De vez em quando é bom assistir algo mais confortável, uma aventurinha com menos de duas horas que entretém e diverte o quanto pode. Partindo dessa premissa, 'Amor e Monstros' cumpre perfeitamente o que se dispõe a fazer - ainda que seja um filme extremamente simples e de pouca originalidade.
Apesar da ameaça não se mostrar tão grande quanto o filme diz ser, cada criatura apresenta um desafio moderado para o protagonista. Isso, aliado a vulnerabilidade do personagem, ajudam a dar a ele um fator identificação bastante fácil. Ainda que seja um recurso um tanto quanto bobo, não incomoda em momento algum.
A trama, mesmo que extremamente previsível, é divertida. Esperar alguma reviravolta surpreendente seria pedir para se decepcionar. Ainda assim, os roteiristas são sábios ao introduzir previamente cada elemento importante e saber utilizá-los nos momentos corretos, o que demonstra um certo cuidado com o roteiro da obra.
Os efeitos visuais não impressionam, mas são interessantes em sua concepção e eficientes em sua construção. Visual e narrativa se completam. 'Amor e Monstros' não consegue ser tão surpreendente e tampouco é hábil ao fazer melhor algo que já foi feito tantas vezes antes, mas triunfa em sua simplicidade.
'O Tigre Branco' é um filme desconfortável. Ele apresenta uma realidade difícil através dos olhos de alguém que está disposto a entrar no jogo sujo daqueles que sustentam tal sistema sem dar um veredito sobre isso em momento algum. Talvez um teste de moralidade, talvez o retrato de uma visão pessimista da realidade, é difícil dar uma conclusão definitiva acerca da mensagem que o filme busca transmitir.
O que é possível afirmar, com certeza, é como a obra é eficiente em te engajar na jornada do protagonista. As ambientações combinam-se com a fotografia para gerar um toque de sujeira constante, que estende-se na atuação de seus personagens, sempre cínica, sarcástica ou simplesmente odiosa. O longa mistura temáticas socioeconômicas, políticas e questões morais perturbadoras, o que gera um resultado propositalmente amargo.
Mesmo assim, sua trama é dinâmica ao saber pontuar bem as batidas narrativas, tudo controlado por uma direção que gerencia bem os elementos técnicos em prol de causar um misto de sensações ruins. Rever o longa para tentar entender como tudo isso se encaixa na proposta poderia melhorar a forma como enxergo o resultado final, mas devido ao tanto de pensamentos ruins que ele traz, dificilmente o farei.
A trama de 'Relatos do Mundo' é uma clássica história de "homem adulto protegendo garotinha ameaçada", dessa vez situado no Velho Oeste. Dentro desse tipo de narrativa, ele pode não ser tão original ou trazer elementos tão cativantes quanto outros, mas ainda assim possui um certo charme e, durante toda a sua duração, consegue te fazer querer saber a conclusão da jornada dessa dupla.
O destaque fica aqui para a ótima recriação de época, criada através de um design de produção bem cuidado e figurinos de mesmo nível. Apesar de pouco memorável e não emocionar tanto quanto poderia, 'Relatos do Mundo' conquista seu espaço em meio aos lançamentos da Netflix. É o tipo de filme que se mostra uma experiência perfeitamente decente, mas não passa muito disso.
Não há muito para ser analisado em 'A Caminho da Lua'. O longa se embasa em temáticas já realizadas com mais eficiência por inúmeras outras animações, possui um estilo visual extremamente lugar-comum, personagens de forma alguma originais e canções que após 15 segundos de tocadas já são esquecidas. Sempre que ameaça ser interessante, ele falha e continua fraco.
Claramente uma tentativa da Netflix de criar uma animação ao menos parecida com aquelas produzidas pela Disney, o filme não possui identidade e limita-se apenas a mimetizar vários dos elementos mais utilizados pelo maior estúdio de animação da história. Era realmente difícil que a história conseguisse de alguma forma se destacar. Quanto mais você pensa no filme, mais fraco ele se prova.
Durante a criação de 'Branca de Neve e os Sete Anões', o primeiro longa-metragem animado da história, era muito comum que Walt Disney se deparasse com pessoas descrentes. Elas diziam que era impossível produzir um filme animado pois não haviam piadas o suficiente pra sustentá-lo. Acredito veementemente que, se o resultado tivesse sido algo como 'Tom & Jerry', tal ideia se confirmaria.
O problema de tentar adaptar animações como essa para um longa-metragem é que você precisa criar toda uma história de fundo que justifique sua duração. Isso, para quem busca apenas fazer um filme bobo para crianças, seria esforço demais. A solução encontrada então foi criar uma trama qualquer com uma série de personagens desinteressantes e algumas cenas de perseguição do gato e rato.
O filme se encontra em algum lugar entre 'Pica-Pau' e 'Sonic'. Não é tão tosco quanto 'Pica-Pau', pois ao menos tenta evocar a alma dos personagens e possui efeitos visuais que funcionam; mas consegue ser menos divertido que 'Sonic', pois possui um plot fraquíssimo e um desenrolar menos interessante. Gastar a mesma duração do filme vendo episódios do desenho vale mais a pena.
Uma versão mais fiel ao clássico de Carlo Collodi, 'Pinóquio' adapta de forma mais sombria e com mais elementos a tão conhecida história do boneco de madeira que queria ser menino. Apesar de possuir uma proposta interessante e alguns méritos em sua execução, o longa é um bom exemplo de como adaptar fielmente uma obra não é garantia de sua qualidade.
A trama segue de forma episódica a jornada de Pinóquio pelo mundo fantasioso proposto pelo livro original, o que abre mais espaço para trabalhar passagens curiosas daquele. Infelizmente, por sua natureza pouco interligada e uma falta de dinamismo narrativo, tais passagens acabam sendo pontas soltas em um longa cuja trama não cativa tanto.
Há um ótimo trabalho empregado na parte técnica do longa: as ambientações, cenários e principalmente a maquiagem são extremamente bonitos. Tais fatores, aliados a um clima sombrio e cheio de malícia, podem render ao menos alguns bons motivos para que os entusiastas do conto vejam o filme. No mais, uma experiência esquecível e pouco expressiva.
Fragmentada e cheia de idas e vindas temporais, a trama de 'Mank' tenta triunfar através de referências às ideologias e inspirações de seu protagonista para a criação de sua maior obra, mas perde-se em uma sucessão de eventos pouco coerente e sem um propósito criativo relevante, trazendo à tona a dúvida sobre qual seria o real propósito do filme.
Ainda que se aproveite de um relevante contexto histórico, o longa não passa de um esforço vazio para relembrar os elementos da época em que se passa, tendo pouco conteúdo a oferecer. Gary Oldman dá ao protagonista um forte tom de acidez e um aparente cansaço psicológico, mas sua atuação não salva o personagem.
Somos obrigados a acompanhar de forma cansativa a trajetória dessa figura pouco ou nada cativante, o que torna a experiência morosa e cansativa. Esteticamente, o longa emula muito bem as obras da referida época, com a fotografia em preto-e-branco, edição de som propositalmente datada e "defeitos na fita", como comuns na época.
Ainda assim, nada de interessante vem de uma obra onde tudo se volta ao objetivo de remeter a memória e influência de outro filme já consagrado sem construir algo novo que lhe dê conteúdo e justifique sua existência, dando a impressão de que o único motivo para a realização do longa é o fato dele ter sido escrito pelo pai do diretor.
'Esquadrão Trovão' tenta fazer duas coisas: ser engraçado e parodiar filmes de super-herói. Em ambos os casos, ele falha. A trama não possui foco, se estende demais em momentos desinteressantes e deixa passar as chances de fazer piada com a temática. O filme poderia ser levemente melhor se ao menos tivesse bons personagens, mas não tem.
Melissa McCarthy faz uma "fracassada" sem o mínimo de carisma e de humor extremamente forçado; Octavia Spencer a nerd mais caricata possível e Bobby Cannavale um vilão extremamente genérico. O único levemente criativo é o Jason Bateman, cujo papel é ridículo desde a idealização até a execução, o que o alivia um pouco.
As "cenas de ação" (se é que podem ser chamadas assim) são mal pensadas, porcamente executadas, sem energia, sem carisma, sem nada. Ok, é óbvio que esse não era o foco, mas se em um filme de comédia as piadas não são boas, alguma outra coisa deveria ser, né? Ou não? É, acho que seria pedir demais pra uma porqueira dessas.
'Estados Unidos Vs Billie Holiday' é uma experiência disfarçada: busca parecer importante, refinado e relevante, quando na verdade é repetitivo e cansativo. A trama é movida basicamente na atuação de Andra Day, que apesar de caracterizar bem a protagonista, acaba se excedendo demais e tornando-se antipática.
A estrutura do roteiro não ajuda, visto que é lerda, carente de vivacidade e sem muito a se aproveitar. Os coadjuvantes são todos dispensáveis, com a maioria parecendo mais adereço de cena do que de fato os personagens interessantes que deveriam ser. É difícil acompanhar 2h10min com pessoas pelas quais você não consegue criar empatia.
Mesmo após o desenrolar completo do longa, a trajetória de Billie Holiday pouco registra na mente. É apenas lamentável que uma história com uma temática tão importante como a repressão à uma estrela negra em face a fútil guerra as drogas realizada pelo governo possa ter se tornado uma experiência tão desinteressante.
A premissa de 'Godzilla vs. Kong' mergulha no ápice da diversão descompromissada, mas sua execução falha ao tentar criar história em cima disso, já que é incapaz de aplicar a ela o devido cuidado. Mesmo com uma proposta tão simples (gorila gigante luta contra lagarto gigante), o longa consegue decepcionar.
Não há suficiente esforço na construção de uma batalha tensa, empolgante, ou que, ao menos em certo momento, coloque os dois em pé de igualdade para que consigamos torcer para algum. O vencedor está claro desde o início e não há subversão alguma. Mesmo o ato final, que apresenta uma nova ameaça, é fraco e previsível.
Os personagens humanos são bem menos irritantes que os do horrível 'Godzilla II: O Rei dos Monstros', e ao menos tem alguma função em parte do roteiro. Quem compensa isso é o trio "liderado" pela personagem de Millie Bobby Brown, cuja importância é forçada e a presença existe apenas para tentar justificar momentos de expositividade óbvia.
Discutir a falta de lógica em toda a mitologia e o universo criado ao redor da batalha renderia parágrafos, já que as idiossincrasias do roteiro são enormes. Se elaborar uma trama não era prioridade para os roteiristas, que focassem então nas batalhas (que, como citei anteriormente, não são grande coisa).
O único elemento que se destaca em meio a tudo é a parte visual da obra, que é espetacular. Tanto a perspectiva de visão quanto os efeitos gráficos são impecáveis. Focando em mais emoção nas batalhas e menos em uma trama patética, 'Godzilla vs. Kong' poderia ser uma diversão plenamente eficiente - ao invés da idiotice que é.
'Meu Pai' é, de forma resumida, um estudo da velhice. O roteiro adentra a psique de seu protagonista através de uma narrativa propositalmente confusa, que torna a experiência não só tocante pela compaixão que causa, mas também assustadora por nos colocar nessa perspectiva tão vulnerável.
A trama fala sobre envelhecimento, vulnerabilidade e a consequente necessidade de amparo de um indivíduo, sempre estruturados em cima de um senso de desorganização, como se todos os eventos, informações e personagens se encaixassem, mas não da forma como estão dispostos.
Destaca-se a direção e design de produção aqui, com um forte cuidado em criar uma espacialidade pela movimentação dos personagens, mudanças de cenário e objetos trocados do lugar - um detalhismo impressionante. A montagem, em especial, se encaixa perfeitamente na criação da confusão que a obra busca passar.
O domínio de cena é total de Anthony Hopkins, que transforma uma experiência tipicamente teatral em um show de realismo e emoção que poucos conseguiriam. Olhares perdidos, carência de ajuda e o orgulho ferido tornam seu personagem não só o reflexo de um parente ou conhecido, mas uma janela para o possível futuro de qualquer um de nós.
Ao nos apresentar tal perspectiva, o longa cria uma experiência desorientadora, mas tocante - um estímulo ao senso de compaixão humana. O cuidado técnico excepcional e a atuação estarrecedora de Anthony Hopkins tornam 'Meu Pai' um filme extremamente bonito e, acima de tudo, indispensável.
'Verão de 85' começa bem: uma narração eficiente causa fácil imersão na mente de seu protagonista, e uma fotografia nublada dá as cenas um senso de lembrança agradável. A atração entre os personagens cativa, o que dificilmente seria diferente visto a utilização da conhecida estrutura do "romance de férias".
Os problemas começam a partir do momento em que o roteiro apela demais à clichês do gênero, tornando a obra de certa forma constrangedora. A partir daí, tudo desmorona em elementos que buscam trabalhar o bizarro sem saber aplicá-lo de forma compreensível, causando assim um forte sentimento de vergonha alheia.
O longa falha ao não saber conduzir sua narrativa de forma natural e rapidamente destrói tudo o que havia elaborado. O clima, que antes sustentava a experiência, resume-se a uma leve marca positiva em meio a um desenvolvimento e conclusão de trama anticlimáticos. 'Verão de 85' é uma experiência amarga que eu dificilmente recomendaria a alguém.
'Liga da Justiça de Zack Snyder' é resultado de dois fatores: a cansativa e saturada insistência dos fãs e a vontade da WB de promover o HBO Max. Há poucas mudanças na estrutura da trama em si, que na prática continua a mesma. As principais diferenças encontram-se em detalhes e algumas novas sequências.
Entre as melhorias há o humor menos jocoso, cenas de ação mais próximas de empolgar, um background bem melhor construído para o Ciborgue e uma conclusão mais tensa e dramática para a trama. Ainda assim, mudanças insuficientes para salvar uma obra que, em seu cerne, já nasce errada.
A visão de Snyder prossegue vazia e com o mesmo problema de sempre: supervalorização da estética em detrimento ao conteúdo. A fotografia é escura demais; a violência é extremamente além do ponto, e as cenas de ação perdem seu escopo épico e tornam-se visualmente caóticas, causando desprendimento emocional.
Os dramas se limitam a breves ideias cujo desenvolvimento é ausente, e há inúmeros elementos criativos desconexos da trama principal, gerando barrigas desnecessárias e curvas narrativas insuficientes. Em suma, o filme tenta parecer importante e cativante, mas falha em ambos.
Zack Snyder não chega aqui a seu ponto mais deplorável. O filme é ao menos superior a sua versão de cinema - o que não significa grande coisa. Quatro horas onde pouco material é realmente desenvolvido, tornando a experiência não só cansativa, como também desprovida de relevância.
E a DC continua a se utilizar do Batman para fazer histórias sobre outros personagens que, provavelmente, não chamariam tanta atenção sozinhos. Ou será que são as histórias interessantes do Batman que estão se esgotando e o estúdio precisou procurar novas desculpas pra utilizar o personagem? Bom, não importa.
'Batman: A Alma do Dragão' é despretensiosamente divertido. Traço? O mais básico possível. Narrativa? Mediana e previsível. Personagens? Estão ali e fazem que o precisam. Mas quer saber? Só de não ter a violência desnecessária de outras produções da DC e não ser tão irritante quanto, já vale a pena.
'Raya e o Último Dragão' tem uma premissa interessante e situa sua história num universo lindo, que por sua vez é embasado em gráficos de alto nível. A essa altura do campeonato, é impossível esperar qualquer coisa diferente da Disney. Ainda assim, há algo no roteiro do longa que o prende em um nível de qualidade pouco diferente da média.
Talvez, por possuir uma temática relevante, mas elucidada de forma inocente e por vezes até idealista demais, o longa acabe sendo bem menos tocante do que poderia. Em relação aos coadjuvantes também há pouco a se destacar, visto que, apesar de funcionais, nenhum é memorável ou cativante.
De qualquer forma, o filme ainda encontra seus méritos numa narrativa rápida, um visual belíssimo e uma protagonista interessante, que o ajudam a ser agradável pelos pouco mais de 100 minutos de duração. 'Raya e o Último Dragão' não é sequer é uma das melhores animações da Disney dos últimos 10 anos, mas vale a experiência.
A trama de 'Eu Me Importo' se inicia muito bem, movendo-se de acordo com os passos de sua protagonista, cujo trunfo está - como o título do longa indica - em fingir se importar com as pessoas apenas para se aproveitar de sua vulnerabilidade. Rosamund Pike, em um papel já bastante confortável, surpreenderia se estivesse mal.
Em certo ponto a narrativa até aparenta querer tratar de temáticas realmente interessantes, com uma mulher que usa de seu "empoderamento" para tentar justificar comportamentos torpes, além de abusar de políticas antiéticas estatais sob o argumento de estar "ajudando" alguém que, na realidade, está bem melhor sem essa ajuda.
O roteiro desanda da metade pra frente, quando as consequências das atitudes dessa personagem a colocam em situações de resolução completamente absurda. Ainda assim, a dinâmica entre os personagens e as atuações (não só da protagonista, como da maioria dos coadjuvantes) ainda tornam a experiência proveitosa.
Apesar de poder explorar bem mais a moralidade de seus personagens, o longa consegue entreter através de dois motivos em especial: o ódio que causa e a curiosidade em ver até onde a protagonista chegará. A conclusão, em especial, deixa um saboroso e satisfatório gosto, o que ajuda a compensar uma trama enfraquecida em sua segunda parte.
Com plena objetividade na temática de sua trama, Shaka King cria em 'Judas e o Messias Negro' um forte senso de realidade, gerando uma proposital sensação de amargura em seu telespectador. Não espere aqui um filme como 'Infiltrado na Klan', que apesar de pesado, dosa sua temática com trechos leves e bem humorados.
O longa traz a tona questões como a identificação com uma causa, hipocrisia policial e negligência de direitos, não se policiando na hora de evidenciar questões mais polêmicas sobre os Panteras Negras, como o caráter político que definiu o grupo e que, concordando ou não, está aqui refletido de forma fidedigna.
Lakeith Stanfield traz uma superficial segurança, e um interior extremamente assustado e em conflito, enquanto Daniel Kaluuya, ao contrário: está plenamente seguro de si e seu discurso, transmitindo seus ideais de forma clara para outros. Juntos, os dois atores formam a dupla mais forte da temporada.
O único problema do longa seja talvez o ritmo da trama, que demora um pouco para adquirir uma cadência de acontecimentos mais engajante. De qualquer forma, o longa registra com eficiência todas as temáticas que almeja trabalhar, refletindo um momento histórico com coragem e o brilho de atuações perfeitamente eficientes.
Mesmo com um protagonista de talento e uma premissa de certa forma interessante, 'O Céu da Meia-Noite' exige muito esforço e boa vontade de seu público, considerando o quão genérica e previsível sua trama é. Com elementos derivados de inúmeros outros filmes parecidos, porém superiores, era difícil fazer diferente.
O que "salva" a experiência (entre aspas, pois o longa ainda está um pouco abaixo do mínimo aceitável de qualidade) é a expectativa por alguma cena empolgante, um final satisfatório ou ao menos uma surpresa mínima, mas isso nunca ocorre. Genérico até a última gota de sua alma, não há nada em 'O Céu da Meia-Noite' que o destaque.
'Hillbilly Elegy' está longe de ser a bomba que muitos afirmam, tendo provavelmente despertado o ódio de parte do público pelo simples fato de tentar ser mais do que de fato é. A trama trata de uma temática facilmente comunicável: um rapaz, de origem pobre, lutando para "ser alguém na vida" enquanto lida com os problemas de sua família.
Os defeitos do longa encontram-se na forma como, aparentemente inconsciente do número de pessoas que passam por dramas parecidos diariamente, ele busca apelar para atuações exageradas, gritarias desnecessárias e, principalmente, a odiável personagem de Amy Adams, que luta afobadamente para parecer atormentada.
Ainda assim, creio que seja um pouco difícil não ser tocado positivamente por ao menos parte da obra, visto que o protagonista, apesar de bastante genérico, ainda é uma pessoa com objetivos facilmente apoiáveis. Talvez, com um pouco menos de exagero e um maior cuidado em sua composição emocional, este pudesse ser um longa bem melhor.
Depois de anos do sucesso do 'Borat' original, a curiosidade aqui era: como replicar sua fórmula, vista a atual fama do protagonista? É aí que entra a filha do personagem, interpretada por Maria Bakalova. A atriz consegue, surpreendentemente, estar a altura de Sacha Baron Cohen na capacidade e naturalidade de interpretar o absurdo.
A trama, agora com um roteiro um pouco mais esquematizado, é mais interessante que o original e bem menos cansativa, atualizando com sucesso suas temáticas para o mundo de 2020. Ainda que tenha uma vertente ideológica mais clara, o longa não chega a soar moralista em momento algum, apenas expondo comportamentos inegavelmente ridículos.
Os únicos dois pontos que impedem essa sequência de superar o primeiro são: primeiro, o fator originalidade, que é menor por simplesmente não trazer tanta novidade em relação ao anterior, e segundo, o contexto atual, no qual o absurdo já é visto diariamente. Ainda assim, está a altura de seu original e não deve decepcionar à quem gostou daquele.
A comédia de 'Borat' provem do fato de seu personagem representar o absurdo da misoginia, machismo, antissemitismo e outros inúmeros "ismos" que busca criticar. Entrando na sociedade americana, é possível enxergar como, mesmo de forma escrachada, ele expõe todos os valores retrógrados aos quais ela ainda está imersa.
A trama, apesar de bem criativa em alguns momentos, se sustenta basicamente no carisma de seu protagonista. Sacha Baron Cohen, já bastante acostumado ao papel, domina um filme que, por se basear em uma premissa tão solta, acaba caindo muito pro lado da repetição e enjoando em certo momento.
Ainda assim, é uma experiência perfeitamente sólida e que até mesmo surpreende, dentro do que se propõe a fazer. Uma crítica social e um expositor de preconceitos ao ridículo, 'Borat' é consideravelmente engraçado (principalmente nas piadas com judeus), causando uma boa impressão e até mesmo interesse pela sequência.
'Malcolm & Marie' nos apresenta uma noite da vida do cineasta Malcolm e sua namorada, Marie. Após alguns "gatilhos", o casal começa a discutir, e a argumentação perdura noite adentro. A trama do filme é de difícil apreciação, fato, mas possui sim coisas a dizer, seja no âmbito dos relacionamentos quanto comentários ao próprio exercício da crítica cinematográfica.
Apesar de alguns exageros e diálogos tão elaborados a ponto de serem desacreditados como plausíveis numa briga real, o longa, como um todo, apresenta bem a dinâmica entre duas pessoas com problemas psicológicos sérios e que são incapazes de resolver suas discordâncias, vivendo num ciclo eterno de atrito.
O obra possui também uma forte opinião acerca da forma como críticos enxergam a arte, especialmente quando associada a um artista negro. Em suma, 'Malcolm & Marie' consegue ser eficiente em sua premissa e, para tal, é uma experiência maçante e cansativa da qual você ao fim apenas agradece por ter acabado.
Deke (Denzel Washington) é um ex-detetive que agora atua como xerife em uma cidade afastada da qual costumava trabalhar. Após ser chamado de volta para entregar alguns documentos, Deke acaba se aliando ao atual detetive Dennis Williams, envolvendo-se na busca por um serial killer e relembrando detalhes obscuros de seu passado.
Denzel Washington faz com eficácia o papel de um policial a fugir de algo, mas o mesmo não pode ser dito de Rami Malek, que ainda parece ter na atuação resquícios de seu papel como Freddy Mercury (a essa altura, me pergunto se isso é de fato um problema do ator ou se eu associei essa má imagem a ele e não consigo mais extraí-la).
A trama se mostra envolvente por boa parte de sua duração, e o mistério quanto ao que fez Deke se afastar do cargo cativa o telespectador. O problema, no entanto, está na real temática do longa, que mascara suas intenções de forma que, quando a reviravolta é apresentada, soa como se todo o desenvolvimento até ali tivesse sido em vão.
O problema não está na conclusão em si, mas na falta de impacto que isso causa. Ao invés de ressignificar toda a narrativa, ela simplesmente frustra o público. 'The Little Things' não é totalmente ruim, mas está a alguns passos de ser bom. Com uma fluidez temática melhor desenvolvida, o longa poderia ter muito mais a se aproveitar.
'La Vita Davanti a Sé' é o típico drama baseado em livro que, naturalmente, derrubará algumas lágrimas do público. Os elogios se voltam aos personagens, fáceis de simpatizar devido ao contexto de vida difícil e passado sofrido. Há muitos momentos bonitos e a relação entre Rosa e Momo é linda, para se dizer o mínimo.
O problema do longa, no entanto, se concentra no desenvolvimento de seus personagens, que acaba sendo bastante apressado ao não desenvolver uma aproximação natural. É quase como se, por conta de já imaginarmos o que vá ocorrer, a trama pule para esse final sem dar a ele a devida construção narrativa.
Ainda assim, certamente é uma experiência prazerosa e que ajuda a despertar um pouco da empatia que reside em cada um. A performance de Sophia Loren praticamente dita o tom do longa, mas o ator Ibrahima Gueye não deixa a desejar no papel de um órfão abandonado e que necessita de cuidados.
Há um reflexo interessante do abandono infantil e a necessidade de uma figura materna, mas nada que possua grande desenvolvimento. Com um pouco mais de requinte, este poderia ser um longa memorável e até mesmo se destacar no cenário fora dos EUA, mas da forma como foi concebido, é apenas uma boa experiência.
Amor e Monstros
3.5 663 Assista AgoraDe vez em quando é bom assistir algo mais confortável, uma aventurinha com menos de duas horas que entretém e diverte o quanto pode. Partindo dessa premissa, 'Amor e Monstros' cumpre perfeitamente o que se dispõe a fazer - ainda que seja um filme extremamente simples e de pouca originalidade.
Apesar da ameaça não se mostrar tão grande quanto o filme diz ser, cada criatura apresenta um desafio moderado para o protagonista. Isso, aliado a vulnerabilidade do personagem, ajudam a dar a ele um fator identificação bastante fácil. Ainda que seja um recurso um tanto quanto bobo, não incomoda em momento algum.
A trama, mesmo que extremamente previsível, é divertida. Esperar alguma reviravolta surpreendente seria pedir para se decepcionar. Ainda assim, os roteiristas são sábios ao introduzir previamente cada elemento importante e saber utilizá-los nos momentos corretos, o que demonstra um certo cuidado com o roteiro da obra.
Os efeitos visuais não impressionam, mas são interessantes em sua concepção e eficientes em sua construção. Visual e narrativa se completam. 'Amor e Monstros' não consegue ser tão surpreendente e tampouco é hábil ao fazer melhor algo que já foi feito tantas vezes antes, mas triunfa em sua simplicidade.
O Tigre Branco
3.8 403 Assista Agora'O Tigre Branco' é um filme desconfortável. Ele apresenta uma realidade difícil através dos olhos de alguém que está disposto a entrar no jogo sujo daqueles que sustentam tal sistema sem dar um veredito sobre isso em momento algum. Talvez um teste de moralidade, talvez o retrato de uma visão pessimista da realidade, é difícil dar uma conclusão definitiva acerca da mensagem que o filme busca transmitir.
O que é possível afirmar, com certeza, é como a obra é eficiente em te engajar na jornada do protagonista. As ambientações combinam-se com a fotografia para gerar um toque de sujeira constante, que estende-se na atuação de seus personagens, sempre cínica, sarcástica ou simplesmente odiosa. O longa mistura temáticas socioeconômicas, políticas e questões morais perturbadoras, o que gera um resultado propositalmente amargo.
Mesmo assim, sua trama é dinâmica ao saber pontuar bem as batidas narrativas, tudo controlado por uma direção que gerencia bem os elementos técnicos em prol de causar um misto de sensações ruins. Rever o longa para tentar entender como tudo isso se encaixa na proposta poderia melhorar a forma como enxergo o resultado final, mas devido ao tanto de pensamentos ruins que ele traz, dificilmente o farei.
Relatos do Mundo
3.5 314 Assista AgoraA trama de 'Relatos do Mundo' é uma clássica história de "homem adulto protegendo garotinha ameaçada", dessa vez situado no Velho Oeste. Dentro desse tipo de narrativa, ele pode não ser tão original ou trazer elementos tão cativantes quanto outros, mas ainda assim possui um certo charme e, durante toda a sua duração, consegue te fazer querer saber a conclusão da jornada dessa dupla.
O destaque fica aqui para a ótima recriação de época, criada através de um design de produção bem cuidado e figurinos de mesmo nível. Apesar de pouco memorável e não emocionar tanto quanto poderia, 'Relatos do Mundo' conquista seu espaço em meio aos lançamentos da Netflix. É o tipo de filme que se mostra uma experiência perfeitamente decente, mas não passa muito disso.
A Caminho da Lua
3.4 279Não há muito para ser analisado em 'A Caminho da Lua'. O longa se embasa em temáticas já realizadas com mais eficiência por inúmeras outras animações, possui um estilo visual extremamente lugar-comum, personagens de forma alguma originais e canções que após 15 segundos de tocadas já são esquecidas. Sempre que ameaça ser interessante, ele falha e continua fraco.
Claramente uma tentativa da Netflix de criar uma animação ao menos parecida com aquelas produzidas pela Disney, o filme não possui identidade e limita-se apenas a mimetizar vários dos elementos mais utilizados pelo maior estúdio de animação da história. Era realmente difícil que a história conseguisse de alguma forma se destacar. Quanto mais você pensa no filme, mais fraco ele se prova.
Tom & Jerry: O Filme
2.8 147Durante a criação de 'Branca de Neve e os Sete Anões', o primeiro longa-metragem animado da história, era muito comum que Walt Disney se deparasse com pessoas descrentes. Elas diziam que era impossível produzir um filme animado pois não haviam piadas o suficiente pra sustentá-lo. Acredito veementemente que, se o resultado tivesse sido algo como 'Tom & Jerry', tal ideia se confirmaria.
O problema de tentar adaptar animações como essa para um longa-metragem é que você precisa criar toda uma história de fundo que justifique sua duração. Isso, para quem busca apenas fazer um filme bobo para crianças, seria esforço demais. A solução encontrada então foi criar uma trama qualquer com uma série de personagens desinteressantes e algumas cenas de perseguição do gato e rato.
O filme se encontra em algum lugar entre 'Pica-Pau' e 'Sonic'. Não é tão tosco quanto 'Pica-Pau', pois ao menos tenta evocar a alma dos personagens e possui efeitos visuais que funcionam; mas consegue ser menos divertido que 'Sonic', pois possui um plot fraquíssimo e um desenrolar menos interessante. Gastar a mesma duração do filme vendo episódios do desenho vale mais a pena.
Pinóquio
3.1 227 Assista AgoraUma versão mais fiel ao clássico de Carlo Collodi, 'Pinóquio' adapta de forma mais sombria e com mais elementos a tão conhecida história do boneco de madeira que queria ser menino. Apesar de possuir uma proposta interessante e alguns méritos em sua execução, o longa é um bom exemplo de como adaptar fielmente uma obra não é garantia de sua qualidade.
A trama segue de forma episódica a jornada de Pinóquio pelo mundo fantasioso proposto pelo livro original, o que abre mais espaço para trabalhar passagens curiosas daquele. Infelizmente, por sua natureza pouco interligada e uma falta de dinamismo narrativo, tais passagens acabam sendo pontas soltas em um longa cuja trama não cativa tanto.
Há um ótimo trabalho empregado na parte técnica do longa: as ambientações, cenários e principalmente a maquiagem são extremamente bonitos. Tais fatores, aliados a um clima sombrio e cheio de malícia, podem render ao menos alguns bons motivos para que os entusiastas do conto vejam o filme. No mais, uma experiência esquecível e pouco expressiva.
Mank
3.2 462 Assista AgoraFragmentada e cheia de idas e vindas temporais, a trama de 'Mank' tenta triunfar através de referências às ideologias e inspirações de seu protagonista para a criação de sua maior obra, mas perde-se em uma sucessão de eventos pouco coerente e sem um propósito criativo relevante, trazendo à tona a dúvida sobre qual seria o real propósito do filme.
Ainda que se aproveite de um relevante contexto histórico, o longa não passa de um esforço vazio para relembrar os elementos da época em que se passa, tendo pouco conteúdo a oferecer. Gary Oldman dá ao protagonista um forte tom de acidez e um aparente cansaço psicológico, mas sua atuação não salva o personagem.
Somos obrigados a acompanhar de forma cansativa a trajetória dessa figura pouco ou nada cativante, o que torna a experiência morosa e cansativa. Esteticamente, o longa emula muito bem as obras da referida época, com a fotografia em preto-e-branco, edição de som propositalmente datada e "defeitos na fita", como comuns na época.
Ainda assim, nada de interessante vem de uma obra onde tudo se volta ao objetivo de remeter a memória e influência de outro filme já consagrado sem construir algo novo que lhe dê conteúdo e justifique sua existência, dando a impressão de que o único motivo para a realização do longa é o fato dele ter sido escrito pelo pai do diretor.
Esquadrão Trovão
2.4 189 Assista Agora'Esquadrão Trovão' tenta fazer duas coisas: ser engraçado e parodiar filmes de super-herói. Em ambos os casos, ele falha. A trama não possui foco, se estende demais em momentos desinteressantes e deixa passar as chances de fazer piada com a temática. O filme poderia ser levemente melhor se ao menos tivesse bons personagens, mas não tem.
Melissa McCarthy faz uma "fracassada" sem o mínimo de carisma e de humor extremamente forçado; Octavia Spencer a nerd mais caricata possível e Bobby Cannavale um vilão extremamente genérico. O único levemente criativo é o Jason Bateman, cujo papel é ridículo desde a idealização até a execução, o que o alivia um pouco.
As "cenas de ação" (se é que podem ser chamadas assim) são mal pensadas, porcamente executadas, sem energia, sem carisma, sem nada. Ok, é óbvio que esse não era o foco, mas se em um filme de comédia as piadas não são boas, alguma outra coisa deveria ser, né? Ou não? É, acho que seria pedir demais pra uma porqueira dessas.
Estados Unidos Vs Billie Holiday
3.3 150 Assista Agora'Estados Unidos Vs Billie Holiday' é uma experiência disfarçada: busca parecer importante, refinado e relevante, quando na verdade é repetitivo e cansativo. A trama é movida basicamente na atuação de Andra Day, que apesar de caracterizar bem a protagonista, acaba se excedendo demais e tornando-se antipática.
A estrutura do roteiro não ajuda, visto que é lerda, carente de vivacidade e sem muito a se aproveitar. Os coadjuvantes são todos dispensáveis, com a maioria parecendo mais adereço de cena do que de fato os personagens interessantes que deveriam ser. É difícil acompanhar 2h10min com pessoas pelas quais você não consegue criar empatia.
Mesmo após o desenrolar completo do longa, a trajetória de Billie Holiday pouco registra na mente. É apenas lamentável que uma história com uma temática tão importante como a repressão à uma estrela negra em face a fútil guerra as drogas realizada pelo governo possa ter se tornado uma experiência tão desinteressante.
Godzilla vs. Kong
3.1 796 Assista AgoraA premissa de 'Godzilla vs. Kong' mergulha no ápice da diversão descompromissada, mas sua execução falha ao tentar criar história em cima disso, já que é incapaz de aplicar a ela o devido cuidado. Mesmo com uma proposta tão simples (gorila gigante luta contra lagarto gigante), o longa consegue decepcionar.
Não há suficiente esforço na construção de uma batalha tensa, empolgante, ou que, ao menos em certo momento, coloque os dois em pé de igualdade para que consigamos torcer para algum. O vencedor está claro desde o início e não há subversão alguma. Mesmo o ato final, que apresenta uma nova ameaça, é fraco e previsível.
Os personagens humanos são bem menos irritantes que os do horrível 'Godzilla II: O Rei dos Monstros', e ao menos tem alguma função em parte do roteiro. Quem compensa isso é o trio "liderado" pela personagem de Millie Bobby Brown, cuja importância é forçada e a presença existe apenas para tentar justificar momentos de expositividade óbvia.
Discutir a falta de lógica em toda a mitologia e o universo criado ao redor da batalha renderia parágrafos, já que as idiossincrasias do roteiro são enormes. Se elaborar uma trama não era prioridade para os roteiristas, que focassem então nas batalhas (que, como citei anteriormente, não são grande coisa).
O único elemento que se destaca em meio a tudo é a parte visual da obra, que é espetacular. Tanto a perspectiva de visão quanto os efeitos gráficos são impecáveis. Focando em mais emoção nas batalhas e menos em uma trama patética, 'Godzilla vs. Kong' poderia ser uma diversão plenamente eficiente - ao invés da idiotice que é.
Meu Pai
4.4 1,2K Assista Agora'Meu Pai' é, de forma resumida, um estudo da velhice. O roteiro adentra a psique de seu protagonista através de uma narrativa propositalmente confusa, que torna a experiência não só tocante pela compaixão que causa, mas também assustadora por nos colocar nessa perspectiva tão vulnerável.
A trama fala sobre envelhecimento, vulnerabilidade e a consequente necessidade de amparo de um indivíduo, sempre estruturados em cima de um senso de desorganização, como se todos os eventos, informações e personagens se encaixassem, mas não da forma como estão dispostos.
Destaca-se a direção e design de produção aqui, com um forte cuidado em criar uma espacialidade pela movimentação dos personagens, mudanças de cenário e objetos trocados do lugar - um detalhismo impressionante. A montagem, em especial, se encaixa perfeitamente na criação da confusão que a obra busca passar.
O domínio de cena é total de Anthony Hopkins, que transforma uma experiência tipicamente teatral em um show de realismo e emoção que poucos conseguiriam. Olhares perdidos, carência de ajuda e o orgulho ferido tornam seu personagem não só o reflexo de um parente ou conhecido, mas uma janela para o possível futuro de qualquer um de nós.
Ao nos apresentar tal perspectiva, o longa cria uma experiência desorientadora, mas tocante - um estímulo ao senso de compaixão humana. O cuidado técnico excepcional e a atuação estarrecedora de Anthony Hopkins tornam 'Meu Pai' um filme extremamente bonito e, acima de tudo, indispensável.
Verão de 85
3.5 173 Assista Agora'Verão de 85' começa bem: uma narração eficiente causa fácil imersão na mente de seu protagonista, e uma fotografia nublada dá as cenas um senso de lembrança agradável. A atração entre os personagens cativa, o que dificilmente seria diferente visto a utilização da conhecida estrutura do "romance de férias".
Os problemas começam a partir do momento em que o roteiro apela demais à clichês do gênero, tornando a obra de certa forma constrangedora. A partir daí, tudo desmorona em elementos que buscam trabalhar o bizarro sem saber aplicá-lo de forma compreensível, causando assim um forte sentimento de vergonha alheia.
O longa falha ao não saber conduzir sua narrativa de forma natural e rapidamente destrói tudo o que havia elaborado. O clima, que antes sustentava a experiência, resume-se a uma leve marca positiva em meio a um desenvolvimento e conclusão de trama anticlimáticos. 'Verão de 85' é uma experiência amarga que eu dificilmente recomendaria a alguém.
Liga da Justiça de Zack Snyder
4.0 1,3K'Liga da Justiça de Zack Snyder' é resultado de dois fatores: a cansativa e saturada insistência dos fãs e a vontade da WB de promover o HBO Max. Há poucas mudanças na estrutura da trama em si, que na prática continua a mesma. As principais diferenças encontram-se em detalhes e algumas novas sequências.
Entre as melhorias há o humor menos jocoso, cenas de ação mais próximas de empolgar, um background bem melhor construído para o Ciborgue e uma conclusão mais tensa e dramática para a trama. Ainda assim, mudanças insuficientes para salvar uma obra que, em seu cerne, já nasce errada.
A visão de Snyder prossegue vazia e com o mesmo problema de sempre: supervalorização da estética em detrimento ao conteúdo. A fotografia é escura demais; a violência é extremamente além do ponto, e as cenas de ação perdem seu escopo épico e tornam-se visualmente caóticas, causando desprendimento emocional.
Os dramas se limitam a breves ideias cujo desenvolvimento é ausente, e há inúmeros elementos criativos desconexos da trama principal, gerando barrigas desnecessárias e curvas narrativas insuficientes. Em suma, o filme tenta parecer importante e cativante, mas falha em ambos.
Zack Snyder não chega aqui a seu ponto mais deplorável. O filme é ao menos superior a sua versão de cinema - o que não significa grande coisa. Quatro horas onde pouco material é realmente desenvolvido, tornando a experiência não só cansativa, como também desprovida de relevância.
Batman: Alma do Dragão
3.2 50 Assista AgoraE a DC continua a se utilizar do Batman para fazer histórias sobre outros personagens que, provavelmente, não chamariam tanta atenção sozinhos. Ou será que são as histórias interessantes do Batman que estão se esgotando e o estúdio precisou procurar novas desculpas pra utilizar o personagem? Bom, não importa.
'Batman: A Alma do Dragão' é despretensiosamente divertido. Traço? O mais básico possível. Narrativa? Mediana e previsível. Personagens? Estão ali e fazem que o precisam. Mas quer saber? Só de não ter a violência desnecessária de outras produções da DC e não ser tão irritante quanto, já vale a pena.
Raya e o Último Dragão
4.0 646 Assista Agora'Raya e o Último Dragão' tem uma premissa interessante e situa sua história num universo lindo, que por sua vez é embasado em gráficos de alto nível. A essa altura do campeonato, é impossível esperar qualquer coisa diferente da Disney. Ainda assim, há algo no roteiro do longa que o prende em um nível de qualidade pouco diferente da média.
Talvez, por possuir uma temática relevante, mas elucidada de forma inocente e por vezes até idealista demais, o longa acabe sendo bem menos tocante do que poderia. Em relação aos coadjuvantes também há pouco a se destacar, visto que, apesar de funcionais, nenhum é memorável ou cativante.
De qualquer forma, o filme ainda encontra seus méritos numa narrativa rápida, um visual belíssimo e uma protagonista interessante, que o ajudam a ser agradável pelos pouco mais de 100 minutos de duração. 'Raya e o Último Dragão' não é sequer é uma das melhores animações da Disney dos últimos 10 anos, mas vale a experiência.
Eu Me Importo
3.3 1,2K Assista AgoraA trama de 'Eu Me Importo' se inicia muito bem, movendo-se de acordo com os passos de sua protagonista, cujo trunfo está - como o título do longa indica - em fingir se importar com as pessoas apenas para se aproveitar de sua vulnerabilidade. Rosamund Pike, em um papel já bastante confortável, surpreenderia se estivesse mal.
Em certo ponto a narrativa até aparenta querer tratar de temáticas realmente interessantes, com uma mulher que usa de seu "empoderamento" para tentar justificar comportamentos torpes, além de abusar de políticas antiéticas estatais sob o argumento de estar "ajudando" alguém que, na realidade, está bem melhor sem essa ajuda.
O roteiro desanda da metade pra frente, quando as consequências das atitudes dessa personagem a colocam em situações de resolução completamente absurda. Ainda assim, a dinâmica entre os personagens e as atuações (não só da protagonista, como da maioria dos coadjuvantes) ainda tornam a experiência proveitosa.
Apesar de poder explorar bem mais a moralidade de seus personagens, o longa consegue entreter através de dois motivos em especial: o ódio que causa e a curiosidade em ver até onde a protagonista chegará. A conclusão, em especial, deixa um saboroso e satisfatório gosto, o que ajuda a compensar uma trama enfraquecida em sua segunda parte.
Judas e o Messias Negro
4.1 517 Assista AgoraCom plena objetividade na temática de sua trama, Shaka King cria em 'Judas e o Messias Negro' um forte senso de realidade, gerando uma proposital sensação de amargura em seu telespectador. Não espere aqui um filme como 'Infiltrado na Klan', que apesar de pesado, dosa sua temática com trechos leves e bem humorados.
O longa traz a tona questões como a identificação com uma causa, hipocrisia policial e negligência de direitos, não se policiando na hora de evidenciar questões mais polêmicas sobre os Panteras Negras, como o caráter político que definiu o grupo e que, concordando ou não, está aqui refletido de forma fidedigna.
Lakeith Stanfield traz uma superficial segurança, e um interior extremamente assustado e em conflito, enquanto Daniel Kaluuya, ao contrário: está plenamente seguro de si e seu discurso, transmitindo seus ideais de forma clara para outros. Juntos, os dois atores formam a dupla mais forte da temporada.
O único problema do longa seja talvez o ritmo da trama, que demora um pouco para adquirir uma cadência de acontecimentos mais engajante. De qualquer forma, o longa registra com eficiência todas as temáticas que almeja trabalhar, refletindo um momento histórico com coragem e o brilho de atuações perfeitamente eficientes.
O Céu da Meia-Noite
2.7 510Mesmo com um protagonista de talento e uma premissa de certa forma interessante, 'O Céu da Meia-Noite' exige muito esforço e boa vontade de seu público, considerando o quão genérica e previsível sua trama é. Com elementos derivados de inúmeros outros filmes parecidos, porém superiores, era difícil fazer diferente.
O que "salva" a experiência (entre aspas, pois o longa ainda está um pouco abaixo do mínimo aceitável de qualidade) é a expectativa por alguma cena empolgante, um final satisfatório ou ao menos uma surpresa mínima, mas isso nunca ocorre. Genérico até a última gota de sua alma, não há nada em 'O Céu da Meia-Noite' que o destaque.
Era Uma Vez um Sonho
3.5 448 Assista Agora'Hillbilly Elegy' está longe de ser a bomba que muitos afirmam, tendo provavelmente despertado o ódio de parte do público pelo simples fato de tentar ser mais do que de fato é. A trama trata de uma temática facilmente comunicável: um rapaz, de origem pobre, lutando para "ser alguém na vida" enquanto lida com os problemas de sua família.
Os defeitos do longa encontram-se na forma como, aparentemente inconsciente do número de pessoas que passam por dramas parecidos diariamente, ele busca apelar para atuações exageradas, gritarias desnecessárias e, principalmente, a odiável personagem de Amy Adams, que luta afobadamente para parecer atormentada.
Ainda assim, creio que seja um pouco difícil não ser tocado positivamente por ao menos parte da obra, visto que o protagonista, apesar de bastante genérico, ainda é uma pessoa com objetivos facilmente apoiáveis. Talvez, com um pouco menos de exagero e um maior cuidado em sua composição emocional, este pudesse ser um longa bem melhor.
Borat: Fita de Cinema Seguinte
3.6 551 Assista AgoraDepois de anos do sucesso do 'Borat' original, a curiosidade aqui era: como replicar sua fórmula, vista a atual fama do protagonista? É aí que entra a filha do personagem, interpretada por Maria Bakalova. A atriz consegue, surpreendentemente, estar a altura de Sacha Baron Cohen na capacidade e naturalidade de interpretar o absurdo.
A trama, agora com um roteiro um pouco mais esquematizado, é mais interessante que o original e bem menos cansativa, atualizando com sucesso suas temáticas para o mundo de 2020. Ainda que tenha uma vertente ideológica mais clara, o longa não chega a soar moralista em momento algum, apenas expondo comportamentos inegavelmente ridículos.
Os únicos dois pontos que impedem essa sequência de superar o primeiro são: primeiro, o fator originalidade, que é menor por simplesmente não trazer tanta novidade em relação ao anterior, e segundo, o contexto atual, no qual o absurdo já é visto diariamente. Ainda assim, está a altura de seu original e não deve decepcionar à quem gostou daquele.
Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão …
3.4 1,2K Assista AgoraA comédia de 'Borat' provem do fato de seu personagem representar o absurdo da misoginia, machismo, antissemitismo e outros inúmeros "ismos" que busca criticar. Entrando na sociedade americana, é possível enxergar como, mesmo de forma escrachada, ele expõe todos os valores retrógrados aos quais ela ainda está imersa.
A trama, apesar de bem criativa em alguns momentos, se sustenta basicamente no carisma de seu protagonista. Sacha Baron Cohen, já bastante acostumado ao papel, domina um filme que, por se basear em uma premissa tão solta, acaba caindo muito pro lado da repetição e enjoando em certo momento.
Ainda assim, é uma experiência perfeitamente sólida e que até mesmo surpreende, dentro do que se propõe a fazer. Uma crítica social e um expositor de preconceitos ao ridículo, 'Borat' é consideravelmente engraçado (principalmente nas piadas com judeus), causando uma boa impressão e até mesmo interesse pela sequência.
Malcolm & Marie
3.5 314 Assista Agora'Malcolm & Marie' nos apresenta uma noite da vida do cineasta Malcolm e sua namorada, Marie. Após alguns "gatilhos", o casal começa a discutir, e a argumentação perdura noite adentro. A trama do filme é de difícil apreciação, fato, mas possui sim coisas a dizer, seja no âmbito dos relacionamentos quanto comentários ao próprio exercício da crítica cinematográfica.
Apesar de alguns exageros e diálogos tão elaborados a ponto de serem desacreditados como plausíveis numa briga real, o longa, como um todo, apresenta bem a dinâmica entre duas pessoas com problemas psicológicos sérios e que são incapazes de resolver suas discordâncias, vivendo num ciclo eterno de atrito.
O obra possui também uma forte opinião acerca da forma como críticos enxergam a arte, especialmente quando associada a um artista negro. Em suma, 'Malcolm & Marie' consegue ser eficiente em sua premissa e, para tal, é uma experiência maçante e cansativa da qual você ao fim apenas agradece por ter acabado.
Os Pequenos Vestígios
3.0 394 Assista AgoraDeke (Denzel Washington) é um ex-detetive que agora atua como xerife em uma cidade afastada da qual costumava trabalhar. Após ser chamado de volta para entregar alguns documentos, Deke acaba se aliando ao atual detetive Dennis Williams, envolvendo-se na busca por um serial killer e relembrando detalhes obscuros de seu passado.
Denzel Washington faz com eficácia o papel de um policial a fugir de algo, mas o mesmo não pode ser dito de Rami Malek, que ainda parece ter na atuação resquícios de seu papel como Freddy Mercury (a essa altura, me pergunto se isso é de fato um problema do ator ou se eu associei essa má imagem a ele e não consigo mais extraí-la).
A trama se mostra envolvente por boa parte de sua duração, e o mistério quanto ao que fez Deke se afastar do cargo cativa o telespectador. O problema, no entanto, está na real temática do longa, que mascara suas intenções de forma que, quando a reviravolta é apresentada, soa como se todo o desenvolvimento até ali tivesse sido em vão.
O problema não está na conclusão em si, mas na falta de impacto que isso causa. Ao invés de ressignificar toda a narrativa, ela simplesmente frustra o público. 'The Little Things' não é totalmente ruim, mas está a alguns passos de ser bom. Com uma fluidez temática melhor desenvolvida, o longa poderia ter muito mais a se aproveitar.
Rosa e Momo
3.7 302 Assista Agora'La Vita Davanti a Sé' é o típico drama baseado em livro que, naturalmente, derrubará algumas lágrimas do público. Os elogios se voltam aos personagens, fáceis de simpatizar devido ao contexto de vida difícil e passado sofrido. Há muitos momentos bonitos e a relação entre Rosa e Momo é linda, para se dizer o mínimo.
O problema do longa, no entanto, se concentra no desenvolvimento de seus personagens, que acaba sendo bastante apressado ao não desenvolver uma aproximação natural. É quase como se, por conta de já imaginarmos o que vá ocorrer, a trama pule para esse final sem dar a ele a devida construção narrativa.
Ainda assim, certamente é uma experiência prazerosa e que ajuda a despertar um pouco da empatia que reside em cada um. A performance de Sophia Loren praticamente dita o tom do longa, mas o ator Ibrahima Gueye não deixa a desejar no papel de um órfão abandonado e que necessita de cuidados.
Há um reflexo interessante do abandono infantil e a necessidade de uma figura materna, mas nada que possua grande desenvolvimento. Com um pouco mais de requinte, este poderia ser um longa memorável e até mesmo se destacar no cenário fora dos EUA, mas da forma como foi concebido, é apenas uma boa experiência.