Irônico como o filme, apesar de bem desenvolvido, cai no prenúncio do próprio título - é uma revolução pela metade, que busca trazer a linguagem desenvolvida por Godard em La Chinoise, mas não se preocupa em transformar essa linguagem para ser usada hoje, quase 50 anos depois daquele prelúdio do Maio de 68. O resultado: uma estréia mundial onde metade do público deixou a sala de cinema, e o que mais se escutava eram poltronas se fechando e portas se abrindo.
Aquarius é um filme de resistência, de afirmação da memória. O plot já deixa isso incontestável: Clara, uma muher que, frente a uma força coercitiva que demanda modernização, se recusa a abrir mão do que o Edífico Aquarius representa tanto para a memória do Recife, quanto como documento de suas próprias memórias de vida. E isso acontece em meio a elementos narrativos que evocam algumas intrigantes nuances das relações sociais (de nepotismo e provincianismo, a orgias e igrejas) exclusivas da realidade brasileira, fazendo desse filme uma obra ao mesmo tempo nostálgica e absurdamente atual.
Porém, apesar do plot bem desenvolvido e bem aparado, a verdadeira mágica que o cinema proporciona está justamente nas entelinhas, no "dizer sem dizer". E olhando para além do que é dito, mas também para como tudo é filmado e a forma que essa obra assume, é aí que as peculiaridades de Aquarius emergem.
Aquarius é a história de uma mulher e um prédio, ambos querendo existir, se afirmar. E a existência de um está invariavelmente condicionada à existência do outro. Sem Clara, o edifício vai ao chão para dar lugar a um condomínio de luxo e ser apagado do Recife, e sem o apartamento, Clara deixa morrer um grande pedaço de si, no que diz respeito às décadas de memórias pessoais que o prédio carrega consigo.
Portanto, não é por acaso que Kléber Mendonça Filho, com seus movimentos de câmera já consagrados como uma assinatura, alterna pontos de vista, nos botando para ver com os olhos de Clara, mas também nos fazendo enxergar o que o próprio prédio vê, como se suas paredes e corredores tivessem olhos próprios. E não apenas é o prédio um confidente de seus residentes - as paredes abarrotadas de discos e livros, a cômoda que guardou segredos por gerações, em um simbolismo memorável - mas um confidente que dialoga com Clara e revela
, em um sonho, o "câncer" silencioso que se espalha por suas paredes, evocando uma memória que traz de volta à tona o câncer dela. Um pedido de socorro, atendido com a extirpação e devolução do tumor cultivado lá.
Talvez seja até irônico que essa sublime homenagem ao velho (ou vintage) venha ainda no segundo longa de um diretor que, por mais experiência e técnica apurada que tenha, faz parte de um movimento emergente, que aos poucos muda a cara e finalmente dá personalidade ao Cinema Brasileiro.
E ironia por ironia, Aquarius já transcende a própria ode à memória contida no enredo. Ao se dedicar tanto ao subtexto, à interpretação de imagens pelo espectador e ao não-verbal - em um momento em que o Cinema caminha para cada vez mais verbalizar, levar tudo direto ao ponto; o filme torna-se, em um plano metalinguístico, uma obra de resistência da verdadeira linguagem do Cinema, que diz tudo sem precisar necessariamente dizer nada (não diretamente, ao menos).
Por Aquarius, e pelo que Kleber Mendonça Filho e seus conterrâneos têm feito, digo: o Cinema Brasileiro respira!
Um filme bem fraco mesmo, que só faz aumentar minha apatia pela maioria dos musicais. Apesar de ser interessante ver o Tom Hardy com um estilo completamente diferente de atuação, não sei se isso por si só compensa assistir o filme, visto o pouco tempo de tela dele.
Mudou não apenas o nome, como também o estilo da franquia. Jurassic World perdeu quase toda a pegada de suspense e tensão dos anteriores, e se apresentou como um filme mais leve e descontraído, talvez embarcando um pouco no estilo bem sucedido da Marvel. E como alguém que passou a infância fascinado justamente por essa tensão desenvolvida no Jurassic Park original, confesso que me decepcionei um pouco. Porém, igualmente como alguém que tem o primeiro Jurassic Park como filme mais marcante da infância, posso dizer que as referências deixadas compensaram por tudo.
(Como o ovo chocando na primeira cena, o retorno do Mr. DNA, a cabra alimentando o T-Rex, o saguão abandonado do antigo parque, a faixa que vemos caindo no final do primeiro filme, os jipes e os óculos de visão noturna, o sinalizador chamando o T-Rex... São tantas referências!)
E cá entre nós, na cena quando o helicóptero pousava e começou a tocar o tema original de John Williams, me senti novamente como aquele garoto de 6 anos que assistia seu VHS de Jurassic Park semana sim, semana não.
Uma das melhores críticas que já vi ao tradicionalismo exacerbado e à sociedade patriarcal. Apesar de realizada em tempos passados e retratar uma sociedade bastante diferente, certamente se aplica também a certos segmentos sociedade brasileira de hoje. Uma Obra-Prima.
O filme é bom, porém apenas isso - ficou muito aquém da perfeição. E isso pode ser explicado de forma bem objetiva:
Se tomarmos por liberdade criativa as poucas tentativas de criar teorias ainda inexplicadas para a ciência dentre outros tantos elementos bem críveis, pode-se dizer que o roteiro tinha uma premissa bem interessante, além de um bom embasamento. O problema é que esse roteiro se perdeu ao jogar informações demais (não apenas teorias científicas), deixando tudo um pouco vago e sub-explorado. Dentre as questões ambientais, as teorias científicas e fictícias, os conflitos internos dos personagens que foram e os que ficaram, a busca por uma resposta na terra, e os acontecimentos da própria viagem, o filme não teve um foco - e isso é uma falha de roteiro. E isso tudo sem mencionar aquela velha mania do Nolan de subestimar a capacidade de entendimento dos espectadores e transformar boa parte dos diálogos em verdadeiros seminários para deixar tudo bem simples e explicitamente inteligível, tirando a oportunidade de cada um imergir no contexto do filme de forma autônoma e espontânea.
Por falar no diretor, minha opinião é de que as principais falhas do filme advêm sobretudo das limitações de Nolan. Ele não é um grande diretor simplesmente porque lhe faltam duas qualidades que todo gênio do cinema possuem: Sensibilidade e Sutileza. A falta de sensibilidade fica evidente ao analisar a maneira como ele retrata os sentimentos e as relações entre os personagens, constatando sua incapacidade de colocar em tela sentimentos genuínos e de inspirar os espectadores - o que também foi um problema em Interestelar, apesar de alguns lampejos da enorme sensibilidade e capacidade de atuação de Matthew McConaughey. De resto, tudo é tão frio e artificial que é na inteligência artificial e personalidade dos robôs que estão os pontos fortes da caracterização de personagens.
Já a falta de sutileza, foi demonstrada no filme através da forma com que o diretor apresentou os "plot twists" do filme, por assim dizer. Por mais interessantes que sejam, Nolan deixou pistas muito fáceis de serem lidas, e não soube apagar os rastros que levavam aos acontecimentos que deveriam ser inesperados, mas que para um espectador atento já estavam desvendados na metade do filme. Fica de exemplo
a contradição da mensagem STAY enviada pelos mesmos que mandaram as coordenadas na estante, a conversa sobre "um pai ser o fantasma dos próprios filhos" e o close no relógio defeituoso deixado pelo pai no momento em que a filha pensa sobre o "fantasma"; que me fizeram prever o final (talvez não nos mínimos detalhes) muito antes.
Contudo, apesar de todas as falhas apresentadas, também é necessário creditar devidamente os méritos do filme. Tecnicamente falando, Interestelar é uma obra muito bem executada. A fotografia, devo dizer, me impressionou bastante. A utilização de reflexos na câmera nos espectros de azul e vermelho para indicar os movimentos de afastamento e aproximação deixou tudo muito realista. A serenidade e simplicidade passadas nas cenas da fazenda em contraponto ao vazio retratado nos takes no espaço e nos closes agonizantes no final são dignos de premiação, mesmo que um remonte ao estilo de Terrence Malick e o outro tenha claramente bebido da fonte de 2001, porém sem o perfeccionismo de Kubrick. A trilha sonora também compõe um elemento fundamental na dinâmica do filme, esta baseada nos tons de ambiência do próprio 2001 e em algumas partes de Watchmen.
A influência de 2001, por sinal, é tão evidente que foi feita até uma homenagem à Obra-Prima de Kubrick no formato dos robôs. Para os fãs, foi uma boa surpresa ver que esses robôs eram nada menos que versões super-evoluídas do conceito de inteligência artificial com personalidade (devo admitir, um toque genial como nunca tinha visto) apresentado em HAL-2000, só que no formato de Monolitos - De certo o detalhe de que mais gostei.
Por fim, avalio Interestelar um filme que tinha todos os elementos -menos o diretor - para ser o filme do ano ou o filme da década, como alguns andam dizendo. Porém, não o foi. Podemos olhar para o que ele poderia ter sido e lamentar, ou nos contentar com a obra apenas boa que realmente foi.
Como todos os filmes da parceria Wright/Pegg/Frost, contém aquele humor britânico de primeira, em meio a sequências bem produzidas. Os personagens também se apresentaram bem desenvolvidos, talvez até sob uma ótica um pouco menos nonsense que os dos filmes anteriores. A produção começou entregando tudo o que era esperado, porém desandou em algum ponto próximo ao último quarto de exibição, culminando em um final repentino que, devo admitir, me decepcionou um pouco. Contudo, não deixa de ser um bom filme, importante para quem é fã do trio. Apesar de não apresentar a qualidade que esses caras já mostraram ser capazes de proporcionar.
Confuso, cansativo e inexpressivo. São três adjetivos que descrevem muito bem esse filme. Uma tentativa desesperada de repetir o sucesso que havia conseguido vendendo um filme legal (mas nem tão bom) como forte candidato a Oscar, vinda de um diretor ainda muito distante da consagração, mesmo na academia. Tudo em Trapaça parece artificial, da aparência caricata e comportamento inconstante dos personagens, até as improváveis situações que se apresentam no desenrolar da trama. E não bastasse isso, teve uma ridícula tentativa de se apropriar do estilo desenvolvido por Scorsese em Goodfellas e Casino, misturando a narrativa com a trilha sonora que, apesar de boa, foi colocada de uma forma que só faz contribuir para deixar o filme ainda mais confuso e tirar o que seria talvez poderia ter sido o único mérito do filme pela originalidade técnica. Uma pena ver atores com potencial desgastando a imagem e perdendo tempo em uma produção dessas...
Bergman conseguiu brilhantemente usar a musicalidade para ditar o ritmo dos diferentes momentos pelos quais a trama passou, de tal forma que a música presente no filme se apresentou quase como um novo personagem. Genial!
Talvez quase tão sofrível quanto a guerra em si, é o período imediatamente posterior à ela; de reconstrução em meio à miséria e à moral de um povo destruída como todo o país. E esse ponto Rossellini conseguiu expressar magistralmente, sob uma ótica bem interessante: a infantil. Em tempos tão difíceis, crianças precisam se tornar adultos sem dispor do tempo necessário para tal. E o resultado disso são casos como o de Edmund. Sobre o filme: uma Obra-prima.
É muito bom poder ver Scorsese voltar à velha fórmula de Goodfellas e Casino. Algo que sempre gostei foi essa forma de contar histórias, mesclando a narrativa em 1ª pessoa do(s) próprio(s) protagonista(s) com excertos da trilha sonora (que nesse filme apresentou algumas pérolas do Blues) de muito bom gosto do diretor. E se "Wolf of Wall Street" não apresenta um argumento sequer perto de ser chamado de inédito, o que vale o ingresso é o fato de que agora essa velha história, do corretor fraudulento que passa a ganhar a vida com palestras depois de preso, passa a ser contada por alguém que sabe exatamente como fazê-lo. E se Scorsese sabe contar uma história é porque sabe muito bem como orientar seus atores. E isso só se reafirma nessa obra. É só pegar o exemplo do Jonah Hill, um ator cujos únicos bons papéis vinham de comédias em que ele interpretava algum adolescente, que se supera interpretando extraordinariamente seu papel neste filme, chegando a lembrar em alguns momentos um certo Joe Pesci não apenas por sua posição de coadjuvante, mas também na própria fala. Não bastasse tudo o que já disse aqui, ainda tem a cena que resume todo o filme e mostra a feroz crítica de Scorsese aos figurões de Wall Street: A cena dos Quaaludes Lemmon. Ao mostrar Jordan e Danny rastejando como vermes, cada qual tentando passar por cima do outro; um se empanturrando de comida enquanto o outro buscava na cocaína um equivalente ao espinafre do Popeye; Scorsese conseguiu expor a verdadeira natureza de Wall Street, assim como a ironia no discurso de Jordan Belfort, que muitos acreditaram equivocadamente ser apoiado pelo diretor. Essa obra pode até não merecer ganhar o Oscar de melhor filme, mas merece estar na briga, assim como briga com The Departed pelo título de melhor filme do Scorsese pós-anos 90, pelo menos na minha humilde e leiga opinião.
Um homem que, após 2 décadas preso, resolve voltar à prisão após as pressões, o preconceito, e as decepções que a "sociedade livre" o impõem. Não apenas a grande ironia do filme, isto talvez seja o alerta de Rossellini contra a apatia e a fragilidade moral das relações sociais de sua época, que apenas se intensificaram até a atualidade.
Mais uma obra que reflete a efervescência política e cultural que partiu da juventude e tomou o mundo em 1968. Este, diferente de outros filmes, usa um caso alegórico para mostrar as origens das ideias revolucionárias da época. Afinal, o que seria a escola em questão (militarizada, hierarquizada e catequista) para estes jovens, senão uma representação da repressão e censura exercida pelo restante da sociedade?
Não existe apenas um, mas alguns pontos que não me permitem gostar deste filme. Porém, o que realmente merece ser destacado dentre vários pequenos detalhes é talvez sua falha mais grave e uma heresia para com a obra original: Em meio a tantas tentativas de inovar, ousar e modernizar a maneira com que o filme se apresenta, ficou impossível de caracterizar lugar e época em que trama se passa. É como se tudo que envolve a trama tivesse sido transportado da New York e seu subúrbio do começo dos anos 20, para um lugar e época aparentemente indefinidos. E se tratando da obra em questão, isto é uma falha gravíssima.
O filme realmente não chega aos pés de 2001 ou de Laranja Mecânica, mas ainda assim, é um Kubrick... Trama bem amarrada e técnica perfeccionista, como não poderia deixar de ser.
Alguém ainda tem dúvidas de onde Scorsese tirou inspiração pra fotografia de Raging Bull?
Chabrol bebeu bastante da fonte de Hitchcock, mas ainda assim conseguiu acrescentar seus próprios traços para fazer desta obra única. E isso, claro, com uma grande ajuda da atuação impecável de Sylvia Kristel.
Excelente. Lembra bastante a Nouvelle Vague, tanto na estética quanto na temática. E eu, como grande fã do movimento, gostei muito de ver um filme recente resgatar esses aspectos. Nas cenas da praia, inevitavelmente me lembrei do final de Os Incompreendidos de Truffaut (com Doinel finalmente encontrando o mar). Fora isso, outro fator que me prendeu bastante foi a peculiaridade dos personagens, como um retrato caricato da vida moderna mostrando cada um indiferente por fora, porém aterrorizados por seus dramas internos (sejam grandes ou pequenos) por dentro. Dei 5 estrelas sem pensar duas vezes.
Uma das características que sempre me atraíram na Nouvelle Vague é a forma com que o filme convida o espectador a imergir na atmosfera da obra, de forma que aquele conseguir de fato essa imersão irá, consequentemente, absorver os sentimentos dos personagens. E este filme em particular corrobora com esta visão. A inconstância de Catherine proporcionou em mim diversas reações bem distintas ao longo do filme. Em determinados momentos, esperava um desfecho positivo com Jules. Em outros, com Jim. Até que, quando toda essa inconstância ficou cansativa demais, até mesmo para a própria personagem, acontece o desfecho definitivo. Um filme excelente, perfeito para não decepcionar os admiradores da Nouvelle Vague.
Fiquei bastante intrigado com o uso de uma referência (muito pertinente no contexto em que foi inserida) à "Santa Ceia" na cena dos preparativos para o atentado. É de um simbolismo sem igual, principalmente tratando-se do uso de uma religião que teoricamente não tem muita conexão com o conflito representado...
Acho que a cara que deram ao filme não combinou muito com a trama do mesmo, e raramente era perceptível que se tratava de uma obra ambientada nos anos 40. Realmente esperava um filme flertando bem mais com o gênero Noir, e não esse aspirante a blockbuster que, apesar de bem produzido, pra mim deixou a desejar.
Como já era esperado, o filme vem carregado daquele patriotismo americano que já passou todos os limites do clichê. Mas apesar disso, a obra é muito bem produzida e só cabem aplausos a Daniel Day-Lewis e Sally Field. Cumpriu com tudo o que prometia e se esperava.
Those Who Make Revolution Halfway Only Dig Their Own Graves
3.8 1Irônico como o filme, apesar de bem desenvolvido, cai no prenúncio do próprio título - é uma revolução pela metade, que busca trazer a linguagem desenvolvida por Godard em La Chinoise, mas não se preocupa em transformar essa linguagem para ser usada hoje, quase 50 anos depois daquele prelúdio do Maio de 68. O resultado: uma estréia mundial onde metade do público deixou a sala de cinema, e o que mais se escutava eram poltronas se fechando e portas se abrindo.
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraAquarius é um filme de resistência, de afirmação da memória. O plot já deixa isso incontestável: Clara, uma muher que, frente a uma força coercitiva que demanda modernização, se recusa a abrir mão do que o Edífico Aquarius representa tanto para a memória do Recife, quanto como documento de suas próprias memórias de vida. E isso acontece em meio a elementos narrativos que evocam algumas intrigantes nuances das relações sociais (de nepotismo e provincianismo, a orgias e igrejas) exclusivas da realidade brasileira, fazendo desse filme uma obra ao mesmo tempo nostálgica e absurdamente atual.
Porém, apesar do plot bem desenvolvido e bem aparado, a verdadeira mágica que o cinema proporciona está justamente nas entelinhas, no "dizer sem dizer". E olhando para além do que é dito, mas também para como tudo é filmado e a forma que essa obra assume, é aí que as peculiaridades de Aquarius emergem.
Aquarius é a história de uma mulher e um prédio, ambos querendo existir, se afirmar. E a existência de um está invariavelmente condicionada à existência do outro. Sem Clara, o edifício vai ao chão para dar lugar a um condomínio de luxo e ser apagado do Recife, e sem o apartamento, Clara deixa morrer um grande pedaço de si, no que diz respeito às décadas de memórias pessoais que o prédio carrega consigo.
Portanto, não é por acaso que Kléber Mendonça Filho, com seus movimentos de câmera já consagrados como uma assinatura, alterna pontos de vista, nos botando para ver com os olhos de Clara, mas também nos fazendo enxergar o que o próprio prédio vê, como se suas paredes e corredores tivessem olhos próprios. E não apenas é o prédio um confidente de seus residentes - as paredes abarrotadas de discos e livros, a cômoda que guardou segredos por gerações, em um simbolismo memorável - mas um confidente que dialoga com Clara e revela
, em um sonho, o "câncer" silencioso que se espalha por suas paredes, evocando uma memória que traz de volta à tona o câncer dela. Um pedido de socorro, atendido com a extirpação e devolução do tumor cultivado lá.
Talvez seja até irônico que essa sublime homenagem ao velho (ou vintage) venha ainda no segundo longa de um diretor que, por mais experiência e técnica apurada que tenha, faz parte de um movimento emergente, que aos poucos muda a cara e finalmente dá personalidade ao Cinema Brasileiro.
E ironia por ironia, Aquarius já transcende a própria ode à memória contida no enredo. Ao se dedicar tanto ao subtexto, à interpretação de imagens pelo espectador e ao não-verbal - em um momento em que o Cinema caminha para cada vez mais verbalizar, levar tudo direto ao ponto; o filme torna-se, em um plano metalinguístico, uma obra de resistência da verdadeira linguagem do Cinema, que diz tudo sem precisar necessariamente dizer nada (não diretamente, ao menos).
Por Aquarius, e pelo que Kleber Mendonça Filho e seus conterrâneos têm feito, digo: o Cinema Brasileiro respira!
London Road
2.8 2Um filme bem fraco mesmo, que só faz aumentar minha apatia pela maioria dos musicais. Apesar de ser interessante ver o Tom Hardy com um estilo completamente diferente de atuação, não sei se isso por si só compensa assistir o filme, visto o pouco tempo de tela dele.
Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros
3.6 3,0K Assista AgoraMudou não apenas o nome, como também o estilo da franquia. Jurassic World perdeu quase toda a pegada de suspense e tensão dos anteriores, e se apresentou como um filme mais leve e descontraído, talvez embarcando um pouco no estilo bem sucedido da Marvel. E como alguém que passou a infância fascinado justamente por essa tensão desenvolvida no Jurassic Park original, confesso que me decepcionei um pouco.
Porém, igualmente como alguém que tem o primeiro Jurassic Park como filme mais marcante da infância, posso dizer que as referências deixadas compensaram por tudo.
(Como o ovo chocando na primeira cena, o retorno do Mr. DNA, a cabra alimentando o T-Rex, o saguão abandonado do antigo parque, a faixa que vemos caindo no final do primeiro filme, os jipes e os óculos de visão noturna, o sinalizador chamando o T-Rex... São tantas referências!)
E cá entre nós, na cena quando o helicóptero pousava e começou a tocar o tema original de John Williams, me senti novamente como aquele garoto de 6 anos que assistia seu VHS de Jurassic Park semana sim, semana não.
Rashomon
4.4 301 Assista AgoraUma das melhores críticas que já vi ao tradicionalismo exacerbado e à sociedade patriarcal. Apesar de realizada em tempos passados e retratar uma sociedade bastante diferente, certamente se aplica também a certos segmentos sociedade brasileira de hoje. Uma Obra-Prima.
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraO filme é bom, porém apenas isso - ficou muito aquém da perfeição. E isso pode ser explicado de forma bem objetiva:
Se tomarmos por liberdade criativa as poucas tentativas de criar teorias ainda inexplicadas para a ciência dentre outros tantos elementos bem críveis, pode-se dizer que o roteiro tinha uma premissa bem interessante, além de um bom embasamento. O problema é que esse roteiro se perdeu ao jogar informações demais (não apenas teorias científicas), deixando tudo um pouco vago e sub-explorado. Dentre as questões ambientais, as teorias científicas e fictícias, os conflitos internos dos personagens que foram e os que ficaram, a busca por uma resposta na terra, e os acontecimentos da própria viagem, o filme não teve um foco - e isso é uma falha de roteiro.
E isso tudo sem mencionar aquela velha mania do Nolan de subestimar a capacidade de entendimento dos espectadores e transformar boa parte dos diálogos em verdadeiros seminários para deixar tudo bem simples e explicitamente inteligível, tirando a oportunidade de cada um imergir no contexto do filme de forma autônoma e espontânea.
Por falar no diretor, minha opinião é de que as principais falhas do filme advêm sobretudo das limitações de Nolan. Ele não é um grande diretor simplesmente porque lhe faltam duas qualidades que todo gênio do cinema possuem: Sensibilidade e Sutileza.
A falta de sensibilidade fica evidente ao analisar a maneira como ele retrata os sentimentos e as relações entre os personagens, constatando sua incapacidade de colocar em tela sentimentos genuínos e de inspirar os espectadores - o que também foi um problema em Interestelar, apesar de alguns lampejos da enorme sensibilidade e capacidade de atuação de Matthew McConaughey. De resto, tudo é tão frio e artificial que é na inteligência artificial e personalidade dos robôs que estão os pontos fortes da caracterização de personagens.
Já a falta de sutileza, foi demonstrada no filme através da forma com que o diretor apresentou os "plot twists" do filme, por assim dizer. Por mais interessantes que sejam, Nolan deixou pistas muito fáceis de serem lidas, e não soube apagar os rastros que levavam aos acontecimentos que deveriam ser inesperados, mas que para um espectador atento já estavam desvendados na metade do filme. Fica de exemplo
a contradição da mensagem STAY enviada pelos mesmos que mandaram as coordenadas na estante, a conversa sobre "um pai ser o fantasma dos próprios filhos" e o close no relógio defeituoso deixado pelo pai no momento em que a filha pensa sobre o "fantasma"; que me fizeram prever o final (talvez não nos mínimos detalhes) muito antes.
Contudo, apesar de todas as falhas apresentadas, também é necessário creditar devidamente os méritos do filme. Tecnicamente falando, Interestelar é uma obra muito bem executada. A fotografia, devo dizer, me impressionou bastante. A utilização de reflexos na câmera nos espectros de azul e vermelho para indicar os movimentos de afastamento e aproximação deixou tudo muito realista. A serenidade e simplicidade passadas nas cenas da fazenda em contraponto ao vazio retratado nos takes no espaço e nos closes agonizantes no final são dignos de premiação, mesmo que um remonte ao estilo de Terrence Malick e o outro tenha claramente bebido da fonte de 2001, porém sem o perfeccionismo de Kubrick. A trilha sonora também compõe um elemento fundamental na dinâmica do filme, esta baseada nos tons de ambiência do próprio 2001 e em algumas partes de Watchmen.
A influência de 2001, por sinal, é tão evidente que foi feita até uma homenagem à Obra-Prima de Kubrick no formato dos robôs. Para os fãs, foi uma boa surpresa ver que esses robôs eram nada menos que versões super-evoluídas do conceito de inteligência artificial com personalidade (devo admitir, um toque genial como nunca tinha visto) apresentado em HAL-2000, só que no formato de Monolitos - De certo o detalhe de que mais gostei.
Por fim, avalio Interestelar um filme que tinha todos os elementos -menos o diretor - para ser o filme do ano ou o filme da década, como alguns andam dizendo. Porém, não o foi. Podemos olhar para o que ele poderia ter sido e lamentar, ou nos contentar com a obra apenas boa que realmente foi.
Heróis de Ressaca
3.4 507 Assista AgoraComo todos os filmes da parceria Wright/Pegg/Frost, contém aquele humor britânico de primeira, em meio a sequências bem produzidas. Os personagens também se apresentaram bem desenvolvidos, talvez até sob uma ótica um pouco menos nonsense que os dos filmes anteriores.
A produção começou entregando tudo o que era esperado, porém desandou em algum ponto próximo ao último quarto de exibição, culminando em um final repentino que, devo admitir, me decepcionou um pouco.
Contudo, não deixa de ser um bom filme, importante para quem é fã do trio. Apesar de não apresentar a qualidade que esses caras já mostraram ser capazes de proporcionar.
Trapaça
3.4 2,2K Assista AgoraConfuso, cansativo e inexpressivo. São três adjetivos que descrevem muito bem esse filme. Uma tentativa desesperada de repetir o sucesso que havia conseguido vendendo um filme legal (mas nem tão bom) como forte candidato a Oscar, vinda de um diretor ainda muito distante da consagração, mesmo na academia. Tudo em Trapaça parece artificial, da aparência caricata e comportamento inconstante dos personagens, até as improváveis situações que se apresentam no desenrolar da trama. E não bastasse isso, teve uma ridícula tentativa de se apropriar do estilo desenvolvido por Scorsese em Goodfellas e Casino, misturando a narrativa com a trilha sonora que, apesar de boa, foi colocada de uma forma que só faz contribuir para deixar o filme ainda mais confuso e tirar o que seria talvez poderia ter sido o único mérito do filme pela originalidade técnica. Uma pena ver atores com potencial desgastando a imagem e perdendo tempo em uma produção dessas...
Rumo à Felicidade
3.9 21Bergman conseguiu brilhantemente usar a musicalidade para ditar o ritmo dos diferentes momentos pelos quais a trama passou, de tal forma que a música presente no filme se apresentou quase como um novo personagem. Genial!
Alemanha, Ano Zero
4.3 92Talvez quase tão sofrível quanto a guerra em si, é o período imediatamente posterior à ela; de reconstrução em meio à miséria e à moral de um povo destruída como todo o país. E esse ponto Rossellini conseguiu expressar magistralmente, sob uma ótica bem interessante: a infantil. Em tempos tão difíceis, crianças precisam se tornar adultos sem dispor do tempo necessário para tal. E o resultado disso são casos como o de Edmund. Sobre o filme: uma Obra-prima.
O Lobo de Wall Street
4.1 3,4K Assista AgoraÉ muito bom poder ver Scorsese voltar à velha fórmula de Goodfellas e Casino. Algo que sempre gostei foi essa forma de contar histórias, mesclando a narrativa em 1ª pessoa do(s) próprio(s) protagonista(s) com excertos da trilha sonora (que nesse filme apresentou algumas pérolas do Blues) de muito bom gosto do diretor. E se "Wolf of Wall Street" não apresenta um argumento sequer perto de ser chamado de inédito, o que vale o ingresso é o fato de que agora essa velha história, do corretor fraudulento que passa a ganhar a vida com palestras depois de preso, passa a ser contada por alguém que sabe exatamente como fazê-lo.
E se Scorsese sabe contar uma história é porque sabe muito bem como orientar seus atores. E isso só se reafirma nessa obra. É só pegar o exemplo do Jonah Hill, um ator cujos únicos bons papéis vinham de comédias em que ele interpretava algum adolescente, que se supera interpretando extraordinariamente seu papel neste filme, chegando a lembrar em alguns momentos um certo Joe Pesci não apenas por sua posição de coadjuvante, mas também na própria fala.
Não bastasse tudo o que já disse aqui, ainda tem a cena que resume todo o filme e mostra a feroz crítica de Scorsese aos figurões de Wall Street: A cena dos Quaaludes Lemmon. Ao mostrar Jordan e Danny rastejando como vermes, cada qual tentando passar por cima do outro; um se empanturrando de comida enquanto o outro buscava na cocaína um equivalente ao espinafre do Popeye; Scorsese conseguiu expor a verdadeira natureza de Wall Street, assim como a ironia no discurso de Jordan Belfort, que muitos acreditaram equivocadamente ser apoiado pelo diretor.
Essa obra pode até não merecer ganhar o Oscar de melhor filme, mas merece estar na briga, assim como briga com The Departed pelo título de melhor filme do Scorsese pós-anos 90, pelo menos na minha humilde e leiga opinião.
Onde Está a Liberdade?
4.0 10Um homem que, após 2 décadas preso, resolve voltar à prisão após as pressões, o preconceito, e as decepções que a "sociedade livre" o impõem. Não apenas a grande ironia do filme, isto talvez seja o alerta de Rossellini contra a apatia e a fragilidade moral das relações sociais de sua época, que apenas se intensificaram até a atualidade.
Se...
3.9 170Mais uma obra que reflete a efervescência política e cultural que partiu da juventude e tomou o mundo em 1968. Este, diferente de outros filmes, usa um caso alegórico para mostrar as origens das ideias revolucionárias da época. Afinal, o que seria a escola em questão (militarizada, hierarquizada e catequista) para estes jovens, senão uma representação da repressão e censura exercida pelo restante da sociedade?
O Grande Gatsby
3.9 2,7K Assista AgoraNão existe apenas um, mas alguns pontos que não me permitem gostar deste filme. Porém, o que realmente merece ser destacado dentre vários pequenos detalhes é talvez sua falha mais grave e uma heresia para com a obra original:
Em meio a tantas tentativas de inovar, ousar e modernizar a maneira com que o filme se apresenta, ficou impossível de caracterizar lugar e época em que trama se passa. É como se tudo que envolve a trama tivesse sido transportado da New York e seu subúrbio do começo dos anos 20, para um lugar e época aparentemente indefinidos.
E se tratando da obra em questão, isto é uma falha gravíssima.
O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante
4.1 155Tão impressionante e chocante, que faltam palavras para descrever adequadamente.
A Morte Passou por Perto
3.3 142O filme realmente não chega aos pés de 2001 ou de Laranja Mecânica, mas ainda assim, é um Kubrick... Trama bem amarrada e técnica perfeccionista, como não poderia deixar de ser.
Alguém ainda tem dúvidas de onde Scorsese tirou inspiração pra fotografia de Raging Bull?
Alice Ou a Última Fuga
4.0 31Chabrol bebeu bastante da fonte de Hitchcock, mas ainda assim conseguiu acrescentar seus próprios traços para fazer desta obra única. E isso, claro, com uma grande ajuda da atuação impecável de Sylvia Kristel.
Salve-se Quem Puder
2.5 67Por pior que o filme seja, ainda é, digamos, o melhor (ou "menos ruim") do Uwe Boll
Barfly: Condenados pelo Vício
3.7 133"Anybody can be a non-drunk. It takes a special talent to be a drunk. It takes endurance. Endurance is more important than truth."
Submarine
4.0 1,6KExcelente. Lembra bastante a Nouvelle Vague, tanto na estética quanto na temática. E eu, como grande fã do movimento, gostei muito de ver um filme recente resgatar esses aspectos. Nas cenas da praia, inevitavelmente me lembrei do final de Os Incompreendidos de Truffaut (com Doinel finalmente encontrando o mar). Fora isso, outro fator que me prendeu bastante foi a peculiaridade dos personagens, como um retrato caricato da vida moderna mostrando cada um indiferente por fora, porém aterrorizados por seus dramas internos (sejam grandes ou pequenos) por dentro. Dei 5 estrelas sem pensar duas vezes.
Jules e Jim - Uma Mulher Para Dois
4.1 335 Assista AgoraUma das características que sempre me atraíram na Nouvelle Vague é a forma com que o filme convida o espectador a imergir na atmosfera da obra, de forma que aquele conseguir de fato essa imersão irá, consequentemente, absorver os sentimentos dos personagens. E este filme em particular corrobora com esta visão. A inconstância de Catherine proporcionou em mim diversas reações bem distintas ao longo do filme. Em determinados momentos, esperava um desfecho positivo com Jules. Em outros, com Jim. Até que, quando toda essa inconstância ficou cansativa demais, até mesmo para a própria personagem, acontece o desfecho definitivo. Um filme excelente, perfeito para não decepcionar os admiradores da Nouvelle Vague.
Paradise Now
3.9 160 Assista AgoraFiquei bastante intrigado com o uso de uma referência (muito pertinente no contexto em que foi inserida) à "Santa Ceia" na cena dos preparativos para o atentado. É de um simbolismo sem igual, principalmente tratando-se do uso de uma religião que teoricamente não tem muita conexão com o conflito representado...
Caça aos Gângsteres
3.5 889 Assista AgoraAcho que a cara que deram ao filme não combinou muito com a trama do mesmo, e raramente era perceptível que se tratava de uma obra ambientada nos anos 40. Realmente esperava um filme flertando bem mais com o gênero Noir, e não esse aspirante a blockbuster que, apesar de bem produzido, pra mim deixou a desejar.
Lincoln
3.5 1,5KComo já era esperado, o filme vem carregado daquele patriotismo americano que já passou todos os limites do clichê. Mas apesar disso, a obra é muito bem produzida e só cabem aplausos a Daniel Day-Lewis e Sally Field. Cumpriu com tudo o que prometia e se esperava.