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Aquarius
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Aquarius é um filme de resistência, de afirmação da memória. O plot já deixa isso incontestável: Clara, uma muher que, frente a uma força coercitiva que demanda modernização, se recusa a abrir mão do que o Edífico Aquarius representa tanto para a memória do Recife, quanto como documento de suas próprias memórias de vida. E isso acontece em meio a elementos narrativos que evocam algumas intrigantes nuances das relações sociais (de nepotismo e provincianismo, a orgias e igrejas) exclusivas da realidade brasileira, fazendo desse filme uma obra ao mesmo tempo nostálgica e absurdamente atual.
Porém, apesar do plot bem desenvolvido e bem aparado, a verdadeira mágica que o cinema proporciona está justamente nas entelinhas, no "dizer sem dizer". E olhando para além do que é dito, mas também para como tudo é filmado e a forma que essa obra assume, é aí que as peculiaridades de Aquarius emergem.
Aquarius é a história de uma mulher e um prédio, ambos querendo existir, se afirmar. E a existência de um está invariavelmente condicionada à existência do outro. Sem Clara, o edifício vai ao chão para dar lugar a um condomínio de luxo e ser apagado do Recife, e sem o apartamento, Clara deixa morrer um grande pedaço de si, no que diz respeito às décadas de memórias pessoais que o prédio carrega consigo.
Portanto, não é por acaso que Kléber Mendonça Filho, com seus movimentos de câmera já consagrados como uma assinatura, alterna pontos de vista, nos botando para ver com os olhos de Clara, mas também nos fazendo enxergar o que o próprio prédio vê, como se suas paredes e corredores tivessem olhos próprios. E não apenas é o prédio um confidente de seus residentes - as paredes abarrotadas de discos e livros, a cômoda que guardou segredos por gerações, em um simbolismo memorável - mas um confidente que dialoga com Clara e revela
, em um sonho, o "câncer" silencioso que se espalha por suas paredes, evocando uma memória que traz de volta à tona o câncer dela. Um pedido de socorro, atendido com a extirpação e devolução do tumor cultivado lá.
Talvez seja até irônico que essa sublime homenagem ao velho (ou vintage) venha ainda no segundo longa de um diretor que, por mais experiência e técnica apurada que tenha, faz parte de um movimento emergente, que aos poucos muda a cara e finalmente dá personalidade ao Cinema Brasileiro.
E ironia por ironia, Aquarius já transcende a própria ode à memória contida no enredo. Ao se dedicar tanto ao subtexto, à interpretação de imagens pelo espectador e ao não-verbal - em um momento em que o Cinema caminha para cada vez mais verbalizar, levar tudo direto ao ponto; o filme torna-se, em um plano metalinguístico, uma obra de resistência da verdadeira linguagem do Cinema, que diz tudo sem precisar necessariamente dizer nada (não diretamente, ao menos).
Por Aquarius, e pelo que Kleber Mendonça Filho e seus conterrâneos têm feito, digo: o Cinema Brasileiro respira!
Últimos recados
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Filmow
O Oscar 2017 está logo aí e teremos o nosso tradicional BOLÃO DO OSCAR FILMOW!
Serão 3 vencedores no Bolão com prêmios da loja Chico Rei para os três participantes que mais acertarem nas categorias da premiação. (O 1º lugar vai ganhar um kit da Chico Rei com 01 camiseta + 01 caneca + 01 almofada; o 2º lugar 01 camiseta da Chico Rei; e o 3º lugar 01 almofada da Chico Rei.)
Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
Boa sorte! :)* Lembrando que faremos uma transmissão ao vivo via Facebook e Youtube da Casa Filmow na noite da cerimônia, dia 26 de fevereiro. Confirme presença no evento https://www.facebook.com/events/250416102068445/
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Tayná
deus do cinema
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Poltrona Numerada
você já leu um filme hoje?
Irônico como o filme, apesar de bem desenvolvido, cai no prenúncio do próprio título - é uma revolução pela metade, que busca trazer a linguagem desenvolvida por Godard em La Chinoise, mas não se preocupa em transformar essa linguagem para ser usada hoje, quase 50 anos depois daquele prelúdio do Maio de 68. O resultado: uma estréia mundial onde metade do público deixou a sala de cinema, e o que mais se escutava eram poltronas se fechando e portas se abrindo.