Como ajudante e seguidor de Tarkovsky, Lopushansky emula o cenário pós-apocalíptico nuclear tal como no filme Stalker, mas dando a sua tônica (seus próprios conflitos existenciais, sua própria estética). Tirando a inevitável comparação entre professor e aluno, a narrativa do filme acabou saindo um pouco dos trilhos. Porém, ele tem a sua importância dentro do cenário de ficção científica do período soviético, e é deslumbrante o uso da fotografia, que remete ao expressionismo alemão nos cenários vermelhos e amarelados.
O pesadelo americano. Steinbeck foi audacioso em sua época e não teve medo da perseguição das autoridades ao retratar a Grande Depressão na obra As Vinhas da Ira. Ford, ao transpassar na tela em 1940, foi tão audacioso quanto. Há uma série de questões presentes em ambos que são de extrema importância e atemporais: a relação entre homem e terra; a estranheza seguida da alienação provocadas pela separação do homem e suas ferramentas/meio de trabalho; o preconceito entre os próprios norte-americanos por aqueles que migram; a unidade e a comunidade que acabam balançadas; o medo gerado pelo êxodo e a falta de trabalho, entre indivíduos que só gostariam de sobreviver e não conseguem. Se fermenta a ira, e um grito abafado por uma transformação profunda nas condições de vida. Os ciclos do capital são implacáveis e a ira dos homens, inevitável. Apesar de datado, dá para se tirar muito de Vinhas da Ira, mantendo uma ideia lúcida entre nós: ''os ricos nascem, morrem, e seus filhos também não prestam e desaparecem. Mas nós continuamos. Somos nós que vivemos. Eles não podem acabar conosco. Não podem nos vencer. Nós viveremos para sempre, porque nós somos o povo.''
Isto é novo na Renascença: o homem consciente de si mesmo, consequentemente, consciente de suas ações e de seus erros. Na peça (e também no filme) é apresentada uma mudança drástica de situação, diversas reviravoltas e a queda do personagem principal por uma falha trágica, seu erro foi se tornar cego diante do poder que tinha em mãos. Esta tragédia está ligada principalmente a queda de um dado prestígio e de uma alta posição social. O centro de poder, a figura de Lear, se segue de usurpação e morte, fazendo uma analogia às crises políticas da época. A tragédia renascentista mistura elementos inimagináveis: um rei e um bobo, o que seria as classes subalternas zombando de seus superiores. É importante ressaltar que toda a história não resulta de forças superiores mas sim da própria ação humana, o que leva o público à reflexão de sua própria condição individual e coletiva.
Cerimônia Fúnebre dialoga bem ao pegar um exemplo da vida cotidiana e, ao mesmo tempo, evidenciar todo o aparato burocrático presente no Estado e Igreja de influência stalinista durante seu vigor na Tchecoslováquia. O funeral de um homem que foi expulso de sua terra natal por desafiar as autoridades ditas comunistas, torna-se uma odisseia para sua esposa conseguir enterrá-lo no túmulo de sua família. E o filme acerta, furtivo e incisivo: mostra a força das pessoas, da comunidade, com aquela significativa cena final.
Acaba sendo pequeno comparado com sua premissa. Algumas questões mal colocadas e resolvidas de forma confusa, como o implausível romance entre o general e a revolucionária e o resgate de caráter que o diretor do filme hollywoodiano tenta fazer ao final, sem qualquer sentido, levando em conta o que ele tinha passado nas mãos dele e da Rússia czarista.
Uma das sátiras anticlericais mais pungente que já tive a oportunidade de assistir. Yakov Protazanov com sua dupla de protagonistas cômicos, desconstrói completamente a instituição, passeando por todas as formas das quais a Igreja abusa de seu poder e também as maneiras que a própria utiliza para continuar sendo uma força dominante respeitável. Atualíssimo.
Certeiro em buscar esse momento da história da luta de classes e reviver a experiência da Comuna de Paris e dos comunardos através de seu breve processo revolucionário. Vemos nos vários grupos de personagens (que em certos momentos, conversam com o próprio espectador acerca dos problemas que continuam presentes na sociedade capitalista, da necessidade das relações humanas, acima de tudo) desde a luta de direitos das mulheres, a educação laica das crianças, a desmoralização de uma igreja que abriga o inimigo e aliena através da fé cristã, até o direito de expressão dos países sofridos com a colonização imperialista que é impiedosa, todos esses interesses aparecem unos na Comuna. Através desse tipo de narrativa e sua condução, consegue se alcançar maravilhosamente todos esses aspectos, que na Comuna, era tarefa democrática que foi assumida por todos os insurretos parisienses pelos diversos avanços alcançados (ainda que limitados) conseguidos ao longo de sua duração. Muito incisivo em mostrar tanto os acertos que a Comuna de Paris provocou quanto também, os seus erros. Foi um episódio fugaz da história operária internacional, porém importantíssimo, e que é levantado com esmero pelo filme. É ótimo suscitar a discussão e o debate sobre essa experiência, que significou e significa tanto, mas que infelizmente, foi praticamente apagada pelo alcance político-social que pode provocar. Interessante apontar também que, a Paris que conhecemos hoje, foi reurbanizada após a derrota da Comuna e que suas largas avenidas nada mais foram um plano de conter justamente qualquer insurreição, dificultando que o povo se organize nas ruas e construa barricadas.
O Visitante do Museu
3.5 8Como ajudante e seguidor de Tarkovsky, Lopushansky emula o cenário pós-apocalíptico nuclear tal como no filme Stalker, mas dando a sua tônica (seus próprios conflitos existenciais, sua própria estética). Tirando a inevitável comparação entre professor e aluno, a narrativa do filme acabou saindo um pouco dos trilhos. Porém, ele tem a sua importância dentro do cenário de ficção científica do período soviético, e é deslumbrante o uso da fotografia, que remete ao expressionismo alemão nos cenários vermelhos e amarelados.
A Pirâmide Humana
4.2 7 Assista AgoraGrande experimento de Jean Rouch. Afinal, o filme para aqui, mas a história não acabou.
Paris nos Pertence
3.7 24''Nunca se é homem enquanto se não encontra alguma coisa pela qual se estaria disposto a morrer.''
Jean-Paul Sartre.
Maldone
3.9 1A cena do baile é simplesmente sublime.
Vinhas da Ira
4.4 205O pesadelo americano. Steinbeck foi audacioso em sua época e não teve medo da perseguição das autoridades ao retratar a Grande Depressão na obra As Vinhas da Ira. Ford, ao transpassar na tela em 1940, foi tão audacioso quanto. Há uma série de questões presentes em ambos que são de extrema importância e atemporais: a relação entre homem e terra; a estranheza seguida da alienação provocadas pela separação do homem e suas ferramentas/meio de trabalho; o preconceito entre os próprios norte-americanos por aqueles que migram; a unidade e a comunidade que acabam balançadas; o medo gerado pelo êxodo e a falta de trabalho, entre indivíduos que só gostariam de sobreviver e não conseguem. Se fermenta a ira, e um grito abafado por uma transformação profunda nas condições de vida. Os ciclos do capital são implacáveis e a ira dos homens, inevitável. Apesar de datado, dá para se tirar muito de Vinhas da Ira, mantendo uma ideia lúcida entre nós: ''os ricos nascem, morrem, e seus filhos também não prestam e desaparecem. Mas nós continuamos. Somos nós que vivemos. Eles não podem acabar conosco. Não podem nos vencer. Nós viveremos para sempre, porque nós somos o povo.''
Rei Lear
4.2 11Isto é novo na Renascença: o homem consciente de si mesmo, consequentemente, consciente de suas ações e de seus erros. Na peça (e também no filme) é apresentada uma mudança drástica de situação, diversas reviravoltas e a queda do personagem principal por uma falha trágica, seu erro foi se tornar cego diante do poder que tinha em mãos. Esta tragédia está ligada principalmente a queda de um dado prestígio e de uma alta posição social. O centro de poder, a figura de Lear, se segue de usurpação e morte, fazendo uma analogia às crises políticas da época. A tragédia renascentista mistura elementos inimagináveis: um rei e um bobo, o que seria as classes subalternas zombando de seus superiores. É importante ressaltar que toda a história não resulta de forças superiores mas sim da própria ação humana, o que leva o público à reflexão de sua própria condição individual e coletiva.
Cerimônia Fúnebre
3.5 2Cerimônia Fúnebre dialoga bem ao pegar um exemplo da vida cotidiana e, ao mesmo tempo, evidenciar todo o aparato burocrático presente no Estado e Igreja de influência stalinista durante seu vigor na Tchecoslováquia. O funeral de um homem que foi expulso de sua terra natal por desafiar as autoridades ditas comunistas, torna-se uma odisseia para sua esposa conseguir enterrá-lo no túmulo de sua família. E o filme acerta, furtivo e incisivo: mostra a força das pessoas, da comunidade, com aquela significativa cena final.
À Flor do Mar
4.1 3Temos que aprender a gastar a infelicidade que nos resta.
A Última Ordem
4.3 15 Assista AgoraAcaba sendo pequeno comparado com sua premissa. Algumas questões mal colocadas e resolvidas de forma confusa, como o implausível romance entre o general e a revolucionária e o resgate de caráter que o diretor do filme hollywoodiano tenta fazer ao final, sem qualquer sentido, levando em conta o que ele tinha passado nas mãos dele e da Rússia czarista.
A Festa de São Jorge
4.4 2Uma das sátiras anticlericais mais pungente que já tive a oportunidade de assistir. Yakov Protazanov com sua dupla de protagonistas cômicos, desconstrói completamente a instituição, passeando por todas as formas das quais a Igreja abusa de seu poder e também as maneiras que a própria utiliza para continuar sendo uma força dominante respeitável. Atualíssimo.
Andorinhas Por Um Fio
4.1 5Esta é a glória dos homens: sua cabeça cheia de ideias, seus pés presos na merda.
Comuna de Paris, 1871
4.6 11Certeiro em buscar esse momento da história da luta de classes e reviver a experiência da Comuna de Paris e dos comunardos através de seu breve processo revolucionário. Vemos nos vários grupos de personagens (que em certos momentos, conversam com o próprio espectador acerca dos problemas que continuam presentes na sociedade capitalista, da necessidade das relações humanas, acima de tudo) desde a luta de direitos das mulheres, a educação laica das crianças, a desmoralização de uma igreja que abriga o inimigo e aliena através da fé cristã, até o direito de expressão dos países sofridos com a colonização imperialista que é impiedosa, todos esses interesses aparecem unos na Comuna. Através desse tipo de narrativa e sua condução, consegue se alcançar maravilhosamente todos esses aspectos, que na Comuna, era tarefa democrática que foi assumida por todos os insurretos parisienses pelos diversos avanços alcançados (ainda que limitados) conseguidos ao longo de sua duração. Muito incisivo em mostrar tanto os acertos que a Comuna de Paris provocou quanto também, os seus erros. Foi um episódio fugaz da história operária internacional, porém importantíssimo, e que é levantado com esmero pelo filme. É ótimo suscitar a discussão e o debate sobre essa experiência, que significou e significa tanto, mas que infelizmente, foi praticamente apagada pelo alcance político-social que pode provocar.
Interessante apontar também que, a Paris que conhecemos hoje, foi reurbanizada após a derrota da Comuna e que suas largas avenidas nada mais foram um plano de conter justamente qualquer insurreição, dificultando que o povo se organize nas ruas e construa barricadas.