Filmes sobre extermínios em massa causados por vírus mortais sempre me atraíram. Dentro dessa ótica, temas que usam zumbis como vilões, apesar de serem batidos em Hollywood, são divertidos por mostrarem pontos de vista diferentes sobre possíveis catástrofes virais.
Longas que investem nesses assuntos nos remetem a George A. Romero, pioneiro e mestre em produções que envolvem ‘mortos-vivos’ em crônicas sobre o cotidiano com pitadas de horror. Inclusive, “A epidemia” é uma refilmagem de “O exército do extermínio” (The Crazies, 1973), dirigido pelo próprio Romero.
O ritmo lento e o ambiente de cidade rural com paisagens bucólicas favorecem a atmosfera do filme. Quando se inicia a catástrofe, todo esse clima sensível e vagaroso se transforma em tensão com cenários de destruição e requintes de crueldades promovidas pelo exército norte-americano.
Em um filme com tema bastante explorado, os clichês também não fogem à regra. Além das confusões de fuga, no grupo que luta para sobreviver há uma grávida, um líder e um maluco representando, respectivamente, a esperança, a racionalidade e a virilidade para enfrentar a situação.
Apesar do mistério trivial e ter um clímax previsível, “A epidemia” é bastante eficiente ao mostrar ‘mortos-vivos’ diferentes da visão tradicional e por investir no ponto de vista de isolamento das vitimas sem entrar no lado político sobre o caos, o que valoriza o suspense. Embora seja convencional, a procução é bem dirigida, convincente e não decepciona.
"Encontro explosivo" é um filme que propõe ao espectador uma estória com muita ação e comédia romântica com ares de espionagem. De fato, dá para se divertir com as inúmeras situações cômicas recheadas de confusão, porém para aqueles que admiram um cinema mais pretensioso, lógico e/ou realista vão rotular esse longa, acertadamente, como um "lixo" caça-níquel de Hollywood.
Apesar do fraco roteiro, o que importa mesmo é o carisma dos protagonistas e o humor. Tecnicamente falando, "Encontro explosivo" não decepciona, embora falte a sensação de o espectador sentir a "falta de fôlego" em algumas sequências.
As situações cômicas funcionam graças ao trabalho do diretor James Mangold em manipular os clichês do roteiro, fato que deixa o longa mais atraente, como nos momentos em que acompanhamos a ação pelos olhos da mocinha. Claro, a participação dos carismáticos Tom Cruise e Cameron Diaz ajuda a a trama ficar mais engraçada.
Falando nos personagens, esse estilo de filme tem um tom um tanto quanto machista das comédias românicas. A virilidade faz parte do humor e do clichê, fórmula clássica que nos remete ao convencionalismo do herói cômico canastrão e da mocinha indefesa e inocente. Contudo, é preciso relevar isso para se divertir, caso contrário, essa mesmice pode não agradar aos mais exigentes.
Para aqueles que se interessaram ou gostam desse estilo ‘ação unissex para não se levar a sério’, "Encontro explosivo" me agradou mais que "Caçador de recompensa", entretanto fica para trás quando me lembrei de "Sr. e Sra. Smith" e do clássico "True lies".
Em um primeiro momento, imaginei que “Distrito 9” fosse mais um filme entre alienígenas assassinos versus ‘terráqueos indefesos’. Felizmente me enganei e a produção me surpreendeu por sua metáfora e por seu ponto de vista pouco convencional sobre extraterrestres.
Numa invasão de ETs, ao invés de hostilidade os humanos encontram seres ‘pacíficos’ que se instalam em uma área de Johanesburgo, na África do Sul, de nome Distrito 9. Lá eles foram explorados por forças armadas por mais de 20 anos no intuito de fabricar armas com grande poder de fogo tendo como 'matéria prima' o DNA dessas criaturas.
O roteiro desenvolve o drama de forma simples tendo como base o clichê que dá ação ao tenso ritmo da película: fuga sucedida da situação ‘quando algo dá errado’. Para tentar disfarçar a trivialidade, o longa investe numa interessante linguagem documentarista e didática para narrar e explicar os acontecimentos.
O filme já vale uma ‘espiadinha’ pelo fato de a estória não se passar em território norte-americano, como estamos acostumados a ver, principalmente em Nova Iorque. Outras sacadas bacanas são as metáforas politizadas que traz conceitos de antropologia, ações humanitárias e discriminação racial, que nos remete ao Holocausto e, até mesmo, ao apartheid sul-africano.
Além da ótica pouco explorada sobre os ETs, a produção se destaca também por sua parte técnica, como as boas cenas de ação em seu clímax, a fotografia seca, os efeitos visuais realistas assim como a maquiagem, que cria alienígenas crustáceos bizarros e parecidos com camarões. Enfim, “Distrito 9” pode ser difícil de agradar, mas é obrigatório para quem curte o tema.
Crise de identidade, conspirações e paranóia são temas bem vistos pelo público. O longa “Desconhecido”, dirigido pelo espanhol Jaume Collet-Serra (“A Órfã”), embora seja ‘mais do mesmo’, resgata os assuntos acima de forma visualmente chamativa, mas o roteiro esbarra na indecisão de gêneros.
Quando o palestrante Dr. Martin Harris (Liam Neeson) desembarca em Berlim com a mulher Elizabeth Harris (January Jones), ele dá falta de uma mala ao chegar no hotel e volta ao aeroporto. No trajeto, ele sofre um acidente e fica em coma por 4 dias. Ao sair do hospital sem documentos, ele é tratado como um desconhecido, inclusive pela mulher, o que o faz procurar a verdade sobre a possível farsa em que está envolvido.
Para os mais exigentes, o filme começa de maneira equivocada tentando confundir o espectador por uma situação que é colocada como ‘verdade’. Além disso, no desenrolar da trama, o roteiro apresenta furos em determinados momentos (alguns forçados) o que pode incomodar os mais atentos com algumas ‘perguntas sem respostas sobre situações ilógicas’.
Outro fato que pode não ser bem visto por alguns é a indecisão do roteiro em escolher o gênero para o desenvolvimento da história em seu segundo ato. Ficamos com a sensação que, caso a trama focasse mais no ‘drama paranóico’ (que aqui é apenas um ensaio) ao invés do suspense/ação, talvez o filme fosse melhor e menos convencional.
Por outro lado, “Desconhecido” tem suas qualidades, como o ritmo e fotografia sempre atraentes e a fórmula clichê que funciona, que lembra algumas ideias de outros longas, como o mistério e a busca por verdades de “Identidade Bourne”, a movimentação de “Busca Implacável” e a paranóia de “Caixa Preta”. No geral, é uma produção com atuações competentes (principalmente de Liam Neeson) e entretenimento garantido.
Sempre gostei de filmes baseados em fatos reais, principalmente quando a história se inspira em ocasiões que fogem do melodrama. “Desafiando os Limites” se encaixa nesse perfil, é sensível, alegre e é um longa super atraente, em especial pela atuação sempre impecável de Anthony Hopkins.
A produção narra a jornada do neozelandês Burt Munro (Hopkins) em busca da quebra do recorde mundial de velocidade sobre duas rodas no final dos anos 60. Já idoso, sem dinheiro e de posse sua adorada motocicleta Indian Scout, Burt está determinado a realizar seu sonho de viajar para Utah, Estados Unidos, para participar de uma corrida que pode lhe dar o título de ‘homem mais rápido do mundo’.
Os maiores trunfos de “Desafiando os Limites”, além da interpretação de Hopkins, que está numa simpatia incrível, são a perseverança e a coragem do protagonista para realizar o seu sonho. O ritmo delicioso e a maneira dócil e bem humorada com que Burt lida com as inúmeras dificuldades, sejam elas decorrentes de sua saúde ou da falta de recursos materiais para seguir sua jornada, deixam o filme ainda mais chamativo e encantador.
O roteiro estilo ‘road movie’ e a direção sensível de Roger Donaldson mantêm sempre o alto astral do longa com bons diálogos e explorando ao máximo o carisma e a humildade do personagem principal. Os únicos deslizes ficam por conta de alguns detalhes narrativos inseridos na trama que são pouco desenvolvidos ou há pouca carga dramática em algumas situações (talvez tenha sido a amenização de fatos para o equilíbrio entre o que foi real e o que foi fictício na adaptação), mas são coisas que só os mais exigentes perceberão.
A superação, o objetivo cumprido do protagonista e o leve susto no clímax contagiam o espectador com a lição de vida de Burt. Apesar de ter participado da mostra Panorama do Cinema Mundial, no Festival do Rio 2005, com o título "A Indian Mais Rápida do Mundo", é uma pena que “Desafiando os Limites” tenha sido lançado no Brasil diretamente para as locadoras.
“Duro de matar” (1988) se tornou ícone dos longas de ação oitentista. A continuação (1990) manteve o nível do primeiro. A terceira produção (1995) não empolgou tanto, ao contrário desta quarta sequência que reciclou os clichês da série ao trazer pirotecnia apurada dos anos 2000 para proporcionar ‘filme-pipoca’ para os fãs do gênero.
O sucesso de “Duro de matar 4.0” se deve, além do carismático Bruce Willis, ao diretor Len Wiseman (“Anjos da noite”). Além de investir em um tema bacana (ameaça cibernética por hackers terroristas), Wiseman soube aplicar, com eficiência, os principais ingredientes da saga: exageros, trama convencional, rapidez nas ações dos fatos, caos generalizado, cenas espetaculares, o bom humor e o conflito familiar do protagonista (sai a esposa e entra a filha).
O roteiro mantém o tom cômico afiado com boas tiradas do policial John McClane, como a frase “chega dessa porcaria de kung fu” que brinca com o estilo dos filmes de ação das décadas de 90 e 2000 que sucederam à série. Há, também, sacadas interessantes, como aquela do vídeo em que parte dos textos de pronunciamentos pelos ex-presidentes dos EUA é editada para anunciar a tal ameaça terrorista.
O absurdo e a previsibilidade do clímax fazem parte da proposta da saga e “Duro de matar 4.0” não decepciona. O que importa mesmo é entretenimento com muita correria e destruição e, para isso, nada melhor vermos John McClane apanhar em ação e vencer a queda de braço no final.
Filmes que brincam com o tema ‘viagem no tempo’ geralmente são interessantes por suas engenhocas e explicações fantásticas. Em “Déjà Vu”, dirigido por Tony Scott e protagonizado pelo carismático Denzel Washington, não é diferente ao reciclar o assunto com base em um thriller policial que garante diversão de primeira.
A premissa é atraente e lembra “Minority Report – A Nova Lei”, porém o 'elemento de ficção' é inverso ao filme de Spielberg. Ao invés de visualizarmos o futuro por meio de ‘videntes’, em “Déjà Vu” é uma super máquina que capta cenas do passado recente em 'tempo real’ para desvendar o culpado da explosão de um barco que matou centenas de pessoas, incluindo a mocinha do cartaz, em Nova Orleans, pós furacão Katrina.
A história começa de maneira trivial ao mostrar a tragédia do vilão sucedida de investigações sobre o atentado terrorista. À medida que as descobertas vão sendo reveladas, o ritmo vai ficando mais intenso, principalmente quando o protagonista volta ao passado para tentar evitar a catástrofe.
Como é de praxe nessa temática, não há como o roteiro fugir de clichês e furos que desafiam as leis da física. Além da misteriosa ‘máquina do tempo’, o longa deixa alguns detalhes sem explicações, como o rápido rastreamento de um objeto ‘antigo’ e o fato de estar no presente e modificar o passado sem ‘viajar’ até lá.
Contudo, é necessário deixar esses absurdos de lado e se divertir com sua parte técnica que oferece fotografia granulada, boas seqüências de ação, explosões espetaculares e uma edição ágil e bacana ao estilo vídeo clipe, peculiar do diretor. Apesar do clímax previsível, “Déjà Vu” é um bom entretenimento e vale uma espiada.
Para quem assistiu ao trailer de “Defendor”, atenção, o filme não é uma comédia propriamente dita. Embora o longa sugira um tom humorístico na trama e uma premissa que, aparentemente, lembra “Kick Ass”, essa produção estrelada por Woody Harrelson é um drama que valoriza os lados humano e insano de um ‘pesudo heroi’.
Na história, Arthur Poppington (Woody Harrelson) acredita ser um super-herói com o alterego de Defendor. Durante as patrulhas pelo submundo que ele realiza à noite nas ruas de sua cidade, ele persegue um policial corrupto e alguns ‘arquiinimigos’, como o Capitão Indústria, um traficante de drogas e armas que ele acredita ter matado sua mãe quando era garoto.
Surpreendentemente, o roteiro acertou ao imprimir o tom tragicômico e vingativo à narrativa que explora, de maneira humana, o drama existencial do protagonista e seus delírios paladinos. A boa direção do estreante Peter Stebbings equilibra bem as ações na atmosfera underground com os flashbacks que contornam os ideais e os motivos do personagem principal (incluindo referências às HQs) em se transformar em um ‘heroi’.
A simplicidade, a busca por justiça, seu envolvimento amoroso com uma prostituta, a maneira como conduz seus ‘surtos’ e a forma rudimentar (roupas, acessórios e sem armas de fogo) em que Arthur encarna Defendor nos faz admirá-lo por valorizar seu ‘poder’ que traça toda a sua personalidade: a coragem.
“Defendor” pode até colocar alguns sorrisos no rosto do espectador pelo comportamento e ações caricaturais do herói, mas o drama para manter viva a sua honra e a luta por seu objetivo podem emocionar o público. Destaque para a brilhante atuação de Woody Harrelson.
“De pernas pro ar” é um filme inusitadamente divertido. Inicialmente, a impressão que temos é que o longa explora um tema batido que utiliza clichês e fórmulas convencionais da comédia romântica. A linha narrativa até trabalha em cima disso, mas enganou quem pensou em sexo e se esqueceu dos brinquedinhos que entretém os ‘individualistas’.
Depois que a executiva Alice (Ingrid Guimarães) é demitida de uma empresa e vê seu marido (Bruno Garcia) pedindo um tempo do casamento, ela conhece uma vizinha (Maria Paula) que a convida para trabalhar numa sex shop. O problema é que a falta de tempo de Alice a deixa com a ‘vida comercial’ em alta e a pessoal em baixa, o que a faz repensar sobre suas atitudes e comportamento para ser feliz.
A história não é apenas sobre as bugigangas de uma sex shop e sua evolução econômica e mercadológica, é também um retrato da mulher moderna e sua falta de tempo para conciliar família, trabalho e ‘prazeres da vida’. A trama entrelaça essas referências de maneira plausível em um ritmo agradável e com clichês cômicos que funcionam.
Por falar nisso, o barato de “De pernas pro ar” são as gags que fazem o espectador rir das inúmeras situações inusitadas em que a protagonista se encontra diante dos tais brinquedinhos. Se o roteiro peca em alguma analogia ou na representação de algum drama, como o excesso de machismo, ele equilibra o humor sem forçar ou apelar para as piadas gratuitas sobre sexo.
Apesar do excesso de melodrama no desfecho previsível, o filme vale pelas boas atuações em seu elenco, principalmente a de Ingrid Guimarães, e pela premissa pouco convencional ‘em nível de Brasil’.
“Besouro Verde” foi criado por George W. Trendle para um programa de rádio, na década de 30. Mais tarde, nos anos 40 e 60, a idéia se tornou série de TV e, agora, virou longa-metragem. Esta adaptação, embora oscile bons e fracos momentos, deixa a desejar, principalmente, pelo protagonista e sua canastrice irritante.
O playboy e egocêntrico Britt Reid (Seth Rogen), herdeiro de um grande jornal dos EUA, e seu empregado Kato (Jay Chou), especialista em artes marciais e criador de ‘super engenhocas’, decidem, sem explicações plausíveis, formar uma dupla de heróis para combater o crime. Para que todos saibam da existência de seus ‘alteregos’, Reid utiliza seu jornal para promovê-los, o que chama a atenção de um traficante local.
“Besouro Verde” utiliza os estereótipos do gênero para contextualizar sua estória, o que faz do filme uma colcha de retalhos de clichês. Isso não é ruim, mas torna-se ruim devido ao roteiro que é mal trabalhado. Reflexo disso é seu ritmo instável e pouco atraente. O início é legal, o miolo não engrena e só no clímax o longa fica realmente bom. O humor também está presente, mas também é inconstante e poucas gags funcionam.
Uma das falhas do script é a falta de um desenvolvimento melhor dos personagens que mereciam mais atenção, como Kato (o verdadeiro herói com incríveis habilidades) e o irônico vilão Chudnofsky, bem caracterizado por Christoph Waltz. Há, também, reviravoltas que não empolgam (a manipulação de notícias podia ser mais bem explorada) e dramas em torno do ‘pseudo-ego-justiceiro’ que não convencem.
Falando no protagonista Britt, sua arrogância e seus berros fazem dele uma figura antipática. Ainda que as boas cenas de ação sejam o filé da produção (sempre com o imponente carro preto), faltou mais maturidade ao longa, tanto por parte do roteiro como da direção de Michel Gondry (“Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”). E a Cameron Diaz? Pena que foi, basicamente, uma garota propaganda.
A química entre ação e drama já deu certo no cinema, como em “O profissional” e “Nikita”, ambos de Luc Besson. “Cão de Briga”, escrito e produzido por Besson, é mais um filme que aposta na interação desses gêneros, mas não mantém o mesmo equilíbrio mostrado pelos exemplos citados.
A estória fala de um lutador, Danny (Jet Li), que é adotado desde criança pelo mafioso Bar (bem interpretado por Bob Hoskins) e criado como um animal para lutar em rinhas ilegais no submundo de Londres. Quando um acidente de carro deixa Bart desacordado, Danny foge de sua ‘guarda’ e conhece um pianista cego (Morgan Freeman) que o ensina sobre a vida por meio da música.
Como fita de ação, “Cão de briga” é um dos melhores de artes marciais e explora ao máximo as habilidades de Jet Li, que, diga-se de passagem, é seu melhor filme (Li cumpre com competência as propostas do longa). Há ótimas sequências de lutas coreografadas pelo mestre Yuen Wo Ping, câmeras lentas, boa fotografia, trilha sonora bacana de Massive Attack e a edição é rápida e eficiente.
Como um exemplar dramático, a produção também não faz feio, mas esbarra no roteiro de Luc Besson que, em certos momentos, interage mal os gêneros. A premissa é até aceitável como argumento de pancadaria e ficção, porém é exagerada e pouco convincente como conteúdo dramático. As condições do protagonista, como o comportamento de um ‘animal demente’, é difícil de engolir.
Por outro lado, o drama é bem conduzido por Louis Leterrier ao exibir um interessante exercício humano sobre autoconhecimento e conceito de família. Para isso, a figura sempre bem vinda de Morgan Freeman surge na trama para interagir de maneira sensível e cativante com o personagem principal e dar um fim moralista à estória. No fim das contas, “Cão de briga” é um bom entretenimento.
Com tantas produções adaptadas de histórias em quadrinhos, finalmente, surgiu o filme do Capitão América com o selo Marvel, uma das editoras mais populares do segmento. O emblemático capitão, criado por Joe Simon e Jack Kirby, em 1941, que também é uma refilmagem de produções anteriores (1944, 1979 e 1990), ganha as telonas de uma forma convencional, porém divertida ao seguir à risca a cartilha do ‘gênero’.
O franzino Steve Rogers (Chris Evans) aceita ser cobaia de uma experiência que visa criar o supersoldado norte-americano para combater os nazistas e, também, o Caveira Vermelha (Hugo Weaving). Antes de entrar em ação, o agora patola Rogers é chamado de Capitão América e é usado como garoto-propaganda do exército para valorizar o investimento do país na Segunda Guerra e, também, levantar a estima dos combatentes.
O roteiro recicla clichês dos ‘herois de HQs no cinema’ (o bom humor, a mocinha, o uso dos superpoderes e o ufanismo à la “Os Caçadores da Arca Perdida”) e trabalha bem o protagonista conforme suas raízes e sua ambientação (destaque na propaganda ‘pró guerra’). No papel principal, Chris Evans está bem como Capitão América e sua irreverência está longe da canastrice do Tocha Humana em “O Quarteto Fantástico”.
Enquanto a parte técnica se sobressai nos figurinos, na direção de arte e nos bons efeitos visuais e sonoros, “Capitão América” derrapa no romance forçado, nos curtos momentos de ação (poderia ter dado mais ênfase nas cenas de guerra) e por desenvolver pouco o vilão. Aqui, o coadjuvante Howard Stark, pai do Homem de Ferro, ganha mais espaço que o Caveira Vermelha, que merecia ter menos mistério sobre suas origens.
“Capitão América - O Primeiro Vingador” não decepciona e é a melhor adaptação sobre o heroi, mas, por ser ‘mais do mesmo’, não se destaca entre seus ‘irmãos’ “Hulk”, “Homem de Ferro” (o melhor deles) e “Thor”. A impressão é que o filme parece ter sido feito com certa pressa para que seja lançado antes do tão esperado “Os Vingadores”, que reúne esses famosos herois da Marvel.
A 85ª edição do Oscar foi uma hora escura ao indomável sonhador Spielberg e seu candidato Lincoln. Somente Argo desfrutou o lado bom da vida do evento ao faturar o premio principal junto com os oscarizados aventureiros Pi, digo Ang Lee, e Tarantino que deu um tiro certeiro na originalidade de Django.
A verdade é que o Oscar foi a festa dos adaptados e seu roteiro foi digno da manobra do filme de Ben Affleck: começou perdendo, a estratégia em busca para o triunfo foi montada, a melhor estória de resgate foi escolhida e a grande fuga para a vitória, que parecia impossível, aconteceu em seu clímax numa saída de mestre.
Alguns personagens se destacaram. Apesar de Denzel Washington não conseguir levantar voo, foi o presidente Daniel Day-Lewis o mais votado como ator. Outra que passou longe do lado ruim da vida foi Jeniffer Lawrence que faturou como atriz; o ‘coronel Hans Landa’ Christopher Waltz foi premiado novamente como coadjuvante e Anne Hathaway cantou mais alto que suas oponentes auxiliares. Quem cantou de Oscar mesmo foi Adele, que está longe de ser uma ‘Bond girl’!
Não faltou gente feia com figurinos miseráveis na cerimônia. Hitchcock e o hobbit foram mal maquiados e viram alguns pobres cantantes receberem ‘blushes dourados’ no rosto aos sons de canções que agradaram aos jurados. O presidente, que brilhou no design de sua produção, deu um fora na bem vestida Anna Karenina e a categoria de efeitos sonoros foi para a Suécia em um empate barulhento de dois conterrâneos que se aventuraram em operações diferentes: a Skyfall e a caçada ao Bin Laden.
E quem detonou na animação foi uma guerreira de cachos ruivos, que foi valente contra monstros, piratas malucos e mostrou o game over para um tal de Ralph. Nos efeitos, o hobbit 'prometheus' e a Branca de Neve acreditou, mas quem vingou foi Pi e sua aventura no pacifico, que também se saiu bem na foto e na trilha sonora.
A academia teve muito amor, não só com a Áustria, mas com todos os candidatos e espalhou estatuetas em sua cerimonia TEDiosa de quatro horas de muita cantoria, que o diga o apresentador de piadas instáveis Seth Macfarlane. Inocentes são aqueles que acham que o Oscar é justo, mas mestres são os que classificam essas sessões anuais como um produto miserável de Hollywood. Pelo menos Argo e Django, meus prediletos, ficaram livres desse contexto. Ou não?
No final da década de 90, uma ficção científica de nome curioso foi lançada diretamente para as locadoras. Em meio a tantos filmes do gênero que eram, em sua maioria, realizados pelos norte-americanos, este longa canadense de produção independente chamou a minha atenção com sua proposta pouco convencional.
Misteriosamente, seis pessoas acordam dentro de um labirinto formado por salas cúbicas interconectadas. O problema é que algumas salas possuem armadilhas fatais e códigos a serem decifrados para que os confinados encontrem a saída do lugar. Como cada personagem possui uma habilidade, a união entre eles é primordial para que o grupo mantenha a esperança de escapar do cubo.
“Cubo” surpreende pelo tom enigmático de sua realidade: é um experimento ou uma prisão futurista? Além das emboscadas mortais, o filme se destaca, também, pela forma com que o inteligente roteiro desenvolve os passos dos protagonistas e seus conturbados relacionamentos interpessoais, o que resulta em um tenso e paranóico thriller psicológico.
É aí que a ágil direção de Vincenzo Natali e a boa direção de arte se sobressaem. Os eficientes efeitos visuais e os cenários curiosos criam interessantes ambientes claustrofóbicos que deixam o espectador apreensivo até o clímax.
O trunfo de “Cubo” é sua autenticidade e por isso tenha sido justamente cultuado em sua época. Com o sucesso, o longa gerou mais duas continuações infinitamente inferiores. Obrigatório para os fãs do gênero.
“Crepúsculo” é um longa voltado para adolescentes que mais parece um episódio de 122 minutos de “Malhação” de trama romântica boba ambientada numa guerra entre vampiros e lobisomens. De fato, o filme, baseado nos livros de Stephenie Meyer, se tornou um fenômeno de bilheteria (faturou mais de 392 milhões de dólares) e é um ‘trash-cult’ instantâneo. A produção tem seus méritos e é importante para as gerações emo, Justin Bieber, Luan Santana ou seja lá quais são as várias tribos do gênero da atualidade.
O filme tem todos os ingredientes 'high school'. Além das paixões de escola, aventuras e rebeldias, o pior deles é quando o Google entra em ação, ferramenta que a mocinha usa para descobrir que sua paixão é um ‘sanguessuga’.
É natural que o cinema produza, de tempos em tempos, produtos que retratam uma geração, mesmo que seja uma nova roupagem de histórias que marcaram épocas. Essa franquia não foge à regra e investe em um conto contemporâneo infanto-juvenil de fantasia. De tão 'fantástico', o roteiro reinventa detalhes clássicos de seus personagens vampirescos, como a ausência do pavor da luz do sol.
Muita gente vai achar estranho alguns furos de roteiro, porém são dúvidas que serão explicadas ao longo da saga com “Lua Nova” e “Eclipse”. Apesar de algumas situações piegas, “Crepúsculo” funciona para um público restrito. Fora desse eixo, é um filme que deve estar nos melhores lixões de Hollywood. Nesse contexto, prefira “Anjos da noite”.
A maioria dos filmes sobre a presença de alienígenas na terra aborda os seres de outros planetas em forma bizarra, dotados de alta tecnologia e com intenções dominatórias sobre a raça humana para obter algum recurso natural que temos. Analisando por esse aspecto, “Cowboys & Aliens” não traz novidades, mas utiliza esse argumento para promover uma interessante combinação de gêneros.
A história se passa em 1873, no Arizona, nos Estados Unidos. Inexplicavelmente e sem lembrar do seu passado, o cowboy Jake Lonergan acorda no deserto com um estranho artefato preso em seu punho e se dirige para a conflituosa cidade Absolution, onde não é bem vindo. Quando estranhas naves e criaturas capturam pessoas e atacam o vilarejo, Jake se torna a única esperança para combater esses curiosos seres.
A mistura de gêneros pode parecer bizarra, mas não é. Ao invés do ambiente urbano, como estamos acostumados a ver em outras produções sobre o tema, a narrativa sobre a invasão alienígena se passa no velho oeste no século 19. O trunfo da produção foi justamente trabalhar o faroeste em sua forma clássica e inserir a ficção sem muita extravagância visual.
O filme equilibra essas ‘composições’ sem apelar para o futurismo e executa bem a interação de estereótipos do ‘bang-bang’ com os ‘clichês alienógenos’. O resultado é uma química repleta de ação, bons efeitos visuais e com várias referências ou ‘lembranças cinematográficas’, como as luzes de pequenas naves em voos noturnos que parecem “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, a captura de humanos e ataques de lasers destruidores remetem a “Guerra dos Mundos” e abduções ao estilo “Fogo no céu”.
Se o roteiro, inspirado nas histórias em quadrinhos de Scott Mitchell Rosenberg, peca pela previsibilidade e no desenvolvimento de alguns personagens, como o de Harrison Ford e, sobretudo, da misteriosa mocinha interpretada por Olivia Wilde, a direção de Jon Favreau deixa a desejar pelo excesso de seriedade e pouco humor. Ainda sim, “Cowboys & Aliens” entretém com eficiência, mas não impressiona tanto.
“Cidade de Deus” fez escola no cinema brasileiro e contagiou um punhado de realizadores, que apostaram em uma estética semelhante para obter algum sucesso. Exemplo disso é “Contra Todos” (2004), filme de estreia do diretor Roberto Moreira e com os mesmos produtores do longa citado anteriormente, que joga o espectador em um universo repleto de crises, pobrezas, traições e mudança de destinos.
A trama gira em torno de um matador de aluguel Teodoro (Giulio Lopes), que atua em um bairro da periferia de São Paulo eliminando ‘gente indesejável na comunidade’. O assassinato do filho de um açougueiro amigo da família do tal ‘justiceiro’ origina uma crise entre seus parentes e faz com que todos entrem numa miscelânea de conflitos e mentiras.
O diretor investe em boa parte da ideia de “Cidade de Deus” na construção atmosférica de “Contra Todos”: radicalização, violência, ousadia, linguagem coloquial e improvisações. “Os atores aceitaram participar do filme sem conhecer o roteiro e durante os ensaios descobriram e vivenciaram a história. Queria algo que não fosse falso, nossa tradição sempre foi teatral e exagerada, seja nos bons como nos maus filmes”, afirma Moreira em entrevista coletiva no lançamento do filme.
Além disso, Moreira busca no gênero documentário algumas opções que deixam o seu longa atrativo, como a estética amadora e hiper-realista. “É um registro naturalista, cru, direto, limpo e verdadeiro. A opção foi tratar a ficção como se fosse um documentário”, disse o diretor. O registro em tom documental e a liberdade de improvisação fizeram com que o roteiro fosse alterado diversas vezes devido a aspectos inesperados da história. De acordo com Moreira, a cada nova reunião com o elenco, o script era modificado e cada ator teve total liberdade de criar as motivações de seu personagem e “nesse processo eles inventaram cinco roteiros diferentes”.
Outro aspecto técnico importante, além da filmagem em vídeo digital, é a utilização da câmera inquieta (na mão), pouca trilha sonora, gravação em locações e o uso da iluminação natural, o que faz do estilo de Moreira, aqui, ser uma referência ao cinema neo-realista inspirado no movimento Dogma 95.
Além de fugir do clichê sociológico e de amarrar bem as reviravoltas, o roteiro proporciona um clímax surpreendente e a edição abusa de um jogo cronológico em sua montagem, em que o espectador acompanha a trajetória e os pontos de vista diferentes de cada personagem no desfecho melancólico.
No fim das contas, a homenagem de Moreira a Mário de Andrade com a frase “cada um por si e Deus contra todos” retrata bem a forte temática levantada. Além disso, o filme critica à sociedade moderna que não respeita o senso social e transforma a realidade numa atmosfera de angústia e emoção tendo como principal consequência à hipocrisia catastrófica.
As vezes o cinema brasileiro tropeça em inserir a ‘estética televisiva’ em suas produções, o que pode condenar um filme ao fracasso. Apesar da aparência ‘Global’ de “O Casamento de Romeu e Julieta”, de Bruno Barreto, o longa até não faz feio ao seguir a cartilha da ‘sessão da tarde’: é bobinho, previsível, tem lá suas confusões e cenas divertidas.
A palmeirense Julieta (Luana Piovani) se apaixona por Romeu (Marco Ricca), um oftalmologista e corinthiano ‘roxo’. Em nome do amor, Romeu aceita se passar por palmeirense para agradar o sogro Alfredo Baragatti (Luís Gustavo), que é um torcedor fanático do Palmeiras, o que gera desconfiança e confusão em sua família composta por corinthianos.
O roteiro trivial é baseado em conto de Mário Prata e inspirado na famosa peça de William Shakespeare sobre duas famílias que não querem ver um casamento entre seus parentes. Para ‘abrasileirar’ a história, o futebol e seu fanatismo passam a ser as referências que opõem as duas famílias e servem de ‘cupido’ para o romance central.
A trama utiliza Romeu como artifício para criar algumas situações engraçadinhas, principalmente quando ele tem de fingir ser torcedor do Palmeiras para o sogro e se esconder da avó corinthiana Nenzica (Berta Zemmel) que não quer ver o neto casado com uma palmeirense. No final das contas ‘o amor é lindo’ e a lição de moral sobre fanatismo excessivo vem à tona.
A sensação é que a idéia sairia melhor como um seriado de TV e não como filme, já que, esteticamente, decepciona (as representações das torcidas e as coreografias de futebol são péssimas). O destaque da produção é a atuação caricaturada de Luís Gustavo que está impagável na pele um homem que ‘devota’ sua vida às cores ‘palestrinas’.
“Carros” (2006), ao lado de “Vida de Inseto” (1998), é um dos filmes menos expressivos da Pixar, mas, ainda assim, é um adorável entretenimento. Com o sucesso de bilheteria, rendendo mais de 460 milhões de dólares, a animação sobre automóveis falantes se destacou por seu contexto moral e por sua inventividade antropomorfizada. Além disso, o longa ainda faturou cifrões em outros segmentos, como em inúmeros produtos licenciados, o que aguçaram os produtores da Pixar em realizar “Carros 2”.
O superastro Relâmpago McQueen é desafiado por um veículo italiano no intuito de provar quem é o carro mais veloz do planeta. Para isso, ambos são convidados para disputarem um Grand Prix Mundial e, em meio ao evento, o guincho Mate acaba se envolvendo em uma espionagem internacional e descobre uma conspiração corporativista que pode atrapalhar as intenções dos participantes e realizadores da tal corrida.
Ao contrário do original, que prezou pela lição à criançada sobre amizade e egocentrismo, “Carros 2” recicla a fórmula moral, mas em uma voltagem menor. Ainda que seja menos dramático e mais clichê, o grande barato desta continuação é o estilo paródia em sua trama que investe em atmosfera de máfia italiana e ‘aventura de espionagem’ a lá 007 tendo como protagonista o caipira e engraçadíssimo caminhão guincho, Mate, que foi coadjuvante no primeiro filme.
Apesar do ritmo mais acelerado, mas sempre divertido, "Carros 2" tem mais ação, novos personagens veiculares e o humor satírico (e de qualidade) que contagia o espectador pelo visual que contextualiza o nosso mundo na forma de um universo automotivo, como locais na Europa adaptados aos carros e até transformas figuras emblemáticas em veículos, como a rainha da Inglaterra e o Papa. O gráfico multicolorido com texturas metálicas realistas é outro atrativo para quem for assistir ao filme em alta definição.
É notável que essa continuação foi realizada mais com ímpeto comercial, e, por conta disso, o roteiro acaba sendo prejudicado em algumas situações por excesso de furos. Entretanto, as derrapadas são pouco perceptíveis e “Carros 2” não deixa de ser um perfeito passatempo, tanto paras as crianças que acompanharão uma nova aventura dos personagens de sucesso como para os adultos que vão se divertir com trocadilhos da antropomorfização.
Filmes que abordam viagens temporais, geralmente, são atrativos e curiosos, já que ficamos na expectativa de vermos o heroi tentar contornar situações voltando ao passado. “Contra o Tempo” recicla essa narrativa e diverte o espectador por seus clichês bem aplicados à trama.
O capitão Colter Stevens, interpretado por Jake Gyllenhaal, faz parte de um programa experimental do governo norte-americano que o envia ao passado para tentar evitar um atentado terrorista em um trem de passageiros. A cada missão fracassada, ele ‘viaja pelo tempo’, sempre oito minutos antes de uma grande explosão, até conseguir uma maneira de identificar o criminoso e impedir a tragédia.
A história brinca com o passado e o relógio como em “Feitiço do Tempo” e “Efeito Borboleta”, combate o terrorismo ao estilo “Déjà Vu” e tem pitatas de manipulação de realidade que lembra “Matrix”. A partir das idéias dessas referências da ficção científica, o roteiro insere clichês bem arranjados no enredo e prende a atenção do espectador com ação em ‘tempo real’ sem cair na redundância.
“Contra o Tempo” também se destaca no mistério, principalmente na localização real em que o heroi se encontra e nas investigações de sua missão, o que proporciona uma atmosfera tensa, intrigante e quase paranóica bem conduzida pelo filho de David Bowie, Duncan Jones (“Lunar”).
Pena que o filme se ‘descarrila’ logo após seu terceiro ato, o que deixará os espectadores com pulgas atrás da orelha com o clímax confuso e convencional. No geral, “Contra o Tempo” não decepciona e cumpre o que promete: muita correria e diversão.
Filmes que apreciam ou retratam o ‘sistema social’ como tema sempre me atraíram. “Código de conduta” é mais uma produção que cutuca esse ‘universo manipulador de normas e regras’ ao criticar as mancadas do sistema jurídico e seus ‘promotores-estrelas’.
A história gira em torno de um engenheiro que testemunha o assassinato de sua esposa e filha. Quando ele vê os assassinos de sua família serem soltos por causa de uma ‘incoerência judicial’, ele planeja se vingar de todos, inclusive daqueles que estão dentro do ‘sistema’.
Apesar dos furos de roteiro e da trama trivial (vingança e justiça com as próprias mãos na forma de terrorismo), “Código de conduta” tem uma proposta nitidamente comercial que deve ser compreendida. De fato, poderia ter explorado melhor os bastidores da temática como querem os mais exigentes, porém isso não desmerece a ‘moral da história’ e não deixa o longa menos interessante.
As principais atrações do filme são as ações contra o sistema promovidas pelo protagonista que são executadas de forma cruel, engenhosa e pirotécnica. Essas cenas são bem conduzidas pelo diretor F. Gary Gray que imprime ritmo empolgante, boas doses de suspense e realismo na violência, como na impactante cena de abertura.
O bom clímax, que soa de maneira poética na transição do ‘bem para o mal’ do personagem principal, retrata muito bem quem limita e comanda certas situações. E isso traz uma moral interessantíssima: não adianta bater, o soco do 'sistema' sempre vai ser mais forte. Para ser mais direto, siga o ‘código’ ou você poderá se dar mal!
Quando o acontecimento faz história isso se torna uma grande pauta para o cinema romancear e registrar o ocorrido. E não demorou muito para que o roubo ao Banco Central de Fortaleza, em 2005, em que ladrões profissionais levaram 164,7 milhões de reais, se tornasse filme.
O fato foi emblemático e surpreendeu a todos não só pela maior quantia roubada no Brasil, mas pela ousadia dos bandidos que realizaram uma ação cinematográfica, de escavar um túnel até o cofre do banco. Entretanto, o resultado do filme, dirigido pelo estreante Marcos Paulo, infelizmente, não teve a mesma grandiosidade, ainda que tenha um elenco repleto de bons nomes.
A única coisa que atrai o espectador é a curiosidade de 'como foi que tudo aconteceu'. No entanto, não espere algo charmoso como “Onze homens e um segredo” e nem a excentricidade de “Os matadores de velhinhas” (sua história parece ter inspirado os verdadeiros ladrões), mas veja no intuito de encontrar uma comédia com cara de seriado da Globo e sem realismo nas ações.
É perceptível as carências da produção, como a direção sem inspiração, a trilha sonora novelesca e o fraco roteiro repleto de frases de efeito que investe numa estrutura não linear semelhante ao de “O Plano Perfeito”. Além disso, a insegura edição com muitas de idas e vindas no tempo, que dá a impressão de forçar complexidade à trama, prejudica o ritmo e a dinâmica da ação dos bandidos, o que favorece o tom cômico ao invés do suspense policial.
Mesmo sendo clichê e por ter uma premissa trivial e estereótipos do gênero (grande assalto, corrupção policial, investigações e triângulo amoroso), a produção tinha tudo para ser marcante e não é. Talvez a falta de recurso possa ter sido um dos problemas para que o longa fosse mais bem desenvolvido, conduzido e estruturado com conspirações, personagens, narrativa e reviravoltas mais interessantes.
Quando vi anunciando o lançamento de “Aposta Radical”, o filme prometia algo interessante. O cartaz bacana e, principalmente, o trailer que trazia cenas de parkour (arte de deslocar do corpo o mais depressa possível) me deixaram antenado.
Depois de ter lido a fraca sinopse (garoto que procura o agressor de seu pai que está em coma e enfrenta desafios de ‘gladiadores de rua’ no submundo de sua cidade) e visto a primeira meia hora de projeção, o meu ânimo foi diminuindo para com esta produção sueca. E não deu outra, o longa é meia boca e mal produzido.
“Aposta Radical” parece um filme amador. A película tem ritmo ruim, argumentos bobos e inconvincentes que promovem a ação, as cenas de parkour são convencionais e a edição é burocrática e de aparência televisiva. O único aspecto favorável são as lutas que, em sua maioria, são bem coreografadas.
Além disso, o roteiro não consegue amarrar as situações e as reviravoltas são mal arranjadas. É nítida que a direção não consegue equilibrar os clichês do gênero e se perde no foco das subtramas e no desenvolvimento dos personagens.
Comparando com outra produção semelhante, que também usufrui do parkour para criar cenas de ação, “Aposta Radical” é infinitamente inferior ao francês “13º Distrito”. O que sobrou no filme de língua francesa faltou nesta película sueca, que levou um tombo feio quando se trata de ousadia e criatividade.
Uma ‘farsa’ tem sido bastante utilizada no cinema para impressionar o público ao exibir algo como se fosse real. E há quem acredite, tanto no marketing como no momento da exibição, nessas produções que dizem ter editado ‘gravações perdidas de situações verdadeiras’. “Apollo 18 – A missão proibida” é mais um longa que aproveita esse argumento para assustar o espectador, mas é pouco convincente em relação a sua proposta.
O filme começa em tom de ‘teoria da conspiração’ e faz o espectador acreditar que houve a tal missão Apollo 18 à Lua nos anos 70. As imagens, com autenticidade negada pela NASA, são das câmeras acopladas nos astronautas e nas cápsulas lunares que captam as situações e induzem o espectador a acreditar na tal missão que culmina em suspense alienígena.
A estrutura narrativa de “Apollo 18” não é novidade. O estilo documental sem uso de trilha sonora que simula histórias reais já foi trabalhado em “A Bruxa de Blair”, “Cloverfield”, “[REC]” e “Atividade Paranormal”. A utilização dessa técnica pode ser interessante pelo realismo dos fatos propostos, da interação do filme para com o espectador e da atmosfera do suspense, mas, também, pode ser uma experiência cansativa mesmo que tenha um enredo atraente.
Se a proposta é simular algo real, o filme nos força a comparar os fatos exibidos com a lógica na realidade. É aí que a tal farsa se revela na forma de furos no roteiro: fatos históricos obscuros e desconhecidos; elementos alienígenas lunares; a falta de uma explicação melhor de como conseguiram resgatar as tais filmagens para serem apresentadas no cinema e os movimentos e posições das câmeras que, em certos momentos, parecem não serem controladas pelos astronautas.
Ainda que tenha um clímax longe do 'politicamente correto' e alguns bons sustos, o estilo narrativo pode incomodar pela precariedade das imagens trêmulas (propositais para parecerem reais) e pelo ritmo cansativo que demora a desenvolver a trama até o ponto que interessa: o suspense. Se o filme não tendesse tanto para o estilo documental para disfarçar a falta de orçamento, talvez “Apollo 18” tenha tido melhor aceitação, porém se o espectador conseguiu sentir algum tipo de emoção, então a estratégia de seus realizadores deu certo!
A Epidemia
3.1 713 Assista AgoraFilmes sobre extermínios em massa causados por vírus mortais sempre me atraíram. Dentro dessa ótica, temas que usam zumbis como vilões, apesar de serem batidos em Hollywood, são divertidos por mostrarem pontos de vista diferentes sobre possíveis catástrofes virais.
Longas que investem nesses assuntos nos remetem a George A. Romero, pioneiro e mestre em produções que envolvem ‘mortos-vivos’ em crônicas sobre o cotidiano com pitadas de horror. Inclusive, “A epidemia” é uma refilmagem de “O exército do extermínio” (The Crazies, 1973), dirigido pelo próprio Romero.
O ritmo lento e o ambiente de cidade rural com paisagens bucólicas favorecem a atmosfera do filme. Quando se inicia a catástrofe, todo esse clima sensível e vagaroso se transforma em tensão com cenários de destruição e requintes de crueldades promovidas pelo exército norte-americano.
Em um filme com tema bastante explorado, os clichês também não fogem à regra. Além das confusões de fuga, no grupo que luta para sobreviver há uma grávida, um líder e um maluco representando, respectivamente, a esperança, a racionalidade e a virilidade para enfrentar a situação.
Apesar do mistério trivial e ter um clímax previsível, “A epidemia” é bastante eficiente ao mostrar ‘mortos-vivos’ diferentes da visão tradicional e por investir no ponto de vista de isolamento das vitimas sem entrar no lado político sobre o caos, o que valoriza o suspense. Embora seja convencional, a procução é bem dirigida, convincente e não decepciona.
Encontro Explosivo
3.1 1,5K Assista Agora"Encontro explosivo" é um filme que propõe ao espectador uma estória com muita ação e comédia romântica com ares de espionagem. De fato, dá para se divertir com as inúmeras situações cômicas recheadas de confusão, porém para aqueles que admiram um cinema mais pretensioso, lógico e/ou realista vão rotular esse longa, acertadamente, como um "lixo" caça-níquel de Hollywood.
Apesar do fraco roteiro, o que importa mesmo é o carisma dos protagonistas e o humor. Tecnicamente falando, "Encontro explosivo" não decepciona, embora falte a sensação de o espectador sentir a "falta de fôlego" em algumas sequências.
As situações cômicas funcionam graças ao trabalho do diretor James Mangold em manipular os clichês do roteiro, fato que deixa o longa mais atraente, como nos momentos em que acompanhamos a ação pelos olhos da mocinha. Claro, a participação dos carismáticos Tom Cruise e Cameron Diaz ajuda a a trama ficar mais engraçada.
Falando nos personagens, esse estilo de filme tem um tom um tanto quanto machista das comédias românicas. A virilidade faz parte do humor e do clichê, fórmula clássica que nos remete ao convencionalismo do herói cômico canastrão e da mocinha indefesa e inocente. Contudo, é preciso relevar isso para se divertir, caso contrário, essa mesmice pode não agradar aos mais exigentes.
Para aqueles que se interessaram ou gostam desse estilo ‘ação unissex para não se levar a sério’, "Encontro explosivo" me agradou mais que "Caçador de recompensa", entretanto fica para trás quando me lembrei de "Sr. e Sra. Smith" e do clássico "True lies".
Distrito 9
3.7 2,0K Assista AgoraEm um primeiro momento, imaginei que “Distrito 9” fosse mais um filme entre alienígenas assassinos versus ‘terráqueos indefesos’. Felizmente me enganei e a produção me surpreendeu por sua metáfora e por seu ponto de vista pouco convencional sobre extraterrestres.
Numa invasão de ETs, ao invés de hostilidade os humanos encontram seres ‘pacíficos’ que se instalam em uma área de Johanesburgo, na África do Sul, de nome Distrito 9. Lá eles foram explorados por forças armadas por mais de 20 anos no intuito de fabricar armas com grande poder de fogo tendo como 'matéria prima' o DNA dessas criaturas.
O roteiro desenvolve o drama de forma simples tendo como base o clichê que dá ação ao tenso ritmo da película: fuga sucedida da situação ‘quando algo dá errado’. Para tentar disfarçar a trivialidade, o longa investe numa interessante linguagem documentarista e didática para narrar e explicar os acontecimentos.
O filme já vale uma ‘espiadinha’ pelo fato de a estória não se passar em território norte-americano, como estamos acostumados a ver, principalmente em Nova Iorque. Outras sacadas bacanas são as metáforas politizadas que traz conceitos de antropologia, ações humanitárias e discriminação racial, que nos remete ao Holocausto e, até mesmo, ao apartheid sul-africano.
Além da ótica pouco explorada sobre os ETs, a produção se destaca também por sua parte técnica, como as boas cenas de ação em seu clímax, a fotografia seca, os efeitos visuais realistas assim como a maquiagem, que cria alienígenas crustáceos bizarros e parecidos com camarões. Enfim, “Distrito 9” pode ser difícil de agradar, mas é obrigatório para quem curte o tema.
Desconhecido
3.6 1,0K Assista AgoraCrise de identidade, conspirações e paranóia são temas bem vistos pelo público. O longa “Desconhecido”, dirigido pelo espanhol Jaume Collet-Serra (“A Órfã”), embora seja ‘mais do mesmo’, resgata os assuntos acima de forma visualmente chamativa, mas o roteiro esbarra na indecisão de gêneros.
Quando o palestrante Dr. Martin Harris (Liam Neeson) desembarca em Berlim com a mulher Elizabeth Harris (January Jones), ele dá falta de uma mala ao chegar no hotel e volta ao aeroporto. No trajeto, ele sofre um acidente e fica em coma por 4 dias. Ao sair do hospital sem documentos, ele é tratado como um desconhecido, inclusive pela mulher, o que o faz procurar a verdade sobre a possível farsa em que está envolvido.
Para os mais exigentes, o filme começa de maneira equivocada tentando confundir o espectador por uma situação que é colocada como ‘verdade’. Além disso, no desenrolar da trama, o roteiro apresenta furos em determinados momentos (alguns forçados) o que pode incomodar os mais atentos com algumas ‘perguntas sem respostas sobre situações ilógicas’.
Outro fato que pode não ser bem visto por alguns é a indecisão do roteiro em escolher o gênero para o desenvolvimento da história em seu segundo ato. Ficamos com a sensação que, caso a trama focasse mais no ‘drama paranóico’ (que aqui é apenas um ensaio) ao invés do suspense/ação, talvez o filme fosse melhor e menos convencional.
Por outro lado, “Desconhecido” tem suas qualidades, como o ritmo e fotografia sempre atraentes e a fórmula clichê que funciona, que lembra algumas ideias de outros longas, como o mistério e a busca por verdades de “Identidade Bourne”, a movimentação de “Busca Implacável” e a paranóia de “Caixa Preta”. No geral, é uma produção com atuações competentes (principalmente de Liam Neeson) e entretenimento garantido.
Desafiando os Limites
3.9 106Sempre gostei de filmes baseados em fatos reais, principalmente quando a história se inspira em ocasiões que fogem do melodrama. “Desafiando os Limites” se encaixa nesse perfil, é sensível, alegre e é um longa super atraente, em especial pela atuação sempre impecável de Anthony Hopkins.
A produção narra a jornada do neozelandês Burt Munro (Hopkins) em busca da quebra do recorde mundial de velocidade sobre duas rodas no final dos anos 60. Já idoso, sem dinheiro e de posse sua adorada motocicleta Indian Scout, Burt está determinado a realizar seu sonho de viajar para Utah, Estados Unidos, para participar de uma corrida que pode lhe dar o título de ‘homem mais rápido do mundo’.
Os maiores trunfos de “Desafiando os Limites”, além da interpretação de Hopkins, que está numa simpatia incrível, são a perseverança e a coragem do protagonista para realizar o seu sonho. O ritmo delicioso e a maneira dócil e bem humorada com que Burt lida com as inúmeras dificuldades, sejam elas decorrentes de sua saúde ou da falta de recursos materiais para seguir sua jornada, deixam o filme ainda mais chamativo e encantador.
O roteiro estilo ‘road movie’ e a direção sensível de Roger Donaldson mantêm sempre o alto astral do longa com bons diálogos e explorando ao máximo o carisma e a humildade do personagem principal. Os únicos deslizes ficam por conta de alguns detalhes narrativos inseridos na trama que são pouco desenvolvidos ou há pouca carga dramática em algumas situações (talvez tenha sido a amenização de fatos para o equilíbrio entre o que foi real e o que foi fictício na adaptação), mas são coisas que só os mais exigentes perceberão.
A superação, o objetivo cumprido do protagonista e o leve susto no clímax contagiam o espectador com a lição de vida de Burt. Apesar de ter participado da mostra Panorama do Cinema Mundial, no Festival do Rio 2005, com o título "A Indian Mais Rápida do Mundo", é uma pena que “Desafiando os Limites” tenha sido lançado no Brasil diretamente para as locadoras.
Duro de Matar 4.0
3.5 535 Assista Agora“Duro de matar” (1988) se tornou ícone dos longas de ação oitentista. A continuação (1990) manteve o nível do primeiro. A terceira produção (1995) não empolgou tanto, ao contrário desta quarta sequência que reciclou os clichês da série ao trazer pirotecnia apurada dos anos 2000 para proporcionar ‘filme-pipoca’ para os fãs do gênero.
O sucesso de “Duro de matar 4.0” se deve, além do carismático Bruce Willis, ao diretor Len Wiseman (“Anjos da noite”). Além de investir em um tema bacana (ameaça cibernética por hackers terroristas), Wiseman soube aplicar, com eficiência, os principais ingredientes da saga: exageros, trama convencional, rapidez nas ações dos fatos, caos generalizado, cenas espetaculares, o bom humor e o conflito familiar do protagonista (sai a esposa e entra a filha).
O roteiro mantém o tom cômico afiado com boas tiradas do policial John McClane, como a frase “chega dessa porcaria de kung fu” que brinca com o estilo dos filmes de ação das décadas de 90 e 2000 que sucederam à série. Há, também, sacadas interessantes, como aquela do vídeo em que parte dos textos de pronunciamentos pelos ex-presidentes dos EUA é editada para anunciar a tal ameaça terrorista.
O absurdo e a previsibilidade do clímax fazem parte da proposta da saga e “Duro de matar 4.0” não decepciona. O que importa mesmo é entretenimento com muita correria e destruição e, para isso, nada melhor vermos John McClane apanhar em ação e vencer a queda de braço no final.
Déjà Vu
3.5 700 Assista AgoraFilmes que brincam com o tema ‘viagem no tempo’ geralmente são interessantes por suas engenhocas e explicações fantásticas. Em “Déjà Vu”, dirigido por Tony Scott e protagonizado pelo carismático Denzel Washington, não é diferente ao reciclar o assunto com base em um thriller policial que garante diversão de primeira.
A premissa é atraente e lembra “Minority Report – A Nova Lei”, porém o 'elemento de ficção' é inverso ao filme de Spielberg. Ao invés de visualizarmos o futuro por meio de ‘videntes’, em “Déjà Vu” é uma super máquina que capta cenas do passado recente em 'tempo real’ para desvendar o culpado da explosão de um barco que matou centenas de pessoas, incluindo a mocinha do cartaz, em Nova Orleans, pós furacão Katrina.
A história começa de maneira trivial ao mostrar a tragédia do vilão sucedida de investigações sobre o atentado terrorista. À medida que as descobertas vão sendo reveladas, o ritmo vai ficando mais intenso, principalmente quando o protagonista volta ao passado para tentar evitar a catástrofe.
Como é de praxe nessa temática, não há como o roteiro fugir de clichês e furos que desafiam as leis da física. Além da misteriosa ‘máquina do tempo’, o longa deixa alguns detalhes sem explicações, como o rápido rastreamento de um objeto ‘antigo’ e o fato de estar no presente e modificar o passado sem ‘viajar’ até lá.
Contudo, é necessário deixar esses absurdos de lado e se divertir com sua parte técnica que oferece fotografia granulada, boas seqüências de ação, explosões espetaculares e uma edição ágil e bacana ao estilo vídeo clipe, peculiar do diretor. Apesar do clímax previsível, “Déjà Vu” é um bom entretenimento e vale uma espiada.
Defendor
3.2 144 Assista AgoraPara quem assistiu ao trailer de “Defendor”, atenção, o filme não é uma comédia propriamente dita. Embora o longa sugira um tom humorístico na trama e uma premissa que, aparentemente, lembra “Kick Ass”, essa produção estrelada por Woody Harrelson é um drama que valoriza os lados humano e insano de um ‘pesudo heroi’.
Na história, Arthur Poppington (Woody Harrelson) acredita ser um super-herói com o alterego de Defendor. Durante as patrulhas pelo submundo que ele realiza à noite nas ruas de sua cidade, ele persegue um policial corrupto e alguns ‘arquiinimigos’, como o Capitão Indústria, um traficante de drogas e armas que ele acredita ter matado sua mãe quando era garoto.
Surpreendentemente, o roteiro acertou ao imprimir o tom tragicômico e vingativo à narrativa que explora, de maneira humana, o drama existencial do protagonista e seus delírios paladinos. A boa direção do estreante Peter Stebbings equilibra bem as ações na atmosfera underground com os flashbacks que contornam os ideais e os motivos do personagem principal (incluindo referências às HQs) em se transformar em um ‘heroi’.
A simplicidade, a busca por justiça, seu envolvimento amoroso com uma prostituta, a maneira como conduz seus ‘surtos’ e a forma rudimentar (roupas, acessórios e sem armas de fogo) em que Arthur encarna Defendor nos faz admirá-lo por valorizar seu ‘poder’ que traça toda a sua personalidade: a coragem.
“Defendor” pode até colocar alguns sorrisos no rosto do espectador pelo comportamento e ações caricaturais do herói, mas o drama para manter viva a sua honra e a luta por seu objetivo podem emocionar o público. Destaque para a brilhante atuação de Woody Harrelson.
De Pernas pro Ar
3.2 1,7K Assista Agora“De pernas pro ar” é um filme inusitadamente divertido. Inicialmente, a impressão que temos é que o longa explora um tema batido que utiliza clichês e fórmulas convencionais da comédia romântica. A linha narrativa até trabalha em cima disso, mas enganou quem pensou em sexo e se esqueceu dos brinquedinhos que entretém os ‘individualistas’.
Depois que a executiva Alice (Ingrid Guimarães) é demitida de uma empresa e vê seu marido (Bruno Garcia) pedindo um tempo do casamento, ela conhece uma vizinha (Maria Paula) que a convida para trabalhar numa sex shop. O problema é que a falta de tempo de Alice a deixa com a ‘vida comercial’ em alta e a pessoal em baixa, o que a faz repensar sobre suas atitudes e comportamento para ser feliz.
A história não é apenas sobre as bugigangas de uma sex shop e sua evolução econômica e mercadológica, é também um retrato da mulher moderna e sua falta de tempo para conciliar família, trabalho e ‘prazeres da vida’. A trama entrelaça essas referências de maneira plausível em um ritmo agradável e com clichês cômicos que funcionam.
Por falar nisso, o barato de “De pernas pro ar” são as gags que fazem o espectador rir das inúmeras situações inusitadas em que a protagonista se encontra diante dos tais brinquedinhos. Se o roteiro peca em alguma analogia ou na representação de algum drama, como o excesso de machismo, ele equilibra o humor sem forçar ou apelar para as piadas gratuitas sobre sexo.
Apesar do excesso de melodrama no desfecho previsível, o filme vale pelas boas atuações em seu elenco, principalmente a de Ingrid Guimarães, e pela premissa pouco convencional ‘em nível de Brasil’.
O Besouro Verde
2.7 1,1K Assista Agora“Besouro Verde” foi criado por George W. Trendle para um programa de rádio, na década de 30. Mais tarde, nos anos 40 e 60, a idéia se tornou série de TV e, agora, virou longa-metragem. Esta adaptação, embora oscile bons e fracos momentos, deixa a desejar, principalmente, pelo protagonista e sua canastrice irritante.
O playboy e egocêntrico Britt Reid (Seth Rogen), herdeiro de um grande jornal dos EUA, e seu empregado Kato (Jay Chou), especialista em artes marciais e criador de ‘super engenhocas’, decidem, sem explicações plausíveis, formar uma dupla de heróis para combater o crime. Para que todos saibam da existência de seus ‘alteregos’, Reid utiliza seu jornal para promovê-los, o que chama a atenção de um traficante local.
“Besouro Verde” utiliza os estereótipos do gênero para contextualizar sua estória, o que faz do filme uma colcha de retalhos de clichês. Isso não é ruim, mas torna-se ruim devido ao roteiro que é mal trabalhado. Reflexo disso é seu ritmo instável e pouco atraente. O início é legal, o miolo não engrena e só no clímax o longa fica realmente bom. O humor também está presente, mas também é inconstante e poucas gags funcionam.
Uma das falhas do script é a falta de um desenvolvimento melhor dos personagens que mereciam mais atenção, como Kato (o verdadeiro herói com incríveis habilidades) e o irônico vilão Chudnofsky, bem caracterizado por Christoph Waltz. Há, também, reviravoltas que não empolgam (a manipulação de notícias podia ser mais bem explorada) e dramas em torno do ‘pseudo-ego-justiceiro’ que não convencem.
Falando no protagonista Britt, sua arrogância e seus berros fazem dele uma figura antipática. Ainda que as boas cenas de ação sejam o filé da produção (sempre com o imponente carro preto), faltou mais maturidade ao longa, tanto por parte do roteiro como da direção de Michel Gondry (“Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”). E a Cameron Diaz? Pena que foi, basicamente, uma garota propaganda.
Cão de Briga
3.6 452 Assista AgoraA química entre ação e drama já deu certo no cinema, como em “O profissional” e “Nikita”, ambos de Luc Besson. “Cão de Briga”, escrito e produzido por Besson, é mais um filme que aposta na interação desses gêneros, mas não mantém o mesmo equilíbrio mostrado pelos exemplos citados.
A estória fala de um lutador, Danny (Jet Li), que é adotado desde criança pelo mafioso Bar (bem interpretado por Bob Hoskins) e criado como um animal para lutar em rinhas ilegais no submundo de Londres. Quando um acidente de carro deixa Bart desacordado, Danny foge de sua ‘guarda’ e conhece um pianista cego (Morgan Freeman) que o ensina sobre a vida por meio da música.
Como fita de ação, “Cão de briga” é um dos melhores de artes marciais e explora ao máximo as habilidades de Jet Li, que, diga-se de passagem, é seu melhor filme (Li cumpre com competência as propostas do longa). Há ótimas sequências de lutas coreografadas pelo mestre Yuen Wo Ping, câmeras lentas, boa fotografia, trilha sonora bacana de Massive Attack e a edição é rápida e eficiente.
Como um exemplar dramático, a produção também não faz feio, mas esbarra no roteiro de Luc Besson que, em certos momentos, interage mal os gêneros. A premissa é até aceitável como argumento de pancadaria e ficção, porém é exagerada e pouco convincente como conteúdo dramático. As condições do protagonista, como o comportamento de um ‘animal demente’, é difícil de engolir.
Por outro lado, o drama é bem conduzido por Louis Leterrier ao exibir um interessante exercício humano sobre autoconhecimento e conceito de família. Para isso, a figura sempre bem vinda de Morgan Freeman surge na trama para interagir de maneira sensível e cativante com o personagem principal e dar um fim moralista à estória. No fim das contas, “Cão de briga” é um bom entretenimento.
Capitão América: O Primeiro Vingador
3.5 3,1K Assista AgoraCom tantas produções adaptadas de histórias em quadrinhos, finalmente, surgiu o filme do Capitão América com o selo Marvel, uma das editoras mais populares do segmento. O emblemático capitão, criado por Joe Simon e Jack Kirby, em 1941, que também é uma refilmagem de produções anteriores (1944, 1979 e 1990), ganha as telonas de uma forma convencional, porém divertida ao seguir à risca a cartilha do ‘gênero’.
O franzino Steve Rogers (Chris Evans) aceita ser cobaia de uma experiência que visa criar o supersoldado norte-americano para combater os nazistas e, também, o Caveira Vermelha (Hugo Weaving). Antes de entrar em ação, o agora patola Rogers é chamado de Capitão América e é usado como garoto-propaganda do exército para valorizar o investimento do país na Segunda Guerra e, também, levantar a estima dos combatentes.
O roteiro recicla clichês dos ‘herois de HQs no cinema’ (o bom humor, a mocinha, o uso dos superpoderes e o ufanismo à la “Os Caçadores da Arca Perdida”) e trabalha bem o protagonista conforme suas raízes e sua ambientação (destaque na propaganda ‘pró guerra’). No papel principal, Chris Evans está bem como Capitão América e sua irreverência está longe da canastrice do Tocha Humana em “O Quarteto Fantástico”.
Enquanto a parte técnica se sobressai nos figurinos, na direção de arte e nos bons efeitos visuais e sonoros, “Capitão América” derrapa no romance forçado, nos curtos momentos de ação (poderia ter dado mais ênfase nas cenas de guerra) e por desenvolver pouco o vilão. Aqui, o coadjuvante Howard Stark, pai do Homem de Ferro, ganha mais espaço que o Caveira Vermelha, que merecia ter menos mistério sobre suas origens.
“Capitão América - O Primeiro Vingador” não decepciona e é a melhor adaptação sobre o heroi, mas, por ser ‘mais do mesmo’, não se destaca entre seus ‘irmãos’ “Hulk”, “Homem de Ferro” (o melhor deles) e “Thor”. A impressão é que o filme parece ter sido feito com certa pressa para que seja lançado antes do tão esperado “Os Vingadores”, que reúne esses famosos herois da Marvel.
Argo
3.9 2,5KA 85ª edição do Oscar foi uma hora escura ao indomável sonhador Spielberg e seu candidato Lincoln. Somente Argo desfrutou o lado bom da vida do evento ao faturar o premio principal junto com os oscarizados aventureiros Pi, digo Ang Lee, e Tarantino que deu um tiro certeiro na originalidade de Django.
A verdade é que o Oscar foi a festa dos adaptados e seu roteiro foi digno da manobra do filme de Ben Affleck: começou perdendo, a estratégia em busca para o triunfo foi montada, a melhor estória de resgate foi escolhida e a grande fuga para a vitória, que parecia impossível, aconteceu em seu clímax numa saída de mestre.
Alguns personagens se destacaram. Apesar de Denzel Washington não conseguir levantar voo, foi o presidente Daniel Day-Lewis o mais votado como ator. Outra que passou longe do lado ruim da vida foi Jeniffer Lawrence que faturou como atriz; o ‘coronel Hans Landa’ Christopher Waltz foi premiado novamente como coadjuvante e Anne Hathaway cantou mais alto que suas oponentes auxiliares. Quem cantou de Oscar mesmo foi Adele, que está longe de ser uma ‘Bond girl’!
Não faltou gente feia com figurinos miseráveis na cerimônia. Hitchcock e o hobbit foram mal maquiados e viram alguns pobres cantantes receberem ‘blushes dourados’ no rosto aos sons de canções que agradaram aos jurados. O presidente, que brilhou no design de sua produção, deu um fora na bem vestida Anna Karenina e a categoria de efeitos sonoros foi para a Suécia em um empate barulhento de dois conterrâneos que se aventuraram em operações diferentes: a Skyfall e a caçada ao Bin Laden.
E quem detonou na animação foi uma guerreira de cachos ruivos, que foi valente contra monstros, piratas malucos e mostrou o game over para um tal de Ralph. Nos efeitos, o hobbit 'prometheus' e a Branca de Neve acreditou, mas quem vingou foi Pi e sua aventura no pacifico, que também se saiu bem na foto e na trilha sonora.
A academia teve muito amor, não só com a Áustria, mas com todos os candidatos e espalhou estatuetas em sua cerimonia TEDiosa de quatro horas de muita cantoria, que o diga o apresentador de piadas instáveis Seth Macfarlane. Inocentes são aqueles que acham que o Oscar é justo, mas mestres são os que classificam essas sessões anuais como um produto miserável de Hollywood. Pelo menos Argo e Django, meus prediletos, ficaram livres desse contexto. Ou não?
Cubo
3.3 880 Assista AgoraNo final da década de 90, uma ficção científica de nome curioso foi lançada diretamente para as locadoras. Em meio a tantos filmes do gênero que eram, em sua maioria, realizados pelos norte-americanos, este longa canadense de produção independente chamou a minha atenção com sua proposta pouco convencional.
Misteriosamente, seis pessoas acordam dentro de um labirinto formado por salas cúbicas interconectadas. O problema é que algumas salas possuem armadilhas fatais e códigos a serem decifrados para que os confinados encontrem a saída do lugar. Como cada personagem possui uma habilidade, a união entre eles é primordial para que o grupo mantenha a esperança de escapar do cubo.
“Cubo” surpreende pelo tom enigmático de sua realidade: é um experimento ou uma prisão futurista? Além das emboscadas mortais, o filme se destaca, também, pela forma com que o inteligente roteiro desenvolve os passos dos protagonistas e seus conturbados relacionamentos interpessoais, o que resulta em um tenso e paranóico thriller psicológico.
É aí que a ágil direção de Vincenzo Natali e a boa direção de arte se sobressaem. Os eficientes efeitos visuais e os cenários curiosos criam interessantes ambientes claustrofóbicos que deixam o espectador apreensivo até o clímax.
O trunfo de “Cubo” é sua autenticidade e por isso tenha sido justamente cultuado em sua época. Com o sucesso, o longa gerou mais duas continuações infinitamente inferiores. Obrigatório para os fãs do gênero.
Crepúsculo
2.5 4,1K Assista Agora“Crepúsculo” é um longa voltado para adolescentes que mais parece um episódio de 122 minutos de “Malhação” de trama romântica boba ambientada numa guerra entre vampiros e lobisomens. De fato, o filme, baseado nos livros de Stephenie Meyer, se tornou um fenômeno de bilheteria (faturou mais de 392 milhões de dólares) e é um ‘trash-cult’ instantâneo. A produção tem seus méritos e é importante para as gerações emo, Justin Bieber, Luan Santana ou seja lá quais são as várias tribos do gênero da atualidade.
O filme tem todos os ingredientes 'high school'. Além das paixões de escola, aventuras e rebeldias, o pior deles é quando o Google entra em ação, ferramenta que a mocinha usa para descobrir que sua paixão é um ‘sanguessuga’.
É natural que o cinema produza, de tempos em tempos, produtos que retratam uma geração, mesmo que seja uma nova roupagem de histórias que marcaram épocas. Essa franquia não foge à regra e investe em um conto contemporâneo infanto-juvenil de fantasia. De tão 'fantástico', o roteiro reinventa detalhes clássicos de seus personagens vampirescos, como a ausência do pavor da luz do sol.
Muita gente vai achar estranho alguns furos de roteiro, porém são dúvidas que serão explicadas ao longo da saga com “Lua Nova” e “Eclipse”. Apesar de algumas situações piegas, “Crepúsculo” funciona para um público restrito. Fora desse eixo, é um filme que deve estar nos melhores lixões de Hollywood. Nesse contexto, prefira “Anjos da noite”.
Cowboys & Aliens
2.8 1,4K Assista AgoraA maioria dos filmes sobre a presença de alienígenas na terra aborda os seres de outros planetas em forma bizarra, dotados de alta tecnologia e com intenções dominatórias sobre a raça humana para obter algum recurso natural que temos. Analisando por esse aspecto, “Cowboys & Aliens” não traz novidades, mas utiliza esse argumento para promover uma interessante combinação de gêneros.
A história se passa em 1873, no Arizona, nos Estados Unidos. Inexplicavelmente e sem lembrar do seu passado, o cowboy Jake Lonergan acorda no deserto com um estranho artefato preso em seu punho e se dirige para a conflituosa cidade Absolution, onde não é bem vindo. Quando estranhas naves e criaturas capturam pessoas e atacam o vilarejo, Jake se torna a única esperança para combater esses curiosos seres.
A mistura de gêneros pode parecer bizarra, mas não é. Ao invés do ambiente urbano, como estamos acostumados a ver em outras produções sobre o tema, a narrativa sobre a invasão alienígena se passa no velho oeste no século 19. O trunfo da produção foi justamente trabalhar o faroeste em sua forma clássica e inserir a ficção sem muita extravagância visual.
O filme equilibra essas ‘composições’ sem apelar para o futurismo e executa bem a interação de estereótipos do ‘bang-bang’ com os ‘clichês alienógenos’. O resultado é uma química repleta de ação, bons efeitos visuais e com várias referências ou ‘lembranças cinematográficas’, como as luzes de pequenas naves em voos noturnos que parecem “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, a captura de humanos e ataques de lasers destruidores remetem a “Guerra dos Mundos” e abduções ao estilo “Fogo no céu”.
Se o roteiro, inspirado nas histórias em quadrinhos de Scott Mitchell Rosenberg, peca pela previsibilidade e no desenvolvimento de alguns personagens, como o de Harrison Ford e, sobretudo, da misteriosa mocinha interpretada por Olivia Wilde, a direção de Jon Favreau deixa a desejar pelo excesso de seriedade e pouco humor. Ainda sim, “Cowboys & Aliens” entretém com eficiência, mas não impressiona tanto.
Contra Todos
3.4 88“Cidade de Deus” fez escola no cinema brasileiro e contagiou um punhado de realizadores, que apostaram em uma estética semelhante para obter algum sucesso. Exemplo disso é “Contra Todos” (2004), filme de estreia do diretor Roberto Moreira e com os mesmos produtores do longa citado anteriormente, que joga o espectador em um universo repleto de crises, pobrezas, traições e mudança de destinos.
A trama gira em torno de um matador de aluguel Teodoro (Giulio Lopes), que atua em um bairro da periferia de São Paulo eliminando ‘gente indesejável na comunidade’. O assassinato do filho de um açougueiro amigo da família do tal ‘justiceiro’ origina uma crise entre seus parentes e faz com que todos entrem numa miscelânea de conflitos e mentiras.
O diretor investe em boa parte da ideia de “Cidade de Deus” na construção atmosférica de “Contra Todos”: radicalização, violência, ousadia, linguagem coloquial e improvisações. “Os atores aceitaram participar do filme sem conhecer o roteiro e durante os ensaios descobriram e vivenciaram a história. Queria algo que não fosse falso, nossa tradição sempre foi teatral e exagerada, seja nos bons como nos maus filmes”, afirma Moreira em entrevista coletiva no lançamento do filme.
Além disso, Moreira busca no gênero documentário algumas opções que deixam o seu longa atrativo, como a estética amadora e hiper-realista. “É um registro naturalista, cru, direto, limpo e verdadeiro. A opção foi tratar a ficção como se fosse um documentário”, disse o diretor. O registro em tom documental e a liberdade de improvisação fizeram com que o roteiro fosse alterado diversas vezes devido a aspectos inesperados da história. De acordo com Moreira, a cada nova reunião com o elenco, o script era modificado e cada ator teve total liberdade de criar as motivações de seu personagem e “nesse processo eles inventaram cinco roteiros diferentes”.
Outro aspecto técnico importante, além da filmagem em vídeo digital, é a utilização da câmera inquieta (na mão), pouca trilha sonora, gravação em locações e o uso da iluminação natural, o que faz do estilo de Moreira, aqui, ser uma referência ao cinema neo-realista inspirado no movimento Dogma 95.
Além de fugir do clichê sociológico e de amarrar bem as reviravoltas, o roteiro proporciona um clímax surpreendente e a edição abusa de um jogo cronológico em sua montagem, em que o espectador acompanha a trajetória e os pontos de vista diferentes de cada personagem no desfecho melancólico.
No fim das contas, a homenagem de Moreira a Mário de Andrade com a frase “cada um por si e Deus contra todos” retrata bem a forte temática levantada. Além disso, o filme critica à sociedade moderna que não respeita o senso social e transforma a realidade numa atmosfera de angústia e emoção tendo como principal consequência à hipocrisia catastrófica.
O Casamento de Romeu e Julieta
2.7 250 Assista AgoraAs vezes o cinema brasileiro tropeça em inserir a ‘estética televisiva’ em suas produções, o que pode condenar um filme ao fracasso. Apesar da aparência ‘Global’ de “O Casamento de Romeu e Julieta”, de Bruno Barreto, o longa até não faz feio ao seguir a cartilha da ‘sessão da tarde’: é bobinho, previsível, tem lá suas confusões e cenas divertidas.
A palmeirense Julieta (Luana Piovani) se apaixona por Romeu (Marco Ricca), um oftalmologista e corinthiano ‘roxo’. Em nome do amor, Romeu aceita se passar por palmeirense para agradar o sogro Alfredo Baragatti (Luís Gustavo), que é um torcedor fanático do Palmeiras, o que gera desconfiança e confusão em sua família composta por corinthianos.
O roteiro trivial é baseado em conto de Mário Prata e inspirado na famosa peça de William Shakespeare sobre duas famílias que não querem ver um casamento entre seus parentes. Para ‘abrasileirar’ a história, o futebol e seu fanatismo passam a ser as referências que opõem as duas famílias e servem de ‘cupido’ para o romance central.
A trama utiliza Romeu como artifício para criar algumas situações engraçadinhas, principalmente quando ele tem de fingir ser torcedor do Palmeiras para o sogro e se esconder da avó corinthiana Nenzica (Berta Zemmel) que não quer ver o neto casado com uma palmeirense. No final das contas ‘o amor é lindo’ e a lição de moral sobre fanatismo excessivo vem à tona.
A sensação é que a idéia sairia melhor como um seriado de TV e não como filme, já que, esteticamente, decepciona (as representações das torcidas e as coreografias de futebol são péssimas). O destaque da produção é a atuação caricaturada de Luís Gustavo que está impagável na pele um homem que ‘devota’ sua vida às cores ‘palestrinas’.
Carros 2
3.1 857 Assista Agora“Carros” (2006), ao lado de “Vida de Inseto” (1998), é um dos filmes menos expressivos da Pixar, mas, ainda assim, é um adorável entretenimento. Com o sucesso de bilheteria, rendendo mais de 460 milhões de dólares, a animação sobre automóveis falantes se destacou por seu contexto moral e por sua inventividade antropomorfizada. Além disso, o longa ainda faturou cifrões em outros segmentos, como em inúmeros produtos licenciados, o que aguçaram os produtores da Pixar em realizar “Carros 2”.
O superastro Relâmpago McQueen é desafiado por um veículo italiano no intuito de provar quem é o carro mais veloz do planeta. Para isso, ambos são convidados para disputarem um Grand Prix Mundial e, em meio ao evento, o guincho Mate acaba se envolvendo em uma espionagem internacional e descobre uma conspiração corporativista que pode atrapalhar as intenções dos participantes e realizadores da tal corrida.
Ao contrário do original, que prezou pela lição à criançada sobre amizade e egocentrismo, “Carros 2” recicla a fórmula moral, mas em uma voltagem menor. Ainda que seja menos dramático e mais clichê, o grande barato desta continuação é o estilo paródia em sua trama que investe em atmosfera de máfia italiana e ‘aventura de espionagem’ a lá 007 tendo como protagonista o caipira e engraçadíssimo caminhão guincho, Mate, que foi coadjuvante no primeiro filme.
Apesar do ritmo mais acelerado, mas sempre divertido, "Carros 2" tem mais ação, novos personagens veiculares e o humor satírico (e de qualidade) que contagia o espectador pelo visual que contextualiza o nosso mundo na forma de um universo automotivo, como locais na Europa adaptados aos carros e até transformas figuras emblemáticas em veículos, como a rainha da Inglaterra e o Papa. O gráfico multicolorido com texturas metálicas realistas é outro atrativo para quem for assistir ao filme em alta definição.
É notável que essa continuação foi realizada mais com ímpeto comercial, e, por conta disso, o roteiro acaba sendo prejudicado em algumas situações por excesso de furos. Entretanto, as derrapadas são pouco perceptíveis e “Carros 2” não deixa de ser um perfeito passatempo, tanto paras as crianças que acompanharão uma nova aventura dos personagens de sucesso como para os adultos que vão se divertir com trocadilhos da antropomorfização.
Contra o Tempo
3.8 2,0K Assista AgoraFilmes que abordam viagens temporais, geralmente, são atrativos e curiosos, já que ficamos na expectativa de vermos o heroi tentar contornar situações voltando ao passado. “Contra o Tempo” recicla essa narrativa e diverte o espectador por seus clichês bem aplicados à trama.
O capitão Colter Stevens, interpretado por Jake Gyllenhaal, faz parte de um programa experimental do governo norte-americano que o envia ao passado para tentar evitar um atentado terrorista em um trem de passageiros. A cada missão fracassada, ele ‘viaja pelo tempo’, sempre oito minutos antes de uma grande explosão, até conseguir uma maneira de identificar o criminoso e impedir a tragédia.
A história brinca com o passado e o relógio como em “Feitiço do Tempo” e “Efeito Borboleta”, combate o terrorismo ao estilo “Déjà Vu” e tem pitatas de manipulação de realidade que lembra “Matrix”. A partir das idéias dessas referências da ficção científica, o roteiro insere clichês bem arranjados no enredo e prende a atenção do espectador com ação em ‘tempo real’ sem cair na redundância.
“Contra o Tempo” também se destaca no mistério, principalmente na localização real em que o heroi se encontra e nas investigações de sua missão, o que proporciona uma atmosfera tensa, intrigante e quase paranóica bem conduzida pelo filho de David Bowie, Duncan Jones (“Lunar”).
Pena que o filme se ‘descarrila’ logo após seu terceiro ato, o que deixará os espectadores com pulgas atrás da orelha com o clímax confuso e convencional. No geral, “Contra o Tempo” não decepciona e cumpre o que promete: muita correria e diversão.
Código de Conduta
4.0 1,8K Assista AgoraFilmes que apreciam ou retratam o ‘sistema social’ como tema sempre me atraíram. “Código de conduta” é mais uma produção que cutuca esse ‘universo manipulador de normas e regras’ ao criticar as mancadas do sistema jurídico e seus ‘promotores-estrelas’.
A história gira em torno de um engenheiro que testemunha o assassinato de sua esposa e filha. Quando ele vê os assassinos de sua família serem soltos por causa de uma ‘incoerência judicial’, ele planeja se vingar de todos, inclusive daqueles que estão dentro do ‘sistema’.
Apesar dos furos de roteiro e da trama trivial (vingança e justiça com as próprias mãos na forma de terrorismo), “Código de conduta” tem uma proposta nitidamente comercial que deve ser compreendida. De fato, poderia ter explorado melhor os bastidores da temática como querem os mais exigentes, porém isso não desmerece a ‘moral da história’ e não deixa o longa menos interessante.
As principais atrações do filme são as ações contra o sistema promovidas pelo protagonista que são executadas de forma cruel, engenhosa e pirotécnica. Essas cenas são bem conduzidas pelo diretor F. Gary Gray que imprime ritmo empolgante, boas doses de suspense e realismo na violência, como na impactante cena de abertura.
O bom clímax, que soa de maneira poética na transição do ‘bem para o mal’ do personagem principal, retrata muito bem quem limita e comanda certas situações. E isso traz uma moral interessantíssima: não adianta bater, o soco do 'sistema' sempre vai ser mais forte. Para ser mais direto, siga o ‘código’ ou você poderá se dar mal!
Assalto ao Banco Central
3.0 1,3KQuando o acontecimento faz história isso se torna uma grande pauta para o cinema romancear e registrar o ocorrido. E não demorou muito para que o roubo ao Banco Central de Fortaleza, em 2005, em que ladrões profissionais levaram 164,7 milhões de reais, se tornasse filme.
O fato foi emblemático e surpreendeu a todos não só pela maior quantia roubada no Brasil, mas pela ousadia dos bandidos que realizaram uma ação cinematográfica, de escavar um túnel até o cofre do banco. Entretanto, o resultado do filme, dirigido pelo estreante Marcos Paulo, infelizmente, não teve a mesma grandiosidade, ainda que tenha um elenco repleto de bons nomes.
A única coisa que atrai o espectador é a curiosidade de 'como foi que tudo aconteceu'. No entanto, não espere algo charmoso como “Onze homens e um segredo” e nem a excentricidade de “Os matadores de velhinhas” (sua história parece ter inspirado os verdadeiros ladrões), mas veja no intuito de encontrar uma comédia com cara de seriado da Globo e sem realismo nas ações.
É perceptível as carências da produção, como a direção sem inspiração, a trilha sonora novelesca e o fraco roteiro repleto de frases de efeito que investe numa estrutura não linear semelhante ao de “O Plano Perfeito”. Além disso, a insegura edição com muitas de idas e vindas no tempo, que dá a impressão de forçar complexidade à trama, prejudica o ritmo e a dinâmica da ação dos bandidos, o que favorece o tom cômico ao invés do suspense policial.
Mesmo sendo clichê e por ter uma premissa trivial e estereótipos do gênero (grande assalto, corrupção policial, investigações e triângulo amoroso), a produção tinha tudo para ser marcante e não é. Talvez a falta de recurso possa ter sido um dos problemas para que o longa fosse mais bem desenvolvido, conduzido e estruturado com conspirações, personagens, narrativa e reviravoltas mais interessantes.
Crítica publicada no blog Cinetrix:
Aposta Radical
1.9 23Quando vi anunciando o lançamento de “Aposta Radical”, o filme prometia algo interessante. O cartaz bacana e, principalmente, o trailer que trazia cenas de parkour (arte de deslocar do corpo o mais depressa possível) me deixaram antenado.
Depois de ter lido a fraca sinopse (garoto que procura o agressor de seu pai que está em coma e enfrenta desafios de ‘gladiadores de rua’ no submundo de sua cidade) e visto a primeira meia hora de projeção, o meu ânimo foi diminuindo para com esta produção sueca. E não deu outra, o longa é meia boca e mal produzido.
“Aposta Radical” parece um filme amador. A película tem ritmo ruim, argumentos bobos e inconvincentes que promovem a ação, as cenas de parkour são convencionais e a edição é burocrática e de aparência televisiva. O único aspecto favorável são as lutas que, em sua maioria, são bem coreografadas.
Além disso, o roteiro não consegue amarrar as situações e as reviravoltas são mal arranjadas. É nítida que a direção não consegue equilibrar os clichês do gênero e se perde no foco das subtramas e no desenvolvimento dos personagens.
Comparando com outra produção semelhante, que também usufrui do parkour para criar cenas de ação, “Aposta Radical” é infinitamente inferior ao francês “13º Distrito”. O que sobrou no filme de língua francesa faltou nesta película sueca, que levou um tombo feio quando se trata de ousadia e criatividade.
Crítica publicada no blog Cinetrix:
Apollo 18: A Missão Proibida
2.2 803 Assista AgoraUma ‘farsa’ tem sido bastante utilizada no cinema para impressionar o público ao exibir algo como se fosse real. E há quem acredite, tanto no marketing como no momento da exibição, nessas produções que dizem ter editado ‘gravações perdidas de situações verdadeiras’. “Apollo 18 – A missão proibida” é mais um longa que aproveita esse argumento para assustar o espectador, mas é pouco convincente em relação a sua proposta.
O filme começa em tom de ‘teoria da conspiração’ e faz o espectador acreditar que houve a tal missão Apollo 18 à Lua nos anos 70. As imagens, com autenticidade negada pela NASA, são das câmeras acopladas nos astronautas e nas cápsulas lunares que captam as situações e induzem o espectador a acreditar na tal missão que culmina em suspense alienígena.
A estrutura narrativa de “Apollo 18” não é novidade. O estilo documental sem uso de trilha sonora que simula histórias reais já foi trabalhado em “A Bruxa de Blair”, “Cloverfield”, “[REC]” e “Atividade Paranormal”. A utilização dessa técnica pode ser interessante pelo realismo dos fatos propostos, da interação do filme para com o espectador e da atmosfera do suspense, mas, também, pode ser uma experiência cansativa mesmo que tenha um enredo atraente.
Se a proposta é simular algo real, o filme nos força a comparar os fatos exibidos com a lógica na realidade. É aí que a tal farsa se revela na forma de furos no roteiro: fatos históricos obscuros e desconhecidos; elementos alienígenas lunares; a falta de uma explicação melhor de como conseguiram resgatar as tais filmagens para serem apresentadas no cinema e os movimentos e posições das câmeras que, em certos momentos, parecem não serem controladas pelos astronautas.
Ainda que tenha um clímax longe do 'politicamente correto' e alguns bons sustos, o estilo narrativo pode incomodar pela precariedade das imagens trêmulas (propositais para parecerem reais) e pelo ritmo cansativo que demora a desenvolver a trama até o ponto que interessa: o suspense. Se o filme não tendesse tanto para o estilo documental para disfarçar a falta de orçamento, talvez “Apollo 18” tenha tido melhor aceitação, porém se o espectador conseguiu sentir algum tipo de emoção, então a estratégia de seus realizadores deu certo!
Crítica publicada no blog Cinetrix: