É possível formular três impressões desta obra, dependendo do momento. Nos primórdios da mesma, pode-se rotulá-la como um drama clássico hollywoodiano (a despeito da estética e do ideal do Dogma 95); entretanto, após "os idiotas" revelarem suas autênticas intenções, é válida a afirmação de que se trata de mais um longa com humor negro de Lars. Nos momentos finais, é lançado ao espectador uma narrativa muito mais sensível e intrincada do que aparenta, impulsionando-o a retornar à sua primeira conclusão, exceto pelo "clássico hollywoodiano". Em suma, trata-se de um drama de caráter niilista, político e social. Isto é, através de um dogma em que o cinema voltado ao comércio é irônica e rigidamente depreciado, a sociedade e as pressões hipócritas que a mesma aplica sobre o indivíduo são singularmente pautadas. Não se trata apenas de um coletivo de "idiotas", apresentados sob uma fotografia "frugal". Trata-se de jovens com uma visão cética, crítica e política acerca dos fatos e regras que a sociedade impõe, e através desta ideologia, têm-se o objetivo de subverter esta realidade.
"—Nem consigo acreditar, isto é mesmo Beverly Hills. Meu Deus, é tudo tão limpo aqui. —Não jogam fora o lixo, transformam-no em programas de televisão."
—E minha mãe, cadê? —Sua mãe tá trabalhando. —Que horas ela volta? É lamentável saber que essa é a realidade de muitos jovens. É lamentável uma mulher nutrir uma maior intimidade pelo "filho da patroa" do que por sua própria filha, devido às circunstâncias que as levaram a isso. É lamentável a superficialidade presente na 'classe B', já que apesar de todos os atributos materiais de Carlos, sua vida é vazia (igualmente para sua mulher, Bárbara). A complexidade social e o realismo presente no longa de Muylaert é impressionante, características que nos impulsionam a refletir acerca da desigualdade/realidade de nossa nação, tornando-o merecedor de todo reconhecimento e aclamação proferidos pelo público e pelos críticos.
A trama em si não prendeu minha atenção, porém as estridentes paisagens, a metalinguagem, a presença exorbitante de cores e a belíssima Bardot, contribuíram para minha persistência na obra. Talvez o fato que mais instigou minha atenção foi o vínculo que a personalidade de Camille e Paul possuem com os protagonistas de "Odisseia" (característica não muito enfatizada na obra, entretanto, através de diálogos, é clara esta conexão), já que assim como Penélope, Camille demonstra repentinamente certo desprezo e desinteresse por seu companheiro, devido à liberdade que o mesmo permite à ela. Não considero a obra-prima de Godard, porém insisto em enfatizar a beleza visual e metalinguística que a mesma carrega consigo.
Pela terceira vez, acompanho Doinel em uma nova etapa de sua vida, e possivelmente devido às cores inéditas neste conjunto de Truffaut, transformou "Baisers Volés" no longa mais vivaz e ao mesmo tempo cômico e lépido da saga, comparado aos seus antecedentes. A jovialidade constante no espírito de Antoine e sua incapacidade de se vincular fixamente com um trabalho (ou uma mulher), somados com a direção resplandecente de Truffaut, impulsionaram esta obra a culminar no ápice de minha admiração e ternura pelo eterno personagem de Léaud (e também pelo próprio Jean-Pierre) e pelo trabalho do diretor.
O amore e a rabbia são retratados desconexa e singularmente nos cinco episódios, ambos analisados criticamente por cada mestre. A pragmatista crítica de Lizzani acerca da indiferença e apatia presente no homem é impressionante e provoca ao menos uma breve reflexão àqueles que espectam sobre o individualismo que acompanha paralelamente o desenvolvimento da (des)humanidade, presente em cada um de nós em diferentes proporções; este capítulo despertou-me um interesse pelo trabalho do diretor. Por conseguinte, o capítulo de Bertolucci, em que através de seu caráter vanguardista e teatral, surtiu um efeito avassalador na minha concepção acerca das emoções e do intelecto que um enfermo 'pré-morte' pode carregar consigo, pois era justamente essa a função do grupo vanguarda: representar o lado intrínseco de uma alma angustiada; de longe, o maior destaque da obra. Pasolini focaliza os valores da inocência e ao mesmo passo é um instrumento ceticista acerca da irrelevância de conflitos sociais, isto, sobre um cenário fotográfico instigante; "Escalate the mind, not the war". Final e felizmente Godard, sua atmosfera lírica e voltada às minúcias logo se contrasta das demais narrativas; "Se não é livre, a existência torna-se vazia ou neutra. Se é livre, ela é um jogo". Enquanto o amor é pautado em "L'amore", a sequência de Bellocchio baseia-se na raiva, revolta e intolerância, através de complexos debates marxistas entoados por universitários concisos em sua ideologia. Uma obra-prima composta por instrumentos críticos, cada um ao seu modo e pauta.
Lars, aquele que comumente é referido à frase "ou você ama, ou odeia", ao realizar essa obra-prima, acabou por impulsionar a conclusão de que sou um membro do grupo daqueles que "amam". De modo frugal e lírico, foi propagada uma lição moralizante acerca de nossas arrogâncias, presentes em cada um de nós ao seu modo singular; no caso da protagonista, ela está submergida em uma complacência exclusiva de Grace, porém ainda presente. No ápice da narrativa, o fato da grande maioria das figuras presentes em Dogville agirem de forma assemelhante (ou nem tanto assim) da realidade, causa uma espécie de angústia e ânsia por justiça naqueles que observam a obra; este efeito repercutido nos espectadores é trivial em todas as obras de Lars, ao menos é o que acontece comigo. Favoritá-lo é pouco para demonstrar o que esse longa representou para mim, já que me identifiquei primorosamente à visão cética acerca dos valores do homem composta na história de Dogville, e obviamente, no próprio Lars.
Há certa singularidade neste trabalho de Truffaut ao se comparar com os demais; é apresentado uma atmosfera na qual se mescla ceticismo e suspense, onde a influência de Hitchcock na obra é claramente captável.
Nada como passar o 31/10 mergulhada neste ambivalente e psicótico thriller. A princípio, um injustiçado e incompreendido sendo 'brutalmente' torturado por uma adolescente "profissionalmente necessitada", entretanto, o desfecho revela uma realidade paradoxal. Uma mistura de misandria traumática e uma ideologia vingativa: esta é a premissa de Hayley. Só lamento por Slade não optar por explicitar a cena da 'castração', a qual foi claramente a mais atrativa.
Toda ausência de sonoridade nas cenas, juntamente com a frugalidade (no ótimo sentido) na retratação de um tema extremamente cotiano, apenas contribuíram para que essa obra independente seja digníssima de ênfase; é justamente esse o objetivo cardinal de Lacant: alvejar com simplicidade um assunto igualmente simples, porém, transformado pela própria sociedade em algo ilícito e imoral. Essa ideia é explicitamente imposta na última cena, na qual a personagem de Koffler final e felizmente cai em queda livre na busca de seus verdadeiros valores, e visivelmente, conclui sua aceitação (tardia) de quem realmente é.
Dois atores conseguiram transformar a adaptação de Polanski em uma obra-prima, aos quais, dou o maior reconhecimento por um trabalho de suma maestria. Neste show cinematográfico, a peça "A Vênus de Peles" de Masoch, é conduzida por Thomas (preferencialmente, o adaptador), em que esta é vista de modo lírico e exaltado por ele, contrastando com a opinião de Vanda, a mais tenaz candidata ao papel da "deusa" Vanda, que por coincidência (ou não) possui o mesmo nome. Esse paradoxo opinativo resulta em uma relação bipolar de ambos: ora Vanda é vista como uma simples e abjeta atriz, ora eficientíssima para viver a grande dominadora de Severin (papel que posteriormente será de Thomas); e como qualquer relação oscilante, há sempre diversas consequências: primeiramente, a lenta transição dos valores das personagens para os próprios atores, uma vez que os mesmos começam a se portar como os protagonistas; por conseguinte, um constante processo de trocas destes méritos, pois em certo momento, é inegável e explícita a adoção que Thomas faz da personagem de Vanda. Masoch, nome ao qual foi de extrema influência ao termo “sadomasoquismo”, teve sua proeminente peça representada de modo igualmente elevado, graças a Polanski e o nítido talento de Seigner e Amalric.
Truffaut conduziu de modo solerte e diligente esta bela homenagem aos diversos membros técnicos essencialíssimos na produção de uma obra, na mesma proporção dos atores, que estes últimos geralmente recebem todo o crédito por um trabalho concluído com êxito. Metalinguagens cinematográficas facilmente chamam minha atenção, e obviamente esta não poderia passar despercebida, afinal, um dos diretores mais célebres (se não for o maior) da Nouvelle Vague e extremamente apaixonado pelos bastidores de um filme, se espelha magistralmente em um personagem igualmente exaltador da Sétima Arte.
Eu realmente tento parar de favoritar obras da Nouvelle Vague, mas sou totalmente incapaz. Patricia Franchini...que esmero de personagem; eternamente grata a Jean Seberg por representar a contemporaneidade em forma de mulher.
"Não quero estar apaixonada por você, por isso chamei a polícia".
Talvez esse seja o único filme que eu não hesitei em avaliá-lo com 5 estrelas. É impossível não comprar esta obra de Vinterberg com "Dancer in the Dark", do Von Trier; ambas são extremamente líricas e colossais, retratando situações delicadas e "tensas" que podem ser realidade de qualquer indivíduo. Em certos momentos delicadíssimos dessa família dinamarquesa, o caos e a agitação são tão presentes que simplesmente comecei a rir das situações, a despeito de me sentir mal por fazê-lo, já que eram cenas "dramáticas"; talvez essa era a premissa do diretor, fazer o espectador rir de uma situação incomum (um filho estuprado pelo próprio pai em sua infância, realizando tentativas incansáveis de alertar seus familiares presentes no jantar de quem realmente é seu pai, ou apenas colocando para fora aquele segredo subjacente, e os indivíduos lidando com essa notícia perturbadora de modo tão impassível, que chega a ser burlesco); esses momentos me fizeram lembrar do capítulo “Sra. M", de Ninfomaníaca, em que se retrata uma cena totalmente dramática e desconcertante para as personagens, mas ao ponto de vista de alguns espectadores, uma situação cômica. É o segundo filme do Dogma 95 que assisto, e já estou ansiosa para conhecer mais sobre o movimento, e ao mesmo passo esperançosa, pois ficaria muito grata em me deparar com obras ao mesmo nível que essa de Vinterberg.
"Fazer um samba sem tristeza, é como amar uma mulher apenas bonita." São as palavras de Vinícius de Moraes, poeta e diplomata, autor desta canção, e como ele mesmo diz: 'branco mais negro do Brasil', eu, que sou talvez o francês mais brasileiro da França."
Para ser sincera, nada impressionante. Marlon Brando novamente dando vida a um homem machista, e (como sempre) é o "bonzinho e excêntrico do grupo de maldosos". Muitos não concordarão, mas diferente do que parece, sou uma fã do trabalho de Brando, porém dessa vez tanto a trama como a personagem não chamaram minha atenção, apesar do filme ser considerado um "clássico influenciador de gerações". Sou muito mais "A Streetcar Named Desire".
Eu não ia fazer nenhum comentário sobre esse filme, e muito menos favoritá-lo, entretanto, a partir do momento que tive o prazer de conhecer mais um pouco do trabalho de Christopher Nolan, não consegui parar de pensar nessa obra. Simplesmente me fascinou a genialidade dos roteiristas de mesclar ideias de teorias reais com o lado "fantasioso" da sci-fi; primeiramente, levei essa característica ao lado negativo (já que a obra possui momentos que contradizem a teoria de Einstein), mas quando realmente parei pra pensar que é justamente esse fato que deixa tudo ainda mais impecável, que ao contrário de ser um defeito, é uma virtude, passei a ser uma enorme admiradora da direção de Nolan, que juntamente com seu irmão, Jonathan, escreveu um roteiro igualmente magnânimo (é lamentável que este último não possui o mesmo reconhecimento que Christopher); claro que ambos tiveram suporte de profissionais da área, que impulsionaram o lado preciso da física, aos quais, dou o maior crédito. Como se isso tudo não fosse o suficiente para a obra ser de tamanha grandiosidade, há os efeitos especiais, a trilha sonora suave e em certos momentos, inexistente (contribuindo para uma sutiliza nas cenas) e finalmente, atuações surpreendentes, porém, na minha opinião, são de longe o maior destaque do filme. Enfim, Christopher apostou, e acertou (muito).
A performance de Malcolm McDowell é simplesmente um 'horrorshow', meu irmão. Não há muito o que falar sobre essa obra. Não há muito o que falar sobre obras primas. Muito típico de Kubrick. A cena que mais chamou minha atenção foi quando "um mar de velhos sujos e fedorentos" ficaram entorno de Alex, fazendo exatamente a mesma coisa que o mesmo fez com eles (e com vários outros) no início do filme. São as famosas voltas que o mundo dá.
Mais uma vez François Truffaut conseguiu transmitir de forma magnânima ao espectador os sentimentos mais intrínsecos e subjacentes de suas personagens. Essa foi a vez de Antoine Doinel, um garoto procurando sucessivamente seu lugar (ou até a si mesmo) na despótica sociedade; talvez pelo fato de que nunca teve um apoio maternal, ou simplesmente por ter nascido com essa essência "excêntrica". Resumindo, além de imagens belíssimas de Paris, Truffaut (e obviamente Jean-Pierre Léaud), realizaram com êxito a emissão de todas as emoções que uma criança fugitiva sente ante toda a superficialidade e avareza que uma civilização impõe.
Essa obra possui uma trama que se desenvolve de modo tão interessante e anormal que tenho certeza que muitos (assim como eu) que já a assistiu chegou a se questionar se sua vida é como a de Truman.
O filme é de certa forma ambíguo, já que ele apenas apresenta ao espectador os fatos e permite que os mesmos tirem suas próprias conclusões. Há algum motivo, ou alguém, para responsabilizar as ações incomuns e misândricas de Kevin? Afinal, por que Eva é cruelmente julgada pela sociedade? A resposta para isso (a despeito dela não ser lançada claramente), vem através de flashbacks e recordações, colocados de modo atemporal e em certos momentos, metafóricos. Após ler algumas críticas sobre a obra, percebi um paradoxo entre : essa aversão e ceticismo de Kevin, viva em sua essência desde criança, fora resultado de uma relação vazia com sua mãe; e a interpretação de que não há motivos para ele ser assim, afinal não há motivos para alguém ser um psico/sociopata. Não há quem ou o que culpar. Não há muito o que falar sobre Kevin.
Confesso que decidi assistir esse longa unicamente pelo prazer de provar mais ainda da magnânima interpretação de Emmanuelle Riva, e obviamente pelo fato de se tratar de uma obra considerada essencial ao movimento 'Nouvelle Vague', entretanto Alain Resnais conduziu de forma tão sábia e sensível, e Riva, como era esperado, deu vida ao seu papel com tanto esplendor e fulgor, que não pude deixar de colocar esse longa entre meus favoritos. Um filme composto por diálogos belamente poéticos, que ao serem entoados provocam no espectador uma atenção impetuosa e certa admiração àquilo que estão observando. Diálogos, que juntamente com uma fotografia eminente, transformam esse longa em uma obra-prima da Nouvelle Vague.
"Fiquei junto ao seu corpo aquele dia inteiro, e toda a noite seguinte. [...] Ele ia ficando frio, sob meu corpo. Eu estava deitada sobre ele, não percebi realmente quando morreu, pois mesmo naquele momento, e mesmo depois, posso dizer que não vi a menor diferença entre aquele corpo morto e o meu".
Os Idiotas
3.5 283 Assista AgoraÉ possível formular três impressões desta obra, dependendo do momento. Nos primórdios da mesma, pode-se rotulá-la como um drama clássico hollywoodiano (a despeito da estética e do ideal do Dogma 95); entretanto, após "os idiotas" revelarem suas autênticas intenções, é válida a afirmação de que se trata de mais um longa com humor negro de Lars. Nos momentos finais, é lançado ao espectador uma narrativa muito mais sensível e intrincada do que aparenta, impulsionando-o a retornar à sua primeira conclusão, exceto pelo "clássico hollywoodiano".
Em suma, trata-se de um drama de caráter niilista, político e social. Isto é, através de um dogma em que o cinema voltado ao comércio é irônica e rigidamente depreciado, a sociedade e as pressões hipócritas que a mesma aplica sobre o indivíduo são singularmente pautadas. Não se trata apenas de um coletivo de "idiotas", apresentados sob uma fotografia "frugal". Trata-se de jovens com uma visão cética, crítica e política acerca dos fatos e regras que a sociedade impõe, e através desta ideologia, têm-se o objetivo de subverter esta realidade.
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa
4.1 1,1K Assista Agora"—Nem consigo acreditar, isto é mesmo Beverly Hills. Meu Deus, é tudo tão limpo aqui.
—Não jogam fora o lixo, transformam-no em programas de televisão."
Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista Agora—E minha mãe, cadê?
—Sua mãe tá trabalhando.
—Que horas ela volta?
É lamentável saber que essa é a realidade de muitos jovens. É lamentável uma mulher nutrir uma maior intimidade pelo "filho da patroa" do que por sua própria filha, devido às circunstâncias que as levaram a isso. É lamentável a superficialidade presente na 'classe B', já que apesar de todos os atributos materiais de Carlos, sua vida é vazia (igualmente para sua mulher, Bárbara).
A complexidade social e o realismo presente no longa de Muylaert é impressionante, características que nos impulsionam a refletir acerca da desigualdade/realidade de nossa nação, tornando-o merecedor de todo reconhecimento e aclamação proferidos pelo público e pelos críticos.
O Desprezo
4.0 266A trama em si não prendeu minha atenção, porém as estridentes paisagens, a metalinguagem, a presença exorbitante de cores e a belíssima Bardot, contribuíram para minha persistência na obra.
Talvez o fato que mais instigou minha atenção foi o vínculo que a personalidade de Camille e Paul possuem com os protagonistas de "Odisseia" (característica não muito enfatizada na obra, entretanto, através de diálogos, é clara esta conexão), já que assim como Penélope, Camille demonstra repentinamente certo desprezo e desinteresse por seu companheiro, devido à liberdade que o mesmo permite à ela.
Não considero a obra-prima de Godard, porém insisto em enfatizar a beleza visual e metalinguística que a mesma carrega consigo.
Beijos Proibidos
4.1 138 Assista AgoraPela terceira vez, acompanho Doinel em uma nova etapa de sua vida, e possivelmente devido às cores inéditas neste conjunto de Truffaut, transformou "Baisers Volés" no longa mais vivaz e ao mesmo tempo cômico e lépido da saga, comparado aos seus antecedentes.
A jovialidade constante no espírito de Antoine e sua incapacidade de se vincular fixamente com um trabalho (ou uma mulher), somados com a direção resplandecente de Truffaut, impulsionaram esta obra a culminar no ápice de minha admiração e ternura pelo eterno personagem de Léaud (e também pelo próprio Jean-Pierre) e pelo trabalho do diretor.
Amor e Raiva
3.9 21O amore e a rabbia são retratados desconexa e singularmente nos cinco episódios, ambos analisados criticamente por cada mestre. A pragmatista crítica de Lizzani acerca da indiferença e apatia presente no homem é impressionante e provoca ao menos uma breve reflexão àqueles que espectam sobre o individualismo que acompanha paralelamente o desenvolvimento da (des)humanidade, presente em cada um de nós em diferentes proporções; este capítulo despertou-me um interesse pelo trabalho do diretor. Por conseguinte, o capítulo de Bertolucci, em que através de seu caráter vanguardista e teatral, surtiu um efeito avassalador na minha concepção acerca das emoções e do intelecto que um enfermo 'pré-morte' pode carregar consigo, pois era justamente essa a função do grupo vanguarda: representar o lado intrínseco de uma alma angustiada; de longe, o maior destaque da obra.
Pasolini focaliza os valores da inocência e ao mesmo passo é um instrumento ceticista acerca da irrelevância de conflitos sociais, isto, sobre um cenário fotográfico instigante; "Escalate the mind, not the war".
Final e felizmente Godard, sua atmosfera lírica e voltada às minúcias logo se contrasta das demais narrativas; "Se não é livre, a existência torna-se vazia ou neutra. Se é livre, ela é um jogo". Enquanto o amor é pautado em "L'amore", a sequência de Bellocchio baseia-se na raiva, revolta e intolerância, através de complexos debates marxistas entoados por universitários concisos em sua ideologia.
Uma obra-prima composta por instrumentos críticos, cada um ao seu modo e pauta.
Dogville
4.3 2,0K Assista AgoraLars, aquele que comumente é referido à frase "ou você ama, ou odeia", ao realizar essa obra-prima, acabou por impulsionar a conclusão de que sou um membro do grupo daqueles que "amam".
De modo frugal e lírico, foi propagada uma lição moralizante acerca de nossas arrogâncias, presentes em cada um de nós ao seu modo singular; no caso da protagonista, ela está submergida em uma complacência exclusiva de Grace, porém ainda presente. No ápice da narrativa, o fato da grande maioria das figuras presentes em Dogville agirem de forma assemelhante (ou nem tanto assim) da realidade, causa uma espécie de angústia e ânsia por justiça naqueles que observam a obra; este efeito repercutido nos espectadores é trivial em todas as obras de Lars, ao menos é o que acontece comigo.
Favoritá-lo é pouco para demonstrar o que esse longa representou para mim, já que me identifiquei primorosamente à visão cética acerca dos valores do homem composta na história de Dogville, e obviamente, no próprio Lars.
A Noiva Estava de Preto
3.9 99Há certa singularidade neste trabalho de Truffaut ao se comparar com os demais; é apresentado uma atmosfera na qual se mescla ceticismo e suspense, onde a influência de Hitchcock na obra é claramente captável.
Menina Má.Com
3.3 1,2KNada como passar o 31/10 mergulhada neste ambivalente e psicótico thriller. A princípio, um injustiçado e incompreendido sendo 'brutalmente' torturado por uma adolescente "profissionalmente necessitada", entretanto, o desfecho revela uma realidade paradoxal. Uma mistura de misandria traumática e uma ideologia vingativa: esta é a premissa de Hayley.
Só lamento por Slade não optar por explicitar a cena da 'castração', a qual foi claramente a mais atrativa.
Queda Livre
3.6 591Toda ausência de sonoridade nas cenas, juntamente com a frugalidade (no ótimo sentido) na retratação de um tema extremamente cotiano, apenas contribuíram para que essa obra independente seja digníssima de ênfase; é justamente esse o objetivo cardinal de Lacant: alvejar com simplicidade um assunto igualmente simples, porém, transformado pela própria sociedade em algo ilícito e imoral.
Essa ideia é explicitamente imposta na última cena, na qual a personagem de Koffler final e felizmente cai em queda livre na busca de seus verdadeiros valores, e visivelmente, conclui sua aceitação (tardia) de quem realmente é.
A Pele de Vênus
4.0 218 Assista AgoraDois atores conseguiram transformar a adaptação de Polanski em uma obra-prima, aos quais, dou o maior reconhecimento por um trabalho de suma maestria.
Neste show cinematográfico, a peça "A Vênus de Peles" de Masoch, é conduzida por Thomas (preferencialmente, o adaptador), em que esta é vista de modo lírico e exaltado por ele, contrastando com a opinião de Vanda, a mais tenaz candidata ao papel da "deusa" Vanda, que por coincidência (ou não) possui o mesmo nome. Esse paradoxo opinativo resulta em uma relação bipolar de ambos: ora Vanda é vista como uma simples e abjeta atriz, ora eficientíssima para viver a grande dominadora de Severin (papel que posteriormente será de Thomas); e como qualquer relação oscilante, há sempre diversas consequências: primeiramente, a lenta transição dos valores das personagens para os próprios atores, uma vez que os mesmos começam a se portar como os protagonistas; por conseguinte, um constante processo de trocas destes méritos, pois em certo momento, é inegável e explícita a adoção que Thomas faz da personagem de Vanda.
Masoch, nome ao qual foi de extrema influência ao termo “sadomasoquismo”, teve sua proeminente peça representada de modo igualmente elevado, graças a Polanski e o nítido talento de Seigner e Amalric.
Uma Mulher é Uma Mulher
4.1 267Je ne suis pas INFÂME, je suis UNE FEMME.
A Noite Americana
4.3 188Truffaut conduziu de modo solerte e diligente esta bela homenagem aos diversos membros técnicos essencialíssimos na produção de uma obra, na mesma proporção dos atores, que estes últimos geralmente recebem todo o crédito por um trabalho concluído com êxito.
Metalinguagens cinematográficas facilmente chamam minha atenção, e obviamente esta não poderia passar despercebida, afinal, um dos diretores mais célebres (se não for o maior) da Nouvelle Vague e extremamente apaixonado pelos bastidores de um filme, se espelha magistralmente em um personagem igualmente exaltador da Sétima Arte.
Acossado
4.1 510 Assista AgoraEu realmente tento parar de favoritar obras da Nouvelle Vague, mas sou totalmente incapaz. Patricia Franchini...que esmero de personagem; eternamente grata a Jean Seberg por representar a contemporaneidade em forma de mulher.
"Não quero estar apaixonada por você, por isso chamei a polícia".
Festa de Família
4.2 396 Assista AgoraTalvez esse seja o único filme que eu não hesitei em avaliá-lo com 5 estrelas. É impossível não comprar esta obra de Vinterberg com "Dancer in the Dark", do Von Trier; ambas são extremamente líricas e colossais, retratando situações delicadas e "tensas" que podem ser realidade de qualquer indivíduo.
Em certos momentos delicadíssimos dessa família dinamarquesa, o caos e a agitação são tão presentes que simplesmente comecei a rir das situações, a despeito de me sentir mal por fazê-lo, já que eram cenas "dramáticas"; talvez essa era a premissa do diretor, fazer o espectador rir de uma situação incomum (um filho estuprado pelo próprio pai em sua infância, realizando tentativas incansáveis de alertar seus familiares presentes no jantar de quem realmente é seu pai, ou apenas colocando para fora aquele segredo subjacente, e os indivíduos lidando com essa notícia perturbadora de modo tão impassível, que chega a ser burlesco); esses momentos me fizeram lembrar do capítulo “Sra. M", de Ninfomaníaca, em que se retrata uma cena totalmente dramática e desconcertante para as personagens, mas ao ponto de vista de alguns espectadores, uma situação cômica.
É o segundo filme do Dogma 95 que assisto, e já estou ansiosa para conhecer mais sobre o movimento, e ao mesmo passo esperançosa, pois ficaria muito grata em me deparar com obras ao mesmo nível que essa de Vinterberg.
Um Homem, Uma Mulher
4.1 87A cada filme do Jean-Louis Trintignant que eu vejo aumenta mais a minha vontade de casar com ele.
"Fazer um samba sem tristeza, é como amar uma mulher apenas bonita." São as palavras de Vinícius de Moraes, poeta e diplomata, autor desta canção, e como ele mesmo diz: 'branco mais negro do Brasil', eu, que sou talvez o francês mais brasileiro da França."
O Selvagem
3.7 93 Assista AgoraPara ser sincera, nada impressionante. Marlon Brando novamente dando vida a um homem machista, e (como sempre) é o "bonzinho e excêntrico do grupo de maldosos". Muitos não concordarão, mas diferente do que parece, sou uma fã do trabalho de Brando, porém dessa vez tanto a trama como a personagem não chamaram minha atenção, apesar do filme ser considerado um "clássico influenciador de gerações". Sou muito mais "A Streetcar Named Desire".
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraEu não ia fazer nenhum comentário sobre esse filme, e muito menos favoritá-lo, entretanto, a partir do momento que tive o prazer de conhecer mais um pouco do trabalho de Christopher Nolan, não consegui parar de pensar nessa obra. Simplesmente me fascinou a genialidade dos roteiristas de mesclar ideias de teorias reais com o lado "fantasioso" da sci-fi; primeiramente, levei essa característica ao lado negativo (já que a obra possui momentos que contradizem a teoria de Einstein), mas quando realmente parei pra pensar que é justamente esse fato que deixa tudo ainda mais impecável, que ao contrário de ser um defeito, é uma virtude, passei a ser uma enorme admiradora da direção de Nolan, que juntamente com seu irmão, Jonathan, escreveu um roteiro igualmente magnânimo (é lamentável que este último não possui o mesmo reconhecimento que Christopher); claro que ambos tiveram suporte de profissionais da área, que impulsionaram o lado preciso da física, aos quais, dou o maior crédito.
Como se isso tudo não fosse o suficiente para a obra ser de tamanha grandiosidade, há os efeitos especiais, a trilha sonora suave e em certos momentos, inexistente (contribuindo para uma sutiliza nas cenas) e finalmente, atuações surpreendentes, porém, na minha opinião, são de longe o maior destaque do filme.
Enfim, Christopher apostou, e acertou (muito).
A Garota Dinamarquesa
4.0 2,2K Assista AgoraEsse filme tá me dando uma enorme expectativa...espero não me decepcionar. :)
Laranja Mecânica
4.3 3,8K Assista AgoraA performance de Malcolm McDowell é simplesmente um 'horrorshow', meu irmão. Não há muito o que falar sobre essa obra. Não há muito o que falar sobre obras primas. Muito típico de Kubrick.
A cena que mais chamou minha atenção foi quando "um mar de velhos sujos e fedorentos" ficaram entorno de Alex, fazendo exatamente a mesma coisa que o mesmo fez com eles (e com vários outros) no início do filme. São as famosas voltas que o mundo dá.
Os Incompreendidos
4.4 645Mais uma vez François Truffaut conseguiu transmitir de forma magnânima ao espectador os sentimentos mais intrínsecos e subjacentes de suas personagens. Essa foi a vez de Antoine Doinel, um garoto procurando sucessivamente seu lugar (ou até a si mesmo) na despótica sociedade; talvez pelo fato de que nunca teve um apoio maternal, ou simplesmente por ter nascido com essa essência "excêntrica".
Resumindo, além de imagens belíssimas de Paris, Truffaut (e obviamente Jean-Pierre Léaud), realizaram com êxito a emissão de todas as emoções que uma criança fugitiva sente ante toda a superficialidade e avareza que uma civilização impõe.
O Show de Truman
4.2 2,6K Assista AgoraEssa obra possui uma trama que se desenvolve de modo tão interessante e anormal que tenho certeza que muitos (assim como eu) que já a assistiu chegou a se questionar se sua vida é como a de Truman.
Precisamos Falar Sobre o Kevin
4.1 4,2K Assista AgoraO filme é de certa forma ambíguo, já que ele apenas apresenta ao espectador os fatos e permite que os mesmos tirem suas próprias conclusões. Há algum motivo, ou alguém, para responsabilizar as ações incomuns e misândricas de Kevin? Afinal, por que Eva é cruelmente julgada pela sociedade? A resposta para isso (a despeito dela não ser lançada claramente), vem através de flashbacks e recordações, colocados de modo atemporal e em certos momentos, metafóricos.
Após ler algumas críticas sobre a obra, percebi um paradoxo entre : essa aversão e ceticismo de Kevin, viva em sua essência desde criança, fora resultado de uma relação vazia com sua mãe; e a interpretação de que não há motivos para ele ser assim, afinal não há motivos para alguém ser um psico/sociopata.
Não há quem ou o que culpar. Não há muito o que falar sobre Kevin.
Hiroshima, Meu Amor
4.2 315 Assista AgoraConfesso que decidi assistir esse longa unicamente pelo prazer de provar mais ainda da magnânima interpretação de Emmanuelle Riva, e obviamente pelo fato de se tratar de uma obra considerada essencial ao movimento 'Nouvelle Vague', entretanto Alain Resnais conduziu de forma tão sábia e sensível, e Riva, como era esperado, deu vida ao seu papel com tanto esplendor e fulgor, que não pude deixar de colocar esse longa entre meus favoritos.
Um filme composto por diálogos belamente poéticos, que ao serem entoados provocam no espectador uma atenção impetuosa e certa admiração àquilo que estão observando. Diálogos, que juntamente com uma fotografia eminente, transformam esse longa em uma obra-prima da Nouvelle Vague.
"Fiquei junto ao seu corpo aquele dia inteiro, e toda a noite seguinte. [...] Ele ia ficando frio, sob meu corpo. Eu estava deitada sobre ele, não percebi realmente quando morreu, pois mesmo naquele momento, e mesmo depois, posso dizer que não vi a menor diferença entre aquele corpo morto e o meu".