Fica muito nítido ao se conferir filmes como "Nightbreed" e "Mestre das Ilusões" que Clive Barker é um autor ímpar. A questão é que no processo de migração dos livros para o cinema, ele acaba se perdendo no que faz sentido em uma narrativa cinematográfica e literária. Isso fica muito evidente ao se analisar o roteiro de "Mestre das Ilusões", que até metade de sua projeção é um neo-noir com pitadas de sobrenatural excelente. Quase uma adaptação não-oficial de "Hellblazer". A questão é que quando o sobrenatural enfim explode, a impressão que fica é que Barker não percebe os exageros. Que fazem com que a narrativa perca o espectador que até então estava intrigado e assustado, fazendo com que o medo se torne riso. Basta ver os discursos megalomaníacos de Nix (Daniel Von Bergen), que aliados a uma maquiagem tosca não surtam qualquer medo no espectador. Isso não retira o impacto de "Mestre das Ilusões", um bom neo-noir com pitadas sobrenaturais, auxiliado por um ótimo elenco e um autor que sabe como criar uma história inteligente que não subestima o espectador. Sempre com muito fôlego e criatividade, elementos absolutamente ausentes em tempos de filmes genéricos da Netflix.
Muito bom ver uma produção que tira sarro dos filmes de competição, mas ao mesmo tempo coloca personagens carismáticos que não parecem caricaturas. As músicas são boas, o elenco é competente, o roteiro é surpreendentemente redondo (ainda mais se comparado aos demais filmes de Will Ferrell, que sempre preza pelo exagero e loucura). Uma ótima surpresa da Netflix.
Uma produção diferente do comum das demais adaptações de Drácula, trazendo muitos pontos positivos mas também fraquezas narrativas gritantes. O maior mérito do filme sem dúvida é a interpretação de Frank Langella como o vampiro mais famoso do cinema, sem apelar para uma caracterização bestial ele passa ameaça e desprezo apenas com um sorriso. Outro destaque resta no Van Helsing de Laurence Olivier, que estando debilitado por conta da avançada idade, traz dignidade e força ao caçador de vampiros. Infelizmente, o restante do elenco não brilha. Donald Pleasence é uma mera curiosidade, sempre em cena comendo algum quitute. Mas até mesmo seu personagem soa desconexo com a trama. Percebam como em certos momentos ele parece esquecer ser pai de Lucy, não temendo pela vida da filha. O Jonathan Harker de Trevor Eve é outro que não tem qualquer propósito narrativo. A Lucy de Kate Nelligan soa apenas como arrogante, a Mina de Jan Francis consegue brilhar no momento em que retorna em estado vampírico. Outro problema sério do filme se encontra no texto, existem cenas que são absolutamente mal escritas. Percebam a cena em que Lucy encontra Van Helsing pela primeira vez: quem em sã consciência seria tão arrogante com um pai que acabou de perder a filha? Ou então todas as cenas envolvendo Renfield, não passam qualquer sentimento. Ao final, "Drácula" consegue ser um bom filme por conta dos dois pilares envolvendo o personagem título e seu nêmesis. Além da boa atmosfera gótica conferida por John Badham.
Jesús Franco realizou a 1a adaptação de Drácula considerada fiel ao livro, ao menos mais que as demais realizadas até 1970. O resultado? Um filme bastante curioso. Até a metade da projeção o roteiro é absolutamente fiel ao livro. Os diálogos são idênticos, a caracterização do Conde é a única na história do cinema que segue a risca o observado no livro (um homem alto, aristocrático, portando um longo bigode, com cabelos brancos). A partir do momento que o filme inicia a sequência no sanatório, Franco toma inúmeras liberdades. O que não é um problema, visto que existem ótimos elementos presentes (o Renfield de Klaus Kinski é um dos mais fascinantes). Além claro, do Drácula de Christopher Lee. Que passa força, seriedade e temor apenas com o olhar. É maravilhoso ver Lee recitando as falas escritas por Bram Stoker. O problema é que o filme perde ritmo a partir do momento em que Van Helsing ganha destaque, jamais compreendemos o que Franco queria passar com sua adaptação do arquiinimigo de Drácula. O trio de ajudantes Jonathan-Seward-Quincey também não ajuda, todos inexpressivos. Ao final, "Conde Drácula" é uma ótima curiosidade. A 1a adaptação que tentou ater-se aos elementos principais do livro, uma visão muito mais sóbria que as adaptações da Hammer na época (que haviam se perdido depois dos dois ótimos filmes da franquia) e com um Christopher Lee muito inspirado. Uma pena que o orçamento não ajudou muito, visto as muitas cenas se passam de noite mas foram filmadas de dia.
Revisitando o filme ficam mais evidentes os momentos de refilmagens, porém é de se louvar que exista um filme de terror recente que abrace o gótico. Utilizando muitos elementos do original de 1941, "O Lobisomem" é um filme muito apaixonado pelo horror clássico. Muita névoa, sombras, criaturas feitas por meio de maquiagem e prótese. Existem, claro, os momentos destoantes. Como as utilizações de cgi nas transformações, mas para um filme de dez anos atrás não envelheceu tão mal. O elenco é competente, com um Benicio Del Toro muito parecido a Lon Chaney Jr e Emily Blunt passando toda a carga de dor da viúva de seu irmão. O único instável é Anthony Hopkins, que jamais cria mistério quanto a verdadeira natureza do personagem. Ainda assim é bastante divertido assisti-lo em cena. Se a produção não tivesse tantos problemas em seu curso (troca de diretor, refilmagens), creio piamente que teríamos uma obra-prima do terror. O resultado final ainda é um filme muito acima da média de obras recentes. Mostrando que cinema pode ser feito sem a fórmula James Wan e do medo cristão de demônios e entidades. Um belo e simples filme de monstro.
Revisitei o filme ontem, é um produto bobo? Sim. O roteiro tenta colocar inúmeros clichês dos anos 80? Sim. É divertido? Muito. A verdade é que a empolgação dos realizadores de "Monster Squad" em mostrar cada um dos monstros é genuinamente contagiante, recheando a tela com inúmeras homenagens aos clássicos filmes da Universal (o avião com sobrenome Browning como o diretor de "Drácula", o momento que Frankenstein encontra Phoebe no lago, os tatus presentes no castelo de Drácula). Sem falar na maquiagem de Stan Winston, um mestre que faz muita falta hoje em dia.
Aproveitando as notícias recentes sobre o piloto cancelado baseado no livro, resolvi rever "A Torre Negra". Sendo bem honesto, o resultado final não foi amargo como eu esperava. Os pontos negativos todos já sabem, é um filme muito suavizado no quesito de violência e terror, a fidelidade aos livros mantém-se de maneira muito suave, os personagens não tem a carga dos livros. No entanto, creio que possa se aproveitar a experiência a partir do momento em que tomamos consciência de alguns fatos:
a partir do momento que vemos que Roland (Idris Elba) está com a corneta de Eld em mãos, devemos entender que o filme é uma continuação dos livros. Pois Roland só alcança a corneta no último livro da saga, reiniciando a cronologia e voltando ao ponto inicial. Assim, nessa retomada a narrativa inicial podemos inclusive perceber que os personagens sabem disso. O Homem de Preto (Matthew McConaughey) faz menção ao katet falecido do Pistoleiro, menção a aventura anterior do personagem e inclusive referenciando o fato de que eles já estiveram nesse ciclo mais de uma vez. Portanto, interpreto o filme como uma versão da história originária mais voltada ao público infanto-juvenil. Pois a trama não possui de fato nenhuma aresta, o roteiro é muito focado e não existem pontas soltas. Além disso, os inimigos Pistoleiro e Homem de Preto estão muito bem representadas. A única coisa que lamento? Não vermos a aridez e violência da obra original.
Revi após ler o livro pela 1a vez. A decepção é impossível de esconder. O único momento no qual o filme se dedica a explorar com calma e paciência, é a relação entre Alma e Don na universidade. O restante, da Sociedade Chowder até as aparições são extremamente apressadas. Quase como se o filme tivesse sido cortado para não alcançar longas durações. Ainda assim, o elenco é formidável. O quarteto veterano é sensacional, Craig Wasson interpretando gêmeos consegue passar bem a estranheza da situação. Mas quem brilha mesmo é Alice Krige, que sem efeitos sonoros ou jumpscares baratos gela a espinha dos espectadores apenas mudando o tom de sua voz. Ainda vale a pena assistir, dando a vontade necessária no espectador para buscar o livro de Peter Straub posteriormente. E ver um dos poucos filmes de terror dos anos 80 que não investe em gore e adolescentes sendo assassinados.
Em geral, os filmes de gangster tentam colocar a ascensão e queda de homens violentos que acumulam tanto poder que escapa de suas mãos em largas quantidades de sangue. Porém, nenhum gangster é tão icônico quanto Al Capone. Portanto, a escolha do diretor e roteirista Josh Trank em mostrar apenas a queda é apropriada. Pois apenas o título do filme já passa toda a história prévia que o espectador precisa. Porém, ninguém poderia imaginar que a demolição mental, física e psíquica desse homem poderia ser tão agonizante e dolorosa de se acompanhar. Despido de qualquer vaidade, Tom Hardy encarna Al Capone com maestria. O fato dele conseguir murmurar poucas sentenças completas, porém passar todas as ideias da mente doentia do protagonista apenas pelo olhar, é incrível. Porém, o filme não está livre de problemas. Como por exemplo, a inserção de um personagem que representa o FBI na sua busca por encontrar alguma conspiração no final da vida de Capone. O próprio roteiro mostra que a instituição FBI estava apenas esperando o gangster morrer, por que botar um personagem que insiste que "ainda há algo lá"? Outro problema é a inserção do personagem Tony, que não leva a absolutamente nada. É preciso coragem para fazer um filme como "Capone", que mostra toda a podridão psicológica e física do personagem com detalhes. Um filme que não hesita em mostrar apenas o lado feio de uma figura icônica merece aplausos. Qualquer outro filme colocaria ao menos um lado carismático no personagem, para que pudéssemos nos identificar com ele. No entanto, seja em uma cena mostrando seu lado violento ou apenas sentado delirando sentimos que Al Capone deve ser apenas temido. Qualquer outro sentimento implicaria em loucura comparável a dele.
Curioso pensar que "The Wretched" foi bem recebido nos festivais dos Estados Unidos, já que é um filme tocantemente precário. Não me refiro aos valores de produção, já que os envolvidos merecem méritos por utilizarem os cada vez mais raros efeitos práticos para a criatura. Me refiro ao roteiro, que utiliza uma ideia intrigante mas jamais a desenvolve. Não há criação de atmosfera, não há mitologia (a criatura tem sua origem ou definição resumida a um minuto de busca do protagonista em uma imitação da Wikipedia), não há charme. Alguns diretores utilizariam essa falta de tempo para apresentar com calma e charme para justificar urgência e tom documental da narrativa. Porém não é o caso aqui, já que em momento alguns as ações dos personagens são críveis. Falando neles, quem teve a ideia de colocar aquele protagonista? Não há carisma, inteligência, ingenuidade, arrogância, nada que torne-o um personagem marcante. O que dizer então das cenas de "bullying", que parecem ter sido retiradas de um comercial governamental de prevenção. É triste constatar que muitos irão comparar este filme com "A Bruxa", devido aos seus temas terem uma aproximação mínima. Espero que os espectadores percebam, no entanto, que enquanto "A Bruxa" é um filme atmosférico, com personagens críveis e carismáticos, tensão, mitologia, "The Wretched" oferece apenas....bons efeitos práticos.
Em tempos de quarentena pela pandemia do Covid-19, "Shin Godzilla" é um filme extremamente familiar. Inúmeros comitês de crise, esferas governamentais decidindo o que fazer, conferências aos jornais com boletins diários (que logo se tornam datados ante novas informações surgindo). Além disso, é impressionante quão ágil é a edição e quão criativa é a fotografia. Enquanto contrapartes americanas de monstros gigantes realizam filmes catástrofes com cenas clichês e imagens de destruição monótonas, "Shin Godzilla" sempre utiliza uma câmera rápida e inteligente. Não há um momento monótono na fotografia. Além disso, é muito interessante o contraste entre um monstro visivelmente infernal (as várias mutações de Godzilla são todas perturbadoras) e uma tentativa de solução burocrática sóbria. É o melhor filme de Gojira? Não, o original de 1954 ainda é o filme mais impressionante sobre o monstro mais famoso do cinema. Ainda assim, "Shin Godzilla" não faz feio a saga. Oferecendo uma visão talentosa e ambiciosa ao protagonista-título.
O texto é ótimo, mas por vezes a entrega de Jerry é prejudicada por sua falta de capacidade de imitar outras pessoas. No entanto, quando Jerry expõe sua ótica distorcida por suas ansiedades e inseguranças (ainda mais agora que está com 65 anos), o especial brilha.
O filme pode não ser assustador de verdade, porém tem a efetividade de uma parábola ou lenda de terror contada a uma criança antes de dormir. A imagem central fica na cabeça, personagens e nomes são logo esquecidos. Mas é o que basta, o que "Histórias de Terror Para Contar no Escuro" tem como ambição é em explorar a natureza da criação de uma história e do ato de repeti-la. Nada mais justo, portanto que nos lembremos mais dos segmentos com criaturas do que propriamente da linha central que une todo o filme. Também servirá de encanto aqueles que se lembram da série de livros que ganhou uma adaptação para TV, "Goosebumps". Na qual o princípio era o mesmo: uma ideia central boa, background dispensável. O suficiente para contar aos amigos a história posteriormente. Isso não livra o filme de alguns problemas, como é o caso do péssimo interesse romântico da protagonista. Que constantemente parece ter tomado anestesia para siso, tamanha a falta de qualquer expressão realista em sua atuação. Retirado esse aspecto, "Histórias de Terror Para Contar no Escuro" pode vir a se tornar um bom clássico introdutor de terror para crianças. Oportunidade essa que o produtor do filme, Guillermo del Toro, jamais perderia.
Assisti por conta de alguns compararem a ação com a da trilogia "John Wick". Mas a verdade é que "Resgate" é muito mais comparável a um "Falcão Negro em Perigo". O fato desse filme ser de 2001 também diz muito sobre como "Resgate" é um filme que já nasceu ultrapassado. Uma amalgama de todos os clichês dos filmes de ação dos anos 2000, da filmagem frenética, ao cenário de terceiro mundo (que pode ser tanto Bangladesh, quanto Niterói, o filtro amarelado e os barzinhos são iguais) até a dinâmica do herói fortão porradeiro e a pessoa menor que precisa resgatar que fica fazendo piadas sarcásticas no meio do tiroteio. Ou então de por mais que o mercenário seja fodão e armado até os dentes, sobra espaço pra uma briga de faca (saudades de Indiana Jones que cansado demais para lutar com armas brancas, puxava o revólver e atirava na cabeça do espadachim rival). O que dizer então da brilhante estratégia de infiltrar na Índia em uma missão secreta o único cidadão loiro de olhos azuis, com quase dois metros de altura? Quase faz James Bond parecer um bom agente secreto. A verdade é que existe boa vontade em "Resgate", o elenco é competente e a direção do estreante Sam Hargrave não é de se jogar fora. Mas são tantos clichês patéticos, tantas falas expositivas e uma narrativa tão previsível que foi difícil não se decepcionar.
É inquestionável quão fã da obra-prima de George Romero o diretor Tom Savini é. O respeito respinga em cada cena do remake de "A Noite dos Mortos Vivos". Savini sabe que é impossível reproduzir o mesmo impacto da obra original. No entanto, pode despertar a atenção do público mais jovem que nunca assistiu por ser p&b. Portanto, a mensagem política pessimista ao final do filme mantém-se, assim como a estrutura de acontecimentos principais. O que mudam são os poucos deméritos da obra original, como é o caso do papel de Barbara. Que anteriormente era apenas o fio condutor da obra, mas retratada constantemente em choque e imóvel ante todas as barbaridades. A Barbara do remake (Patricia Tallman) sofre tantos horrores quanto a outra, mas torna-se uma guerreira determinada e com sangue nos olhos (inclusive, matando mais zumbis do que todos os outros personagens). A escalação de Tony Todd é acertada, já que o ator possui o físico e a presença necessárias para Ben. No entanto, a direção de Savini parece ter pedido para que ele e os demais membros do elenco recitarem as falas do roteiro de George Romero como uma obra de Shakespeare. Assim, muitas vezes as falas tornam-se exageradas demais até mesmo para o absurdo da trama. Torna inválido o remake? De maneira alguma. Uma amostra que a justificativa do remake pauta-se em, claro, apresentar uma ideia nova. Mas sempre com respeito absoluto a obra original.
Por um lado, é fascinante ver um filme de horror recheado de gore ter tanta ambição. Por outro, o filme deveria reconhecer seu orçamento reduzido e economizar em cenas com efeitos especiais. Se em certos momentos funciona bem (a luta com gigantes), em outros é sofrível (o zoom out após a batalha final). O que é lamentável é ver tanto cgi em um filme que utiliza tão bem maquiagem prática, todas as criaturas são críveis. Outro problema sério são as inserções de humor, extremamente deslocadas e ineficientes. O que resta é um elenco decente, uma trama toda tirada das HQs, muito gore. Dá pra se divertir, no entanto é muito inferior ao que Guillermo del Toro trouxe ao personagem em 2004 e 2009.
Uma pena que "Count Dracula" seja um filme esquecido, pois junto com a adaptação de Coppola "Drácula de Bram Stoker" é o filme mais fiel a obra máxima de Bram Stoker. A beleza está nos detalhes: a utilização do preenchimento bucal com alho antes da decapitação, o velho que rondava Whitby e conversava com Lucy e Mina, a morte da Sra Westenra. Todos detalhes presentes no livro, mas sempre esquecidos em todas as demais adaptações. O elenco não faz feio: apesar dos intérpretes de Jonathan, Seward e Quincey (que foi combinado ao personagem de Arthur, ante a desnecessidade de tantos personagens sobrando) serem um tanto presos, o Van Helsing de Frank Finlay brilha em cada aparição. Junto com a interpretação de Peter Cushing do personagem, é o melhor Van Helsing do cinema. Também se saem muito bem as intérpretes de Lucy (Susan Penhaligon) e Mina (Judi Bowker), essa última conferindo emoção a momentos pequenos. Como seu diálogo com Renfield (Jack Shepherd, conferindo uma dignidade nunca antes vista ao personagem), ou no momento em que percebe estar indigna aos olhos de Deus. E quanto ao personagem título? Apesar de não possuir uma interpretação tão feroz ou gritante quanto Christopher Lee e Gary Oldman, Louis Jordan encarna um Drácula absolutamente válido. Cheio de arrogância, absolutamente seguro de si (assustando pela naturalidade com a qual fala a uma vítima "vou beber o seu sangue") e apostando nas sutilezas. Mesmo não derramando tanto sangue quanto as outras adaptações, o horror está presente na atmosfera lúgubre e em todas as aparições das noivas de Drácula (o momento pós ceia é digno de pesadelos). Existem elementos datados, como o uso de rotoscopia para exaltar a estranheza de certos momentos. No entanto, por fazer uma adaptação tão fiel ao livro e com tanta competência, "Count Dracula" merece ser redescoberto pelos fãs do conde e do horror.
Um dos grandes clássicos de terror anos anos 80, "A Hora do Espanto" é uma lição de como fazer um horror da maneira certa. Sem diálogos expositivos, apostando em uma trama simples, com personagens carismáticos e um vilão igualmente marcante. O mais interessante é perceber toda a mensagem por trás. O protagonista Charlie Brewster é um namorado relapso (pressionando constantemente a namorada Amy a fazer sexo) e um amigo utilitarista (percebam como ele só vai falar com Evil Ed quando se vê em apuros) e um filho desleixado. A presença do vampiro Jerry Dandridge (Chris Sarandon, o melhor vampiro dos anos 80) é uma resposta a todas as carências do protagonista. É extremamente educado e cordial com a mãe de Charlie, estende a mão para "ajudar" Evil Ed e não força uma relação sexual com Amy (ela quem opta por ir até ele). Isso tudo, claro, é apenas subtexto para o inevitável confronto final, com a presença de Peter Vincent (Roddy McDowall, maravilhoso). Mesmo datado em alguns momentos, "A Hora do Espanto" é um terror raro.
Para um filme de 2011, "A Hora do Espanto" pertence bem ao chamado novo terror, que tem exemplares recentes como "Corra". Isso porque apesar de tratar sobre vampiros, o verdadeiro tema deste remake é a masculinidade tóxica. Sendo um filme feito pela Dreamworks, ou seja, com o aval de Steven Spielberg os temas ficam cada vez mais evidentes. Pois assim como em "E.T", o protagonista é um jovem que sofreu o abandono do pai. Portanto, sem ter uma figura masculina em sua vida. Logo o filme mostra que ele não possui referenciais de lealdade e amizade retos, está sempre em busca de sobrevivência. Por isso ele não hesita em abandonar seu melhor amigo nerd, por medo de ser abandonado pela namorada popular na escola. Essa insegurança heterossexual fica mais evidente ainda quando surge seu maior pesadelo: um vampiro sexy e macho alfa (coisa que o protagonista nunca será). Que não só ameaça seu status como homem na casa (chegando a flertar com a progenitora do herói), mas como namorado. E aqui é onde a maior referência a obra original oitentista é feita, pois quando o vampiro (magnificamente interpretado por Colin Farrell) oferece seu peito para que a vítima sugue o sangue, o espectador está diante de uma insinuação de sexo oral tal qual o filme de 1985. O fato dele fazer questão de mostrar isso ao protagonista, ou seja, remover dele todo o seu status como homem é a cereja do bolo. Assim como a fala seguinte, que confirma também a crítica a crise de meia idade em homens: "Ela me faz me sentir mais jovem!". Só por explorar esses temas de insegurança, "A Hora do Espanto" já se justificaria como um remake digno. O elenco também é competente, com os destaques claros ao vampiro interpretado por Colin Farrell, e a farsa interpretada por David Tennant (que também é um personagem que perdeu os pais, e tem ligação similar ao protagonista com a insegurança masculina). O problema é que muitas vezes a história demonstra-se muito apressada, não há criação de atmosfera ou expectativa. Enquanto o longa-metragem original era recheado de charme e confiava mais em seus intérpretes para passar suas mensagens, o remake os enche com falas expositivas. Além do excesso de cgi, que retira a ameaça de inúmeras cenas que poderiam ser magníficas. Felizmente, nada disso exclui o fato que "A Hora do Espanto" é um filme com muita mensagem a passar.
Mark Gatiss demonstra uma paixão honesta pelo personagem, no entanto o especial por vezes fica bastante raso devido a sua curta duração (exatamente 58 minutos). O maior destaque fica para as entrevistas realizadas com atores e atrizes participantes dos clássicos filmes de Drácula da Hammer, que oferecem detalhes deliciosos sobre os bastidores de filmagem com Christopher Lee (o fato dele carregar uma cópia do livro consigo, de sempre incentivar o elenco a levar a sério, como era uma presença impressionante mesmo sendo o ator que tinha menos falas). De resto, fica um resumo muito apressado sobre a trajetória do personagem. Com algumas passagens interessantes (ao mostrar o processo criativo de Bram Stoker), mas com a impressão que seria melhor um especial de 58 minutos para cada encarnação do personagem. A triste verdade é que com muito menos produção e verba (Gatiss chegou a ir em três países diferentes para filmar) especiais do Youtube conseguem passar muito mais informação minuciosa.
Com forte inspiração Lovecraftiana e nos Mitos de Cthulhu, "Ameaça Profunda" é um exemplo de como o horror não vem do susto. Mas sim do medo do desconhecido, como muito bem pontuou o autor H.P Lovecraft.
Guy Ritchie faz seu melhor filme desde "Snatch", aprende lições com seu antigo colaborador Matthew Vaughn, aproveita o carisma de seu elenco em personagens com igual característica e desenvolve trama que em momento algum perde a atenção do espectador.
À primeira vista, "Bloodshot" parece seguir a mesma cartilha dos demais filmes de Vin Diesel, mais especificamente "Velozes e Furiosos". Com um protagonista portando regata, pegando a mulher atraente, sendo um líder de sua equipe, careca reluzindo ao por do sol. No entanto, assim que o enredo enfim se revela percebe-se que a verdadeira intenção do longa é expor que todos aqueles arquétipos pertencem apenas uma fantasia heterossexual frágil. Assim, não é surpreendente que "Bloodshot" tenha tantos ecos com o cinema de Paul Verhoeven. Mais especificamente "Robocop" (o homem que se vê dentro de uma fantasia fascista) e "O Vingador do Futuro" (até mesmo existe um clímax em um elevador com o antagonista ridiculamente antipático). Só por fazer essa crítica ao cinema de ação moderno e pela coragem em tirar sarro da filmografia anterior de seu protagonista, "Bloodshot" já é muito melhor do que toda a franquia "Velozes e Furiosos". O que faltou mesmo para deixar o blockbuster camp mais polido, foi ter um diretor com visão mais focada. Assim como o já citado Paul Verhoeven, ou até mesmo James Wan. Esse último, infelizmente tendo em seu currículo "Velozes e Furiosos" ficaria muito feliz em trabalhar em uma narrativa de ação sem um protagonista com masculinidade frágil.
O mais interessante em "O Homem Invisível" é perceber a quantidade de temas que circundam a narrativa, especialmente após uma análise retrospectiva história. Existem reflexos das pessoas invisíveis a sociedade com mente pequena, que ao tentar se destacarem são rechaçadas pelos cidadãos locais ao tentarem serem vistos. E o mais curioso, trata da ameaça invisível que surge aos poucos e toma dimensões genocidas. Como por exemplo, o nazismo de Hitler. Que começou praticamente invisível até se tornar o que todos sabemos hoje. Não à toa, o personagem título da obra é o maior assassino de todos os monstros da Universal. Nenhum dos vilões de terror do estúdio possui uma contagem de corpos tão expressiva quanto o homem invisível (Claude Rains, em interpretação espetacular). O filme não é irretocável, as inserções de humor de James Whale ainda eram muito gratuitas e brutas. Especialmente em comparação com a perfeita mescla de humor e terror na obra-prima "A Noiva de Frankenstein". Ainda assim, "O Homem Invisível" sobrevive ao tempo pela amplitude de fascinantes temas que circundam a história. E pelos revolucionários efeitos especiais, que botam muito cgi moderno no chinelo.
O Mestre das Ilusões
2.8 47Fica muito nítido ao se conferir filmes como "Nightbreed" e "Mestre das Ilusões" que Clive Barker é um autor ímpar. A questão é que no processo de migração dos livros para o cinema, ele acaba se perdendo no que faz sentido em uma narrativa cinematográfica e literária. Isso fica muito evidente ao se analisar o roteiro de "Mestre das Ilusões", que até metade de sua projeção é um neo-noir com pitadas de sobrenatural excelente. Quase uma adaptação não-oficial de "Hellblazer". A questão é que quando o sobrenatural enfim explode, a impressão que fica é que Barker não percebe os exageros. Que fazem com que a narrativa perca o espectador que até então estava intrigado e assustado, fazendo com que o medo se torne riso. Basta ver os discursos megalomaníacos de Nix (Daniel Von Bergen), que aliados a uma maquiagem tosca não surtam qualquer medo no espectador.
Isso não retira o impacto de "Mestre das Ilusões", um bom neo-noir com pitadas sobrenaturais, auxiliado por um ótimo elenco e um autor que sabe como criar uma história inteligente que não subestima o espectador. Sempre com muito fôlego e criatividade, elementos absolutamente ausentes em tempos de filmes genéricos da Netflix.
Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars
3.2 278Muito bom ver uma produção que tira sarro dos filmes de competição, mas ao mesmo tempo coloca personagens carismáticos que não parecem caricaturas. As músicas são boas, o elenco é competente, o roteiro é surpreendentemente redondo (ainda mais se comparado aos demais filmes de Will Ferrell, que sempre preza pelo exagero e loucura). Uma ótima surpresa da Netflix.
Drácula
3.4 49 Assista AgoraUma produção diferente do comum das demais adaptações de Drácula, trazendo muitos pontos positivos mas também fraquezas narrativas gritantes. O maior mérito do filme sem dúvida é a interpretação de Frank Langella como o vampiro mais famoso do cinema, sem apelar para uma caracterização bestial ele passa ameaça e desprezo apenas com um sorriso. Outro destaque resta no Van Helsing de Laurence Olivier, que estando debilitado por conta da avançada idade, traz dignidade e força ao caçador de vampiros. Infelizmente, o restante do elenco não brilha. Donald Pleasence é uma mera curiosidade, sempre em cena comendo algum quitute. Mas até mesmo seu personagem soa desconexo com a trama. Percebam como em certos momentos ele parece esquecer ser pai de Lucy, não temendo pela vida da filha. O Jonathan Harker de Trevor Eve é outro que não tem qualquer propósito narrativo. A Lucy de Kate Nelligan soa apenas como arrogante, a Mina de Jan Francis consegue brilhar no momento em que retorna em estado vampírico.
Outro problema sério do filme se encontra no texto, existem cenas que são absolutamente mal escritas. Percebam a cena em que Lucy encontra Van Helsing pela primeira vez: quem em sã consciência seria tão arrogante com um pai que acabou de perder a filha? Ou então todas as cenas envolvendo Renfield, não passam qualquer sentimento.
Ao final, "Drácula" consegue ser um bom filme por conta dos dois pilares envolvendo o personagem título e seu nêmesis. Além da boa atmosfera gótica conferida por John Badham.
Conde Drácula
3.3 28Jesús Franco realizou a 1a adaptação de Drácula considerada fiel ao livro, ao menos mais que as demais realizadas até 1970. O resultado? Um filme bastante curioso. Até a metade da projeção o roteiro é absolutamente fiel ao livro. Os diálogos são idênticos, a caracterização do Conde é a única na história do cinema que segue a risca o observado no livro (um homem alto, aristocrático, portando um longo bigode, com cabelos brancos). A partir do momento que o filme inicia a sequência no sanatório, Franco toma inúmeras liberdades. O que não é um problema, visto que existem ótimos elementos presentes (o Renfield de Klaus Kinski é um dos mais fascinantes). Além claro, do Drácula de Christopher Lee. Que passa força, seriedade e temor apenas com o olhar. É maravilhoso ver Lee recitando as falas escritas por Bram Stoker. O problema é que o filme perde ritmo a partir do momento em que Van Helsing ganha destaque, jamais compreendemos o que Franco queria passar com sua adaptação do arquiinimigo de Drácula. O trio de ajudantes Jonathan-Seward-Quincey também não ajuda, todos inexpressivos. Ao final, "Conde Drácula" é uma ótima curiosidade. A 1a adaptação que tentou ater-se aos elementos principais do livro, uma visão muito mais sóbria que as adaptações da Hammer na época (que haviam se perdido depois dos dois ótimos filmes da franquia) e com um Christopher Lee muito inspirado. Uma pena que o orçamento não ajudou muito, visto as muitas cenas se passam de noite mas foram filmadas de dia.
O Lobisomem
2.9 1,0K Assista AgoraRevisitando o filme ficam mais evidentes os momentos de refilmagens, porém é de se louvar que exista um filme de terror recente que abrace o gótico. Utilizando muitos elementos do original de 1941, "O Lobisomem" é um filme muito apaixonado pelo horror clássico. Muita névoa, sombras, criaturas feitas por meio de maquiagem e prótese. Existem, claro, os momentos destoantes. Como as utilizações de cgi nas transformações, mas para um filme de dez anos atrás não envelheceu tão mal. O elenco é competente, com um Benicio Del Toro muito parecido a Lon Chaney Jr e Emily Blunt passando toda a carga de dor da viúva de seu irmão. O único instável é Anthony Hopkins, que jamais cria mistério quanto a verdadeira natureza do personagem. Ainda assim é bastante divertido assisti-lo em cena. Se a produção não tivesse tantos problemas em seu curso (troca de diretor, refilmagens), creio piamente que teríamos uma obra-prima do terror. O resultado final ainda é um filme muito acima da média de obras recentes. Mostrando que cinema pode ser feito sem a fórmula James Wan e do medo cristão de demônios e entidades. Um belo e simples filme de monstro.
Deu a Louca nos Monstros
3.5 242 Assista AgoraRevisitei o filme ontem, é um produto bobo? Sim. O roteiro tenta colocar inúmeros clichês dos anos 80? Sim. É divertido? Muito. A verdade é que a empolgação dos realizadores de "Monster Squad" em mostrar cada um dos monstros é genuinamente contagiante, recheando a tela com inúmeras homenagens aos clássicos filmes da Universal (o avião com sobrenome Browning como o diretor de "Drácula", o momento que Frankenstein encontra Phoebe no lago, os tatus presentes no castelo de Drácula). Sem falar na maquiagem de Stan Winston, um mestre que faz muita falta hoje em dia.
A Torre Negra
2.6 839 Assista AgoraAproveitando as notícias recentes sobre o piloto cancelado baseado no livro, resolvi rever "A Torre Negra". Sendo bem honesto, o resultado final não foi amargo como eu esperava. Os pontos negativos todos já sabem, é um filme muito suavizado no quesito de violência e terror, a fidelidade aos livros mantém-se de maneira muito suave, os personagens não tem a carga dos livros. No entanto, creio que possa se aproveitar a experiência a partir do momento em que tomamos consciência de alguns fatos:
a partir do momento que vemos que Roland (Idris Elba) está com a corneta de Eld em mãos, devemos entender que o filme é uma continuação dos livros. Pois Roland só alcança a corneta no último livro da saga, reiniciando a cronologia e voltando ao ponto inicial. Assim, nessa retomada a narrativa inicial podemos inclusive perceber que os personagens sabem disso. O Homem de Preto (Matthew McConaughey) faz menção ao katet falecido do Pistoleiro, menção a aventura anterior do personagem e inclusive referenciando o fato de que eles já estiveram nesse ciclo mais de uma vez. Portanto, interpreto o filme como uma versão da história originária mais voltada ao público infanto-juvenil. Pois a trama não possui de fato nenhuma aresta, o roteiro é muito focado e não existem pontas soltas. Além disso, os inimigos Pistoleiro e Homem de Preto estão muito bem representadas. A única coisa que lamento? Não vermos a aridez e violência da obra original.
História de Fantasmas
3.3 42 Assista AgoraRevi após ler o livro pela 1a vez. A decepção é impossível de esconder. O único momento no qual o filme se dedica a explorar com calma e paciência, é a relação entre Alma e Don na universidade. O restante, da Sociedade Chowder até as aparições são extremamente apressadas. Quase como se o filme tivesse sido cortado para não alcançar longas durações. Ainda assim, o elenco é formidável. O quarteto veterano é sensacional, Craig Wasson interpretando gêmeos consegue passar bem a estranheza da situação. Mas quem brilha mesmo é Alice Krige, que sem efeitos sonoros ou jumpscares baratos gela a espinha dos espectadores apenas mudando o tom de sua voz. Ainda vale a pena assistir, dando a vontade necessária no espectador para buscar o livro de Peter Straub posteriormente. E ver um dos poucos filmes de terror dos anos 80 que não investe em gore e adolescentes sendo assassinados.
Capone
2.5 58Em geral, os filmes de gangster tentam colocar a ascensão e queda de homens violentos que acumulam tanto poder que escapa de suas mãos em largas quantidades de sangue. Porém, nenhum gangster é tão icônico quanto Al Capone. Portanto, a escolha do diretor e roteirista Josh Trank em mostrar apenas a queda é apropriada. Pois apenas o título do filme já passa toda a história prévia que o espectador precisa. Porém, ninguém poderia imaginar que a demolição mental, física e psíquica desse homem poderia ser tão agonizante e dolorosa de se acompanhar. Despido de qualquer vaidade, Tom Hardy encarna Al Capone com maestria. O fato dele conseguir murmurar poucas sentenças completas, porém passar todas as ideias da mente doentia do protagonista apenas pelo olhar, é incrível.
Porém, o filme não está livre de problemas. Como por exemplo, a inserção de um personagem que representa o FBI na sua busca por encontrar alguma conspiração no final da vida de Capone. O próprio roteiro mostra que a instituição FBI estava apenas esperando o gangster morrer, por que botar um personagem que insiste que "ainda há algo lá"? Outro problema é a inserção do personagem Tony, que não leva a absolutamente nada.
É preciso coragem para fazer um filme como "Capone", que mostra toda a podridão psicológica e física do personagem com detalhes. Um filme que não hesita em mostrar apenas o lado feio de uma figura icônica merece aplausos. Qualquer outro filme colocaria ao menos um lado carismático no personagem, para que pudéssemos nos identificar com ele. No entanto, seja em uma cena mostrando seu lado violento ou apenas sentado delirando sentimos que Al Capone deve ser apenas temido. Qualquer outro sentimento implicaria em loucura comparável a dele.
A Bruxa da Casa ao Lado
2.7 148Curioso pensar que "The Wretched" foi bem recebido nos festivais dos Estados Unidos, já que é um filme tocantemente precário. Não me refiro aos valores de produção, já que os envolvidos merecem méritos por utilizarem os cada vez mais raros efeitos práticos para a criatura. Me refiro ao roteiro, que utiliza uma ideia intrigante mas jamais a desenvolve. Não há criação de atmosfera, não há mitologia (a criatura tem sua origem ou definição resumida a um minuto de busca do protagonista em uma imitação da Wikipedia), não há charme. Alguns diretores utilizariam essa falta de tempo para apresentar com calma e charme para justificar urgência e tom documental da narrativa. Porém não é o caso aqui, já que em momento alguns as ações dos personagens são críveis. Falando neles, quem teve a ideia de colocar aquele protagonista? Não há carisma, inteligência, ingenuidade, arrogância, nada que torne-o um personagem marcante. O que dizer então das cenas de "bullying", que parecem ter sido retiradas de um comercial governamental de prevenção. É triste constatar que muitos irão comparar este filme com "A Bruxa", devido aos seus temas terem uma aproximação mínima. Espero que os espectadores percebam, no entanto, que enquanto "A Bruxa" é um filme atmosférico, com personagens críveis e carismáticos, tensão, mitologia, "The Wretched" oferece apenas....bons efeitos práticos.
Shin Godzilla
3.6 154 Assista AgoraEm tempos de quarentena pela pandemia do Covid-19, "Shin Godzilla" é um filme extremamente familiar. Inúmeros comitês de crise, esferas governamentais decidindo o que fazer, conferências aos jornais com boletins diários (que logo se tornam datados ante novas informações surgindo). Além disso, é impressionante quão ágil é a edição e quão criativa é a fotografia. Enquanto contrapartes americanas de monstros gigantes realizam filmes catástrofes com cenas clichês e imagens de destruição monótonas, "Shin Godzilla" sempre utiliza uma câmera rápida e inteligente. Não há um momento monótono na fotografia. Além disso, é muito interessante o contraste entre um monstro visivelmente infernal (as várias mutações de Godzilla são todas perturbadoras) e uma tentativa de solução burocrática sóbria. É o melhor filme de Gojira? Não, o original de 1954 ainda é o filme mais impressionante sobre o monstro mais famoso do cinema. Ainda assim, "Shin Godzilla" não faz feio a saga. Oferecendo uma visão talentosa e ambiciosa ao protagonista-título.
Jerry Seinfeld: 23 Hours To Kill
3.6 18 Assista AgoraO texto é ótimo, mas por vezes a entrega de Jerry é prejudicada por sua falta de capacidade de imitar outras pessoas. No entanto, quando Jerry expõe sua ótica distorcida por suas ansiedades e inseguranças (ainda mais agora que está com 65 anos), o especial brilha.
Histórias Assustadoras para Contar no Escuro
3.1 551 Assista AgoraO filme pode não ser assustador de verdade, porém tem a efetividade de uma parábola ou lenda de terror contada a uma criança antes de dormir. A imagem central fica na cabeça, personagens e nomes são logo esquecidos. Mas é o que basta, o que "Histórias de Terror Para Contar no Escuro" tem como ambição é em explorar a natureza da criação de uma história e do ato de repeti-la. Nada mais justo, portanto que nos lembremos mais dos segmentos com criaturas do que propriamente da linha central que une todo o filme.
Também servirá de encanto aqueles que se lembram da série de livros que ganhou uma adaptação para TV, "Goosebumps". Na qual o princípio era o mesmo: uma ideia central boa, background dispensável. O suficiente para contar aos amigos a história posteriormente. Isso não livra o filme de alguns problemas, como é o caso do péssimo interesse romântico da protagonista. Que constantemente parece ter tomado anestesia para siso, tamanha a falta de qualquer expressão realista em sua atuação. Retirado esse aspecto, "Histórias de Terror Para Contar no Escuro" pode vir a se tornar um bom clássico introdutor de terror para crianças. Oportunidade essa que o produtor do filme, Guillermo del Toro, jamais perderia.
Resgate
3.5 803Assisti por conta de alguns compararem a ação com a da trilogia "John Wick". Mas a verdade é que "Resgate" é muito mais comparável a um "Falcão Negro em Perigo". O fato desse filme ser de 2001 também diz muito sobre como "Resgate" é um filme que já nasceu ultrapassado. Uma amalgama de todos os clichês dos filmes de ação dos anos 2000, da filmagem frenética, ao cenário de terceiro mundo (que pode ser tanto Bangladesh, quanto Niterói, o filtro amarelado e os barzinhos são iguais) até a dinâmica do herói fortão porradeiro e a pessoa menor que precisa resgatar que fica fazendo piadas sarcásticas no meio do tiroteio. Ou então de por mais que o mercenário seja fodão e armado até os dentes, sobra espaço pra uma briga de faca (saudades de Indiana Jones que cansado demais para lutar com armas brancas, puxava o revólver e atirava na cabeça do espadachim rival). O que dizer então da brilhante estratégia de infiltrar na Índia em uma missão secreta o único cidadão loiro de olhos azuis, com quase dois metros de altura? Quase faz James Bond parecer um bom agente secreto.
A verdade é que existe boa vontade em "Resgate", o elenco é competente e a direção do estreante Sam Hargrave não é de se jogar fora. Mas são tantos clichês patéticos, tantas falas expositivas e uma narrativa tão previsível que foi difícil não se decepcionar.
A Noite dos Mortos-Vivos
3.6 373 Assista AgoraÉ inquestionável quão fã da obra-prima de George Romero o diretor Tom Savini é. O respeito respinga em cada cena do remake de "A Noite dos Mortos Vivos". Savini sabe que é impossível reproduzir o mesmo impacto da obra original. No entanto, pode despertar a atenção do público mais jovem que nunca assistiu por ser p&b. Portanto, a mensagem política pessimista ao final do filme mantém-se, assim como a estrutura de acontecimentos principais. O que mudam são os poucos deméritos da obra original, como é o caso do papel de Barbara. Que anteriormente era apenas o fio condutor da obra, mas retratada constantemente em choque e imóvel ante todas as barbaridades. A Barbara do remake (Patricia Tallman) sofre tantos horrores quanto a outra, mas torna-se uma guerreira determinada e com sangue nos olhos (inclusive, matando mais zumbis do que todos os outros personagens). A escalação de Tony Todd é acertada, já que o ator possui o físico e a presença necessárias para Ben. No entanto, a direção de Savini parece ter pedido para que ele e os demais membros do elenco recitarem as falas do roteiro de George Romero como uma obra de Shakespeare. Assim, muitas vezes as falas tornam-se exageradas demais até mesmo para o absurdo da trama. Torna inválido o remake? De maneira alguma. Uma amostra que a justificativa do remake pauta-se em, claro, apresentar uma ideia nova. Mas sempre com respeito absoluto a obra original.
Hellboy
2.6 422 Assista AgoraPor um lado, é fascinante ver um filme de horror recheado de gore ter tanta ambição. Por outro, o filme deveria reconhecer seu orçamento reduzido e economizar em cenas com efeitos especiais. Se em certos momentos funciona bem (a luta com gigantes), em outros é sofrível (o zoom out após a batalha final). O que é lamentável é ver tanto cgi em um filme que utiliza tão bem maquiagem prática, todas as criaturas são críveis. Outro problema sério são as inserções de humor, extremamente deslocadas e ineficientes. O que resta é um elenco decente, uma trama toda tirada das HQs, muito gore. Dá pra se divertir, no entanto é muito inferior ao que Guillermo del Toro trouxe ao personagem em 2004 e 2009.
Drácula
3.8 12Uma pena que "Count Dracula" seja um filme esquecido, pois junto com a adaptação de Coppola "Drácula de Bram Stoker" é o filme mais fiel a obra máxima de Bram Stoker. A beleza está nos detalhes: a utilização do preenchimento bucal com alho antes da decapitação, o velho que rondava Whitby e conversava com Lucy e Mina, a morte da Sra Westenra. Todos detalhes presentes no livro, mas sempre esquecidos em todas as demais adaptações. O elenco não faz feio: apesar dos intérpretes de Jonathan, Seward e Quincey (que foi combinado ao personagem de Arthur, ante a desnecessidade de tantos personagens sobrando) serem um tanto presos, o Van Helsing de Frank Finlay brilha em cada aparição. Junto com a interpretação de Peter Cushing do personagem, é o melhor Van Helsing do cinema. Também se saem muito bem as intérpretes de Lucy (Susan Penhaligon) e Mina (Judi Bowker), essa última conferindo emoção a momentos pequenos. Como seu diálogo com Renfield (Jack Shepherd, conferindo uma dignidade nunca antes vista ao personagem), ou no momento em que percebe estar indigna aos olhos de Deus. E quanto ao personagem título? Apesar de não possuir uma interpretação tão feroz ou gritante quanto Christopher Lee e Gary Oldman, Louis Jordan encarna um Drácula absolutamente válido. Cheio de arrogância, absolutamente seguro de si (assustando pela naturalidade com a qual fala a uma vítima "vou beber o seu sangue") e apostando nas sutilezas. Mesmo não derramando tanto sangue quanto as outras adaptações, o horror está presente na atmosfera lúgubre e em todas as aparições das noivas de Drácula (o momento pós ceia é digno de pesadelos). Existem elementos datados, como o uso de rotoscopia para exaltar a estranheza de certos momentos. No entanto, por fazer uma adaptação tão fiel ao livro e com tanta competência, "Count Dracula" merece ser redescoberto pelos fãs do conde e do horror.
A Hora do Espanto
3.6 588 Assista AgoraUm dos grandes clássicos de terror anos anos 80, "A Hora do Espanto" é uma lição de como fazer um horror da maneira certa. Sem diálogos expositivos, apostando em uma trama simples, com personagens carismáticos e um vilão igualmente marcante. O mais interessante é perceber toda a mensagem por trás. O protagonista Charlie Brewster é um namorado relapso (pressionando constantemente a namorada Amy a fazer sexo) e um amigo utilitarista (percebam como ele só vai falar com Evil Ed quando se vê em apuros) e um filho desleixado. A presença do vampiro Jerry Dandridge (Chris Sarandon, o melhor vampiro dos anos 80) é uma resposta a todas as carências do protagonista. É extremamente educado e cordial com a mãe de Charlie, estende a mão para "ajudar" Evil Ed e não força uma relação sexual com Amy (ela quem opta por ir até ele). Isso tudo, claro, é apenas subtexto para o inevitável confronto final, com a presença de Peter Vincent (Roddy McDowall, maravilhoso). Mesmo datado em alguns momentos, "A Hora do Espanto" é um terror raro.
A Hora do Espanto
3.0 1,3K Assista AgoraPara um filme de 2011, "A Hora do Espanto" pertence bem ao chamado novo terror, que tem exemplares recentes como "Corra". Isso porque apesar de tratar sobre vampiros, o verdadeiro tema deste remake é a masculinidade tóxica. Sendo um filme feito pela Dreamworks, ou seja, com o aval de Steven Spielberg os temas ficam cada vez mais evidentes. Pois assim como em "E.T", o protagonista é um jovem que sofreu o abandono do pai. Portanto, sem ter uma figura masculina em sua vida. Logo o filme mostra que ele não possui referenciais de lealdade e amizade retos, está sempre em busca de sobrevivência. Por isso ele não hesita em abandonar seu melhor amigo nerd, por medo de ser abandonado pela namorada popular na escola. Essa insegurança heterossexual fica mais evidente ainda quando surge seu maior pesadelo: um vampiro sexy e macho alfa (coisa que o protagonista nunca será). Que não só ameaça seu status como homem na casa (chegando a flertar com a progenitora do herói), mas como namorado. E aqui é onde a maior referência a obra original oitentista é feita, pois quando o vampiro (magnificamente interpretado por Colin Farrell) oferece seu peito para que a vítima sugue o sangue, o espectador está diante de uma insinuação de sexo oral tal qual o filme de 1985. O fato dele fazer questão de mostrar isso ao protagonista, ou seja, remover dele todo o seu status como homem é a cereja do bolo. Assim como a fala seguinte, que confirma também a crítica a crise de meia idade em homens: "Ela me faz me sentir mais jovem!".
Só por explorar esses temas de insegurança, "A Hora do Espanto" já se justificaria como um remake digno. O elenco também é competente, com os destaques claros ao vampiro interpretado por Colin Farrell, e a farsa interpretada por David Tennant (que também é um personagem que perdeu os pais, e tem ligação similar ao protagonista com a insegurança masculina). O problema é que muitas vezes a história demonstra-se muito apressada, não há criação de atmosfera ou expectativa. Enquanto o longa-metragem original era recheado de charme e confiava mais em seus intérpretes para passar suas mensagens, o remake os enche com falas expositivas. Além do excesso de cgi, que retira a ameaça de inúmeras cenas que poderiam ser magníficas. Felizmente, nada disso exclui o fato que "A Hora do Espanto" é um filme com muita mensagem a passar.
In Search of Dracula with Mark Gatiss
3.9 3Mark Gatiss demonstra uma paixão honesta pelo personagem, no entanto o especial por vezes fica bastante raso devido a sua curta duração (exatamente 58 minutos). O maior destaque fica para as entrevistas realizadas com atores e atrizes participantes dos clássicos filmes de Drácula da Hammer, que oferecem detalhes deliciosos sobre os bastidores de filmagem com Christopher Lee (o fato dele carregar uma cópia do livro consigo, de sempre incentivar o elenco a levar a sério, como era uma presença impressionante mesmo sendo o ator que tinha menos falas). De resto, fica um resumo muito apressado sobre a trajetória do personagem. Com algumas passagens interessantes (ao mostrar o processo criativo de Bram Stoker), mas com a impressão que seria melhor um especial de 58 minutos para cada encarnação do personagem. A triste verdade é que com muito menos produção e verba (Gatiss chegou a ir em três países diferentes para filmar) especiais do Youtube conseguem passar muito mais informação minuciosa.
Ameaça Profunda
3.0 629 Assista AgoraCom forte inspiração Lovecraftiana e nos Mitos de Cthulhu, "Ameaça Profunda" é um exemplo de como o horror não vem do susto. Mas sim do medo do desconhecido, como muito bem pontuou o autor H.P Lovecraft.
Magnatas do Crime
3.8 301 Assista AgoraGuy Ritchie faz seu melhor filme desde "Snatch", aprende lições com seu antigo colaborador Matthew Vaughn, aproveita o carisma de seu elenco em personagens com igual característica e desenvolve trama que em momento algum perde a atenção do espectador.
Bloodshot
2.7 277 Assista AgoraÀ primeira vista, "Bloodshot" parece seguir a mesma cartilha dos demais filmes de Vin Diesel, mais especificamente "Velozes e Furiosos". Com um protagonista portando regata, pegando a mulher atraente, sendo um líder de sua equipe, careca reluzindo ao por do sol. No entanto, assim que o enredo enfim se revela percebe-se que a verdadeira intenção do longa é expor que todos aqueles arquétipos pertencem apenas uma fantasia heterossexual frágil. Assim, não é surpreendente que "Bloodshot" tenha tantos ecos com o cinema de Paul Verhoeven. Mais especificamente "Robocop" (o homem que se vê dentro de uma fantasia fascista) e "O Vingador do Futuro" (até mesmo existe um clímax em um elevador com o antagonista ridiculamente antipático). Só por fazer essa crítica ao cinema de ação moderno e pela coragem em tirar sarro da filmografia anterior de seu protagonista, "Bloodshot" já é muito melhor do que toda a franquia "Velozes e Furiosos". O que faltou mesmo para deixar o blockbuster camp mais polido, foi ter um diretor com visão mais focada. Assim como o já citado Paul Verhoeven, ou até mesmo James Wan. Esse último, infelizmente tendo em seu currículo "Velozes e Furiosos" ficaria muito feliz em trabalhar em uma narrativa de ação sem um protagonista com masculinidade frágil.
O Homem Invisível
3.9 156 Assista AgoraO mais interessante em "O Homem Invisível" é perceber a quantidade de temas que circundam a narrativa, especialmente após uma análise retrospectiva história. Existem reflexos das pessoas invisíveis a sociedade com mente pequena, que ao tentar se destacarem são rechaçadas pelos cidadãos locais ao tentarem serem vistos. E o mais curioso, trata da ameaça invisível que surge aos poucos e toma dimensões genocidas. Como por exemplo, o nazismo de Hitler. Que começou praticamente invisível até se tornar o que todos sabemos hoje. Não à toa, o personagem título da obra é o maior assassino de todos os monstros da Universal. Nenhum dos vilões de terror do estúdio possui uma contagem de corpos tão expressiva quanto o homem invisível (Claude Rains, em interpretação espetacular). O filme não é irretocável, as inserções de humor de James Whale ainda eram muito gratuitas e brutas. Especialmente em comparação com a perfeita mescla de humor e terror na obra-prima "A Noiva de Frankenstein". Ainda assim, "O Homem Invisível" sobrevive ao tempo pela amplitude de fascinantes temas que circundam a história. E pelos revolucionários efeitos especiais, que botam muito cgi moderno no chinelo.