Um filme cativante. Auggie Pullman, garoto de 10 anos, enfrentará a dificuldade de interagir com pessoas fora do seu convívio familiar ao se matricular na escola regular. O rosto deformado desta criança interpretado por Jacob Tremblay, tecnicamente possui uma maquiagem bem feita, ela reflete as dores das diversas cirurgias para reconstrução facial mas também permite que o jovem ator consiga mostrar as dores de sua alma diante dos olhares cortantes daqueles que reprovam a sua aparência.
O filme possui o afeto como aliado. Além da introdução narrada pelo garoto em off e explorar o imaginário de Auggie de maneira que não soasse repetitivo e escapista demais, o filme também dá a "outra face".
A história admite que Auggie é o sol em que os personagens do filme orbitam, mas é generoso o suficiente para mostrar pontos de vista negligenciados como da irmã Via (Izabela Vidovic), Jack Will (Noah Jupe) e Miranda (Danielle Rose Russell). Não só vemos alguns momentos da história recontada por outro ponto de vista como descobrimos os sentimentos desses personagens isoladamente: descobrimos que Via por vezes não nutre o mais saudável pensamento em relação ao seu irmão assim como sabemos intimamente a nobreza e amor daqueles que traíram como Jack Will e Miranda. O ponto mais alto do filme é de que mesmo havendo os recortes formais com as cartelas dos nomes desses personagens, o filme flui e se dilui naturalmente na história, não obrigando o espectador ver cada ponto de vista de maneira exclusivamente fragmentada
A relação de Auggie com a ciência lembra a admirável personalidade de Stephen Hawking, que supera suas limitações físicas com sua mente brilhante, mas também mostra a aceitação diante dos limites desse conhecimento humano - com bom humor -ao falar sobre suas cirurgias para Jack Will.
Isabel (Julia Roberts), mãe de Auggie e Via, que educou o garoto informalmente em casa, vive um sutil conflito entre a superproteção e a permissão para ele se envolver com o mundo. Nate Pullman (Owen Wilson) demonstra o entendimento da hierarquia feminina (harmonizadora) em casa e funciona como alívio cômico. Aliás, o filme é bastante leve em boa parte de seus momentos, também mostrando que há uma alta autoestima natural em Augie: ele não vive apenas dramas, mas coisas comuns típicas da infância.
"Extraordinário" é exatamente como o nome diz, ele apresenta uma situação incomum para a algumas pessoas, adentra com intimidade no mundo de Augie e de outros personagens. Essa profundidade permite sim reconhecer o extraordinário que cada um possui.
Um ponto positivo que avalio neste filme foi não apresentar barreiras no namoro de Via com Justin (Nadji Jeter): não creio que dilui a questão da luta racial pois o filme trata sobretudo do preconceito em relação a aparência, o que nos permite pensarmos sobre o assunto por um viés diferente. E aproveito o espaço de Spoilers para dizer como foi oportuno o lançamento deste filme nas salas de cinema na mesma época de "Star Wars: Os Últimos Jedi" pois este filme dá mais tempo de tela para Chewbacca do que a nova sequência espacial kkkk. Também achei a metáfora com Darth Sidius bem interessante. E será que esse filme se enquadra como "Filme de Natal?" Creio que sim, não só por apresentar a festa natalina em si (e a cena da ceia de que a personagem Miranda observa, angustiada, a família Pullman se divertindo - remete a vários filmes típicos de Natal como "Esqueceram de Mim" - e elo com a história do capacete de astronauta dado por ela), apesar que bastante diluída entre o Halloween e o Ano Novo, mas também pelos sentimentos como amor, aceitação e compreensão, além da redenção que muitos personagens têm durante o filme.
"Os Parças" debocha com a cultura dos cerimoniais de casamentos da alta sociedade.
O filme, repleto de piadas como é de se esperar, possui muitos momentos forçados (não só no humor como em um único momento dramático que acontece com os três nordestinos). Os quatro companheiros de confusão, interpretados por Tom Cavalcante, Whidersson Nunes, Tirullipa e Bruno de Luca, demoram para funcionar como um grupo. O filme possui esquetes que não flui como uma narrativa única.
Isso se deve em boa medida por problemas na montagem. Em termos narrativos, algumas sequências são acelerados e não fornecem melhores momentos daqueles vistos no trailer do filme. Outros simplesmente são situações que poderiam ser resolvidos em uma única cena, porém existe um vai-e-vem que mostra uma certa confusão também na elaboração do roteiro.
Um momento que destaco como problemático em termos de montagem está na apresentação do pai da noiva chamado Vacário, interpretado por Taumaturgo Ferreira: acontece por meio de um corte brusco da reunião dos parças que passa para um plano detalhe de um anel de ouro, que é desse personagem - esse momento me deixou, como espectador, bastante confuso.
Planos-detalhes servem, normalmente, para apresentar aos poucos um personagem imponente, misterioso. Porém, a forma displicente de montagem paralela entre a apresentação de Vacário e os parças continua. Quebrando esse princípio citado anteriormente, o rosto de Vacário aparece no visor do celular de um dos trambiqueiros do cerimonial. Em seguida, continua os planos-detalhes de Vacário ligando para o trambiqueiro da cena anterior. Ou seja, impacto da apresentação desse perigoso personagem se perde, mesmo se a intenção fosse apenas mostrar a riqueza de Vacário.
Porém há pontos positivos também. Algumas piadas que funcionam, principalmente feitas por Tom Cavalcante, o único ator que na minha opinião está a vontade em fazer seu personagem - inclusive muitos momentos são construídos para ele explorar outras imitações como o bêbado que remete diretamente à João Canabrava.
Resumindo, o filme dificilmente servirá de entretenimento para pessoas mais exigentes, principalmente no meio para o fim do filme pois a história perde ritmo. Mas possui seus momentos isolados de humor em um roteiro e montagem com dificuldade de se articular como uma obra coesa.
Um mosaico de sensações diante de um inimigo sem rosto. "Dunkirk", filme que se passa na II Grande Guerra, escrito e dirigido por Christopher Nolan, tenta dar voz aos envolvidos em um ousado resgate de soldados britânicos encurralados pelos inimigos nazistas no litoral da França.
Três arcos que são apresentados no início como sendo na terra (deck), no mar e no ar, trazem uma vigorosa maneira de se contar uma história, mostrando uma interdependência entre os personagens, porém a experimentação de Nolan reside na linha temporal distinta entre cada um desses núcleos dramáticos.
Arrisco traçar um comentário - certo que seja superficial mas que está a contento para este texto - sobre o raciocínio do diretor/roteirista, a ideia de que frações de segundos podem custar mais do que horas dependendo do referencial, como apresentados de forma espetacular em "A Origem" (2010) e referenciando a teoria de Einstein em "Interestelar" (2014).
Já em "Dunkirk", a relatividade temporal é ditada pela velocidade das máquinas. O mar que separa Inglaterra da França pode ser alcançado em uma hora de avião ou um dia de barco. A montagem paralela, neste caso, assemelha-se com uma narrativa não-linear, algo que Quentin Tarantino apresentou em "Pulp Fiction", apenas para citar um exemplo de seus filmes.
E como nos filmes de Tarantino, "Dunkirk" provoca uma sensação de causa e efeito em que a ação de um personagem de um núcleo interfere com o núcleo seguinte, mas não são apresentados de forma linear - e da mesma maneira força o espectador montar um quebra-cabeça para ressignificar alguns momentos do filme como o sobrevivente de um navio torpedeado, por exemplo.
A sensação de elo entre personagens que aparentemente não têm nenhuma ligação soou para mim como força irrefreável do "destino" forjada pelas ações humanas. Os núcleos dramáticos que se passam no mar e no ar mostram personagens nobres que possuem convicções e farão o possível para cumprir sua missão. Já o que se passa na terra (deck) existe uma ambiguidade, porém, o público acompanha justamente a situação de três jovens que não pertencem a nenhum regimento e todas as trapaças empregadas visam a sobrevivência como um grupo.
Os “covardes” retratados no filme são punidos ou pela morte ou por não saber da verdade, um tema que remete um dos melhores filmes de Nolan em minha opinião, “O Cavaleiro das Trevas”: quando Batman sacrifica sua reputação para amortecer a verdade em relação a Duas Caras. Outro momento em “Dunkirk” que lembra a trilogia desse super-herói é da barca com explosivos em que para se salvar alguém deve se sacrificar.
Resumindo, “Dunkirk” é um ótimo filme, com trilha sonora que remete a batidas cardíacas e ponteiros de relógio feitos com muito cuidado por Hans Zimmer, com uma fotografia interessante porém bastante operacional (alguns momentos remetendo ao posicionamento de câmera utilizado na espaçonave de “Interestelar” não só nos aviões de combate britânicos como em uma cena em que soldados carregam uma maca para um barco) mas de alguma maneira, por ter esse ar de “destino”, não senti que os protagonistas teriam um risco real em suas linhas narrativas pois de alguma maneira, no final, deveriam se complementar para o desfecho do filme.
Este agradável filme de animação mostra um relacionamento que surge de maneira insólita entre Mitsuha, uma garota sonhadora que vive em um vilarejo rural e Taki, um rapaz impulsivo que mora na metrópole Tóquio.
A barreira geográfica poderia, naturalmente, impedi-los de se conhecerem. Mas o distanciamento poderia surgir também nas diferenças culturais tradicionalistas da Mitsuha e do cotidiano efervescente de Taki, além das incompatibilidades de pensamentos e prioridades de seus gêneros sexuais.
Porém, por meio de uma situação mágica, ao dormirem, os jovens eventualmente despertam um estando no corpo do outro. Uma situação que já vimos copiosamente em diversos títulos como "Tal pai, tal filho" (1987) os dois filmes "Se eu fosse você" (2006 e 2009), "Eu queria ter sua vida" (2011), mas não chega a ser um demérito da película. Pelo contrário, por meio desse recurso, o filme consegue fazer com que o público se afeiçoe com os personagens que aos poucos compreendem a vida da outra pois vivenciam-na na "própria" pele.
Depois de compreender essa estranha situação (o filme chega a acelerar os acontecimentos - inclusive com belos time-lapse - o que mostra que o filme ainda tem muito a oferecer em termos de situações)
e traçar meios de se comunicar quando um está no corpo do outro, a narrativa cresce e desperta o interesse de ambos se encontrarem. Então, acontece um outro ganho de entendimento que flerta com outros filmes de romance fantástico como "Feitiço do tempo" (1993) e "A casa do lago" (2006).
O filme então salta do conto sobre a solidão de jovens que não encontram seu lugar no mundo para uma preocupação comunitária. Um momento aparentemente banal mas que devo destacar neste filme
é quando amigos de Taki decidem acompanhá-lo em uma viagem de trem (por certo, diante das mudanças de personalidade involuntárias pela troca de corpos, esses amigos suspeitaram que ele poderia tomar alguma atitude de risco e por isso foram juntos para se certificar que nada sairá do controle).
A metáfora dos fios entrelaçados que simbolizam uma tradição espiritual japonesa mas ao mesmo tempo representam os laços da vida são bastante significativos,
traçando o paralelo do cometa que cruza o céu. No filme também possui alguns momentos bastante arrastados e com narrativa em off que representa o pensamento dos personagens porém, ao meu ver, são de extremamente significativos pois a percepção e as lembranças desses personagens se transformam no decorrer do tempo.
Em suma, "Your name" / "Kimi no na wa" é um romance fantástico que possui um humor leve (sem a caricatura tradicional que deforma os rostos dos personagens de animês, por exemplo) e encara de frente a questão como a solidão e o desejo de encontrar alguém que o compreenda, que perca algumas noites de sonhos para viver uma outra vida e que se apaixone gradativamente pela simplicidade de uma outra existência.
"Ils" ("Eles", dir. David Moreau e Xavier Palud, 2006), baseado em fatos reais acontecido na Romênia, possui um potencial formidável para ser um ótimo filme de suspense. Porém, o filme fica num impasse entre o sobrenatural (o desaparecimento das vítimas, a mansão mal assombrada, a televisão que liga sozinho) e o slasher convencional, o que pode frustar quem espera um antagonista realmente ameaçador.
O casal protagonista, a professora francesa Clementine (Olivia Bonamy) e o escritor Lucas (Michaël Cohen) não possuem tempo suficiente em tela para estabelecer sua relação afetiva. Durante o filme, eles agem no piloto automático, com uma interpretação que não transparece medo, terror, mas ocasionais sofrimentos físicos.
O suspense no início do filme, envolvendo mãe e filha que estão em uma estrada, soa satisfatório e promissor. Mas quando o filme apresenta Clementine (Olivia Bonamy) com uma trilha sonora intensa em um momento trivial na escola, o filme demonstra que possui uma mão pesada para forçar momentos de suspense. A professora francesa enfim volta para a casa e como uma boa esposa apoia o escritor Lucas (Michaël Cohen) em uma mansão que não sabemos bem dimensionar seu espaço total.
Coisas estranhas começam a acontecer e o suspense dos personagens em tentar desvendar a presença misteriosa pode soar intrigante no início mas depois se torna repetitiva e sem esperança de desenvolvimento ou ameaça mais bem elaborada. Após idas e vindas nos cômodos de casa, com uma valentia displicente que existe apenas para a história continuar, o casal se vê em uma situação de fuga na floresta onde a mansão está localizada. A alternância entre o protagonismo de Clemente e Lucas, principalmente na montagem paralela desta fuga, se torna problemática sobretudo quando ocorre um momento chave do qual é interrompido abruptamente por um corte seco, o que quebra totalmente a tensão da cena.
Outro momento frustrante é no primeiro confronto físico de Clemente com a entidade assassina na casa. A câmera distanciada e a forma como o agressor é impedido soa patético e fácil demais, frustrando a total credibilidade por essa ameaça misteriosa. Aliás, mais uma indecisão em relação a natureza e motivação desses sujeitos pois não demonstram dor e raiva ao serem atacados. Seus grunhidos e barulhos também sugerem esse elemento sobrenatural que, na realidade, nunca se concretiza.
"Perdido em Marte" equilibra enigmas científicos com o "espírito" descolado. Jargões herméticos são diluídos com tiradas de humor, o que dá um tom mais leve para o hard sci-fi que ele pretende ser, algo importante para atenuar a ausência de ação e a monótona paisagem marciana.
Começar o longa já em solo extraterrestre me fez lembrar de forma bastante agradável o filme Gravidade - existem etapas das viagens espaciais que se permite elipses, não há mais tanta necessidade em louvar o foguete deixando a Terra, definitivamente o ponto-de-vista agora é do espaço sideral para cá.
Este é um filme que - finalmente - mostra a complexidade do universo científico e a colaboração de mentes para fazer com que tudo dê certo. Personagens importantes para a solucionar demandas crescentes de adversidades são apresentados no decorrer da trama, sem a menor cerimônia, mas é sabido que eles conquistaram aquele espaço pelo seu brilhantismo científico.
Os efeitos especiais são bastante "naturalistas", creio que seja bastante fiel às paisagens daquele mundo, mas não é nada semelhante a forma utilizada nos blockbusters, já que é um filme essencialmente de suspense, excetuando a cena final. Me causou estranheza num primeiro momento o "slow motion" do astronauta em solo marciano, o que simula a baixa gravidade do planeta. O 3D não acrescentou muito à experiência, apesar de não ter gostado da projeção e dos óculos no Moviecom Praia Shopping.
Resumindo, tirando os aspectos da projeção em si, "Perdido em Marte" me agradou muito. Martelo mais uma vez no ponto positivo que foi a embalagem "cool" dos bastidores da ciência, o diário de bordo da missão espacial que mistura confessicionário do Big Brother e stand up comedy e o espetáculo transmitido "ao vivo" para todo o planeta dá o ar de celebridade (e tira a sisudez) que estes profissionais deveriam ter.
Todo o esforço e tomada de decisão são praticamente sobre-humanos, e o otimismo "ateu" (já que não há desesperança no protagonista não por ele acreditar que algum ser celestial irá salvá-lo, mas sim com o seu conhecimento científico) me deixou bastante receptivo.
A propaganda "NASistA" também se faz presente e é bem mais eficaz do que o distópico "Interestelar", que mostra o egoísmo e deslealdade humana em situações de isolamento espacial. Aliás, "Interestelar" enxerga as coisas a longo prazo, enquanto que "Perdido em Marte" a aventura pode ser agora e faz dos viajantes espaciais grandes aventureiros, desbravadores de mares nunca navegados.
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Extraordinário
4.3 2,1K Assista AgoraUm filme cativante. Auggie Pullman, garoto de 10 anos, enfrentará a dificuldade de interagir com pessoas fora do seu convívio familiar ao se matricular na escola regular. O rosto deformado desta criança interpretado por Jacob Tremblay, tecnicamente possui uma maquiagem bem feita, ela reflete as dores das diversas cirurgias para reconstrução facial mas também permite que o jovem ator consiga mostrar as dores de sua alma diante dos olhares cortantes daqueles que reprovam a sua aparência.
O filme possui o afeto como aliado. Além da introdução narrada pelo garoto em off e explorar o imaginário de Auggie de maneira que não soasse repetitivo e escapista demais, o filme também dá a "outra face".
A história admite que Auggie é o sol em que os personagens do filme orbitam, mas é generoso o suficiente para mostrar pontos de vista negligenciados como da irmã Via (Izabela Vidovic), Jack Will (Noah Jupe) e Miranda (Danielle Rose Russell). Não só vemos alguns momentos da história recontada por outro ponto de vista como descobrimos os sentimentos desses personagens isoladamente: descobrimos que Via por vezes não nutre o mais saudável pensamento em relação ao seu irmão assim como sabemos intimamente a nobreza e amor daqueles que traíram como Jack Will e Miranda. O ponto mais alto do filme é de que mesmo havendo os recortes formais com as cartelas dos nomes desses personagens, o filme flui e se dilui naturalmente na história, não obrigando o espectador ver cada ponto de vista de maneira exclusivamente fragmentada
A relação de Auggie com a ciência lembra a admirável personalidade de Stephen Hawking, que supera suas limitações físicas com sua mente brilhante, mas também mostra a aceitação diante dos limites desse conhecimento humano - com bom humor -ao falar sobre suas cirurgias para Jack Will.
Isabel (Julia Roberts), mãe de Auggie e Via, que educou o garoto informalmente em casa, vive um sutil conflito entre a superproteção e a permissão para ele se envolver com o mundo. Nate Pullman (Owen Wilson) demonstra o entendimento da hierarquia feminina (harmonizadora) em casa e funciona como alívio cômico. Aliás, o filme é bastante leve em boa parte de seus momentos, também mostrando que há uma alta autoestima natural em Augie: ele não vive apenas dramas, mas coisas comuns típicas da infância.
"Extraordinário" é exatamente como o nome diz, ele apresenta uma situação incomum para a algumas pessoas, adentra com intimidade no mundo de Augie e de outros personagens. Essa profundidade permite sim reconhecer o extraordinário que cada um possui.
Um ponto positivo que avalio neste filme foi não apresentar barreiras no namoro de Via com Justin (Nadji Jeter): não creio que dilui a questão da luta racial pois o filme trata sobretudo do preconceito em relação a aparência, o que nos permite pensarmos sobre o assunto por um viés diferente. E aproveito o espaço de Spoilers para dizer como foi oportuno o lançamento deste filme nas salas de cinema na mesma época de "Star Wars: Os Últimos Jedi" pois este filme dá mais tempo de tela para Chewbacca do que a nova sequência espacial kkkk. Também achei a metáfora com Darth Sidius bem interessante. E será que esse filme se enquadra como "Filme de Natal?" Creio que sim, não só por apresentar a festa natalina em si (e a cena da ceia de que a personagem Miranda observa, angustiada, a família Pullman se divertindo - remete a vários filmes típicos de Natal como "Esqueceram de Mim" - e elo com a história do capacete de astronauta dado por ela), apesar que bastante diluída entre o Halloween e o Ano Novo, mas também pelos sentimentos como amor, aceitação e compreensão, além da redenção que muitos personagens têm durante o filme.
Os Parças
2.1 179"Os Parças" debocha com a cultura dos cerimoniais de casamentos da alta sociedade.
O filme, repleto de piadas como é de se esperar, possui muitos momentos forçados (não só no humor como em um único momento dramático que acontece com os três nordestinos). Os quatro companheiros de confusão, interpretados por Tom Cavalcante, Whidersson Nunes, Tirullipa e Bruno de Luca, demoram para funcionar como um grupo. O filme possui esquetes que não flui como uma narrativa única.
Isso se deve em boa medida por problemas na montagem. Em termos narrativos, algumas sequências são acelerados e não fornecem melhores momentos daqueles vistos no trailer do filme. Outros simplesmente são situações que poderiam ser resolvidos em uma única cena, porém existe um vai-e-vem que mostra uma certa confusão também na elaboração do roteiro.
Um momento que destaco como problemático em termos de montagem está na apresentação do pai da noiva chamado Vacário, interpretado por Taumaturgo Ferreira: acontece por meio de um corte brusco da reunião dos parças que passa para um plano detalhe de um anel de ouro, que é desse personagem - esse momento me deixou, como espectador, bastante confuso.
Planos-detalhes servem, normalmente, para apresentar aos poucos um personagem imponente, misterioso. Porém, a forma displicente de montagem paralela entre a apresentação de Vacário e os parças continua. Quebrando esse princípio citado anteriormente, o rosto de Vacário aparece no visor do celular de um dos trambiqueiros do cerimonial. Em seguida, continua os planos-detalhes de Vacário ligando para o trambiqueiro da cena anterior. Ou seja, impacto da apresentação desse perigoso personagem se perde, mesmo se a intenção fosse apenas mostrar a riqueza de Vacário.
Porém há pontos positivos também. Algumas piadas que funcionam, principalmente feitas por Tom Cavalcante, o único ator que na minha opinião está a vontade em fazer seu personagem - inclusive muitos momentos são construídos para ele explorar outras imitações como o bêbado que remete diretamente à João Canabrava.
Resumindo, o filme dificilmente servirá de entretenimento para pessoas mais exigentes, principalmente no meio para o fim do filme pois a história perde ritmo. Mas possui seus momentos isolados de humor em um roteiro e montagem com dificuldade de se articular como uma obra coesa.
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraUm mosaico de sensações diante de um inimigo sem rosto. "Dunkirk", filme que se passa na II Grande Guerra, escrito e dirigido por Christopher Nolan, tenta dar voz aos envolvidos em um ousado resgate de soldados britânicos encurralados pelos inimigos nazistas no litoral da França.
Três arcos que são apresentados no início como sendo na terra (deck), no mar e no ar, trazem uma vigorosa maneira de se contar uma história, mostrando uma interdependência entre os personagens, porém a experimentação de Nolan reside na linha temporal distinta entre cada um desses núcleos dramáticos.
Arrisco traçar um comentário - certo que seja superficial mas que está a contento para este texto - sobre o raciocínio do diretor/roteirista, a ideia de que frações de segundos podem custar mais do que horas dependendo do referencial, como apresentados de forma espetacular em "A Origem" (2010) e referenciando a teoria de Einstein em "Interestelar" (2014).
Já em "Dunkirk", a relatividade temporal é ditada pela velocidade das máquinas. O mar que separa Inglaterra da França pode ser alcançado em uma hora de avião ou um dia de barco. A montagem paralela, neste caso, assemelha-se com uma narrativa não-linear, algo que Quentin Tarantino apresentou em "Pulp Fiction", apenas para citar um exemplo de seus filmes.
E como nos filmes de Tarantino, "Dunkirk" provoca uma sensação de causa e efeito em que a ação de um personagem de um núcleo interfere com o núcleo seguinte, mas não são apresentados de forma linear - e da mesma maneira força o espectador montar um quebra-cabeça para ressignificar alguns momentos do filme como o sobrevivente de um navio torpedeado, por exemplo.
A sensação de elo entre personagens que aparentemente não têm nenhuma ligação soou para mim como força irrefreável do "destino" forjada pelas ações humanas. Os núcleos dramáticos que se passam no mar e no ar mostram personagens nobres que possuem convicções e farão o possível para cumprir sua missão. Já o que se passa na terra (deck) existe uma ambiguidade, porém, o público acompanha justamente a situação de três jovens que não pertencem a nenhum regimento e todas as trapaças empregadas visam a sobrevivência como um grupo.
Os “covardes” retratados no filme são punidos ou pela morte ou por não saber da verdade, um tema que remete um dos melhores filmes de Nolan em minha opinião, “O Cavaleiro das Trevas”: quando Batman sacrifica sua reputação para amortecer a verdade em relação a Duas Caras. Outro momento em “Dunkirk” que lembra a trilogia desse super-herói é da barca com explosivos em que para se salvar alguém deve se sacrificar.
Resumindo, “Dunkirk” é um ótimo filme, com trilha sonora que remete a batidas cardíacas e ponteiros de relógio feitos com muito cuidado por Hans Zimmer, com uma fotografia interessante porém bastante operacional (alguns momentos remetendo ao posicionamento de câmera utilizado na espaçonave de “Interestelar” não só nos aviões de combate britânicos como em uma cena em que soldados carregam uma maca para um barco) mas de alguma maneira, por ter esse ar de “destino”, não senti que os protagonistas teriam um risco real em suas linhas narrativas pois de alguma maneira, no final, deveriam se complementar para o desfecho do filme.
Seu Nome
4.5 1,4K Assista AgoraEste agradável filme de animação mostra um relacionamento que surge de maneira insólita entre Mitsuha, uma garota sonhadora que vive em um vilarejo rural e Taki, um rapaz impulsivo que mora na metrópole Tóquio.
A barreira geográfica poderia, naturalmente, impedi-los de se conhecerem. Mas o distanciamento poderia surgir também nas diferenças culturais tradicionalistas da Mitsuha e do cotidiano efervescente de Taki, além das incompatibilidades de pensamentos e prioridades de seus gêneros sexuais.
Porém, por meio de uma situação mágica, ao dormirem, os jovens eventualmente despertam um estando no corpo do outro. Uma situação que já vimos copiosamente em diversos títulos como "Tal pai, tal filho" (1987) os dois filmes "Se eu fosse você" (2006 e 2009), "Eu queria ter sua vida" (2011), mas não chega a ser um demérito da película. Pelo contrário, por meio desse recurso, o filme consegue fazer com que o público se afeiçoe com os personagens que aos poucos compreendem a vida da outra pois vivenciam-na na "própria" pele.
Depois de compreender essa estranha situação (o filme chega a acelerar os acontecimentos - inclusive com belos time-lapse - o que mostra que o filme ainda tem muito a oferecer em termos de situações)
e traçar meios de se comunicar quando um está no corpo do outro, a narrativa cresce e desperta o interesse de ambos se encontrarem. Então, acontece um outro ganho de entendimento que flerta com outros filmes de romance fantástico como "Feitiço do tempo" (1993) e "A casa do lago" (2006).
O filme então salta do conto sobre a solidão de jovens que não encontram seu lugar no mundo para uma preocupação comunitária. Um momento aparentemente banal mas que devo destacar neste filme
é quando amigos de Taki decidem acompanhá-lo em uma viagem de trem (por certo, diante das mudanças de personalidade involuntárias pela troca de corpos, esses amigos suspeitaram que ele poderia tomar alguma atitude de risco e por isso foram juntos para se certificar que nada sairá do controle).
A metáfora dos fios entrelaçados que simbolizam uma tradição espiritual japonesa mas ao mesmo tempo representam os laços da vida são bastante significativos,
traçando o paralelo do cometa que cruza o céu. No filme também possui alguns momentos bastante arrastados e com narrativa em off que representa o pensamento dos personagens porém, ao meu ver, são de extremamente significativos pois a percepção e as lembranças desses personagens se transformam no decorrer do tempo.
Em suma, "Your name" / "Kimi no na wa" é um romance fantástico que possui um humor leve (sem a caricatura tradicional que deforma os rostos dos personagens de animês, por exemplo) e encara de frente a questão como a solidão e o desejo de encontrar alguém que o compreenda, que perca algumas noites de sonhos para viver uma outra vida e que se apaixone gradativamente pela simplicidade de uma outra existência.
Eles
3.2 352"Ils" ("Eles", dir. David Moreau e Xavier Palud, 2006), baseado em fatos reais acontecido na Romênia, possui um potencial formidável para ser um ótimo filme de suspense. Porém, o filme fica num impasse entre o sobrenatural (o desaparecimento das vítimas, a mansão mal assombrada, a televisão que liga sozinho) e o slasher convencional, o que pode frustar quem espera um antagonista realmente ameaçador.
O casal protagonista, a professora francesa Clementine (Olivia Bonamy) e o escritor Lucas (Michaël Cohen) não possuem tempo suficiente em tela para estabelecer sua relação afetiva. Durante o filme, eles agem no piloto automático, com uma interpretação que não transparece medo, terror, mas ocasionais sofrimentos físicos.
O suspense no início do filme, envolvendo mãe e filha que estão em uma estrada, soa satisfatório e promissor. Mas quando o filme apresenta Clementine (Olivia Bonamy) com uma trilha sonora intensa em um momento trivial na escola, o filme demonstra que possui uma mão pesada para forçar momentos de suspense. A professora francesa enfim volta para a casa e como uma boa esposa apoia o escritor Lucas (Michaël Cohen) em uma mansão que não sabemos bem dimensionar seu espaço total.
Coisas estranhas começam a acontecer e o suspense dos personagens em tentar desvendar a presença misteriosa pode soar intrigante no início mas depois se torna repetitiva e sem esperança de desenvolvimento ou ameaça mais bem elaborada. Após idas e vindas nos cômodos de casa, com uma valentia displicente que existe apenas para a história continuar, o casal se vê em uma situação de fuga na floresta onde a mansão está localizada. A alternância entre o protagonismo de Clemente e Lucas, principalmente na montagem paralela desta fuga, se torna problemática sobretudo quando ocorre um momento chave do qual é interrompido abruptamente por um corte seco, o que quebra totalmente a tensão da cena.
Outro momento frustrante é no primeiro confronto físico de Clemente com a entidade assassina na casa. A câmera distanciada e a forma como o agressor é impedido soa patético e fácil demais, frustrando a total credibilidade por essa ameaça misteriosa. Aliás, mais uma indecisão em relação a natureza e motivação desses sujeitos pois não demonstram dor e raiva ao serem atacados. Seus grunhidos e barulhos também sugerem esse elemento sobrenatural que, na realidade, nunca se concretiza.
Perdido em Marte
4.0 2,3K Assista Agora"Perdido em Marte" equilibra enigmas científicos com o "espírito" descolado. Jargões herméticos são diluídos com tiradas de humor, o que dá um tom mais leve para o hard sci-fi que ele pretende ser, algo importante para atenuar a ausência de ação e a monótona paisagem marciana.
Começar o longa já em solo extraterrestre me fez lembrar de forma bastante agradável o filme Gravidade - existem etapas das viagens espaciais que se permite elipses, não há mais tanta necessidade em louvar o foguete deixando a Terra, definitivamente o ponto-de-vista agora é do espaço sideral para cá.
Este é um filme que - finalmente - mostra a complexidade do universo científico e a colaboração de mentes para fazer com que tudo dê certo. Personagens importantes para a solucionar demandas crescentes de adversidades são apresentados no decorrer da trama, sem a menor cerimônia, mas é sabido que eles conquistaram aquele espaço pelo seu brilhantismo científico.
Os efeitos especiais são bastante "naturalistas", creio que seja bastante fiel às paisagens daquele mundo, mas não é nada semelhante a forma utilizada nos blockbusters, já que é um filme essencialmente de suspense, excetuando a cena final. Me causou estranheza num primeiro momento o "slow motion" do astronauta em solo marciano, o que simula a baixa gravidade do planeta. O 3D não acrescentou muito à experiência, apesar de não ter gostado da projeção e dos óculos no Moviecom Praia Shopping.
Resumindo, tirando os aspectos da projeção em si, "Perdido em Marte" me agradou muito. Martelo mais uma vez no ponto positivo que foi a embalagem "cool" dos bastidores da ciência, o diário de bordo da missão espacial que mistura confessicionário do Big Brother e stand up comedy e o espetáculo transmitido "ao vivo" para todo o planeta dá o ar de celebridade (e tira a sisudez) que estes profissionais deveriam ter.
Todo o esforço e tomada de decisão são praticamente sobre-humanos, e o otimismo "ateu" (já que não há desesperança no protagonista não por ele acreditar que algum ser celestial irá salvá-lo, mas sim com o seu conhecimento científico) me deixou bastante receptivo.
A propaganda "NASistA" também se faz presente e é bem mais eficaz do que o distópico "Interestelar", que mostra o egoísmo e deslealdade humana em situações de isolamento espacial. Aliás, "Interestelar" enxerga as coisas a longo prazo, enquanto que "Perdido em Marte" a aventura pode ser agora e faz dos viajantes espaciais grandes aventureiros, desbravadores de mares nunca navegados.