Fazendo uso de um visual surrealista, tradicional em suas produções, Terry Gillian nos apresenta uma bem elaborada e inteligente crítica não somente aos estados totalitários do século XX, mas também ao exagerado consumismo presente na sociedade. Apesar da ambientação fantasiosa, o filme atinge em cheio os regimes autoritários que restringem as liberdades do cidadão e também mira os hábitos consumistas praticados em excesso pelas pessoas, sendo ambos os elementos reais e ainda presentes no mundo, tornando "Brazil" uma obra extremamente atual e pertinente, ou, como alguns já descreveram, uma versão moderna e mais cômica - porém não menos profunda- de "1984" - não o filme que havia sido lançado um ano antes, mas o livro.
Tendo inspirado, com o seus aspectos visuais, diversos filmes que vieram depois, como o famoso Batman de Tim Burton, o principal aspecto desta película é, na verdade, a crítica política inserida por baixo de todo o ambiente surreal que nos é apresentado. Dito isso, o mais fascinante é que, diferente de outras distopias inventadas para ficção, como o próprio "1984" que inspirou esta obra, não existe a tradicional figura do vilão no mundo de "Brazil". Em momento algum, é mostrado o núcleo central do governo ou um ditador, assim como também não há um nêmesis pessoal para o personagem principal Sam. Todas as pessoas cometendo os mais monstruosos atos de autoritarismo ou violência são caracterizadas como funcionários públicos normais, que apenas estão cumprindo a sua função em mais um dia de trabalho.
A história, portanto, não nos apresenta nenhum indivíduo em particular para colocarmos a culpa ou a responsabilidade pelos acontecimentos presenciados, o que torna esse sistema totalitário ainda mais difícil de consertar, sobretudo considerando que até mesmo as pessoas que trabalham nos departamentos e agências governamentais aparentam estar presas dentro desse organismo estatal inchado. A culpa recai, portanto, na sociedade de uma maneira geral, que, com a sua falta de empatia e com hábitos consumistas exagerados, negligencia a liberdade, com cada cidadão apenas pensando em si próprio e aceitando a realidade autoritária presente. Ninguém está realmente satisfeito com a vida que leva e cada indivíduo tem a sua forma de escape, seja por programas de televisão, por cirurgias plásticas ou pelos sonhos, mas todos aceitam pacificamente a distopia em que estão inseridos e não fazem nada para alterá-la.
E um final que é triste e bonito ao mesmo tempo. Triste, obviamente, por que Sam termina em uma prisão do governo, onde provavelmente irá passar o resto da vida e sem experimentar a real sensação da liberdade. No entanto, por outro lado, também é bonito, pois ele consegue, com o poder da imaginação, criar em sua mente uma vida paralela, que irá ser, para ele, a sua realidade. Sendo assim, mesmo preso, ele consegue experimentar uma liberdade, que, mesmo sendo apenas imaginária, é a que ele irá ter como real dali pra frente. A sua vida real será de tortura e aprisionamento, enquanto sua vida imaginária será feliz, mas apenas a última ele irá efetivamente reconhecer. Isso também mostra como a dilaceração da liberdade humana quando não mata o homem literalmente, o corrói por dentro e dilacera sua integridade mental, a tal ponto do indivíduo perder completamente a sanidade.
Diferente do que alguns pensam, o título do filme não é uma referência ao regime militar presente no Brasil na época de seu lançamento, mas, como já admitiu o próprio Gillian certa vez, apenas uma homenagem à música "Aquarela do Brasil", que escutava quando jovem e o fazia pensar sobre um mundo exótico e fantasioso para o qual poderia fugir da sua realidade. Da mesma maneira, no filme, o personagem Sam procura um escape da realidade com os seus sonhos, que acabam sendo a única forma encontrada por ele para fugir desse mundo distópico sem qualquer tipo de solução ou salvação. No entanto, apesar de não ser uma alusão direta ao nosso país, não dá para negar que o Estado inchado e burocrático mostrado na história poderia ser, perfeitamente, uma representação do governo brasileiro em todas as suas esferas, tanto no passado quanto no presente.
É um filme com muitas camadas e detalhes e feito para se assistir mais de uma vez, com um excelente visual e uma inteligente crítica política e social. Super recomendado.
Uma história verdadeira e emocionante de um homem que sofreu de maneira indescritível durante boa parte de sua vida, por conta de suas deformidades físicas e, sobretudo, devido ao tratamento deplorável que recebia da maioria das pessoas. O preconceito, a rejeição e o desprezo despejados a ele devido a sua aparência nos fazem observar que a verdadeira aberração não era aquele que estava a ser exibido em circos como se fosse uma, que era um pessoa inteligente, educada e com um bom coração, mas os indivíduos que o julgavam e o exploravam, que, por sua vez, comportavam-se como verdadeiros monstros.
É impossível para este filme ou qualquer outra produção, seja no cinema ou no teatro, mostrar de maneira fidedigna e exata o quanto que John Merrick sofreu, mas "O Homem Elefante" consegue cumprir bem o papel de nos passar os sentimentos de tristeza e indignação também sentidos por John, obviamente não na mesma proporção, mas suficientes para nos sensibilizarmos com a trajetória de sua incomum vida, sendo este o grande trunfo do filme, tornando-o impactante, emocionante e memorável.
Todo o elenco está ótimo, mas, naturalmente, o grande destaque vai para John Hurt, que, mesmo com toda a maquiagem, consegue exprimir, de maneira impecável, tanto a dor sofrida por seu personagem quanto a doçura de seu coração, por meio da voz e dos olhos, que, convenhamos, basicamente é o que sobra ao ator para utilizar como forma de expressão e ele consegue muito bem cumprir esse difícil papel.
Um filme que precisamos "ter estômago" para digerir, mas que, no final das contas, encerra-se de uma forma bonita e com uma bela lição: nem todo o sofrimento e tristeza que afligiram John Merrick foram o suficiente para torná-lo uma má pessoa, com ele mantendo sua bondade e dignidade mesmo diante de tudo e conseguindo, nos últimos anos de sua vida, ser finalmente tratado de maneira decente e como um ser humano.
Um filme belíssimo e tocante, que nos faz refletir sobre família, relações afetivas e a vida de uma maneira geral, além de nos emocionar com a história de Alvin Straight, brilhantemente interpretado por Richard Farnsworth, e toda a sua trajetória em busca de se reencontrar com o irmão.
Pode parecer lento para alguns em determinados momentos, mas a intenção do filme é exatamente essa, fazendo o espectador aproveitar cada instante com o seu devido tempo, sem apressar as coisas e sentindo a experiência de uma forma única, como se também estivéssemos fazendo parte dessa viagem. Aliás, caso Alvin quisesse chegar rápido ao seu destino, ele poderia ter ido de ônibus ou ido de carona com alguém conhecido, mas ele opta, por vontade própria, em utilizar um cortador de grama como seu "veículo", pois esse é o caminho que julga ser o correto para ele.
Isso, inclusive, é brevemente abordado pelo personagem na seguinte fala: "There's no that one knows your life better than a brother that's near your age. He knows who you are and what you are better than anyone on earth. My brother and I said some unforgivable things the last time we met, but, I'm trying to put that behind me... and this trip is a hard swallow of my pride. I just hope I'm not too late... a brother's a brother." Sendo assim, essa aventura de Alvin é a maneira que ele encontra de engolir todo o seu orgulho, esquecer as desavenças do passado e fazer as pazes com o irmão, como uma espécie de "teste" para mostrar o que ele estaria disposto a fazer para finalmente reencontrá-lo e uma prova, ao seu irmão, do amor que Alvin nutre por ele.
Além de toda a jornada pessoal do protagonista, o filme também aborda as pessoas que Alvin encontra pelo caminho, ajudando-o e também sendo, de uma forma ou de outra, ajudadas por ele. E todos esses elementos acompanhados por uma grande direção de Lynch, uma agradável trilha sonora e uma bela fotografia.
E, claro, não é possível falar de "Uma História Real" sem separar o devido espaço para mencionar a gigantesca atuação de Farnsworth, em uma performance que lhe rendeu uma indicação ao Oscar e o tornou o mais velho a ser nomeado ao prêmio da Academia nessa categoria. Importante lembrar que o ator estava com câncer na época e, durante as filmagens, a doença já estava se espalhando pelos seus ossos, sendo que a paralisia de suas pernas nas cenas finais era real. Mesmo com todas as dificuldades, continuou filmando até o fim e entregou a grande atuação da carreira justamente em seu último trabalho. Uma performance sutil e ao mesmo tempo emocionante, mas, sobretudo, uma história de superação de um ator em seus últimos meses de vida (ele viria a cometer suicídio em 2000, já em um estado irreversível).
Também conhecido como o primeiro grande trabalho de Audrey Hepburn - no papel que não somente a levou ao seu único Oscar, mas também ao estrelato, "A Princesa e o Plebeu" é um filme leve e divertido de se assistir, misturando, na medida certa, elementos de romance, comédia e drama. O roteiro é simples, mas a bela direção e a excelente performance do elenco engrandecem o filme e cativam o espectador.
O curioso é que, embora Anna seja a princesa da história, quem realmente vive um conto de fadas durante o filme é ela, conseguindo ter um escape, mesmo que breve, de sua ocupada e restrita rotina e tendo experiências jamais vividas por ela antes. O jornalista Joe, por outro lado, no início buscava apenas se aproveitar da presença da princesa para conseguir uma boa reportagem e faturar dinheiro, mas aos poucos se apaixona pela doçura e beleza de Anna, a tal ponto de, no final, simplesmente desistir de escrever o seu texto jornalístico, talvez visando não constranger a moça perante sua família real. Por fim, o desfecho do filme é triste, porém realista.
Pessoalmente, não considerei uma grande obra prima, mas é uma história simples e agradável, que vale a pena acompanhar, sobretudo, pela beleza tanto da paisagem de Roma quanto de Audrey Hepburn, que aqui está irretocável.
Um ótimo filme que não somente explora a temática dos dramas investigativos e de tribunais, mas também nos faz refletir sobre diversas questões envolvendo honra e ética no meio militar. Até que ponto é correto obedecer determinadas ordens? Ou até que ponto um militar deve agir supostamente em nome de algo maior, como a pátria ou a defesa da liberdade? Devemos obedecer a hierarquia ou a nossa consciência? No início, parece mais um filme de tribunal dentre vários, no entanto vai lentamente crescendo e atinge o ápice na reta final em uma grande cena, que também conta com algumas falas memoráveis, terminando bem maior do que começou.
E "A Few Good Men" cumpre bem o seu papel não apenas devido a um roteiro bem amarrado e uma grande direção de Rob Reiner, mas também pela força do seu elenco, com grandes atuações de Cruise, Moore e, sobretudo, Nicholson. Essa combinação de fatores nos faz imergir na investigação, com as surpresas e idas e vindas do processo, e prende a atenção do espectador.
Logo, se você gosta de produções do gênero, irá adorar, e, se não é o maior fã dessa temática, irá começar a gostar a partir deste filme. Recomendado.
Comédia non sense de ótima qualidade, boas piadas e diversão garantida durante essa bizarra aventura. Confesso que gostei mais deste do que o trabalho do Monty Python em "Life of Brian", que também foi bom, com "Em Busca do Cálice Sagrado" cumprindo bem o seu papel e garantindo muitas risadas. Além disso, também destaco a trilha sonora "medieval", que é muito boa e tem músicas viciantes, como a do Sir Robin!
Para quem gosta desse tipo de humor e aceita se deixar levar pelas maluquices do roteiro, é um prato cheio. Não tentem raciocinar muito sobre o que está acontecendo e apenas curtam.
Um ótimo filme de terror psicológico, que prende a atenção do espectador com uma história aparentemente simples, mas cujo suspense é muito bem construído. A tensão é provocada não somente com as cenas mais brutais e perturbadoras de tortura, mas devido, sobretudo, à constante sensação de aprisionamento e medo vivenciado pelo personagem Paul Sheldon, que também se transmite ao público.
Imprescindível também mencionar a excelente atuação de todo o elenco, em especial Kathy Bates, que está assustadora na pele da enfermeira Annie Wilkes, alternando momentos excessivamente gentis com atitudes verdadeiramente assustadoras e cruéis. James Caan também merece ser aplaudido por sua performance realista de um escritor vivenciando um aterrorizante pesadelo.
No final das contas, "Misery" cumpre bem o seu papel e vale à pena assistir para quem curte filmes do gênero.
Belíssimo nos aspectos técnicos e com um tema interessante, "Nell" pode parecer estranho no começo, mas, aos poucos, vamos nos acostumando e enxergando uma história tocante. Lembrando filmes como "O Quarto de Jack" e a antiga história do "Menino selvagem de Aveyron", presenciamos as dificuldades de uma pessoa criada completamente fora da civilização em interagir com desconhecidos e de se integrar com o resto do mundo.
No entanto, se o tema é fascinante, a impressão que fica ao espectador é que o potencial da história não é muito bem utilizado, com o filme se tornando bastante previsível em muitos momentos e caminhando uma trilha mais melodramática do que propriamente explorando as questões éticas ou filosóficas envolvidas. Outro ponto que me incomodou foi a pouca presença da personagem principal Nell, que em diversas oportunidades mais parece uma coadjuvante em uma narrativa que acaba por girar excessivamente em torno dos doutores Lovell e Paula.
Esses problemas no roteiro são parcialmente compensados, por outro lado, com uma excelente atuação de Jodie Foster, que, em uma papel extremamente difícil e desafiador, consegue "roubar a cena" mesmo em situações nas quais a história não foca muito em sua personagem. A atriz, em uma performance que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, consegue expressar bem a complexidade de Nell, uma jovem mulher doce e com um coração puro, mas que se encontra com medo de se conectar com o resto do mundo.
De uma maneira geral, é um filme razoável, destacando-se pelos aspectos técnicos, pelo tema e pela grande atuação de Foster, mas que peca no roteiro e na maneira como a história é conduzida.
Após assistir novamente esta obra prima, deixo aqui mais um comentário, agora destinado para aquelas pessoas que criticam o filme por não terem compreendido o final ou por considerá-lo confuso. Em primeiro lugar, deixo bem claro que é perfeitamente normal ter essa sensação depois de ver pela primeira vez e não há qualquer absurdo nessa situação, e isso tem um motivo bem simples: este filme não foi feito para ser compreendido totalmente.
O principal propósito de "2001", em especial o seu final, é o de evocar imagens, sons, associações e sugestões em nossa mente, produzindo uma resposta, da nossa parte, tanto mental quanto emocional. O filme busca abrir nossa mente, não fechá-la entregando respostas prontas e definitivas, ao mesmo tempo que procura inspirar questionamentos, mas não resolvê-los. Em diversas entrevistas, o próprio Kubrick afirmou que o final não era para ser claro de uma maneira convencional, tendo inclusive dito uma vez: "o seu poder se encontra na resposta emocional e subconsciente da plateia, o que torna o seu efeito mais prolongado, sendo que ser específico acerca do seu significado iria tirar esse prazer dos espectadores e negar a eles as suas próprias reações e interpretações". Sendo assim, qualquer pessoa que terminou de assistir ao filme e já tenha uma resposta simples e clara acerca do que acabou de ver está, na verdade, mais distante do que Kubrick desejava do que aquele que ficou sem entender nada.
Uma das interpretações, por exemplo, é a de que o filme gira em torno da figura dos deuses. E aqui não temos deuses semelhantes aos das religiões tradicionais, mas deuses distantes, impenetráveis e cujas intenções não conseguiríamos sequer chegar perto de compreender. Eles deixam os monólitos em contato com os humanos em momentos específicos, mas em instante algum da história somos apresentados a eles ou às suas reais intenções. Inclusive, acredito que esse também seja um ponto positivo do filme, pois se Kubrick decidisse mostrar aliens e as suas faces verdadeiras, talvez perdesse bastante do efeito que é causado com a total ausência deles nesta obra, isto é, o fato desses deuses serem completamente desconhecidos provoca uma sensação forte de mistério e até de medo.
E dentro dessa teoria, existe a ideia de que o bebê que aparece no final é, na verdade, Bowman tendo alcançado um novo estágio da evolução humana, mais poderoso e iluminado e tendo a missão de levar esse avanço ao resto da civilização. Alguns críticos, inclusive, apontam a presença de pinturas e outros objetos renascentistas no quarto do astronauta em sua fase mais velha, sendo que a Renascença foi uma época conhecida como uma época de "iluminação". Sendo assim, o filme, que se inicia com a raça humana em seus primórdios, iria se encerrar com a mesma alcançando o seu estágio mais avançado. Outro ponto também que vale a pena mencionar é que a música tema é uma obra composta por Richard Strauss, baseada em um texto de Nietzsche que falava exatamente sobre a noção do "super homem".
No entanto, essa é a apenas um teoria dentre várias. Não há uma resposta concreta e definitiva e o próprio Kubrick não desejava que houvesse, sendo um filme mais para ser sentido do que para ser compreendido, mais para provocar reações do que entregar respostas. E esse é apenas um dos motivos que fazem "2001" ser uma verdadeira obra prima.
Este filme pode ser resumido da seguinte maneira: não é ruim, mas também não é lá grande coisa e nem se esforça muito para isso. Embora a história seja interessante, tendo se inspirado no escândalo de prostituição em Odessa, Texas, em 2004, a forma como é explorada é bem superficial.
O foco maior de "A Lista de Clientes" não é na profissão exercida por Sam, mas em sua vida pessoal. Ela, bonita e já tendo sido miss, tinha grandes sonhos quando jovem, mas agora está praticamente falida e, com três filhos para cuidar e um marido que teve a carreira arruinada por uma lesão, procura utilizar sua beleza para ganhar dinheiro, mesmo que seja de uma maneira indecente e ilegal. No início, ela tinha nojo do que fazia, apenas prosseguindo por conta das dificuldades financeiras e devido à família. Com o passar do tempo, no entanto, ela continuava trabalhando no "spa" mais por conta da atenção recebida do que qualquer outra coisa, estando rodeada de homens ricos e poderosos que, por baixo das convenções sociais e aparências, traíam suas respectivas esposas com Sam, que se sentia especial. Ela, por outro lado, também vivia uma vida dupla, sendo uma mãe/esposa atenciosa em casa e uma prostituta no trabalho.
Esses aspectos, porém, não são explorados muito bem ao longo da história, com o filme preferindo valorizar algumas cenas desnecessárias e outras caricatas, como a cena final envolvendo as esposas dos clientes. O resto do elenco também não me agradou muito e teve atuações discretas e sem grande emoção.
Jennifer Love Hewitt está aqui naquele que é, provavelmente, o seu melhor papel e que depois lhe rendeu uma série de duas temporadas com um enredo semelhante, mas é difícil encontrar outra coisa no filme, além da performance da atriz, que mereça maiores elogios. Tinha potencial, mas, no final das contas, é apenas um filme mediano com alguns bons momentos.
Filme muito bom e o tempo passou voando ao assistir. Combinando ótimos personagens, um roteiro criativo e uma boa mistura entre comédia e drama, "Gato de Botas: O Último Pedido" talvez já seja um dos melhores filmes do "universo Shrek", garantindo diversão pura para jovens e adultos e ainda deixando uma belíssima mensagem sobre valorizar a vida.
É interessante observar como cada um dos antagonistas tem características próprias e o seu devido papel na história. "Goldi", ou "Cachinhos Dourados", uma órfã criada desde pequeno por ursos, é uma criminosa, mas também tem um lado bom, apenas desejando ter uma família de verdade. "Jack Horner", por sua vez, é um completo psicopata e a mais pura forma do mal, pois nasceu em um berço de ouro e não tem qualquer acontecimento em sua vida que explicasse suas atitudes, mas mesmo assim optou por trilhar o caminho da maldade. Por fim, temos o misterioso e assustador "Lobo" ou "A Morte", que, além de um vilão, é uma força da natureza, sendo inevitável para todos e estando ali para cumprir sua missão de tirar a vida de quem não a valoriza e, embora apareça pouco, possui presença marcante em cada cena e é o grande motivo da aventura protagonizada pelo Gato de Botas. No final, Goldi percebe que já possui uma família de verdade, o Lobo não mais anseia tirar a vida do Gato naquele momento, pois vê que este, diferente de antes, já passou a valorizar a sua própria vida, enquanto Jack, o verdadeiro vilão, termina da pior maneira possível, mas tendo o que merece.
Dentre os protagonistas, Kitty busca alguém a quem possa confiar, o Gato busca prolongar suas vidas para manter viva a sua lenda e o carismático e amável Perrito acaba funcionando não somente como um alívio cômico, mas exatamente como um "cão de terapia", auxiliando a suavizar as personalidades fortes dos dois gatos e a ensinar a valorizar mais os laços afetivos e a vida de uma maneira geral, sendo aquele personagem com a história de origem mais trágica, mas curiosamente também sendo aquele que enxerga a vida de maneira mais positiva. Ao término da história, Kitty obtém o seu desejo, o Gato não vê mais necessidade de ter mais vidas e procura valorizar aquela que já tem e o Perrito não somente ajuda os outros como também consegue finalmente ter amigos.
Vale a pena também mencionar a maneira como alternaram os estilos de animação em algumas cenas e, claro, a dublagem do Wagner Moura, que foi bem em seu papel e contribui bastante para o ar misterioso e assustador de seu personagem.
Então, quem quiser um filme para assistir com a família e se divertir, este aqui é perfeito para acompanhar e sair com um sorriso no rosto ao final. Super recomendado.
Com brilhante direção de Scorsese, excelente fotografia e grandes atuações de todo o elenco, "Touro Indomável" é uma das melhores obras do diretor e uma verdadeira imersão não somente na conturbada vida do pugilista Jake LaMotta, mas no mundo do boxe dos anos 40.
O principal aspecto do filme é mostrar como características que levaram LaMotta à glória e sucesso nos ringues, como sua violência e comportamento explosivo, também contribuíram para a sua autodestruição na vida pessoal, afastando-o da esposa e do irmão e o deixando sozinho e praticamente sem amigos. Inclusive, como comentaram anteriormente aqui, não é um filme sobre boxe e nem sobre um pugilista, mas sim sobre o homem LaMotta, com todos os seus defeitos e atitudes deploráveis, com o boxe servindo apenas como um pano de fundo.
Embora a aclamação geral seja para a atuação de DeNiro, que realmente está espetacular e teve de passar por uma transformação física para interpretar o ex-lutador no período de aposentadoria, eu também gostaria de destacar Pesci, que também está ótimo. O seu personagem, Joey, alterna entre o amor pelo irmão e o temor pela personalidade explosiva de Jake, e esse conflito interno é bem interpretado pelo ator.
Veredito final: embora muitos pensem assim, não considero este como sendo o grande trabalho de Scorsese, mas é sim um de seus melhores filmes e uma das melhores obras biográficas do cinema. Recomendado.
"À Prova de Morte" faz parte um projeto, realizado por Tarantino junto a Robert Rodriguez, que busca homenagear os filmes baratos de horror e suspense exibidos nos anos 70 e 80, os famosos "filmes B". No entanto, embora funcione bem como uma homenagem a essas saudosas produções que deixaram sua marca no cinema, o filme, em si, é fraco, apenas se salvando um pouco por algumas boas cenas, como na sequência final, e pela trilha sonora.
De resto, realmente não sobra muita coisa, em uma história que é praticamente separada em dois tipos de situações: conversas, em geral recheadas de falas fúteis e com pouca utilidade ao filme, entre mulheres e perseguições envolvendo carros. Quanto à primeira parte, isto é, as conversas entre as personagens, é bom lembrar que cenas que envolvem pessoas conversando de maneira casual são uma parte importante dos roteiros do Tarantino e geralmente são divertidas e com falas bem elaboradas que revelam aspectos relevantes dos personagens envolvidos, mas aqui o diretor pecou pelo excesso e essas interações não funcionaram da maneira esperada.
Sendo assim, este talvez seja o pior filme de sua carreira, exatamente por servir mais como um tributo aos "filmes B" de suspense do que exatamente como uma obra com identidade própria. Além disso, outros elementos que se encaixam de maneira interessante em outras películas do diretor aqui não têm o mesmo efeito, exceto pela boa trilha sonora, como já mencionado antes.
"Maverick" tem os seus bons momentos, com a dupla Mel Gibson e Jodie Foster carregando o filme nas costas durante boa parte do tempo e a química entre seus personagens sendo o ponto alto da história. No entanto, também tem vários furos no roteiro e se torna um pouco cansativo na segunda metade com as suas sucessivas tentativas de provocar reviravoltas e surpresas. É um bom e divertido passatempo, mas nada além disso e não me empolgou muito.
É comum que, depois de um bom filme, a sequência produzida tenha dificuldade de apresentar algo novo ao espectador e acabe proporcionando uma queda de qualidade. No entanto, não é isso que vemos em "Por uns Dólares a Mais", em que Sergio Leone consegue superar, por muito, o filme antecessor, o também clássico "Por um Punhado de Dólares", em todos os aspectos.
Essa situação se deve, dentre outras coisas, ao fato do diretor escolher por realizar uma trilogia em que os filmes, embora se encontrem dentro do mesmo ambiente do faroeste americano e tenham algumas semelhanças entre si, apresentem histórias e personagens diferentes, fazendo com que cada obra seja única e não apenas uma continuação da outra. Além disso, nesta segunda película da trilogia, também presenciamos uma trama não apenas distinta, mas bem mais elaborada e com um roteiro cheio de reviravoltas. E, como "cereja do bolo", temos mais uma brilhante trilha sonora de Morricone, que eleva esta obra a um outro patamar dentro não apenas dos filmes de Leone, mas do gênero western em geral.
Um aspecto interessante é que fiquei com a sensação de que o personagem interpretado por Lee Van Cleef, o Coronel Mortimer, é a grande alma do filme, com o "Homem sem nome" de Eastwood sendo um pouco secundário, o que se confirma durante o final, no qual é revelado que a sua busca por El Indio nada tem haver com dinheiro, sendo, na verdade, uma espécie de vingança pessoal por algo terrível ocorrido no passado, o que confere um aspecto mais sentimental a uma trama que parecia girar apenas em torno de um "punhado de dólares", mas vai além disso. O curioso é que Van Cleef sempre se acostumou a interpretar vilões, inclusive é isso que ocorre no seguinte filme de Leone, "Três Homens em Conflito", mas aqui o que ocorre é exatamente o oposto.
Um ótimo filme, que vai crescendo à medida que a trama se desenrola, surpreendendo o espectador e prendendo sua atenção do início ao fim. Super recomendado e um dos grandes clássicos do cinema.
O primeiro filme da "trilogia dos dólares" e o trabalho de estréia de Sergio Leone no gênero western, onde iria imortalizar o seu nome, "Por um Punhado de Dólares", além de ter uma bela fotografia e boa trilha sonora, cumpre bem o seu papel de entreter e prender a atenção do espectador, mesmo com um roteiro simples, à medida que a trama gradativamente aumenta sua tensão até o marcante duelo final.
Não é o trabalho mais grandioso do diretor, que anos depois iria conseguir levar as histórias do faroeste americano a um patamar épico e memorável, mas é um bom filme. Vale também mencionar que esta produção foi feita com um orçamento baixíssimo, o que também contribuiu para ser uma película de duração curta e com um roteiro mais sucinto.
A trama gira em torno de três forasteiros, muito diferentes entre si, mas que têm em comum a mesma ganância por uma grande quantia de dinheiro escondida em um local que ninguém sabe ao certo qual é. Inclusive, é exatamente o fato de nenhum deles ter a informação precisa do local que evita com que os três se matem de imediato, apesar do clima de desconfiança permanente entre eles. Se todos sobreviverem, ninguém terá a fortuna completa, mas, se pelo menos um morrer, ninguém terá um centavo sequer. Dito isso, o que torna "The Good, The Bad and The Ugly" um grande filme é a forma como a história, aparentemente simples, é apresentada ao espectador, com excelente fotografia, ótimos diálogos e a brilhante direção de Sergio Leone.
No entanto, o que faz com que este grande filme se transforme em um verdadeiro clássico e continue a ser aclamado mesmo décadas após o lançamento é a magnífica trilha sonora de Ennio Morricone, conferindo, ao mesmo tempo, tensão, mistério e grandiosidade ao filme. Tanto isso é verdade que até quem nunca assistiu a essa película já ouviu, ao menos uma vez na vida, à música tema desta memorável obra, que acabou se tornando uma espécie de "hino" do gênero western, despertando toda a imaginação acerca do Velho Oeste americano.
E depois de mais de duas horas, que passam rapidamente, acompanhando uma trama com intrigas e reviravoltas, o espectador é presenteado com um dos melhores finais da história do cinema. Excelente filme, um grande clássico e super recomendado.
A história do filme é simples: um homem decidiu encerrar a amizade com seu melhor amigo sem mais nem menos, e este fica maluco querendo descobrir o motivo da escolha tão repentina. No entanto, o grande diferencial de "Os Banshees de Inisherin" não é na história principal, mas nos temas abordados nas entrelinhas e na forma como tudo isso é contado.
Em primeiro lugar, temos o diretor e roteirista Martin McDonagh, conhecido por balancear drama e comédia em roteiros criativos e fazer uso de um bom e velho humor negro em suas obras, que aqui marca presença novamente com o seu estilo peculiar, mas desta vez de uma maneira mais melancólica e reflexiva, abordando temas como depressão e isolamento, e como isso pode impactar as pessoas. Em segundo lugar, temos uma grande atuação do elenco, acompanhada de excepcionais aspectos técnicos, como fotografia e trilha sonora.
Em síntese, o filme fala, acima de tudo, do medo de estar só, que pode provocar angústia e levar as pessoas, como o protagonista Padraic, a tomarem decisões longe de serem as mais adequadas. Não acredito que seja o melhor trabalho de McDonagh, nem o meu preferido do diretor, mas ainda assim é um bom filme e que vale a pena assistir.
Gostei mais do que esperava, mas ainda assim há de se reconhecer que é um filme bem comum de terror, que cria tensão e prende a atenção do espectador até um certo ponto, a partir do qual torna-se cansativo. Os dois atores principais estão bem em seus papéis, em especial Wes Bentley, porém o roteiro deixa muito a desejar. Um bom passatempo para quem gosta de produções do gênero, mas nada além disso e a única coisa realmente memorável do filme são os peitos da Rachel Nichols.
Cumpre bem o seu papel de mostrar as dificuldades dos veteranos de guerra ao voltar para casa, balanceando drama e romance e com diferentes histórias se entrelaçando. No entanto, enquanto a primeira metade é boa, o resto do filme é lento demais em alguns momentos e apresenta um roteiro um pouco previsível, além de que os problemas de reintegração à sociedade poderiam ter sido melhor desenvolvidos. O ponto alto talvez seja a história de Homer e o fato do ator que o interpreta realmente ter perdido as mãos na guerra.
Na época, o filme comoveu muita gente e foi aclamado, em grande parte, provavelmente pela proximidade ao fim do Segunda Guerra e pela realidade ainda presente dos ex combatentes nos EUA, mas devo ser sincero e afirmar que esta obra não me "conquistou", embora tenha os seus bons momentos. Não é ruim, mas também está longe de ser memorável.
Em seu primeiro trabalho, Paul Thomas Anderson já mostra a sua assinatura na direção, proporcionando ao espectador uma imersão no ambiente dos cassinos, em uma abordagem menos glamourizada e mais humana e até com toques de "noir".
Por outro lado, a história, que tem boas idéias e personagens interessantes, deixa um pouco a desejar no ritmo, em alguns pontos não muito bem explicados e em elementos que poderiam ter sido explorados de uma melhor forma. No final das contas, fica a sensação de que estamos diante de algo que tinha grande potencial, mas ficou, de certa maneira, incompleto.
Sendo assim, um bom início de PTA no mundo do cinema, mas ainda com erros de "estreante".
Um filme despretensioso, com uma história criativa e mais uma excelente atuação de Mads Mikkelsen. Caminhando na linha tênue entre o drama e a comédia, aborda o tema do alcoolismo e como a bebida é uma faca de dois gumes: por um lado, pode funcionar como a famosa "coragem líquida", nos tornando mais espontâneos e relaxados, mas, por outro, pode afetar a nossa percepção da realidade, nos impedir de controlar os impulsos e nos afastar de quem mais amamos.
E o final nos fornece uma daquelas cenas que, ao mesmo tempo que ficam na memória, também podem suscitar diversas interpretações. Apesar de todos os problemas, de todo o sofrimento e de toda dor que os personagens enfrentam e tentam escapar com o álcool, celebra-se a vida, com os seus bons e maus momentos.
Um divertido filme que já vi duas vezes, pretendo rever futuramente e recomendo para quem ainda não teve a oportunidade.
“Sabe o que Lênin disse sobre a Apassionata de Beethoven? Se eu continuar ouvindo, não levarei a cabo a Revolução.”
Esta poderosa frase, dita de maneira despretensiosa ainda em uma das primeiras cenas, sintetiza bem um dos temas abordados por este ótimo filme, que conta com excelentes atuações e um roteiro muito bem construído.
O primeiro ponto a se destacar é a parte histórica. "A Vida dos Outros" se passa na época da Alemanha Oriental, governada por uma ditadura socialista, logo, nesse contexto, quaisquer questionamentos ao partido mandante ou a sua ideologia não seriam tolerados, o que leva as autoridades a exercerem um controle rígido sob os cidadãos, em especial aqueles considerados "suspeitos", passando por cima de noções de privacidade ou liberdade, que aqui inexistem. Sendo assim, este filme funciona, antes de tudo, como uma dura crítica a esse aspecto autoritário do Estado e às consequências dessa constante vigilância na vida das pessoas.
Inclusive, uma das grandes qualidades do filme é a forma como mostra esse momento histórico da sociedade alemã, provocando um estado de tensão no espectador sem, em qualquer momento, ter de recorrer, por exemplo, a cenas de violência física. O mero sentimento de estar constantemente vigiado (ou o de temer estar sendo vigiado) funciona como uma espécie de tortura aos personagens envolvidos, levando-os a uma constante luta para tentar sobreviver dentro desse sistema. Logo, a violência é psicológica e moral, não sendo aquela que leva à explosões de ódio, punhos e armas, mas sim ao suicídio lento e angustiante. É brutal e, de alguma forma, delicado e sutil ao mesmo tempo.
O segundo ponto do filme é exatamente o que remete a frase mencionada no início. Assim como Lênin quase abandonou sua causa por uma obra de Beethoven, vemos que a sensibilidade de Dreyman e de sua companheira Christa, e também a bela música tocada pelo escritor no piano, sensibilizam o duro coração do agente Wiesler, que passa a tentar ajudar, na medida do possível, as pessoas que ele foi encarregado de espionar. Dessa maneira, a história também aborda a forma como a arte pode mudar até mesmo as mais rígidas pessoas, direcionando-as a um outro caminho.
O ritmo pode ser um pouco lento em alguns momentos, mas é um filme que vale muito a pena assistir. Recomendado.
Um dos primeiros trabalhos do mestre Kubrick, "The Killing" é um filme que foge um pouco do estilo ao qual estamos acostumados no diretor, mas nem por isso deixa de apresentar tanta qualidade quanto outras das suas produções. Com um clima "noir" e uma trama objetiva, a história combina suspense, ação, ótimos diálogos e reviravoltas, que prendem a atenção do espectador, fazem o tempo passar rápido e tornam esta obra bem agradável de se assistir.
Depois de todos os esforços de Johny para elaborar o roubo de maneira meticulosa e executá-lo de forma precisa, eu devo ser sincero e afirmar que torci para ele conseguir sair com o dinheiro. Por outro lado, o final, embora não fosse o que eu queria, é bem interessante e irônico, mostrando-nos que podemos fazer inúmeros planos, mas, por mais detalhados e minuciosos que sejam, sempre podem terminar sendo vítimas de algo que não controlamos: o acaso.
Logo, mesmo sendo apenas um dos primeiros trabalhos do diretor e longe de ser uma de suas melhores películas, ainda assim é um filme muito bom de se acompanhar, com todos os elementos de uma boa história na medida certa. Recomendado.
Brazil, o Filme
3.8 403 Assista AgoraFazendo uso de um visual surrealista, tradicional em suas produções, Terry Gillian nos apresenta uma bem elaborada e inteligente crítica não somente aos estados totalitários do século XX, mas também ao exagerado consumismo presente na sociedade. Apesar da ambientação fantasiosa, o filme atinge em cheio os regimes autoritários que restringem as liberdades do cidadão e também mira os hábitos consumistas praticados em excesso pelas pessoas, sendo ambos os elementos reais e ainda presentes no mundo, tornando "Brazil" uma obra extremamente atual e pertinente, ou, como alguns já descreveram, uma versão moderna e mais cômica - porém não menos profunda- de "1984" - não o filme que havia sido lançado um ano antes, mas o livro.
Tendo inspirado, com o seus aspectos visuais, diversos filmes que vieram depois, como o famoso Batman de Tim Burton, o principal aspecto desta película é, na verdade, a crítica política inserida por baixo de todo o ambiente surreal que nos é apresentado. Dito isso, o mais fascinante é que, diferente de outras distopias inventadas para ficção, como o próprio "1984" que inspirou esta obra, não existe a tradicional figura do vilão no mundo de "Brazil". Em momento algum, é mostrado o núcleo central do governo ou um ditador, assim como também não há um nêmesis pessoal para o personagem principal Sam. Todas as pessoas cometendo os mais monstruosos atos de autoritarismo ou violência são caracterizadas como funcionários públicos normais, que apenas estão cumprindo a sua função em mais um dia de trabalho.
A história, portanto, não nos apresenta nenhum indivíduo em particular para colocarmos a culpa ou a responsabilidade pelos acontecimentos presenciados, o que torna esse sistema totalitário ainda mais difícil de consertar, sobretudo considerando que até mesmo as pessoas que trabalham nos departamentos e agências governamentais aparentam estar presas dentro desse organismo estatal inchado. A culpa recai, portanto, na sociedade de uma maneira geral, que, com a sua falta de empatia e com hábitos consumistas exagerados, negligencia a liberdade, com cada cidadão apenas pensando em si próprio e aceitando a realidade autoritária presente. Ninguém está realmente satisfeito com a vida que leva e cada indivíduo tem a sua forma de escape, seja por programas de televisão, por cirurgias plásticas ou pelos sonhos, mas todos aceitam pacificamente a distopia em que estão inseridos e não fazem nada para alterá-la.
E um final que é triste e bonito ao mesmo tempo. Triste, obviamente, por que Sam termina em uma prisão do governo, onde provavelmente irá passar o resto da vida e sem experimentar a real sensação da liberdade. No entanto, por outro lado, também é bonito, pois ele consegue, com o poder da imaginação, criar em sua mente uma vida paralela, que irá ser, para ele, a sua realidade. Sendo assim, mesmo preso, ele consegue experimentar uma liberdade, que, mesmo sendo apenas imaginária, é a que ele irá ter como real dali pra frente. A sua vida real será de tortura e aprisionamento, enquanto sua vida imaginária será feliz, mas apenas a última ele irá efetivamente reconhecer. Isso também mostra como a dilaceração da liberdade humana quando não mata o homem literalmente, o corrói por dentro e dilacera sua integridade mental, a tal ponto do indivíduo perder completamente a sanidade.
Diferente do que alguns pensam, o título do filme não é uma referência ao regime militar presente no Brasil na época de seu lançamento, mas, como já admitiu o próprio Gillian certa vez, apenas uma homenagem à música "Aquarela do Brasil", que escutava quando jovem e o fazia pensar sobre um mundo exótico e fantasioso para o qual poderia fugir da sua realidade. Da mesma maneira, no filme, o personagem Sam procura um escape da realidade com os seus sonhos, que acabam sendo a única forma encontrada por ele para fugir desse mundo distópico sem qualquer tipo de solução ou salvação. No entanto, apesar de não ser uma alusão direta ao nosso país, não dá para negar que o Estado inchado e burocrático mostrado na história poderia ser, perfeitamente, uma representação do governo brasileiro em todas as suas esferas, tanto no passado quanto no presente.
É um filme com muitas camadas e detalhes e feito para se assistir mais de uma vez, com um excelente visual e uma inteligente crítica política e social. Super recomendado.
O Homem Elefante
4.4 1,0K Assista AgoraUma história verdadeira e emocionante de um homem que sofreu de maneira indescritível durante boa parte de sua vida, por conta de suas deformidades físicas e, sobretudo, devido ao tratamento deplorável que recebia da maioria das pessoas. O preconceito, a rejeição e o desprezo despejados a ele devido a sua aparência nos fazem observar que a verdadeira aberração não era aquele que estava a ser exibido em circos como se fosse uma, que era um pessoa inteligente, educada e com um bom coração, mas os indivíduos que o julgavam e o exploravam, que, por sua vez, comportavam-se como verdadeiros monstros.
É impossível para este filme ou qualquer outra produção, seja no cinema ou no teatro, mostrar de maneira fidedigna e exata o quanto que John Merrick sofreu, mas "O Homem Elefante" consegue cumprir bem o papel de nos passar os sentimentos de tristeza e indignação também sentidos por John, obviamente não na mesma proporção, mas suficientes para nos sensibilizarmos com a trajetória de sua incomum vida, sendo este o grande trunfo do filme, tornando-o impactante, emocionante e memorável.
Todo o elenco está ótimo, mas, naturalmente, o grande destaque vai para John Hurt, que, mesmo com toda a maquiagem, consegue exprimir, de maneira impecável, tanto a dor sofrida por seu personagem quanto a doçura de seu coração, por meio da voz e dos olhos, que, convenhamos, basicamente é o que sobra ao ator para utilizar como forma de expressão e ele consegue muito bem cumprir esse difícil papel.
Um filme que precisamos "ter estômago" para digerir, mas que, no final das contas, encerra-se de uma forma bonita e com uma bela lição: nem todo o sofrimento e tristeza que afligiram John Merrick foram o suficiente para torná-lo uma má pessoa, com ele mantendo sua bondade e dignidade mesmo diante de tudo e conseguindo, nos últimos anos de sua vida, ser finalmente tratado de maneira decente e como um ser humano.
Uma História Real
4.2 298Um filme belíssimo e tocante, que nos faz refletir sobre família, relações afetivas e a vida de uma maneira geral, além de nos emocionar com a história de Alvin Straight, brilhantemente interpretado por Richard Farnsworth, e toda a sua trajetória em busca de se reencontrar com o irmão.
Pode parecer lento para alguns em determinados momentos, mas a intenção do filme é exatamente essa, fazendo o espectador aproveitar cada instante com o seu devido tempo, sem apressar as coisas e sentindo a experiência de uma forma única, como se também estivéssemos fazendo parte dessa viagem. Aliás, caso Alvin quisesse chegar rápido ao seu destino, ele poderia ter ido de ônibus ou ido de carona com alguém conhecido, mas ele opta, por vontade própria, em utilizar um cortador de grama como seu "veículo", pois esse é o caminho que julga ser o correto para ele.
Isso, inclusive, é brevemente abordado pelo personagem na seguinte fala: "There's no that one knows your life better than a brother that's near your age. He knows who you are and what you are better than anyone on earth. My brother and I said some unforgivable things the last time we met, but, I'm trying to put that behind me... and this trip is a hard swallow of my pride. I just hope I'm not too late... a brother's a brother." Sendo assim, essa aventura de Alvin é a maneira que ele encontra de engolir todo o seu orgulho, esquecer as desavenças do passado e fazer as pazes com o irmão, como uma espécie de "teste" para mostrar o que ele estaria disposto a fazer para finalmente reencontrá-lo e uma prova, ao seu irmão, do amor que Alvin nutre por ele.
Além de toda a jornada pessoal do protagonista, o filme também aborda as pessoas que Alvin encontra pelo caminho, ajudando-o e também sendo, de uma forma ou de outra, ajudadas por ele. E todos esses elementos acompanhados por uma grande direção de Lynch, uma agradável trilha sonora e uma bela fotografia.
E, claro, não é possível falar de "Uma História Real" sem separar o devido espaço para mencionar a gigantesca atuação de Farnsworth, em uma performance que lhe rendeu uma indicação ao Oscar e o tornou o mais velho a ser nomeado ao prêmio da Academia nessa categoria. Importante lembrar que o ator estava com câncer na época e, durante as filmagens, a doença já estava se espalhando pelos seus ossos, sendo que a paralisia de suas pernas nas cenas finais era real. Mesmo com todas as dificuldades, continuou filmando até o fim e entregou a grande atuação da carreira justamente em seu último trabalho. Uma performance sutil e ao mesmo tempo emocionante, mas, sobretudo, uma história de superação de um ator em seus últimos meses de vida (ele viria a cometer suicídio em 2000, já em um estado irreversível).
Super recomendado.
A Princesa e o Plebeu
4.3 417 Assista AgoraTambém conhecido como o primeiro grande trabalho de Audrey Hepburn - no papel que não somente a levou ao seu único Oscar, mas também ao estrelato, "A Princesa e o Plebeu" é um filme leve e divertido de se assistir, misturando, na medida certa, elementos de romance, comédia e drama. O roteiro é simples, mas a bela direção e a excelente performance do elenco engrandecem o filme e cativam o espectador.
O curioso é que, embora Anna seja a princesa da história, quem realmente vive um conto de fadas durante o filme é ela, conseguindo ter um escape, mesmo que breve, de sua ocupada e restrita rotina e tendo experiências jamais vividas por ela antes. O jornalista Joe, por outro lado, no início buscava apenas se aproveitar da presença da princesa para conseguir uma boa reportagem e faturar dinheiro, mas aos poucos se apaixona pela doçura e beleza de Anna, a tal ponto de, no final, simplesmente desistir de escrever o seu texto jornalístico, talvez visando não constranger a moça perante sua família real. Por fim, o desfecho do filme é triste, porém realista.
Pessoalmente, não considerei uma grande obra prima, mas é uma história simples e agradável, que vale a pena acompanhar, sobretudo, pela beleza tanto da paisagem de Roma quanto de Audrey Hepburn, que aqui está irretocável.
Questão de Honra
3.8 283 Assista AgoraUm ótimo filme que não somente explora a temática dos dramas investigativos e de tribunais, mas também nos faz refletir sobre diversas questões envolvendo honra e ética no meio militar. Até que ponto é correto obedecer determinadas ordens? Ou até que ponto um militar deve agir supostamente em nome de algo maior, como a pátria ou a defesa da liberdade? Devemos obedecer a hierarquia ou a nossa consciência? No início, parece mais um filme de tribunal dentre vários, no entanto vai lentamente crescendo e atinge o ápice na reta final em uma grande cena, que também conta com algumas falas memoráveis, terminando bem maior do que começou.
E "A Few Good Men" cumpre bem o seu papel não apenas devido a um roteiro bem amarrado e uma grande direção de Rob Reiner, mas também pela força do seu elenco, com grandes atuações de Cruise, Moore e, sobretudo, Nicholson. Essa combinação de fatores nos faz imergir na investigação, com as surpresas e idas e vindas do processo, e prende a atenção do espectador.
Logo, se você gosta de produções do gênero, irá adorar, e, se não é o maior fã dessa temática, irá começar a gostar a partir deste filme. Recomendado.
Monty Python em Busca do Cálice Sagrado
4.2 742 Assista AgoraComédia non sense de ótima qualidade, boas piadas e diversão garantida durante essa bizarra aventura. Confesso que gostei mais deste do que o trabalho do Monty Python em "Life of Brian", que também foi bom, com "Em Busca do Cálice Sagrado" cumprindo bem o seu papel e garantindo muitas risadas. Além disso, também destaco a trilha sonora "medieval", que é muito boa e tem músicas viciantes, como a do Sir Robin!
Para quem gosta desse tipo de humor e aceita se deixar levar pelas maluquices do roteiro, é um prato cheio. Não tentem raciocinar muito sobre o que está acontecendo e apenas curtam.
Louca Obsessão
4.1 1,3K Assista AgoraUm ótimo filme de terror psicológico, que prende a atenção do espectador com uma história aparentemente simples, mas cujo suspense é muito bem construído. A tensão é provocada não somente com as cenas mais brutais e perturbadoras de tortura, mas devido, sobretudo, à constante sensação de aprisionamento e medo vivenciado pelo personagem Paul Sheldon, que também se transmite ao público.
Imprescindível também mencionar a excelente atuação de todo o elenco, em especial Kathy Bates, que está assustadora na pele da enfermeira Annie Wilkes, alternando momentos excessivamente gentis com atitudes verdadeiramente assustadoras e cruéis. James Caan também merece ser aplaudido por sua performance realista de um escritor vivenciando um aterrorizante pesadelo.
No final das contas, "Misery" cumpre bem o seu papel e vale à pena assistir para quem curte filmes do gênero.
Nell
3.7 221 Assista AgoraBelíssimo nos aspectos técnicos e com um tema interessante, "Nell" pode parecer estranho no começo, mas, aos poucos, vamos nos acostumando e enxergando uma história tocante. Lembrando filmes como "O Quarto de Jack" e a antiga história do "Menino selvagem de Aveyron", presenciamos as dificuldades de uma pessoa criada completamente fora da civilização em interagir com desconhecidos e de se integrar com o resto do mundo.
No entanto, se o tema é fascinante, a impressão que fica ao espectador é que o potencial da história não é muito bem utilizado, com o filme se tornando bastante previsível em muitos momentos e caminhando uma trilha mais melodramática do que propriamente explorando as questões éticas ou filosóficas envolvidas. Outro ponto que me incomodou foi a pouca presença da personagem principal Nell, que em diversas oportunidades mais parece uma coadjuvante em uma narrativa que acaba por girar excessivamente em torno dos doutores Lovell e Paula.
Esses problemas no roteiro são parcialmente compensados, por outro lado, com uma excelente atuação de Jodie Foster, que, em uma papel extremamente difícil e desafiador, consegue "roubar a cena" mesmo em situações nas quais a história não foca muito em sua personagem. A atriz, em uma performance que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, consegue expressar bem a complexidade de Nell, uma jovem mulher doce e com um coração puro, mas que se encontra com medo de se conectar com o resto do mundo.
De uma maneira geral, é um filme razoável, destacando-se pelos aspectos técnicos, pelo tema e pela grande atuação de Foster, mas que peca no roteiro e na maneira como a história é conduzida.
2001: Uma Odisseia no Espaço
4.2 2,4K Assista AgoraApós assistir novamente esta obra prima, deixo aqui mais um comentário, agora destinado para aquelas pessoas que criticam o filme por não terem compreendido o final ou por considerá-lo confuso. Em primeiro lugar, deixo bem claro que é perfeitamente normal ter essa sensação depois de ver pela primeira vez e não há qualquer absurdo nessa situação, e isso tem um motivo bem simples: este filme não foi feito para ser compreendido totalmente.
O principal propósito de "2001", em especial o seu final, é o de evocar imagens, sons, associações e sugestões em nossa mente, produzindo uma resposta, da nossa parte, tanto mental quanto emocional. O filme busca abrir nossa mente, não fechá-la entregando respostas prontas e definitivas, ao mesmo tempo que procura inspirar questionamentos, mas não resolvê-los. Em diversas entrevistas, o próprio Kubrick afirmou que o final não era para ser claro de uma maneira convencional, tendo inclusive dito uma vez: "o seu poder se encontra na resposta emocional e subconsciente da plateia, o que torna o seu efeito mais prolongado, sendo que ser específico acerca do seu significado iria tirar esse prazer dos espectadores e negar a eles as suas próprias reações e interpretações". Sendo assim, qualquer pessoa que terminou de assistir ao filme e já tenha uma resposta simples e clara acerca do que acabou de ver está, na verdade, mais distante do que Kubrick desejava do que aquele que ficou sem entender nada.
Uma das interpretações, por exemplo, é a de que o filme gira em torno da figura dos deuses. E aqui não temos deuses semelhantes aos das religiões tradicionais, mas deuses distantes, impenetráveis e cujas intenções não conseguiríamos sequer chegar perto de compreender. Eles deixam os monólitos em contato com os humanos em momentos específicos, mas em instante algum da história somos apresentados a eles ou às suas reais intenções. Inclusive, acredito que esse também seja um ponto positivo do filme, pois se Kubrick decidisse mostrar aliens e as suas faces verdadeiras, talvez perdesse bastante do efeito que é causado com a total ausência deles nesta obra, isto é, o fato desses deuses serem completamente desconhecidos provoca uma sensação forte de mistério e até de medo.
E dentro dessa teoria, existe a ideia de que o bebê que aparece no final é, na verdade, Bowman tendo alcançado um novo estágio da evolução humana, mais poderoso e iluminado e tendo a missão de levar esse avanço ao resto da civilização. Alguns críticos, inclusive, apontam a presença de pinturas e outros objetos renascentistas no quarto do astronauta em sua fase mais velha, sendo que a Renascença foi uma época conhecida como uma época de "iluminação". Sendo assim, o filme, que se inicia com a raça humana em seus primórdios, iria se encerrar com a mesma alcançando o seu estágio mais avançado. Outro ponto também que vale a pena mencionar é que a música tema é uma obra composta por Richard Strauss, baseada em um texto de Nietzsche que falava exatamente sobre a noção do "super homem".
No entanto, essa é a apenas um teoria dentre várias. Não há uma resposta concreta e definitiva e o próprio Kubrick não desejava que houvesse, sendo um filme mais para ser sentido do que para ser compreendido, mais para provocar reações do que entregar respostas. E esse é apenas um dos motivos que fazem "2001" ser uma verdadeira obra prima.
A Lista de Clientes
3.0 484 Assista AgoraEste filme pode ser resumido da seguinte maneira: não é ruim, mas também não é lá grande coisa e nem se esforça muito para isso. Embora a história seja interessante, tendo se inspirado no escândalo de prostituição em Odessa, Texas, em 2004, a forma como é explorada é bem superficial.
O foco maior de "A Lista de Clientes" não é na profissão exercida por Sam, mas em sua vida pessoal. Ela, bonita e já tendo sido miss, tinha grandes sonhos quando jovem, mas agora está praticamente falida e, com três filhos para cuidar e um marido que teve a carreira arruinada por uma lesão, procura utilizar sua beleza para ganhar dinheiro, mesmo que seja de uma maneira indecente e ilegal. No início, ela tinha nojo do que fazia, apenas prosseguindo por conta das dificuldades financeiras e devido à família. Com o passar do tempo, no entanto, ela continuava trabalhando no "spa" mais por conta da atenção recebida do que qualquer outra coisa, estando rodeada de homens ricos e poderosos que, por baixo das convenções sociais e aparências, traíam suas respectivas esposas com Sam, que se sentia especial. Ela, por outro lado, também vivia uma vida dupla, sendo uma mãe/esposa atenciosa em casa e uma prostituta no trabalho.
Esses aspectos, porém, não são explorados muito bem ao longo da história, com o filme preferindo valorizar algumas cenas desnecessárias e outras caricatas, como a cena final envolvendo as esposas dos clientes. O resto do elenco também não me agradou muito e teve atuações discretas e sem grande emoção.
Jennifer Love Hewitt está aqui naquele que é, provavelmente, o seu melhor papel e que depois lhe rendeu uma série de duas temporadas com um enredo semelhante, mas é difícil encontrar outra coisa no filme, além da performance da atriz, que mereça maiores elogios. Tinha potencial, mas, no final das contas, é apenas um filme mediano com alguns bons momentos.
Gato de Botas 2: O Último Pedido
4.1 451 Assista AgoraFilme muito bom e o tempo passou voando ao assistir. Combinando ótimos personagens, um roteiro criativo e uma boa mistura entre comédia e drama, "Gato de Botas: O Último Pedido" talvez já seja um dos melhores filmes do "universo Shrek", garantindo diversão pura para jovens e adultos e ainda deixando uma belíssima mensagem sobre valorizar a vida.
É interessante observar como cada um dos antagonistas tem características próprias e o seu devido papel na história. "Goldi", ou "Cachinhos Dourados", uma órfã criada desde pequeno por ursos, é uma criminosa, mas também tem um lado bom, apenas desejando ter uma família de verdade. "Jack Horner", por sua vez, é um completo psicopata e a mais pura forma do mal, pois nasceu em um berço de ouro e não tem qualquer acontecimento em sua vida que explicasse suas atitudes, mas mesmo assim optou por trilhar o caminho da maldade. Por fim, temos o misterioso e assustador "Lobo" ou "A Morte", que, além de um vilão, é uma força da natureza, sendo inevitável para todos e estando ali para cumprir sua missão de tirar a vida de quem não a valoriza e, embora apareça pouco, possui presença marcante em cada cena e é o grande motivo da aventura protagonizada pelo Gato de Botas. No final, Goldi percebe que já possui uma família de verdade, o Lobo não mais anseia tirar a vida do Gato naquele momento, pois vê que este, diferente de antes, já passou a valorizar a sua própria vida, enquanto Jack, o verdadeiro vilão, termina da pior maneira possível, mas tendo o que merece.
Dentre os protagonistas, Kitty busca alguém a quem possa confiar, o Gato busca prolongar suas vidas para manter viva a sua lenda e o carismático e amável Perrito acaba funcionando não somente como um alívio cômico, mas exatamente como um "cão de terapia", auxiliando a suavizar as personalidades fortes dos dois gatos e a ensinar a valorizar mais os laços afetivos e a vida de uma maneira geral, sendo aquele personagem com a história de origem mais trágica, mas curiosamente também sendo aquele que enxerga a vida de maneira mais positiva. Ao término da história, Kitty obtém o seu desejo, o Gato não vê mais necessidade de ter mais vidas e procura valorizar aquela que já tem e o Perrito não somente ajuda os outros como também consegue finalmente ter amigos.
Vale a pena também mencionar a maneira como alternaram os estilos de animação em algumas cenas e, claro, a dublagem do Wagner Moura, que foi bem em seu papel e contribui bastante para o ar misterioso e assustador de seu personagem.
Então, quem quiser um filme para assistir com a família e se divertir, este aqui é perfeito para acompanhar e sair com um sorriso no rosto ao final. Super recomendado.
Touro Indomável
4.2 708 Assista AgoraCom brilhante direção de Scorsese, excelente fotografia e grandes atuações de todo o elenco, "Touro Indomável" é uma das melhores obras do diretor e uma verdadeira imersão não somente na conturbada vida do pugilista Jake LaMotta, mas no mundo do boxe dos anos 40.
O principal aspecto do filme é mostrar como características que levaram LaMotta à glória e sucesso nos ringues, como sua violência e comportamento explosivo, também contribuíram para a sua autodestruição na vida pessoal, afastando-o da esposa e do irmão e o deixando sozinho e praticamente sem amigos. Inclusive, como comentaram anteriormente aqui, não é um filme sobre boxe e nem sobre um pugilista, mas sim sobre o homem LaMotta, com todos os seus defeitos e atitudes deploráveis, com o boxe servindo apenas como um pano de fundo.
Embora a aclamação geral seja para a atuação de DeNiro, que realmente está espetacular e teve de passar por uma transformação física para interpretar o ex-lutador no período de aposentadoria, eu também gostaria de destacar Pesci, que também está ótimo. O seu personagem, Joey, alterna entre o amor pelo irmão e o temor pela personalidade explosiva de Jake, e esse conflito interno é bem interpretado pelo ator.
Veredito final: embora muitos pensem assim, não considero este como sendo o grande trabalho de Scorsese, mas é sim um de seus melhores filmes e uma das melhores obras biográficas do cinema. Recomendado.
À Prova de Morte
3.9 2,0K Assista Agora"À Prova de Morte" faz parte um projeto, realizado por Tarantino junto a Robert Rodriguez, que busca homenagear os filmes baratos de horror e suspense exibidos nos anos 70 e 80, os famosos "filmes B". No entanto, embora funcione bem como uma homenagem a essas saudosas produções que deixaram sua marca no cinema, o filme, em si, é fraco, apenas se salvando um pouco por algumas boas cenas, como na sequência final, e pela trilha sonora.
De resto, realmente não sobra muita coisa, em uma história que é praticamente separada em dois tipos de situações: conversas, em geral recheadas de falas fúteis e com pouca utilidade ao filme, entre mulheres e perseguições envolvendo carros. Quanto à primeira parte, isto é, as conversas entre as personagens, é bom lembrar que cenas que envolvem pessoas conversando de maneira casual são uma parte importante dos roteiros do Tarantino e geralmente são divertidas e com falas bem elaboradas que revelam aspectos relevantes dos personagens envolvidos, mas aqui o diretor pecou pelo excesso e essas interações não funcionaram da maneira esperada.
Sendo assim, este talvez seja o pior filme de sua carreira, exatamente por servir mais como um tributo aos "filmes B" de suspense do que exatamente como uma obra com identidade própria. Além disso, outros elementos que se encaixam de maneira interessante em outras películas do diretor aqui não têm o mesmo efeito, exceto pela boa trilha sonora, como já mencionado antes.
Maverick
3.6 140 Assista Agora"Maverick" tem os seus bons momentos, com a dupla Mel Gibson e Jodie Foster carregando o filme nas costas durante boa parte do tempo e a química entre seus personagens sendo o ponto alto da história. No entanto, também tem vários furos no roteiro e se torna um pouco cansativo na segunda metade com as suas sucessivas tentativas de provocar reviravoltas e surpresas. É um bom e divertido passatempo, mas nada além disso e não me empolgou muito.
Por uns Dólares a Mais
4.3 364 Assista AgoraÉ comum que, depois de um bom filme, a sequência produzida tenha dificuldade de apresentar algo novo ao espectador e acabe proporcionando uma queda de qualidade. No entanto, não é isso que vemos em "Por uns Dólares a Mais", em que Sergio Leone consegue superar, por muito, o filme antecessor, o também clássico "Por um Punhado de Dólares", em todos os aspectos.
Essa situação se deve, dentre outras coisas, ao fato do diretor escolher por realizar uma trilogia em que os filmes, embora se encontrem dentro do mesmo ambiente do faroeste americano e tenham algumas semelhanças entre si, apresentem histórias e personagens diferentes, fazendo com que cada obra seja única e não apenas uma continuação da outra. Além disso, nesta segunda película da trilogia, também presenciamos uma trama não apenas distinta, mas bem mais elaborada e com um roteiro cheio de reviravoltas. E, como "cereja do bolo", temos mais uma brilhante trilha sonora de Morricone, que eleva esta obra a um outro patamar dentro não apenas dos filmes de Leone, mas do gênero western em geral.
Um aspecto interessante é que fiquei com a sensação de que o personagem interpretado por Lee Van Cleef, o Coronel Mortimer, é a grande alma do filme, com o "Homem sem nome" de Eastwood sendo um pouco secundário, o que se confirma durante o final, no qual é revelado que a sua busca por El Indio nada tem haver com dinheiro, sendo, na verdade, uma espécie de vingança pessoal por algo terrível ocorrido no passado, o que confere um aspecto mais sentimental a uma trama que parecia girar apenas em torno de um "punhado de dólares", mas vai além disso. O curioso é que Van Cleef sempre se acostumou a interpretar vilões, inclusive é isso que ocorre no seguinte filme de Leone, "Três Homens em Conflito", mas aqui o que ocorre é exatamente o oposto.
Um ótimo filme, que vai crescendo à medida que a trama se desenrola, surpreendendo o espectador e prendendo sua atenção do início ao fim. Super recomendado e um dos grandes clássicos do cinema.
Por um Punhado de Dólares
4.2 421 Assista AgoraO primeiro filme da "trilogia dos dólares" e o trabalho de estréia de Sergio Leone no gênero western, onde iria imortalizar o seu nome, "Por um Punhado de Dólares", além de ter uma bela fotografia e boa trilha sonora, cumpre bem o seu papel de entreter e prender a atenção do espectador, mesmo com um roteiro simples, à medida que a trama gradativamente aumenta sua tensão até o marcante duelo final.
Não é o trabalho mais grandioso do diretor, que anos depois iria conseguir levar as histórias do faroeste americano a um patamar épico e memorável, mas é um bom filme. Vale também mencionar que esta produção foi feita com um orçamento baixíssimo, o que também contribuiu para ser uma película de duração curta e com um roteiro mais sucinto.
Três Homens em Conflito
4.6 1,2K Assista AgoraA trama gira em torno de três forasteiros, muito diferentes entre si, mas que têm em comum a mesma ganância por uma grande quantia de dinheiro escondida em um local que ninguém sabe ao certo qual é. Inclusive, é exatamente o fato de nenhum deles ter a informação precisa do local que evita com que os três se matem de imediato, apesar do clima de desconfiança permanente entre eles. Se todos sobreviverem, ninguém terá a fortuna completa, mas, se pelo menos um morrer, ninguém terá um centavo sequer. Dito isso, o que torna "The Good, The Bad and The Ugly" um grande filme é a forma como a história, aparentemente simples, é apresentada ao espectador, com excelente fotografia, ótimos diálogos e a brilhante direção de Sergio Leone.
No entanto, o que faz com que este grande filme se transforme em um verdadeiro clássico e continue a ser aclamado mesmo décadas após o lançamento é a magnífica trilha sonora de Ennio Morricone, conferindo, ao mesmo tempo, tensão, mistério e grandiosidade ao filme. Tanto isso é verdade que até quem nunca assistiu a essa película já ouviu, ao menos uma vez na vida, à música tema desta memorável obra, que acabou se tornando uma espécie de "hino" do gênero western, despertando toda a imaginação acerca do Velho Oeste americano.
E depois de mais de duas horas, que passam rapidamente, acompanhando uma trama com intrigas e reviravoltas, o espectador é presenteado com um dos melhores finais da história do cinema. Excelente filme, um grande clássico e super recomendado.
Os Banshees de Inisherin
3.9 571 Assista AgoraA história do filme é simples: um homem decidiu encerrar a amizade com seu melhor amigo sem mais nem menos, e este fica maluco querendo descobrir o motivo da escolha tão repentina. No entanto, o grande diferencial de "Os Banshees de Inisherin" não é na história principal, mas nos temas abordados nas entrelinhas e na forma como tudo isso é contado.
Em primeiro lugar, temos o diretor e roteirista Martin McDonagh, conhecido por balancear drama e comédia em roteiros criativos e fazer uso de um bom e velho humor negro em suas obras, que aqui marca presença novamente com o seu estilo peculiar, mas desta vez de uma maneira mais melancólica e reflexiva, abordando temas como depressão e isolamento, e como isso pode impactar as pessoas. Em segundo lugar, temos uma grande atuação do elenco, acompanhada de excepcionais aspectos técnicos, como fotografia e trilha sonora.
Em síntese, o filme fala, acima de tudo, do medo de estar só, que pode provocar angústia e levar as pessoas, como o protagonista Padraic, a tomarem decisões longe de serem as mais adequadas. Não acredito que seja o melhor trabalho de McDonagh, nem o meu preferido do diretor, mas ainda assim é um bom filme e que vale a pena assistir.
P2: Sem Saída
3.1 475 Assista AgoraGostei mais do que esperava, mas ainda assim há de se reconhecer que é um filme bem comum de terror, que cria tensão e prende a atenção do espectador até um certo ponto, a partir do qual torna-se cansativo. Os dois atores principais estão bem em seus papéis, em especial Wes Bentley, porém o roteiro deixa muito a desejar. Um bom passatempo para quem gosta de produções do gênero, mas nada além disso e a única coisa realmente memorável do filme são os peitos da Rachel Nichols.
Os Melhores Anos de Nossa Vida
4.1 83Cumpre bem o seu papel de mostrar as dificuldades dos veteranos de guerra ao voltar para casa, balanceando drama e romance e com diferentes histórias se entrelaçando. No entanto, enquanto a primeira metade é boa, o resto do filme é lento demais em alguns momentos e apresenta um roteiro um pouco previsível, além de que os problemas de reintegração à sociedade poderiam ter sido melhor desenvolvidos. O ponto alto talvez seja a história de Homer e o fato do ator que o interpreta realmente ter perdido as mãos na guerra.
Na época, o filme comoveu muita gente e foi aclamado, em grande parte, provavelmente pela proximidade ao fim do Segunda Guerra e pela realidade ainda presente dos ex combatentes nos EUA, mas devo ser sincero e afirmar que esta obra não me "conquistou", embora tenha os seus bons momentos. Não é ruim, mas também está longe de ser memorável.
Jogada de Risco
3.6 102 Assista AgoraEm seu primeiro trabalho, Paul Thomas Anderson já mostra a sua assinatura na direção, proporcionando ao espectador uma imersão no ambiente dos cassinos, em uma abordagem menos glamourizada e mais humana e até com toques de "noir".
Por outro lado, a história, que tem boas idéias e personagens interessantes, deixa um pouco a desejar no ritmo, em alguns pontos não muito bem explicados e em elementos que poderiam ter sido explorados de uma melhor forma. No final das contas, fica a sensação de que estamos diante de algo que tinha grande potencial, mas ficou, de certa maneira, incompleto.
Sendo assim, um bom início de PTA no mundo do cinema, mas ainda com erros de "estreante".
Druk: Mais Uma Rodada
3.9 798 Assista AgoraUm filme despretensioso, com uma história criativa e mais uma excelente atuação de Mads Mikkelsen. Caminhando na linha tênue entre o drama e a comédia, aborda o tema do alcoolismo e como a bebida é uma faca de dois gumes: por um lado, pode funcionar como a famosa "coragem líquida", nos tornando mais espontâneos e relaxados, mas, por outro, pode afetar a nossa percepção da realidade, nos impedir de controlar os impulsos e nos afastar de quem mais amamos.
E o final nos fornece uma daquelas cenas que, ao mesmo tempo que ficam na memória, também podem suscitar diversas interpretações. Apesar de todos os problemas, de todo o sofrimento e de toda dor que os personagens enfrentam e tentam escapar com o álcool, celebra-se a vida, com os seus bons e maus momentos.
Um divertido filme que já vi duas vezes, pretendo rever futuramente e recomendo para quem ainda não teve a oportunidade.
A Vida dos Outros
4.3 645“Sabe o que Lênin disse sobre a Apassionata de Beethoven? Se eu continuar ouvindo, não levarei a cabo a Revolução.”
Esta poderosa frase, dita de maneira despretensiosa ainda em uma das primeiras cenas, sintetiza bem um dos temas abordados por este ótimo filme, que conta com excelentes atuações e um roteiro muito bem construído.
O primeiro ponto a se destacar é a parte histórica. "A Vida dos Outros" se passa na época da Alemanha Oriental, governada por uma ditadura socialista, logo, nesse contexto, quaisquer questionamentos ao partido mandante ou a sua ideologia não seriam tolerados, o que leva as autoridades a exercerem um controle rígido sob os cidadãos, em especial aqueles considerados "suspeitos", passando por cima de noções de privacidade ou liberdade, que aqui inexistem. Sendo assim, este filme funciona, antes de tudo, como uma dura crítica a esse aspecto autoritário do Estado e às consequências dessa constante vigilância na vida das pessoas.
Inclusive, uma das grandes qualidades do filme é a forma como mostra esse momento histórico da sociedade alemã, provocando um estado de tensão no espectador sem, em qualquer momento, ter de recorrer, por exemplo, a cenas de violência física. O mero sentimento de estar constantemente vigiado (ou o de temer estar sendo vigiado) funciona como uma espécie de tortura aos personagens envolvidos, levando-os a uma constante luta para tentar sobreviver dentro desse sistema. Logo, a violência é psicológica e moral, não sendo aquela que leva à explosões de ódio, punhos e armas, mas sim ao suicídio lento e angustiante. É brutal e, de alguma forma, delicado e sutil ao mesmo tempo.
O segundo ponto do filme é exatamente o que remete a frase mencionada no início. Assim como Lênin quase abandonou sua causa por uma obra de Beethoven, vemos que a sensibilidade de Dreyman e de sua companheira Christa, e também a bela música tocada pelo escritor no piano, sensibilizam o duro coração do agente Wiesler, que passa a tentar ajudar, na medida do possível, as pessoas que ele foi encarregado de espionar. Dessa maneira, a história também aborda a forma como a arte pode mudar até mesmo as mais rígidas pessoas, direcionando-as a um outro caminho.
O ritmo pode ser um pouco lento em alguns momentos, mas é um filme que vale muito a pena assistir. Recomendado.
O Grande Golpe
4.1 236 Assista AgoraUm dos primeiros trabalhos do mestre Kubrick, "The Killing" é um filme que foge um pouco do estilo ao qual estamos acostumados no diretor, mas nem por isso deixa de apresentar tanta qualidade quanto outras das suas produções. Com um clima "noir" e uma trama objetiva, a história combina suspense, ação, ótimos diálogos e reviravoltas, que prendem a atenção do espectador, fazem o tempo passar rápido e tornam esta obra bem agradável de se assistir.
Depois de todos os esforços de Johny para elaborar o roubo de maneira meticulosa e executá-lo de forma precisa, eu devo ser sincero e afirmar que torci para ele conseguir sair com o dinheiro. Por outro lado, o final, embora não fosse o que eu queria, é bem interessante e irônico, mostrando-nos que podemos fazer inúmeros planos, mas, por mais detalhados e minuciosos que sejam, sempre podem terminar sendo vítimas de algo que não controlamos: o acaso.
Logo, mesmo sendo apenas um dos primeiros trabalhos do diretor e longe de ser uma de suas melhores películas, ainda assim é um filme muito bom de se acompanhar, com todos os elementos de uma boa história na medida certa. Recomendado.