Estamos na quarta temporada e ainda na ascendente! Fuc* yeah, 'Rick and Morty'! A densidade filosófica (episódio do 'save' de videogame, p.ex.), dramática (último episódio e do vaso sanitário escondido, p.ex.) e narrativa (episódio do trem de história) exige que a gente dê pause pra tentar pesar as implicações do que acabou de ver.
Assistir 'Rick and Morty' é ter que reavaliar sua visão da realidade a cada episódio. De quantas séries você pode dizer isto?
Pode ser a Síndrome de Estocolmo das séries mais longas falando (afinal, se contar The Big Bang Theory, já faz mais de uma década), mas essa série é muito boa. E apesar de toda a previsibilidade desse formato. A mitologia de cada personagem já consolidada, mais a sincronia entre os atores vestindo suas peles ficcionais, responde por quase todo o sucesso da série.
Despedida digna e elegante. Dá para sentir a emoção dos atores junto com a dos personagens, e como as séries longas como esta nos pegam de refém pelo convívio longevo, somos arrastado praquele abraço tocante do fim.
E é preciso lembrar mais uma vez que o roteiro dessa série sempre foi muito bem feito, com episódios memoráveis. A capacidade com que se conseguia equilibrar e entrelaçar três linhas de história (pelo menos) é de fato impressionante.
Série muito boa, sobretudo pela ambientação (a produção é maravilhosa!) e pela trama política e histórica (a maneira como explora a complexa correlação de forças no submundo e na Inglaterra é muito bem costurada). A inserção da Primeira Guerra como evento-chave da mudança no equilíbrio de poderes do submundo é ótimo, e o fato de que o inspetor mandado para investigar Birmingham ser desprezado por não ter ido à guerra é muito interessante, bem como a projeção da liderança feminina durante o conflito.
Contudo, ainda espero mais do desenvolvimento dramático dos personagens. Com exceção dos traumas de guerra (sobretudo os do Thomas), não houve uma grande guinada nessa direção. Penso que essa dimensão da série está demasiado ofuscada pela narrativa 'Macho Alfa' da coisa: todo mundo parece estar, o tempo todo, muito preocupado em se afirmar como o mais temível, o que fala mais grosso, o que faz as ameaças mais terríveis, o mais violento etc. Isso é um pouco cansativo. Às vezes dá impressão que estão todos medindo seus p***.
É uma pérola no meio desses sitcoms mais enlatados, com momentos muito criativos no que tange à narrativa, como no episódio em que vemos parte da trama se desenrolar aos olhos de uma formiga que anda pela casa, por exemplo.
Cada ator já encarnou tanto no seu personagem que a identidade que criaram para eles já participa da trama, como uma reputação que foi criada ao longo das temporadas anteriores, aparecendo madura aqui. O jeito meio bunda-mole do Hal, a fúria da Louis, a burrice do Reese, a precocidade do Dewey e assim por diante. Apesar de nome dele estar no título do série, a essa altura já é difícil dizer se o Malcolm é realmente o protagonista.
É como uma fábula infantil escrita pelo Edgar Allan Poe, e animada por uma galera que realmente gostasse do Poe: um esmero de animação, um senso de humor meio macabro, uma preocupação com as densidades subtextuais...é um espetáculo!
Provavelmente uma das melhores coisas que o Cartoon já fez.
Fará uma tremenda falta. São raras as séries que conseguem utilizar de maneira tão inteligente, criativa e engenhosa os recursos estéticos à sua disposição, e que conseguem tocar de modo tão doloroso em dilemas existenciais e comportamentais.
O episódio em que a Princess Carolyn tem que entrar no modo multi-tarefa extremo para dar conta da maternidade e da vida profissional é um ótimo exemplo. Não consigo me lembrar de uma representação tão certeira do processo de sobrecarga e da exaustão resultante.
O episódio em que Diane tenta escrever seu livro e o desenho tenta nos transportar para dentro do seu processo mental é outra demonstração disto. A reflexão filosófica que ela desencadeia tentando escrever suas memórias e dar sentido à sua vida é bela e terrível. Parece gritar o tempo todo: 'A existência e a essência não coincidem. Vida e sentido são forças que existem em universos diferentes, se tem uma ou a outra.'
Acho que sofre um pouco por conta das necessidades de que, ao fim de cada episódio, tudo volte a ser mais ou menos como era no início, para poder manter a continuidade. A despeito disto, me parece uma ótima oportunidade para expandir o universo Star Wars ou, pelo menos, explorar numa mídia mais acessível, a riqueza do universo expandido.
Tem cara demais de novela, e, provavelmente pelos mesmos motivos, prende o espectador na sua cola açucarada. Como historiador confesso que esperava que fizessem alguma coisa com a ambientação histórica, que insistissem um pouco mais em perseguir uma trama que se aproximasse da intriga política e do processo de ascensão do franquismo, fiquei um pouco decepcionado. Aconteceu que a História ficou sendo só isso mesmo: pano de fundo.
Tem algo que preciso tirar da cabeça: alguém mais acha que a atriz que faz a Lídia Aguilar (acho que é Blanca Suárez) é impassível demais? Eu sei que ela é uma femme fatale da época em que femmes fatales tinham de agir na encolha, e que isso talvez esteja por detrás do semblante de pedra que ela ostenta o tempo todo, mas ainda assim...
Apesar de ter dado a sensação de que tinha se perdido do início para o meio da temporada, se manteve firme e coerente. E, vou falar sem medo de queimar a língua: a guinada que deu no último episódio, com a resolução inusitada do imbróglio dessa temporada, promete uma excelente continuação.
Aquele tiro matou mais que o guarda que perseguia a Offred e podia comprometer a missão. Matou também a June (tal como o Waterford havia dito ao Luke, no Canadá) e, especulo, a possibilidade daquela resistência pacífica e silenciosa que se empreendeu até agora. A quarta temporada é a da Revolução, motherfucker!
Gostei muito da guinada que deram numa direção mais pesada, com um terror mais agressivo e cenas de violência mais extremas. Ficou parecendo que, a exemplo da inserção dos relacionamentos adolescentes, as temáticas da série vão como que acompanhando os personagens, e tornando-se assim mais adultos.
O que desgostei foi o tratamento maniqueísta e galhofeiro do plano russo: força a verossimilhança da série apesar do contexto Guerra Fria, e por vezes sem necessidade dramática - felizmente isso não ameaça a coerência dada pelos pontos fortes da série.
Não conta com o elemento da surpresa e com o chamariz da novidade, mas conseguiu trazer de volta os personagens e os elementos clássicos das primeiras partes de um modo crível e consequente - e contra as expectativas, eu diria, porque as partes 1 e 2 foram verdadeiros fenômenos televisivos, o que aumentava muito a chance do fracasso.
O que eu gosto particularmente, e fico feliz que não tenham esquecido disso na hora de ressuscitar a proposta da série, é a maravilhosa capacidade que ela tem de ganhar repentinamente um acento dramático decisivo, que não tem a rigor nada a ver com o assalto, e ele de repente tomar conta da trama. Lembro de duas ocasiões em especial, nessa temporada:
Mantém o brilhantismo da primeira e engrossa o grito das entrelinhas do enredo, aquele sufocado pelo mundo totalitário de Gilead: queremos todos ser humanos, mas o mundo que criamos, com todas as suas regras, estruturas e ideais, nos impede de sê-lo!
É como se alguém buscasse atualizar 'A letra escarlate', filosófica e esteticamente, mesclando-a com ficção científica e com problemáticas feministas. Falando assim parece ser ruim, quase uma salada russa, mas é uma das mais delicadas e pungentes séries de drama que me lembro de ter visto.
Uma das coisas mais estarrecedoras é ver um debate tão atual metamorfosear-se num universo ficcional tão retrógrado, com o futurista e o conservador, o progresso e o retrocesso, se entrelaçando numa forma toda retorcida, na qual seus elementos se confudem.
Menção honrosa para a cinematografia engenhosa e sensível, com um apego perfeccionista ao detalhe e à simetria (das roupas, dos prédios, dos símbolos, dos gestos etc.) que lembra Kubrick. As tomadas filmadas do alto são verdadeiramente primorosas.
Junção primorosa de documentário e drama. É como se um diretor particularmente talentoso para dirigir histórias dramáticas (um Iñarritu menos melancólico, alguém com o rigor narrativo de um Polanski, mais ou menos na linha dos irmãos Coen) fizesse uma parceria com a mão habilidosa do documentarista Ken Burns. Gosto particularmente das soluções explicativas encontradas para colocar o expectador a par dos pormenores técnicos necessários para entender o evento, cruciais que são para que se possa construir as situações-limite do enredo.
Deixa a gente com uma vontade enorme de ler o livro da Svetlana Aleksiévitch sobre o desastre nuclear, que serviu de base para a construção da mini-série.
Essa série tem se tornado cada vez melhor. Por 'enlatado' que seja, o texto tem trocadilhos e pequenos afagos de referência à cultura pop que divertem bastante, e nessa segunda temporada os atores se encaixaram nos personagens tão bem, ou os personagens se encarnaram tão bem, que o enredo e os diálogos tornam-se muito orgânicos - é como se cada personagem deixasse de ter estofo de espuma e tivesse agora entranhas mesmo, dadas pela 'mitologia' criada pela própria trajetória deles nesses dois anos.
Por mais que eu tenha ficado decepcionado como tantos, e por frustrado que eu possa estar com o desfecho da trama toda, sinto a necessidade de dizer que seria muito difícil a série conseguir estar à altura da expectativa enorme que ela mesma criou.
Eu sei o quão clichê é o argumento do "vítima-do-seu-próprio-sucesso", mas penso que ele se aplica nesse caso.
Não tão bom quanto a primeira, certamente muito melhor que a segunda.
A única coisa que me deixou particularmente incomodado foi a lentidão da narrativa, seu tom demasiado contemplativo imposto pelo personagem do Ali, e que a menor expressividade do personagem do Stephen Dorff (comparativamente ao peso de Woody Harrelson na primeira) não conseguiu contrabalançar.
De resto a série retomou a antiga forma, tanto em teor filosófico quanto em termos estéticos - sobretudo no que tange à narrativa, cuja alternância entre distintos tempos e a incorporação da senilidade como elemento-chave foram excelentes.
Uma última coisa: confesso que não entendi bem aquela cena final, com o Mahershala Ali sumindo em meio à selva, fardado no Vietnã. Alguém tem alguma interpretação daquilo? Todas as minhas explicações soam genéricas demais.
Sou bitch da França, não tem jeito. Mas o texto do Monty Don ajuda muito, pois destila da experiência visual que são as visitas aos jardins uma riqueza escrita primorosa.
Correndo o risco de soar como um tiozão moralista, digo: tenho uma preguiça enorme de levar a sério essa idealização da irresponsabilidade, como ocorre com o Jake Peralta.
Bela série, sobretudo pela combinação de excelente texto e excelentes atuações. O Michael Douglas e Alan Arkin conseguem fazer o texto elaborado do Lorre funcionar e soar natural, orgânico, verossímil. Enquanto assistia fiquei me perguntando se essa não seria uma versão Yankee de 'Memórias de minhas putas tristes', do García Márquez.
Tem algumas coisas que incomodam, como certa glamourização displiscente da vida criminosa, e um exagero romântico no retrato de Escobar-pai-de-família. Tem, por outro lado, coisas excelentes, como uma exploração muito inteligente do estatuto colonial à la anos 60 da América Latina, mostrando a bizarra correlação de forças engendrada pela política externa estadunidense em meio à Guerra Fria.
O enfoque dado à questão da extradição na série, para além do significado individual que implicou na trajetória de Pablo Escboar e inicidindo sobre a própria soberania da Colômbia, foi uma escolha louvável da parte de roteiristas e diretores. Aquilo é arte e política se complementando e se alçando mutuamente a patamares mais elevados.
Rick and Morty (4ª Temporada)
4.3 205 Assista AgoraEstamos na quarta temporada e ainda na ascendente! Fuc* yeah, 'Rick and Morty'! A densidade filosófica (episódio do 'save' de videogame, p.ex.), dramática (último episódio e do vaso sanitário escondido, p.ex.) e narrativa (episódio do trem de história) exige que a gente dê pause pra tentar pesar as implicações do que acabou de ver.
Assistir 'Rick and Morty' é ter que reavaliar sua visão da realidade a cada episódio. De quantas séries você pode dizer isto?
Jovem Sheldon (3ª Temporada)
4.2 53 Assista AgoraPode ser a Síndrome de Estocolmo das séries mais longas falando (afinal, se contar The Big Bang Theory, já faz mais de uma década), mas essa série é muito boa. E apesar de toda a previsibilidade desse formato. A mitologia de cada personagem já consolidada, mais a sincronia entre os atores vestindo suas peles ficcionais, responde por quase todo o sucesso da série.
Família Moderna (11ª Temporada)
4.3 209 Assista AgoraDespedida digna e elegante. Dá para sentir a emoção dos atores junto com a dos personagens, e como as séries longas como esta nos pegam de refém pelo convívio longevo, somos arrastado praquele abraço tocante do fim.
E é preciso lembrar mais uma vez que o roteiro dessa série sempre foi muito bem feito, com episódios memoráveis. A capacidade com que se conseguia equilibrar e entrelaçar três linhas de história (pelo menos) é de fato impressionante.
Peaky Blinders: Sangue, Apostas e Navalhas (1ª Temporada)
4.4 462 Assista AgoraSérie muito boa, sobretudo pela ambientação (a produção é maravilhosa!) e pela trama política e histórica (a maneira como explora a complexa correlação de forças no submundo e na Inglaterra é muito bem costurada). A inserção da Primeira Guerra como evento-chave da mudança no equilíbrio de poderes do submundo é ótimo, e o fato de que o inspetor mandado para investigar Birmingham ser desprezado por não ter ido à guerra é muito interessante, bem como a projeção da liderança feminina durante o conflito.
Contudo, ainda espero mais do desenvolvimento dramático dos personagens. Com exceção dos traumas de guerra (sobretudo os do Thomas), não houve uma grande guinada nessa direção. Penso que essa dimensão da série está demasiado ofuscada pela narrativa 'Macho Alfa' da coisa: todo mundo parece estar, o tempo todo, muito preocupado em se afirmar como o mais temível, o que fala mais grosso, o que faz as ameaças mais terríveis, o mais violento etc. Isso é um pouco cansativo. Às vezes dá impressão que estão todos medindo seus p***.
Malcolm (4ª Temporada)
4.2 12 Assista AgoraÉ uma pérola no meio desses sitcoms mais enlatados, com momentos muito criativos no que tange à narrativa, como no episódio em que vemos parte da trama se desenrolar aos olhos de uma formiga que anda pela casa, por exemplo.
Cada ator já encarnou tanto no seu personagem que a identidade que criaram para eles já participa da trama, como uma reputação que foi criada ao longo das temporadas anteriores, aparecendo madura aqui. O jeito meio bunda-mole do Hal, a fúria da Louis, a burrice do Reese, a precocidade do Dewey e assim por diante. Apesar de nome dele estar no título do série, a essa altura já é difícil dizer se o Malcolm é realmente o protagonista.
O Segredo Além do Jardim
4.7 222 Assista AgoraÉ como uma fábula infantil escrita pelo Edgar Allan Poe, e animada por uma galera que realmente gostasse do Poe: um esmero de animação, um senso de humor meio macabro, uma preocupação com as densidades subtextuais...é um espetáculo!
Provavelmente uma das melhores coisas que o Cartoon já fez.
BoJack Horseman (6ª Temporada)
4.6 296 Assista AgoraFará uma tremenda falta. São raras as séries que conseguem utilizar de maneira tão inteligente, criativa e engenhosa os recursos estéticos à sua disposição, e que conseguem tocar de modo tão doloroso em dilemas existenciais e comportamentais.
O episódio em que a Princess Carolyn tem que entrar no modo multi-tarefa extremo para dar conta da maternidade e da vida profissional é um ótimo exemplo. Não consigo me lembrar de uma representação tão certeira do processo de sobrecarga e da exaustão resultante.
O episódio em que Diane tenta escrever seu livro e o desenho tenta nos transportar para dentro do seu processo mental é outra demonstração disto. A reflexão filosófica que ela desencadeia tentando escrever suas memórias e dar sentido à sua vida é bela e terrível. Parece gritar o tempo todo: 'A existência e a essência não coincidem. Vida e sentido são forças que existem em universos diferentes, se tem uma ou a outra.'
The Boys (1ª Temporada)
4.3 820 Assista AgoraUau! Que subversão do universo de super-heróis! E eu que tinha achado que 'Watchmen' era o mais Lado B que dava pra ir nesse sentido...
O Mandaloriano: Star Wars (1ª Temporada)
4.4 532 Assista AgoraAcho que sofre um pouco por conta das necessidades de que, ao fim de cada episódio, tudo volte a ser mais ou menos como era no início, para poder manter a continuidade. A despeito disto, me parece uma ótima oportunidade para expandir o universo Star Wars ou, pelo menos, explorar numa mídia mais acessível, a riqueza do universo expandido.
As Telefonistas (1ª Temporada)
4.2 228 Assista AgoraTem cara demais de novela, e, provavelmente pelos mesmos motivos, prende o espectador na sua cola açucarada. Como historiador confesso que esperava que fizessem alguma coisa com a ambientação histórica, que insistissem um pouco mais em perseguir uma trama que se aproximasse da intriga política e do processo de ascensão do franquismo, fiquei um pouco decepcionado. Aconteceu que a História ficou sendo só isso mesmo: pano de fundo.
Tem algo que preciso tirar da cabeça: alguém mais acha que a atriz que faz a Lídia Aguilar (acho que é Blanca Suárez) é impassível demais? Eu sei que ela é uma femme fatale da época em que femmes fatales tinham de agir na encolha, e que isso talvez esteja por detrás do semblante de pedra que ela ostenta o tempo todo, mas ainda assim...
O Conto da Aia (3ª Temporada)
4.3 596 Assista AgoraApesar de ter dado a sensação de que tinha se perdido do início para o meio da temporada, se manteve firme e coerente. E, vou falar sem medo de queimar a língua: a guinada que deu no último episódio, com a resolução inusitada do imbróglio dessa temporada, promete uma excelente continuação.
Aquele tiro matou mais que o guarda que perseguia a Offred e podia comprometer a missão. Matou também a June (tal como o Waterford havia dito ao Luke, no Canadá) e, especulo, a possibilidade daquela resistência pacífica e silenciosa que se empreendeu até agora. A quarta temporada é a da Revolução, motherfucker!
Stranger Things (3ª Temporada)
4.2 1,3KGostei muito da guinada que deram numa direção mais pesada, com um terror mais agressivo e cenas de violência mais extremas. Ficou parecendo que, a exemplo da inserção dos relacionamentos adolescentes, as temáticas da série vão como que acompanhando os personagens, e tornando-se assim mais adultos.
O que desgostei foi o tratamento maniqueísta e galhofeiro do plano russo: força a verossimilhança da série apesar do contexto Guerra Fria, e por vezes sem necessidade dramática - felizmente isso não ameaça a coerência dada pelos pontos fortes da série.
La Casa de Papel (Parte 3)
4.0 637Não conta com o elemento da surpresa e com o chamariz da novidade, mas conseguiu trazer de volta os personagens e os elementos clássicos das primeiras partes de um modo crível e consequente - e contra as expectativas, eu diria, porque as partes 1 e 2 foram verdadeiros fenômenos televisivos, o que aumentava muito a chance do fracasso.
O que eu gosto particularmente, e fico feliz que não tenham esquecido disso na hora de ressuscitar a proposta da série, é a maravilhosa capacidade que ela tem de ganhar repentinamente um acento dramático decisivo, que não tem a rigor nada a ver com o assalto, e ele de repente tomar conta da trama. Lembro de duas ocasiões em especial, nessa temporada:
1. quando a nova negociadora consegue jogar Raquel contra o Professor e eles têm aquela discussão sobre ele ter vencido ela;
2. Nairóbi jogando na cara de Pallermo, logo depois de toda a arenga dele sobre 'Bum! Bum! Ciao!', que ele era apaixonado por Berlim. Momento de ouro!
O Conto da Aia (2ª Temporada)
4.5 1,2K Assista AgoraMantém o brilhantismo da primeira e engrossa o grito das entrelinhas do enredo, aquele sufocado pelo mundo totalitário de Gilead: queremos todos ser humanos, mas o mundo que criamos, com todas as suas regras, estruturas e ideais, nos impede de sê-lo!
O Conto da Aia (1ª Temporada)
4.7 1,5K Assista AgoraÉ como se alguém buscasse atualizar 'A letra escarlate', filosófica e esteticamente, mesclando-a com ficção científica e com problemáticas feministas. Falando assim parece ser ruim, quase uma salada russa, mas é uma das mais delicadas e pungentes séries de drama que me lembro de ter visto.
Uma das coisas mais estarrecedoras é ver um debate tão atual metamorfosear-se num universo ficcional tão retrógrado, com o futurista e o conservador, o progresso e o retrocesso, se entrelaçando numa forma toda retorcida, na qual seus elementos se confudem.
Menção honrosa para a cinematografia engenhosa e sensível, com um apego perfeccionista ao detalhe e à simetria (das roupas, dos prédios, dos símbolos, dos gestos etc.) que lembra Kubrick. As tomadas filmadas do alto são verdadeiramente primorosas.
Chernobyl
4.7 1,4K Assista AgoraJunção primorosa de documentário e drama. É como se um diretor particularmente talentoso para dirigir histórias dramáticas (um Iñarritu menos melancólico, alguém com o rigor narrativo de um Polanski, mais ou menos na linha dos irmãos Coen) fizesse uma parceria com a mão habilidosa do documentarista Ken Burns. Gosto particularmente das soluções explicativas encontradas para colocar o expectador a par dos pormenores técnicos necessários para entender o evento, cruciais que são para que se possa construir as situações-limite do enredo.
Deixa a gente com uma vontade enorme de ler o livro da Svetlana Aleksiévitch sobre o desastre nuclear, que serviu de base para a construção da mini-série.
Jovem Sheldon (2ª Temporada)
4.2 73 Assista AgoraEssa série tem se tornado cada vez melhor. Por 'enlatado' que seja, o texto tem trocadilhos e pequenos afagos de referência à cultura pop que divertem bastante, e nessa segunda temporada os atores se encaixaram nos personagens tão bem, ou os personagens se encarnaram tão bem, que o enredo e os diálogos tornam-se muito orgânicos - é como se cada personagem deixasse de ter estofo de espuma e tivesse agora entranhas mesmo, dadas pela 'mitologia' criada pela própria trajetória deles nesses dois anos.
Game of Thrones (8ª Temporada)
3.0 2,2K Assista AgoraPor mais que eu tenha ficado decepcionado como tantos, e por frustrado que eu possa estar com o desfecho da trama toda, sinto a necessidade de dizer que seria muito difícil a série conseguir estar à altura da expectativa enorme que ela mesma criou.
Eu sei o quão clichê é o argumento do "vítima-do-seu-próprio-sucesso", mas penso que ele se aplica nesse caso.
True Detective (3ª Temporada)
4.0 285Não tão bom quanto a primeira, certamente muito melhor que a segunda.
A única coisa que me deixou particularmente incomodado foi a lentidão da narrativa, seu tom demasiado contemplativo imposto pelo personagem do Ali, e que a menor expressividade do personagem do Stephen Dorff (comparativamente ao peso de Woody Harrelson na primeira) não conseguiu contrabalançar.
De resto a série retomou a antiga forma, tanto em teor filosófico quanto em termos estéticos - sobretudo no que tange à narrativa, cuja alternância entre distintos tempos e a incorporação da senilidade como elemento-chave foram excelentes.
Uma última coisa: confesso que não entendi bem aquela cena final, com o Mahershala Ali sumindo em meio à selva, fardado no Vietnã. Alguém tem alguma interpretação daquilo? Todas as minhas explicações soam genéricas demais.
Jardins Franceses com Monty Don
4.0 2Sou bitch da França, não tem jeito. Mas o texto do Monty Don ajuda muito, pois destila da experiência visual que são as visitas aos jardins uma riqueza escrita primorosa.
Brooklyn Nine-Nine (1ª Temporada)
4.3 437 Assista AgoraCorrendo o risco de soar como um tiozão moralista, digo: tenho uma preguiça enorme de levar a sério essa idealização da irresponsabilidade, como ocorre com o Jake Peralta.
Trailer Park Boys (4ª Temporada)
4.5 18Se algum dia alguém te perguntar o que significa a expressão 'white trash', recomende-os essa série.
O Método Kominsky (1ª Temporada)
4.1 102 Assista AgoraBela série, sobretudo pela combinação de excelente texto e excelentes atuações. O Michael Douglas e Alan Arkin conseguem fazer o texto elaborado do Lorre funcionar e soar natural, orgânico, verossímil. Enquanto assistia fiquei me perguntando se essa não seria uma versão Yankee de 'Memórias de minhas putas tristes', do García Márquez.
Narcos (1ª Temporada)
4.4 898 Assista AgoraTem algumas coisas que incomodam, como certa glamourização displiscente da vida criminosa, e um exagero romântico no retrato de Escobar-pai-de-família. Tem, por outro lado, coisas excelentes, como uma exploração muito inteligente do estatuto colonial à la anos 60 da América Latina, mostrando a bizarra correlação de forças engendrada pela política externa estadunidense em meio à Guerra Fria.
O enfoque dado à questão da extradição na série, para além do significado individual que implicou na trajetória de Pablo Escboar e inicidindo sobre a própria soberania da Colômbia, foi uma escolha louvável da parte de roteiristas e diretores. Aquilo é arte e política se complementando e se alçando mutuamente a patamares mais elevados.