A arte de abrir o netflix pra assistir qualquer coisa despretensiosamente e se deparar com uma puta proposta boa. 2. Morosidade, possíveis absurdos, gordas incompletudes: a arte de, em séries ou filmes, usar bem elementos comumente ruins, como recurso artístico deliberado. Há algo de divertido na atmosfera e na humanidade dos personagens de Southcliffe. Mas, antes, preulas prenhas, quanta avaliação negativa. (É óbvio que só numa impressão pessoal,) Southcliffe não tem um desenvolvimento lento, nem propriamente abrupto; tudo parece perfeitamente no ponto, minuciosamente encaixado. Quando realizada com jeito, a fragmentação narrativa na ausência de linearidade só aumenta o sabor de assistir e intensifica clímaxes: e aqui pululam inúmeros méritos; o roteiro é lindo de ver, as tomadas, edição de som, direção de arte e a fotografia cinzenta são um largo repasto... Agora, em particular as atuações, sem exceção estupendas, seja numa amostra de fragilidade humana como na de Shirley Henderson, ou na cara hirta e seca das ideias de si e consumações na do Sean Harris. Mas talvez o que torne a minissérie um prato um tico mais especial se dê ainda em outros dois personagens, o eventualmente cabaço repórter perplexo e o curioso marido infiel: à primeira vista pode parecer uma estranheza predominante, mas transcorre do início ao fim um ótimo humor negro, quase implícito, em sorrisos e suspensões, como uma oposição visual na estreita similaridade das faces quando riem e quando choram, idênticas. Se, por um lado, fica no ar o tato diante do trauma de terceiros e a tessitura delicada das uniões ou desuniões entre os seres, em outro, sugere-se uma ideia um tanto simultaneamente verossímil e cruel de como as pessoas se autoafetam sendo incrédulas à realidade de suas próprias dores ou convencendo-se excessivamente da mesma. Longe da perfeição, é claro, mas a somatória geral resulta num troço plenamente aceitável. Sofisticado, risível e comovente.
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Southcliffe
3.6 10A arte de abrir o netflix pra assistir qualquer coisa despretensiosamente e se deparar com uma puta proposta boa. 2. Morosidade, possíveis absurdos, gordas incompletudes: a arte de, em séries ou filmes, usar bem elementos comumente ruins, como recurso artístico deliberado.
Há algo de divertido na atmosfera e na humanidade dos personagens de Southcliffe.
Mas, antes, preulas prenhas, quanta avaliação negativa. (É óbvio que só numa impressão pessoal,) Southcliffe não tem um desenvolvimento lento, nem propriamente abrupto; tudo parece perfeitamente no ponto, minuciosamente encaixado. Quando realizada com jeito, a fragmentação narrativa na ausência de linearidade só aumenta o sabor de assistir e intensifica clímaxes: e aqui pululam inúmeros méritos; o roteiro é lindo de ver, as tomadas, edição de som, direção de arte e a fotografia cinzenta são um largo repasto...
Agora, em particular as atuações, sem exceção estupendas, seja numa amostra de fragilidade humana como na de Shirley Henderson, ou na cara hirta e seca das ideias de si e consumações na do Sean Harris.
Mas talvez o que torne a minissérie um prato um tico mais especial se dê ainda em outros dois personagens, o eventualmente cabaço repórter perplexo e o curioso marido infiel: à primeira vista pode parecer uma estranheza predominante, mas transcorre do início ao fim um ótimo humor negro, quase implícito, em sorrisos e suspensões, como uma oposição visual na estreita similaridade das faces quando riem e quando choram, idênticas. Se, por um lado, fica no ar o tato diante do trauma de terceiros e a tessitura delicada das uniões ou desuniões entre os seres, em outro, sugere-se uma ideia um tanto simultaneamente verossímil e cruel de como as pessoas se autoafetam sendo incrédulas à realidade de suas próprias dores ou convencendo-se excessivamente da mesma.
Longe da perfeição, é claro, mas a somatória geral resulta num troço plenamente aceitável. Sofisticado, risível e comovente.