Tem várias coisas bem legais e em alguns momentos é muito divertido. A trama poderia ser ótima, mas em alguns momentos fica cansativa e desinteressante, além de às vezes soar forçada (o que não é necessariamente um defeito mas) de um jeito que não é divertido.
O Terceiro Olho (1966) é parecido, mas no geral mais bem acabado e, ao meu ver, mais digno da citação freudiana compo epígrafe.
Ao meu ver, tentou ser e fazer umonte de coisa e falhou miseravelmente em tudo. Parece apenas pretensioso e fraco. Tenta deixar ambiguidades mas não instiga, tenta deixar o roteiro "difícil" mas é apenas confuso, tenta ser carregado de efeitos e significados mas nem chega a perturbar. As mesmas ideias mais bem executadas seriam um filmaço, algo mais próximo de Possessão ou algo assim, uma pena. Só o nome, como o colega disse abaixo, é legal, adoraria ter gostado só por causa dele!
Uma tentativa ousada, com boas cenas, mas a sensação geral é de um remake que não quer ser só um remake e terminou pretencioso, com uma tentativa chata de "justificar" um filme de terror tentando atribuir significantes políticos pra lá de batidos e entrou pro bando dos filmes pretensamente artísticos, pretensamente abertos, confortáveis na categoria de "viva uma experiência" mais do que uma boa história. Isso tudo é válido e já produziu grandes filmes, mas como tendência já tá ficando chato e o frisson em cima de um grande filme como o original de Argento acabou me deixando bem decepcionado. Apesar de tudo, tem cenas memoráveis, é bom de assistir e acima da média geral dos filmes de terror.
Faz de tudo pra ser grandioso. Mas faz demais. Não sei se porque pelo livro já sabia de tudo, mas não me prendeu nem um pouco. Tem personagens legais (com ótimo elenco), fotografia linda e a história tinha tudo pra dar um baita filme. Mas não chega lá, peca muito na ausência de suspense, nada nunca é sombrio, os personagens são abordados aos trancos e barrancos e apesar de se tratar de um assassinato tem uma aura "colorida" que soa muito melhor em algo como Grande Hotel Budapeste. E mesmo o que há de complexo termina como uma grande lição de moral, ainda que faça de tudo pra soar o contrário. Partilho da opinião de boa parte dos comentários abaixo.
Adoro o trabalho do diretor. Chaser é ótimo e The Wailing, na minha opinião, um dos melhores filmes de todos os tempos, perfeito. Esse aqui pra mim começou muito bem, mas do meio pro fim fica ao mesmo tempo apressado e longo demais. Ainda assim uma boa pedida pra quem quer ação e violência no melhor estilo coreano (com todos os possíveis defeitos ainda tá kms à frente do aclamado i saw the devil).
Só gostei cada vez mais da série, vi o filme por último e queria mesmo uma terceira temporada ou mais filmes. Há quem diga que centrou menos na reflexão e mais na ação. Não concordo. Geralmente não gosto muito de cenas de ação mas as do filme em especial estão muito bem feitas e empolgantes,
além disso, ao tratar da "expansão" do sybil, o filme aborda ainda o aspecto colonialista de seu sistema de manutenção da "paz", e o fato de se deixar enganar propositalmente por um regime totalitário extremamente violento sob o pretexto de no fim estabelecer "mais felicidade para mais pessoas" deu um passo a frente na complexidade do sistema e de akane, que mais uma vez "aceitou" criticamente um sistema do qual desconfia o tempo todo. Ela é uma excelente personagem, assim como Kougami. E até a reflexão incluida de maneira meio forçada sobre a violência do "colonizado" como modo de manter a dignidade me pareceu interessante, ainda que esses mercenários realmente não tenham tido o desenvolvimento que poderiam se seguissem por essa linha. Serviram mais pra proporcionar cenas de ação como vilõezões batidos.
Baita série! Quero mais! E se alguém puder, gostaria de recomendação de outros animes que mantenham esse nível de ação e profundidade.
Os dois primeiros são visualmente LINDOS. Mas o que têm de lindos têm de fracos. O que chega mais próximo de algo ao menos divertido é o 2o e, ainda assim, não passa daquela qualidade encontrada em tantos videoclipes, bonitos e que parecem ter TANTO A DIZER, mas a verdade é que são muito fracos nesse ponto (a única mensagem que tentam passar é o fato de que têm protagonistas mulheres e isso a gente fica sabendo logo de cara, afinal parece o maior apelo do filme ao público que, em geral, sai decepcionado. Não falo de uma "mensagem" definitiva que os filmes devam passar, isso em geral é entediante, falo da capacidade de instigar o espectador a desenvolver uma leitura própria. Todos eles parecem implorar tanto por isso, com toda uma simbologia barata mas, ao menos pra mim, falharam muito). Quase gostava do birthday, se não fosse aquela falinha pedante no final que demonstra apenas a repetição de uma visão ignorante e desrespeitosa sobre todxs que em algum momento da vida se envolveram com "terapia" (trabalhando ou não).
Os dois últimos são só ruins mesmo. Há um esboço de boa ideia sobre a relação mãe-filho que, no entanto, desagua tristemente em jargões batidos.
De filme de terror dirigido por mulher (não costumo fazer essas classificações mas já que parece tão importante pras pessoas envolvidas nesse filme), fico eternamente com o A Girl Walks Home Alone At Night. Esse sim.
no início, a vida do casal de irmãos (mais alguém achou que eram namorados ou algo assim no começo?) era fria e desinteressante. o day in day out adulto, poderíamos dizer. o protagonista, porém, está sempre lendo e acalentava sonhos de se tornat um detetive. a volta da namorada e os acintecimentoa que ela desencadeia ativam de novo nessas vidas o imaginário infantil/adolescente que dá alguma emoção nessas vidas frias. é quando devem ficar sentados de tocaia pelo "caubói" que os irmãos finalmente têm uma conversa mais íntima e finalmente riem juntos ao ouvirem as fitas que gravaram no colegial. a "grande trama" policialesca, forçada com todos os clichês do gênero, afinal, era mero pretexto para essa volta ao imaginário (e seus desdobramentos são absolutamente ignorados com o fim do filme). o garoto compra um cachimbo, a garota se fantasia na cena decisiva, ou seja, a fantasia é reativada e um momento de quase tensão é o que de mais divertido ocorre no filme e, provavelmente, nas suas vidas.
Pensando em tudo isso, que imaginei ao longo do filme mas achei que se evidencia acima de tudo no final, é uma proposta interessante. Mas a experiência não passa muito de mais um filme indie talvez bem organizado e conduzido até demais. Mas não teria isso, também, a ver com a proposta que esbocei acima?
esse filme é com certeza uma das coisas mais tocantes que já vi na vida, emana todo o poder que - com ou sem a veia documental - apenas uma excelente narrativa (e ele é uma aula disso!) pode exercer.
Acho que é mesmo tecnicamente perfeito. O outro filme de Strickland que tinha visto, Berberian Sound Studio, tinha me intrigado bastante, mas achei ainda assim um filme bem pretensioso e que no fim não entregava tanto quanto prometia. De toda forma, recomendo para aqueles que gostaram de The Duke of Burgundy. Esse sim, achei um grande filme, tecnicamente perfeito, como muitos disseram e achei particularmente interessante o comentário que o caracteriza como "historicamente vazio". Esse é um fato que me chamou bastante atenção mesmo:
Se pensarmos bem, tudo é se passa em um ambiente aparentemente aristocrático, casas enormes e afastadas, ao mesmo tempo que ambas parecem frequentar uma pequena sociedade científica (com bastante cara de século XIX, bem como as coleções de insetos, etc) constituída apenas por mulheres. Há sim, portanto, um certo estranhamento histórico no filme, e esse "vazio" parece de alguma forma ideal para o isolamento de um tema como a fantasia de Evelyn.
Novamente pagando um leve tributo aos giallos italianos (mais explícito em Berberian Sound Studio), esse novo filme de Strickland fornece belas imagens, trilha sonora linda, um excelente desenvolvimento da trama e das personagens (a repetição, particularmente os bilhetes cumprem funções muito específicas e funcionam muito bem ao lidar com o tema do fetiche) e, na minha opinião, é o filme que até aqui lidou de forma mais humana e profunda (bonita em todos os sentidos) com o imaginário masochista, quase catalogando-o, sem deixar de, no fundo, estar tratando de uma relação bastante profunda (eu chamaria até mesmo de uma história de amor) entre o casal portagonista.
a última cena, quando Cynthia tenta repetir mais uma vez a cena-fetiche de Evelyn, não consegue, mas é acolhida pela amada, é pra mim uma das cenas mais emocionantes que já assisti, e o que faz com que o filme seja mais complexo que uma história de sofrimento, perversão e abuso (o que costuma acontecer mesmo em grandes filmes que trataram do tema).
ao longo do filme, sentia estar diante de algo estiloso, autoral no melhor sentido, que podia a qualquer momento (e em alguns julguei velo mesmo recair) em cliches baratos e batidos acerca da possível crítica a ser empreendida. com o filme terminado, aquilo que pareciam resvalos me parecem qualidades e o filme me parece muito mais inteligente e sem dúvidas propõe uma multiplicidade de camadas críticas dificilmente resolvíveis (assim como na sociedade em que situa a história) a partir dos binarismos mais fáceis aos quais facilmente adere o artista pensador ou militante que leva a ferro e fogo a diferença entre mudar e interpretar mundo. ainda assim, acho que não chega a ser grande. é inteligente, mas falta um pouco de encanto. ou a falta de encanto faça sentido na coisa toda. é divertido, pelo menos. e muito bonito.
meus conhecimentos na área eram escassos e limitados ao vago imaginário dos filmes do tarantino e a uma exibição de um filme do brucili no cinemark ano passado (que me seduziu pacas!), minha infância foi mais no vandame nesmo e companhia. agora me deparo com esse filme quase inexplicável. uma série de saborosos elementos narrativos está lá:
personagens baseados em estilos baseados em animais e máscaras estilosas: já tá muito bom! além disso o cômico crítico na representação dos pequenos e cada vez maiores mandos e desmandos na pequena cidade ganha cada vez mais contornos policialescos e toda a trama em torno de confusões e alianças secretas entre codinomes honrosos e nomes cotidianos emprestam a esse suposto filme de luta uma aura detetivesca das mais divertidas e. ao caminhar pro desfecho a boa e velha violência de todo filme 70 de gênero, aquela sanguinolencia requintada mas meio atenuada pelo laranja viscoso desse sangue nada realista (o que lembra por vezes os mais escrachados giallos!). é diversão garantida pra quem gosta de uma podreira mas sem deixar de garantir uma boa base pra reflexão acerca não apenas do funcionamento do poder numa pequena sociedade que é sem dúvidas criticadas mas também pela decisão do mestre de encerrar a própria "máquina de guerra" posta em funcionamento por seu próprio clã e que, ao fim e ao cabo, não estava tão distante do funcionalismo público aparentemente sonolento que é posto em movimento com a chegada do "ze ninguém" (6 discipulo) que, ao lado do último bom discipulo cumpe as ordens do menstre. mas o aparente final feliz não deixa de expressar uma melancolica renúncia ao "trabalho completo", o governo continua o governo e parece natural que venham a brotar novas maquinas de guerra em seu interior
. além disso, as cenas de luta são divertidíssimas e os cenários na última cena, deslumbrantes! é sem ponta de ironia que, satisfeito o gosto de trasheiro, afirmo: FILMAÇO! vou ver mais do gênero com certeza!
um dia talvez escreva o belo texto que esse filme merece, ou talvez passe ridículo acreditando escrever um belo texto, por enquanto diria apenas que é perfeito.
Falou e disse o cara que disse que ele é esquecível e inesquecível ao mesmo tempo. Com 10 minutos já tava completamente envolvido, pensando que ia bem num aspecto que divide brutalmente em dois grupos os filmes de terror: aqueles em que apenas as cenas violentas ou de susto interessam e aqueles que tem personagens e situações - se não complexas e bem desenvolvidas, ao menos - divertidas ao longo de todo o filme. O bebê de Rosemary é para mim o maior exemplo disso.
Mas eu ainda esperava um filme de terror. De repente, aquilo que tinha me encantado a princípio (o jeitão caricato de sessão da tarde) se tornou chato, uma vez que os exageros se acumulavam e cada vez me parecia mais bagunçado, escancarado e pouco instigante.
Agora, algumas horas depois de ver o filme, me bate um pouco de saudade daquelas personagens exageradas em clima de altas confusões. Me parece que é mesmo um filme divertido (o casal é muito bom!), que escancara tudo aquilo que os espertinhos tendem a pensar como "uma puta metáfora da sociedade". E isso que logo no começo me animou e depois se tornou incômodo acabou sendo resolvido numa simpatia brincalhona pelo todo.
Algumas das linhas principais são quase absurdamente explícitas (o herói, a questão racial, a paranóia da aparente família de bem - e aqui wes craven tem o cuidado de torna-los vilões e não uma generalização, ainda que isso venha a tona apenas no final, de modo que a sensação de uma crítica feroz permanece, ainda que tão feroz que vire palhaçada).
Mais interessante pra mim são as brincadeiras com os estereótipos do Pai e da Mãe (seus gestos, tipos de discurso e exercícios de poder lembram - salvas as devidas proporções - algo que lynch faz de modo bem mais ambíguo e amedrontador), que usam um gravador para simular orações e alimentam uma vida extremamente violenta, sexualizada e perversa encoberta pelas aparências e protegida literalmente por uma miríade de cadeados.
Não é uma obra prima. Não chega perto de ser assustador. Mas é um bom filme pra ver com amigos, carismático e divertido, especialmente pra quem cresceu nos anos 90!
Honeymoon, Starry Eyes, Beyond the Black Rainbow, Antiviral.
Talvez esses filmes não tenham tanto assim em comum, mas vi todos nas últimas duas semanas e todos eles me causaram uma impressão parecida. São filmes visualmente bonitos, consideravelmente bem dirigidos, um pouco perturbadores (na verdade parecem querer perturbar bem mais do que são capazes) e que, assumindo em alguns momentos a aparência de 'filmes de horror' (no sentido mais amplo do termo), têm a intenção de realizar, mais ou menos explicitamente, críticas ou questionamentos acerca de alguns aspectos de nossa sociedade.
Todos eles, também, figuraram em listas de candidatos a tornarem-se cult movies, de filmes mais perturbadores dos últimos anos, de filmes de gênero que você não deveria perder, entre outros. E nenhum deles é tão ruim assim. Mas a verdade é que nenhum chega perto de ser tão bom.
Estou escrevendo no Antiviral por ter sido o último que assisti (e por já ter dado minha opinião de Beyond the Black Rainbow - sem dúvidas aquele de que mais esperei e talvez por isso o mais decepcionante), então falarei um pouco dele.
Nunca fui um grande fã de Cronenberg (pai). Sempre ouvi falar muito de seus filmes como perturbadores e inteligentes. É verdade que não assisti tantos assim, mas nenhum deles me pareceu tão perturbador ou tão inteligente quanto o prometido. Videodrome é bom. A Mosca é excelente. De resto, não gostei de quase nada (até gostaria de indicações, mais ao estilo desses dois).
O começo do filme é muito interessante, as imagens são bonitas, os diálogos (especialmente as vendas) são atraentes e ficamos querendo entender melhor o que está acontecendo, como funcionam aquelas relações comerciais envolvendo celebridades e tudo mais. Mas não sei, a medida que o filme passava, meu interesse diminuiu. Não achei o conflito principal (a doença do protagonista) bem desenvolvido, as coisas ficam confusas de um jeito ruim (nos filmes de Lynch, por exemplo, as coisas ficam confusas de um jeito legal) e ao fim e ao cabo a grande crítica parece apenas mais do mesmo, no velho sentido de mercantilização do corpo, da cultura de celebridades, etc, etc. A solução final, o acordo, e a última cena são realmente impactantes, até mesmo adoráveis. Mas parecem tão preparadas para isso, tão feitas para chocar, para serem críticas, para serem perturbadoras e inteligentes e críticas, que para mim perdeu um pouco o efeito
.
É o que sinto em todos esses filmes, tão preocupados em não ser hollywood, em perturbar, em ter algo a dizer, que me parecem apenas um sistema diferente, produzindo o que todo mundo entendeu que deve ser produzido. É claro que ainda acho esses filmes mais legais que esses que vão para o cinema todos os meses. Todos eles têm pontos fortes e momentos realmente interessantes. Todos têm uma cara, uma espécie de proposta que os diferencia dos filmes da grande indústria. Mas mesmo essa tentativa de fuga, essa necessidade de afirmar-se como filme diferente, repito, que "perturba e tem algo a dizer", talvez por em nenhum deles ter me convencido por completo, acabou me causando algum incômodo.
Quando penso, distanciado da experiência de estar assistindo, em alguns deles, especialmente neste Antiviral (acho que ainda o melhor dentre os que evoquei) e Honeymoon (bem interessante em alguns momentos), chego a gostar de alguns movimentos realizados por eles. Porém, repito, me parecem feitos demais com esse propósito, principalmente Starry Eyes e aquele final pretensamente enigmático, pretensamente simbólico, tão pretensiosamente crítico. É um pouco a impressão que tive nos últimos dias, por isso escrevi de todos eles juntos.
Antiviral ainda é um filme relativamente legal, mas não se compara com o que fez a série Black Mirror (assustadoramente mais perturbadora, mais crítica, mais inteligente mesmo, do que tudo o que vêm fazendo esses diretores de filmes "perturbadores") ou mesmo Her, sob a ilusória aparência de comédia romântica para fãs de big bang theory.
Sem dúvidas, em termos de trabalho visual e atmosfera, uma das coisas mais impressionantes que já assisti. O discurso de abertura, associando tecnologia e bem-estar, somado a algumas prints que tinha visto de relance, me fizeram esperar nada menos que um dos meus mais novos filmes preferidos. E em alguns momentos achei mesmo que estava diante dele, precisava apenas ter paciência, entrar no clima. Nunca fui de defender que os filmes devam ser "entendidos" para que sejam bons. Mas algo deve ser insinuado, e deve ser bem insinuado. É claro que isso é questão de opinião, mas na minha, Beyond the Black Rainbow não chega nem perto. As imagens são belíssimas, a atmosfera é encantadora, mas os diálogos, o desenvolver das coisas simplesmente não despertaram meu interesse em nenhum momento. Já vi outros filmes que não entendi e ainda assim fiquei interessado, querendo assistir de novo. Tarkovsky, Zulawski e o próprio Kubrick produziram ficções científicas difíceis de digerir mas que de alguma forma incomodam o bastante pra que vejamos de novo, busquemos novas pistas e tentemos, se não "resolver" o enigma do filme, ao menos construir nossa rede de referências, um modo de "pensá-lo" a partir de nós mesmos.
Repito, o filme é visualmente encantador, algumas cenas lembram o excelente Sob a Pele, ou o Kagemusha de Kurosawa, as cores e a trilha são lindas e em alguns trechos em que a "narrativa" é suspensa pelo desenvolvimento mais puro das alucinações pensei que o filme tomaria um caminho mais interessante. Mas quando os acontecimentos mais "palpáveis" são retomados, a coisa degringola de vez.
As sequências finais, em que o doutor persegue a moça e mata os dois jovens no mato, são lamentáveis. Entendo como uma tentativa de dar uma cara mais trash, fazer um pouco de piada, fugir do padrão sério dos filmes de ficção científica a que faz referência, mas pra mim não funcionou. Acabou me soando mais pretensioso, vazio e menos interessante.
De toda forma, fico no aguardo de algum filme que utilize toda essa capacidade visual para algo mais legal. Enquanto isso, a série Black Mirror é muito mais interessante que tudo o que vem sendo feito em matéria de ficção científica.
Desde o começo, tudo é estranho, tudo indica uma ordem diferente daquela adotada pelo protagonista, à qual, simpatizando ou voltando-nos contra, estamos certamente mais familiarizados. A alegria e naturalidade com que os habitantes de Summerisle tratam de temas desconfortáveis ao nosso fundo cultural, bem como a atmosfera nada "sombria" - e até mesmo "solar" - que prevalece durante a maior parte do filme, tornam ainda mais instigante a investigação do desaparecimento de Rowan.
Essa inversão dá a um mote comum em tramas policiais uma aparência e um efeito totalmente novos. Em vez do investigador que, perambulando por uma realidade familiar, tenta desvendar um único acontecimento insólito, em The Wicker Man o policial Howie se vê cercado por uma sociedade estruturada de um modo totalmente inesperado. A princípio, é incapaz de compreendê-la (as primeiras cenas no bar do hotel logo explicitam essa relação), depois de aceitá-la como real. Mesmo diante da atitude despreocupada dos conhecidos e familiares da desaparecida (para os quais o "acontecimento" em questão nada tem de insólito) e após os estudos em livros de história antiga (elemento típico para a resolução de mistérios em filmes do gênero), Howie não se convence de que o que se passa é exatamente aquilo que é insinuado nas ações mais banais do cotidiano da vila.
As cenas do grande festival são um prato cheio para quem se interessa por antigos ritos, máscaras, e pela violência dos dias festivos em geral. Uma sequência admirável em que o suspense, o cômico e o horror (embora não o horror a que estamos habituados) funcionam perfeitamente juntos. Tudo isso leva ao desfecho que dá nome ao filme, impactante e inesquecível.
Apenas o diálogo sobre as pedras, em que Summerisle "explica" a situação a Howie me parece quebrar um pouco a sequência. É didático demais e torna a interpretação do filme todo um pouco tendenciosa - pois todos os acontecimentos anteriores se tornam efetivamente uma conspiração dos habitantes da ilha, o que ao meu entender talvez fosse mais interessante deixar apenas insinuado. Claro que isso está longe de prejudicar o efeito geral.
Destaque também para a cena em que Howie tenta utilizar o avião e vários dos habitantes surgem com máscaras para espioná-lo - imediatamente uma de minhas preferidas de todos os tempos.
Enfim, seria legal recomendações de filmes de temática parecida, pois embora existam vários que se aproximam do tema, poucos são intrigantes e bem conduzidos como este.
Libido
3.1 6Tem várias coisas bem legais e em alguns momentos é muito divertido. A trama poderia ser ótima, mas em alguns momentos fica cansativa e desinteressante, além de às vezes soar forçada (o que não é necessariamente um defeito mas) de um jeito que não é divertido.
O Terceiro Olho (1966) é parecido, mas no geral mais bem acabado e, ao meu ver, mais digno da citação freudiana compo epígrafe.
Um Lugar Tranquilo no Campo
3.6 11Começa interessante. Tem momentos quase interessantes, mas só é bem pedante e ruim mesmo. A imagem "do artista gênio" é insuportável.
A Morte Fez um Ovo
2.7 8Ao meu ver, tentou ser e fazer umonte de coisa e falhou miseravelmente em tudo. Parece apenas pretensioso e fraco. Tenta deixar ambiguidades mas não instiga, tenta deixar o roteiro "difícil" mas é apenas confuso, tenta ser carregado de efeitos e significados mas nem chega a perturbar. As mesmas ideias mais bem executadas seriam um filmaço, algo mais próximo de Possessão ou algo assim, uma pena. Só o nome, como o colega disse abaixo, é legal, adoraria ter gostado só por causa dele!
Eli
2.5 589 Assista AgoraÉ um dos piores filmes que já vi na vida. E não daquele jeito legal. É só ruim de doer mesmo.
A Caverna
2.4 301 Assista AgoraA premissa é maravilhosa, o filme chato pra caramba, personagens chatos, conflitos chatos, monstros chatos.
Suspíria: A Dança do Medo
3.7 1,2K Assista AgoraUma tentativa ousada, com boas cenas, mas a sensação geral é de um remake que não quer ser só um remake e terminou pretencioso, com uma tentativa chata de "justificar" um filme de terror tentando atribuir significantes políticos pra lá de batidos e entrou pro bando dos filmes pretensamente artísticos, pretensamente abertos, confortáveis na categoria de "viva uma experiência" mais do que uma boa história. Isso tudo é válido e já produziu grandes filmes, mas como tendência já tá ficando chato e o frisson em cima de um grande filme como o original de Argento acabou me deixando bem decepcionado. Apesar de tudo, tem cenas memoráveis, é bom de assistir e acima da média geral dos filmes de terror.
Assassinato no Expresso do Oriente
3.4 938 Assista AgoraFaz de tudo pra ser grandioso. Mas faz demais. Não sei se porque pelo livro já sabia de tudo, mas não me prendeu nem um pouco. Tem personagens legais (com ótimo elenco), fotografia linda e a história tinha tudo pra dar um baita filme. Mas não chega lá, peca muito na ausência de suspense, nada nunca é sombrio, os personagens são abordados aos trancos e barrancos e apesar de se tratar de um assassinato tem uma aura "colorida" que soa muito melhor em algo como Grande Hotel Budapeste. E mesmo o que há de complexo termina como uma grande lição de moral, ainda que faça de tudo pra soar o contrário. Partilho da opinião de boa parte dos comentários abaixo.
Mar Sangrento
3.8 43Adoro o trabalho do diretor. Chaser é ótimo e The Wailing, na minha opinião, um dos melhores filmes de todos os tempos, perfeito. Esse aqui pra mim começou muito bem, mas do meio pro fim fica ao mesmo tempo apressado e longo demais. Ainda assim uma boa pedida pra quem quer ação e violência no melhor estilo coreano (com todos os possíveis defeitos ainda tá kms à frente do aclamado i saw the devil).
Psycho-Pass Movie
3.6 15Só gostei cada vez mais da série, vi o filme por último e queria mesmo uma terceira temporada ou mais filmes. Há quem diga que centrou menos na reflexão e mais na ação. Não concordo. Geralmente não gosto muito de cenas de ação mas as do filme em especial estão muito bem feitas e empolgantes,
além disso, ao tratar da "expansão" do sybil, o filme aborda ainda o aspecto colonialista de seu sistema de manutenção da "paz", e o fato de se deixar enganar propositalmente por um regime totalitário extremamente violento sob o pretexto de no fim estabelecer "mais felicidade para mais pessoas" deu um passo a frente na complexidade do sistema e de akane, que mais uma vez "aceitou" criticamente um sistema do qual desconfia o tempo todo. Ela é uma excelente personagem, assim como Kougami. E até a reflexão incluida de maneira meio forçada sobre a violência do "colonizado" como modo de manter a dignidade me pareceu interessante, ainda que esses mercenários realmente não tenham tido o desenvolvimento que poderiam se seguissem por essa linha. Serviram mais pra proporcionar cenas de ação como vilõezões batidos.
Baita série! Quero mais! E se alguém puder, gostaria de recomendação de outros animes que mantenham esse nível de ação e profundidade.
XX
2.7 241Os dois primeiros são visualmente LINDOS. Mas o que têm de lindos têm de fracos. O que chega mais próximo de algo ao menos divertido é o 2o e, ainda assim, não passa daquela qualidade encontrada em tantos videoclipes, bonitos e que parecem ter TANTO A DIZER, mas a verdade é que são muito fracos nesse ponto (a única mensagem que tentam passar é o fato de que têm protagonistas mulheres e isso a gente fica sabendo logo de cara, afinal parece o maior apelo do filme ao público que, em geral, sai decepcionado. Não falo de uma "mensagem" definitiva que os filmes devam passar, isso em geral é entediante, falo da capacidade de instigar o espectador a desenvolver uma leitura própria. Todos eles parecem implorar tanto por isso, com toda uma simbologia barata mas, ao menos pra mim, falharam muito). Quase gostava do birthday, se não fosse aquela falinha pedante no final que demonstra apenas a repetição de uma visão ignorante e desrespeitosa sobre todxs que em algum momento da vida se envolveram com "terapia" (trabalhando ou não).
Os dois últimos são só ruins mesmo. Há um esboço de boa ideia sobre a relação mãe-filho que, no entanto, desagua tristemente em jargões batidos.
De filme de terror dirigido por mulher (não costumo fazer essas classificações mas já que parece tão importante pras pessoas envolvidas nesse filme), fico eternamente com o A Girl Walks Home Alone At Night. Esse sim.
Clima Frio
3.0 14Um filme bem conduzido, bem filmado, divertidinho. No fim, ao menos pra mim, ficou claro do que estava falando o tempo todo.
no início, a vida do casal de irmãos (mais alguém achou que eram namorados ou algo assim no começo?) era fria e desinteressante. o day in day out adulto, poderíamos dizer. o protagonista, porém, está sempre lendo e acalentava sonhos de se tornat um detetive. a volta da namorada e os acintecimentoa que ela desencadeia ativam de novo nessas vidas o imaginário infantil/adolescente que dá alguma emoção nessas vidas frias. é quando devem ficar sentados de tocaia pelo "caubói" que os irmãos finalmente têm uma conversa mais íntima e finalmente riem juntos ao ouvirem as fitas que gravaram no colegial. a "grande trama" policialesca, forçada com todos os clichês do gênero, afinal, era mero pretexto para essa volta ao imaginário (e seus desdobramentos são absolutamente ignorados com o fim do filme). o garoto compra um cachimbo, a garota se fantasia na cena decisiva, ou seja, a fantasia é reativada e um momento de quase tensão é o que de mais divertido ocorre no filme e, provavelmente, nas suas vidas.
Pensando em tudo isso, que imaginei ao longo do filme mas achei que se evidencia acima de tudo no final, é uma proposta interessante. Mas a experiência não passa muito de mais um filme indie talvez bem organizado e conduzido até demais. Mas não teria isso, também, a ver com a proposta que esbocei acima?
The Great White Silence
3.8 5esse filme é com certeza uma das coisas mais tocantes que já vi na vida, emana todo o poder que - com ou sem a veia documental - apenas uma excelente narrativa (e ele é uma aula disso!) pode exercer.
O Duque de Burgundy
3.3 80Acho que é mesmo tecnicamente perfeito. O outro filme de Strickland que tinha visto, Berberian Sound Studio, tinha me intrigado bastante, mas achei ainda assim um filme bem pretensioso e que no fim não entregava tanto quanto prometia. De toda forma, recomendo para aqueles que gostaram de The Duke of Burgundy. Esse sim, achei um grande filme, tecnicamente perfeito, como muitos disseram e achei particularmente interessante o comentário que o caracteriza como "historicamente vazio". Esse é um fato que me chamou bastante atenção mesmo:
Se pensarmos bem, tudo é se passa em um ambiente aparentemente aristocrático, casas enormes e afastadas, ao mesmo tempo que ambas parecem frequentar uma pequena sociedade científica (com bastante cara de século XIX, bem como as coleções de insetos, etc) constituída apenas por mulheres. Há sim, portanto, um certo estranhamento histórico no filme, e esse "vazio" parece de alguma forma ideal para o isolamento de um tema como a fantasia de Evelyn.
Novamente pagando um leve tributo aos giallos italianos (mais explícito em Berberian Sound Studio), esse novo filme de Strickland fornece belas imagens, trilha sonora linda, um excelente desenvolvimento da trama e das personagens (a repetição, particularmente os bilhetes cumprem funções muito específicas e funcionam muito bem ao lidar com o tema do fetiche) e, na minha opinião, é o filme que até aqui lidou de forma mais humana e profunda (bonita em todos os sentidos) com o imaginário masochista, quase catalogando-o, sem deixar de, no fundo, estar tratando de uma relação bastante profunda (eu chamaria até mesmo de uma história de amor) entre o casal portagonista.
a última cena, quando Cynthia tenta repetir mais uma vez a cena-fetiche de Evelyn, não consegue, mas é acolhida pela amada, é pra mim uma das cenas mais emocionantes que já assisti, e o que faz com que o filme seja mais complexo que uma história de sofrimento, perversão e abuso (o que costuma acontecer mesmo em grandes filmes que trataram do tema).
A Doce Sede de Sangue
3.0 6ao longo do filme, sentia estar diante de algo estiloso, autoral no melhor sentido, que podia a qualquer momento (e em alguns julguei velo mesmo recair) em cliches baratos e batidos acerca da possível crítica a ser empreendida. com o filme terminado, aquilo que pareciam resvalos me parecem qualidades e o filme me parece muito mais inteligente e sem dúvidas propõe uma multiplicidade de camadas críticas dificilmente resolvíveis (assim como na sociedade em que situa a história) a partir dos binarismos mais fáceis aos quais facilmente adere o artista pensador ou militante que leva a ferro e fogo a diferença entre mudar e interpretar mundo. ainda assim, acho que não chega a ser grande. é inteligente, mas falta um pouco de encanto. ou a falta de encanto faça sentido na coisa toda. é divertido, pelo menos. e muito bonito.
Os Cinco Venenos de Shaolin
3.5 36 Assista Agorameus conhecimentos na área eram escassos e limitados ao vago imaginário dos filmes do tarantino e a uma exibição de um filme do brucili no cinemark ano passado (que me seduziu pacas!), minha infância foi mais no vandame nesmo e companhia. agora me deparo com esse filme quase inexplicável. uma série de saborosos elementos narrativos está lá:
personagens baseados em estilos baseados em animais e máscaras estilosas: já tá muito bom! além disso o cômico crítico na representação dos pequenos e cada vez maiores mandos e desmandos na pequena cidade ganha cada vez mais contornos policialescos e toda a trama em torno de confusões e alianças secretas entre codinomes honrosos e nomes cotidianos emprestam a esse suposto filme de luta uma aura detetivesca das mais divertidas e. ao caminhar pro desfecho a boa e velha violência de todo filme 70 de gênero, aquela sanguinolencia requintada mas meio atenuada pelo laranja viscoso desse sangue nada realista (o que lembra por vezes os mais escrachados giallos!). é diversão garantida pra quem gosta de uma podreira mas sem deixar de garantir uma boa base pra reflexão acerca não apenas do funcionamento do poder numa pequena sociedade que é sem dúvidas criticadas mas também pela decisão do mestre de encerrar a própria "máquina de guerra" posta em funcionamento por seu próprio clã e que, ao fim e ao cabo, não estava tão distante do funcionalismo público aparentemente sonolento que é posto em movimento com a chegada do "ze ninguém" (6 discipulo) que, ao lado do último bom discipulo cumpe as ordens do menstre. mas o aparente final feliz não deixa de expressar uma melancolica renúncia ao "trabalho completo", o governo continua o governo e parece natural que venham a brotar novas maquinas de guerra em seu interior
Florence: Quem é Essa Mulher?
3.5 351 Assista Agoraum dia talvez escreva o belo texto que esse filme merece, ou talvez passe ridículo acreditando escrever um belo texto, por enquanto diria apenas que é perfeito.
Um Outro Ano
2.8 1Saudade já dessa rapeize braba.
As Criaturas Atrás das Paredes
3.3 197 Assista AgoraFalou e disse o cara que disse que ele é esquecível e inesquecível ao mesmo tempo. Com 10 minutos já tava completamente envolvido, pensando que ia bem num aspecto que divide brutalmente em dois grupos os filmes de terror: aqueles em que apenas as cenas violentas ou de susto interessam e aqueles que tem personagens e situações - se não complexas e bem desenvolvidas, ao menos - divertidas ao longo de todo o filme. O bebê de Rosemary é para mim o maior exemplo disso.
Mas eu ainda esperava um filme de terror. De repente, aquilo que tinha me encantado a princípio (o jeitão caricato de sessão da tarde) se tornou chato, uma vez que os exageros se acumulavam e cada vez me parecia mais bagunçado, escancarado e pouco instigante.
Agora, algumas horas depois de ver o filme, me bate um pouco de saudade daquelas personagens exageradas em clima de altas confusões. Me parece que é mesmo um filme divertido (o casal é muito bom!), que escancara tudo aquilo que os espertinhos tendem a pensar como "uma puta metáfora da sociedade". E isso que logo no começo me animou e depois se tornou incômodo acabou sendo resolvido numa simpatia brincalhona pelo todo.
Algumas das linhas principais são quase absurdamente explícitas (o herói, a questão racial, a paranóia da aparente família de bem - e aqui wes craven tem o cuidado de torna-los vilões e não uma generalização, ainda que isso venha a tona apenas no final, de modo que a sensação de uma crítica feroz permanece, ainda que tão feroz que vire palhaçada).
Mais interessante pra mim são as brincadeiras com os estereótipos do Pai e da Mãe (seus gestos, tipos de discurso e exercícios de poder lembram - salvas as devidas proporções - algo que lynch faz de modo bem mais ambíguo e amedrontador), que usam um gravador para simular orações e alimentam uma vida extremamente violenta, sexualizada e perversa encoberta pelas aparências e protegida literalmente por uma miríade de cadeados.
Não é uma obra prima. Não chega perto de ser assustador. Mas é um bom filme pra ver com amigos, carismático e divertido, especialmente pra quem cresceu nos anos 90!
É Difícil Ser Um Deus
3.8 24Sem saber o que fazer com esse filme...
Estrada Perdida
4.1 469 Assista AgoraOuvi tanto falar de body-horror e nada me assustou mais do que o que Lynch consegue fazer com UM ROSTO.
Antiviral
3.2 159Honeymoon, Starry Eyes, Beyond the Black Rainbow, Antiviral.
Talvez esses filmes não tenham tanto assim em comum, mas vi todos nas últimas duas semanas e todos eles me causaram uma impressão parecida. São filmes visualmente bonitos, consideravelmente bem dirigidos, um pouco perturbadores (na verdade parecem querer perturbar bem mais do que são capazes) e que, assumindo em alguns momentos a aparência de 'filmes de horror' (no sentido mais amplo do termo), têm a intenção de realizar, mais ou menos explicitamente, críticas ou questionamentos acerca de alguns aspectos de nossa sociedade.
Todos eles, também, figuraram em listas de candidatos a tornarem-se cult movies, de filmes mais perturbadores dos últimos anos, de filmes de gênero que você não deveria perder, entre outros. E nenhum deles é tão ruim assim. Mas a verdade é que nenhum chega perto de ser tão bom.
Estou escrevendo no Antiviral por ter sido o último que assisti (e por já ter dado minha opinião de Beyond the Black Rainbow - sem dúvidas aquele de que mais esperei e talvez por isso o mais decepcionante), então falarei um pouco dele.
Nunca fui um grande fã de Cronenberg (pai). Sempre ouvi falar muito de seus filmes como perturbadores e inteligentes. É verdade que não assisti tantos assim, mas nenhum deles me pareceu tão perturbador ou tão inteligente quanto o prometido. Videodrome é bom. A Mosca é excelente. De resto, não gostei de quase nada (até gostaria de indicações, mais ao estilo desses dois).
Mas estamos falando do filho. E de Antiviral.
O começo do filme é muito interessante, as imagens são bonitas, os diálogos (especialmente as vendas) são atraentes e ficamos querendo entender melhor o que está acontecendo, como funcionam aquelas relações comerciais envolvendo celebridades e tudo mais. Mas não sei, a medida que o filme passava, meu interesse diminuiu. Não achei o conflito principal (a doença do protagonista) bem desenvolvido, as coisas ficam confusas de um jeito ruim (nos filmes de Lynch, por exemplo, as coisas ficam confusas de um jeito legal) e ao fim e ao cabo a grande crítica parece apenas mais do mesmo, no velho sentido de mercantilização do corpo, da cultura de celebridades, etc, etc. A solução final, o acordo, e a última cena são realmente impactantes, até mesmo adoráveis. Mas parecem tão preparadas para isso, tão feitas para chocar, para serem críticas, para serem perturbadoras e inteligentes e críticas, que para mim perdeu um pouco o efeito
É o que sinto em todos esses filmes, tão preocupados em não ser hollywood, em perturbar, em ter algo a dizer, que me parecem apenas um sistema diferente, produzindo o que todo mundo entendeu que deve ser produzido. É claro que ainda acho esses filmes mais legais que esses que vão para o cinema todos os meses. Todos eles têm pontos fortes e momentos realmente interessantes. Todos têm uma cara, uma espécie de proposta que os diferencia dos filmes da grande indústria. Mas mesmo essa tentativa de fuga, essa necessidade de afirmar-se como filme diferente, repito, que "perturba e tem algo a dizer", talvez por em nenhum deles ter me convencido por completo, acabou me causando algum incômodo.
Quando penso, distanciado da experiência de estar assistindo, em alguns deles, especialmente neste Antiviral (acho que ainda o melhor dentre os que evoquei) e Honeymoon (bem interessante em alguns momentos), chego a gostar de alguns movimentos realizados por eles. Porém, repito, me parecem feitos demais com esse propósito, principalmente Starry Eyes e aquele final pretensamente enigmático, pretensamente simbólico, tão pretensiosamente crítico. É um pouco a impressão que tive nos últimos dias, por isso escrevi de todos eles juntos.
Antiviral ainda é um filme relativamente legal, mas não se compara com o que fez a série Black Mirror (assustadoramente mais perturbadora, mais crítica, mais inteligente mesmo, do que tudo o que vêm fazendo esses diretores de filmes "perturbadores") ou mesmo Her, sob a ilusória aparência de comédia romântica para fãs de big bang theory.
Além do Arco-Íris Negro
3.0 91É uma pena.
Sem dúvidas, em termos de trabalho visual e atmosfera, uma das coisas mais impressionantes que já assisti. O discurso de abertura, associando tecnologia e bem-estar, somado a algumas prints que tinha visto de relance, me fizeram esperar nada menos que um dos meus mais novos filmes preferidos. E em alguns momentos achei mesmo que estava diante dele, precisava apenas ter paciência, entrar no clima. Nunca fui de defender que os filmes devam ser "entendidos" para que sejam bons. Mas algo deve ser insinuado, e deve ser bem insinuado. É claro que isso é questão de opinião, mas na minha, Beyond the Black Rainbow não chega nem perto. As imagens são belíssimas, a atmosfera é encantadora, mas os diálogos, o desenvolver das coisas simplesmente não despertaram meu interesse em nenhum momento. Já vi outros filmes que não entendi e ainda assim fiquei interessado, querendo assistir de novo. Tarkovsky, Zulawski e o próprio Kubrick produziram ficções científicas difíceis de digerir mas que de alguma forma incomodam o bastante pra que vejamos de novo, busquemos novas pistas e tentemos, se não "resolver" o enigma do filme, ao menos construir nossa rede de referências, um modo de "pensá-lo" a partir de nós mesmos.
Repito, o filme é visualmente encantador, algumas cenas lembram o excelente Sob a Pele, ou o Kagemusha de Kurosawa, as cores e a trilha são lindas e em alguns trechos em que a "narrativa" é suspensa pelo desenvolvimento mais puro das alucinações pensei que o filme tomaria um caminho mais interessante. Mas quando os acontecimentos mais "palpáveis" são retomados, a coisa degringola de vez.
As sequências finais, em que o doutor persegue a moça e mata os dois jovens no mato, são lamentáveis. Entendo como uma tentativa de dar uma cara mais trash, fazer um pouco de piada, fugir do padrão sério dos filmes de ficção científica a que faz referência, mas pra mim não funcionou. Acabou me soando mais pretensioso, vazio e menos interessante.
De toda forma, fico no aguardo de algum filme que utilize toda essa capacidade visual para algo mais legal. Enquanto isso, a série Black Mirror é muito mais interessante que tudo o que vem sendo feito em matéria de ficção científica.
August in the Water
3.9 6Esse filme é muito bonito.
O Homem de Palha
4.0 483 Assista AgoraCaramba, que filme!
Desde o começo, tudo é estranho, tudo indica uma ordem diferente daquela adotada pelo protagonista, à qual, simpatizando ou voltando-nos contra, estamos certamente mais familiarizados. A alegria e naturalidade com que os habitantes de Summerisle tratam de temas desconfortáveis ao nosso fundo cultural, bem como a atmosfera nada "sombria" - e até mesmo "solar" - que prevalece durante a maior parte do filme, tornam ainda mais instigante a investigação do desaparecimento de Rowan.
Essa inversão dá a um mote comum em tramas policiais uma aparência e um efeito totalmente novos. Em vez do investigador que, perambulando por uma realidade familiar, tenta desvendar um único acontecimento insólito, em The Wicker Man o policial Howie se vê cercado por uma sociedade estruturada de um modo totalmente inesperado. A princípio, é incapaz de compreendê-la (as primeiras cenas no bar do hotel logo explicitam essa relação), depois de aceitá-la como real. Mesmo diante da atitude despreocupada dos conhecidos e familiares da desaparecida (para os quais o "acontecimento" em questão nada tem de insólito) e após os estudos em livros de história antiga (elemento típico para a resolução de mistérios em filmes do gênero), Howie não se convence de que o que se passa é exatamente aquilo que é insinuado nas ações mais banais do cotidiano da vila.
As cenas do grande festival são um prato cheio para quem se interessa por antigos ritos, máscaras, e pela violência dos dias festivos em geral. Uma sequência admirável em que o suspense, o cômico e o horror (embora não o horror a que estamos habituados) funcionam perfeitamente juntos. Tudo isso leva ao desfecho que dá nome ao filme, impactante e inesquecível.
Apenas o diálogo sobre as pedras, em que Summerisle "explica" a situação a Howie me parece quebrar um pouco a sequência. É didático demais e torna a interpretação do filme todo um pouco tendenciosa - pois todos os acontecimentos anteriores se tornam efetivamente uma conspiração dos habitantes da ilha, o que ao meu entender talvez fosse mais interessante deixar apenas insinuado. Claro que isso está longe de prejudicar o efeito geral.
Destaque também para a cena em que Howie tenta utilizar o avião e vários dos habitantes surgem com máscaras para espioná-lo - imediatamente uma de minhas preferidas de todos os tempos.
Enfim, seria legal recomendações de filmes de temática parecida, pois embora existam vários que se aproximam do tema, poucos são intrigantes e bem conduzidos como este.