Épico, monumental, de tirar o fôlego. Uma aula de como se fazer cinema. Beleza e fúria transcendentes em imagem e som.
Por muito tempo, os livros de Duna de Frank Herbert foram considerados infilmáveis, tamanha complexidade. Mas o filme de 2021, no qual defendo muito, conseguiu trazer de forma palpável a atmosfera e densidade necessárias, por mais que seja uma obra incompleta, que serve apenas de introdução e contemplação à este universo. Meu medo era a continuação trazer apenas uma ação genérica e um desfecho apressado. Mas o que Denis Villeneuve faz é dobrar as apostas em tudo.
Efeitos especiais perfeitos, trilha sonora ensurdecedora e ação arrebatadora marcam presença. Mesmo assim, Villeneuve não simplifica nada, e o roteiro, as atuações, a complexidade e a urgência são elevadas ao máximo, em um dos filmes mais impactantes do cinema recente. É uma experiência elaborada para a tela grande e imersiva do cinema. Cada frame é pensado e enquadrado para o cinema! A direção de Villeneuve, a fotografia de Greig Fraser e a trilha sonora de Hans Zimmer trabalham em uníssono. São três deuses, três mestres no seu ápice.
Timothée Chalamet e Zendaya retornam liderando com convicção. Ele passa a insegurança de alguém franzino que teme o poder, mas que precisa tomar decisões difíceis que afetarão a todos. Ela passa a postura de guerreira, mas que duvida da profecia de se crer nesse salvador. A maravilhosa Rebecca Ferguson segue enigmática, roubando a cena com a personagem mais complexa da trama. Austin Butler é uma adição arrebatadora como o grande inimigo do protagonista, um vilão sádico e assustador, quase um "Coringa do espaço". Todo o elenco é estelar, coisa linda ver uma obra que não desperdiça um elenco desses, todos entregando muito.
Política, fanatismo religioso e a crença em um messias acabam sendo o ponto de partida para alegorias interessantes, sobre massas de manobra, genocídio, falsos messias e interpretações proféticas distorcidas, de acordo com a ambição de quem estiver "enxergando" o milagre. Tudo é denso, não existem saídas fáceis e o roteiro não nos poupa nada.
A contemplação, o peso das máquinas e vermes gigantes, o retumbar das explosões e corpos caindo, o som das partículas da areia ao vento, está tudo ali, mas com mais impacto do que nunca. Cinematografia espetacular, montagem frenética e crescente, é cinema bruto e puro exercício da imagética.
Uma ficção científica que marcará a nova geração e converterá muitos jovens em cinéfilos. Um milagre cinematográfico de crítica e público, um exemplo do porque a sétima arte é tão poderosa e sempre irá sobreviver. Oscar 2024 ainda nem aconteceu, e já temos o primeiro grande candidato ao Oscar 2025.
Cinema não fica melhor, não é mais cinema do que isso aqui. Um dos grandes filmes de 2024!
Novo filme do Studio Ghibli e do lendário Hayao Miyazaki, é mais uma obra inventiva narrativamente e linda visualmente, belamente rabiscada e animada.
Ao lidar com temáticas como amadurecimento, luto e perdão na infância, Miyazaki orquestra um anime maduro, mas que mantém o imaginário lúdico.
Existe um humor tragicômico presente em algumas cenas um tanto excêntricas, mas que são balanceadas com passagens emocionantes, conforme o protagonista vai se aprofundando nesse universo fantástico - e se auto descobrindo no caminho.
O roteiro não traz um vilão declarado, mas situações difíceis que precisam ser desenroladas, exigindo decisões e consequências. No mundo de fantasia, paradoxos são criados com o mundo humano real.
O Menino e a Garça será o provável campeão na categoria de Melhor Animação no Oscar 2024. E não é para menos. É mais um lembrete de como o cinema é uma linguagem e expressão artística universal, furando a bolha de Hollywood e dos Estados Unidos. Viva o cinema internacional.
Ou, anatomia de uma relação falida. Ou, anatomia de um relacionamento tóxico. Ainda em tempo, anatomia de como julgamos o outro.
Ele caiu, se jogou ou foi jogado? Pouco importa! O que a potente diretora Justine Triet deseja aqui é dissecar, desmembrar, colocar uma lupa em como nós, expectadores (um júri), julgamos aquilo que só sabemos superficialmente, muitas vezes cegos por ideias pré-concebidas. Desconhecemos no próximo aquilo que ele enfrenta entre quatro paredes.
Espetacular atuação de Sandra Hüller, madura, complexa e que abriga camadas. Camadas estas que vão sendo descascadas conforme o roteiro costura a anatomia da obra. A direção de Justine e a atuação de Sandra são um combo e um grande lembrete da força feminina, diante e atrás das câmeras.
Fotografia belíssima e passagens tocantes contemplam esse thriller dramático, sempre sofisticado e pungente. Uma obra densa, difícil de digerir e que merece a aclamação que vem recebendo desde o último Festival de Cannes.
Obs: melhor atuação canina de 2023, tem uma cena de apertar o coração.
O drama de Jonathan Glazer talvez até careça de um pouco de ritmo na sua metade final, mas talvez este seja um dos mais aterrorizantes longas feitos recentemente.
Acompanhamos uma bela família cuidando da sua vida, das crianças e do jardim. Eles são nazistas, vizinhos de um campo de concentração. Eles ignoram gritos, fumaças e sinais do horror ao seu lado. E apesar de se passar no holocausto, ele é sobre algo mais. Sobre nossa inércia diante toda forma de crueldade.
Ora, se eu tenho que trabalhar, horários à cumprir, sustentar a família, cuidar de um familiar doente; se estou cansado, com contas à pagar, dentre outros compromissos, porque me importar? Se não faço parte de uma minoria, grupo étnico, religião ou núcleo que está sofrendo algum tipo de violência ou perseguição, porque me posicionar?
Mas ao ignorar as trevas ao meu redor, racismos, preconceitos, abismos sociais, não estou sendo negligente, perpetuando a maldade? Ao ignorar a dor alheia, não estou fazendo parte da opressão?
É fácil cuidar da própria vida, enquanto o mau cresce ao nosso redor. Difícil será não ter culpa, não fazer parte das trevas que nos negamos a lutar contra.
Zona de Interesse é sobre a banalidade da decadência humana. E essa banalidade está mais perto do que nunca, disfarçada sob um véu de família, fé, patriotismo, dentre outras coisas.
Em 'Vidas Passadas', surpreendente longa de estreia de Celine Song, somos envolvidos em uma trama sutil e delicada, sobre reencontros, lembranças e questionamentos sobre as probabilidades. E se?
Dois amigos de infância se reencontram anos depois, reacendendo nostalgia, saudades, senso de pertencimento e leveza. Um causa no outro sensações outrora perdidas, ou ignoradas. Mas hoje, cada um tem sua vida e relacionamentos. Tal reencontro é um esbarrão, um nó, uma probabilidade no espaço-tempo no microcosmo de cada uma de suas personas.
Na vida, temos contato com certas almas que não conseguimos ficar juntos, mas elas sempre serão uma parte importante do que moldou nossa jornada. São nós impossíveis de desatar ou ignorar. Mas isso não significa que serão parte do nosso futuro. Reencontros não são necessariamente uma ressignificação do passado.
Um dos filmes mais delicados de 2023, uma história de amor que foge do óbvio e te transporta para uma reflexão introspectiva sobre aqueles que tocaram a sua vida até aqui, nessa parte da sua, e da minha jornada.
Excelentes atuações, cinematografia naturalista e decupagem enxuta contemplam as características técnicas desta pequena gema.
'Pobres Criaturas' é brilhante, ousado, excêntrico, surrealista, sensual, teatral, ácido e ultrajante.
Emma Stone é uma força da natureza, em um tour de force espetacular. O roteiro é muito bem costurado, fazendo críticas ácidas à sociedade de forma pouco convencional, em um humor sem pudor e que flerta com o bizarro.
Fotografia, figurino, direção de arte e toda mise en scène trazem um lúdico e teatral lindo de se ver em cada frame. E a trilha sonora é uma das mais marcantes da temporada.
Sexo e a arte: é impressionante como os filmes estão cada vez mais infantilizados e pasteurizados. E nisso, muito se fala sobre não precisar ter cenas de sexo nas obras. Tolice. A arte (livros, filmes) abordam todos os periféricos da vida, incluindo o sexo. Ele e os corpos nus existem, estão presentes o tempo todo, afinal a humanidade vem à existência através disso. É bizarro como colocam tabu em algo que todos buscam.
É aí que filmes como 'Pobres Criaturas' se tornam importantes, indo na contramão e utilizando a sensualidade como porta de discussão para vários aspectos, como a liberdade sexual feminina, e em como isso está ligado à busca por uma identidade e lugar no mundo.
Uma mulher livre sexualmente e socialmente, com opinião própria e livros (conhecimento) na mão, amedrontam os homens e a sociedade que eles tentam conservar.
'Pobres Criaturas' é genial, um dos melhores filmes de 2023 e um dos mais fortes concorrentes nessa temporada de Oscar.
Aos 76 anos de idade, com mais de 50 de carreira e quase 40 longas como diretor (fora as dezenas como produtor), Steven Spielberg já não deve mais nada ao cinema. De Tubarão a E.T., de Indiana Jones a Jurassic Park, de A Lista de Schindler a O Resgate do Soldado Ryan, para citar apenas alguns, Spielberg é um dos mestres da manipulação de emoções, tensão e pura magia cinematográfica.
Mas com seu novo filme, ele usa a fictícia família Fabelmans para narrar sua própria biografia, sua infância e seu amor pelo cinema. Aqui, ele não revela apenas a si próprio, mas também coloca seus pais diante do reflexo do espelho.
Nostálgico, com aquela magia do mestre, ao mesmo tempo é triste e introspectivo. De sua obsessão quando criança, passando a ser sua paixão quando mais velho, Sam (ou Spielberg) encontra seu refúgio atrás da câmera cada vez que a vida machuca. Seja pela relação conturbada de seus pais, ou por sofrer perseguição na escola por ser judeu, cada vez que ele está quebrado, é no fazer cinema em que ele se reconstrói.
Algumas verdades são ditas àqueles que amam a arte: ela dá frutos, mas também causa solidão. O tio avisa: "família, arte, isso vai dividir você." De certa forma o filme mostra que quem vive pela arte precisa fazer sacrifícios inevitáveis.
Isso é brilhantemente retratado pela figura da mãe, Mitzi, que tem uma fome de arte, de viver, é um estado de espírito que Sam (Spielberg) herdou. A mente criativa de Mitzi, lindamente atuada por Michelle Williams, é tão eufórica quanto desesperada, talvez aguardando uma espécie de milagre, um milagre que somente a arte pode suprir.
Com carga emocional, The Fabelmans é sobre o amor à arte, ao cinema, à família. E é sobre a dor da vida que habita no meio desses amores. Com atuações impecáveis, duas participações especiais de deixar um sorriso no rosto, tecnicamente perfeito em imagem e som, Spielberg faz o seu Cinema Paradiso (que por sinal é meu filme favorito), mas com suas próprias percepções da vida, retratada sob as lentes da câmera.
É difícil não me identificar. Amar a arte não é um hobby, é um estado de espírito: lindo, excitante, solitário e devastador.
Diferentes filmes causam impacto de múltiplas formas, em tempos distintos.
Faz um mês que assisti Aftersun, e ele só cresce e melhora na minha mente. Estou em uma fase da vida em que este tipo de obra íntima e introspectiva fala alto comigo. Aqui, gravações e memórias de uma viagem entre pai e filha se entrelaçam entre o concreto e o abstrato, entre o visível e o não dito, em uma montanha-russa de sentimentos. Nos identificamos com a menina pela sua memória afetiva terna, mas de descobertas, seja pelo despertar do amor, seja por não compreender os problemas do pai, aquilo que atormenta um adulto. Me identifico ainda mais com ele, um jovem adulto que demonstra uma melancólica e silenciosa depressão, frustrado com situações de sua vida. Muito da potente atuação de Paul Mescal está no olhar, no silêncio, na dor guardada.
Aftersun mescla gravações e memórias como se fossem a mesma coisa, flashes da vida, registradas como cinema. Isso é lindo, já que o filme se baseia nas experiências da própria diretora, Charlotte Wells. Vinda de curtas, é impressionante seu trabalho no seu primeiro longa-metragem, ficaremos de olho nela. Ao trazer sua pessoalidade com humanidade e poesia, Wells faz seu cinema como registro da vida.
Poderoso nas sutilezas, é uma das grandes obras de 2022. Começa simplista, e se desenvolve avassalador. A cena da "última dança" ao som de Under Pressure do David Bowie e Queen, e a sequência final, estão entre as mais belas passagens do ano. Aquela balada metafórica de Sophie, onde ela criança e adulta (agora compreendendo) encontram o pai, aquele final devastador dele interrompendo as gravações, podem não dar todas as respostas, mas dizem muito. Machuca, e vocês sabem, eu amo um filme que machuca, porque se torna algo marcante. É a vida.
Memórias são fragmentos, nem sempre 100% compreensíveis. Não se trata de entender, mas de sentir.
Avatar: O Caminho da Água é cinema na forma pura, que transcende a tela (2022, de James Cameron)
Sim, eu sei, o título do texto parece um tanto indulgente. Assim como alguns cineastas, como James Cameron, também parecem ser. Assim como dizer que tal filme “é cinema puro” gera certa discussão sobre o que seria essa pureza cinematográfica. O cinema é a imagem em movimento, sem explicações, sem desculpas, é a imagem por si só sendo apreciada. Esse conceito mais clássico e intelectual, quase abstrato, da imagem por si só, é uma coisa que às vezes quase se perde no decorrer dos anos, quando se possui nos holofotes essas grandes sagas cheias de narrativas e personagens, ideias mirabolantes e filmes vencedores do Oscar cheios de diálogos incríveis. Tudo isso é muito bom, tudo isso é cinema.
Mas um cineasta nunca deve perder de vista um fator inestimável, aquele que fica na nossa memória após assistirmos a um grande filme: a imagética, a imagem por si só, seja em uma história narrada, seja até mesmo na falta de uma história. Falta de uma história? Sim, afinal quantos filmes, do clássico mudo aos experimentais recentes, do documentário à ficção, não trazem narrativas claras, mas impressionam pela captação das imagens na câmera? Isso também é cinema de qualidade. E filmes assim também possuem um bom roteiro. A Chegada do Trem na Estação, de 1895, considerado o primeiro filme da história do cinema, é apenas uma câmera captando o cotidiano da estação, passageiros vem e vão. Assim nasceu o cinema, e mudou o mundo para sempre. Mad Max: Estrada da Fúria é ação pura, uma sequência interminável de perseguições, e seu roteiro é excelente, pois consegue algo raro: desenvolver mundo, personagens e situações na base da adrenalina. Nascia ali o que é considerado o melhor filme de ação de todos os tempos até agora.
Aliás, quanto ao roteiro, muitos o confundem com diálogos, ou originalidade, o que são coisas completamente diferentes. Um bom roteiro pode escolher dizer algo ao público através de um diálogo entre personagens (filmes do Scorsese ou Tarantino), ou apenas através de uma silenciosa cena (Nosferatu, Wall-e). E originalidade é criatividade, seja na escrita do roteiro, seja na forma que a história será narrada visualmente pelo diretor. Dizer que algo é original hoje em dia é complexo, devido à imensa quantidade de histórias que o cinema já nos narrou, praticamente de todos os tipos, mas vez por outra algum filme traz diversos clichês emaranhados de forma criativa (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo), o que dá pra julgar ao seu modo, como algo original. Um bom roteiro engloba tudo em um filme, não precisa ter diálogos complexos ou originalidade de sobra. Um bom roteiro pode sim ser um clássico clichê e se sobressair na forma visual com que um filme é mostrado, afinal, o roteiro é a parte escrita na pré-filmagem, e a mágica de verdade acontece no momento que a câmera roda e externaliza as páginas do roteiro. Um filme lindo esteticamente ainda é fruto de um bom roteiro, cuja proposta foi a experiência visual.
Toda essa minha introdução serve apenas para basear com fatos históricos e cinematográficos aquilo que vou escrever agora. Avatar: O Caminho da Água é uma obra-prima e um tipo de cinema na sua forma pura, a imagética por si só, sem pedidos de desculpas, e é impressionante. É aquela obra que vai além de ser apenas um filme, ela se torna uma experiência visual e sensorial, para ser experimentada, vivida, sentida no cinema. Transcende a tela, não só literalmente pelo 3D, mas de forma quase espiritual, é algo para ser presenciada pessoalmente e é algo para se gabar às futuras gerações. É o tipo de filme que cria uma geração de novos cinéfilos, apaixonados pela sétima arte.
Não foram poucas vezes que James Cameron impressionou o mundo, dominou as bilheterias e virou sensação no Oscar. O Exterminador do Futuro (1984), Aliens, O Resgate (1986), O Segredo do Abismo (1989), O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final (1991), True Lies (1994), Titanic (1997) e Avatar (2009). Ação impressionante, efeitos especiais inovadores desenvolvidos pela sua própria equipe, criação de mundos fantásticos, senso de urgência e catástrofe, raros casos de continuações melhores que o primeiro filme, dentre outras questões. Com Titanic, Cameron ganha seu Oscar de Melhor Diretor, dos onze prêmios conquistados pelo filme. Com Avatar, Cameron revoluciona a imagem do cinema, os mundos de fantasia, a computação gráfica, a captura de movimento dos atores e o uso espetacular do 3D, uma tecnologia já antiga e anteriormente fracassada.
Treze anos depois, desenvolvendo técnicas ainda melhores, Cameron entrega seu aguardado Avatar: O Caminho da Água e impressiona ainda mais, seja pelo 3D, seja pela criação de mundo. Tudo retorna ainda mais palpável, mais completo, mais detalhado. A profundidade e a escala das cenas é inacreditável. Um ultrarrealismo confunde seu cérebro, pois realmente parece que aquela lua, os nativos, a fauna e a flora, que tudo isso é realmente real, parecem de fato seres vivos bem na sua frente, ampliados por um impressionante uso de 48 frames por segundo, ao contrário dos normais 24, deixando tudo ainda mais realista. É quase um teatro, um concerto, um show cinematográfico ao vivo. E tudo isso, a imagem por si só, já bastaria. Mas não para por aqui.
A história, a tal da trama de Avatar que muitos dizem pela internet ser fraca, é ainda melhor, mais forte que a do primeiro, que já era boa. Dentro da proposta de Cameron, existem apenas algumas limitações. E essas limitações se devem ao conceito de franquia. Pois sim, Cameron planeja até o quinto filme, no mínimo. E é justamente pensando no conceito de franquia, que algumas escolhas narrativas e alguns destinos são indecisos e abertos, similar ao que Star Wars, Marvel e DC fazem em suas sagas e poucos criticam. Mas o roteiro dessa segunda aventura ainda é melhor que o do primeiro, trazendo mais detalhes e aprofundamentos no que tange mundo, costumes e crenças. Até o caricato vilão ganha um pouco de dimensão. Ainda há espaço para melhorias, mas é algo que está sendo construído.
O foco nos filhos de Jake e Neytiri é um acerto, especialmente o destemido Lo’ak e a maravilhosa Kiri, que roubam o protagonismo com força. Os jovens são carismáticos e acompanhamos as novidades e mudanças sob suas óticas. Há também Spider, um jovem humano abandonado em Pandora e amigo da família, que trará um dilema ambíguo e de potencial. Aqui, o roteiro se dá ao luxo de brincar um pouco com o conceito de paternidade, criando conflitos interessantes.
Missão pessoal da vida de Cameron, a ecologia está ainda mais presente. Seu fascínio pelo mar traz as mais impressionantes cenas aquáticas já apresentadas, é de tirar o fôlego. É como se o público estivesse mergulhando junto. Se no primeiro longa tivemos a flora como ponto de ruptura, aqui temos a fauna aquática. Uma espécie de baleia alienígena se torna o foco ambiental, central e dramático, e é impressionante como apesar de ser uma criatura em CGI, sentimos ela como de verdade. Existe realmente emoção e paixão aqui, e esse é um dos motivos de Avatar não ser “tão original” assim (e nem precisaria ser). Avatar traz na sua simplicidade a identificação com o mundo real, as árvores que queimam de verdade, a baleia que é caçada de verdade. Essa identificação com o meio ambiente humano é a real meta de Cameron, para que ele possa fazer sua defesa, seu alerta sobre o quanto estamos destruindo nosso planeta, e automaticamente, acabando com o nosso próprio futuro. Isso é um fato, e está em curso, e Avatar é uma vitrine cinematográfica de milhões de dólares, onde o cineasta esfrega essa verdade em nossa cara. Esse tal “clichê” que muitos apontam é a nossa realidade, e em tempos de desinformação e falta de interesse, ser direto e simplista nisso faz-se necessário para captar a maioria das pessoas, as massas. Sim, é um apelo emocional que poderia ser brega, mas como um experiente cineasta que trabalha com arcos dramáticos mais clássicos, Cameron, assim como Spielberg, sabe chegar no limite do brega, da chantagem emocional, do clichê, e manipular tudo favoravelmente a ponto de virar a melhor coisa do mundo.
“I see you”, ou “eu vejo você”, a frase tema da franquia, é literalmente um convite a enxergarmos de verdade aquilo que está ao nosso redor, especialmente a natureza e sua beleza. De certa forma, James Cameron clama para que depois do filme, larguemos o óculos 3D e olhemos a beleza natural que nos cerca, e que estamos destruindo. Essa mensagem fica ainda mais evidente nessa segunda aventura.
Como todo bom filme que se preocupa em construir um novo mundo, O Caminho da Água flui de forma suave, contemplativa, deixando-nos degustar das paisagens, das árvores, dos animais, dos nativos e seus costumes. Mas nunca chato, nunca cansativo. Ao contrário, as três horas passam voando, pois sempre há muito o que olhar, o que se encantar, o que absorver, tamanha riqueza da imagética. Apesar da ação eletrizante do terceiro ato, há tempo de respiro, para que emoções sejam sentidas, e isso é ótimo, evitando que seja só mais um filminho de pancadaria. Destaco especialmente o segundo ato da obra, onde somos completamente submersos aos ricos detalhes aquáticos.
E claro, quando Cameron traz a sua famosa ação, ela é igualmente e proporcionalmente impressionante, beleza e destruição possuem o mesmo peso, ambas de cair o queixo. Ninguém filma ação como James Cameron, isso precisa ser dito. A mecânica, as máquinas, as armas, naves, barcos, tudo tem um peso opressor, contrapondo com a leveza da natureza. Você sente o peso das ondas da água batendo, você sente o coice dos tiros, o peso dos gigantes animais, tudo impressiona pelo realismo físico e geográfico da ação, é formidável, e a câmera não nos poupa de enxergar tudo da forma mais linda ou amedrontadora possível. São detalhes únicos, seja no efeito de pós-produção ou na angulação da câmera, que faz com que se identifique o jeito do cineasta filmar. Titânico, magnífico.
A fotografia mais uma vez é brilhante, ainda mais impactante, profunda, iluminada e com cores naturais do que antes. A trilha sonora é assinada por Simon Franglen, que substitui o falecido e maravilhoso James Horner do primeiro filme, mantém o legado de Horner, é emocionante e ajuda a dar o tom à obra. O elenco está ótimo e consegue entregar fortes expressões faciais nos seus “avatares”. Zoe Saldana é a melhor em cena, seja na expressão ou no seu fabuloso trabalho vocal. Sam Worthington, um ator um tanto limitado, apresenta forte amadurecimento. Sigourney Weaver e Stephen Lang retornam de formas inesperadas e engenhosas. Kate Winslet, voltando a trabalhar com o diretor depois de Titanic, entrega um dos momentos mais dramáticos da obra.
Avatar: O Caminho da Água é brilhante tecnicamente, com o visual mais impressionante que o cinema já trouxe até aqui, em um filme com um roteiro ainda melhor, aprofundando ambientalismo, laços familiares e senso de pertencimento. O discurso é deveras simplista, mas efetivo e realista. O óbvio é dito de forma óbvia, mas sempre necessário e visualmente deslumbrante. Obra-prima, que ficará com você após a sessão, deixando expectativas sólidas para as continuações. Merece todo sucesso que inevitavelmente fará.
Cinema, acima de tudo, é imagética. E imagética perfeita também é fruto de um bom roteiro. Quem não compreende isso, não compreende cinema. Obra-prima <3
Casa de Antiguidades é mais um belo filme nacional que visa provocar e alertar sobre aquilo que divide e corroí uma nação. O racismo, o preconceito, o elitismo, a superioridade, o ódio às culturas diferentes daquilo que foi adotado como tradicional. Critica um Sul que se acha melhor, um Sul que quer se separar do restante do país, uma sociedade estruturada em raízes velhas e doentes. Confira o texto completo no site Minha Visão do Cinema (link na minha bio).
Fazia meses que não escrevia, ando com bloqueios criativos. Mas a volta à ativa não poderia ser melhor.
'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo' é o melhor filme dos últimos anos e a melhor utilização de um multiverso já feita. Original, emocionante e existencialista, é uma obra-prima. Vem conferir minha crítica e saiba os motivos deste ser um filme obrigatório:
No site Minha Visão do Cinema (link na minha bio).
Como fã dos monstros clássicos do cinema, sempre gosto da presença deles em produções variadas, assim como que reconheço a qualidade de animação da Sony, portanto sempre simpatizei com essa franquia, especialmente o 2° e 3° filmes. Mas é fato que esse último esgotou as ideias em roteiro, com piadas mais sem graça. Pode acabar por aqui.
Cruel e bela tal qual a vida, obra-prima única, faz algo que nenhuma outra obra fez até então ao retratar a finitude de todos os seres e todas as coisas. Uma poderosa lição, provavelmente a maior série já feita, obrigatória para todos que se encorajarem a assistir. É difícil, mas é inestimável.
Minha crítica completa no site Minha Visão do Cinema (link no perfil)
'007 - Sem Tempo Para Morrer' encerra a jornada de Daniel Craig como o agente secreto e encerra toda uma Era de James Bond. Solene, eletrizante, emocionante e polêmico, o filme vai gerar discussões por um bom tempo, até sabermos quem e como será o próximo filme e protagonista.
Belo, positivo e emocionante, 'Em Um Bairro de Nova York' traz a música, as cores, a sensualidade, a luta e a garra dos imigrantes latinos nos Estados Unidos. Uma carta de amor aos sonhadores e seus sueñitos, são eles que fazem a América funcionar. Com números musicais e rimas de tirar o fôlego, o melhor filme do ano até então. Confira minha crítica completa no site do Minha Visão do Cinema, link na minha bio!
Produção irlandesa e britânica feita entre a BBC e Hulu, distribuída no Brasil pela Starz, 'Normal People' é uma obra pequena, que vem ganhando atenção desde sua estreia e concorrendo a prêmios. O que poderia ser mais um romance adolescente clichê, revela-se ao longo dos seus 12 capítulos de 20/30 minutos, uma tocante e sensível odisseia pelos sentimentos humanos e um fiel retrato dos amores confusos do mundo moderno.
Sem exageros, bobagens e rodeios, a cada capítulo somos inseridos mais à fundo no psicológico complexo desse casal que se ama de verdade, mas que diversas falhas e inseguranças os separam. Aqui existe a distância física, mas tem-se a conexão mental. O que de início parecia apenas imaturidade, vai se revelando através do brilhante roteiro, num ousado estudo de personagem, extremamente bem elaborados e ambíguos.
Não há mocinhos e vilões. Existem as diferenças, barreiras e problemas emocionais que os abalam. Insegurança, baixa autoestima, depressão, saúde mental, espectros introspectivos e outros periféricos tornam essa relação agridoce. É uma trama apaixonante, quente e emocionante, na mesma medida que é crua, angustiante, triste e devastadora. A intimidade do casal, através de cenas naturais e diálogos desafiadores, traz um humanismo e sensibilidade poucas vezes vistos na TV.
Com uma fotografia europeia espetacular, ótima trilha sonora, visual limpo e uma direção artística e bela, tudo na série beira o perfeito. As atuações do casal protagonista são palpáveis, parece que você está acompanhando a vida das tais "pessoas normais" do título, com seus medos, suas tristezas e alegrias. Com um roteiro poético e episódios finais avassaladores, 'Normal People' é uma joia e uma das melhores obras televisivas dos últimos anos, que deve ganhar reconhecimento e status cult com o passar do tempo. É complexa na sua simplicidade, poderosa na sua mensagem, abraça e machuca numa mesma intensidade, numa grande tempestade de sentimentos. É uma experiência sensorial, que nos faz experimentar a beleza e a aflição dos relacionamentos humanos. Obra de arte.
Nota: 9,5
Acesse nosso site e leia uma crítica completa da série, link na bio!
Eis que chega o tão aguardado e polêmico novo filme do Nolan. 'Tenet' é uma superprodução com todos detalhes técnicos classe A e dignos de indicações a prêmios, com um uso elegante de efeitos visuais, trilha sonora, fotografia e direção de arte. A trama é complexa e confusa, mas não apenas no conceito, mas também no roteiro, edição e montagem, que tornam o filme confuso tanto de ser entendido quanto de se acompanhar, com muitos cortes bruscos que na verdade não gostei tanto.
O elenco se sai bem na medida do possível, John David Washington está bem no protagonismo, mas são os coadjuvantes Elizabeth Debicki e Robert Pattinson que possuem os momentos mais interessantes, dramáticos e misteriosos. Infelizmente nem o próprio elenco parece ao certo o que acontece e isso se reflete numa falta de gás na obra num todo. Ótimo conceito, mas tudo é tão complexo e por vezes contido, que parece que falta algo, uma "explosão", ao menos alguma cena de melhor explanação, falta uma liga nessa grande obra.
Nolan dirige bem o filme, embora fique aquém dos seus trabalhos perfeccionistas vistos em 'A Origem', 'Batman - O Cavaleiro das Trevas' e até mesmo o criticado 'Interestelar'. Aliás, pra quem reclama do excesso de explicações e emoções nesse último citado, ao menos 'Interestelar' é mais bem resolvido e tem algumas cenas que marcam, enquanto que 'Tenet', na sua confusão proposital, acaba talvez não tendo alguma cena tão marcante quanto os outros trabalhos do diretor.
Não é ruim, longe disso, em um 2020 com pouquíssimos filmes lançados, deve ser a melhor superprodução do ano, o que não é muito. Pode figurar em algumas listas, mas não será o filme do ano, como poderia ser facilmente. Talvez a obra seja tão "sofisticada e complexa" demais na mente do diretor que ele não conseguiu passar isso na prática. De qualquer forma, vale ainda assistir por ser aquele tipo de obra que transcende o simples fato de ser um filme. É mais do que isso, é uma experiência sensorial que deixa ganchos para discussões, e em um cinema atual tão simplista e repetido, 'Tenet' ao menos vai na contramão.
'The Liberator' é uma série de guerra que acabou de chegar no catálogo da Netflix. Para sua realização, atores reais e alguns objetos foram filmados em estúdio, mas quase todo cenário e visual foram "maquiados" com uma técnica de animação já usada em alguns filmes, como 'O Homem Duplo' (2006) com Keanu Reeves. Apesar de inicialmente estranharmos a técnica, dando a impressão de que a obra é uma mistura de live-action e animação, e que isso barateou os custos de produção, ao menos é interessante visualmente.
O roteiro é clichê desse tipo de produção, trazendo diálogos, personagens e situações já vistas em obras de guerra, lembrando especialmente a extraordinária minissérie da HBO, 'Band of Brothers'. Há detalhes interessantes aqui e ali, como a maior parte dos heróis serem descendentes de mexicanos, índios e texas rangers, renegados nos Estados Unidos, mas heróis da 2° Guerra Mundial. Esse grupo existiu de verdade e são aqui homenageados. Outro ponto interessante através de alguns diálogos é a comparação entre os alemães nazistas e o racismo presente nos Estados Unidos, duas coisas na verdade semelhantes, embora de lados opostos da Guerra, dá o que pensar. Pra quem curte obras de guerra, mesmo não sendo tão inovador como propusera, é um prato cheio, dinâmico (de apenas 4 capítulos) e vale a conferida.
Agradável surpresa lançada na Netflix, 'O Sangue de Zeus' é uma série em estilo anime, mas com um diferencial: traz mitologia grega à esse estilo comumente asiático. Com rápidos 8 episódios, a trama densa e madura, recomendada para maiores de idade, traz reviravoltas e momentos chocantes que até lembram 'Game of Thrones', com muitos combates ferozes e tramoias pelo poder.
Ainda existe no roteiro alguns clichês típicos de obras épicas, assim como o traçado do desenho é simples e a animação é um pouco travada, algo muito reclamado nos animes atuais, especialmente os de produção da Netflix. Mas o colorido salta aos olhos e a trama por si só vale a pena. Além de agradar a quem procura por bastante ação e gore. Fazia tempo que não surgia um bom representante da mitologia grega, ao mesmo tempo em que adiciona um pouco de frescor por ser apresentada em forma de anime. Recomendada!
Regravações, compra da Fox pela Disney, mais regravações, pandemia e quase 3 anos de adiamentos tornam esse o filme mais azarado da história recente. O resultado é similar ao 'Esquadrão Suicida' e o reboot do 'Quarteto Fantástico', uma obra que inicialmente lá no projeto e no papel tem uma boa ideia, mas que ao longo do tempo se perdeu e o resultado é confuso. Não é um desastre completo, não é um 'Cats' da vida, mas decepciona pelo desenrolar genérico e sem inspiração.
O elenco tenta, assim como a emulação de um terror no universo dos 'X-Men', mas o roteiro não ajuda. A melhor coisa do filme é Anya Taylor-Joy, a jovem do momento, que depois de estourar em 'A Bruxa' e outras obras de terror, arrasou na nova minissérie da Netflix, 'O Gambito da Rainha'. 'Os Novos Mutantes' precisava de mais: mais liberdade pro diretor fazer um filme assumidamente de terror, mais ousadia no roteiro e uma censura mais alta (e portanto menos interferência da Disney). Afinal, 'Deadpool' e 'Logan' deram certo por justamente tomarem essas liberdades mais adultas.
Facilmente uma das produções mais brilhantes do ano, a trama traz a jornada de Beth Harmon, uma órfã que descobre no tabuleiro do xadrez sua paixão e genialidade, ao mesmo tempo em que lida com seus traumas e vícios tão fortes quanto seu dom pelo jogo. Com um roteiro costurando as fases da protagonista, muito bem divididos em apenas 7 capítulos, a trama é sempre eletrizante, sempre com algo fundamental em cena. O figurino e a direção de arte recriam os anos 50 e 60 com perfeição, aliados à uma direção certeira na utilização dos espaços, enquadramentos de câmera e extração do melhor em atuações.
Falando no elenco, todo competente, o destaque é ela, nossa protagonista Anya Taylor-Joy. A jovem que estourou em 2016 com 'A Bruxa' e de lá pra cá fez vários longas de suspense e terror ('Fragmentado', 'Os Novos Mutantes'), entrega aqui seu desempenho mais complexo. Ela brilha em todas as cenas, entregando camadas à todo instante, muitas vezes apenas pelo olhar ou pela maneira em que se movimenta, inclusive nas partidas de xadrez. Tudo na minissérie é de alto nível e o roteiro sabe muito bem trazer à tona o machismo presente nos esportes. E como apreciador de xadrez, fiquei feliz de ver o esporte representado de forma tão rica, embora não muito didática (não espere aprender a jogar enquanto assisti ao show). 'O Gambito da Rainha' traz uma trama, uma protagonista e a retratação de um esporte de forma perfeita, entregando um dos mais incríveis programas televisivos do ano. Palmas!
Lembrado por ser o criador de 'Alien' e 'Blade Runner', e depois de algumas derrapadas, Ridley Scott retorna em uma boa ficção científica com a complexa 'Raised by Wolves', série do streaming da HBO Max (ainda indisponível no Brasil). Com um orçamento grande e Travis Fimmel no elenco (nosso eterno Ragnar de 'Vikings'), a obra traz ciência, religião e filosofia em uma trama que aborda conceitos de inteligência artificial, exploração espacial, contrastes entre criador e criação, metáforas sobre paternidade e maternidade, fanatismo, psicologia na criação de indivíduos, e por aí vai.
Embora alguns dos 10 episódios sejam lentos no seu núcleo, a obra como um todo surpreende por sempre desafiar a quem a assiste, seja por intrigar, até mesmo por momentos chocantes. Por vezes a trama se apresenta abstrata demais, mas no geral há um potencial de crescer, se algumas coisas forem ajustadas para a já confirmada 2° temporada. Falar demais é dar spoilers, portanto se você curte as obras do Scott e temáticas como 'Matrix' e até mesmo o polêmico 'Mother', esta é recomendada para você.
Duna: Parte 2
4.4 613Duna - Parte 2
This is cinema! (Martin Scorsese)
Épico, monumental, de tirar o fôlego. Uma aula de como se fazer cinema. Beleza e fúria transcendentes em imagem e som.
Por muito tempo, os livros de Duna de Frank Herbert foram considerados infilmáveis, tamanha complexidade. Mas o filme de 2021, no qual defendo muito, conseguiu trazer de forma palpável a atmosfera e densidade necessárias, por mais que seja uma obra incompleta, que serve apenas de introdução e contemplação à este universo. Meu medo era a continuação trazer apenas uma ação genérica e um desfecho apressado. Mas o que Denis Villeneuve faz é dobrar as apostas em tudo.
Efeitos especiais perfeitos, trilha sonora ensurdecedora e ação arrebatadora marcam presença. Mesmo assim, Villeneuve não simplifica nada, e o roteiro, as atuações, a complexidade e a urgência são elevadas ao máximo, em um dos filmes mais impactantes do cinema recente. É uma experiência elaborada para a tela grande e imersiva do cinema. Cada frame é pensado e enquadrado para o cinema! A direção de Villeneuve, a fotografia de Greig Fraser e a trilha sonora de Hans Zimmer trabalham em uníssono. São três deuses, três mestres no seu ápice.
Timothée Chalamet e Zendaya retornam liderando com convicção. Ele passa a insegurança de alguém franzino que teme o poder, mas que precisa tomar decisões difíceis que afetarão a todos. Ela passa a postura de guerreira, mas que duvida da profecia de se crer nesse salvador. A maravilhosa Rebecca Ferguson segue enigmática, roubando a cena com a personagem mais complexa da trama. Austin Butler é uma adição arrebatadora como o grande inimigo do protagonista, um vilão sádico e assustador, quase um "Coringa do espaço". Todo o elenco é estelar, coisa linda ver uma obra que não desperdiça um elenco desses, todos entregando muito.
Política, fanatismo religioso e a crença em um messias acabam sendo o ponto de partida para alegorias interessantes, sobre massas de manobra, genocídio, falsos messias e interpretações proféticas distorcidas, de acordo com a ambição de quem estiver "enxergando" o milagre. Tudo é denso, não existem saídas fáceis e o roteiro não nos poupa nada.
A contemplação, o peso das máquinas e vermes gigantes, o retumbar das explosões e corpos caindo, o som das partículas da areia ao vento, está tudo ali, mas com mais impacto do que nunca. Cinematografia espetacular, montagem frenética e crescente, é cinema bruto e puro exercício da imagética.
Uma ficção científica que marcará a nova geração e converterá muitos jovens em cinéfilos. Um milagre cinematográfico de crítica e público, um exemplo do porque a sétima arte é tão poderosa e sempre irá sobreviver. Oscar 2024 ainda nem aconteceu, e já temos o primeiro grande candidato ao Oscar 2025.
Cinema não fica melhor, não é mais cinema do que isso aqui. Um dos grandes filmes de 2024!
Nota: 10
O Menino e a Garça
4.0 215Novo filme do Studio Ghibli e do lendário Hayao Miyazaki, é mais uma obra inventiva narrativamente e linda visualmente, belamente rabiscada e animada.
Ao lidar com temáticas como amadurecimento, luto e perdão na infância, Miyazaki orquestra um anime maduro, mas que mantém o imaginário lúdico.
Existe um humor tragicômico presente em algumas cenas um tanto excêntricas, mas que são balanceadas com passagens emocionantes, conforme o protagonista vai se aprofundando nesse universo fantástico - e se auto descobrindo no caminho.
O roteiro não traz um vilão declarado, mas situações difíceis que precisam ser desenroladas, exigindo decisões e consequências. No mundo de fantasia, paradoxos são criados com o mundo humano real.
O Menino e a Garça será o provável campeão na categoria de Melhor Animação no Oscar 2024. E não é para menos. É mais um lembrete de como o cinema é uma linguagem e expressão artística universal, furando a bolha de Hollywood e dos Estados Unidos. Viva o cinema internacional.
Nota: 9
Anatomia de uma Queda
4.0 800 Assista AgoraAnatomia de Uma Queda
Ou, anatomia de uma relação falida. Ou, anatomia de um relacionamento tóxico. Ainda em tempo, anatomia de como julgamos o outro.
Ele caiu, se jogou ou foi jogado? Pouco importa! O que a potente diretora Justine Triet deseja aqui é dissecar, desmembrar, colocar uma lupa em como nós, expectadores (um júri), julgamos aquilo que só sabemos superficialmente, muitas vezes cegos por ideias pré-concebidas. Desconhecemos no próximo aquilo que ele enfrenta entre quatro paredes.
Espetacular atuação de Sandra Hüller, madura, complexa e que abriga camadas.
Camadas estas que vão sendo descascadas conforme o roteiro costura a anatomia da obra. A direção de Justine e a atuação de Sandra são um combo e um grande lembrete da força feminina, diante e atrás das câmeras.
Fotografia belíssima e passagens tocantes contemplam esse thriller dramático, sempre sofisticado e pungente. Uma obra densa, difícil de digerir e que merece a aclamação que vem recebendo desde o último Festival de Cannes.
Obs: melhor atuação canina de 2023, tem uma cena de apertar o coração.
Nota: 9
Zona de Interesse
3.6 588 Assista AgoraIgnore o mau, e torne-se parte dele.
O drama de Jonathan Glazer talvez até careça de um pouco de ritmo na sua metade final, mas talvez este seja um dos mais aterrorizantes longas feitos recentemente.
Acompanhamos uma bela família cuidando da sua vida, das crianças e do jardim. Eles são nazistas, vizinhos de um campo de concentração. Eles ignoram gritos, fumaças e sinais do horror ao seu lado. E apesar de se passar no holocausto, ele é sobre algo mais. Sobre nossa inércia diante toda forma de crueldade.
Ora, se eu tenho que trabalhar, horários à cumprir, sustentar a família, cuidar de um familiar doente; se estou cansado, com contas à pagar, dentre outros compromissos, porque me importar? Se não faço parte de uma minoria, grupo étnico, religião ou núcleo que está sofrendo algum tipo de violência ou perseguição, porque me posicionar?
Mas ao ignorar as trevas ao meu redor, racismos, preconceitos, abismos sociais, não estou sendo negligente, perpetuando a maldade? Ao ignorar a dor alheia, não estou fazendo parte da opressão?
É fácil cuidar da própria vida, enquanto o mau cresce ao nosso redor. Difícil será não ter culpa, não fazer parte das trevas que nos negamos a lutar contra.
Zona de Interesse é sobre a banalidade da decadência humana. E essa banalidade está mais perto do que nunca, disfarçada sob um véu de família, fé, patriotismo, dentre outras coisas.
Ignore o mau, e torne-se parte dele.
Nota: 9
Vidas Passadas
4.2 738 Assista AgoraEm 'Vidas Passadas', surpreendente longa de estreia de Celine Song, somos envolvidos em uma trama sutil e delicada, sobre reencontros, lembranças e questionamentos sobre as probabilidades. E se?
Dois amigos de infância se reencontram anos depois, reacendendo nostalgia, saudades, senso de pertencimento e leveza. Um causa no outro sensações outrora perdidas, ou ignoradas. Mas hoje, cada um tem sua vida e relacionamentos. Tal reencontro é um esbarrão, um nó, uma probabilidade no espaço-tempo no microcosmo de cada uma de suas personas.
Na vida, temos contato com certas almas que não conseguimos ficar juntos, mas elas sempre serão uma parte importante do que moldou nossa jornada. São nós impossíveis de desatar ou ignorar. Mas isso não significa que serão parte do nosso futuro. Reencontros não são necessariamente uma ressignificação do passado.
Um dos filmes mais delicados de 2023, uma história de amor que foge do óbvio e te transporta para uma reflexão introspectiva sobre aqueles que tocaram a sua vida até aqui, nessa parte da sua, e da minha jornada.
Excelentes atuações, cinematografia naturalista e decupagem enxuta contemplam as características técnicas desta pequena gema.
Nota: 9
Pobres Criaturas
4.1 1,1K Assista Agora'Pobres Criaturas' é brilhante, ousado, excêntrico, surrealista, sensual, teatral, ácido e ultrajante.
Emma Stone é uma força da natureza, em um tour de force espetacular. O roteiro é muito bem costurado, fazendo críticas ácidas à sociedade de forma pouco convencional, em um humor sem pudor e que flerta com o bizarro.
Fotografia, figurino, direção de arte e toda mise en scène trazem um lúdico e teatral lindo de se ver em cada frame. E a trilha sonora é uma das mais marcantes da temporada.
Sexo e a arte: é impressionante como os filmes estão cada vez mais infantilizados e pasteurizados. E nisso, muito se fala sobre não precisar ter cenas de sexo nas obras. Tolice. A arte (livros, filmes) abordam todos os periféricos da vida, incluindo o sexo. Ele e os corpos nus existem, estão presentes o tempo todo, afinal a humanidade vem à existência através disso. É bizarro como colocam tabu em algo que todos buscam.
É aí que filmes como 'Pobres Criaturas' se tornam importantes, indo na contramão e utilizando a sensualidade como porta de discussão para vários aspectos, como a liberdade sexual feminina, e em como isso está ligado à busca por uma identidade e lugar no mundo.
Uma mulher livre sexualmente e socialmente, com opinião própria e livros (conhecimento) na mão, amedrontam os homens e a sociedade que eles tentam conservar.
'Pobres Criaturas' é genial, um dos melhores filmes de 2023 e um dos mais fortes concorrentes nessa temporada de Oscar.
Nota: 10
Succession (4ª Temporada)
4.5 216 Assista AgoraObra-prima!
Os Fabelmans
4.0 388The Fabelmans
Aos 76 anos de idade, com mais de 50 de carreira e quase 40 longas como diretor (fora as dezenas como produtor), Steven Spielberg já não deve mais nada ao cinema. De Tubarão a E.T., de Indiana Jones a Jurassic Park, de A Lista de Schindler a O Resgate do Soldado Ryan, para citar apenas alguns, Spielberg é um dos mestres da manipulação de emoções, tensão e pura magia cinematográfica.
Mas com seu novo filme, ele usa a fictícia família Fabelmans para narrar sua própria biografia, sua infância e seu amor pelo cinema. Aqui, ele não revela apenas a si próprio, mas também coloca seus pais diante do reflexo do espelho.
Nostálgico, com aquela magia do mestre, ao mesmo tempo é triste e introspectivo. De sua obsessão quando criança, passando a ser sua paixão quando mais velho, Sam (ou Spielberg) encontra seu refúgio atrás da câmera cada vez que a vida machuca. Seja pela relação conturbada de seus pais, ou por sofrer perseguição na escola por ser judeu, cada vez que ele está quebrado, é no fazer cinema em que ele se reconstrói.
Algumas verdades são ditas àqueles que amam a arte: ela dá frutos, mas também causa solidão. O tio avisa: "família, arte, isso vai dividir você." De certa forma o filme mostra que quem vive pela arte precisa fazer sacrifícios inevitáveis.
Isso é brilhantemente retratado pela figura da mãe, Mitzi, que tem uma fome de arte, de viver, é um estado de espírito que Sam (Spielberg) herdou. A mente criativa de Mitzi, lindamente atuada por Michelle Williams, é tão eufórica quanto desesperada, talvez aguardando uma espécie de milagre, um milagre que somente a arte pode suprir.
Com carga emocional, The Fabelmans é sobre o amor à arte, ao cinema, à família. E é sobre a dor da vida que habita no meio desses amores. Com atuações impecáveis, duas participações especiais de deixar um sorriso no rosto, tecnicamente perfeito em imagem e som, Spielberg faz o seu Cinema Paradiso (que por sinal é meu filme favorito), mas com suas próprias percepções da vida, retratada sob as lentes da câmera.
É difícil não me identificar. Amar a arte não é um hobby, é um estado de espírito: lindo, excitante, solitário e devastador.
Nota 10
Aftersun
4.1 703Diferentes filmes causam impacto de múltiplas formas, em tempos distintos.
Faz um mês que assisti Aftersun, e ele só cresce e melhora na minha mente. Estou em uma fase da vida em que este tipo de obra íntima e introspectiva fala alto comigo. Aqui, gravações e memórias de uma viagem entre pai e filha se entrelaçam entre o concreto e o abstrato, entre o visível e o não dito, em uma montanha-russa de sentimentos.
Nos identificamos com a menina pela sua memória afetiva terna, mas de descobertas, seja pelo despertar do amor, seja por não compreender os problemas do pai, aquilo que atormenta um adulto. Me identifico ainda mais com ele, um jovem adulto que demonstra uma melancólica e silenciosa depressão, frustrado com situações de sua vida. Muito da potente atuação de Paul Mescal está no olhar, no silêncio, na dor guardada.
Aftersun mescla gravações e memórias como se fossem a mesma coisa, flashes da vida, registradas como cinema. Isso é lindo, já que o filme se baseia nas experiências da própria diretora, Charlotte Wells. Vinda de curtas, é impressionante seu trabalho no seu primeiro longa-metragem, ficaremos de olho nela. Ao trazer sua pessoalidade com humanidade e poesia, Wells faz seu cinema como registro da vida.
Poderoso nas sutilezas, é uma das grandes obras de 2022. Começa simplista, e se desenvolve avassalador. A cena da "última dança" ao som de Under Pressure do David Bowie e Queen, e a sequência final, estão entre as mais belas passagens do ano. Aquela balada metafórica de Sophie, onde ela criança e adulta (agora compreendendo) encontram o pai, aquele final devastador dele interrompendo as gravações, podem não dar todas as respostas, mas dizem muito. Machuca, e vocês sabem, eu amo um filme que machuca, porque se torna algo marcante. É a vida.
Memórias são fragmentos, nem sempre 100% compreensíveis. Não se trata de entender, mas de sentir.
Nota 10
Avatar: O Caminho da Água
3.9 1,3K Assista AgoraAvatar: O Caminho da Água é cinema na forma pura, que transcende a tela (2022, de James Cameron)
Sim, eu sei, o título do texto parece um tanto indulgente. Assim como alguns cineastas, como James Cameron, também parecem ser. Assim como dizer que tal filme “é cinema puro” gera certa discussão sobre o que seria essa pureza cinematográfica. O cinema é a imagem em movimento, sem explicações, sem desculpas, é a imagem por si só sendo apreciada. Esse conceito mais clássico e intelectual, quase abstrato, da imagem por si só, é uma coisa que às vezes quase se perde no decorrer dos anos, quando se possui nos holofotes essas grandes sagas cheias de narrativas e personagens, ideias mirabolantes e filmes vencedores do Oscar cheios de diálogos incríveis. Tudo isso é muito bom, tudo isso é cinema.
Mas um cineasta nunca deve perder de vista um fator inestimável, aquele que fica na nossa memória após assistirmos a um grande filme: a imagética, a imagem por si só, seja em uma história narrada, seja até mesmo na falta de uma história. Falta de uma história? Sim, afinal quantos filmes, do clássico mudo aos experimentais recentes, do documentário à ficção, não trazem narrativas claras, mas impressionam pela captação das imagens na câmera? Isso também é cinema de qualidade. E filmes assim também possuem um bom roteiro. A Chegada do Trem na Estação, de 1895, considerado o primeiro filme da história do cinema, é apenas uma câmera captando o cotidiano da estação, passageiros vem e vão. Assim nasceu o cinema, e mudou o mundo para sempre. Mad Max: Estrada da Fúria é ação pura, uma sequência interminável de perseguições, e seu roteiro é excelente, pois consegue algo raro: desenvolver mundo, personagens e situações na base da adrenalina. Nascia ali o que é considerado o melhor filme de ação de todos os tempos até agora.
Aliás, quanto ao roteiro, muitos o confundem com diálogos, ou originalidade, o que são coisas completamente diferentes. Um bom roteiro pode escolher dizer algo ao público através de um diálogo entre personagens (filmes do Scorsese ou Tarantino), ou apenas através de uma silenciosa cena (Nosferatu, Wall-e). E originalidade é criatividade, seja na escrita do roteiro, seja na forma que a história será narrada visualmente pelo diretor. Dizer que algo é original hoje em dia é complexo, devido à imensa quantidade de histórias que o cinema já nos narrou, praticamente de todos os tipos, mas vez por outra algum filme traz diversos clichês emaranhados de forma criativa (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo), o que dá pra julgar ao seu modo, como algo original. Um bom roteiro engloba tudo em um filme, não precisa ter diálogos complexos ou originalidade de sobra. Um bom roteiro pode sim ser um clássico clichê e se sobressair na forma visual com que um filme é mostrado, afinal, o roteiro é a parte escrita na pré-filmagem, e a mágica de verdade acontece no momento que a câmera roda e externaliza as páginas do roteiro. Um filme lindo esteticamente ainda é fruto de um bom roteiro, cuja proposta foi a experiência visual.
Toda essa minha introdução serve apenas para basear com fatos históricos e cinematográficos aquilo que vou escrever agora. Avatar: O Caminho da Água é uma obra-prima e um tipo de cinema na sua forma pura, a imagética por si só, sem pedidos de desculpas, e é impressionante. É aquela obra que vai além de ser apenas um filme, ela se torna uma experiência visual e sensorial, para ser experimentada, vivida, sentida no cinema. Transcende a tela, não só literalmente pelo 3D, mas de forma quase espiritual, é algo para ser presenciada pessoalmente e é algo para se gabar às futuras gerações. É o tipo de filme que cria uma geração de novos cinéfilos, apaixonados pela sétima arte.
Não foram poucas vezes que James Cameron impressionou o mundo, dominou as bilheterias e virou sensação no Oscar. O Exterminador do Futuro (1984), Aliens, O Resgate (1986), O Segredo do Abismo (1989), O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final (1991), True Lies (1994), Titanic (1997) e Avatar (2009). Ação impressionante, efeitos especiais inovadores desenvolvidos pela sua própria equipe, criação de mundos fantásticos, senso de urgência e catástrofe, raros casos de continuações melhores que o primeiro filme, dentre outras questões. Com Titanic, Cameron ganha seu Oscar de Melhor Diretor, dos onze prêmios conquistados pelo filme. Com Avatar, Cameron revoluciona a imagem do cinema, os mundos de fantasia, a computação gráfica, a captura de movimento dos atores e o uso espetacular do 3D, uma tecnologia já antiga e anteriormente fracassada.
Treze anos depois, desenvolvendo técnicas ainda melhores, Cameron entrega seu aguardado Avatar: O Caminho da Água e impressiona ainda mais, seja pelo 3D, seja pela criação de mundo. Tudo retorna ainda mais palpável, mais completo, mais detalhado. A profundidade e a escala das cenas é inacreditável. Um ultrarrealismo confunde seu cérebro, pois realmente parece que aquela lua, os nativos, a fauna e a flora, que tudo isso é realmente real, parecem de fato seres vivos bem na sua frente, ampliados por um impressionante uso de 48 frames por segundo, ao contrário dos normais 24, deixando tudo ainda mais realista. É quase um teatro, um concerto, um show cinematográfico ao vivo. E tudo isso, a imagem por si só, já bastaria. Mas não para por aqui.
A história, a tal da trama de Avatar que muitos dizem pela internet ser fraca, é ainda melhor, mais forte que a do primeiro, que já era boa. Dentro da proposta de Cameron, existem apenas algumas limitações. E essas limitações se devem ao conceito de franquia. Pois sim, Cameron planeja até o quinto filme, no mínimo. E é justamente pensando no conceito de franquia, que algumas escolhas narrativas e alguns destinos são indecisos e abertos, similar ao que Star Wars, Marvel e DC fazem em suas sagas e poucos criticam. Mas o roteiro dessa segunda aventura ainda é melhor que o do primeiro, trazendo mais detalhes e aprofundamentos no que tange mundo, costumes e crenças. Até o caricato vilão ganha um pouco de dimensão. Ainda há espaço para melhorias, mas é algo que está sendo construído.
O foco nos filhos de Jake e Neytiri é um acerto, especialmente o destemido Lo’ak e a maravilhosa Kiri, que roubam o protagonismo com força. Os jovens são carismáticos e acompanhamos as novidades e mudanças sob suas óticas. Há também Spider, um jovem humano abandonado em Pandora e amigo da família, que trará um dilema ambíguo e de potencial. Aqui, o roteiro se dá ao luxo de brincar um pouco com o conceito de paternidade, criando conflitos interessantes.
Missão pessoal da vida de Cameron, a ecologia está ainda mais presente. Seu fascínio pelo mar traz as mais impressionantes cenas aquáticas já apresentadas, é de tirar o fôlego. É como se o público estivesse mergulhando junto. Se no primeiro longa tivemos a flora como ponto de ruptura, aqui temos a fauna aquática. Uma espécie de baleia alienígena se torna o foco ambiental, central e dramático, e é impressionante como apesar de ser uma criatura em CGI, sentimos ela como de verdade. Existe realmente emoção e paixão aqui, e esse é um dos motivos de Avatar não ser “tão original” assim (e nem precisaria ser).
Avatar traz na sua simplicidade a identificação com o mundo real, as árvores que queimam de verdade, a baleia que é caçada de verdade. Essa identificação com o meio ambiente humano é a real meta de Cameron, para que ele possa fazer sua defesa, seu alerta sobre o quanto estamos destruindo nosso planeta, e automaticamente, acabando com o nosso próprio futuro. Isso é um fato, e está em curso, e Avatar é uma vitrine cinematográfica de milhões de dólares, onde o cineasta esfrega essa verdade em nossa cara. Esse tal “clichê” que muitos apontam é a nossa realidade, e em tempos de desinformação e falta de interesse, ser direto e simplista nisso faz-se necessário para captar a maioria das pessoas, as massas. Sim, é um apelo emocional que poderia ser brega, mas como um experiente cineasta que trabalha com arcos dramáticos mais clássicos, Cameron, assim como Spielberg, sabe chegar no limite do brega, da chantagem emocional, do clichê, e manipular tudo favoravelmente a ponto de virar a melhor coisa do mundo.
“I see you”, ou “eu vejo você”, a frase tema da franquia, é literalmente um convite a enxergarmos de verdade aquilo que está ao nosso redor, especialmente a natureza e sua beleza. De certa forma, James Cameron clama para que depois do filme, larguemos o óculos 3D e olhemos a beleza natural que nos cerca, e que estamos destruindo. Essa mensagem fica ainda mais evidente nessa segunda aventura.
Como todo bom filme que se preocupa em construir um novo mundo, O Caminho da Água flui de forma suave, contemplativa, deixando-nos degustar das paisagens, das árvores, dos animais, dos nativos e seus costumes. Mas nunca chato, nunca cansativo. Ao contrário, as três horas passam voando, pois sempre há muito o que olhar, o que se encantar, o que absorver, tamanha riqueza da imagética. Apesar da ação eletrizante do terceiro ato, há tempo de respiro, para que emoções sejam sentidas, e isso é ótimo, evitando que seja só mais um filminho de pancadaria. Destaco especialmente o segundo ato da obra, onde somos completamente submersos aos ricos detalhes aquáticos.
E claro, quando Cameron traz a sua famosa ação, ela é igualmente e proporcionalmente impressionante, beleza e destruição possuem o mesmo peso, ambas de cair o queixo. Ninguém filma ação como James Cameron, isso precisa ser dito. A mecânica, as máquinas, as armas, naves, barcos, tudo tem um peso opressor, contrapondo com a leveza da natureza. Você sente o peso das ondas da água batendo, você sente o coice dos tiros, o peso dos gigantes animais, tudo impressiona pelo realismo físico e geográfico da ação, é formidável, e a câmera não nos poupa de enxergar tudo da forma mais linda ou amedrontadora possível. São detalhes únicos, seja no efeito de pós-produção ou na angulação da câmera, que faz com que se identifique o jeito do cineasta filmar. Titânico, magnífico.
A fotografia mais uma vez é brilhante, ainda mais impactante, profunda, iluminada e com cores naturais do que antes. A trilha sonora é assinada por Simon Franglen, que substitui o falecido e maravilhoso James Horner do primeiro filme, mantém o legado de Horner, é emocionante e ajuda a dar o tom à obra. O elenco está ótimo e consegue entregar fortes expressões faciais nos seus “avatares”. Zoe Saldana é a melhor em cena, seja na expressão ou no seu fabuloso trabalho vocal. Sam Worthington, um ator um tanto limitado, apresenta forte amadurecimento. Sigourney Weaver e Stephen Lang retornam de formas inesperadas e engenhosas. Kate Winslet, voltando a trabalhar com o diretor depois de Titanic, entrega um dos momentos mais dramáticos da obra.
Avatar: O Caminho da Água é brilhante tecnicamente, com o visual mais impressionante que o cinema já trouxe até aqui, em um filme com um roteiro ainda melhor, aprofundando ambientalismo, laços familiares e senso de pertencimento. O discurso é deveras simplista, mas efetivo e realista. O óbvio é dito de forma óbvia, mas sempre necessário e visualmente deslumbrante. Obra-prima, que ficará com você após a sessão, deixando expectativas sólidas para as continuações. Merece todo sucesso que inevitavelmente fará.
É a imagem por si só, é o cinema por si só.
Mais críticas no meu site, Minha Visão do Cinema
Avatar: O Caminho da Água
3.9 1,3K Assista AgoraCinema, acima de tudo, é imagética. E imagética perfeita também é fruto de um bom roteiro. Quem não compreende isso, não compreende cinema. Obra-prima <3
Casa de Antiguidades
3.1 30Casa de Antiguidades é mais um belo filme nacional que visa provocar e alertar sobre aquilo que divide e corroí uma nação. O racismo, o preconceito, o elitismo, a superioridade, o ódio às culturas diferentes daquilo que foi adotado como tradicional. Critica um Sul que se acha melhor, um Sul que quer se separar do restante do país, uma sociedade estruturada em raízes velhas e doentes. Confira o texto completo no site Minha Visão do Cinema (link na minha bio).
Tudo em Todo O Lugar ao Mesmo Tempo
4.0 2,1K Assista AgoraFazia meses que não escrevia, ando com bloqueios criativos. Mas a volta à ativa não poderia ser melhor.
'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo' é o melhor filme dos últimos anos e a melhor utilização de um multiverso já feita. Original, emocionante e existencialista, é uma obra-prima. Vem conferir minha crítica e saiba os motivos deste ser um filme obrigatório:
No site Minha Visão do Cinema (link na minha bio).
Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão
3.2 112 Assista AgoraComo fã dos monstros clássicos do cinema, sempre gosto da presença deles em produções variadas, assim como que reconheço a qualidade de animação da Sony, portanto sempre simpatizei com essa franquia, especialmente o 2° e 3° filmes. Mas é fato que esse último esgotou as ideias em roteiro, com piadas mais sem graça. Pode acabar por aqui.
A Sete Palmos (5ª Temporada)
4.8 477 Assista AgoraCruel e bela tal qual a vida, obra-prima única, faz algo que nenhuma outra obra fez até então ao retratar a finitude de todos os seres e todas as coisas. Uma poderosa lição, provavelmente a maior série já feita, obrigatória para todos que se encorajarem a assistir. É difícil, mas é inestimável.
007: Sem Tempo para Morrer
3.6 564 Assista AgoraMinha crítica completa no site Minha Visão do Cinema (link no perfil)
'007 - Sem Tempo Para Morrer' encerra a jornada de Daniel Craig como o agente secreto e encerra toda uma Era de James Bond. Solene, eletrizante, emocionante e polêmico, o filme vai gerar discussões por um bom tempo, até sabermos quem e como será o próximo filme e protagonista.
Em um Bairro de Nova York
3.6 125 Assista AgoraBelo, positivo e emocionante, 'Em Um Bairro de Nova York' traz a música, as cores, a sensualidade, a luta e a garra dos imigrantes latinos nos Estados Unidos. Uma carta de amor aos sonhadores e seus sueñitos, são eles que fazem a América funcionar. Com números musicais e rimas de tirar o fôlego, o melhor filme do ano até então. Confira minha crítica completa no site do Minha Visão do Cinema, link na minha bio!
Normal People
4.4 438Produção irlandesa e britânica feita entre a BBC e Hulu, distribuída no Brasil pela Starz, 'Normal People' é uma obra pequena, que vem ganhando atenção desde sua estreia e concorrendo a prêmios. O que poderia ser mais um romance adolescente clichê, revela-se ao longo dos seus 12 capítulos de 20/30 minutos, uma tocante e sensível odisseia pelos sentimentos humanos e um fiel retrato dos amores confusos do mundo moderno.
Sem exageros, bobagens e rodeios, a cada capítulo somos inseridos mais à fundo no psicológico complexo desse casal que se ama de verdade, mas que diversas falhas e inseguranças os separam. Aqui existe a distância física, mas tem-se a conexão mental. O que de início parecia apenas imaturidade, vai se revelando através do brilhante roteiro, num ousado estudo de personagem, extremamente bem elaborados e ambíguos.
Não há mocinhos e vilões. Existem as diferenças, barreiras e problemas emocionais que os abalam. Insegurança, baixa autoestima, depressão, saúde mental, espectros introspectivos e outros periféricos tornam essa relação agridoce. É uma trama apaixonante, quente e emocionante, na mesma medida que é crua, angustiante, triste e devastadora. A intimidade do casal, através de cenas naturais e diálogos desafiadores, traz um humanismo e sensibilidade poucas vezes vistos na TV.
Com uma fotografia europeia espetacular, ótima trilha sonora, visual limpo e uma direção artística e bela, tudo na série beira o perfeito. As atuações do casal protagonista são palpáveis, parece que você está acompanhando a vida das tais "pessoas normais" do título, com seus medos, suas tristezas e alegrias. Com um roteiro poético e episódios finais avassaladores, 'Normal People' é uma joia e uma das melhores obras televisivas dos últimos anos, que deve ganhar reconhecimento e status cult com o passar do tempo. É complexa na sua simplicidade, poderosa na sua mensagem, abraça e machuca numa mesma intensidade, numa grande tempestade de sentimentos. É uma experiência sensorial, que nos faz experimentar a beleza e a aflição dos relacionamentos humanos. Obra de arte.
Nota: 9,5
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Tenet
3.4 1,3K Assista AgoraEis que chega o tão aguardado e polêmico novo filme do Nolan. 'Tenet' é uma superprodução com todos detalhes técnicos classe A e dignos de indicações a prêmios, com um uso elegante de efeitos visuais, trilha sonora, fotografia e direção de arte. A trama é complexa e confusa, mas não apenas no conceito, mas também no roteiro, edição e montagem, que tornam o filme confuso tanto de ser entendido quanto de se acompanhar, com muitos cortes bruscos que na verdade não gostei tanto.
O elenco se sai bem na medida do possível, John David Washington está bem no protagonismo, mas são os coadjuvantes Elizabeth Debicki e Robert Pattinson que possuem os momentos mais interessantes, dramáticos e misteriosos. Infelizmente nem o próprio elenco parece ao certo o que acontece e isso se reflete numa falta de gás na obra num todo. Ótimo conceito, mas tudo é tão complexo e por vezes contido, que parece que falta algo, uma "explosão", ao menos alguma cena de melhor explanação, falta uma liga nessa grande obra.
Nolan dirige bem o filme, embora fique aquém dos seus trabalhos perfeccionistas vistos em 'A Origem', 'Batman - O Cavaleiro das Trevas' e até mesmo o criticado 'Interestelar'. Aliás, pra quem reclama do excesso de explicações e emoções nesse último citado, ao menos 'Interestelar' é mais bem resolvido e tem algumas cenas que marcam, enquanto que 'Tenet', na sua confusão proposital, acaba talvez não tendo alguma cena tão marcante quanto os outros trabalhos do diretor.
Não é ruim, longe disso, em um 2020 com pouquíssimos filmes lançados, deve ser a melhor superprodução do ano, o que não é muito. Pode figurar em algumas listas, mas não será o filme do ano, como poderia ser facilmente. Talvez a obra seja tão "sofisticada e complexa" demais na mente do diretor que ele não conseguiu passar isso na prática. De qualquer forma, vale ainda assistir por ser aquele tipo de obra que transcende o simples fato de ser um filme. É mais do que isso, é uma experiência sensorial que deixa ganchos para discussões, e em um cinema atual tão simplista e repetido, 'Tenet' ao menos vai na contramão.
Nota: 8 (mas poderia ser 10)
The Liberator (1ª Temporada)
4.1 26 Assista Agora'The Liberator' é uma série de guerra que acabou de chegar no catálogo da Netflix. Para sua realização, atores reais e alguns objetos foram filmados em estúdio, mas quase todo cenário e visual foram "maquiados" com uma técnica de animação já usada em alguns filmes, como 'O Homem Duplo' (2006) com Keanu Reeves. Apesar de inicialmente estranharmos a técnica, dando a impressão de que a obra é uma mistura de live-action e animação, e que isso barateou os custos de produção, ao menos é interessante visualmente.
O roteiro é clichê desse tipo de produção, trazendo diálogos, personagens e situações já vistas em obras de guerra, lembrando especialmente a extraordinária minissérie da HBO, 'Band of Brothers'. Há detalhes interessantes aqui e ali, como a maior parte dos heróis serem descendentes de mexicanos, índios e texas rangers, renegados nos Estados Unidos, mas heróis da 2° Guerra Mundial. Esse grupo existiu de verdade e são aqui homenageados. Outro ponto interessante através de alguns diálogos é a comparação entre os alemães nazistas e o racismo presente nos Estados Unidos, duas coisas na verdade semelhantes, embora de lados opostos da Guerra, dá o que pensar. Pra quem curte obras de guerra, mesmo não sendo tão inovador como propusera, é um prato cheio, dinâmico (de apenas 4 capítulos) e vale a conferida.
O Sangue de Zeus (1ª Temporada)
3.6 88 Assista AgoraAgradável surpresa lançada na Netflix, 'O Sangue de Zeus' é uma série em estilo anime, mas com um diferencial: traz mitologia grega à esse estilo comumente asiático. Com rápidos 8 episódios, a trama densa e madura, recomendada para maiores de idade, traz reviravoltas e momentos chocantes que até lembram 'Game of Thrones', com muitos combates ferozes e tramoias pelo poder.
Ainda existe no roteiro alguns clichês típicos de obras épicas, assim como o traçado do desenho é simples e a animação é um pouco travada, algo muito reclamado nos animes atuais, especialmente os de produção da Netflix. Mas o colorido salta aos olhos e a trama por si só vale a pena. Além de agradar a quem procura por bastante ação e gore. Fazia tempo que não surgia um bom representante da mitologia grega, ao mesmo tempo em que adiciona um pouco de frescor por ser apresentada em forma de anime. Recomendada!
Os Novos Mutantes
2.6 719 Assista AgoraRegravações, compra da Fox pela Disney, mais regravações, pandemia e quase 3 anos de adiamentos tornam esse o filme mais azarado da história recente. O resultado é similar ao 'Esquadrão Suicida' e o reboot do 'Quarteto Fantástico', uma obra que inicialmente lá no projeto e no papel tem uma boa ideia, mas que ao longo do tempo se perdeu e o resultado é confuso. Não é um desastre completo, não é um 'Cats' da vida, mas decepciona pelo desenrolar genérico e sem inspiração.
O elenco tenta, assim como a emulação de um terror no universo dos 'X-Men', mas o roteiro não ajuda. A melhor coisa do filme é Anya Taylor-Joy, a jovem do momento, que depois de estourar em 'A Bruxa' e outras obras de terror, arrasou na nova minissérie da Netflix, 'O Gambito da Rainha'. 'Os Novos Mutantes' precisava de mais: mais liberdade pro diretor fazer um filme assumidamente de terror, mais ousadia no roteiro e uma censura mais alta (e portanto menos interferência da Disney). Afinal, 'Deadpool' e 'Logan' deram certo por justamente tomarem essas liberdades mais adultas.
O Gambito da Rainha
4.4 931 Assista AgoraFacilmente uma das produções mais brilhantes do ano, a trama traz a jornada de Beth Harmon, uma órfã que descobre no tabuleiro do xadrez sua paixão e genialidade, ao mesmo tempo em que lida com seus traumas e vícios tão fortes quanto seu dom pelo jogo. Com um roteiro costurando as fases da protagonista, muito bem divididos em apenas 7 capítulos, a trama é sempre eletrizante, sempre com algo fundamental em cena. O figurino e a direção de arte recriam os anos 50 e 60 com perfeição, aliados à uma direção certeira na utilização dos espaços, enquadramentos de câmera e extração do melhor em atuações.
Falando no elenco, todo competente, o destaque é ela, nossa protagonista Anya Taylor-Joy. A jovem que estourou em 2016 com 'A Bruxa' e de lá pra cá fez vários longas de suspense e terror ('Fragmentado', 'Os Novos Mutantes'), entrega aqui seu desempenho mais complexo. Ela brilha em todas as cenas, entregando camadas à todo instante, muitas vezes apenas pelo olhar ou pela maneira em que se movimenta, inclusive nas partidas de xadrez. Tudo na minissérie é de alto nível e o roteiro sabe muito bem trazer à tona o machismo presente nos esportes. E como apreciador de xadrez, fiquei feliz de ver o esporte representado de forma tão rica, embora não muito didática (não espere aprender a jogar enquanto assisti ao show). 'O Gambito da Rainha' traz uma trama, uma protagonista e a retratação de um esporte de forma perfeita, entregando um dos mais incríveis programas televisivos do ano. Palmas!
Xeque-mate.
Raised by Wolves (1ª Temporada)
3.7 164Lembrado por ser o criador de 'Alien' e 'Blade Runner', e depois de algumas derrapadas, Ridley Scott retorna em uma boa ficção científica com a complexa 'Raised by Wolves', série do streaming da HBO Max (ainda indisponível no Brasil). Com um orçamento grande e Travis Fimmel no elenco (nosso eterno Ragnar de 'Vikings'), a obra traz ciência, religião e filosofia em uma trama que aborda conceitos de inteligência artificial, exploração espacial, contrastes entre criador e criação, metáforas sobre paternidade e maternidade, fanatismo, psicologia na criação de indivíduos, e por aí vai.
Embora alguns dos 10 episódios sejam lentos no seu núcleo, a obra como um todo surpreende por sempre desafiar a quem a assiste, seja por intrigar, até mesmo por momentos chocantes. Por vezes a trama se apresenta abstrata demais, mas no geral há um potencial de crescer, se algumas coisas forem ajustadas para a já confirmada 2° temporada. Falar demais é dar spoilers, portanto se você curte as obras do Scott e temáticas como 'Matrix' e até mesmo o polêmico 'Mother', esta é recomendada para você.