Acho interessante quando um filme é criticado por "diálogos desnecessários", cenas que "não contribuem para a trama", e afins. Esse tipo de comentário revela o pensamento utilitarista do grande público, que repete termos que ouviu em críticas aqui e ali, mas que tem uma visão simplista do que um filme pode (ou "precisa") ser.
Boa parte das pessoas acredita que um filme tem a obrigação de focar numa história, com começo, meio e fim. Daí, tudo o que não serve ao propósito do relato objetivo não vale; é perda de tempo; é erro. Como se uma obra cinematográfica fosse uma matéria jornalística.
Outra crítica frequente a Amsterdam que ecoa clichês é que o filme "se arrasta". O utilitarismo quer que um filme, além de útil, vá logo ao ponto. Afinal, é o ponto que importa. O filme tem ou não tem um objetivo? E, se tem, por que perder tempo com qualquer coisa que não o alcance desse objetivo? Imagino que as pessoas que viram o filme com essa ótica não suportariam O Fabuloso Destino de Amélie Poulan.
Dalenogare foi citado aqui algumas vezes, por afirmar que os cinco minutos finais de Amsterdam revelam uma história incrível que poderia ser um filmaço. Mas me incomoda a ideia de que toda grande história precise resultar num grande filme. Ou que todo filme precise ser grande ou importante. Parece que o filme tinha obrigação de ser mais sobre história e política do que sobre o que ele realmente é — amizade, amor, e liberdade.
Tudo bem acreditar que fatos históricos sejam mais importantes do que aventuras românticas. E tudo bem acreditar que fazer um relato sério de eventos reais seja mais valioso do que usá-los como pano de fundo para um argumento idealista. Mas é um erro esperar que o cinema ou a obra cinematográfica estejam sob a obrigação de obedecer aos mesmos valores que nós.
Tenho também dificuldade de acreditar que as pessoas que alegam que o elenco de peso foi desperdiçado tenham maior noção do significado de Amsterdam do que os atores que aceitaram participar do projeto, com plena noção de que teriam pouco tempo de tela. Quero dizer, se Chris Rock acreditou que valia a pena participar do longa quase que apenas como alívio cômico, é mais provável que ele tenha visto algo de valor nessa obra que me passou despercebido ou será mais provável que eu tenha maior noção do que o ator a respeito de como deveria escolher seus papéis?
Amsterdam certamente não é o filme do ano, e nem acho que tentou ser. Creio que O. Russel fez do filme exatamente o que queria, talvez errando a mão de leve na edição, somente. Mas o filme não é para o grande público. É especialmente para espíritos livres e artistas.
Vou falar com quem gosta de arte: não escute aos protestos “Marilyn merecia mais que isso”, “muita nudez”, e “filme mentiroso”. São comentários conservadores. Muitas vezes, sem referências cinematográficas ou interpretação artística.
Blonde é um filme maravilhoso; certamente um dos melhores do ano. Mas isso não significa que seja agradável de assistir. O problema do grande público criticando é acreditar que o cinema tem a obrigação de fazer você se sentir bem.
Blonde é baseado no livro homônimo de Joyce Carol Oates, que frisa sempre que sua obra não é biográfica. Daí o filme ser uma obra de ficção, e é um erro atribuir a ele a função de alertar que não se trata de um documentário, já que ele não faz segredo sobre o livro que adapta. O filme não finge ser uma história real.
Quem quer uma obra que proteja a imagem de Marilyn deve assistir a Sete dias com Marilyn. Blonde não tem essa preocupação e, para a mensagem que transmite, a demolição de Marilyn não é apenas válida, como essencial. Ela é um personagem do imaginário masculino, que sua intérprete sabe não ser real. Norma, na vida real e no filme, sabia fazer essa separação melhor que a indústria, o público, e a mídia.
Em Blonde, não apenas separar Norma de Marilyn, mas matar a segunda, é deixar Norma livre de um personagem que está cansada de interpretar, que é a fonte principal de suas angústias.
E a nudez? “Estão sexualizando Marilyn e De Armas”. Não. A nudez é tão presente porque Marilyn, na vida real, gostava de estar nua quando em casa. E também porque serve a propósitos relativos à mensagem do filme.
De Armas (que não apareceu nua contra sua vontade) representa uma Marilyn Monroe exposta, vulnerável, o bastante para incomodar. É intencional que os olhos que sempre imaginam a mulher pelada tenham sua fantasia esfregada no focinho para entender que essa idealização não é romântica nem necessariamente bela.
Norma, a pessoa real, não é a vítima de um diretor sem zelo por si. A vítima do filme é Marilyn: o símbolo da fantasia masculina misógina. Não a Marilyn biográfica, mas a Marilyn que, nesta obra, personifica a objetificação masculina da mulher. Essa Marilyn precisa ficar nua em vez de ser protegida e exaltada.
O longa critica a misoginia e o machismo como um todo, bem como em Hollywood. Para isso, usa Marilyn como um símbolo da realidade da mulher dentro e fora da indústria do cinema. Isso não é um desrespeito a Norma, pois ela, dentro e fora de Blonde, sabia bem que Marilyn era exatamente isso, e demonstrava querer o fim desse ícone.
Blonde quer dizer que, figurativamente, inúmeras mulheres vivem um pesadelo ao estar sob o constante holofote masculino, com suas câmeras, contratos, demandas, e principalmente sob o personagem que o imaginário masculino impõe sobre elas. Se causa mal estar, é porque acerta. Não é um drama em homenagem à real estrela Marilyn. É para fazer a gente sentir o que uma mulher idealizada e sexualizada e abusada sentiria. É para causar vergonha, desconforto, náusea, e revolta.
Deve incomodar que tanta gente proteste pela conservação da imagem de Marilyn após assistir a esse enorme esforço artístico para destruir tal imagem frente à sua origem e problemática claramente expostos.
Para terminar, direção original e impressionante, com uma fotografia e edição maravilhosas, trilha sonora diferente e delicada, e atuação magnífica.
Antes de qualquer coisa, para todos os que acham a história inverossímil: esta é uma modernização da tragédia Romeu e Julieta, escrita em tempos em que amor e relacionamentos eram algo muito distante do que compreendemos na modernidade.
Esse amor instantâneo, turbulento e inconsequente é um modelo fictício do amor adolescente. É para ser absurdo.
Spielberg era o diretor certo para recriar esse clássico. Não imagino outro que traria tomadas tão icônicas e fotografia tão bela, conseguindo modernizar um filme que não tem um ritmo muito rápido.
Mas essa versão consegue capturar a atenção mesmo nos momentos em que o clássico dava sono. Obviamente, bailarinos incríveis, e uma protagonista de voz maravilhosa e canto impecável.
Quando a Pixar faz um filme pro público infantil, geral reclama que o filme foi bobo. Quando ela faz um filme mais adulto, reclamam que faltou magia.
Lightyear apela ao público que viu o primeiro Toy Story na década de 90, composto hoje de adultos. Adultos que, como o Buzz desse filme, precisaram fazer escolhas difíceis.
Quem precisou tomar a decisão de abandonar um ideal, mesmo sabendo que precisaria desapontar as expectativas das pessoas mais queridas… Quem precisou abrir mão de uma missão em que investiu muito esforço e sacrifício… Quem precisa lidar com a síndrome do impostor e a ideia de que uma pessoa só tem valor se for útil… Quem precisou aceitar que a única vida que considerava possível era apenas uma de várias possibilidades, e que o modo de viver do outro também é válido… Essas pessoas sabem como a mensagem de Lightyear é tocante.
Uma das melhores comédias de ação e crime dos últimos anos, sem dúvida.
Coreografias de combate originais, ágeis e interessantes, ótimas tomadas e fotografia, trilha sonora deliciosa, roteiro bem escrito, efeitos visuais satisfatórios, e edição surpreendente.
O que O Agente Oculto prometeu e não entregou, esse filme tem de sobra.
Sensacional como Pitt poderia ter revivido algum personagem cômico que já interpretou, mas trouxe uma presença nova pra tela, acertando a mão na comédia.
Limão e Tangerina são perfeitamente cativantes, lembrando personagens dos irmãos Cohen, mas com um groove que não deixa a gente vê-los como meros idiotas.
Um filme com ritmo e personalidade, que pede pra ser visto de novo e de novo.
se o filme fosse todo como os 15 minutos finais, seria bom
é quando o diretor começa a exaltar os personagens e momentos decisivos acertando na trilha e criando tomadas épicas
atuações péssimas de regé-jean e jessica henwick, que também têm as falas mais ultrapassadas do mundo pra um filme com esse orçamento
chris evans é tudo de bom, mas demora a convencer como vilão
billy bob, super mal aproveitado por um roteiro que não torna seu personagem querido como ele precisava ser pra que sua história tivesse apelo
ainda bem que tem o gosling e a de armas pra aliviar antes do clímax do filme, que é a única parte que faz sentir que a experiência não foi uma perda de tempo
se quiser uma comédia de ação e crime, trem-bala é muito melhor
Ilha do Medo, Gênio Indomável, e Memento abordaram os temas desse filme com twists melhores, sem precisar se explicar tanto, e emocionando mais usando menos recursos supostamente chocantes. Este é péssimo.
Da qualidade do primeiro Doutor Estranho, este conserva apenas o deslumbre visual. Mas mesmo aí, cometeu gafes grandes o bastante pra originar memes. E o esforço é tamanho, que enjoa.
Fora isso, não parece uma continuação. O Strange que se revelou foda na saga Vingadores aparece correndo como barata tonta, limitado ao papel de babá. Afinal, seu grande momento é fechar o filme com "Eu acredito em você!"
O diretor não sabe se faz terror pra adulto, aventura macabra adolescente à la Goonies, ou se traz a nova Princesa Disney — America (numa jornada rumo a um cameo em As Visões da Raven).
Pra piorar, a gente esperou esse tempo todo pra ver a Wanda como vilã, e ela é uma das vilãs com a motivação mais tosca da história dos filmes de super-heróis. Kaecilius, do primeiro Estranho, queria acessar a vida eterna, para si a para a humanidade. Wanda quer se unir aos filhos que nunca teve. E, pra justificar essa palhaçada, "coitadinha, está sob o efeito do Darkhold". Porque é disso que a gente precisava: mais uma pessoa bem intencionada que só vira vilã por entrar em contato com um poder que não pode controlar.
Até o fraquérrimo Segredos de Dumbledore conseguiu ser menos irritante do que ver Wanda dando jumpscare. Crítica completíssima no meu site.
Odiou ou não entendeu? Terminou na força do ódio ou achou uma tentativa fracassada de ser cult? Leia aqui pelo amor dos deuses do cinema.
Para a maioria dos espectadores, não entender nada ou não ter respostas é sinal de que o filme é um “lixo”, uma “perda de tempo”, como li bastante aqui. Essas sensações do público só reforçam o talento e a mensagem do diretor.
Sobre não entender nada, o diretor brinca o tempo todo com um exagero intencional de metáforas, referências culturais, e simbolismos, justamente pra nos deixar buscando significado nas coisas, como nosso protagonista e seu colega visitado pela Mulher-Coruja — dois conspiracionistas.
Não entendemos nada porque boa parte do que o diretor apresenta como enigmático é pura distração, reforçando o discurso do personagem de Topher Grace, que diz que nossa geração se interessa por qualquer suposto mistério porque está imersa numa vida desinteressante.
Dizer que esse filme é ruim por apresentar supostos mistérios que não se resolvem é atestar que o diretor estava certo ao representar nossa geração com um personagem que procura significado em tudo o tempo todo. Mesmo naquilo em que não existe sentido.
O filme não responde nossas dúvidas porque não há dúvidas a serem respondidas, em primeiro lugar. É o que diz a dançarina dos balões ao protagonista, quando se encontram numa balada subterrânea: que o que importa é viver, porque sentido, mesmo, a gente não deveria perder tempo buscando.
O personagem de Garfield não se contenta e continua investigando tudo e todos até chegar a um chefão que repete o mesmo discurso: não há rebelião, só existe eu ganhando dinheiro com as músicas que você acha que definem sua existência.
Dizer, então, que o filme é uma perda de tempo, mostra que o diretor acertou ao nos representar como um personagem que não aceita a possibilidade de desperdiçar tempo em busca de respostas e sentido, muito menos a possibilidade de eles não existirem.
Em segundo lugar, o filme não elucida seus mistérios porque não se trata de nenhum deles, mas sim desse protagonista prestes a se tornar um sem-teto, mas que odeia os sem-teto e não tem medo de dizer isso em voz alta. É sobre esse rapaz, que se sente o herói da história, incumbido de salvar uma donzela em apuros, mas que é apenas um voyeur atrás de uma garota que mal conhece, e que nem quer ser salva de nada. Ele é um narcisista misógino, estourando os balões dos corpos de mulheres por aí sem jamais questionar suas intenções.
O filme é um retrato de uma cidade (Los Angeles) numa época (a nossa) e, por conseguinte, de uma geração mergulhada no tédio e saturada de informação, convencida de que pode enxergar o que ninguém mais enxerga sobre o mundo real.
O mistério de Silver Lake não é o assassino de cachorros invisível*, o desaparecimento de Sarah, a seita a que se juntam os ricos, nem o magnata, compositor. Também não é o rei dos mendigos nem o coiote. O mistério de Silver Lake é esse rapaz que, apesar de ser capaz de bater em crianças, espionar vizinhas, e talvez até matar cachorros*, se enxerga como um cavalheiro em uma nobre missão.
* Se um mistério no filme é uma metáfora real e não uma distração, é a do assassino de cachorros. O filme abre com a tomada de uma pichação alertando sobre o perigo desse criminoso, que uma mulher tenta insistentemente apagar sem sucesso. A história começa com um alerta sobre o protagonista, que é encontrado pelo Rei dos Mendigos com biscoitos para cachorros no bolso, apesar de não ter um pet. Esse cara, quando vê uma mulher em seus sonhos ou na realidade, não consegue ouvir sua voz. Em vez disso, fica aterrorizado com elas latindo. É por isso que ele anda por aí matando cachorros incógnito — matando mulheres, no sentido figurado. Ele não as entende ou escuta. Ele não as conhece, e isso lhe causa medo. Ou seja, misoginia.
Numa conversa com seu amigo que não tem nome, surge a sugestão de que possa haver mais de um assassino de cachorros à solta. Esse amigo é o mesmo que, mais tarde, vai guiar Sam numa sessão voyeur através de um drone. Uma mulher que é vista nua e chorando, no centro do quadro, cada vez mais perto — uma cena que incomoda qualquer espectador, mas não causa nenhuma reação em Sam e seu amigo; símbolos de uma geração de homens misóginos que não se enxergam assim, porque a seus olhos, estão apenas matando cachorros.
A insistência em criar tomadas icônicas beira o cômico. Especialmente dado que quase todo o primeiro ato foi claramente filmado em chroma-key. Com CGI sofrível e tentativas frustradas de gerar tensão, o filme leva duas horas pra contar o que poderia fazer em uma. Pra piorar, o elenco deixou Kenneth e Emma Mackey atuando sozinhos.
Eu jurava que tinha uma cena com closes de uma ou mais pessoas comendo as tortas infames com todo o gosto do mundo, se esbaldando, empanturrando, e derrubando carne pelos cantos da boca. Eu delirei? Não vi essa cena no filme nem encontrei em nenhum lugar.
Acho que as mortes demoram muito a acontecer e só uma é realmente satisfatória. O casal jovem é um porre desnecessário. Acho que teria adorado se fosse um curta, porque não precisava de mais de 45 minutos pra contar essa história.
O Depp rendeu algumas tomadas icônicas, mas é um filminho chato. O que salva é a comédia, mas não sei se ela casa com o final tão fodido de terror. Acho que seria melhor ser todo comédia ou todo terrorzão.
Feliz de ver que não sou o único a perceber que esse é um dos melhores da Disney Pixar. Na minha opinião, o melhor desde o subestimado O Bom Dinossauro. Pra quem curte críticas de filme, to no TikTok e tenho um blog com o mesmo apelido daqui. 😉
Mais uma vez, a Sony Pictures pega um personagem famoso e amado como vilão para trazer ao cinema como herói. Do jeitinho que fez com o Venom, melou o Morbius. Não é o pior filme do ano, e pode ser que Morbius venha recebendo críticas mais duras do que merece. Mas é como disse o site Arroba Nerd: “não é tão ruim quanto parecia ser, só que também não é bom”. Crítica completa no meu site sobre filmes, séries e outras nerdices
O pior filme que vi em um ano. Vergonha desse roteiro. Cresci assistindo aos Power Rangers, e esse filme não presta a devida homenagem. Aliás, qualquer episódio do seriado é melhor que isso.
Não alcança a medida de humor dos dois primeiros, nem segue o mesmo ritmo. Acaba não parecendo parte da franquia.
Um filme que mostra a origem de uma agência secreta durante a Primeira Guerra, tendo como personagens Rei George, Rasputin, e Lênin poderia ter sido bem mais divertido, que é justamente a proposta da franquia — trazer diversão de volta aos filmes de agente secreto.
O melhor do filme é a reviravolta em torno de Conrad, que realmente surpreende, e as cenas de confronto físico.
Dessa vez, tenho que concordar com todo mundo: o filme é fraco. Um noir com bastante potencial, mas que não acontece.
A melhor coisa do filme é observar como as experiências do protagonista remetem a algumas memórias que temos de Hugh Jackman em O Rei do Show, além da relação da história com Orfeu e Eurídice.
Não entendeu o que é realidade e achou que o filme não tem desfecho? Ou entendeu que o filme é antidrogas e raso? Vários comentários dizem que o filme é confuso e não se aprofunda. Vamo lá.
Não existe nada mágico acontecendo. Nem as velas acendendo nem poderes telecinéticos. Não há simulações nem “pessoas falsas”, e o mundo belo e perfeito também não existe. Essa é a história de duas pessoas com transtornos mentais que se encontram no mundo das drogas e dividem uma viagem alucinógena que se torna mais sofisticada conforme eles usam drogas mais pesadas. O mundo real é aquele horroroso, mesmo, onde moram os filhos de Greg.
Os cristais amarelos são uma droga sofisticada que permite que o casal divida alucinações relativamente simples. Sob seu efeito, ambos podem ver o chefe de Greg caindo pela janela e outras “pessoas falsas” sendo jogadas no chão por meio de gestos mágicos, mas tudo no mundo real. Esse alucinógeno, digamos, oferece uma sensação de liberdade por meio do aparente controle da realidade.
Os cristais azuis oferecem uma experiência bem mais complexa, onde a feiúra do mundo real dá lugar a uma realidade paradisíaca. O controle não é mais necessário, pois o mundo é perfeito, e é finalmente possível experimentar bliss — êxtase. Acaba a necessidade de estar “em busca da felicidade”.
Vários expectadores aqui parecem se perguntar por que o filme não deixa isso mais claro, e acham que foi por incompetência. Na verdade, essa confusão dos comentadores só reforça que o filme teve boa direção e atuações, pois a intenção da obra é oferecer uma experiência imersiva de desassociação da realidade.
Em sua psicose, Isabel não sabe mais distinguir fato de fantasia. Ao conhecer Greg, o arrasta para o que imagina ser realidade. Ele, por sua vez, também se perde no êxtase de aproveitar a beleza de tudo como se fosse a primeira vez, se distanciando cada vez mais da realidade sem perceber.
Vários espectadores que entenderam a mesma coisa acharam que não tem nada de original nessa trama ou que ela não foi bem executada, o que também mostra que não entenderam o ponto do filme, que é muito mais profundo do que um sermão antidrogas.
Na verdade, o filme é um questionamento sobre a busca da felicidade. Todos temos o instinto de transcender o sofrimento e, se pudéssemos, escolheríamos uma vida de pura beleza e constante alegria e paz. Um mundo inteiramente belo seria melhor que o nosso, para a maioria das pessoas. Ao pensar isso, nós negamos a realidade de uma maneira ou outra.
O filme não é exclusivamente sobre a experiência de pessoas com drogas, mas sobre a vivência de todo ser humano com a tentativa de substituir o real pelo ideal de qualquer maneira possível.
Nesse ímpeto, tendemos a nos afastar das pessoas — até mesmo das que nos amam — pois é difícil, na constante busca por êxtase, perceber que os outros também são pessoas reais, com dores reais, e dividindo a mesma realidade que nós. Buscando a felicidade a todo custo, focamos apenas na nossa experiência, e a feiúra do mundo parece ser um ataque pessoal, que ninguém percebe como nós. Dessa forma, apenas os que enxergam as coisas da mesma maneira que nós parecem ser “reais”, por mais alucinados e delirantes que estejam. E as pessoas “comuns”, por não parecer mergulhar na mesma espiral que nós, parecem distantes das percepções que temos, o que reduz a realidade delas aos nossos olhos.
Isso tudo vem do ponto de vista de uma “pessoa falsa”, não uma “pessoa real”, em situação de marginalização como Greg e Isa. Por outro lado, o filme também nos força a nos colocar na pele de quem já se perdeu da realidade como conhecemos, até o ponto de nós questionarmos o que é real ou fantasia na história. Dessa forma, o expectador comum pode se identificar com pessoas que sofrem transtornos e vícios e transcender opiniões redutoras sobre o que elas passam.
Então não, o filme não é mal feito, pouco original, nem raso. Apenas mal compreendido.
PS: A comparação com Matrix é imprecisa, no mínimo.
Seria bom não dar a menor bola para notas e comentários de pessoas que não gostam de musicais. Até porque elas geralmente não gostam porque não entendem o gênero.
Larson escreveu sobre o futuro num tipo de profecia assertiva, porque criou o retrato de como vivemos hoje. Enquanto isso, a história dele parece a da maioria dos jovens adultos com transtornos de ansiedade num mundo que demanda sucesso absoluto e sublime.
Desde La La Land, eu não via um protagonista de musical com quem fosse tão profunda e fácil a identificação.
Quanto à música, a genialidade de Larson fica mais evidente à medida que o filme progride, culminando na cena do Central Park, onde a qualidade da sua escrita impressiona, o que é reforçado pelo fato de a canção mais tocante não depender de vários vocais ou banda.
É uma história sobre crise existencial e de carreira, sobre amizade e amor, sobre modernidade e sonho. Tudo isso apresentado com menos pompa do que os musicais costumam usar, o que torna a apresentação menos mágica e mais humana e, por isso mesmo, mais certeira rumo ao emocional do espectador.
Eu duvido muito que as pessoas rebaixando a música do filme tenham alguma experiência escrevendo canções. Escrever sobre qualquer coisa é um trabalho para poucos. Contar histórias em música utilizando o banal para tratar de assuntos complexos fazendo tudo soar fácil… Coisa de gênio.
Fiquei doído de ver que o tick, tick, boom que Larson profetizou também não era neurose. Ele acertou sobre o futuro da nossa geração e sobre o seu próprio.
Amsterdã
3.0 158Acho interessante quando um filme é criticado por "diálogos desnecessários", cenas que "não contribuem para a trama", e afins. Esse tipo de comentário revela o pensamento utilitarista do grande público, que repete termos que ouviu em críticas aqui e ali, mas que tem uma visão simplista do que um filme pode (ou "precisa") ser.
Boa parte das pessoas acredita que um filme tem a obrigação de focar numa história, com começo, meio e fim. Daí, tudo o que não serve ao propósito do relato objetivo não vale; é perda de tempo; é erro. Como se uma obra cinematográfica fosse uma matéria jornalística.
Outra crítica frequente a Amsterdam que ecoa clichês é que o filme "se arrasta". O utilitarismo quer que um filme, além de útil, vá logo ao ponto. Afinal, é o ponto que importa. O filme tem ou não tem um objetivo? E, se tem, por que perder tempo com qualquer coisa que não o alcance desse objetivo? Imagino que as pessoas que viram o filme com essa ótica não suportariam O Fabuloso Destino de Amélie Poulan.
Dalenogare foi citado aqui algumas vezes, por afirmar que os cinco minutos finais de Amsterdam revelam uma história incrível que poderia ser um filmaço. Mas me incomoda a ideia de que toda grande história precise resultar num grande filme. Ou que todo filme precise ser grande ou importante. Parece que o filme tinha obrigação de ser mais sobre história e política do que sobre o que ele realmente é — amizade, amor, e liberdade.
Tudo bem acreditar que fatos históricos sejam mais importantes do que aventuras românticas. E tudo bem acreditar que fazer um relato sério de eventos reais seja mais valioso do que usá-los como pano de fundo para um argumento idealista. Mas é um erro esperar que o cinema ou a obra cinematográfica estejam sob a obrigação de obedecer aos mesmos valores que nós.
Tenho também dificuldade de acreditar que as pessoas que alegam que o elenco de peso foi desperdiçado tenham maior noção do significado de Amsterdam do que os atores que aceitaram participar do projeto, com plena noção de que teriam pouco tempo de tela. Quero dizer, se Chris Rock acreditou que valia a pena participar do longa quase que apenas como alívio cômico, é mais provável que ele tenha visto algo de valor nessa obra que me passou despercebido ou será mais provável que eu tenha maior noção do que o ator a respeito de como deveria escolher seus papéis?
Amsterdam certamente não é o filme do ano, e nem acho que tentou ser. Creio que O. Russel fez do filme exatamente o que queria, talvez errando a mão de leve na edição, somente. Mas o filme não é para o grande público. É especialmente para espíritos livres e artistas.
Blonde
2.6 443 Assista AgoraVou falar com quem gosta de arte: não escute aos protestos “Marilyn merecia mais que isso”, “muita nudez”, e “filme mentiroso”. São comentários conservadores. Muitas vezes, sem referências cinematográficas ou interpretação artística.
Blonde é um filme maravilhoso; certamente um dos melhores do ano. Mas isso não significa que seja agradável de assistir. O problema do grande público criticando é acreditar que o cinema tem a obrigação de fazer você se sentir bem.
Blonde é baseado no livro homônimo de Joyce Carol Oates, que frisa sempre que sua obra não é biográfica. Daí o filme ser uma obra de ficção, e é um erro atribuir a ele a função de alertar que não se trata de um documentário, já que ele não faz segredo sobre o livro que adapta. O filme não finge ser uma história real.
Quem quer uma obra que proteja a imagem de Marilyn deve assistir a Sete dias com Marilyn. Blonde não tem essa preocupação e, para a mensagem que transmite, a demolição de Marilyn não é apenas válida, como essencial. Ela é um personagem do imaginário masculino, que sua intérprete sabe não ser real. Norma, na vida real e no filme, sabia fazer essa separação melhor que a indústria, o público, e a mídia.
Em Blonde, não apenas separar Norma de Marilyn, mas matar a segunda, é deixar Norma livre de um personagem que está cansada de interpretar, que é a fonte principal de suas angústias.
E a nudez? “Estão sexualizando Marilyn e De Armas”. Não. A nudez é tão presente porque Marilyn, na vida real, gostava de estar nua quando em casa. E também porque serve a propósitos relativos à mensagem do filme.
De Armas (que não apareceu nua contra sua vontade) representa uma Marilyn Monroe exposta, vulnerável, o bastante para incomodar. É intencional que os olhos que sempre imaginam a mulher pelada tenham sua fantasia esfregada no focinho para entender que essa idealização não é romântica nem necessariamente bela.
Norma, a pessoa real, não é a vítima de um diretor sem zelo por si. A vítima do filme é Marilyn: o símbolo da fantasia masculina misógina. Não a Marilyn biográfica, mas a Marilyn que, nesta obra, personifica a objetificação masculina da mulher. Essa Marilyn precisa ficar nua em vez de ser protegida e exaltada.
O longa critica a misoginia e o machismo como um todo, bem como em Hollywood. Para isso, usa Marilyn como um símbolo da realidade da mulher dentro e fora da indústria do cinema. Isso não é um desrespeito a Norma, pois ela, dentro e fora de Blonde, sabia bem que Marilyn era exatamente isso, e demonstrava querer o fim desse ícone.
Blonde quer dizer que, figurativamente, inúmeras mulheres vivem um pesadelo ao estar sob o constante holofote masculino, com suas câmeras, contratos, demandas, e principalmente sob o personagem que o imaginário masculino impõe sobre elas. Se causa mal estar, é porque acerta. Não é um drama em homenagem à real estrela Marilyn. É para fazer a gente sentir o que uma mulher idealizada e sexualizada e abusada sentiria. É para causar vergonha, desconforto, náusea, e revolta.
Deve incomodar que tanta gente proteste pela conservação da imagem de Marilyn após assistir a esse enorme esforço artístico para destruir tal imagem frente à sua origem e problemática claramente expostos.
Para terminar, direção original e impressionante, com uma fotografia e edição maravilhosas, trilha sonora diferente e delicada, e atuação magnífica.
Enter The Void: Viagem Alucinante
4.0 870a imersão sensorial é real e muito bem produzida, com tomadas surpreendentes, e um estilo único
quanto à trágica história e a relevância da jornada do protagonista, acho que não merece as quase três horas de duração, e não acrescenta muito
Amor, Sublime Amor
3.4 355 Assista AgoraAntes de qualquer coisa, para todos os que acham a história inverossímil: esta é uma modernização da tragédia Romeu e Julieta, escrita em tempos em que amor e relacionamentos eram algo muito distante do que compreendemos na modernidade.
Esse amor instantâneo, turbulento e inconsequente é um modelo fictício do amor adolescente. É para ser absurdo.
Spielberg era o diretor certo para recriar esse clássico. Não imagino outro que traria tomadas tão icônicas e fotografia tão bela, conseguindo modernizar um filme que não tem um ritmo muito rápido.
Mas essa versão consegue capturar a atenção mesmo nos momentos em que o clássico dava sono. Obviamente, bailarinos incríveis, e uma protagonista de voz maravilhosa e canto impecável.
Lightyear
3.2 391 Assista AgoraQuando a Pixar faz um filme pro público infantil, geral reclama que o filme foi bobo. Quando ela faz um filme mais adulto, reclamam que faltou magia.
Lightyear apela ao público que viu o primeiro Toy Story na década de 90, composto hoje de adultos. Adultos que, como o Buzz desse filme, precisaram fazer escolhas difíceis.
Quem precisou tomar a decisão de abandonar um ideal, mesmo sabendo que precisaria desapontar as expectativas das pessoas mais queridas… Quem precisou abrir mão de uma missão em que investiu muito esforço e sacrifício… Quem precisa lidar com a síndrome do impostor e a ideia de que uma pessoa só tem valor se for útil… Quem precisou aceitar que a única vida que considerava possível era apenas uma de várias possibilidades, e que o modo de viver do outro também é válido… Essas pessoas sabem como a mensagem de Lightyear é tocante.
Trem-Bala
3.6 584 Assista AgoraUma das melhores comédias de ação e crime dos últimos anos, sem dúvida.
Coreografias de combate originais, ágeis e interessantes, ótimas tomadas e fotografia, trilha sonora deliciosa, roteiro bem escrito, efeitos visuais satisfatórios, e edição surpreendente.
O que O Agente Oculto prometeu e não entregou, esse filme tem de sobra.
Sensacional como Pitt poderia ter revivido algum personagem cômico que já interpretou, mas trouxe uma presença nova pra tela, acertando a mão na comédia.
Limão e Tangerina são perfeitamente cativantes, lembrando personagens dos irmãos Cohen, mas com um groove que não deixa a gente vê-los como meros idiotas.
Um filme com ritmo e personalidade, que pede pra ser visto de novo e de novo.
Agente Oculto
3.2 380 Assista Agorase o filme fosse todo como os 15 minutos finais, seria bom
é quando o diretor começa a exaltar os personagens e momentos decisivos acertando na trilha e criando tomadas épicas
atuações péssimas de regé-jean e jessica henwick, que também têm as falas mais ultrapassadas do mundo pra um filme com esse orçamento
chris evans é tudo de bom, mas demora a convencer como vilão
billy bob, super mal aproveitado por um roteiro que não torna seu personagem querido como ele precisava ser pra que sua história tivesse apelo
ainda bem que tem o gosling e a de armas pra aliviar antes do clímax do filme, que é a única parte que faz sentir que a experiência não foi uma perda de tempo
se quiser uma comédia de ação e crime, trem-bala é muito melhor
Spiderhead
2.5 197 Assista AgoraIlha do Medo, Gênio Indomável, e Memento abordaram os temas desse filme com twists melhores, sem precisar se explicar tanto, e emocionando mais usando menos recursos supostamente chocantes. Este é péssimo.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
3.5 1,2K Assista AgoraDa qualidade do primeiro Doutor Estranho, este conserva apenas o deslumbre visual. Mas mesmo aí, cometeu gafes grandes o bastante pra originar memes. E o esforço é tamanho, que enjoa.
Fora isso, não parece uma continuação. O Strange que se revelou foda na saga Vingadores aparece correndo como barata tonta, limitado ao papel de babá. Afinal, seu grande momento é fechar o filme com "Eu acredito em você!"
O diretor não sabe se faz terror pra adulto, aventura macabra adolescente à la Goonies, ou se traz a nova Princesa Disney — America (numa jornada rumo a um cameo em As Visões da Raven).
Pra piorar, a gente esperou esse tempo todo pra ver a Wanda como vilã, e ela é uma das vilãs com a motivação mais tosca da história dos filmes de super-heróis. Kaecilius, do primeiro Estranho, queria acessar a vida eterna, para si a para a humanidade. Wanda quer se unir aos filhos que nunca teve. E, pra justificar essa palhaçada, "coitadinha, está sob o efeito do Darkhold". Porque é disso que a gente precisava: mais uma pessoa bem intencionada que só vira vilã por entrar em contato com um poder que não pode controlar.
Até o fraquérrimo Segredos de Dumbledore conseguiu ser menos irritante do que ver Wanda dando jumpscare. Crítica completíssima no meu site.
Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore
3.3 571Fraquinho como todos da franquia Animais, mas o que tem o visual mais legal na saga.
O Mistério de Silver Lake
3.0 290 Assista AgoraOdiou ou não entendeu? Terminou na força do ódio ou achou uma tentativa fracassada de ser cult? Leia aqui pelo amor dos deuses do cinema.
Para a maioria dos espectadores, não entender nada ou não ter respostas é sinal de que o filme é um “lixo”, uma “perda de tempo”, como li bastante aqui. Essas sensações do público só reforçam o talento e a mensagem do diretor.
Sobre não entender nada, o diretor brinca o tempo todo com um exagero intencional de metáforas, referências culturais, e simbolismos, justamente pra nos deixar buscando significado nas coisas, como nosso protagonista e seu colega visitado pela Mulher-Coruja — dois conspiracionistas.
Não entendemos nada porque boa parte do que o diretor apresenta como enigmático é pura distração, reforçando o discurso do personagem de Topher Grace, que diz que nossa geração se interessa por qualquer suposto mistério porque está imersa numa vida desinteressante.
Dizer que esse filme é ruim por apresentar supostos mistérios que não se resolvem é atestar que o diretor estava certo ao representar nossa geração com um personagem que procura significado em tudo o tempo todo. Mesmo naquilo em que não existe sentido.
O filme não responde nossas dúvidas porque não há dúvidas a serem respondidas, em primeiro lugar. É o que diz a dançarina dos balões ao protagonista, quando se encontram numa balada subterrânea: que o que importa é viver, porque sentido, mesmo, a gente não deveria perder tempo buscando.
O personagem de Garfield não se contenta e continua investigando tudo e todos até chegar a um chefão que repete o mesmo discurso: não há rebelião, só existe eu ganhando dinheiro com as músicas que você acha que definem sua existência.
Dizer, então, que o filme é uma perda de tempo, mostra que o diretor acertou ao nos representar como um personagem que não aceita a possibilidade de desperdiçar tempo em busca de respostas e sentido, muito menos a possibilidade de eles não existirem.
Em segundo lugar, o filme não elucida seus mistérios porque não se trata de nenhum deles, mas sim desse protagonista prestes a se tornar um sem-teto, mas que odeia os sem-teto e não tem medo de dizer isso em voz alta. É sobre esse rapaz, que se sente o herói da história, incumbido de salvar uma donzela em apuros, mas que é apenas um voyeur atrás de uma garota que mal conhece, e que nem quer ser salva de nada. Ele é um narcisista misógino, estourando os balões dos corpos de mulheres por aí sem jamais questionar suas intenções.
O filme é um retrato de uma cidade (Los Angeles) numa época (a nossa) e, por conseguinte, de uma geração mergulhada no tédio e saturada de informação, convencida de que pode enxergar o que ninguém mais enxerga sobre o mundo real.
O mistério de Silver Lake não é o assassino de cachorros invisível*, o desaparecimento de Sarah, a seita a que se juntam os ricos, nem o magnata, compositor. Também não é o rei dos mendigos nem o coiote. O mistério de Silver Lake é esse rapaz que, apesar de ser capaz de bater em crianças, espionar vizinhas, e talvez até matar cachorros*, se enxerga como um cavalheiro em uma nobre missão.
* Se um mistério no filme é uma metáfora real e não uma distração, é a do assassino de cachorros. O filme abre com a tomada de uma pichação alertando sobre o perigo desse criminoso, que uma mulher tenta insistentemente apagar sem sucesso. A história começa com um alerta sobre o protagonista, que é encontrado pelo Rei dos Mendigos com biscoitos para cachorros no bolso, apesar de não ter um pet. Esse cara, quando vê uma mulher em seus sonhos ou na realidade, não consegue ouvir sua voz. Em vez disso, fica aterrorizado com elas latindo. É por isso que ele anda por aí matando cachorros incógnito — matando mulheres, no sentido figurado. Ele não as entende ou escuta. Ele não as conhece, e isso lhe causa medo. Ou seja, misoginia.
Numa conversa com seu amigo que não tem nome, surge a sugestão de que possa haver mais de um assassino de cachorros à solta. Esse amigo é o mesmo que, mais tarde, vai guiar Sam numa sessão voyeur através de um drone. Uma mulher que é vista nua e chorando, no centro do quadro, cada vez mais perto — uma cena que incomoda qualquer espectador, mas não causa nenhuma reação em Sam e seu amigo; símbolos de uma geração de homens misóginos que não se enxergam assim, porque a seus olhos, estão apenas matando cachorros.
Halloween: A Noite do Terror
3.7 1,2K Assista AgoraNão entendo o hype. Filmes de terror da mesma época costumavam ser melhores tecnicamente e mais assustadores.
Deuses do Egito
2.6 719 Assista AgoraFaz jus à má fama que tem
Morte no Nilo
3.1 353 Assista AgoraA insistência em criar tomadas icônicas beira o cômico. Especialmente dado que quase todo o primeiro ato foi claramente filmado em chroma-key. Com CGI sofrível e tentativas frustradas de gerar tensão, o filme leva duas horas pra contar o que poderia fazer em uma. Pra piorar, o elenco deixou Kenneth e Emma Mackey atuando sozinhos.
Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet
3.9 2,2K Assista AgoraEu jurava que tinha uma cena com closes de uma ou mais pessoas comendo as tortas infames com todo o gosto do mundo, se esbaldando, empanturrando, e derrubando carne pelos cantos da boca. Eu delirei? Não vi essa cena no filme nem encontrei em nenhum lugar.
Acho que as mortes demoram muito a acontecer e só uma é realmente satisfatória. O casal jovem é um porre desnecessário. Acho que teria adorado se fosse um curta, porque não precisava de mais de 45 minutos pra contar essa história.
O Depp rendeu algumas tomadas icônicas, mas é um filminho chato. O que salva é a comédia, mas não sei se ela casa com o final tão fodido de terror. Acho que seria melhor ser todo comédia ou todo terrorzão.
Red: Crescer é uma Fera
3.9 554 Assista AgoraFeliz de ver que não sou o único a perceber que esse é um dos melhores da Disney Pixar. Na minha opinião, o melhor desde o subestimado O Bom Dinossauro. Pra quem curte críticas de filme, to no TikTok e tenho um blog com o mesmo apelido daqui. 😉
Morbius
2.3 521Mais uma vez, a Sony Pictures pega um personagem famoso e amado como vilão para trazer ao cinema como herói. Do jeitinho que fez com o Venom, melou o Morbius.
Não é o pior filme do ano, e pode ser que Morbius venha recebendo críticas mais duras do que merece. Mas é como disse o site Arroba Nerd: “não é tão ruim quanto parecia ser, só que também não é bom”. Crítica completa no meu site sobre filmes, séries e outras nerdices
Power Rangers
3.2 1,1K Assista AgoraO pior filme que vi em um ano. Vergonha desse roteiro. Cresci assistindo aos Power Rangers, e esse filme não presta a devida homenagem. Aliás, qualquer episódio do seriado é melhor que isso.
Apresentando os Ricardos
3.2 179É engraçado as pessoas dizendo que o filme se perde quando foram elas que se perderam na narrativa.
King's Man: A Origem
3.1 297 Assista AgoraNão alcança a medida de humor dos dois primeiros, nem segue o mesmo ritmo. Acaba não parecendo parte da franquia.
Um filme que mostra a origem de uma agência secreta durante a Primeira Guerra, tendo como personagens Rei George, Rasputin, e Lênin poderia ter sido bem mais divertido, que é justamente a proposta da franquia — trazer diversão de volta aos filmes de agente secreto.
O melhor do filme é a reviravolta em torno de Conrad, que realmente surpreende, e as cenas de confronto físico.
Caminhos da Memória
2.8 216 Assista AgoraDessa vez, tenho que concordar com todo mundo: o filme é fraco. Um noir com bastante potencial, mas que não acontece.
A melhor coisa do filme é observar como as experiências do protagonista remetem a algumas memórias que temos de Hugh Jackman em O Rei do Show, além da relação da história com Orfeu e Eurídice.
Bliss: Em Busca da Felicidade
2.6 86 Assista AgoraNão entendeu o que é realidade e achou que o filme não tem desfecho? Ou entendeu que o filme é antidrogas e raso? Vários comentários dizem que o filme é confuso e não se aprofunda. Vamo lá.
Não existe nada mágico acontecendo. Nem as velas acendendo nem poderes telecinéticos. Não há simulações nem “pessoas falsas”, e o mundo belo e perfeito também não existe. Essa é a história de duas pessoas com transtornos mentais que se encontram no mundo das drogas e dividem uma viagem alucinógena que se torna mais sofisticada conforme eles usam drogas mais pesadas. O mundo real é aquele horroroso, mesmo, onde moram os filhos de Greg.
Os cristais amarelos são uma droga sofisticada que permite que o casal divida alucinações relativamente simples. Sob seu efeito, ambos podem ver o chefe de Greg caindo pela janela e outras “pessoas falsas” sendo jogadas no chão por meio de gestos mágicos, mas tudo no mundo real. Esse alucinógeno, digamos, oferece uma sensação de liberdade por meio do aparente controle da realidade.
Os cristais azuis oferecem uma experiência bem mais complexa, onde a feiúra do mundo real dá lugar a uma realidade paradisíaca. O controle não é mais necessário, pois o mundo é perfeito, e é finalmente possível experimentar bliss — êxtase. Acaba a necessidade de estar “em busca da felicidade”.
Vários expectadores aqui parecem se perguntar por que o filme não deixa isso mais claro, e acham que foi por incompetência. Na verdade, essa confusão dos comentadores só reforça que o filme teve boa direção e atuações, pois a intenção da obra é oferecer uma experiência imersiva de desassociação da realidade.
Em sua psicose, Isabel não sabe mais distinguir fato de fantasia. Ao conhecer Greg, o arrasta para o que imagina ser realidade. Ele, por sua vez, também se perde no êxtase de aproveitar a beleza de tudo como se fosse a primeira vez, se distanciando cada vez mais da realidade sem perceber.
Vários espectadores que entenderam a mesma coisa acharam que não tem nada de original nessa trama ou que ela não foi bem executada, o que também mostra que não entenderam o ponto do filme, que é muito mais profundo do que um sermão antidrogas.
Na verdade, o filme é um questionamento sobre a busca da felicidade. Todos temos o instinto de transcender o sofrimento e, se pudéssemos, escolheríamos uma vida de pura beleza e constante alegria e paz. Um mundo inteiramente belo seria melhor que o nosso, para a maioria das pessoas. Ao pensar isso, nós negamos a realidade de uma maneira ou outra.
O filme não é exclusivamente sobre a experiência de pessoas com drogas, mas sobre a vivência de todo ser humano com a tentativa de substituir o real pelo ideal de qualquer maneira possível.
Nesse ímpeto, tendemos a nos afastar das pessoas — até mesmo das que nos amam — pois é difícil, na constante busca por êxtase, perceber que os outros também são pessoas reais, com dores reais, e dividindo a mesma realidade que nós. Buscando a felicidade a todo custo, focamos apenas na nossa experiência, e a feiúra do mundo parece ser um ataque pessoal, que ninguém percebe como nós. Dessa forma, apenas os que enxergam as coisas da mesma maneira que nós parecem ser “reais”, por mais alucinados e delirantes que estejam. E as pessoas “comuns”, por não parecer mergulhar na mesma espiral que nós, parecem distantes das percepções que temos, o que reduz a realidade delas aos nossos olhos.
Isso tudo vem do ponto de vista de uma “pessoa falsa”, não uma “pessoa real”, em situação de marginalização como Greg e Isa. Por outro lado, o filme também nos força a nos colocar na pele de quem já se perdeu da realidade como conhecemos, até o ponto de nós questionarmos o que é real ou fantasia na história. Dessa forma, o expectador comum pode se identificar com pessoas que sofrem transtornos e vícios e transcender opiniões redutoras sobre o que elas passam.
Então não, o filme não é mal feito, pouco original, nem raso. Apenas mal compreendido.
PS: A comparação com Matrix é imprecisa, no mínimo.
O Mistério de Silver Lake
3.0 290 Assista AgoraQuem achou o filme fraco ou ruim não tem referência de cinema
tick, tick... BOOM!
3.8 450Seria bom não dar a menor bola para notas e comentários de pessoas que não gostam de musicais. Até porque elas geralmente não gostam porque não entendem o gênero.
Larson escreveu sobre o futuro num tipo de profecia assertiva, porque criou o retrato de como vivemos hoje. Enquanto isso, a história dele parece a da maioria dos jovens adultos com transtornos de ansiedade num mundo que demanda sucesso absoluto e sublime.
Desde La La Land, eu não via um protagonista de musical com quem fosse tão profunda e fácil a identificação.
Quanto à música, a genialidade de Larson fica mais evidente à medida que o filme progride, culminando na cena do Central Park, onde a qualidade da sua escrita impressiona, o que é reforçado pelo fato de a canção mais tocante não depender de vários vocais ou banda.
É uma história sobre crise existencial e de carreira, sobre amizade e amor, sobre modernidade e sonho. Tudo isso apresentado com menos pompa do que os musicais costumam usar, o que torna a apresentação menos mágica e mais humana e, por isso mesmo, mais certeira rumo ao emocional do espectador.
Eu duvido muito que as pessoas rebaixando a música do filme tenham alguma experiência escrevendo canções. Escrever sobre qualquer coisa é um trabalho para poucos. Contar histórias em música utilizando o banal para tratar de assuntos complexos fazendo tudo soar fácil… Coisa de gênio.
Fiquei doído de ver que o tick, tick, boom que Larson profetizou também não era neurose. Ele acertou sobre o futuro da nossa geração e sobre o seu próprio.