'The Crown' é a melhor série da Netflix e cresce a cada temporada. Nesta 4°, a produção dá passos que ainda faltavam nas anteriores, cutucando bem fundo as feridas da monarquia, em um ciclo mais sombrio, complexo e triste do que os anteriores, sem perder a qualidade. Na verdade, a obra cada vez mais aumenta seu potencial. Com desempenho de elenco perfeito, na verdade é uma aula de atuação e roteiro. O texto brilhantemente escrito traz todo vazio, peso e cinzas da coroa, da monarquia conservadora e de tudo que a envolve. Se outrora a felicidade da Rainha, seu marido e sua irmã foi negada, e após isso foi negado a seus filhos, agora seu filho Charles passa essa infelicidade adiante, para sua esposa, Princesa Diana.
O elenco feminino sempre foi o destaque e se antes a Rainha e sua irmã brilhavam, nesta temporada temos no centro a dura Margaret Thatcher e a radiante Princesa Diana. Thatcher é muito bem atuada por Gillian Anderson (a eterna Scully de 'Arquivo-X'), ela consegue passar a frieza da 1° mulher primeiro-ministro do Reino Unido, conservadora e polêmica, mas que também tinha seus desafios por ser uma mulher política pioneira, em um cenário totalmente masculino. Já a novata Emma Corrin entrega uma Diana sonhadora e alegre, que aos poucos perde seu brilho diante toda fachada, limitação e podridão da família real. É impressionante a riqueza de detalhes do roteiro e direção, muitas vezes sem diálogos, apenas com ângulos de câmera, nos passando a solidão dos personagens centrais. Em determinadas situações, eles são enquadrados na câmera sempre isolados, tristes e com semblantes caídos, ressentidos, sempre solitários no próprio amargor.
A burguesia fede e 'The Crown' cada vez mais explora isso sem perder a classe, com um visual lindo, trilha sonora épica, um roteiro bem amarrado nos mínimos detalhes e atuações arrebatadoras. Apenas o arco de Lady Di já é de partir o coração. A série deve vir forte nas premiações e a 5° temporada promete ser ainda mais emocionante. Obra-prima, joia da coroa da Netflix, melhor obra audiovisual que assisti em 2020 até então.
Sophia Loren é uma das últimas grandes lendas e estrelas da Era de Ouro de Hollywood ainda vivas, uma das melhores atrizes de todos os tempos, tendo brilhado entre os anos 50 e 70, recebendo diversos prêmios. Depois disso, embora ainda aparecendo aqui e ali, ela se dedicou à família, tendo praticamente se aposentado nos últimos anos. Eis que é a família agora crescida, que traz a italiana de volta aos holofotes. Seu filho Edoardo Ponti, agora cineasta, dirige sua mãe neste comovente retorno da lenda. Ela interpreta uma sobrevivente do holocausto que decide mesmo receosa, a ajudar uma criança mulçumana que a assalta na rua. Mesmo que inicialmente com certos preconceitos, são nas lembranças da guerra e no observar de como as autoridades tratam imigrantes, que algo toca a personagem, começando assim uma história de amizade com o pequeno Momo.
Sophia Loren entrega uma excelente atuação, provando ser a artista que um dia conquistou o mundo. O jovem Ibrahima Gueye é incrível, sendo uma das melhores atuações mirins do ano. É um filme bem simples, talvez até careça de algo a mais, talvez algum aprofundamento no passado de Rosa, ou algo mais forte. Mas é nas sutilezas que este tipo de obra se apoia e nisso se sai bem. Na trilha sonora, temos até a lenda dançando o samba 'Malandro', na voz de Elza Soares. Em determinada e emocionante cena em um terraço, temos referências à obra 'Duas Mulheres' (1960), também sobre o holocausto e foi o filme que deu o Oscar de Melhor Atriz à Loren. Isso parece ser todo o cuidado e gratidão de seu filho, homenageando a carreira da mãe e a abdicação dela em prol da maternidade. A imagem materna que Momo tem em sua imaginação é uma leoa, e Loren é por sua vez, no desenrolar dos fatos, uma verdadeira leoa. Esse é o cinema italiano puro, simples e poético.
Embora recheado de clichês e algumas atitudes burras de personagens (e esse péssimo título brasileiro), é um filme competente na proposta, com alguns momentos de tensão mais sinceros e realistas, evitando exagerar no CGI e nas impossibilidades, um filme mais pé-no-chão do que '2012' ou 'Geostorm', por exemplo. Atuações ok e alguns pequenos momentos sutis de críticas sociais, como os supremacistas brancos atacando em pleno apocalipse, pessoas histéricas e outras nem aí pros acontecimentos (que nem a situação do Covid rsrs) e a tecnologia coletando dados da nação pra traçar perfis úteis pro governo (como a seleção dos que merecem sobreviver). Aqui e ali um filme minimamente interessante, com uma direção que erra no melodrama mas acerta nas cenas de histeria e caos.
Série: 'The Leftovers' - 3 temporadas (2014-2017) *Disponível na HBO GO
Em menos de 2 semanas, devorei os 28 capítulos das 3 temporadas de 'The Leftovers', obra incrível que faltava assistir. Um soco na mente, e como doeu. Ela ultrapassa o verbo "assistir", ela é "sentida", uma verdadeira experiência sensorial. Na trama, 2% da população mundial desaparece, simplesmente somem. A partir daí, temos um complexo quebra-cabeça em uma atmosfera melancólica, recheado de filosofia, metáforas, profecias, existencialismo e críticas religiosas e sociais. O grande trunfo da obra é não lançar luz nos mistérios desse "sumiço", mas se concentrar na complexidade emocional daqueles que ficaram: seu luto, sua dor, suas dúvidas, suas crenças, suas derrotas, sua loucura, suas seitas, suas quedas e seus erros.
'The Leftovers' utiliza de simbolismos, insanidades e desconstruções técnicas que a princípio não fazem sentido algum, mas no todo, tudo faz sentido - não as respostas, mas as perguntas. E é aí o segredo para se apreciar a essa ousada obra: a importância de questionar e fazer perguntas, e como a busca pelas respostas influenciam nossa vida a seguir adiante, mesmo que sem as respostas. É uma trama depressiva? Sem dúvidas, não recomendada para quem está com o emocional abalado. Mas que ainda assim, de alguma forma maluca que só funciona aqui, também traz luz e um otimismo realista dentro do absurdo. O visual e a direção são eficientes e bem regidos. Mas a trilha sonora e as atuações são o ponto mais alto. Os atores e seus complexos personagens são sobre-humanos, uma força da natureza, com camadas e momentos de dar um nó na garganta.
'The Leftovers' fala sobre os frutos que colhemos das nossas ações + os acontecimentos bizarros e incontroláveis que surgem na vida, sejam bons ou ruins, e como lidamos a partir disso, como muitas vezes preferimos acreditar em milagres, maldições e mágicas, do que simplesmente aceitar que as coisas acontecem sem necessariamente terem forças maiores por trás. A série é uma grande discussão sobre crenças e outros fatores que definem a forma com que todos nós encaramos algo como mítico, divino ou humano. O fanatismo religioso é um grande foco, e como tal ele destrói tanto quanto as desgraças da vida. Mas ao mesmo tempo, sempre existem os poréns, as crenças e motivações que muitas vezes fazem as pessoas continuar a vida. No fim, crenças tanto ajudam quanto prejudicam à pessoas específicas, assim como tudo na vida, em tudo existem dois lados da mesma moeda. Então, a série se encerra de uma forma tremendamente diferente de como iniciou, imensamente emocionante, com cenas poderosas e belas numa mesma intensidade, muito mais simples do que você imagina, porque ao final de todas grandes loucuras da vida, as coisas mais singelas são aquelas que ficarão.
"- Estou aqui."
Nota: 9,5
Crítica escrita por um colaborador no site Minha Visão do Cinema (link na minha bio).
Filmão! Depois de 'Coringa', mais um acerto da DC! 'Aves de Rapina' realmente é bom. Margot Robbie é incrível como Arlequina, ela reina e brilha. Ewan McGregor como Máscara Negra e Mary Elizabeth Winstead como Caçadora estão ótimos. Todo elenco tem timing e surpreende. É uma vibrante explosão de cor, insanidade, ação e muita representação feminista. Com humor incorreto e quebra da quarta parede na pegada de 'Deadpool', as coreografias de ação estilo 'John Wick' são muito bem elaboradas, destaque pras cenas do parque e as de patins. Sem falar nos elementos "tarantinescos".
O fato de ter uma diretora mulher é um diferencial. Não é apenas feminista, é um filme feminino em detalhes. É a ótica de uma mulher, a interação delas durante as lutas reforça isso, e a obra ainda tem cara de filme indie. Não se levando a sério, essa divertida emancipação feminina segue seu próprio caminho, deixando 'Esquadrão Suicida' no chinelo. 2 ou 3 cenas desse filme, sozinhas, já são melhores que aquele outro lá inteiro. Com uma excelente trilha sonora pop e rock e direção de arte chamativa, é mais uma alucinante viagem por Gotham. Fantabuloso!
Hollywood, envia mais 'Aves de Rapina', 'Mulher-Maravilha', 'Capitã Marvel', etc, que tá pouco. Vai ter mais girl power sim!
Confira a crítica do Guilherme Kaizer no site Minha Visão do Cinema.
Filmão! 'Aves de Rapina' realmente é bom. O fato de ter uma diretora mulher é um diferencial. Não é apenas feminista, é um filme feminino em detalhes. É a ótica de uma mulher, a interação delas durante as lutas, e tem cara de filme indie, mais um acerto da DC!
Muito provavelmente, '1917' deve sair como o grande vencedor do Oscar 2020 como Melhor Filme e Melhor Diretor (Sam Mendes). É um filme com técnicas visuais arrebatadoras, uma aula de direção, com tensão e adrenalina enervantes. Além disso, é uma obra de guerra sem patriotismo, medalhas e outras mentiras. Não há honra em sujar as mãos em sangue e pilhas de cadáveres. Não há vencedores, apenas jovens mortos e sonhos destruídos. Em tempos em que há rumores de conflitos, e líderes mundiais e pessoas que os seguem estão esquecendo dessas verdades, obras que retratem do real horror da guerra se fazem necessárias!
Poético, reflexivo e simbólico, a obra de terror psicológico traz as melhores atuações das carreiras de Willem Dafoe e Robert Pattinson. Se em 2016 o filme 'A Bruxa' trouxe simbolismos sobre feminismo, ignorância conservadora e libertação feminina, agora o diretor Robert Eggers traz uma trama sobre reclusão, solidão, comportamento masculino tóxico e complexidade sobre a convivência humana em situações extremas. Dafoe e Patinson são gigantes em tela, com uma bela complexidade artística.
A fotografia em preto e branco e o tamanho de tela mais quadrado e menos widescreen, dão não apenas um ar retrô e de filme clássico, como também ajudam a criar a atmosfera cinzenta, dúbia, gótica e imaginética. Com ritmo lento e uma construção sutil dos simbolismos, 'O Farol te prende aos poucos em um filme permeado pelo surrealismo, um conto de marinheiro lindamente capturado pelas lentes cinematográficas. Merecia mais indicações ao Oscar, pois está concorrendo apenas em Fotografia.
Leia nossa crítica completa no site Minha Visão do Cinema
Com apenas duas temporadas até então, sendo esta segunda vencedora de diversos prêmios, 'Succession' cresce rápido para se tornar a nova grande épica obra televisiva da poderosa HBO. A nível de comparação, a série pode ser comparada a 'The Sopranos' em qualidade e algumas similaridades, é só trocar a família mafiosa por uma empresária. Com uma linguagem técnica por vezes complexa, devido as explicações minuciosas do mundo corporativo, marca do diretor Adam McKay ('Vice'), a trama traz uma mistura agridoce de drama e um humor muito sarcástico e agressivo.
Aliás, todos os personagens são agressivos, todos são víboras que destilam o seu veneno e se traem constantemente, tornando tudo um jogo de quem ferrará quem, quem é menos ou mais pior, quem ficará no topo do poder da empresa. Apesar de ser difícil acompanhar uma trama onde nenhum personagem é bom, os roteiristas conseguem nos prender brilhantemente em reviravoltas e acontecimentos insanos, onde não sabemos que rumo tudo tomará. Todo o elenco é gigante em cena. O veterano Brian Cox destrói tudo e todos com seu odiável patriarca. Kieran Culkin é insano, excêntrico e mais talentoso que seu irmão Macaulay Culkin (sim, ele mesmo que você pensou). A ruiva Sarah Snook é poderosa, Matthew Macfadyen e Nicholas Braun tem uma excelente e hilária química com suas tramoias, a dinâmica entre seus personagens (Tom e Greg) é genial. Mas quem carrega o arco mais pesado é ele, Jeremy Strong é extraordinário em cena, sofrendo em silêncio, carregando frustração, ambição, desespero e vícios somente com o olhar.
'Succession' é uma trama sobre gente branca e rica fazendo porcaria? Sim é, e isso é feito de maneira extremamente impecável. Em nenhum momento se defende eles, tanto que o tempo todo nos é mostrado que eles são errados, traiçoeiros, machistas, racistas, burgueses fúteis e mesquinhos que acobertam crimes. O barato é ver eles se comendo vivo. E isso torna esta uma das mais corajosas séries da atualidade. Essa série ainda vai crescer muito!
Quando o streaming da Apple surgiu em Outubro, parece que ele não agradou muito, a série 'See' decepcionou e essa 'The Morning Show' foi recebida de forma morma nos seus primeiros episódios. Mas semana após semana a trama começou a chamar a atenção pela consistência, ganhando força no seu final e agora, sendo aclamada e concorrendo a prêmios.
Reese Witherspoon e Jennifer Aniston dão vida às âncoras do principal jornal de um canal de TV que está passando por um momento conturbado, pois seu anterior apresentador (Steve Carell) foi denunciado por assédio sexual no ambiente de trabalho. A partir de então vemos como as investigações e esse fato em si pesam em cima de todos os funcionários e suas vidas, como as mulheres ficam manchadas mesmo que com erros de homens e como os poderosos tentam se proteger usando de meios sujos, mesmo que na frente das câmeras "vendam a verdade". Witherspoon está bem como a personagem mais correta e valente, mas Aniston explode em tela com sua ambígua e duvidosa personagem, o melhor papel da vida dela. Carell também merece aplausos por interpretar de excelente forma e cheio de camadas o assediador, um papel difícil, ainda mais um ator que sempre foi visto como carismático em comédias, aqui ele é praticamente um monstro. De fato foi um desempenho corajoso dele. Todo o elenco coadjuvante está ótimo, com destaques para Mark Duplass, Gugu Mbatha-Raw e Billy Crudup.
'The Morning Show' debate o machismo nas grandes corporações e como os homens que fazem porcaria se protegem, se acham acima dos outros devido sua posição, poder ou porque são chefes. Há ainda críticas sociais em outros setores, como sujeiras da burguesia diante catástrofes, manipulação dos dados e fatos das notícias, pautas feministas, combater comportamento tóxico de chefões nas empresas, constrangimento de novos funcionários diante mau comportamento de veteranos, etc. Há muito o que ser debatido aqui. Destaque para 2 capítulos: o 8° onde é mostrado em detalhes a mente e o comportamento de um assediador, alguém de poder e idolatrado por todos, que se acha o maioral e acha que pode dar em cima de qualquer mulher. O outro seria o último, que tem uma construção de tensão incrível e culmina com acontecimentos chocantes e eletrizantes, que deixa brecha para uma imensa discussão na próxima temporada.
Entre momentos sutis, mas bem construídos; e outros explosivos e polêmicos, com um roteiro bem trabalhado, 'The Morning Show' é uma das melhores séries de 2019 e pode ter longa vida como uma excelente obra dramática e cheia de sarcasmos, que tocará em feridas cada vez mais expostas na vida real. Se você soubesse que a pessoa que paga seu salário possui um comportamento errado, você o derrubaria? Acobertaria ele? Colocaria o dinheiro acima do fator humano e do que é certo? Expor comportamentos errados não é o mínimo a se fazer, evitando assim que mais vítimas tenham sua dignidade ameaçadas? Fica a reflexão.
Melhor "comédia" de 2019 e um dos melhores filmes do ano que se encerrou, 'Jojo Rabbit' traz um roteiro genial em uma trama agridoce e surpreendente. Em plena 2° Guerra Mundial, acompanhamos nosso protagonista, um menino alemão nacionalista, seguidor de nazistas e cujo amigo imaginário é o próprio Hitler, a grande figura da nação. Tudo se complica quando sua resistente mãe (Scarlett Johansson em ótima atuação, cheia de sutilezas) esconde uma menina judia.
O filme é brilhante ao começar de forma bobalhona, cheia de imaginários da criança, e aos poucos vai ficando sério e surpreendente, com diálogos que criticam e ironizam os horrores da guerra, o preconceito, o patriotismo, o fascismo. É interessante como o patriotismo e o ar de soberania são mostrados como algo burro, cruel e contraditório. Inclusive, o Hitler imaginário, muito bem atuado pelo diretor do filme, o querido e hilário Taika Waititi, é retratado como uma criança birrenta, teimosa, mimada e acéfala. É uma forma de dizer que tais ideais são assim, obscuros e impensados, apenas causando dor e divisões. Tem cenas hilárias que debocham o quanto ritos patrióticos são patéticos. Em outras cenas, é sarcástico o fato dos nazistas temerem tanto judeus e outras diversidades que criam lendas sobre eles, ao passo que não percebem que tais pessoas tem os mesmos hábitos humanos que eles, como se alimentarem e dormirem. Eles se esquecem que todo ser humano é igual nas necessidades.
O filme é muito sagaz em explorar isso e adaptar numa linguagem que serve para nossos dias. Infelizmente cada vez mais nossas crianças estão se espelhando em figuras de poder patriotas, mas perversas e irracionais (demoníacas talvez?). Estão se espelhando em "mitos" que fazem sinal da arminha e que se acham superiores aos outros, que utilizam de sua influência para atacar pessoas de pele, sexo, crenças e vida diferentes. Colocam uma falsa soberania, o corruptível dinheiro, a droga de uma bandeira ou o lixo de uma religião acima da vida do próximo. Em tempos em que assassinos e ignorantes são eleitos falando besteiras e destruindo o meio ambiente, 'Jojo Rabbit' é um filme necessário, que deveria ser passado em escolas. De maneira leve, mas emocionante, critica o militarismo e a supremacia de uma nação (seja qual for), mostrando que tais coisas são cruéis quando oprimem e tiram a vida do próximo. Por mais amor. E menos mitos imaginários.
NOTA: 9,5
Amanhã sai uma crítica completa no Minha Visão do Cinema, feita por um dos nossos colaboradores.
Triste toda essa reação negativa em volta, comparando com o final de 'Game of Thrones' (tal comparação até faz sentido se notarmos que ambos tiveram finais apressados, mas não é para tanto). O filme não é perfeito, mas está longe de ser horrível. Realmente o que estragou os novos filmes da saga foi a divisão de visões: por um lado a Disney e o J.J. Abrams ('O Despertar da Força') queriam algo mais POP, que se espelhasse nas referências dos antigos e numa "fórmula Marvel". De outro, o Rian Johnson quis trazer novidades e quebrar expectativas ('Os Últimos Jedi'), o resultado foi uma trilogia híbrida, que toma rumos contraditórios, ao mesmo tempo em que dedica muita paixão ao passado. Esse final ficou dentro da zona de conforto, ameaçou quebrar expectativas por vezes, mas abrandou tudo por outras.
O resultado é um filme com roteiro padrão, uma repetição narrativa de 'O Retorno de Jedi', algumas voltas desnecessárias, mas com partes emocionantes, algumas despedidas emblemáticas e que traz uma interessante discussão sobre a presença do bem e do mal estarem em um mesmo indivíduo (filosofia asiática sempre presente na saga). O ritmo é muito frenético, talvez existem aqui 2 filmes em um só, se tivessem feito uma quadrilogia, por exemplo, poderíamos ter planos mais contemplativos e um desenrolar mais natural. Há alguns sustos, mas algumas cenas reconfortantes. 'A Ascensão Skywalker' é menos brilhante que o anterior no roteiro, mas ainda é um grande blockbuster, melhor que qualquer filme Marvel desse ano por exemplo, apesar dessa "Marvetização" pelo qual o cinema moderno está passando. A ação tem momentos épicos, um excelente duelo de sabre de luz, as atuações dos 2 protagonistas estão mais maduras, existe aqui uma atmosfera mais sombria, o visual é perfeito e a trilha sonora e mixagem de som são estupendas. Mesmo quando algum filme 'Star Wars' é inferior a outro dentro da saga, no todo a franquia ainda é muito boa comparando com a concorrência, e isso não é pouca coisa.
Dividirá opiniões, muitos odiarão, e entre os que queriam novidades e outros que queriam o padrão de sempre, nunca iria se conseguir agradar a todos. Mas essa nova trilogia se encerra mista, oscilando em pequenos detalhes, mas grande como entretenimento e como expansão do universo 'Star Wars', cujo nome é à prova de críticas. Quem sabe daqui um tempo, maratonando todos os filmes, tudo faça mais sentido. E que os próximos filmes que virão apontem para direções diferentes da galáxia.
Os mascotes da saga são especiais, R2-D2, C-3PO, Chewie e BB-8, contem comigo pra tudo <3 Adeus Carrie Fisher, nossa eterna Leia 😔 A experiência de viver 'Star Wars' não tem preço, independente de um ou outro filme não agradarem.
Uma aula de empatia por mulheres vítimas de abuso sexual.
Outra grande minissérie da Netflix, funciona quase que como uma "prima" de 'Olhos Que Condenam'. Não, não são parecidas na estrutura a princípio, mas ambas trazem alertas oportunos e são muito emocionantes. Se 'Olhos Que Condenam' explora o racismo e preconceito da polícia e autoridades ao suspeitar de qualquer cidadão que não seja "branco", até mesmo culpando inocentes, 'Inacreditável' foca no machismo com que autoridades podem encarar mulheres vítimas de estupro, com aquele pensamento errôneo de que pode ser em parte, culpa da vítima. Há homens com anos de carreira na polícia, mas despreparados para lidar com as vítimas, devido pensamentos sexistas e machistas, como que mulheres que se expõem facilitam um ato violento, ou que muitas inventam um abuso por supostamente estarem carentes, querendo atenção ou por vingança.
Logo que conhecemos um pouco da insegurança da menina protagonista (muito bem atuada por Kaitlyn Dever) e como isso leva a polícia a duvidar da versão dela, começamos a compreender como tudo nessa situação é difícil. Não existe apenas a agressão física, sexual e psicológica. Existe o fato de ter que expor isso, fazer uma bateria de exames, que muitos farão perguntas intrusivas que podem acarretar vergonha e culpa, há o fator de como sua família, colegas e vizinhos te encararão, como a própria mulher vai encarar a si mesma e a outros, como ela ficará insegura com relação a outras pessoas, especialmente homens, e caso autoridades que deviam dar apoio na verdade duvidarem, como isso pode ser um gatilho para depressão, negação, para deixar pra lá e carregar o fardo sozinha. São vários fatores envolvidos e não há absolutamente nada que um homem possa opinar sobre isso, pois ele nunca passará por isso.
Somente quando duas detetives entram no caso, com atuações fortes de Toni Collette e Merritt Wever, é que começamos a perceber toda a empatia que tais vítimas precisam. Bastante diferentes em personalidades, ambas investigadoras criam uma amizade e uma meta de descobrir quem é o estuprador da região, numa caçada intensa para pegar esse monstro. Mas o diferencial delas é ajudar as vítimas nesse caminho, algo em que a maioria é relapsa. Uma aula de empatia e uma lição sobre nunca culparmos as vítimas, 'Inacreditável' faz jus ao nome não apenas por mostrar as barbáries que homens são capazes, mas por também mostrar que quando a vítima é mulher, muitos desacreditam nelas. A sociedade é feita de tal modo, que sempre arranja um jeito de menosprezar ou culpar a figura feminina, por mais que na maioria das vezes, os maiores problemas mundiais são causados pelo homem e no seu falso senso de poder e dever do "macho alfa". Por fim, ainda deixa a reflexão de que há áreas e trabalhos que deviam ser feitos exclusivamente por mulheres, devido sua maior sensibilidade e poder de empatia.
O clássico de 1994 é a melhor animação já feita, uma obra poderosa que marcou época e um de meus filmes favoritos, leia minha crítica no site Minha Visão do Cinema.
Dito isto, esta nova versão não supera o original. Esse novo é uma obra-prima visual, o CGI de última geração é hiper realista, animais e paisagens parecem de verdade, a fotografia quente é de encher os olhos, é um filme onde o visual fala por si só, muito poderoso e que pode sim sair com o Oscar de Efeitos Visuais. Mas existem problemas.
A começar que não é um live-action conforme foi vendido, é uma animação, não há animais e elementos físicos, é tudo digital. E a procura por fazer algo tão realista, às vezes parece que estamos assistindo a um documentário do Animal Planet. Isso não é algo de fato ruim, mas faltam expressões e portanto, falta sentimento aos personagens. A busca pela perfeição da embalagem acabou atrapalhando o interior, a alma, o coração do filme. Falta aquela emoção, aquele arrepio, aquele sentimento que o original trouxe. Sim, um pouco é devido o fato de ser um remake e você já viu aquilo. Mas um pouco também é por essa inexpressividade dos personagens. E algumas das dublagens do áudio original não encaixam bem, principalmente nos leões adultos (não assisti ao dublado nacional).
Mas por outro lado, o filme ganha carga dramática graças à nostalgia, que sim, isso nos pega um pouco. Acompanhar as belas canções, a recriação de algumas cenas marcantes e ver Timão e Pumba, tudo traz um reconforto e uma certa lembrança emotiva. Scar também continua ameaçador. As novas cenas e a nova canção são um bom adicional que só deixam mais explícitos alguns detalhes sugeridos na outra versão. Aliás, Timão e Pumba são maravilhosos em qualquer versão, uma das melhores duplas da história do cinema <3
Mesmo faltando um pouco de encanto, ainda é um belo filme graças a poderosa trama, que traz diversos tipos de ensinamentos e reflexões. Visualmente arrebatador e contemplativo, essa nova versão de 'O Rei Leão' é pra ser visto na melhor tela e qualidade possível, pois realmente a tecnologia utilizada aqui é estonteante. Mas se você quer se emocionar de verdade, reveja o clássico.
NOTA: 7,5
Obs: estou ansioso para ver que outros filmes com este mesmo nível visual virão por aí.
'Breaking Bad' é uma das melhores séries de todos os tempos, isso é irrefutável. Talvez a melhor? Muitos acham que sim. Então, era necessário um filme? Não, não era. Mas esse filme, assim como a série derivada 'Better Call Saul', são spin-offs que, embora não alcancem o clímax dramático e explosivo da série mãe, também não destroem com o legado da franquia. E na verdade, são belos derivados, pois ainda carregam os 3 pilares básicos de uma boa obra audiovisual: boas atuações, boa direção e bom roteiro.
'El Camino' traz uma justiça poética ao conturbado personagem Jesse Pinkman, brilhantemente atuado por Aaron Paul (o ator merecia mais destaque em outros filmes, ele tem talento). Com um elenco coadjuvante de peso, todos muito bem, o filme faz uma série de referências e celebrações à personagens e acontecimentos da série, sem deixar de trilhar seu próprio caminho e confirmar alguns desfechos. A direção de Vince Gilligan continua inspirada, cheia de cuidado estético que não distrai, mas adiciona à narrativa. Usa-se planos mais fechados no rosto dos atores para extrair de suas interpretações e usa-se planos abertos para contemplar a direção de arte e a paisagem e fotografia das locações. Alguns jogos de câmera são bem orquestrados, servindo como criação e quebra de expectativas em momentos chave.
Embora não tão poderoso quanto a série e com um certo ritmo lento no meio, o filme funciona por matar a saudade deste universo, trazer uma potente atuação de Aaron Paul, carregar uma linda identidade visual simples e orgânica, e conseguir carregar no seu roteiro características que lembram filmes de faroeste e de fuga, sempre com suspense e tensão, mas ao mesmo tempo, quebrando expectativas e tomando caminhos diferentes do que indicava. E também foi a despedida do veterano Robert Forster, que faleceu no dia da estreia do filme, na última sexta-feira.
Poderoso, provocante, complexo, questionador, reflexivo, sufocante, assustador, opressivo, desesperançoso, cruel e atual. Um estudo psicológico e sócio-político brutal, rumo à loucura e o caos.
Faltam adjetivos para descrever este filme, que carrega uma das melhores atuações dos últimos tempos, pois o que Joaquin Phoenix faz como o Coringa é de outro patamar, é sobrehumano, existe um trabalho corporal, vocal e psicológico que é arrebatador. Coringa é o melhor vilão do cinema, o melhor personagem já escrito em uma HQ e aqui é a comprovação disso. A DC entrega um de seus melhores filmes de todos os tempos, ao lado de 'Batman - O Cavaleiro das Trevas' e 'Watchmen', e estes são sem dúvidas os melhores filmes saídos de mitologias de "heróis". Aqui, há um estudo complexo de personagem, da condição mental de alguém doente, nas duas horas inteiras vemos apenas Arthur Fleck e tudo o que acontece ao seu redor, a maneira que ele enxerga algumas coisas e vamos vendo como o sistema da sociedade encara e cria um ambiente onde monstros podem se desenvolver. Com aspecto sujo, que remete aos filmes da Nova Hollywood dos anos 70 e início dos 80 ('Táxi Driver', 'O Rei da Comédia', 'Poderoso Chefão', 'Um Estranho no Ninho'), 'Coringa' traz uma construção visual impecável, tão tortuosa e desconstruída quanto seu protagonista. E a trilha sonora melancólica e nervosa ajuda nessa atmosfera, gerando momentos tensos e de calafrios. O filme possui aos menos umas 3 cenas que se tornarão icônicas, especialmente no fantástico final.
Não se engane, ele não é um herói, mas um perverso vilão, mas é mais um, dentre outros tipos de vilania. Garotos brancos endinheirados que se acham e fazem bullying também são vilões. Governos corruptos que cortam gastos (SUS, medicação, assistentes sociais, que não geram emprego e aposentadoria e outras coisas básicas) também são influência para surgir histeria coletiva e sociopatas. Burgueses escondidos no seu poder e que olham com desprezo aos menos favorecidos também somam para os abismos sociais, cada vez mais presentes em um mundo que idolatra mitos poderosos que fazem sinal da arminha, dizem palavras duras que ofendem ou esnobam parte da população, que não tem empatia pelo próximo e que só se importam com seu poder, sua influência, seus nepotismos e suas arrogantes posturas.
'Coringa' ainda traz uma questão muito séria de como a sociedade encara os transtornos mentais e como essas pessoas doentes, que precisam de todo apoio possível, são na verdade ignoradas, encaradas com preconceitos ou indiferenças, e como fazer isso pode levar insanos ao extremo da loucura. Imagine alguém que perdeu tudo na vida e a única coisa que tem é o tratamento público (tipo SUS), mas este tratamento é cortado pelos poderosos que nunca precisaram fazer uso de tal, afinal tem todos recursos para fazer isso no privado, se isso acontecer, quantos Coringas teremos à solta?
Coringa fala da desconstrução da imagem do mito e de como as pessoas gostam de idolatrá-los, muitas vezes por uma bizarra fagulha de esperança de que as coisas vão melhorar. A criatura é a pior possível, mas na tentativa de mudança, se espelha nela numa vã esperança dela fazer algo de bom (pois é Brasil). Isso tudo é fruto de uma sociedade doentia, que se espelha no poder como fonte de esperança, enquanto na verdade deveria ser a empatia pelo próximo. E quando acaba a empatia, começa a violência. Líderes "bem intencionados" não vão acalmar as coisas ignorando parte da população, pois aquela parcela que não lhe interessa ficará a mercê do que vier, e o que vier pode ser o caminho violento.
Há ainda elementos filosóficos complexos, assim como mitologia grega, note os conceitos de Narciso (orgulho) e Sísifo (estar fadado a um ciclo cotidiano de miséria). E isso tudo que estou falando é a ponta do iceberg. Extremamente atual na questão política, e um verdadeiro alerta e convite para empatia na questão mental e psicológica, é muito, mas muito bom ver um filme que deveria ser de ação e de "herói" (o que mais atrai público hoje em dia), mas como forma de pegadinha, te desmonta, te faz refletir, não te lança respostas, mas te obriga a se questionar. E se questionar é aquilo que as pessoas mais precisam fazer, mas o que os poderosos menos querem que você faça. Isso porque se questionar derruba poderosos, arranca máscaras e entrega respostas desconfortáveis, verdades inconvenientes. De uma forma ou de outra, é um filme onde carapuças servem para todos, como humanidade.
Não é um filme fácil, e nem era para ser. Um suspense dramático psicológico poderoso, melhor filme do ano até então. Uma aula de cinema, cinema de verdade.
"A pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você se comporte como se não tivesse."
Ao contrário de 'Bohemian Rhapsody', que até tem belos momentos dos shows, mas está repleto de problemas, como a quase vilanização do protagonista e de suas escolhas, algo possivelmente influenciado pelos integrantes vivos do Queen, 'Rocketman' acerta em ser uma produção que equilibra melhor alegria e emoção, sendo a obra uma personificação da figura ainda viva de Elton John. A direção é boa, a criação da época, figurinos e apuros técnicos são ótimos e o filme não apenas traz as canções, mas se assume como musical, com diversas cenas lúdicas onde viajamos na imaginação do cantor, suas canções fazem as pessoas flutuarem, literalmente, e isso é mágico.
Com influência do próprio Elton John, o filme é sincero em mostrar os excessos e erros do próprio. É bonito o fato dele culpar a si mesmo e dar a volta por cima, sempre em busca do seu sonho e de sua identidade. Excelente atuação de Taron Egerton, que encarna Elton com maestria e energia. O mesmo se diz de Jamie Bell como Bernie, melhor amigo do cantor, juntos são uma dupla incrível. Emocionante de forma sutil e muito divertido, é um ótimo filme, merece ser conferido!
Filme: 'Era Uma Vez em ... Hollywood' (2019, de Quentin Tarantino)
Será textão, primeira parte SEM SPOILERS, depois da nota terá.
Uma obra de homenagens. Homenagens à Era de Ouro de Hollywood, à Sharon Tate, ao ano de 1969, ao fim do sonho hippie, à arte de se fazer cinema, ao próprio Tarantino e aos sonhos perdidos de outrora.
Mesmo que com suas principais características, como humor ácido, diálogos longos e sagazes, cenas gráficas chocantes, excelente trilha sonora escolhida a dedo pelo cineasta, trama fragmentada que se encaixa ao fim, críticas sociais com uma certa representatividade, talvez este seja o filme mais descontraído, simples e maduro do diretor. Não é o melhor, mas ainda uma grande obra, é interessante como ele arrisca algumas novas nuances, mesmo dentro dos seus trejeitos. Através de quebra de expectativas por quase três horas, ele faz algumas coisas contrárias ao que o público que o conhece espera, sem deixar de ser o próprio.
Leonardo DiCaprio e Brad Pitt formam uma dupla espetacular em cena, com muito carisma e química, ambos são hilários de maneiras diferentes. DiCaprio, um dos maiores atores do cinema moderno, talvez o maior, entrega um personagem engraçado, mas com camadas dramáticas, um ator que está em uma encruzilhada entre se tornar um astro ou ser esquecido. E nesse medo de ser esquecido, entrega cômicos e bonitos momentos sobre as inseguranças de ser um ator. Pitt, conhecido por ser galã, mas não tão reconhecido por ser bom ator (e é nítido que Tarantino trabalhou em cima desses dois fatores ao longo do filme), entrega uma das melhores atuações da carreira, ele é um dublê hilário, porém com um toque mais misterioso. Aliás, na reta final do filme, é ele quem brilha.
Margot Robbie como Sharon Tate é pouco aprofundada, a personagem tem poucos diálogos ou dramas. Mas ... foi uma escolha proposital, pois o diretor a coloca o filme inteiro em situações de brilho, luz, alegria, sorrisos, com belos figurinos, uma figura quase angelical, uma forma de homenagear a atriz Sharon Tate, brutalmente assassinada na sua casa e grávida aos 8 meses na vida real. A cena em que ela está camuflada no cinema, assistindo ao próprio filme e vendo as reações das pessoas ao sorrirem por ela no filme, é linda, é uma cena emocionante, nos lembra que fazer arte e ver a reação positiva do público quanto a isto deve ser algo gratificante. Ver cenas onde Sharon Tate esbanja felicidade e vida dói, pois sabemos o seu destino. O restante do grandioso elenco aparece rapidamente, cada um com suas peculiaridades.
Aliás, existem muitas referências aos demais filmes do diretor, em um exercício metalinguístico cinematográfico, com filmes dentro do filme, takes fictícios, reconstruções e detalhes que remetem a 'Bastardos Inglórios', 'À Prova de Morte' (inclusive na presença da esquecida categoria dos dublês), 'Kill Bill', 'Django Livre' e vários outros. Há diversas personalidades e filmes da época, como um hilário Bruce Lee, menções indiretas à Sergio Leone, e por aí vai. A trilha sonora é incrível e os figurinos de época são espetaculares, algumas peças de roupa e acessórios tem cenas de destaque somente para elas. Nessa reconstrução da época, roupas, carros, bares e elementos de 1969 assumem um papel de personagens fundamentais na narrativa da trama.
O filme, por horas, pode aparentar ser longo, com diferentes situações que aparentemente não chegam em lugar algum, alguns diálogos por vezes são longos demais e talvez em alguns momentos há certos preconceitos com os hippies, através de diálogos sacanas. Mas a reta final do filme amarra tudo e compensa tudo. A cena em que Pitt chega no rancho da Família Manson é assustadora. Existe aqui uma lenta construção de tensão, por uns 10 ou 15 minutos ficamos cada vez mais tensos, num clima quase de terror, só conseguimos sentir uma energia estranha no ar e naquelas figuras hippies. Imagina o Tarantino fazendo um filme de terror nessa pegada?
O final compensa com um confronto brutal, mas ao mesmo tempo hilário. E depois de quase três horas de viagem de volta aquela época, a bonita e sutil cena final entrega algo inesperado, uma cena reflexiva. Assisti ao filme na sexta e sigo pensando nele até agora. "E se ..." talvez defina aquele final. Uma cena que te abraça de uma forma incrível.
Um filme completo, um dos melhores do ano, cinema de verdade, transitando entre a comédia, o drama e o suspense, o belo final justifica o "Era Uma Vez" do título, apesar dos históricos reais, essa é a fábula de faz de conta do mestre Tarantino, a forma dele olhar e homenagear vários pontos do passado e brincar com algumas coisas que se perderam com o tempo, com o fim de uma era, com o chocante final do movimento "paz e amor" onde acreditava-se que ser hippie salvaria o mundo. Homenageando a graça de se fazer cinema, mas sem deixar de por o dedo na ferida nas dificuldades e no cinismo que muitas vezes se encontra na indústria.
Sobre aquele final, foi a forma do diretor brincar com o "e se" a pobre Sharon Tate, que irradiava luz e talento, tivesse tido uma chance. E se heróis da ficção qualquer tivessem dado o troco na Família Manson? Os filmes do Tarantino sempre possuem justiças poéticas. Vou explicar: em 'Kill Bill' a mulher oprimida acaba com os homens opressores. Em 'Bastardos Inglórios' temos um grupo de assassinos que mata nazistas assassinos, além da mulher judia que queima fascistas. Em 'Django Livre' temos abolicionista e escravo acabando com escravagistas. Aqui nós temos a classe dos artistas acabando com os hippies assassinos de Charles Manson, que na vida real chocaram Hollywood e marcaram o fim de um sonho de estilo de vida perfeito. Nada mais justo do que colocar artistas para massacrar assassinos, é irônico, mas é justiça poética, tão presente nos filmes do diretor.
Outra justiça foi a cutucada que deram no marido da Sharon, o diretor de cinema Roman Polanski ('O Bebê de Rosemary'), que futuramente estaria envolvido em escândalos sexuais de estupro e pedofilia. Em determinado momento se dá a entender que ela era boa demais pra ele e que mais cedo ou mais tarde ele faria uma bobagem e ela deixaria ele.
O 1° filme de 2014, apesar de clichê na trama, trouxe uma mitologia própria, boas cenas de ação e o protagonismo do querido Keanu Reeves, que estava em baixa na época. O 2° filme trouxe um reencontro de Reeves com Laurence Fishburne anos após 'Matrix' e surpreendeu ao expandir ainda mais o universo da saga, além de mais e melhores sequências de ação, com muito estilo e arte, sendo um dos melhores longas de 2017. Agora o 3° surge repetindo o sucesso, expandindo a nível mundial a franquia, com cenas de ação e visual cada vez mais caprichados!
Reeves continua incrível na pele do herói e desta vez a franquia traz de volta aos holofotes dois sumidos: Halle Berry e Mark Dacascos. As cenas de ação são eletrizantes, com sequências intermináveis de cair o queixo. E apesar de toda pancadaria, das mais variadas formas possíveis, a direção se preocupa em fazer tudo com estilo, com coreografias que mais parecem danças, uso de ângulos de câmera estilosos, muitas cores neon, plano-sequências incríveis e com figurino, direção de arte e trilha sonora muito bem feitas, que ajudam na composição das cenas. Ah, aqui os amigos doguinhos tem muito mais destaque! Há uma sequência de ação inacreditável envolvendo os personagens do Keanu e da Berry e os dois cães dela, os 4 contra um exército de vilões e sinceramente me pergunto até agora como "que raios" filmaram algumas das cenas, pois são incríveis e na maior parte do tempo são os cães reais (e não CGI). Quando você ver o filme entenderá, é de cair o queixo (se fizerem um filme só com esses cachorros combatendo o crime, eu assisto haha).
A saga está em expansão constante, a cada hora as coisas vão ficando mais graves, a escala e os desafios aumentam, até no final se deixam lacunas para algo sempre maior e mais intenso para o próximo filme. 'John Wick 3' é pura ação, de tirar o fôlego, ao mesmo tempo em que é muito bem dirigido, com um roteiro bem construído e um visual cheio de arte. E falar disso em um filme que deveria ser "só mais um filme de ação" não é pouca coisa. Na verdade é um dos melhores filmes do ano. Que venha o 4 e série, que já estão em desensolvimento!
Obs: John Wick é o protetor oficial dos doguinhos? 🐶🎬
O filme tem sérios problemas técnicos, principalmente de direção e visual. O diretor Guy Ritchie parace ter sido uma escolha equivocada para comandar o filme. Ele se sai razoavelmente bem em filmes simples e de ação ou crime. Mas parece que ele não sabe comandar superproduções. A direção é engessada, não é natural, falta algo ao filme pra fluir com suavidade. No visual, o CGI é ruim a maior parte do longa, com gráficos que parecem de um game, não parece que o longa teve todo um grande orçamento, pois às vezes parece não muito bem renderizado. Assim como algumas coisas na produção são estranhas, como a chapinha do cabelo do herói. E os vilões Jafar e Iago são muito fracos, descaracterizados. Iago pouco faz e Jafar, bem, ator errado, ele não ameaça, não tem força nem na atuação corporal, quanto menos na voz.
Adaptar a clássica animação 'Aladdin' seria de fato difícil, o original de 1992 é uma das melhores obras da Disney naquela época. Mas aqui tenta-se algumas coisas novas, sem desonrar o desenho. A vibe do filme é positiva, alegre, embora seja de cultura árabe, por vezes lembra o estilo dos filmes indianos de Bollywood. As partes musicais são nostálgicas e bonitas. Existe uma nova canção que empodera a Jasmine que parece não casar bem com o estilo épico do filme, mas não é uma canção ruim e adiciona camadas na princesa. Se na animação ela já tinha uma pegada feminista, aqui abraça-se isso com eficiência, uma mulher com voz ativa (especialmente no conservadorismo patriarcal árabe) é algo que o mundo necessita e ao menos na ficção nos presenteiam com isso. Naomi Scott é excelente como Jasmine, ela tem força em cena, bela voz e fico imaginando se o filme não seria inovador e melhor se ela fosse a verdadeira protagonista da obra. Já pensou um remake live-action feminista onde inverte-se o protagonismo? Ah se eu fosse o diretor ...
Mena Massoud dá conta do recado como Aladdin e Will Smith é incrível como o gênio. Smith é um dos atores mais carismáticos de Hollywood e aqui lembramos os motivos. Ele brilha em cena, adicionando sua personalidade própria (note a pegada hip-hop da canção 'Prince Ali'). E Smith energiza o seu Gênio sem desonrar o lendário Robin Williams, que fez um dos melhores trabalhos de dublagem da história, na clássica animação. Figurino, direção de arte, os números musicais e a trilha sonora são caprichadas, ajudando a dar uma vibe alegre à obra.
O novo 'Aladdin' tem tropeços, especialmente no visual, na direção sem visão e não é melhor que o original. Mas ainda existe um encanto, o trio principal manda muito bem em carisma e o filme joga a princesa Jasmine no elemento girl power que tanto se precisa na sociedade machista hoje em dia. Vale ser assistido sem cobrar demais.
Obs: eu assistia ao desenho quando criança e sempre quis um tapete mágico pra mim. Cresci e ainda continuo querendo 😜🎬
Existem dois fatos inegáveis: o cinema sul-coreano está em alta e o diretor Bong Joon-ho é um dos maiores cineastas do momento. Ele já entregou os sólidos 'O Hospedeiro', 'Okja' e 'O Expresso do Amanhã', dentre outros. Agora ele ataca novamente com o impressionate 'Parasite'. Uma família pobre começa a se infiltrar como empregados em diferentes áreas na mansão de uma família rica, com a esperança de usufruir um pouco da "boa vida". Eles farão qualquer coisa para chegar onde querem, fato que os colocariam numa posição de vilões, mas não é bem assim.
O roteiro é genial ao abordar o lado obscuro de todos, mas sem deixar de humanizar essa família "parasita", por assim dizer. Existem motivações para eles fazerem isso e a família rica não colabora muito, na verdade eles são detestáveis, mesmo que inicialmente fossem ser "vítimas" de aproveitadores. Com um malabarismo impressionante que passa por gêneros, o filme brinca e flerta com o drama (focando no emocional das figuras centrais), a comédia (sempre em tons ácidos e sarcásticos) e o suspense (crescente e cada vez mais nervoso, chegando a um final chocante).
'Parasite' é brilhantemente dirigido por Bong Joon-ho, com um ritmo frenético, ângulos de câmera inspirados, um senso estético perfeccionista, com uma mise en scène que ajuda a compor as metáforas e críticas sociais que permeiam o sagaz e feroz enredo. O filme desafia a sua mente a se questionar sobre situações do cotidiano, como um soco na mente, te causa desconforto e aqui se discute a tal meritocracia e as diferenças de classe. A burguesia é suja e o pobre que quer ser rico terá que se sujar também. E mesmo que um rico ou patrão fique feliz com sua melhoria na vida, como não saber que aquilo é falso e na verdade ele se sente ameaçado? Obra impressionante, uma das melhores do ano até então!
Obs: fique longe da bela família feliz, cidadão de bem com dinheiro e casarão, que só quer pagar seu estilo de vida e mantê-lo assim, fique bem longe ...
Série: 'Stranger Things 3' (2019, de The Duffer Brothers)
Acho que à esta altura do campeonato a série dispensa apresentações, mas falando rapidamente para quem ainda está na dúvida se assiste ou não: a obra é uma ode, uma homenagem pura à cultura POP dos anos 80 e tudo, tudo que envolve a lendária década. Através de incontáveis referências, são retratadas séries, games, livros, brinquedos, artistas, músicas, visual, tecnologia, utensílios do dia a dia e principalmente, o cinema. Dito isto, a terceira temporada mantém alta a dose de nostalgia, sendo uma verdadeira caça à referências.
Algumas são mais explícitas no andamento da trama, como cenas que remetem 'A Bolha Assassina', 'O Enigma do Outro Mundo', 'Invasores de Corpos', 'Alien' e diversas outras fontes. Outras são mais sutis, como em diálogos, camisetas e brinquedos (note as pelúcias de 'Gremlins' e vários outros no parque). O clima continua bastante próximo à uma obra do Spielberg ('E.T.'), porém apronfundando mais no terror gráfico como as obras citadas acima, adicionando uma pegada Stephen King ('IT') no desenvolvimento dos personagens. Personagens e atores, que a cada nova temporada estão mais velhos e maduros, e por isso, a narrativa do roteiro amadurece junto.
Nesta 3° temporada temos acontecimentos mais urgentes e chocantes, embora certa leveza e um ótimo humor ainda presentes, sentimos a gravidade do perigo de verdade e há consequências nisso. A série aposta nas referências e numa série de clichês que você já viu antes e normalmente isso é ruim. Mas como aqui o clima é um tanto descontraído e a intenção é essa, mesmo sem uma trama realista ou social, 'Strangers Things' se sustenta ao fazer tudo muito bem feito. A trama pode ser fantasiosa e longe de profunda, mas toda a brincadeira que o roteiro propõe é muito bem feito e funciona. Os efeitos especiais estão cada vez melhores, a trilha sonora é uma das melhores coisas da série não apenas pelas clássicas canções 80's, mas também pelas batidas de sintetizadores eletrônicos que dão uma nostalgia. E a cereja do bolo continua sendo o elenco, maravilhoso! Cada personagem, seja cômico ou sério, funciona, e muito! Millie Bobby Brown (a Onze) é uma ótima heroína. Dacre Montgomery (Billy) entrega um vilão de respeito e com camadas. A novata Maya Hawke (Robin) é maravilhosa, chegou agora e já roubou a cena. E todo elenco manda bem!
Com 8 episódios de 1 hora cada, a série parece mais um filme, uma superprodução. São 8 horas ininterruptas, que passam voando. São tantos personagens, tantas referências, as piadas funcionam tão bem, o terror funciona bem também, há bastante ação e um aprofundamento nas características de cada personagem, tudo tão bem editado, com um visual e som tão bons, que os episódios passam voando, chegando à um clímax eletrizante e bastante emocionante.
Homenageando o passado, mas adicionando elementos novos, adentrando no terror mas ainda mantendo uma leveza no sensacional elenco, 'Stranger Things' caminha para ser uma das melhores séries de fantasia já feitas. Tomara que mantenha a qualidade nas próximas temporadas, que segundo fontes, pode chegar ao fim em breve, o que é uma boa, ter poucos, mas excelentes episódios.
The Crown (4ª Temporada)
4.5 246 Assista Agora'The Crown' é a melhor série da Netflix e cresce a cada temporada. Nesta 4°, a produção dá passos que ainda faltavam nas anteriores, cutucando bem fundo as feridas da monarquia, em um ciclo mais sombrio, complexo e triste do que os anteriores, sem perder a qualidade. Na verdade, a obra cada vez mais aumenta seu potencial. Com desempenho de elenco perfeito, na verdade é uma aula de atuação e roteiro. O texto brilhantemente escrito traz todo vazio, peso e cinzas da coroa, da monarquia conservadora e de tudo que a envolve. Se outrora a felicidade da Rainha, seu marido e sua irmã foi negada, e após isso foi negado a seus filhos, agora seu filho Charles passa essa infelicidade adiante, para sua esposa, Princesa Diana.
O elenco feminino sempre foi o destaque e se antes a Rainha e sua irmã brilhavam, nesta temporada temos no centro a dura Margaret Thatcher e a radiante Princesa Diana. Thatcher é muito bem atuada por Gillian Anderson (a eterna Scully de 'Arquivo-X'), ela consegue passar a frieza da 1° mulher primeiro-ministro do Reino Unido, conservadora e polêmica, mas que também tinha seus desafios por ser uma mulher política pioneira, em um cenário totalmente masculino. Já a novata Emma Corrin entrega uma Diana sonhadora e alegre, que aos poucos perde seu brilho diante toda fachada, limitação e podridão da família real. É impressionante a riqueza de detalhes do roteiro e direção, muitas vezes sem diálogos, apenas com ângulos de câmera, nos passando a solidão dos personagens centrais. Em determinadas situações, eles são enquadrados na câmera sempre isolados, tristes e com semblantes caídos, ressentidos, sempre solitários no próprio amargor.
A burguesia fede e 'The Crown' cada vez mais explora isso sem perder a classe, com um visual lindo, trilha sonora épica, um roteiro bem amarrado nos mínimos detalhes e atuações arrebatadoras. Apenas o arco de Lady Di já é de partir o coração. A série deve vir forte nas premiações e a 5° temporada promete ser ainda mais emocionante. Obra-prima, joia da coroa da Netflix, melhor obra audiovisual que assisti em 2020 até então.
Rosa e Momo
3.7 302 Assista AgoraSophia Loren é uma das últimas grandes lendas e estrelas da Era de Ouro de Hollywood ainda vivas, uma das melhores atrizes de todos os tempos, tendo brilhado entre os anos 50 e 70, recebendo diversos prêmios. Depois disso, embora ainda aparecendo aqui e ali, ela se dedicou à família, tendo praticamente se aposentado nos últimos anos. Eis que é a família agora crescida, que traz a italiana de volta aos holofotes. Seu filho Edoardo Ponti, agora cineasta, dirige sua mãe neste comovente retorno da lenda. Ela interpreta uma sobrevivente do holocausto que decide mesmo receosa, a ajudar uma criança mulçumana que a assalta na rua. Mesmo que inicialmente com certos preconceitos, são nas lembranças da guerra e no observar de como as autoridades tratam imigrantes, que algo toca a personagem, começando assim uma história de amizade com o pequeno Momo.
Sophia Loren entrega uma excelente atuação, provando ser a artista que um dia conquistou o mundo. O jovem Ibrahima Gueye é incrível, sendo uma das melhores atuações mirins do ano. É um filme bem simples, talvez até careça de algo a mais, talvez algum aprofundamento no passado de Rosa, ou algo mais forte. Mas é nas sutilezas que este tipo de obra se apoia e nisso se sai bem. Na trilha sonora, temos até a lenda dançando o samba 'Malandro', na voz de Elza Soares. Em determinada e emocionante cena em um terraço, temos referências à obra 'Duas Mulheres' (1960), também sobre o holocausto e foi o filme que deu o Oscar de Melhor Atriz à Loren. Isso parece ser todo o cuidado e gratidão de seu filho, homenageando a carreira da mãe e a abdicação dela em prol da maternidade. A imagem materna que Momo tem em sua imaginação é uma leoa, e Loren é por sua vez, no desenrolar dos fatos, uma verdadeira leoa. Esse é o cinema italiano puro, simples e poético.
The Crown (4ª Temporada)
4.5 246 Assista AgoraObra-prima!
Destruição Final: O Último Refúgio
3.2 583 Assista AgoraEmbora recheado de clichês e algumas atitudes burras de personagens (e esse péssimo título brasileiro), é um filme competente na proposta, com alguns momentos de tensão mais sinceros e realistas, evitando exagerar no CGI e nas impossibilidades, um filme mais pé-no-chão do que '2012' ou 'Geostorm', por exemplo. Atuações ok e alguns pequenos momentos sutis de críticas sociais, como os supremacistas brancos atacando em pleno apocalipse, pessoas histéricas e outras nem aí pros acontecimentos (que nem a situação do Covid rsrs) e a tecnologia coletando dados da nação pra traçar perfis úteis pro governo (como a seleção dos que merecem sobreviver). Aqui e ali um filme minimamente interessante, com uma direção que erra no melodrama mas acerta nas cenas de histeria e caos.
The Leftovers (3ª Temporada)
4.5 427 Assista AgoraSérie: 'The Leftovers' - 3 temporadas (2014-2017)
*Disponível na HBO GO
Em menos de 2 semanas, devorei os 28 capítulos das 3 temporadas de 'The Leftovers', obra incrível que faltava assistir. Um soco na mente, e como doeu. Ela ultrapassa o verbo "assistir", ela é "sentida", uma verdadeira experiência sensorial. Na trama, 2% da população mundial desaparece, simplesmente somem. A partir daí, temos um complexo quebra-cabeça em uma atmosfera melancólica, recheado de filosofia, metáforas, profecias, existencialismo e críticas religiosas e sociais. O grande trunfo da obra é não lançar luz nos mistérios desse "sumiço", mas se concentrar na complexidade emocional daqueles que ficaram: seu luto, sua dor, suas dúvidas, suas crenças, suas derrotas, sua loucura, suas seitas, suas quedas e seus erros.
'The Leftovers' utiliza de simbolismos, insanidades e desconstruções técnicas que a princípio não fazem sentido algum, mas no todo, tudo faz sentido - não as respostas, mas as perguntas. E é aí o segredo para se apreciar a essa ousada obra: a importância de questionar e fazer perguntas, e como a busca pelas respostas influenciam nossa vida a seguir adiante, mesmo que sem as respostas. É uma trama depressiva? Sem dúvidas, não recomendada para quem está com o emocional abalado. Mas que ainda assim, de alguma forma maluca que só funciona aqui, também traz luz e um otimismo realista dentro do absurdo. O visual e a direção são eficientes e bem regidos. Mas a trilha sonora e as atuações são o ponto mais alto. Os atores e seus complexos personagens são sobre-humanos, uma força da natureza, com camadas e momentos de dar um nó na garganta.
'The Leftovers' fala sobre os frutos que colhemos das nossas ações + os acontecimentos bizarros e incontroláveis que surgem na vida, sejam bons ou ruins, e como lidamos a partir disso, como muitas vezes preferimos acreditar em milagres, maldições e mágicas, do que simplesmente aceitar que as coisas acontecem sem necessariamente terem forças maiores por trás. A série é uma grande discussão sobre crenças e outros fatores que definem a forma com que todos nós encaramos algo como mítico, divino ou humano. O fanatismo religioso é um grande foco, e como tal ele destrói tanto quanto as desgraças da vida. Mas ao mesmo tempo, sempre existem os poréns, as crenças e motivações que muitas vezes fazem as pessoas continuar a vida. No fim, crenças tanto ajudam quanto prejudicam à pessoas específicas, assim como tudo na vida, em tudo existem dois lados da mesma moeda. Então, a série se encerra de uma forma tremendamente diferente de como iniciou, imensamente emocionante, com cenas poderosas e belas numa mesma intensidade, muito mais simples do que você imagina, porque ao final de todas grandes loucuras da vida, as coisas mais singelas são aquelas que ficarão.
"- Estou aqui."
Nota: 9,5
Crítica escrita por um colaborador no site Minha Visão do Cinema (link na minha bio).
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa
3.4 1,4KFilmão! Depois de 'Coringa', mais um acerto da DC! 'Aves de Rapina' realmente é bom. Margot Robbie é incrível como Arlequina, ela reina e brilha. Ewan McGregor como Máscara Negra e Mary Elizabeth Winstead como Caçadora estão ótimos. Todo elenco tem timing e surpreende. É uma vibrante explosão de cor, insanidade, ação e muita representação feminista. Com humor incorreto e quebra da quarta parede na pegada de 'Deadpool', as coreografias de ação estilo 'John Wick' são muito bem elaboradas, destaque pras cenas do parque e as de patins. Sem falar nos elementos "tarantinescos".
O fato de ter uma diretora mulher é um diferencial. Não é apenas feminista, é um filme feminino em detalhes. É a ótica de uma mulher, a interação delas durante as lutas reforça isso, e a obra ainda tem cara de filme indie. Não se levando a sério, essa divertida emancipação feminina segue seu próprio caminho, deixando 'Esquadrão Suicida' no chinelo. 2 ou 3 cenas desse filme, sozinhas, já são melhores que aquele outro lá inteiro. Com uma excelente trilha sonora pop e rock e direção de arte chamativa, é mais uma alucinante viagem por Gotham. Fantabuloso!
Hollywood, envia mais 'Aves de Rapina', 'Mulher-Maravilha', 'Capitã Marvel', etc, que tá pouco. Vai ter mais girl power sim!
Confira a crítica do Guilherme Kaizer no site Minha Visão do Cinema.
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa
3.4 1,4KFilmão! 'Aves de Rapina' realmente é bom. O fato de ter uma diretora mulher é um diferencial. Não é apenas feminista, é um filme feminino em detalhes.
É a ótica de uma mulher, a interação delas durante as lutas, e tem cara de filme indie, mais um acerto da DC!
1917
4.2 1,8K Assista AgoraMuito provavelmente, '1917' deve sair como o grande vencedor do Oscar 2020 como Melhor Filme e Melhor Diretor (Sam Mendes). É um filme com técnicas visuais arrebatadoras, uma aula de direção, com tensão e adrenalina enervantes. Além disso, é uma obra de guerra sem patriotismo, medalhas e outras mentiras. Não há honra em sujar as mãos em sangue e pilhas de cadáveres. Não há vencedores, apenas jovens mortos e sonhos destruídos. Em tempos em que há rumores de conflitos, e líderes mundiais e pessoas que os seguem estão esquecendo dessas verdades, obras que retratem do real horror da guerra se fazem necessárias!
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraPoético, reflexivo e simbólico, a obra de terror psicológico traz as melhores atuações das carreiras de Willem Dafoe e Robert Pattinson. Se em 2016 o filme 'A Bruxa' trouxe simbolismos sobre feminismo, ignorância conservadora e libertação feminina, agora o diretor Robert Eggers traz uma trama sobre reclusão, solidão, comportamento masculino tóxico e complexidade sobre a convivência humana em situações extremas. Dafoe e Patinson são gigantes em tela, com uma bela complexidade artística.
A fotografia em preto e branco e o tamanho de tela mais quadrado e menos widescreen, dão não apenas um ar retrô e de filme clássico, como também ajudam a criar a atmosfera cinzenta, dúbia, gótica e imaginética. Com ritmo lento e uma construção sutil dos simbolismos, 'O Farol te prende aos poucos em um filme permeado pelo surrealismo, um conto de marinheiro lindamente capturado pelas lentes cinematográficas. Merecia mais indicações ao Oscar, pois está concorrendo apenas em Fotografia.
Leia nossa crítica completa no site Minha Visão do Cinema
Succession (2ª Temporada)
4.5 228 Assista AgoraCom apenas duas temporadas até então, sendo esta segunda vencedora de diversos prêmios, 'Succession' cresce rápido para se tornar a nova grande épica obra televisiva da poderosa HBO. A nível de comparação, a série pode ser comparada a 'The Sopranos' em qualidade e algumas similaridades, é só trocar a família mafiosa por uma empresária. Com uma linguagem técnica por vezes complexa, devido as explicações minuciosas do mundo corporativo, marca do diretor Adam McKay ('Vice'), a trama traz uma mistura agridoce de drama e um humor muito sarcástico e agressivo.
Aliás, todos os personagens são agressivos, todos são víboras que destilam o seu veneno e se traem constantemente, tornando tudo um jogo de quem ferrará quem, quem é menos ou mais pior, quem ficará no topo do poder da empresa. Apesar de ser difícil acompanhar uma trama onde nenhum personagem é bom, os roteiristas conseguem nos prender brilhantemente em reviravoltas e acontecimentos insanos, onde não sabemos que rumo tudo tomará. Todo o elenco é gigante em cena. O veterano Brian Cox destrói tudo e todos com seu odiável patriarca. Kieran Culkin é insano, excêntrico e mais talentoso que seu irmão Macaulay Culkin (sim, ele mesmo que você pensou). A ruiva Sarah Snook é poderosa, Matthew Macfadyen e Nicholas Braun tem uma excelente e hilária química com suas tramoias, a dinâmica entre seus personagens (Tom e Greg) é genial. Mas quem carrega o arco mais pesado é ele, Jeremy Strong é extraordinário em cena, sofrendo em silêncio, carregando frustração, ambição, desespero e vícios somente com o olhar.
'Succession' é uma trama sobre gente branca e rica fazendo porcaria? Sim é, e isso é feito de maneira extremamente impecável. Em nenhum momento se defende eles, tanto que o tempo todo nos é mostrado que eles são errados, traiçoeiros, machistas, racistas, burgueses fúteis e mesquinhos que acobertam crimes. O barato é ver eles se comendo vivo. E isso torna esta uma das mais corajosas séries da atualidade. Essa série ainda vai crescer muito!
The Morning Show (1ª Temporada)
4.4 209Quando o streaming da Apple surgiu em Outubro, parece que ele não agradou muito, a série 'See' decepcionou e essa 'The Morning Show' foi recebida de forma morma nos seus primeiros episódios. Mas semana após semana a trama começou a chamar a atenção pela consistência, ganhando força no seu final e agora, sendo aclamada e concorrendo a prêmios.
Reese Witherspoon e Jennifer Aniston dão vida às âncoras do principal jornal de um canal de TV que está passando por um momento conturbado, pois seu anterior apresentador (Steve Carell) foi denunciado por assédio sexual no ambiente de trabalho. A partir de então vemos como as investigações e esse fato em si pesam em cima de todos os funcionários e suas vidas, como as mulheres ficam manchadas mesmo que com erros de homens e como os poderosos tentam se proteger usando de meios sujos, mesmo que na frente das câmeras "vendam a verdade". Witherspoon está bem como a personagem mais correta e valente, mas Aniston explode em tela com sua ambígua e duvidosa personagem, o melhor papel da vida dela. Carell também merece aplausos por interpretar de excelente forma e cheio de camadas o assediador, um papel difícil, ainda mais um ator que sempre foi visto como carismático em comédias, aqui ele é praticamente um monstro. De fato foi um desempenho corajoso dele. Todo o elenco coadjuvante está ótimo, com destaques para Mark Duplass, Gugu Mbatha-Raw e Billy Crudup.
'The Morning Show' debate o machismo nas grandes corporações e como os homens que fazem porcaria se protegem, se acham acima dos outros devido sua posição, poder ou porque são chefes. Há ainda críticas sociais em outros setores, como sujeiras da burguesia diante catástrofes, manipulação dos dados e fatos das notícias, pautas feministas, combater comportamento tóxico de chefões nas empresas, constrangimento de novos funcionários diante mau comportamento de veteranos, etc. Há muito o que ser debatido aqui. Destaque para 2 capítulos: o 8° onde é mostrado em detalhes a mente e o comportamento de um assediador, alguém de poder e idolatrado por todos, que se acha o maioral e acha que pode dar em cima de qualquer mulher. O outro seria o último, que tem uma construção de tensão incrível e culmina com acontecimentos chocantes e eletrizantes, que deixa brecha para uma imensa discussão na próxima temporada.
Entre momentos sutis, mas bem construídos; e outros explosivos e polêmicos, com um roteiro bem trabalhado, 'The Morning Show' é uma das melhores séries de 2019 e pode ter longa vida como uma excelente obra dramática e cheia de sarcasmos, que tocará em feridas cada vez mais expostas na vida real. Se você soubesse que a pessoa que paga seu salário possui um comportamento errado, você o derrubaria? Acobertaria ele? Colocaria o dinheiro acima do fator humano e do que é certo? Expor comportamentos errados não é o mínimo a se fazer, evitando assim que mais vítimas tenham sua dignidade ameaçadas? Fica a reflexão.
Jojo Rabbit
4.2 1,6K Assista AgoraMelhor "comédia" de 2019 e um dos melhores filmes do ano que se encerrou, 'Jojo Rabbit' traz um roteiro genial em uma trama agridoce e surpreendente. Em plena 2° Guerra Mundial, acompanhamos nosso protagonista, um menino alemão nacionalista, seguidor de nazistas e cujo amigo imaginário é o próprio Hitler, a grande figura da nação. Tudo se complica quando sua resistente mãe (Scarlett Johansson em ótima atuação, cheia de sutilezas) esconde uma menina judia.
O filme é brilhante ao começar de forma bobalhona, cheia de imaginários da criança, e aos poucos vai ficando sério e surpreendente, com diálogos que criticam e ironizam os horrores da guerra, o preconceito, o patriotismo, o fascismo. É interessante como o patriotismo e o ar de soberania são mostrados como algo burro, cruel e contraditório. Inclusive, o Hitler imaginário, muito bem atuado pelo diretor do filme, o querido e hilário Taika Waititi, é retratado como uma criança birrenta, teimosa, mimada e acéfala. É uma forma de dizer que tais ideais são assim, obscuros e impensados, apenas causando dor e divisões. Tem cenas hilárias que debocham o quanto ritos patrióticos são patéticos. Em outras cenas, é sarcástico o fato dos nazistas temerem tanto judeus e outras diversidades que criam lendas sobre eles, ao passo que não percebem que tais pessoas tem os mesmos hábitos humanos que eles, como se alimentarem e dormirem. Eles se esquecem que todo ser humano é igual nas necessidades.
O filme é muito sagaz em explorar isso e adaptar numa linguagem que serve para nossos dias. Infelizmente cada vez mais nossas crianças estão se espelhando em figuras de poder patriotas, mas perversas e irracionais (demoníacas talvez?). Estão se espelhando em "mitos" que fazem sinal da arminha e que se acham superiores aos outros, que utilizam de sua influência para atacar pessoas de pele, sexo, crenças e vida diferentes. Colocam uma falsa soberania, o corruptível dinheiro, a droga de uma bandeira ou o lixo de uma religião acima da vida do próximo. Em tempos em que assassinos e ignorantes são eleitos falando besteiras e destruindo o meio ambiente, 'Jojo Rabbit' é um filme necessário, que deveria ser passado em escolas. De maneira leve, mas emocionante, critica o militarismo e a supremacia de uma nação (seja qual for), mostrando que tais coisas são cruéis quando oprimem e tiram a vida do próximo. Por mais amor. E menos mitos imaginários.
NOTA: 9,5
Amanhã sai uma crítica completa no Minha Visão do Cinema, feita por um dos nossos colaboradores.
Star Wars, Episódio IX: A Ascensão Skywalker
3.2 1,3K Assista AgoraTriste toda essa reação negativa em volta, comparando com o final de 'Game of Thrones' (tal comparação até faz sentido se notarmos que ambos tiveram finais apressados, mas não é para tanto). O filme não é perfeito, mas está longe de ser horrível. Realmente o que estragou os novos filmes da saga foi a divisão de visões: por um lado a Disney e o J.J. Abrams ('O Despertar da Força') queriam algo mais POP, que se espelhasse nas referências dos antigos e numa "fórmula Marvel". De outro, o Rian Johnson quis trazer novidades e quebrar expectativas ('Os Últimos Jedi'), o resultado foi uma trilogia híbrida, que toma rumos contraditórios, ao mesmo tempo em que dedica muita paixão ao passado. Esse final ficou dentro da zona de conforto, ameaçou quebrar expectativas por vezes, mas abrandou tudo por outras.
O resultado é um filme com roteiro padrão, uma repetição narrativa de 'O Retorno de Jedi', algumas voltas desnecessárias, mas com partes emocionantes, algumas despedidas emblemáticas e que traz uma interessante discussão sobre a presença do bem e do mal estarem em um mesmo indivíduo (filosofia asiática sempre presente na saga). O ritmo é muito frenético, talvez existem aqui 2 filmes em um só, se tivessem feito uma quadrilogia, por exemplo, poderíamos ter planos mais contemplativos e um desenrolar mais natural. Há alguns sustos, mas algumas cenas reconfortantes. 'A Ascensão Skywalker' é menos brilhante que o anterior no roteiro, mas ainda é um grande blockbuster, melhor que qualquer filme Marvel desse ano por exemplo, apesar dessa "Marvetização" pelo qual o cinema moderno está passando. A ação tem momentos épicos, um excelente duelo de sabre de luz, as atuações dos 2 protagonistas estão mais maduras, existe aqui uma atmosfera mais sombria, o visual é perfeito e a trilha sonora e mixagem de som são estupendas. Mesmo quando algum filme 'Star Wars' é inferior a outro dentro da saga, no todo a franquia ainda é muito boa comparando com a concorrência, e isso não é pouca coisa.
Dividirá opiniões, muitos odiarão, e entre os que queriam novidades e outros que queriam o padrão de sempre, nunca iria se conseguir agradar a todos. Mas essa nova trilogia se encerra mista, oscilando em pequenos detalhes, mas grande como entretenimento e como expansão do universo 'Star Wars', cujo nome é à prova de críticas. Quem sabe daqui um tempo, maratonando todos os filmes, tudo faça mais sentido. E que os próximos filmes que virão apontem para direções diferentes da galáxia.
Os mascotes da saga são especiais, R2-D2, C-3PO, Chewie e BB-8, contem comigo pra tudo <3
Adeus Carrie Fisher, nossa eterna Leia 😔
A experiência de viver 'Star Wars' não tem preço, independente de um ou outro filme não agradarem.
Inacreditável
4.4 424 Assista AgoraUma aula de empatia por mulheres vítimas de abuso sexual.
Outra grande minissérie da Netflix, funciona quase que como uma "prima" de 'Olhos Que Condenam'. Não, não são parecidas na estrutura a princípio, mas ambas trazem alertas oportunos e são muito emocionantes. Se 'Olhos Que Condenam' explora o racismo e preconceito da polícia e autoridades ao suspeitar de qualquer cidadão que não seja "branco", até mesmo culpando inocentes, 'Inacreditável' foca no machismo com que autoridades podem encarar mulheres vítimas de estupro, com aquele pensamento errôneo de que pode ser em parte, culpa da vítima. Há homens com anos de carreira na polícia, mas despreparados para lidar com as vítimas, devido pensamentos sexistas e machistas, como que mulheres que se expõem facilitam um ato violento, ou que muitas inventam um abuso por supostamente estarem carentes, querendo atenção ou por vingança.
Logo que conhecemos um pouco da insegurança da menina protagonista (muito bem atuada por Kaitlyn Dever) e como isso leva a polícia a duvidar da versão dela, começamos a compreender como tudo nessa situação é difícil. Não existe apenas a agressão física, sexual e psicológica. Existe o fato de ter que expor isso, fazer uma bateria de exames, que muitos farão perguntas intrusivas que podem acarretar vergonha e culpa, há o fator de como sua família, colegas e vizinhos te encararão, como a própria mulher vai encarar a si mesma e a outros, como ela ficará insegura com relação a outras pessoas, especialmente homens, e caso autoridades que deviam dar apoio na verdade duvidarem, como isso pode ser um gatilho para depressão, negação, para deixar pra lá e carregar o fardo sozinha. São vários fatores envolvidos e não há absolutamente nada que um homem possa opinar sobre isso, pois ele nunca passará por isso.
Somente quando duas detetives entram no caso, com atuações fortes de Toni Collette e Merritt Wever, é que começamos a perceber toda a empatia que tais vítimas precisam. Bastante diferentes em personalidades, ambas investigadoras criam uma amizade e uma meta de descobrir quem é o estuprador da região, numa caçada intensa para pegar esse monstro. Mas o diferencial delas é ajudar as vítimas nesse caminho, algo em que a maioria é relapsa. Uma aula de empatia e uma lição sobre nunca culparmos as vítimas, 'Inacreditável' faz jus ao nome não apenas por mostrar as barbáries que homens são capazes, mas por também mostrar que quando a vítima é mulher, muitos desacreditam nelas. A sociedade é feita de tal modo, que sempre arranja um jeito de menosprezar ou culpar a figura feminina, por mais que na maioria das vezes, os maiores problemas mundiais são causados pelo homem e no seu falso senso de poder e dever do "macho alfa". Por fim, ainda deixa a reflexão de que há áreas e trabalhos que deviam ser feitos exclusivamente por mulheres, devido sua maior sensibilidade e poder de empatia.
O Rei Leão
3.8 1,6K Assista AgoraO clássico de 1994 é a melhor animação já feita, uma obra poderosa que marcou época e um de meus filmes favoritos, leia minha crítica no site Minha Visão do Cinema.
Dito isto, esta nova versão não supera o original. Esse novo é uma obra-prima visual, o CGI de última geração é hiper realista, animais e paisagens parecem de verdade, a fotografia quente é de encher os olhos, é um filme onde o visual fala por si só, muito poderoso e que pode sim sair com o Oscar de Efeitos Visuais. Mas existem problemas.
A começar que não é um live-action conforme foi vendido, é uma animação, não há animais e elementos físicos, é tudo digital. E a procura por fazer algo tão realista, às vezes parece que estamos assistindo a um documentário do Animal Planet. Isso não é algo de fato ruim, mas faltam expressões e portanto, falta sentimento aos personagens. A busca pela perfeição da embalagem acabou atrapalhando o interior, a alma, o coração do filme. Falta aquela emoção, aquele arrepio, aquele sentimento que o original trouxe. Sim, um pouco é devido o fato de ser um remake e você já viu aquilo. Mas um pouco também é por essa inexpressividade dos personagens. E algumas das dublagens do áudio original não encaixam bem, principalmente nos leões adultos (não assisti ao dublado nacional).
Mas por outro lado, o filme ganha carga dramática graças à nostalgia, que sim, isso nos pega um pouco. Acompanhar as belas canções, a recriação de algumas cenas marcantes e ver Timão e Pumba, tudo traz um reconforto e uma certa lembrança emotiva. Scar também continua ameaçador. As novas cenas e a nova canção são um bom adicional que só deixam mais explícitos alguns detalhes sugeridos na outra versão. Aliás, Timão e Pumba são maravilhosos em qualquer versão, uma das melhores duplas da história do cinema <3
Mesmo faltando um pouco de encanto, ainda é um belo filme graças a poderosa trama, que traz diversos tipos de ensinamentos e reflexões. Visualmente arrebatador e contemplativo, essa nova versão de 'O Rei Leão' é pra ser visto na melhor tela e qualidade possível, pois realmente a tecnologia utilizada aqui é estonteante. Mas se você quer se emocionar de verdade, reveja o clássico.
NOTA: 7,5
Obs: estou ansioso para ver que outros filmes com este mesmo nível visual virão por aí.
El Camino: Um Filme de Breaking Bad
3.7 843 Assista Agora'Breaking Bad' é uma das melhores séries de todos os tempos, isso é irrefutável. Talvez a melhor? Muitos acham que sim. Então, era necessário um filme? Não, não era. Mas esse filme, assim como a série derivada 'Better Call Saul', são spin-offs que, embora não alcancem o clímax dramático e explosivo da série mãe, também não destroem com o legado da franquia. E na verdade, são belos derivados, pois ainda carregam os 3 pilares básicos de uma boa obra audiovisual: boas atuações, boa direção e bom roteiro.
'El Camino' traz uma justiça poética ao conturbado personagem Jesse Pinkman, brilhantemente atuado por Aaron Paul (o ator merecia mais destaque em outros filmes, ele tem talento). Com um elenco coadjuvante de peso, todos muito bem, o filme faz uma série de referências e celebrações à personagens e acontecimentos da série, sem deixar de trilhar seu próprio caminho e confirmar alguns desfechos. A direção de Vince Gilligan continua inspirada, cheia de cuidado estético que não distrai, mas adiciona à narrativa. Usa-se planos mais fechados no rosto dos atores para extrair de suas interpretações e usa-se planos abertos para contemplar a direção de arte e a paisagem e fotografia das locações. Alguns jogos de câmera são bem orquestrados, servindo como criação e quebra de expectativas em momentos chave.
Embora não tão poderoso quanto a série e com um certo ritmo lento no meio, o filme funciona por matar a saudade deste universo, trazer uma potente atuação de Aaron Paul, carregar uma linda identidade visual simples e orgânica, e conseguir carregar no seu roteiro características que lembram filmes de faroeste e de fuga, sempre com suspense e tensão, mas ao mesmo tempo, quebrando expectativas e tomando caminhos diferentes do que indicava. E também foi a despedida do veterano Robert Forster, que faleceu no dia da estreia do filme, na última sexta-feira.
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraPoderoso, provocante, complexo, questionador, reflexivo, sufocante, assustador, opressivo, desesperançoso, cruel e atual. Um estudo psicológico e sócio-político brutal, rumo à loucura e o caos.
Faltam adjetivos para descrever este filme, que carrega uma das melhores atuações dos últimos tempos, pois o que Joaquin Phoenix faz como o Coringa é de outro patamar, é sobrehumano, existe um trabalho corporal, vocal e psicológico que é arrebatador. Coringa é o melhor vilão do cinema, o melhor personagem já escrito em uma HQ e aqui é a comprovação disso. A DC entrega um de seus melhores filmes de todos os tempos, ao lado de 'Batman - O Cavaleiro das Trevas' e 'Watchmen', e estes são sem dúvidas os melhores filmes saídos de mitologias de "heróis". Aqui, há um estudo complexo de personagem, da condição mental de alguém doente, nas duas horas inteiras vemos apenas Arthur Fleck e tudo o que acontece ao seu redor, a maneira que ele enxerga algumas coisas e vamos vendo como o sistema da sociedade encara e cria um ambiente onde monstros podem se desenvolver. Com aspecto sujo, que remete aos filmes da Nova Hollywood dos anos 70 e início dos 80 ('Táxi Driver', 'O Rei da Comédia', 'Poderoso Chefão', 'Um Estranho no Ninho'), 'Coringa' traz uma construção visual impecável, tão tortuosa e desconstruída quanto seu protagonista. E a trilha sonora melancólica e nervosa ajuda nessa atmosfera, gerando momentos tensos e de calafrios. O filme possui aos menos umas 3 cenas que se tornarão icônicas, especialmente no fantástico final.
Não se engane, ele não é um herói, mas um perverso vilão, mas é mais um, dentre outros tipos de vilania. Garotos brancos endinheirados que se acham e fazem bullying também são vilões. Governos corruptos que cortam gastos (SUS, medicação, assistentes sociais, que não geram emprego e aposentadoria e outras coisas básicas) também são influência para surgir histeria coletiva e sociopatas. Burgueses escondidos no seu poder e que olham com desprezo aos menos favorecidos também somam para os abismos sociais, cada vez mais presentes em um mundo que idolatra mitos poderosos que fazem sinal da arminha, dizem palavras duras que ofendem ou esnobam parte da população, que não tem empatia pelo próximo e que só se importam com seu poder, sua influência, seus nepotismos e suas arrogantes posturas.
'Coringa' ainda traz uma questão muito séria de como a sociedade encara os transtornos mentais e como essas pessoas doentes, que precisam de todo apoio possível, são na verdade ignoradas, encaradas com preconceitos ou indiferenças, e como fazer isso pode levar insanos ao extremo da loucura. Imagine alguém que perdeu tudo na vida e a única coisa que tem é o tratamento público (tipo SUS), mas este tratamento é cortado pelos poderosos que nunca precisaram fazer uso de tal, afinal tem todos recursos para fazer isso no privado, se isso acontecer, quantos Coringas teremos à solta?
Coringa fala da desconstrução da imagem do mito e de como as pessoas gostam de idolatrá-los, muitas vezes por uma bizarra fagulha de esperança de que as coisas vão melhorar. A criatura é a pior possível, mas na tentativa de mudança, se espelha nela numa vã esperança dela fazer algo de bom (pois é Brasil). Isso tudo é fruto de uma sociedade doentia, que se espelha no poder como fonte de esperança, enquanto na verdade deveria ser a empatia pelo próximo. E quando acaba a empatia, começa a violência. Líderes "bem intencionados" não vão acalmar as coisas ignorando parte da população, pois aquela parcela que não lhe interessa ficará a mercê do que vier, e o que vier pode ser o caminho violento.
Há ainda elementos filosóficos complexos, assim como mitologia grega, note os conceitos de Narciso (orgulho) e Sísifo (estar fadado a um ciclo cotidiano de miséria). E isso tudo que estou falando é a ponta do iceberg. Extremamente atual na questão política, e um verdadeiro alerta e convite para empatia na questão mental e psicológica, é muito, mas muito bom ver um filme que deveria ser de ação e de "herói" (o que mais atrai público hoje em dia), mas como forma de pegadinha, te desmonta, te faz refletir, não te lança respostas, mas te obriga a se questionar. E se questionar é aquilo que as pessoas mais precisam fazer, mas o que os poderosos menos querem que você faça. Isso porque se questionar derruba poderosos, arranca máscaras e entrega respostas desconfortáveis, verdades inconvenientes. De uma forma ou de outra, é um filme onde carapuças servem para todos, como humanidade.
Não é um filme fácil, e nem era para ser. Um suspense dramático psicológico poderoso, melhor filme do ano até então. Uma aula de cinema, cinema de verdade.
"A pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você se comporte como se não tivesse."
Rocketman
4.0 922 Assista AgoraAo contrário de 'Bohemian Rhapsody', que até tem belos momentos dos shows, mas está repleto de problemas, como a quase vilanização do protagonista e de suas escolhas, algo possivelmente influenciado pelos integrantes vivos do Queen, 'Rocketman' acerta em ser uma produção que equilibra melhor alegria e emoção, sendo a obra uma personificação da figura ainda viva de Elton John. A direção é boa, a criação da época, figurinos e apuros técnicos são ótimos e o filme não apenas traz as canções, mas se assume como musical, com diversas cenas lúdicas onde viajamos na imaginação do cantor, suas canções fazem as pessoas flutuarem, literalmente, e isso é mágico.
Com influência do próprio Elton John, o filme é sincero em mostrar os excessos e erros do próprio. É bonito o fato dele culpar a si mesmo e dar a volta por cima, sempre em busca do seu sonho e de sua identidade. Excelente atuação de Taron Egerton, que encarna Elton com maestria e energia. O mesmo se diz de Jamie Bell como Bernie, melhor amigo do cantor, juntos são uma dupla incrível. Emocionante de forma sutil e muito divertido, é um ótimo filme, merece ser conferido!
Era Uma Vez em... Hollywood
3.8 2,3K Assista AgoraFilme: 'Era Uma Vez em ... Hollywood' (2019, de Quentin Tarantino)
Será textão, primeira parte SEM SPOILERS, depois da nota terá.
Uma obra de homenagens. Homenagens à Era de Ouro de Hollywood, à Sharon Tate, ao ano de 1969, ao fim do sonho hippie, à arte de se fazer cinema, ao próprio Tarantino e aos sonhos perdidos de outrora.
Mesmo que com suas principais características, como humor ácido, diálogos longos e sagazes, cenas gráficas chocantes, excelente trilha sonora escolhida a dedo pelo cineasta, trama fragmentada que se encaixa ao fim, críticas sociais com uma certa representatividade, talvez este seja o filme mais descontraído, simples e maduro do diretor. Não é o melhor, mas ainda uma grande obra, é interessante como ele arrisca algumas novas nuances, mesmo dentro dos seus trejeitos. Através de quebra de expectativas por quase três horas, ele faz algumas coisas contrárias ao que o público que o conhece espera, sem deixar de ser o próprio.
Leonardo DiCaprio e Brad Pitt formam uma dupla espetacular em cena, com muito carisma e química, ambos são hilários de maneiras diferentes. DiCaprio, um dos maiores atores do cinema moderno, talvez o maior, entrega um personagem engraçado, mas com camadas dramáticas, um ator que está em uma encruzilhada entre se tornar um astro ou ser esquecido. E nesse medo de ser esquecido, entrega cômicos e bonitos momentos sobre as inseguranças de ser um ator. Pitt, conhecido por ser galã, mas não tão reconhecido por ser bom ator (e é nítido que Tarantino trabalhou em cima desses dois fatores ao longo do filme), entrega uma das melhores atuações da carreira, ele é um dublê hilário, porém com um toque mais misterioso. Aliás, na reta final do filme, é ele quem brilha.
Margot Robbie como Sharon Tate é pouco aprofundada, a personagem tem poucos diálogos ou dramas. Mas ... foi uma escolha proposital, pois o diretor a coloca o filme inteiro em situações de brilho, luz, alegria, sorrisos, com belos figurinos, uma figura quase angelical, uma forma de homenagear a atriz Sharon Tate, brutalmente assassinada na sua casa e grávida aos 8 meses na vida real. A cena em que ela está camuflada no cinema, assistindo ao próprio filme e vendo as reações das pessoas ao sorrirem por ela no filme, é linda, é uma cena emocionante, nos lembra que fazer arte e ver a reação positiva do público quanto a isto deve ser algo gratificante. Ver cenas onde Sharon Tate esbanja felicidade e vida dói, pois sabemos o seu destino. O restante do grandioso elenco aparece rapidamente, cada um com suas peculiaridades.
Aliás, existem muitas referências aos demais filmes do diretor, em um exercício metalinguístico cinematográfico, com filmes dentro do filme, takes fictícios, reconstruções e detalhes que remetem a 'Bastardos Inglórios', 'À Prova de Morte' (inclusive na presença da esquecida categoria dos dublês), 'Kill Bill', 'Django Livre' e vários outros. Há diversas personalidades e filmes da época, como um hilário Bruce Lee, menções indiretas à Sergio Leone, e por aí vai. A trilha sonora é incrível e os figurinos de época são espetaculares, algumas peças de roupa e acessórios tem cenas de destaque somente para elas. Nessa reconstrução da época, roupas, carros, bares e elementos de 1969 assumem um papel de personagens fundamentais na narrativa da trama.
O filme, por horas, pode aparentar ser longo, com diferentes situações que aparentemente não chegam em lugar algum, alguns diálogos por vezes são longos demais e talvez em alguns momentos há certos preconceitos com os hippies, através de diálogos sacanas. Mas a reta final do filme amarra tudo e compensa tudo. A cena em que Pitt chega no rancho da Família Manson é assustadora. Existe aqui uma lenta construção de tensão, por uns 10 ou 15 minutos ficamos cada vez mais tensos, num clima quase de terror, só conseguimos sentir uma energia estranha no ar e naquelas figuras hippies. Imagina o Tarantino fazendo um filme de terror nessa pegada?
O final compensa com um confronto brutal, mas ao mesmo tempo hilário. E depois de quase três horas de viagem de volta aquela época, a bonita e sutil cena final entrega algo inesperado, uma cena reflexiva. Assisti ao filme na sexta e sigo pensando nele até agora. "E se ..." talvez defina aquele final. Uma cena que te abraça de uma forma incrível.
Um filme completo, um dos melhores do ano, cinema de verdade, transitando entre a comédia, o drama e o suspense, o belo final justifica o "Era Uma Vez" do título, apesar dos históricos reais, essa é a fábula de faz de conta do mestre Tarantino, a forma dele olhar e homenagear vários pontos do passado e brincar com algumas coisas que se perderam com o tempo, com o fim de uma era, com o chocante final do movimento "paz e amor" onde acreditava-se que ser hippie salvaria o mundo. Homenageando a graça de se fazer cinema, mas sem deixar de por o dedo na ferida nas dificuldades e no cinismo que muitas vezes se encontra na indústria.
NOTA: 9,5
COM SPOILERS, SE NÃO VIU, NÃO LEIA
Sobre aquele final, foi a forma do diretor brincar com o "e se" a pobre Sharon Tate, que irradiava luz e talento, tivesse tido uma chance. E se heróis da ficção qualquer tivessem dado o troco na Família Manson? Os filmes do Tarantino sempre possuem justiças poéticas. Vou explicar: em 'Kill Bill' a mulher oprimida acaba com os homens opressores. Em 'Bastardos Inglórios' temos um grupo de assassinos que mata nazistas assassinos, além da mulher judia que queima fascistas. Em 'Django Livre' temos abolicionista e escravo acabando com escravagistas. Aqui nós temos a classe dos artistas acabando com os hippies assassinos de Charles Manson, que na vida real chocaram Hollywood e marcaram o fim de um sonho de estilo de vida perfeito. Nada mais justo do que colocar artistas para massacrar assassinos, é irônico, mas é justiça poética, tão presente nos filmes do diretor.
Outra justiça foi a cutucada que deram no marido da Sharon, o diretor de cinema Roman Polanski ('O Bebê de Rosemary'), que futuramente estaria envolvido em escândalos sexuais de estupro e pedofilia. Em determinado momento se dá a entender que ela era boa demais pra ele e que mais cedo ou mais tarde ele faria uma bobagem e ela deixaria ele.
John Wick 3: Parabellum
3.9 1,0K Assista AgoraO 1° filme de 2014, apesar de clichê na trama, trouxe uma mitologia própria, boas cenas de ação e o protagonismo do querido Keanu Reeves, que estava em baixa na época. O 2° filme trouxe um reencontro de Reeves com Laurence Fishburne anos após 'Matrix' e surpreendeu ao expandir ainda mais o universo da saga, além de mais e melhores sequências de ação, com muito estilo e arte, sendo um dos melhores longas de 2017. Agora o 3° surge repetindo o sucesso, expandindo a nível mundial a franquia, com cenas de ação e visual cada vez mais caprichados!
Reeves continua incrível na pele do herói e desta vez a franquia traz de volta aos holofotes dois sumidos: Halle Berry e Mark Dacascos. As cenas de ação são eletrizantes, com sequências intermináveis de cair o queixo. E apesar de toda pancadaria, das mais variadas formas possíveis, a direção se preocupa em fazer tudo com estilo, com coreografias que mais parecem danças, uso de ângulos de câmera estilosos, muitas cores neon, plano-sequências incríveis e com figurino, direção de arte e trilha sonora muito bem feitas, que ajudam na composição das cenas. Ah, aqui os amigos doguinhos tem muito mais destaque! Há uma sequência de ação inacreditável envolvendo os personagens do Keanu e da Berry e os dois cães dela, os 4 contra um exército de vilões e sinceramente me pergunto até agora como "que raios" filmaram algumas das cenas, pois são incríveis e na maior parte do tempo são os cães reais (e não CGI). Quando você ver o filme entenderá, é de cair o queixo (se fizerem um filme só com esses cachorros combatendo o crime, eu assisto haha).
A saga está em expansão constante, a cada hora as coisas vão ficando mais graves, a escala e os desafios aumentam, até no final se deixam lacunas para algo sempre maior e mais intenso para o próximo filme. 'John Wick 3' é pura ação, de tirar o fôlego, ao mesmo tempo em que é muito bem dirigido, com um roteiro bem construído e um visual cheio de arte. E falar disso em um filme que deveria ser "só mais um filme de ação" não é pouca coisa. Na verdade é um dos melhores filmes do ano. Que venha o 4 e série, que já estão em desensolvimento!
Obs: John Wick é o protetor oficial dos doguinhos? 🐶🎬
Aladdin
3.9 1,3KO filme tem sérios problemas técnicos, principalmente de direção e visual. O diretor Guy Ritchie parace ter sido uma escolha equivocada para comandar o filme. Ele se sai razoavelmente bem em filmes simples e de ação ou crime. Mas parece que ele não sabe comandar superproduções. A direção é engessada, não é natural, falta algo ao filme pra fluir com suavidade. No visual, o CGI é ruim a maior parte do longa, com gráficos que parecem de um game, não parece que o longa teve todo um grande orçamento, pois às vezes parece não muito bem renderizado. Assim como algumas coisas na produção são estranhas, como a chapinha do cabelo do herói. E os vilões Jafar e Iago são muito fracos, descaracterizados. Iago pouco faz e Jafar, bem, ator errado, ele não ameaça, não tem força nem na atuação corporal, quanto menos na voz.
Adaptar a clássica animação 'Aladdin' seria de fato difícil, o original de 1992 é uma das melhores obras da Disney naquela época. Mas aqui tenta-se algumas coisas novas, sem desonrar o desenho. A vibe do filme é positiva, alegre, embora seja de cultura árabe, por vezes lembra o estilo dos filmes indianos de Bollywood. As partes musicais são nostálgicas e bonitas. Existe uma nova canção que empodera a Jasmine que parece não casar bem com o estilo épico do filme, mas não é uma canção ruim e adiciona camadas na princesa. Se na animação ela já tinha uma pegada feminista, aqui abraça-se isso com eficiência, uma mulher com voz ativa (especialmente no conservadorismo patriarcal árabe) é algo que o mundo necessita e ao menos na ficção nos presenteiam com isso. Naomi Scott é excelente como Jasmine, ela tem força em cena, bela voz e fico imaginando se o filme não seria inovador e melhor se ela fosse a verdadeira protagonista da obra. Já pensou um remake live-action feminista onde inverte-se o protagonismo? Ah se eu fosse o diretor ...
Mena Massoud dá conta do recado como Aladdin e Will Smith é incrível como o gênio. Smith é um dos atores mais carismáticos de Hollywood e aqui lembramos os motivos. Ele brilha em cena, adicionando sua personalidade própria (note a pegada hip-hop da canção 'Prince Ali'). E Smith energiza o seu Gênio sem desonrar o lendário Robin Williams, que fez um dos melhores trabalhos de dublagem da história, na clássica animação. Figurino, direção de arte, os números musicais e a trilha sonora são caprichadas, ajudando a dar uma vibe alegre à obra.
O novo 'Aladdin' tem tropeços, especialmente no visual, na direção sem visão e não é melhor que o original. Mas ainda existe um encanto, o trio principal manda muito bem em carisma e o filme joga a princesa Jasmine no elemento girl power que tanto se precisa na sociedade machista hoje em dia. Vale ser assistido sem cobrar demais.
Obs: eu assistia ao desenho quando criança e sempre quis um tapete mágico pra mim. Cresci e ainda continuo querendo 😜🎬
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraExistem dois fatos inegáveis: o cinema sul-coreano está em alta e o diretor Bong Joon-ho é um dos maiores cineastas do momento. Ele já entregou os sólidos 'O Hospedeiro', 'Okja' e 'O Expresso do Amanhã', dentre outros. Agora ele ataca novamente com o impressionate 'Parasite'. Uma família pobre começa a se infiltrar como empregados em diferentes áreas na mansão de uma família rica, com a esperança de usufruir um pouco da "boa vida". Eles farão qualquer coisa para chegar onde querem, fato que os colocariam numa posição de vilões, mas não é bem assim.
O roteiro é genial ao abordar o lado obscuro de todos, mas sem deixar de humanizar essa família "parasita", por assim dizer. Existem motivações para eles fazerem isso e a família rica não colabora muito, na verdade eles são detestáveis, mesmo que inicialmente fossem ser "vítimas" de aproveitadores. Com um malabarismo impressionante que passa por gêneros, o filme brinca e flerta com o drama (focando no emocional das figuras centrais), a comédia (sempre em tons ácidos e sarcásticos) e o suspense (crescente e cada vez mais nervoso, chegando a um final chocante).
'Parasite' é brilhantemente dirigido por Bong Joon-ho, com um ritmo frenético, ângulos de câmera inspirados, um senso estético perfeccionista, com uma mise en scène que ajuda a compor as metáforas e críticas sociais que permeiam o sagaz e feroz enredo. O filme desafia a sua mente a se questionar sobre situações do cotidiano, como um soco na mente, te causa desconforto e aqui se discute a tal meritocracia e as diferenças de classe. A burguesia é suja e o pobre que quer ser rico terá que se sujar também. E mesmo que um rico ou patrão fique feliz com sua melhoria na vida, como não saber que aquilo é falso e na verdade ele se sente ameaçado? Obra impressionante, uma das melhores do ano até então!
Obs: fique longe da bela família feliz, cidadão de bem com dinheiro e casarão, que só quer pagar seu estilo de vida e mantê-lo assim, fique bem longe ...
Stranger Things (3ª Temporada)
4.2 1,3KSérie: 'Stranger Things 3' (2019, de The Duffer Brothers)
Acho que à esta altura do campeonato a série dispensa apresentações, mas falando rapidamente para quem ainda está na dúvida se assiste ou não: a obra é uma ode, uma homenagem pura à cultura POP dos anos 80 e tudo, tudo que envolve a lendária década. Através de incontáveis referências, são retratadas séries, games, livros, brinquedos, artistas, músicas, visual, tecnologia, utensílios do dia a dia e principalmente, o cinema. Dito isto, a terceira temporada mantém alta a dose de nostalgia, sendo uma verdadeira caça à referências.
Algumas são mais explícitas no andamento da trama, como cenas que remetem 'A Bolha Assassina', 'O Enigma do Outro Mundo', 'Invasores de Corpos', 'Alien' e diversas outras fontes. Outras são mais sutis, como em diálogos, camisetas e brinquedos (note as pelúcias de 'Gremlins' e vários outros no parque). O clima continua bastante próximo à uma obra do Spielberg ('E.T.'), porém apronfundando mais no terror gráfico como as obras citadas acima, adicionando uma pegada Stephen King ('IT') no desenvolvimento dos personagens. Personagens e atores, que a cada nova temporada estão mais velhos e maduros, e por isso, a narrativa do roteiro amadurece junto.
Nesta 3° temporada temos acontecimentos mais urgentes e chocantes, embora certa leveza e um ótimo humor ainda presentes, sentimos a gravidade do perigo de verdade e há consequências nisso. A série aposta nas referências e numa série de clichês que você já viu antes e normalmente isso é ruim. Mas como aqui o clima é um tanto descontraído e a intenção é essa, mesmo sem uma trama realista ou social, 'Strangers Things' se sustenta ao fazer tudo muito bem feito. A trama pode ser fantasiosa e longe de profunda, mas toda a brincadeira que o roteiro propõe é muito bem feito e funciona. Os efeitos especiais estão cada vez melhores, a trilha sonora é uma das melhores coisas da série não apenas pelas clássicas canções 80's, mas também pelas batidas de sintetizadores eletrônicos que dão uma nostalgia. E a cereja do bolo continua sendo o elenco, maravilhoso! Cada personagem, seja cômico ou sério, funciona, e muito! Millie Bobby Brown (a Onze) é uma ótima heroína. Dacre Montgomery (Billy) entrega um vilão de respeito e com camadas. A novata Maya Hawke (Robin) é maravilhosa, chegou agora e já roubou a cena. E todo elenco manda bem!
Com 8 episódios de 1 hora cada, a série parece mais um filme, uma superprodução. São 8 horas ininterruptas, que passam voando. São tantos personagens, tantas referências, as piadas funcionam tão bem, o terror funciona bem também, há bastante ação e um aprofundamento nas características de cada personagem, tudo tão bem editado, com um visual e som tão bons, que os episódios passam voando, chegando à um clímax eletrizante e bastante emocionante.
Homenageando o passado, mas adicionando elementos novos, adentrando no terror mas ainda mantendo uma leveza no sensacional elenco, 'Stranger Things' caminha para ser uma das melhores séries de fantasia já feitas. Tomara que mantenha a qualidade nas próximas temporadas, que segundo fontes, pode chegar ao fim em breve, o que é uma boa, ter poucos, mas excelentes episódios.
NOTA: 9,5
O Conto da Aia (1ª Temporada)
4.7 1,5K Assista AgoraMasterpiece!
Obra-prima!