 1984, ou já conferiu a minissérie, estará mais familiarizado com esta parte (ou talvez não), poderá levar esta parte arrastada do filme numa boa, sem se incomodar como eu me incomodei, mas no meu caso o ritmo do longa me cansou bastante, chegando até me desanimar em algumas partes. Acredito que esta primeira parte da adaptação de Duna funcione mais como um prólogo, uma apresentação dos personagens na trama que irá se desenrolar no segundo filme, porém acredito que toda esta apresentação e desenvolvimento fez o ritmo do filme cair muito e se destacar como um ponto negativo do longa de Denis Villeneuve.
Timothée Chalamet entrega um boa atuação na pele do Paul Atreides, o descendente da Casa Atreides. Timothée segura bem o personagem, até se destacando em algumas partes, principalmente às que envolvia sua mãe. Rebecca Ferguson é a Lady Jessica, a mãe de Paul. Rebecca está mediana, sua atuação em até certo ponto condiz com a sua personagem, mas nada de grande destaque, não vi como um grande trabalho. Oscar Isaac é o duque Leto Atreides. Isaac tem uma curiosa participação na história, e se destaca com bastante relevância para os acontecimentos que irão ocorrer na segunda parte do longa. Uma boa atuação entregue por Oscar Isaac. Josh Brolin é o Gurney Halleck, e ele está bem no filme, apesar de ficar me perguntando o que de fato aconteceu com o seu personagem na segunda metade da história. O grande Stellan Skarsgård está irreconhecível como o Barão Vladimir Harkonnen, e nos entrega mais uma atuação digna do grande ator que é.
Dave Bautista nos entregou o brutal Glossu Rabban. Bautista teve menos tempo de tela, porém foi bem até onde conseguiu. Jason Momoa foi um dos meus personagens preferido da história, o espadachim Duncan Idaho. É sempre gratificante vê o Jason Momoa atuar em personagens que lhe exige força, ímpeto, coragem, e aqui ele nos entrega exatamente isso. O belíssimo ator Javier Bardem nos brinda com mais uma ótima atuação na pele do sagaz Stilgar. É impressionante como em todos os papeis que o Bardem atua, ele nos contagia e nos deixa maravilhado - que baita ator que é o Javier Bardem. Zendaya deu vida à Chani, uma misteriosa jovem Fremen que aparece nas visões de Paul, Chani é o contraponto de Paul e seu interesse amoroso. Zendaya está mais contida, mais mediana, acredito que seu maior destaque virá no segundo filme, acredito que inicialmente o roteiro não lhe favoreceu nessa primeira parte da adaptação.
Duna foi indicado em 3 categorias no Globo de Ouro, Direção, Melhor Filme Drama, e venceu na categoria Trilha Sonora. No Critics Duna empatou com "Ataque dos Cães", recebendo 10 nomeações, entre elas às principais de Direção e Melhor Filme. No SAG's o longa tem uma indicação em Melhor Elenco de Dublês em Filme. No BAFTA o longa é o campeão de indicações, tendo recebido 11, porém com tantas indicações, faltou uma das principais, Melhor Diretor pro Villeneuve (Valeu pela incoerência BAFTA). O mesmo discurso vale para o Oscar, que indicou Duna em 10 categorias (ficando atrás somente de Ataque dos Cães), mas a direção de Villeneuve foi completamente esnobada - que absurdo academia...AFF!
Duna é um bom filme, ele consegue entregar o que se propõe, que é exatamente uma aventura na fantasia. Os maiores destaques é sem dúvidas às partes técnicas, que são um show à parte, mas peca exatamente no que prenderia a atenção do público, que é o ritmo do filme, por ser extremamente lento, arrastado e cansativo. Villeneuve de fato faz um bom trabalho em Duna, ele acerta em umas coisas e erra em outras, mas isso pode servir de lição para a continuação da segunda parte do filme. Duna apresenta resquício de espetáculo, tem grandeza, tem uma ótima premissa, acredito que a adaptação tem potencial para se tornar um dos épicos na lista das obras-primas da fantasia, da ficção e da aventura - como "Avatar", "O Senhor dos Anéis" "Matrix", "Aliens" e "Star Wars", mas se for feito da forma correta.[20/02/2022]