Até prende a atenção. A computação gráfica em "Dagon" traz um quê de defeito especial à adaptação de Lovecraft - aliás, as adaptações do autor norte-americano pelo diretor Stuart Gordon, cheias de audaz sanguinolência e humor negro, são quase um subgênero em si mesmas. Enfim, válido. Os filmes de Gordon (homenageado no Fantaspoa 2012) são todos válidos. Uns mais, outros menos.
Pilar do subgênero Nazi Exploitation (consultar Wikipedia para maiores informações), "Ilsa - She Wolf of the SS" é um filme de baixíssimo orçamento, porém nunca preguiçoso. Percebe-se que seus planos são intencional e cuidadosamente planejados e que cenas de violência em câmera lenta fazem recordar a criatividade Sam Peckinpah. Aliás, muito do horror gráfico mitologicamente atribuído ao filme é bem suave, quase sugestivo, se comparado a obras cinematográficas extremas do cinema moderno. A grande questão de filmes como "Ilsa...", seu fascínio particular, assim como ocorre em "Salò" de Pasolini, reside na honestidade e sinceridade dos recursos visuais e narrativos usados para atingir seus objetivos. Estes filmes que se utilizam de regimes tiranos para ilustrar atos humanos atrozes tocam direto na ferida, às vezes literalmente. Tal ferida está aberta até hoje, só que alguns preferem fingir que ela não existe cobrindo-a com um falho curativo. A erotização da violência faz parte da rotina. Hipócritas ou ignorantes a consomem diariamente pelas novelas, rádios, jornais, programas de humor e quaisquer outros veículos dos meios de comunicação de massa. Acontece que esta projeção se dá nas entrelinhas, numa área segura, para que este consumidor/espectador se sinta dentro da normalidade e, por consequência, no direito de julgar o que acha que não entende. Obras como "Ilsa" são essenciais pois põem o espectador em contato com seu lado mais obscuro sem usar de subterfúgios. Levando em consideração algo tão extremo que beira o ridículo, e disso Buñuel entendia bem, rir e ter medo de si próprio encarando sua ambígua humanidade pode ser um processo quase catártico; no qual, no mínimo, se adquire um pouco de autoconhecimento.
Não é uma porcaria completa. Os efeitos são bons e orgânicos. O enredo é aquela coisa... pra quem já viu muitos e/ou bons filmes de terror pode ser entediante. No mais, é interessante a ideia de "espinhos" colocada como a de zumbis num filme de Romero; muito embora isto não seja o suficiente para conferir 6 prêmios (dentre eles melhor filme e direção) do festival americano "Screamfest" para "Splinter".
Mais um grande filme de Don Siegel, desta vez com Elvis Presley como protagonista. Contando com pouquíssimos números musicais, mas não por isso, talvez seja este o papel com o qual o Rei conseguiu chegar mais perto da interpretação de um verdadeiro ator - objetivo por ele tão almejado. A trama que permeia este faroeste versa, principalmente, sobre o drama do "outsider". Sob a batuta de Siegel, que em nenhum momento apela para "lugares comuns" em suas soluções, Elvis trabalha fora do estereótipo que se convencionou como sendo "sua atuação"; ou seja, nada do garanhão que canta rock e conquista as moças. Provado que ele faz isso bem, mas não apenas isso. Raro exemplo de filme com Elvis Presley que não precisa contar com o mesmo como atestado de qualidade (ou impropriedade, para seus detratores).
Ideia batida. O.k. Todas as estórias já foram contadas. A diferença agora reside em como contá-las. "Encaixotando Helena" apela para todos os clichês emocionais que cabem nas situações colocadas, as atuações são canastronas - no pior sentido da palavra - e a trilha sonora é brega. E o que é o final? Nele há a apelação para o pior recurso ao qual se pode recorrer no desfecho de uma estória. A sensação é de que o filme é estúpido, ou pensa que o espectador o é. Enfim, se alguém estiver interessado em ver um filme de qualidade que partilhe da mesma perspectiva da paixão obsessiva de um homem por uma mulher que veja "O Colecionador", de William Wyler. Fica a dica. "Boxing Helena" é perda de tempo.
O filme, adaptado de uma peça de teatro, é por muitas vezes construído como tal. E isto não é um demérito, apenas uma constatação - uma vez que com "Quem tem Medo de Virgínia Woolf?", grande obra do cinema, acontece a mesma coisa. Fato é que filmes que optam por este padrão estético/narrativo devem tomar alguns cuidados que passariam batidos ao público do teatro - nisto a montagem tem tanta importância quanto o roteiro e as interpretações na criação constante de situações que prendam a atenção do espectador no cinema. "The Bad Seed", cujo título em português é um lixo, tem sucesso neste quesito mas peca por ser um pouco longo e por seu desfecho, que parece ter sido feito nas coxas de uma maneira que não condiz com o resto do filme. Algumas pessoas mais sensatas talvez se irritem com a premissa apresentada de que a psicopatia pode ser exclusivamente genética. Lembrem-se que estamos falando de um filme de drama/horror dos anos 50 que sugere e lida diretamente com certas questões que são grandes tabus: menos incesto e pedofilia, mais assassinato - e assassinato em que o autor é uma menininha. "Tara Maldita" é um filme transgressor e à frente do seu tempo; como diz na sinopse acima, precursor do subgênero "crianças do mal". Merece todo o respeito.
Além da mesmerizante presença de Jayne Mansfield, apresentações de Little Richard, Fats Domino, Gene Vincent e Eddie Cochran tornam tudo mágico. Uma das mais divertidas obras na onda dos "rock films".
Como dar menos de 4 estrelas, por mais batido que seja o enredo, para um filme que conta com apresentações de Carl Perkins, Fats Domino e Jerry Lee Lewis?
Ludicamente eficiente. "Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres" é um clássico exemplo de como mentiras distorcidas podem contribuir mais para a HISTÓRIA do que meias verdades. Desta maneira, o mito de Serge Gainsbourg é explorado em quase toda a sua genialidade - numa obra de ficção que dá de mil em muitos pseudo-documentários que existem por aí. Tendo as atuações como um show à parte, o detalhismo que se conduz na narrativa durante o desenrolar da trama traz ao filme características de uma preciosidade lírica. Válido para amantes do artista. Válido para amantes do bom cinema.
Sabe aquelas estorinhas de superação tão comuns, e até mesmo caras, a qualquer filmeco água com açúcar? Aquelas, cheias de clichês, que no final refletem o política e moralmente correto para que todos se emocionem e se espelhem? Pois é... Isso é "Deus Abençoe Ozzy Osbourne", obra que não faz jus ao legado do "Príncipe das Trevas", nem ao de Ozzy. Mesmo presumindo que esta seja a abordagem mais fidedigna da vida do cantor, a sensação final é de que, pra quem não for fã, há melhores documentários por aí.
Regra mantida: filmes que têm Elvis Presley no elenco não recebem menos de 3 estrelas, por mais que mereçam. E este é um típico caso destes. Há uma espécie de interação do Rei com a cultura beatnik e hippie vigente na época, 1967. Tal abordagem mostra como Elvis era distinto da "nova onda" por vezes traduzindo esta por um viés irônico. De resto, o espectador recebe mais do mesmo (só que um mesmo sem qualidade). O Elvis Presley em ambiente praiano, rodeado de mulheres bonitas e apresentando números musicais de dúbia qualidade entedia. Até as cenas subaquáticas, quase uma novidade para a época, não são bem exploradas. No mais, pra quem acreditava que "No Paraíso do Hawaí", de 1966, acabava com as pretensões de uma carreira séria no cinema para o Rei, "Meu Tesouro..." consolida tal opinião.
A estética da obra lembra a de filmes de gângster do cinema mudo com um toque do estilo "noir", principalmente da década de 40. Uma pitada divertida de gore também está lá. Embora o ritmo e a sucessão dos acontecimentos reflitam em sua falta de precisão nitidamente não proposital um pouco de amadorismo por parte do roteirista e diretor (que acontece de ser o Joe Strummer), "Hell W10" é uma experiência essencial para verdadeiros fãs da grande banda de punk rock inglesa The Clash.
O filme não é um primor em recursos técnicos, narrativos e tampouco no que diz respeito às atuações do elenco; mas se presume que seja extremamente eficaz para os espectadores que procuram assisti-lo sabendo previamente do assunto de que ele trata. Pessoas com fascínio pelo lado negro da natureza humana dificilmente não se identificarão com o personagem protagonista, Jason Moss - e isto faz toda uma diferença. Uma fagulha de empatia numa estória pode ser suficiente para agarrar quem a acompanha pelo tempo necessário para que ela se desenvolva. Enfim, mais: se "Dear Mr. Gacy" não explica a fixação de certas pessoas por assuntos mórbidos, ele reflete questões muito interessantes para discussões, e isto levando em conta todo tipo de espectador. Curiosa deve ser a leitura do livro no qual o filme se baseou, "The Last Victim", de Jason Moss. No mínimo um desafio à compreensão.
Triste equívoco que não agradará aos fãs da franquia originalmente concebida por Eli Roth. Muito provavelmente não satisfará nem os fãs de bom horror em geral que não ligam para banais comparações entre original e remakes e/ou original e sequências. "O Albergue 3", com sua falta de criatividade e organicidade nas mortes somada à sua quase total previsibilidade no enredo, pode ser mais um exemplo de que o "torture porn" já deu o que tinha que dar; ou de que pra acrescentar alguma coisa válida a este subgênero, o filme tem que forçar barreiras, a exemplo do "A Serbian Film".
"Cellar Dweller" é um filme simples e honesto em seu objetivo: entreter o espectador. Não há outras pretensões. Até a maioria das referências artísticas que aparecem na rotina dos personagens são propositalmente e animadoramente superficiais. A única forma de arte com a qual o filme dialoga explicitamente de maneira interessante, que para alguns pode ser óbvia demais, é o formato hq. Pode-se dizer que "Cellar Dweller paga tributo indireto à revista "Tales From the Crypt", popular e percursora publicação da EC Comics durante os anos 50 que trouxe todo um tipo de estética e temática inovadoras ao horror para o universo dos quadrinhos e que, consequentemente, influenciou a abordagem cinematográfica com relação ao gênero em questão. O enredo do filme discutido, em todos os seus pormenores, isso sem contar com sua narativa e enquadramentos, soa como uma singela homenagem oitentista à "Tales from the Crypt"; e o fato de ser oitentista justifica a mão mais pesada no gore e os efeitos especiais "charmosos", quase artesanais, que marcaram aquela década. Válido.
Filme de uma originalidade perturbadora. Muito bonito e sensual de um prisma pervertido e infantil. Tragicômico, se levado demasiadamente a sério. Em aspectos mais técnicos o destaque fica para a fotografia: simplesmente um primor. Cada frame é em si um retrato com temática própria, com toda a riqueza de detalhes e explorações de profundidade de campo dignas de mestres da área, como um Araki ou um Joel-Peter Witkin. As interpretações das protagonistas também são instigantes. O exagero dá um tom caricatural de teatralidade que se concretiza na comunicação direta com o espectador tornando este, de uma maneira conscientemente estranha, cúmplice dos processos turbulentos que ocorrem no decorrer da estória. Num todo, uma experiência imperdível.
Memória... a memória coletiva mundial é relapsa. No sentido de recuperá-la reside uma das nobrezas do cinema, especialmente o do gênero documental. O documentário em questão é um válido retrato de um dos mais fantásticos músicos americanos de meados do século passado: Screamin' Jay Hawkins. Tão subestimado quanto original, Hawkins tem uma migalha de sua complexa vida exposta como um raio neste filme grego, que está em sua íntegra no youtube e que, até há pouco, não estava cadastrado no filmow. Este é o tipo de pérola que deveria ser mais divulgada e apreciada. Pelos depoimentos de gente como Bo Diddley e Jim Jarmusch, além do próprio Jay Hawkins, um olhar de relance se transforma em profundo exame levando-se em consideração a transbordante riqueza do material abordado. Isso sem mencionar as alucinantes imagens de apresentações de Hawkins, dentre elas registro de seu último show.
Filmes com Elvis não podem receber menos de três estrelas. E por esta razão, somente por esta razão, "No Paraíso do Havaí" recebe sua devida cota estrelar. O filme, de 1965, cheira a decadência. Ao contar apenas com o carisma de Elvis, sendo relapsa em quase todos os outros aspectos cinematográficos, esta produção por vezes quase expõe o Rei ao ridículo de ser uma parodia de si mesmo em previas épocas áureas. E isto faz um triste sentido, uma vez que "No Paraíso..." parece um genérico de "Feitiço Havaiano", filme com Mr. Presley de 1961 muito mais divertido. Com atuações que não cativam e números musicais nem tão bons assim, o destaque fica para a cena em que Elvis interpreta a canção "A Dog's Life" enquanto pilota um pequeno helicóptero e uma bonita menina tenta ajuda-lo a controlar cinco cachorros que estão a tocar o terror dentro da pequena cabine - saudades de "Hound Dog".
Os filmes de ficção científica e/ou horror há muito se provaram solo fértil para a formação de alegorias com relação às questões sociais e políticas da humanidade. O fato desta constatação ser notória torna muitos filmes atuais dos gêneros antes citados, tentando se utilizar de tais ferramentas metafóricas, pretensiosamente ingênuos. Inúmeros clássicos como "A Noite dos Mortos Vivos", de Romero, e "Vampiros de Almas", de Don Siegel, seguem inabaláveis como agulhadas nos cineastas mais modernos que decidem adotar esta perspectiva. "Eles Vivem" passa no teste. O filme, de fins dos anos 80, pode parecer datado se contrastado à era de hiper informação atual (afinal, é uma obra pré-internet). Mas boa arte não precisa adivinhar o futuro, basta ser atemporal. E nisto esta obra de John Carpenter se conserva. Para além de distopias afins, o enredo se centra no tipo de jogo de poder que há milênios reina na civilização ocidental. Adicione-se a isso um tanto de ação satisfatória e bom humor. Pronto: mais um ponto para o Sr. Carpenter.
Nenhum filme com Elvis Presley merece menos de três estrelas - e olha que este está longe de figurar entre os melhores. Enredo inverossímil, direção mambembe e uso por demais criterioso de dublês para Elvis. A típica visão datada e estereotipada dos norte-americanos com relação aos estrangeiros, especialmente os mexicanos, pulula durante todo o filme; e o Rei "pegador" contracenando com atores infantis soa menos repetitivo do que convincente no contexto geral. Destaque para a interpretação da música "Bossa Nova Baby" que, apesar do título, é fantástica. Enfim, filme com Elvis... sempre bom ver. Sempre divertido.
Belíssimo. Poucos filmes são tão angustiantes quanto os de Jörg Buttgereit. Seu terror não é do tipo catártico, como numa montanha-russa na qual se leva sustos para depois dar risos de alívio; tampouco busca o choque pela repugnância. Buttgereit quer fazer o espectador pensar, através do autoral/artístico, sobre um tema perene em sua obra: a morte. "O Rei da Morte", filme lento e austero, expõe esta realidade, evitada pela maioria dos mortais, com toda sua inexorabilidade tão profundamente quanto um livro de Cioran. Obra-prima.
Filmes com Elvis Presley são sempre divertidos. A execução de clássicos como "Can't Help Falling in Love" e canções menos conhecidas num mix inusitado até então no repertório do intérprete, como a fusão entre música havaiana e rock'n'roll, são shows à parte. Eficientes exemplos do que era o verdadeiro "Star System", o carisma às vezes desajeitado e datado do Rei, para além da exuberância das mulheres do elenco, é o suficiente para sacudir e fazer os filmes acontecerem. O fato de o roteiro ser bem amarrado e a direção enxuta não conta tanto quanto a simples presença de Elvis - o entertainer prefeito para filmes de entretenimento de boa qualidade.
Frankenhooker: Que Pedaço de Mulher
3.4 72Muito divertido. Típico exemplo de cinema "Henenlotteriano" - onde o horror é humor negro e a comédia é terror disfarçado. Propositalmente trash!
Dagon
3.3 114Até prende a atenção.
A computação gráfica em "Dagon" traz um quê de defeito especial à adaptação de Lovecraft - aliás, as adaptações do autor norte-americano pelo diretor Stuart Gordon, cheias de audaz sanguinolência e humor negro, são quase um subgênero em si mesmas. Enfim, válido. Os filmes de Gordon (homenageado no Fantaspoa 2012) são todos válidos. Uns mais, outros menos.
Ilsa, a Guardiã Perversa da SS
3.1 89Pilar do subgênero Nazi Exploitation (consultar Wikipedia para maiores informações), "Ilsa - She Wolf of the SS" é um filme de baixíssimo orçamento, porém nunca preguiçoso. Percebe-se que seus planos são intencional e cuidadosamente planejados e que cenas de violência em câmera lenta fazem recordar a criatividade Sam Peckinpah. Aliás, muito do horror gráfico mitologicamente atribuído ao filme é bem suave, quase sugestivo, se comparado a obras cinematográficas extremas do cinema moderno.
A grande questão de filmes como "Ilsa...", seu fascínio particular, assim como ocorre em "Salò" de Pasolini, reside na honestidade e sinceridade dos recursos visuais e narrativos usados para atingir seus objetivos. Estes filmes que se utilizam de regimes tiranos para ilustrar atos humanos atrozes tocam direto na ferida, às vezes literalmente.
Tal ferida está aberta até hoje, só que alguns preferem fingir que ela não existe cobrindo-a com um falho curativo. A erotização da violência faz parte da rotina. Hipócritas ou ignorantes a consomem diariamente pelas novelas, rádios, jornais, programas de humor e quaisquer outros veículos dos meios de comunicação de massa. Acontece que esta projeção se dá nas entrelinhas, numa área segura, para que este consumidor/espectador se sinta dentro da normalidade e, por consequência, no direito de julgar o que acha que não entende.
Obras como "Ilsa" são essenciais pois põem o espectador em contato com seu lado mais obscuro sem usar de subterfúgios. Levando em consideração algo tão extremo que beira o ridículo, e disso Buñuel entendia bem, rir e ter medo de si próprio encarando sua ambígua humanidade pode ser um processo quase catártico; no qual, no mínimo, se adquire um pouco de autoconhecimento.
Espinhos
2.7 183Não é uma porcaria completa. Os efeitos são bons e orgânicos. O enredo é aquela coisa... pra quem já viu muitos e/ou bons filmes de terror pode ser entediante.
No mais, é interessante a ideia de "espinhos" colocada como a de zumbis num filme de Romero; muito embora isto não seja o suficiente para conferir 6 prêmios (dentre eles melhor filme e direção) do festival americano "Screamfest" para "Splinter".
Estrela de Fogo
3.5 29 Assista AgoraMais um grande filme de Don Siegel, desta vez com Elvis Presley como protagonista. Contando com pouquíssimos números musicais, mas não por isso, talvez seja este o papel com o qual o Rei conseguiu chegar mais perto da interpretação de um verdadeiro ator - objetivo por ele tão almejado. A trama que permeia este faroeste versa, principalmente, sobre o drama do "outsider". Sob a batuta de Siegel, que em nenhum momento apela para "lugares comuns" em suas soluções, Elvis trabalha fora do estereótipo que se convencionou como sendo "sua atuação"; ou seja, nada do garanhão que canta rock e conquista as moças. Provado que ele faz isso bem, mas não apenas isso.
Raro exemplo de filme com Elvis Presley que não precisa contar com o mesmo como atestado de qualidade (ou impropriedade, para seus detratores).
Encaixotando Helena
3.1 307Ideia batida. O.k. Todas as estórias já foram contadas. A diferença agora reside em como contá-las. "Encaixotando Helena" apela para todos os clichês emocionais que cabem nas situações colocadas, as atuações são canastronas - no pior sentido da palavra - e a trilha sonora é brega. E o que é o final? Nele há a apelação para o pior recurso ao qual se pode recorrer no desfecho de uma estória. A sensação é de que o filme é estúpido, ou pensa que o espectador o é.
Enfim, se alguém estiver interessado em ver um filme de qualidade que partilhe da mesma perspectiva da paixão obsessiva de um homem por uma mulher que veja "O Colecionador", de William Wyler. Fica a dica. "Boxing Helena" é perda de tempo.
Tara Maldita
4.0 225O filme, adaptado de uma peça de teatro, é por muitas vezes construído como tal. E isto não é um demérito, apenas uma constatação - uma vez que com "Quem tem Medo de Virgínia Woolf?", grande obra do cinema, acontece a mesma coisa. Fato é que filmes que optam por este padrão estético/narrativo devem tomar alguns cuidados que passariam batidos ao público do teatro - nisto a montagem tem tanta importância quanto o roteiro e as interpretações na criação constante de situações que prendam a atenção do espectador no cinema. "The Bad Seed", cujo título em português é um lixo, tem sucesso neste quesito mas peca por ser um pouco longo e por seu desfecho, que parece ter sido feito nas coxas de uma maneira que não condiz com o resto do filme.
Algumas pessoas mais sensatas talvez se irritem com a premissa apresentada de que a psicopatia pode ser exclusivamente genética. Lembrem-se que estamos falando de um filme de drama/horror dos anos 50 que sugere e lida diretamente com certas questões que são grandes tabus: menos incesto e pedofilia, mais assassinato - e assassinato em que o autor é uma menininha.
"Tara Maldita" é um filme transgressor e à frente do seu tempo; como diz na sinopse acima, precursor do subgênero "crianças do mal". Merece todo o respeito.
Sabes o que Quero
3.5 17Além da mesmerizante presença de Jayne Mansfield, apresentações de Little Richard, Fats Domino, Gene Vincent e Eddie Cochran tornam tudo mágico. Uma das mais divertidas obras na onda dos "rock films".
Romance & Rock 'n Roll - Jamboree!
3.2 1Como dar menos de 4 estrelas, por mais batido que seja o enredo, para um filme que conta com apresentações de Carl Perkins, Fats Domino e Jerry Lee Lewis?
Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres
4.0 248Ludicamente eficiente. "Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres" é um clássico exemplo de como mentiras distorcidas podem contribuir mais para a HISTÓRIA do que meias verdades. Desta maneira, o mito de Serge Gainsbourg é explorado em quase toda a sua genialidade - numa obra de ficção que dá de mil em muitos pseudo-documentários que existem por aí.
Tendo as atuações como um show à parte, o detalhismo que se conduz na narrativa durante o desenrolar da trama traz ao filme características de uma preciosidade lírica. Válido para amantes do artista. Válido para amantes do bom cinema.
Deus Abençoe Ozzy Osbourne
4.3 49Sabe aquelas estorinhas de superação tão comuns, e até mesmo caras, a qualquer filmeco água com açúcar? Aquelas, cheias de clichês, que no final refletem o política e moralmente correto para que todos se emocionem e se espelhem? Pois é... Isso é "Deus Abençoe Ozzy Osbourne", obra que não faz jus ao legado do "Príncipe das Trevas", nem ao de Ozzy. Mesmo presumindo que esta seja a abordagem mais fidedigna da vida do cantor, a sensação final é de que, pra quem não for fã, há melhores documentários por aí.
Meu Tesouro é você
3.2 16 Assista AgoraRegra mantida: filmes que têm Elvis Presley no elenco não recebem menos de 3 estrelas, por mais que mereçam. E este é um típico caso destes. Há uma espécie de interação do Rei com a cultura beatnik e hippie vigente na época, 1967. Tal abordagem mostra como Elvis era distinto da "nova onda" por vezes traduzindo esta por um viés irônico. De resto, o espectador recebe mais do mesmo (só que um mesmo sem qualidade). O Elvis Presley em ambiente praiano, rodeado de mulheres bonitas e apresentando números musicais de dúbia qualidade entedia. Até as cenas subaquáticas, quase uma novidade para a época, não são bem exploradas. No mais, pra quem acreditava que "No Paraíso do Hawaí", de 1966, acabava com as pretensões de uma carreira séria no cinema para o Rei, "Meu Tesouro..." consolida tal opinião.
Hell W10
3.9 1A estética da obra lembra a de filmes de gângster do cinema mudo com um toque do estilo "noir", principalmente da década de 40. Uma pitada divertida de gore também está lá.
Embora o ritmo e a sucessão dos acontecimentos reflitam em sua falta de precisão nitidamente não proposital um pouco de amadorismo por parte do roteirista e diretor (que acontece de ser o Joe Strummer), "Hell W10" é uma experiência essencial para verdadeiros fãs da grande banda de punk rock inglesa The Clash.
Dear Mr. Gacy
3.6 50O filme não é um primor em recursos técnicos, narrativos e tampouco no que diz respeito às atuações do elenco; mas se presume que seja extremamente eficaz para os espectadores que procuram assisti-lo sabendo previamente do assunto de que ele trata.
Pessoas com fascínio pelo lado negro da natureza humana dificilmente não se identificarão com o personagem protagonista, Jason Moss - e isto faz toda uma diferença. Uma fagulha de empatia numa estória pode ser suficiente para agarrar quem a acompanha pelo tempo necessário para que ela se desenvolva.
Enfim, mais: se "Dear Mr. Gacy" não explica a fixação de certas pessoas por assuntos mórbidos, ele reflete questões muito interessantes para discussões, e isto levando em conta todo tipo de espectador.
Curiosa deve ser a leitura do livro no qual o filme se baseou, "The Last Victim", de Jason Moss. No mínimo um desafio à compreensão.
O Albergue 3
2.4 617 Assista AgoraTriste equívoco que não agradará aos fãs da franquia originalmente concebida por Eli Roth. Muito provavelmente não satisfará nem os fãs de bom horror em geral que não ligam para banais comparações entre original e remakes e/ou original e sequências. "O Albergue 3", com sua falta de criatividade e organicidade nas mortes somada à sua quase total previsibilidade no enredo, pode ser mais um exemplo de que o "torture porn" já deu o que tinha que dar; ou de que pra acrescentar alguma coisa válida a este subgênero, o filme tem que forçar barreiras, a exemplo do "A Serbian Film".
O Monstro Canibal
2.9 22"Cellar Dweller" é um filme simples e honesto em seu objetivo: entreter o espectador. Não há outras pretensões. Até a maioria das referências artísticas que aparecem na rotina dos personagens são propositalmente e animadoramente superficiais. A única forma de arte com a qual o filme dialoga explicitamente de maneira interessante, que para alguns pode ser óbvia demais, é o formato hq. Pode-se dizer que "Cellar Dweller paga tributo indireto à revista "Tales From the Crypt", popular e percursora publicação da EC Comics durante os anos 50 que trouxe todo um tipo de estética e temática inovadoras ao horror para o universo dos quadrinhos e que, consequentemente, influenciou a abordagem cinematográfica com relação ao gênero em questão. O enredo do filme discutido, em todos os seus pormenores, isso sem contar com sua narativa e enquadramentos, soa como uma singela homenagem oitentista à "Tales from the Crypt"; e o fato de ser oitentista justifica a mão mais pesada no gore e os efeitos especiais "charmosos", quase artesanais, que marcaram aquela década. Válido.
Singapore Sling
3.7 55Filme de uma originalidade perturbadora. Muito bonito e sensual de um prisma pervertido e infantil. Tragicômico, se levado demasiadamente a sério.
Em aspectos mais técnicos o destaque fica para a fotografia: simplesmente um primor. Cada frame é em si um retrato com temática própria, com toda a riqueza de detalhes e explorações de profundidade de campo dignas de mestres da área, como um Araki ou um Joel-Peter Witkin.
As interpretações das protagonistas também são instigantes. O exagero dá um tom caricatural de teatralidade que se concretiza na comunicação direta com o espectador tornando este, de uma maneira conscientemente estranha, cúmplice dos processos turbulentos que ocorrem no decorrer da estória.
Num todo, uma experiência imperdível.
Screamin' Jay Hawkins: I Put a Spell on Me
5.0 1Memória... a memória coletiva mundial é relapsa. No sentido de recuperá-la reside uma das nobrezas do cinema, especialmente o do gênero documental. O documentário em questão é um válido retrato de um dos mais fantásticos músicos americanos de meados do século passado: Screamin' Jay Hawkins. Tão subestimado quanto original, Hawkins tem uma migalha de sua complexa vida exposta como um raio neste filme grego, que está em sua íntegra no youtube e que, até há pouco, não estava cadastrado no filmow. Este é o tipo de pérola que deveria ser mais divulgada e apreciada. Pelos depoimentos de gente como Bo Diddley e Jim Jarmusch, além do próprio Jay Hawkins, um olhar de relance se transforma em profundo exame levando-se em consideração a transbordante riqueza do material abordado. Isso sem mencionar as alucinantes imagens de apresentações de Hawkins, dentre elas registro de seu último show.
No Paraíso do Havaí
3.2 20 Assista AgoraFilmes com Elvis não podem receber menos de três estrelas. E por esta razão, somente por esta razão, "No Paraíso do Havaí" recebe sua devida cota estrelar. O filme, de 1965, cheira a decadência. Ao contar apenas com o carisma de Elvis, sendo relapsa em quase todos os outros aspectos cinematográficos, esta produção por vezes quase expõe o Rei ao ridículo de ser uma parodia de si mesmo em previas épocas áureas. E isto faz um triste sentido, uma vez que "No Paraíso..." parece um genérico de "Feitiço Havaiano", filme com Mr. Presley de 1961 muito mais divertido. Com atuações que não cativam e números musicais nem tão bons assim, o destaque fica para a cena em que Elvis interpreta a canção "A Dog's Life" enquanto pilota um pequeno helicóptero e uma bonita menina tenta ajuda-lo a controlar cinco cachorros que estão a tocar o terror dentro da pequena cabine - saudades de "Hound Dog".
Vidas Amargas
4.2 176 Assista AgoraMelhor atuação de James Dean no cinema sob a batuta do fantástico Elia Kazan.
Eles Vivem
3.7 731 Assista AgoraOs filmes de ficção científica e/ou horror há muito se provaram solo fértil para a formação de alegorias com relação às questões sociais e políticas da humanidade. O fato desta constatação ser notória torna muitos filmes atuais dos gêneros antes citados, tentando se utilizar de tais ferramentas metafóricas, pretensiosamente ingênuos. Inúmeros clássicos como "A Noite dos Mortos Vivos", de Romero, e "Vampiros de Almas", de Don Siegel, seguem inabaláveis como agulhadas nos cineastas mais modernos que decidem adotar esta perspectiva.
"Eles Vivem" passa no teste. O filme, de fins dos anos 80, pode parecer datado se contrastado à era de hiper informação atual (afinal, é uma obra pré-internet). Mas boa arte não precisa adivinhar o futuro, basta ser atemporal. E nisto esta obra de John Carpenter se conserva. Para além de distopias afins, o enredo se centra no tipo de jogo de poder que há milênios reina na civilização ocidental. Adicione-se a isso um tanto de ação satisfatória e bom humor. Pronto: mais um ponto para o Sr. Carpenter.
O Seresteiro de Acapulco
3.5 48 Assista AgoraNenhum filme com Elvis Presley merece menos de três estrelas - e olha que este está longe de figurar entre os melhores. Enredo inverossímil, direção mambembe e uso por demais criterioso de dublês para Elvis.
A típica visão datada e estereotipada dos norte-americanos com relação aos estrangeiros, especialmente os mexicanos, pulula durante todo o filme; e o Rei "pegador" contracenando com atores infantis soa menos repetitivo do que convincente no contexto geral.
Destaque para a interpretação da música "Bossa Nova Baby" que, apesar do título, é fantástica. Enfim, filme com Elvis... sempre bom ver. Sempre divertido.
O Rei da Morte
3.8 61Belíssimo. Poucos filmes são tão angustiantes quanto os de Jörg Buttgereit. Seu terror não é do tipo catártico, como numa montanha-russa na qual se leva sustos para depois dar risos de alívio; tampouco busca o choque pela repugnância. Buttgereit quer fazer o espectador pensar, através do autoral/artístico, sobre um tema perene em sua obra: a morte. "O Rei da Morte", filme lento e austero, expõe esta realidade, evitada pela maioria dos mortais, com toda sua inexorabilidade tão profundamente quanto um livro de Cioran. Obra-prima.
Feitiço Havaiano
3.4 56 Assista AgoraFilmes com Elvis Presley são sempre divertidos. A execução de clássicos como "Can't Help Falling in Love" e canções menos conhecidas num mix inusitado até então no repertório do intérprete, como a fusão entre música havaiana e rock'n'roll, são shows à parte.
Eficientes exemplos do que era o verdadeiro "Star System", o carisma às vezes desajeitado e datado do Rei, para além da exuberância das mulheres do elenco, é o suficiente para sacudir e fazer os filmes acontecerem. O fato de o roteiro ser bem amarrado e a direção enxuta não conta tanto quanto a simples presença de Elvis - o entertainer prefeito para filmes de entretenimento de boa qualidade.