Vale pela voz sublime de Diana Ross; Vale pela crítica ao Black face; Vale pela releitura positiva de referenciais da negritude; Mais uma vez, vale pelas interpretações apaixonantes de Diana Ross.
Filme representando drag de um modo extremamente caricato, estereotipado e miseravelmente sub-interpretado por héteros sem qualquer vínculo com a comunidade LGBT. As verdadeiras drags são relegadas à breves participações. Enfim, a cara dos anos 90... Contudo, o filme serve de entretenimento, sim, principalmente se for cotejado para considerar a evolução cinematográfica desse segmento social.
Impressionante como o filme condensa grandes dilemas e contradições da hodierna crise institucional em uma simples animação de enredo previsível. A espiral de violência do "nós contras eles, os diferentes" é esmiuçada através de metáforas com as mazelas do mundo moderno. Cercas e muros em favelas, "Build that wall" nos EUA, muralhas em invasões israelenses, discurso de ódio e aversão à alteridade, às outras formas de existência, armas de destruição em massa para "proteção"...
Fotografia imersiva; brindando os espectador com cenas de estética paradoxal, onde há maldade tétrica e beleza poética! Apesar da previsibilidade da narrativa, a história é surpreendentemente visceral. Menção honrosa à atuação apaixonante da “Capra“ (Maia Morgenstern).
Acredito que a intenção do autor ao apresentar dicotomias profundas era, precisamente, tensionar nossa bússola moral. De um lado, apresenta abusos sexuais perpetrados em uma instituição psiquiátrica total, de outro exibe esses abusos com atenuantes (consideração, convergência de desejos). Conduz o espectador ao ápice dicotômico diante da continuidade dessa espiral de abusos: o abusado se torna abusador, mas, por outro lado, o diretor justifica tais abusos romantizando e com a posterior mudança de posição -- a ora vítima se torna volitivamente interessada.
ADVERTÊNCIA: trata-se de um filme difícil por conta de diversas referências da mitologia grega e analogias mais complexas. Convém visitar o Podcast Noites Gregas do Professor Moreno e ouvir ao episódio que trata da Medusa -- sobretudo seu passado estreitamente ligado ao culto religioso, à pureza e ao seu destino cruel e injusto... Menção honrosa à personagem do enfermeiro; simplesmente trouxe às telas uma versão masculina da "mulher Machadiana". Negativamente, a miscelânea de histórias perpassadas por fantasia, confusão entre o real e o imaginário, atrapalham o todo da mensagem crítica da obra. Ademais, o apelo à suposta epifania geral parece assaz infundado, ou muito ancorado em elementos fantasiosos.
Tive a mesma impressão que outros espectadores: impressiona a habilidade da diretora para condensar a miscelânea de mazelas brasileiras em uma trama com núcleos muito bem concatenados. As analogias dramáticas entre "coisa de novela" e a tétrica realidade do trabalho análogo à escravidão tornam esta obra do cinema nacional ainda mais contemporânea -- o passado escravocrata do século xix ainda vive no moderno século XXI. Ademais, doloroso demais a materialização gráfica dos dados acerca do estupro no Brasil: sabe-se que ocorre no seio da família, mas e as crianças fruto dessa violência eivadas por anomalias neurológicas, problemas de desenvolvimento? Soluciona-se com internação manicomial e hipocrisia moral?
Um arauto do cinema! Assombroso o quanto uma história tétrica retratando o Irã se parece tanto com Ocidente! Este filme é a obra prima do diretor Ali Abbasi! A trilha sonora hipnotizante aliada à sonoplastia e à ambientação sombria nos transportam àquela realidade opressora. A crítica que este filme tece contra o regime teocrático e contra o patriarcalismo desarrazoados renderam-lhe banimento no Irã por “desonrar as crenças sagradas”; parece-me o Ocidente vociferando moralismo religioso na esfera política, condenando filmes LGBT e alimentando o mito “all lives matter”.
O filme Holy Spider foi baseado em fatos reais: na sagrada cidade iraniana Mashhad houve 16 assassinatos em série ocorridos entre 2000 e 2001, nos quais profissionais do sexo, mulheres, eram brutalmente estranguladas pelo serial killer “Aranha Assassina”. Mais aterrorizante do que a violência gráfica emoldurada nos enquadramentos impiedosos é evidenciar a ideologia que desumaniza outros corpos, num duelo brutal com a alteridade, em especial, com a diversidade.
Perturbador constatar como a ideologia fascista seduz pessoas comuns — “cidadãos de bem” — a cair numa espiral de violência que deslegitima a autoridade das instituições e do Estado em prol de suas crenças e narrativas. Mais aterrador ainda: matar o fascista não mata o fascismo; seu ideário tóxico pode facilmente contaminar aqueles ainda no verdor da idade… PS. A cena da entrevista com o filho do serial killer contém a reprodução fidedigna das palavras e gestos utilizados pelo menino na vida real.
Triangle of Sadness, de Ruben Östlund, levou a Palma de Ouro e certamente já merece um Oscar! Elitismo, parasitismo, racismo, papéis sociais, machismo, beligerância, poder e corrupção… Com brilhantismo, esta obra condensa de forma expositiva tantas mazelas sociais no microcosmo de um yacht de alto luxo. Desnuda com sarcasmo grandes contradições do sistema capitalista, trazendo à tona sua natureza desarrazoada. Sem apelo à linguagem narrativa de teorizações, este filme ilustra em nível atômico, fundamental, que o motor da sociedade consiste na capacidade de TRABALHAR em prol da coletividade. Contudo, se este é o elemento basilar que sustenta toda a estrutura social, por que manter relações de poder que premiam a inércia, a futilidade, o prevalecimento e a violência contra a própria sociedade?!
SUSPENSE e DRAMA formando amálgama perfeito neste filme -- de longe, uma das melhores adaptações da obra de Stephen King! Curioso observarmos que, embora o filme Dolores Claiborne tenha quase 30 anos, as mazelas sociais ali problematizadas ainda estão bem vívidas. Em suma, enquanto as telas de cinema revisitam religiosamente fábulas de super-heróis, o espectador mais afeito à realidade tangível pode encontrar refúgio aqui.
DRAMA -- O filme You won't be alone consiste em um DRAMA existencial cuja ambientação vale-se da atmosfera de terror através do folclore de bruxaria. Então não pense que se trata de um filme para dar medo ou instigar terror psicológico; a proposta ancora-se em uma reflexão poética sobre a condição humana, amor, gênero, propósito existencial. Estando aberto a essa narrativa, o espectador poderá facilmente traçar analogias entre questões da vida no século XIX e a manutenção destas no século XXI: o papel da mulher na sociedade; o suposto "dever-ser" puritano imposto à mulher; as liberdades do homem cis condicionadas ao machismo; como lidamos com a alteridade -- o outro enquanto nosso inferno, ou o outro enquanto possibilidade de significar nosso imanente vazio existencial...
O filme retrata muito bem dilemas existenciais da geração dita cringe realizada materialmente: o que fazer depois de se atingir o ápice do sucesso tangível? Será que precisamos de um amor romântico para dar propósito à vida? Será que uma vida de culto ao individualismo é suficiente, a despeito do vazio existencial? PS. Talvez isso ficasse mais evidente se em 2011 já houvesse Instagram e redes sociais promovendo ideais de sucesso/realização com a força atual (2022).
Perturbador sem apelar para agonia de ferimentos macabros, história bem construída com eventos bem encadeados. Olha, surpreendeu bastante para um filme do gênero slasher! No filme X, tem-se a metalinguagem sobre a realização de uma obra cinematográfica, além de invocar a analogia brilhante entre a realidade aparentemente abismal das personagens. De fato, vê-se o futuro repetir o passado...
Fotografia magnífica do barco que navegava pelo Nilo. Contudo, tenho certeza que os ouvintes assíduos do Podcast -- Não Inviabilize -- resolveram facilmente o mistério...
A Sétima Arte não fez ouvidos moucos à emergência climática como fora na patética COP 21. Vê-se que, ao ganhar recursos e espaço para criar e se expressar livremente, sem medo de desagradar autoridades e patrocinadores, o Cinema nos proporciona MUITO em matéria cultural! De longe, Não Olhe para Cima figura no estreito rol dos melhores filmes que assisti em 2021. Consiste-se em uma alegoria caricatural que retrata fielmente os tempos hodiernos:
1- ascensão do populismo de direita (bolsonarismo e trumpismo); 2- negacionismo (antivacina, conspiracionistas, anti-intelectualismo); 3- mediocridade dos veículos midiáticos na formação de opinião; 4- alienação massiva ( “POP issues”, “trends” estúpidas); 5- sedução por falácias e lendas urbanas neoliberais (grandes capitalistas mitigando as mazelas do mundo através da exploração do mercado); 6- o patético endeusamento da figura dos bilionários — como se riqueza obscena viesse necessariamente acompanhada de alto parâmetro cultural, intelectual e altruísmo digno de super-herói rico e filantropo; 7- Estados a serviço dos cerca de 0,00003% da população global (os bilionários), os quais cooptam todo o aparato da máquina pública estatal, incluindo a vontade nacional, e o utilizam para perpetuar a """lógica""" de acúmulo infinito; 8- a total leniência e indiferença das autoridades públicas frente à hodierna emergência climática (representada pelo cometa Debiasky) tornam ululantes a necessidade de mudanças estruturais nas instituições do Estado — mudanças pautadas na efetivação de políticas públicas que garantam a perpetuação da civilização e do próprio Estado a longo prazo. 9- frente às crises climáticas e catástrofes ambientais, o 1% mais rico do mundo pensa que conservará seus confortos e privilégios em meio às mazelas que se avizinham; permanecendo cruelmente indiferentes. Contudo, trata-se de ledo engano, somente os super-ricos e autoridades que vivem além das possibilidades certamente vão preservar suas prerrogativas como sempre fizeram — locupletando-se do aparelho estatal e, de forma perversa, explorando o trabalho alheio.
RE-CO-MEN-DA-DÍ-SSI-MO! O documentário conta com a direção incrível de Leandra Leal. Não é demandado do espectador a atenção aguçada e a solenidade que normalmente os documentários requerem. Esta obra costura diversas histórias de maneira fluida e vívida, de fato, Leandra Leal trouxe um pouco do gene do teatro para moldura cinematográfica.
Além da maravilhosa direção, o conteúdo do documentário consiste em recorte histórico importantíssimo. Em se tratando de transformismo, travestis, trans, todos já ouviram a suposta verdade -- "no meu tempo não tinha isso". Pois bem, Leandra Leal nos mostra o quanto tal afirmação é falaciosa. As divas, transformistas, travestis sempre existiram, mesmo "no tempo" dos nossos avós! Resistiram à rigorosa repressão da ditadura, ao preconceito, à indisposição dos veículos midiáticos, à escassez de espaço no mercado de trabalho e, principalmente, resistiram à INVISIBILIZAÇÃO. Divinamente, elas triunfaram com dignidade num mundo que as via como meros objetos de chacota, curiosidade e prazer.
En serio, Almodóvar?! Filme fraquíssimo, previsível; salvo pelo mistério da personagem de Milena Smit. Nesta obra, apesar de protagonista, Penélope simplesmente está dissolvida e blasé -- não é nenhuma figura irreverente, forte, dicotômica, enigmática.
O problema desta obra é a dependência profunda na fotografia grandiosa. o enredo mal explorado, marcado por incoerências e a falta de cadência dos movimentos narrativos tornam esse filme dispensável.
A obra The father explora muito mais do que o drama por trás das narrativas envolvendo demências graves do SNC. Consiste em um mergulho no quadro demencial SOB A PERSPECTIVA DO PACIENTE. O modo como os próprios movimentos narrativos, as personagens, os ambientes se dissolvem diante da natureza implacável da doença permitem experienciar o potencial destrutivo e angustiante por ela impingidos. . PS. Lembro-me de uma crítica do Dr. Drauzio Varella falando sobre o investimento pesado em pesquisa de procedimentos para aumento de mamas e alterações penianas. Drauzio alertava que se continuar nesse ritmo, teremos um mundo com boa parte da população idosa sem saber para que servem seios grandes e pênis grande...
Obra extremamente sensível sobre resiliência e sobre o enfrentamento constante de problemas quando se tem ruma relação baseada em cumplicidade e amor. Sabe quando uma "Cinderela" diz que quer ter um amor para viver em paz e sossegada para sempre, sugiro este filme como tratamento!
Um doce espetáculo em plena pandemia. Trata-se de um daqueles poucos filmes que superam nossas expectativas geradas no trailer. O figurino está inenarrável, deslumbrante, fantástico! A computação gráfica à criação dos cães nos desafia a descobrir quando estamos vendo um animal real e quando tem-se um computadorizado. Os movimentos narrativos do filme têm boa cadência e divertimento que prende o espectador.
Contudo, a trilha sonora tem seus ups and downs... O enredo se propõe a fugir das soluções mágicas, mas acaba caricato e teatral diante de narrativas forçosas.
O Mágico Inesquecível
3.4 61 Assista AgoraVale pela voz sublime de Diana Ross;
Vale pela crítica ao Black face;
Vale pela releitura positiva de referenciais da negritude;
Mais uma vez, vale pelas interpretações apaixonantes de Diana Ross.
Para Wong Foo, Obrigada Por Tudo! Julie Newmar
3.8 344 Assista AgoraFilme representando drag de um modo extremamente caricato, estereotipado e miseravelmente sub-interpretado por héteros sem qualquer vínculo com a comunidade LGBT. As verdadeiras drags são relegadas à breves participações. Enfim, a cara dos anos 90... Contudo, o filme serve de entretenimento, sim, principalmente se for cotejado para considerar a evolução cinematográfica desse segmento social.
Nimona
4.1 234 Assista AgoraImpressionante como o filme condensa grandes dilemas e contradições da hodierna crise institucional em uma simples animação de enredo previsível. A espiral de violência do "nós contras eles, os diferentes" é esmiuçada através de metáforas com as mazelas do mundo moderno. Cercas e muros em favelas, "Build that wall" nos EUA, muralhas em invasões israelenses, discurso de ódio e aversão à alteridade, às outras formas de existência, armas de destruição em massa para "proteção"...
The Goat and Her Three Kids
3.5 14Fotografia imersiva; brindando os espectador com cenas de estética paradoxal, onde há maldade tétrica e beleza poética! Apesar da previsibilidade da narrativa, a história é surpreendentemente visceral. Menção honrosa à atuação apaixonante da “Capra“ (Maia Morgenstern).
Ata-me!
3.7 550Acredito que a intenção do autor ao apresentar dicotomias profundas era, precisamente, tensionar nossa bússola moral. De um lado, apresenta abusos sexuais perpetrados em uma instituição psiquiátrica total, de outro exibe esses abusos com atenuantes (consideração, convergência de desejos). Conduz o espectador ao ápice dicotômico diante da continuidade dessa espiral de abusos: o abusado se torna abusador, mas, por outro lado, o diretor justifica tais abusos romantizando e com a posterior mudança de posição -- a ora vítima se torna volitivamente interessada.
Medusa
3.4 52 Assista AgoraADVERTÊNCIA: trata-se de um filme difícil por conta de diversas referências da mitologia grega e analogias mais complexas. Convém visitar o Podcast Noites Gregas do Professor Moreno e ouvir ao episódio que trata da Medusa -- sobretudo seu passado estreitamente ligado ao culto religioso, à pureza e ao seu destino cruel e injusto...
Menção honrosa à personagem do enfermeiro; simplesmente trouxe às telas uma versão masculina da "mulher Machadiana".
Negativamente, a miscelânea de histórias perpassadas por fantasia, confusão entre o real e o imaginário, atrapalham o todo da mensagem crítica da obra. Ademais, o apelo à suposta epifania geral parece assaz infundado, ou muito ancorado em elementos fantasiosos.
Fogaréu
3.4 22Tive a mesma impressão que outros espectadores: impressiona a habilidade da diretora para condensar a miscelânea de mazelas brasileiras em uma trama com núcleos muito bem concatenados. As analogias dramáticas entre "coisa de novela" e a tétrica realidade do trabalho análogo à escravidão tornam esta obra do cinema nacional ainda mais contemporânea -- o passado escravocrata do século xix ainda vive no moderno século XXI. Ademais, doloroso demais a materialização gráfica dos dados acerca do estupro no Brasil: sabe-se que ocorre no seio da família, mas e as crianças fruto dessa violência eivadas por anomalias neurológicas, problemas de desenvolvimento? Soluciona-se com internação manicomial e hipocrisia moral?
Holy Spider
4.0 127 Assista AgoraUm arauto do cinema! Assombroso o quanto uma história tétrica retratando o Irã se parece tanto com Ocidente! Este filme é a obra prima do diretor Ali Abbasi! A trilha sonora hipnotizante aliada à sonoplastia e à ambientação sombria nos transportam àquela realidade opressora. A crítica que este filme tece contra o regime teocrático e contra o patriarcalismo desarrazoados renderam-lhe banimento no Irã por “desonrar as crenças sagradas”; parece-me o Ocidente vociferando moralismo religioso na esfera política, condenando filmes LGBT e alimentando o mito “all lives matter”.
O filme Holy Spider foi baseado em fatos reais: na sagrada cidade iraniana Mashhad houve 16 assassinatos em série ocorridos entre 2000 e 2001, nos quais profissionais do sexo, mulheres, eram brutalmente estranguladas pelo serial killer “Aranha Assassina”. Mais aterrorizante do que a violência gráfica emoldurada nos enquadramentos impiedosos é evidenciar a ideologia que desumaniza outros corpos, num duelo brutal com a alteridade, em especial, com a diversidade.
Perturbador constatar como a ideologia fascista seduz pessoas comuns — “cidadãos de bem” — a cair numa espiral de violência que deslegitima a autoridade das instituições e do Estado em prol de suas crenças e narrativas. Mais aterrador ainda: matar o fascista não mata o fascismo; seu ideário tóxico pode facilmente contaminar aqueles ainda no verdor da idade…
PS. A cena da entrevista com o filho do serial killer contém a reprodução fidedigna das palavras e gestos utilizados pelo menino na vida real.
Triângulo da Tristeza
3.6 730 Assista AgoraTriangle of Sadness, de Ruben Östlund, levou a Palma de Ouro e certamente já merece um Oscar! Elitismo, parasitismo, racismo, papéis sociais, machismo, beligerância, poder e corrupção… Com brilhantismo, esta obra condensa de forma expositiva tantas mazelas sociais no microcosmo de um yacht de alto luxo. Desnuda com sarcasmo grandes contradições do sistema capitalista, trazendo à tona sua natureza desarrazoada. Sem apelo à linguagem narrativa de teorizações, este filme ilustra em nível atômico, fundamental, que o motor da sociedade consiste na capacidade de TRABALHAR em prol da coletividade. Contudo, se este é o elemento basilar que sustenta toda a estrutura social, por que manter relações de poder que premiam a inércia, a futilidade, o prevalecimento e a violência contra a própria sociedade?!
Eclipse Total
4.0 183 Assista AgoraSUSPENSE e DRAMA formando amálgama perfeito neste filme -- de longe, uma das melhores adaptações da obra de Stephen King! Curioso observarmos que, embora o filme Dolores Claiborne tenha quase 30 anos, as mazelas sociais ali problematizadas ainda estão bem vívidas. Em suma, enquanto as telas de cinema revisitam religiosamente fábulas de super-heróis, o espectador mais afeito à realidade tangível pode encontrar refúgio aqui.
Você Não Estará Só
3.6 126 Assista AgoraDRAMA -- O filme You won't be alone consiste em um DRAMA existencial cuja ambientação vale-se da atmosfera de terror através do folclore de bruxaria. Então não pense que se trata de um filme para dar medo ou instigar terror psicológico; a proposta ancora-se em uma reflexão poética sobre a condição humana, amor, gênero, propósito existencial. Estando aberto a essa narrativa, o espectador poderá facilmente traçar analogias entre questões da vida no século XIX e a manutenção destas no século XXI: o papel da mulher na sociedade; o suposto "dever-ser" puritano imposto à mulher; as liberdades do homem cis condicionadas ao machismo; como lidamos com a alteridade -- o outro enquanto nosso inferno, ou o outro enquanto possibilidade de significar nosso imanente vazio existencial...
Jovens Adultos
3.0 874 Assista AgoraO filme retrata muito bem dilemas existenciais da geração dita cringe realizada materialmente: o que fazer depois de se atingir o ápice do sucesso tangível? Será que precisamos de um amor romântico para dar propósito à vida? Será que uma vida de culto ao individualismo é suficiente, a despeito do vazio existencial?
PS. Talvez isso ficasse mais evidente se em 2011 já houvesse Instagram e redes sociais promovendo ideais de sucesso/realização com a força atual (2022).
X: A Marca da Morte
3.4 1,2K Assista AgoraPerturbador sem apelar para agonia de ferimentos macabros, história bem construída com eventos bem encadeados. Olha, surpreendeu bastante para um filme do gênero slasher! No filme X, tem-se a metalinguagem sobre a realização de uma obra cinematográfica, além de invocar a analogia brilhante entre a realidade aparentemente abismal das personagens. De fato, vê-se o futuro repetir o passado...
Morte no Nilo
3.1 353 Assista AgoraFotografia magnífica do barco que navegava pelo Nilo. Contudo, tenho certeza que os ouvintes assíduos do Podcast -- Não Inviabilize -- resolveram facilmente o mistério...
Não Olhe para Cima
3.7 1,9K Assista AgoraA Sétima Arte não fez ouvidos moucos à emergência climática como fora na patética COP 21. Vê-se que, ao ganhar recursos e espaço para criar e se expressar livremente, sem medo de desagradar autoridades e patrocinadores, o Cinema nos proporciona MUITO em matéria cultural!
De longe, Não Olhe para Cima figura no estreito rol dos melhores filmes que assisti em 2021. Consiste-se em uma alegoria caricatural que retrata fielmente os tempos hodiernos:
1- ascensão do populismo de direita (bolsonarismo e trumpismo);
2- negacionismo (antivacina, conspiracionistas, anti-intelectualismo);
3- mediocridade dos veículos midiáticos na formação de opinião;
4- alienação massiva ( “POP issues”, “trends” estúpidas);
5- sedução por falácias e lendas urbanas neoliberais (grandes capitalistas mitigando as mazelas do mundo através da exploração do mercado);
6- o patético endeusamento da figura dos bilionários — como se riqueza obscena viesse necessariamente acompanhada de alto parâmetro cultural, intelectual e altruísmo digno de super-herói rico e filantropo;
7- Estados a serviço dos cerca de 0,00003% da população global (os bilionários), os quais cooptam todo o aparato da máquina pública estatal, incluindo a vontade nacional, e o utilizam para perpetuar a """lógica""" de acúmulo infinito;
8- a total leniência e indiferença das autoridades públicas frente à hodierna emergência climática (representada pelo cometa Debiasky) tornam ululantes a necessidade de mudanças estruturais nas instituições do Estado — mudanças pautadas na efetivação de políticas públicas que garantam a perpetuação da civilização e do próprio Estado a longo prazo.
9- frente às crises climáticas e catástrofes ambientais, o 1% mais rico do mundo pensa que conservará seus confortos e privilégios em meio às mazelas que se avizinham; permanecendo cruelmente indiferentes. Contudo, trata-se de ledo engano, somente os super-ricos e autoridades que vivem além das possibilidades certamente vão preservar suas prerrogativas como sempre fizeram — locupletando-se do aparelho estatal e, de forma perversa, explorando o trabalho alheio.
Divinas Divas
4.3 133 Assista AgoraRE-CO-MEN-DA-DÍ-SSI-MO! O documentário conta com a direção incrível de Leandra Leal. Não é demandado do espectador a atenção aguçada e a solenidade que normalmente os documentários requerem. Esta obra costura diversas histórias de maneira fluida e vívida, de fato, Leandra Leal trouxe um pouco do gene do teatro para moldura cinematográfica.
Além da maravilhosa direção, o conteúdo do documentário consiste em recorte histórico importantíssimo. Em se tratando de transformismo, travestis, trans, todos já ouviram a suposta verdade -- "no meu tempo não tinha isso". Pois bem, Leandra Leal nos mostra o quanto tal afirmação é falaciosa. As divas, transformistas, travestis sempre existiram, mesmo "no tempo" dos nossos avós! Resistiram à rigorosa repressão da ditadura, ao preconceito, à indisposição dos veículos midiáticos, à escassez de espaço no mercado de trabalho e, principalmente, resistiram à INVISIBILIZAÇÃO. Divinamente, elas triunfaram com dignidade num mundo que as via como meros objetos de chacota, curiosidade e prazer.
Mães Paralelas
3.7 411En serio, Almodóvar?! Filme fraquíssimo, previsível; salvo pelo mistério da personagem de Milena Smit. Nesta obra, apesar de protagonista, Penélope simplesmente está dissolvida e blasé -- não é nenhuma figura irreverente, forte, dicotômica, enigmática.
A Médium
3.4 344 Assista AgoraLIXO: impressionado com minha resiliência para assistir esse lixo do início ao fim.
A Lenda do Cavaleiro Verde
3.6 475 Assista AgoraO problema desta obra é a dependência profunda na fotografia grandiosa. o enredo mal explorado, marcado por incoerências e a falta de cadência dos movimentos narrativos tornam esse filme dispensável.
O-Bi, O-Ba: O Fim da Civilização
3.7 18Dispensável
Mulheres do Século XX
4.0 415 Assista AgoraSuperestimado e Blasé -_-
Meu Pai
4.4 1,2K Assista AgoraA obra The father explora muito mais do que o drama por trás das narrativas envolvendo demências graves do SNC. Consiste em um mergulho no quadro demencial SOB A PERSPECTIVA DO PACIENTE. O modo como os próprios movimentos narrativos, as personagens, os ambientes se dissolvem diante da natureza implacável da doença permitem experienciar o potencial destrutivo e angustiante por ela impingidos.
.
PS. Lembro-me de uma crítica do Dr. Drauzio Varella falando sobre o investimento pesado em pesquisa de procedimentos para aumento de mamas e alterações penianas. Drauzio alertava que se continuar nesse ritmo, teremos um mundo com boa parte da população idosa sem saber para que servem seios grandes e pênis grande...
Minari - Em Busca da Felicidade
3.9 553 Assista AgoraObra extremamente sensível sobre resiliência e sobre o enfrentamento constante de problemas quando se tem ruma relação baseada em cumplicidade e amor. Sabe quando uma "Cinderela" diz que quer ter um amor para viver em paz e sossegada para sempre, sugiro este filme como tratamento!
Cruella
4.0 1,4K Assista AgoraUm doce espetáculo em plena pandemia. Trata-se de um daqueles poucos filmes que superam nossas expectativas geradas no trailer. O figurino está inenarrável, deslumbrante, fantástico! A computação gráfica à criação dos cães nos desafia a descobrir quando estamos vendo um animal real e quando tem-se um computadorizado. Os movimentos narrativos do filme têm boa cadência e divertimento que prende o espectador.
Contudo, a trilha sonora tem seus ups and downs... O enredo se propõe a fugir das soluções mágicas, mas acaba caricato e teatral diante de narrativas forçosas.