Não é verdadeiramente adaptado. É uma peça de teatro filmada que sabe muito pouco sobre o que a linguagem cinematográfica pode formular.
Dependendo tanto do texto, é de se esperar que esse faça valer, mas talvez o que me pareça ser bom é mais por mérito da Viola e do Denzel enquanto incríveis atores do que da escrita em si.
Além disso me perdeu emocionalmente por inteiro no terceiro ato ao permitir a legitimação do Troy como um grande homem, grande marido e pai. Ele foi um marido e um pai de merda, um signo de como se vincular uma família através do medo e da resignação, nunca através de amor e cumplicidade.
Foi surreal a emancipação dele e de sua moralidade parasítica ao final.
O primeiro ato é bem ruim e cheio de fórmulas e repetições para que tudo seja passado de maneira clara e óbvia. No segundo ato tava ficando mais interessante até a personagem da Selena Gomez aparecer com uma atuação que no mínimo pode ser chamada de antipática. Não só a personagem é desgastante como parece que deveríamos achar ela maneira só pelo seu excesso de "fucking" e "shit" nos diálogos.
Achei diversas soluções que o roteiro assume bem péssimas. O que me agradou de fato foram todas as cenas ridicularizando a própria expectativa latente de algo dar errado e afetar a saúde do personagem deficiente. Estamos o tempo todo esperando isso vir, mas diversas peças são pregas, uma maneira espirituosa de reavaliar como são observadas pessoas com necessidades especiais e o exagero do pensamento fatalista que cerca aqueles ao seu redor. Foi a escolha mais inteligente do filme.
Acho que foi um dos filmes mais cruéis que já vi. Não devo ter coragem de ver novamente.
A obra é crua em nos alertar para o quanto a legislação é insignificante diante do julgamento arbitrário dos homens. Mesmo depois de revogada sua culpa, algum resíduo de ódio vai perdurar sempre. Aquele homem se torna mais um animal sob o jugo da caça.
É uma bagunça de montagem, que não se decide por qual linguagem adota. É uma bagunça de personagens, inverossímeis e que saem de suas personalidades pela conveniência do roteiro. É uma bagunça de roteiro, vilões que não fazem sentido, o esquadrão é acionado para resolver um problema que foi também auxílio para a sua criação. É uma bagunça de ação, movimentos pouco coreografados (camuflados por uma iluminação escura) e quando mais interessantes, mal filmados. É uma bagunça de comédia, com diálogos bocós cujo dos mais interessantes já foram todos apresentados nos trailers.
Mas a cena do Coringa e da Arlequina na água tava ótima. Pena que o Coringa do Jared Leto não faz par à Margot Robbie.
A solução entre os gestos comedidos e reprimidos da cultura chinesa com o fulgor de músicas tipicamente latinas dá o tom do filme, este edificado nos silêncios, nas aproximações e afastamentos, mas principalmente no aguardo. Ambos personagens vivem um constante estado de espera com uma paciência férrea. Esperam o conjugue retornar, esperam o amor ser correspondido ou mesmo alguma felicidade prometida e ainda desconhecida. O tempo aqui é tão sufocante para as personagens enquanto para nós corre sem materialidade, apresentando as brechas entre as horas solitárias dos dois nas quais conseguem existir.
A mutualidade entre ambos se desespera para sair do corpo e ir se encontrar no corpo do outro, mas pouco se tocam. A maior parte das cenas em que vemos ambos é através de enquadramentos difusos, reflexos no espelho, silhuetas ou uma imagem distante cortada por qualquer sorte de objetos na frente, o que nos leva à um profundo sentimento de espionagem, intrusos que somos do que se desenrola ali entre ambos, mas principalmente dentro de si mesmos.
Não seria qualquer exagero comparar com Lost in Translation que viria alguns anos depois.
Tudo nesse filme é francamente adorável, por incrível que pareça!
Apesar de ser um filme declaradamente de comédia, me pareceu possuir menos piadas do que certos Age of Ultron e ainda assim mais envolvimento emotivo devido ao seu timing impecável.
Mesmo que Deadpool seja conhecido pelo seu humor mordaz, é fascinante como não foi necessário fazer piadas ofensivas, racistas, homofóbicas e por aí vai para ser engraçado até em situações nas quais está implicando com outro personagem. No máximo é "grosseira" (como a parte em que o casal disputa quem tem o passado mais fodido ao mesmo tempo que debocha de personagens que se valem apenas de um background "passado triste" para definir sua personalidade).
A estrutura do filme é bastante clichê com o glamour de quem entende isso e zomba do própria metragem pela narrativa óbvia. Eles não perdoam nem as evidentes faltas de recursos em diversos momentos apontando como não tem mais personagens porque o estúdio tá sem grana (porque será né Fox).
O marketing tem sido um show a parte. Parece até que Deadpool foi feito por um brasileiro.
Como uma história de ficção - e falo como alguém que não leu o livro, e nem deveria precisar - fracassa muito. De qualquer forma o argumento não me convenceu no primeiro filme, então não teria porque julgar isso no segundo se optei por vê-lo.
A fantasia parece só servir de estrutura para misturar dois elementos rentáveis dos últimos anos (zumbis e distopia), mas isso passou no primeiro longa por este se interessar mais nas relações entre os personagens. E é justamente essa particularidade que se perde absolutamente na sequência, sem saber o que fazer com o amontoado de novos personagens que aparecem e sequer se importando com os que já conhecíamos.
Quantas falar o Newt teve durante todo o filme, por exemplo? Acho que não chega a dez, mas estou chutando.
Isso à parte, as cenas de ação são muito bem desenhadas e eficientes. Algumas delas nos escombros são bem bacanas e não permitem que os personagens parem por um segundo ("correr ou morrer" é o nome, afinal), porém esse é tanto o ponto mais positivo quanto mais negativo. É razoável.
E deu pra ficar bem angustiado com o ocorrido do terceiro ato, então ao menos nisso o filme teve êxito.
Talvez a atmosfera (situacional e atmosférica) possa causar estranhamento a muitos de nós. Tanto frio e introspecção não soa brasileiro. Não sei se tratasse de um recorte cultural especificamente curitibano uma vez que sou carioca, mas sua disparidade com nossos hábitos não o torna menos brasileiro. Tampouco é um mimetismo europeu. É um Brasil distinto e frígido, existente como qualquer outro.
Tratado esse dilema da representação, vamos ao que mais me cativou na história. Sua narrativa. Geralmente é difícil encontrar um meio termo. Ou a película mastiga as informações e bota na boquinha de seus filhotes espectadores, seus intelectos subestimados pelo filme, ou entra num exercício de masturbação intelectual em que tudo é representação poética, linda, metafísica e ninguém além do diretor consegue se conectar emocionalmente com aquilo.
Creio que Beira-Mar encontra o espaço específico entre ambos. Muuuuuito mais do que uma história de LGBT (motivação da decepção de muitos, eu suponho), é uma narrativa de autodescoberta juvenil que em suas lacunas tenta transcrever certa universalidade que fale à qualquer jovem no mundo. Os fatos são dados numa sequência organizada. Nada é explicitado, mas podemos concluir muito pelo que nos é dado, sem ser mastigado (a senhora com quem Martin conversa aparenta não ser sua vó. Ela era amante do avô? Aquela outra família é bastarda? Por que Martin chamou Tomaz? Tomaz diz que já esteve lá antes), mas é o bastante para nossa imaginação patinar.
É tudo um êxtase até o momento do beijo (outro instante que, em sua reprodução, frustra muitos pela graça de sua pegadinha. Qual? Só vendo pra saber) que segue num ritmo tão sufocante de ansiedade que facilmente nos faz ser aquele adolescente esperando um sinal para desferir o beijo e se desarmar, e se re-amar, se renovar.
A cena final me causou uma sensação de ser uma releitura do final de Os Incompreendidos (Do nosso amigo New Wave, Trufô). Sinto que o mar em ambos tem a mesma função diante de suas crianças indo pro mundo.
Meio forçado assumir que esse é um filme sobre homossexualidade. Não é. No máximo a sexualidade do menino é um recurso de roteiro para gerar um conflito entre o menino e o pai e o menino e a fé.
Poderia ter sido muito melhor se o filme assumisse com mais pretensão a temática da espiritualidade, o verdadeiro foco da história. Mas fica num vai não vai que me chateou. Inclusive achei a forma como a homossexualidade nesse filme é tratada meio grosseira e avulsa.
Outra coisa que poderia ter melhorado seria ter dado mais foco para a figura da mãe. Ela é sempre usada como figura para representar a fé perdida do Zac, mas não se torna um personagem de verdade.
Isso para não dizer que do nada o filme enverada por um jogos de montagem que poderia ter assumido como parte de sua identidade visual, mas simplesmente só faz isso quando acha divertido, sem qualquer coesão.
Ao me arriscar a ler uns livros do John Green, achei Cidades de Papel dentre uma amável experiência.
O filme sofre do mesmo problema de uma direção genérica e artificial como em A Culpa é das Estrelas que nos faz sempre pensar "tudo bem, é só uma adaptação de um livro" como se isso fosse o bastante para perdoar certa mediocridade (não é. Pelo contrário, grandes obras do cinema são baseadas em livros, inclusive superando a fama das obras literárias).
Mas o bom trabalho do elenco (em especial do Austin Abrams que tornou cada cena de comédia bem genuína. O momento do Pokémon teve um ótimo timing) passa por cima de algumas problemáticas que poderiam fazer sangrar mais, tornando a obra um afável road movie com a temática relevante, apesar de tocada de forma superficial pelo roteiro, sobre a idealização amorosa e o qual danoso é mistificarmos indivíduos que são alvo de nossa admiração, os distanciando do status de seres humanos que são.
Tem um pessoal reclamando do final, mas francamente? Uma adaptação não é boa por seguir à risca o que o livro impõe. São experiências diferentes, e o final como um anticlimax é só um mecanismo para reforçar o quanto Margo não seria uma fantasia de finais épicos, mas uma pessoa perdida em si mesma. Humana e simplória como nós.
isso, ISSO é que é ficção científica. O resto é piada. Existe tanta forma, tanta certeza do filme enquanto explora esferas nebulosas da física e outras ainda mais complexas das relações humanas. A percepção do amor como uma dimensão física mais elevada assim como o tempo e a gravidade... É para isso que caminhamos. É através disso que vivemos. Não consigo escrever nada que transmita com exatidão o belo trabalho do filme, só consigo direcionar todos os meus esforços para me reestruturar do baque que foi esta obra máxima.
O filme consegue com exatidão circunscrever o humano em seu estado primitivo e instintivo de besta irracional. Desde o princípio com as tomadas de animais juntas aos créditos (e ao maravilhoso "Produzido por Pedro Álmodovar") nos deparamos com essa pretensão do filme, que é alcançada excepcionalmente bem. Distribuído em episódios muito bons, rapidamente nos compadecemos da situação de cada um dos personagens e por mais que constatemos a irracionalidade dos atos, não deixamos de nos deliciar, por exemplo, com o insano confronto mortal entre os motoristas do terceiro episódio. Ou desejarmos que, no quarto, tudo seja explodido, tão envolvidos e apiedados estamos com a história do personagem, reconhecendo e admitindo que em razão do que ele passou, tem carta branca para cometer um ato violento. Não concordamos com isso pois vai contra nossa ética, ataca a dinâmica da existência social coletiva, mas por dentro é impossível negar o prazer primordial da violência, da vingança, do se entregar a sanidade e ter a situação em suas mãos.
Genial. Merecia muito o Oscar de 2015 como melhor filme estrangeiro. Só o episódio épico do casamento já alimentava um filme inteiro por si só que eu veria com todo gosto!
Esse filme é simplesmente uma lição do que não se fazer quando se tem um conhecido em depressão! Que frustrante!
O personagem do (ainda maravilhoso, mesmo que num filme ruim) Freddie Highmore tem ÓBVIOS sintomas de depressão e as pessoas ao seu redor reagem com: exigências, cobranças, jogos mentais, ostracismo social e isolamento familiar. Ao invés de simplesmente ajudarem o menino com um acompanhamento médico necessário, pressionam-o sem parar! E qual era o objeto da personagem da Emma Roberts? "A garota rodada que se corrige por causa do cara certo"???
Nem a roupagem indie mal aplicada salva esse filme do desastre vazio que é, com uma mensagem deturpada de que pessoas em depressão simplesmente não estão dando duro o bastante.
Quem diria que uma simples crítica a sociedade do entretenimento arrecadaria tantas camadas!
O filme não só ganha pontos por fazer o que o livro não pode (representar as situações ao redor do cenário, sendo que a narração em primeira pessoa do livro feita pela Katniss impede tal evento) como por fazer o que ele não consegue (por Katniss ser uma pessoa muito imediata e dotada de um altruísmo que se mescla com egoísmo, sua narração é fria e não apresenta as nuances que ela tem como a boa interpretação de Lawrence o faz).
Vou defender de pé junto que essa série só foi moldada para ser teen através do triângulo amoroso para poder vender mais, porque de resto é um acumulo de acontecimentos bem enredados que são algumas das metáforas mais cruéis que já li/vi. Por mais blockbuster que o filme seja, é feito com uma primazia e delicadeza de detalhes que só me permite aplaudir as atuações espontâneas, a ambientação sufocante que ao meu ver é bem mais relevante que cenas de tiros e bombas por aí, além do que para mim foi o ponto chave nessa primeira parte:
Direção de arte. Os eventos que culminam na segunda parte nos permitem assumir isso com segurança: Não há bem e mal. Guerras são conflitos por poder e ego. Dessa forma temos uma Capital individualista e colorida para seduzir (Burguesia/Capitalismo) enquanto no Distrito 13 temos uniformes e a noção de coletivo e de conselhos administrativos (Proletariado/Socialismo). Isso só ilustra como o conflito reproduzido em tela é tão próximo do nosso mundo, e todos aqueles que morrem por uma causa ou outra continuam sendo usados como massa de manobra de um sistema muito mais terrível e profundo do que sugere nossas percepções maniqueístas.
Achei que as cenas angustiantes e os acréscimos de obstáculos que serviram para estender o filme foram muito necessários, e fará com que a parte 2 seja um choque profundo de realidade.
Gostaria de falar, não somente sobre Before Midnight, mas sobre toda a trilogia "Before". Comecemos pelo advérbio que remete aos três títulos. "Antes de algo" nos evoca a ideia de uma limitação temporal já pré-estabelecida, e é nesses ponteiros que trilham para o fim em que Jesse e Celine vão se encontrando. Tal trilogia é ovacionada com razão, pois sem por meias palavras, revolucionou totalmente a exposição do amor conjugal numa tela de cinema. Sem usar de artifícios ou manipulações de roteiro em momento algum (o que por si só é motivo para júbilo), Linklater projeta e conduz sequências sem floreios onde temos dois personagens quase sempre se locomovendo e dialogando com uma fluidez que quase bordejaria o inverossímil não fosse a naturalidade implacável com que os atores principais representam. Essas três obras habitam uma ala extremamente exclusiva de filmes eternizados pelo seu pioneirismo (onde também podemos encontrar outra obra-prima assinada pelo mesmo diretor, o recente Boyhood). As passagens de tempo propostas nos filmes são transpostas para o real, e cada sequência surge 9 anos depois da outra da mesma forma que na história. Tudo isso corrobora para uma aproximação da realidade que quase chega a ser inacreditável. O primeiro filme abre para uma atmosfera lúdica de juventude e paixão desenfreadas onde dois jovens se encontram movidos pela curiosidade pelos acasos. Mesmo com o cenário romântico, tudo se encaminha de maneira crível (nos remetendo a momentos de nossas próprias vidas que por vezes duvidamos, tão oníricos que foram e se tornam mais cada vez que os relembramos). Não satisfeito, no segundo filme temos conversas sóbrias de dois indivíduos lidando com problemas provenientes das maiores responsabilidades da vida adulta, apreciando com nostalgia lembranças de outrora, mas com firmeza e certo bom humor, brincando com o que o que no instante vivido era um fascínio idealizado, fazendo piadas e zombando de si mesmos com a boa-aventurança de espíritos intrépidos que encontramos nas nossas vidas. O Terceiro filme então (imagino como eu teria me sentido se tivesse visto o segundo na época que lançou, tão angustiante é o seu fim. Ansioso para saber as respostas que o último filme carrega) retorna nove anos depois e vamos descobrindo os meandros pelos quais ambos personagens passaram em suas vidas através de comentários soltos ali e aqui. Embora tenham vivido um idealismo de cinema no primeiro encontro, e pensem sobre com saudosismo, os dois são profundamente tridimensionais e não nos permitem tê-los como meras figurações. São tão reais em sua intensidade, seus confrontos com a difícil vida doméstica unida e suas longas brigas, que não podemos evitar de nos apaixonarmos. Sabemos que eles são transitórios, ainda mais para nós que só os temos por menos de duas horas em cada filme. Mas são extraordinários em suas vicissitudes.
"Like sunlight, sunset, we appear, we disappear. We are so important to some, but we are just passing through."
Nunca história de amor alguma foi contada como essa. Aplausos.
Não, a infância de vocês não foi destruída. Mas ninguém que é fã da série de longa data é mais criança, tampouco a série é a mesma dos anos 90. Ela tem a necessidade de se redescobrir (e para isso tentativas e por vezes falhas são precisas). O gosto para com cada mudança vai de cada um, mas execrar a existência de mudanças em si não passa de um apego insólito que as pessoas tem pela "infância", como se pudessem resgatá-la vendo a mesma coisa que viam quando pequenos sem entender as exigências do mercado e de que CDZ nunca sobreviveria vendendo se estivesse fazendo sempre a mesma coisa. O filme não é perfeito (o que nada dentro do mundo de CDZ nunca foi, mas todo mundo esquece disso), mas está longe de ser a porcaria que o estão estigmatizando.
Lamento, mas vai ser longo: Como eu sou a favor da afirmação "O livro é do autor e o filme do diretor", vou tentar não manter dissertar sobre o quanto esse filme é desastroso no quesito "adaptação", preferindo considerá-lo algo isolado - O que é estranho, pois talvez o único prazer que eu tenha encontrado no filme tenha sido as poucas referências esfaceladas da HQ.
Tudo é diferente, a começar pela protagonista. Não só muda de Clementine para Adele no trajeto da HQ para o filme. Adele é uma pessoa perdida e praticamente desesperada em suas lacunas existenciais inexplicáveis que em nada tangencia com a doçura angustiada e inocente de Clementine, que se encontra no mundo apenas tentando se entender. Adele é praticamente vazia.
Os rumos da história são tão flutuantes que eu cheguei até a cena final sem acreditar que depois de três horas aquilo poderia ser chamado de conclusão. E não é para menos que o filme durou tanto, com uma quantidade implacável de enormes tomadas que não dizem NADA - talvez servissem para inserir o espectador no vazio perturbador de Adele, e ainda assim muito porcamente - nem têm qualquer função para a história. Tantas cenas dela como professora que são simplesmente NADA. N-A-D-A. Argh.
Como um filme pode ter tanto tempo e mesmo assim ser tão mínimo? A obra começa claramente dando indícios de discutir a aceitação da homossexualidade, porém após uma única cena onde isso é ponto de pauta, tal assunto MORRE, ofendendo toda a trama da HQ. Os diálogos eram raramente interessantes e sempre pareciam pretensiosamente querer expressar leveza no contato delas, o que não acontecia.
As cenas de sexo são extensas sem também terem qualquer peso para a história, acontecendo repetidas vezes sem enriquecer o conto de amor das meninas, mais me soando como um fetiche bem realizado do diretor - que segundo muitos boatos, fez-se alheio às reclamações de desconforto das atrizes em toda a composição sexual. E aliás, quando a Adele e a Emma se pegam pela primeria vez, a Emma não estava namorando?? A Satine meramente deixa de ser citada e pronto, resolvido! É dado um salto no tempo completamente abrupto mostrando-as mais velhas sem construir de fato uma conexão entre elas e já esmigalhando-a pelas agruras que o tempo e a monotonia trás.
Nenhum tema pertinente à história original foi focado. O auto-descobrimento? O estar no mundo? A insegurança dos relacionamentos? A aceitação do mundo? NADA. Talvez eu me sinta assim por ter lido a HQ e ter alimentado expectativas. A única coisa elogiável é a fotografia e a trilha sonora, ou seja, questões técnicas. Porque o conceito se perdeu tanto que eu não entendi nada do que o filme queria dizer.
Que filme impressionante! Seria Drive um neo-noir? Se fosse em preto e branco, não restaria dúvidas, não que seja essa uma qualidade imprescindível para se definir um filme como noir. O suspense dirige a trama de forma fluida, sendo mesmo as cenas mais estáticas carregadas de uma tensão que não te dá vontade de bocejar. A trilha sonora e os momentos filmados no claro carregam uma vibe tão onírica que cria um contraste com a história sombria. É um filme cheio de forma e estrutura muito bem desenhadas, sem deixar o espectador flutuando na história, mas também sem subestimar seu intelecto. Funcionou muito bem!
Da série "filmes bem mal compreendidos pelo público" bem do ladinho de Clube de Luta. Existe uma razão para as cenas de homicídio serem tão vagas, terem cenas tão inverossímeis além do personagem de Bale ser o pior Serial Killer prático que já existiu. Todo esse vácuo existencial proporcionado pelo American Way of Life, pelo desenfreado capitalismo de fim de século que precisava se firmar como um sistema magnífico que trás oportunidades para todos, tornou Patrick um homem que busca refúgio do cotidiano mecanizado pintando de sangue seu apartamento cuja brancura reflete sua carência espiritual de algo para alimentar seu ser.
Adiciono aos já vistos, mas com certa vergonha. Nada se salva, e se torna uma epítome da ideologia de mercado das indústrias que monopolizam o mercado cinematográfico do Brasil: comédias infladas de piada fácil, estereótipos e pastelões (o que até é melhor que a escatologia da comédia americana genérica), atores incertos (salvo a Marieta Severo, que mesmo assim não salva nada do filme). Uma ou outra piada boa não produz nada em um filme que tão miseravelmente subestima o intelecto do seu público alvo, não levantando um dedo para produzir algo diferente.
Excelentíssimos
3.6 19É gente... Foi golpe.
Um Limite Entre Nós
3.8 1,1K Assista AgoraNão é verdadeiramente adaptado. É uma peça de teatro filmada que sabe muito pouco sobre o que a linguagem cinematográfica pode formular.
Dependendo tanto do texto, é de se esperar que esse faça valer, mas talvez o que me pareça ser bom é mais por mérito da Viola e do Denzel enquanto incríveis atores do que da escrita em si.
Além disso me perdeu emocionalmente por inteiro no terceiro ato ao permitir a legitimação do Troy como um grande homem, grande marido e pai. Ele foi um marido e um pai de merda, um signo de como se vincular uma família através do medo e da resignação, nunca através de amor e cumplicidade.
Foi surreal a emancipação dele e de sua moralidade parasítica ao final.
Amizades Improváveis
3.8 785 Assista AgoraO primeiro ato é bem ruim e cheio de fórmulas e repetições para que tudo seja passado de maneira clara e óbvia. No segundo ato tava ficando mais interessante até a personagem da Selena Gomez aparecer com uma atuação que no mínimo pode ser chamada de antipática. Não só a personagem é desgastante como parece que deveríamos achar ela maneira só pelo seu excesso de "fucking" e "shit" nos diálogos.
Achei diversas soluções que o roteiro assume bem péssimas. O que me agradou de fato foram todas as cenas ridicularizando a própria expectativa latente de algo dar errado e afetar a saúde do personagem deficiente. Estamos o tempo todo esperando isso vir, mas diversas peças são pregas, uma maneira espirituosa de reavaliar como são observadas pessoas com necessidades especiais e o exagero do pensamento fatalista que cerca aqueles ao seu redor. Foi a escolha mais inteligente do filme.
Rua Cloverfield, 10
3.5 1,9KUm dos finais mais bizarros e incongruentes que eu já conheci no meu repertório cinematográfico. Vai de 8 a 8.000.000 num estalar de dedos.
Mas definitivamente direi que é divertido.
Tickled
3.8 101Nunca mais faço cócegas em alguém. Jamais.
A Caça
4.2 2,0K Assista AgoraAcho que foi um dos filmes mais cruéis que já vi.
Não devo ter coragem de ver novamente.
A obra é crua em nos alertar para o quanto a legislação é insignificante diante do julgamento arbitrário dos homens. Mesmo depois de revogada sua culpa, algum resíduo de ódio vai perdurar sempre. Aquele homem se torna mais um animal sob o jugo da caça.
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraPense numa obra prima.
Esquadrão Suicida
2.8 4,0K Assista AgoraQue bagunça.
É uma bagunça de montagem, que não se decide por qual linguagem adota.
É uma bagunça de personagens, inverossímeis e que saem de suas personalidades pela conveniência do roteiro.
É uma bagunça de roteiro, vilões que não fazem sentido, o esquadrão é acionado para resolver um problema que foi também auxílio para a sua criação.
É uma bagunça de ação, movimentos pouco coreografados (camuflados por uma iluminação escura) e quando mais interessantes, mal filmados.
É uma bagunça de comédia, com diálogos bocós cujo dos mais interessantes já foram todos apresentados nos trailers.
Mas a cena do Coringa e da Arlequina na água tava ótima. Pena que o Coringa do Jared Leto não faz par à Margot Robbie.
Amor à Flor da Pele
4.3 498 Assista AgoraA solução entre os gestos comedidos e reprimidos da cultura chinesa com o fulgor de músicas tipicamente latinas dá o tom do filme, este edificado nos silêncios, nas aproximações e afastamentos, mas principalmente no aguardo. Ambos personagens vivem um constante estado de espera com uma paciência férrea. Esperam o conjugue retornar, esperam o amor ser correspondido ou mesmo alguma felicidade prometida e ainda desconhecida. O tempo aqui é tão sufocante para as personagens enquanto para nós corre sem materialidade, apresentando as brechas entre as horas solitárias dos dois nas quais conseguem existir.
A mutualidade entre ambos se desespera para sair do corpo e ir se encontrar no corpo do outro, mas pouco se tocam. A maior parte das cenas em que vemos ambos é através de enquadramentos difusos, reflexos no espelho, silhuetas ou uma imagem distante cortada por qualquer sorte de objetos na frente, o que nos leva à um profundo sentimento de espionagem, intrusos que somos do que se desenrola ali entre ambos, mas principalmente dentro de si mesmos.
Não seria qualquer exagero comparar com Lost in Translation que viria alguns anos depois.
Enfim, baita filme. Hahahaha
Deadpool
4.0 3,0K Assista AgoraTudo nesse filme é francamente adorável, por incrível que pareça!
Apesar de ser um filme declaradamente de comédia, me pareceu possuir menos piadas do que certos Age of Ultron e ainda assim mais envolvimento emotivo devido ao seu timing impecável.
Mesmo que Deadpool seja conhecido pelo seu humor mordaz, é fascinante como não foi necessário fazer piadas ofensivas, racistas, homofóbicas e por aí vai para ser engraçado até em situações nas quais está implicando com outro personagem. No máximo é "grosseira" (como a parte em que o casal disputa quem tem o passado mais fodido ao mesmo tempo que debocha de personagens que se valem apenas de um background "passado triste" para definir sua personalidade).
A estrutura do filme é bastante clichê com o glamour de quem entende isso e zomba do própria metragem pela narrativa óbvia. Eles não perdoam nem as evidentes faltas de recursos em diversos momentos apontando como não tem mais personagens porque o estúdio tá sem grana (porque será né Fox).
O marketing tem sido um show a parte. Parece até que Deadpool foi feito por um brasileiro.
Maze Runner: Prova de Fogo
3.4 1,2K Assista AgoraComo uma história de ficção - e falo como alguém que não leu o livro, e nem deveria precisar - fracassa muito. De qualquer forma o argumento não me convenceu no primeiro filme, então não teria porque julgar isso no segundo se optei por vê-lo.
A fantasia parece só servir de estrutura para misturar dois elementos rentáveis dos últimos anos (zumbis e distopia), mas isso passou no primeiro longa por este se interessar mais nas relações entre os personagens. E é justamente essa particularidade que se perde absolutamente na sequência, sem saber o que fazer com o amontoado de novos personagens que aparecem e sequer se importando com os que já conhecíamos.
Quantas falar o Newt teve durante todo o filme, por exemplo? Acho que não chega a dez, mas estou chutando.
Isso à parte, as cenas de ação são muito bem desenhadas e eficientes. Algumas delas nos escombros são bem bacanas e não permitem que os personagens parem por um segundo ("correr ou morrer" é o nome, afinal), porém esse é tanto o ponto mais positivo quanto mais negativo. É razoável.
E deu pra ficar bem angustiado com o ocorrido do terceiro ato, então ao menos nisso o filme teve êxito.
Beira-Mar
2.7 454Talvez a atmosfera (situacional e atmosférica) possa causar estranhamento a muitos de nós. Tanto frio e introspecção não soa brasileiro. Não sei se tratasse de um recorte cultural especificamente curitibano uma vez que sou carioca, mas sua disparidade com nossos hábitos não o torna menos brasileiro. Tampouco é um mimetismo europeu.
É um Brasil distinto e frígido, existente como qualquer outro.
Tratado esse dilema da representação, vamos ao que mais me cativou na história. Sua narrativa. Geralmente é difícil encontrar um meio termo. Ou a película mastiga as informações e bota na boquinha de seus filhotes espectadores, seus intelectos subestimados pelo filme, ou entra num exercício de masturbação intelectual em que tudo é representação poética, linda, metafísica e ninguém além do diretor consegue se conectar emocionalmente com aquilo.
Creio que Beira-Mar encontra o espaço específico entre ambos. Muuuuuito mais do que uma história de LGBT (motivação da decepção de muitos, eu suponho), é uma narrativa de autodescoberta juvenil que em suas lacunas tenta transcrever certa universalidade que fale à qualquer jovem no mundo. Os fatos são dados numa sequência organizada. Nada é explicitado, mas podemos concluir muito pelo que nos é dado, sem ser mastigado (a senhora com quem Martin conversa aparenta não ser sua vó. Ela era amante do avô? Aquela outra família é bastarda? Por que Martin chamou Tomaz? Tomaz diz que já esteve lá antes), mas é o bastante para nossa imaginação patinar.
É tudo um êxtase até o momento do beijo (outro instante que, em sua reprodução, frustra muitos pela graça de sua pegadinha. Qual? Só vendo pra saber) que segue num ritmo tão sufocante de ansiedade que facilmente nos faz ser aquele adolescente esperando um sinal para desferir o beijo e se desarmar, e se re-amar, se renovar.
A cena final me causou uma sensação de ser uma releitura do final de Os Incompreendidos (Do nosso amigo New Wave, Trufô). Sinto que o mar em ambos tem a mesma função diante de suas crianças indo pro mundo.
C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor
4.2 712Meio forçado assumir que esse é um filme sobre homossexualidade. Não é. No máximo a sexualidade do menino é um recurso de roteiro para gerar um conflito entre o menino e o pai e o menino e a fé.
Poderia ter sido muito melhor se o filme assumisse com mais pretensão a temática da espiritualidade, o verdadeiro foco da história. Mas fica num vai não vai que me chateou. Inclusive achei a forma como a homossexualidade nesse filme é tratada meio grosseira e avulsa.
Outra coisa que poderia ter melhorado seria ter dado mais foco para a figura da mãe. Ela é sempre usada como figura para representar a fé perdida do Zac, mas não se torna um personagem de verdade.
Isso para não dizer que do nada o filme enverada por um jogos de montagem que poderia ter assumido como parte de sua identidade visual, mas simplesmente só faz isso quando acha divertido, sem qualquer coesão.
Beeeeeem mediano.
Cidades de Papel
3.0 1,3K Assista AgoraAo me arriscar a ler uns livros do John Green, achei Cidades de Papel dentre uma amável experiência.
O filme sofre do mesmo problema de uma direção genérica e artificial como em A Culpa é das Estrelas que nos faz sempre pensar "tudo bem, é só uma adaptação de um livro" como se isso fosse o bastante para perdoar certa mediocridade (não é. Pelo contrário, grandes obras do cinema são baseadas em livros, inclusive superando a fama das obras literárias).
Mas o bom trabalho do elenco (em especial do Austin Abrams que tornou cada cena de comédia bem genuína. O momento do Pokémon teve um ótimo timing) passa por cima de algumas problemáticas que poderiam fazer sangrar mais, tornando a obra um afável road movie com a temática relevante, apesar de tocada de forma superficial pelo roteiro, sobre a idealização amorosa e o qual danoso é mistificarmos indivíduos que são alvo de nossa admiração, os distanciando do status de seres humanos que são.
Tem um pessoal reclamando do final, mas francamente? Uma adaptação não é boa por seguir à risca o que o livro impõe. São experiências diferentes, e o final como um anticlimax é só um mecanismo para reforçar o quanto Margo não seria uma fantasia de finais épicos, mas uma pessoa perdida em si mesma. Humana e simplória como nós.
Interestelar
4.3 5,7K Assista Agoraisso, ISSO é que é ficção científica. O resto é piada. Existe tanta forma, tanta certeza do filme enquanto explora esferas nebulosas da física e outras ainda mais complexas das relações humanas. A percepção do amor como uma dimensão física mais elevada assim como o tempo e a gravidade... É para isso que caminhamos. É através disso que vivemos. Não consigo escrever nada que transmita com exatidão o belo trabalho do filme, só consigo direcionar todos os meus esforços para me reestruturar do baque que foi esta obra máxima.
Relatos Selvagens
4.4 2,9K Assista AgoraO filme consegue com exatidão circunscrever o humano em seu estado primitivo e instintivo de besta irracional.
Desde o princípio com as tomadas de animais juntas aos créditos (e ao maravilhoso "Produzido por Pedro Álmodovar") nos deparamos com essa pretensão do filme, que é alcançada excepcionalmente bem.
Distribuído em episódios muito bons, rapidamente nos compadecemos da situação de cada um dos personagens e por mais que constatemos a irracionalidade dos atos, não deixamos de nos deliciar, por exemplo, com o insano confronto mortal entre os motoristas do terceiro episódio. Ou desejarmos que, no quarto, tudo seja explodido, tão envolvidos e apiedados estamos com a história do personagem, reconhecendo e admitindo que em razão do que ele passou, tem carta branca para cometer um ato violento.
Não concordamos com isso pois vai contra nossa ética, ataca a dinâmica da existência social coletiva, mas por dentro é impossível negar o prazer primordial da violência, da vingança, do se entregar a sanidade e ter a situação em suas mãos.
Genial. Merecia muito o Oscar de 2015 como melhor filme estrangeiro. Só o episódio épico do casamento já alimentava um filme inteiro por si só que eu veria com todo gosto!
A Arte da Conquista
3.4 901Esse filme é simplesmente uma lição do que não se fazer quando se tem um conhecido em depressão! Que frustrante!
O personagem do (ainda maravilhoso, mesmo que num filme ruim) Freddie Highmore tem ÓBVIOS sintomas de depressão e as pessoas ao seu redor reagem com: exigências, cobranças, jogos mentais, ostracismo social e isolamento familiar. Ao invés de simplesmente ajudarem o menino com um acompanhamento médico necessário, pressionam-o sem parar! E qual era o objeto da personagem da Emma Roberts? "A garota rodada que se corrige por causa do cara certo"???
Nem a roupagem indie mal aplicada salva esse filme do desastre vazio que é, com uma mensagem deturpada de que pessoas em depressão simplesmente não estão dando duro o bastante.
Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1
3.8 2,4K Assista AgoraQuem diria que uma simples crítica a sociedade do entretenimento arrecadaria tantas camadas!
O filme não só ganha pontos por fazer o que o livro não pode (representar as situações ao redor do cenário, sendo que a narração em primeira pessoa do livro feita pela Katniss impede tal evento) como por fazer o que ele não consegue (por Katniss ser uma pessoa muito imediata e dotada de um altruísmo que se mescla com egoísmo, sua narração é fria e não apresenta as nuances que ela tem como a boa interpretação de Lawrence o faz).
Vou defender de pé junto que essa série só foi moldada para ser teen através do triângulo amoroso para poder vender mais, porque de resto é um acumulo de acontecimentos bem enredados que são algumas das metáforas mais cruéis que já li/vi. Por mais blockbuster que o filme seja, é feito com uma primazia e delicadeza de detalhes que só me permite aplaudir as atuações espontâneas, a ambientação sufocante que ao meu ver é bem mais relevante que cenas de tiros e bombas por aí, além do que para mim foi o ponto chave nessa primeira parte:
Direção de arte. Os eventos que culminam na segunda parte nos permitem assumir isso com segurança: Não há bem e mal. Guerras são conflitos por poder e ego. Dessa forma temos uma Capital individualista e colorida para seduzir (Burguesia/Capitalismo) enquanto no Distrito 13 temos uniformes e a noção de coletivo e de conselhos administrativos (Proletariado/Socialismo). Isso só ilustra como o conflito reproduzido em tela é tão próximo do nosso mundo, e todos aqueles que morrem por uma causa ou outra continuam sendo usados como massa de manobra de um sistema muito mais terrível e profundo do que sugere nossas percepções maniqueístas.
Achei que as cenas angustiantes e os acréscimos de obstáculos que serviram para estender o filme foram muito necessários, e fará com que a parte 2 seja um choque profundo de realidade.
Antes da Meia-Noite
4.2 1,5K Assista AgoraGostaria de falar, não somente sobre Before Midnight, mas sobre toda a trilogia "Before". Comecemos pelo advérbio que remete aos três títulos. "Antes de algo" nos evoca a ideia de uma limitação temporal já pré-estabelecida, e é nesses ponteiros que trilham para o fim em que Jesse e Celine vão se encontrando.
Tal trilogia é ovacionada com razão, pois sem por meias palavras, revolucionou totalmente a exposição do amor conjugal numa tela de cinema. Sem usar de artifícios ou manipulações de roteiro em momento algum (o que por si só é motivo para júbilo), Linklater projeta e conduz sequências sem floreios onde temos dois personagens quase sempre se locomovendo e dialogando com uma fluidez que quase bordejaria o inverossímil não fosse a naturalidade implacável com que os atores principais representam.
Essas três obras habitam uma ala extremamente exclusiva de filmes eternizados pelo seu pioneirismo (onde também podemos encontrar outra obra-prima assinada pelo mesmo diretor, o recente Boyhood). As passagens de tempo propostas nos filmes são transpostas para o real, e cada sequência surge 9 anos depois da outra da mesma forma que na história. Tudo isso corrobora para uma aproximação da realidade que quase chega a ser inacreditável.
O primeiro filme abre para uma atmosfera lúdica de juventude e paixão desenfreadas onde dois jovens se encontram movidos pela curiosidade pelos acasos. Mesmo com o cenário romântico, tudo se encaminha de maneira crível (nos remetendo a momentos de nossas próprias vidas que por vezes duvidamos, tão oníricos que foram e se tornam mais cada vez que os relembramos).
Não satisfeito, no segundo filme temos conversas sóbrias de dois indivíduos lidando com problemas provenientes das maiores responsabilidades da vida adulta, apreciando com nostalgia lembranças de outrora, mas com firmeza e certo bom humor, brincando com o que o que no instante vivido era um fascínio idealizado, fazendo piadas e zombando de si mesmos com a boa-aventurança de espíritos intrépidos que encontramos nas nossas vidas.
O Terceiro filme então (imagino como eu teria me sentido se tivesse visto o segundo na época que lançou, tão angustiante é o seu fim. Ansioso para saber as respostas que o último filme carrega) retorna nove anos depois e vamos descobrindo os meandros pelos quais ambos personagens passaram em suas vidas através de comentários soltos ali e aqui. Embora tenham vivido um idealismo de cinema no primeiro encontro, e pensem sobre com saudosismo, os dois são profundamente tridimensionais e não nos permitem tê-los como meras figurações. São tão reais em sua intensidade, seus confrontos com a difícil vida doméstica unida e suas longas brigas, que não podemos evitar de nos apaixonarmos. Sabemos que eles são transitórios, ainda mais para nós que só os temos por menos de duas horas em cada filme. Mas são extraordinários em suas vicissitudes.
"Like sunlight, sunset, we appear, we disappear. We are so important to some, but we are just passing through."
Nunca história de amor alguma foi contada como essa. Aplausos.
Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário
2.5 810 Assista AgoraNão, a infância de vocês não foi destruída. Mas ninguém que é fã da série de longa data é mais criança, tampouco a série é a mesma dos anos 90. Ela tem a necessidade de se redescobrir (e para isso tentativas e por vezes falhas são precisas). O gosto para com cada mudança vai de cada um, mas execrar a existência de mudanças em si não passa de um apego insólito que as pessoas tem pela "infância", como se pudessem resgatá-la vendo a mesma coisa que viam quando pequenos sem entender as exigências do mercado e de que CDZ nunca sobreviveria vendendo se estivesse fazendo sempre a mesma coisa.
O filme não é perfeito (o que nada dentro do mundo de CDZ nunca foi, mas todo mundo esquece disso), mas está longe de ser a porcaria que o estão estigmatizando.
Azul é a Cor Mais Quente
3.7 4,3K Assista AgoraLamento, mas vai ser longo:
Como eu sou a favor da afirmação "O livro é do autor e o filme do diretor", vou tentar não manter dissertar sobre o quanto esse filme é desastroso no quesito "adaptação", preferindo considerá-lo algo isolado - O que é estranho, pois talvez o único prazer que eu tenha encontrado no filme tenha sido as poucas referências esfaceladas da HQ.
Tudo é diferente, a começar pela protagonista. Não só muda de Clementine para Adele no trajeto da HQ para o filme. Adele é uma pessoa perdida e praticamente desesperada em suas lacunas existenciais inexplicáveis que em nada tangencia com a doçura angustiada e inocente de Clementine, que se encontra no mundo apenas tentando se entender. Adele é praticamente vazia.
Os rumos da história são tão flutuantes que eu cheguei até a cena final sem acreditar que depois de três horas aquilo poderia ser chamado de conclusão. E não é para menos que o filme durou tanto, com uma quantidade implacável de enormes tomadas que não dizem NADA - talvez servissem para inserir o espectador no vazio perturbador de Adele, e ainda assim muito porcamente - nem têm qualquer função para a história. Tantas cenas dela como professora que são simplesmente NADA. N-A-D-A. Argh.
Como um filme pode ter tanto tempo e mesmo assim ser tão mínimo? A obra começa claramente dando indícios de discutir a aceitação da homossexualidade, porém após uma única cena onde isso é ponto de pauta, tal assunto MORRE, ofendendo toda a trama da HQ. Os diálogos eram raramente interessantes e sempre pareciam pretensiosamente querer expressar leveza no contato delas, o que não acontecia.
As cenas de sexo são extensas sem também terem qualquer peso para a história, acontecendo repetidas vezes sem enriquecer o conto de amor das meninas, mais me soando como um fetiche bem realizado do diretor - que segundo muitos boatos, fez-se alheio às reclamações de desconforto das atrizes em toda a composição sexual. E aliás, quando a Adele e a Emma se pegam pela primeria vez, a Emma não estava namorando?? A Satine meramente deixa de ser citada e pronto, resolvido! É dado um salto no tempo completamente abrupto mostrando-as mais velhas sem construir de fato uma conexão entre elas e já esmigalhando-a pelas agruras que o tempo e a monotonia trás.
Nenhum tema pertinente à história original foi focado. O auto-descobrimento? O estar no mundo? A insegurança dos relacionamentos? A aceitação do mundo? NADA. Talvez eu me sinta assim por ter lido a HQ e ter alimentado expectativas. A única coisa elogiável é a fotografia e a trilha sonora, ou seja, questões técnicas. Porque o conceito se perdeu tanto que eu não entendi nada do que o filme queria dizer.
Drive
3.9 3,5K Assista AgoraQue filme impressionante! Seria Drive um neo-noir? Se fosse em preto e branco, não restaria dúvidas, não que seja essa uma qualidade imprescindível para se definir um filme como noir.
O suspense dirige a trama de forma fluida, sendo mesmo as cenas mais estáticas carregadas de uma tensão que não te dá vontade de bocejar. A trilha sonora e os momentos filmados no claro carregam uma vibe tão onírica que cria um contraste com a história sombria.
É um filme cheio de forma e estrutura muito bem desenhadas, sem deixar o espectador flutuando na história, mas também sem subestimar seu intelecto. Funcionou muito bem!
Psicopata Americano
3.7 1,9K Assista AgoraDa série "filmes bem mal compreendidos pelo público" bem do ladinho de Clube de Luta. Existe uma razão para as cenas de homicídio serem tão vagas, terem cenas tão inverossímeis além do personagem de Bale ser o pior Serial Killer prático que já existiu. Todo esse vácuo existencial proporcionado pelo American Way of Life, pelo desenfreado capitalismo de fim de século que precisava se firmar como um sistema magnífico que trás oportunidades para todos, tornou Patrick um homem que busca refúgio do cotidiano mecanizado pintando de sangue seu apartamento cuja brancura reflete sua carência espiritual de algo para alimentar seu ser.
Vendo ou Alugo
2.3 160 Assista AgoraAdiciono aos já vistos, mas com certa vergonha.
Nada se salva, e se torna uma epítome da ideologia de mercado das indústrias que monopolizam o mercado cinematográfico do Brasil: comédias infladas de piada fácil, estereótipos e pastelões (o que até é melhor que a escatologia da comédia americana genérica), atores incertos (salvo a Marieta Severo, que mesmo assim não salva nada do filme). Uma ou outra piada boa não produz nada em um filme que tão miseravelmente subestima o intelecto do seu público alvo, não levantando um dedo para produzir algo diferente.