Pelo formato adotado (alternância de stand-up com uma trama dramática), não pude deixar de tomar 'Seinfeld' como referência, o que me levou a ter que controlar o impulso quase-que-natural de tentar reduzir a coisa toda a um 'é melhor' ou 'é pior'. Por conta disto, digo: o stand-up do Louis C.K. é excelente, ele consegue ser grotesco o suficiente para pôr as coisas em perspectiva; mas a parte 'de enredo' da série é bem fraca, muito cheia de auto-comiseração, de um niilismo de barriga-cheia.
Razões dignas de serem citadas para indicar 'Stranger things' para alguém:
a) trilha sonora; b) personagens cativantes (e atores mirins excelentes); c) atmosfera anos 80 muito bem construída; d) roteiro e história amarradinhos e redondinhos; e) o timing do último episódio (que esbanjo de entrelaçamento de narrativas!)
Motivo para apontar de modo que não te achem 'bitch' da série:
- aquela trama com a 08 pareceu um pouco fora de propósito, rápida demais e um tanto quanto sem função. Embora dê para imaginar que ela tem a ver com a auto-descoberta da Eleven e do passado dela (até para que ela pudesse ter uma participação nos eventos da 2ª temporada que não se limitasse a ficar trancafiada naquela cabana do Hopper), me parece que ela ficou avulsa em relação à trama central dessa temporada.
Mantém o brilhantismo e continua altamente recomendável. Não somente pela trama, mas pelo experimentalismo da série em termos de narrativa, explorando formas diferentes de construir o episódio - alternando pontos de vista, indo e voltando no tempo, contando de um ponto de vista futuro, a partir do prisma de um observador senil etc.
Menção honrosa para aquele episódio sobre Beatrice, em que ela vai lembrando (fragmentariamente, já que está acometida de senilidade e esquecimento) sobre sua própria vida e maternidade. Que primor de amarração de roteiro e de estórias longevas agora finalmnte articuladas sob a luz! Que densidade psicológica e dramática! Que engenhosidade para representar os lapsos e lacunas da memória dela por meio da linguagem visual!
Como pode algo tão engraçado e cheio de ironias ser capaz de atingir notas trágicas e verdades existencialistas tão duras na mudança de uma cena? No início da sequência ainda estamos rindo da piadinha debochada anterior e então, 'Kapow!', toma-se uma reflexão filosófica doída e quase se perde o rumo. Que roteiro! Que personagem desprezível e fascinante!
Sou só eu ou mais alguém fica imaginando, ao atentar-se para os diálogos, o que estava de fato no roteiro e o que foi espocando no meio da gravação? Tem vezes que você percebe um microssegundo de hesitação diante da fala de alguém, como se eles estivessem pensando onde estava aquilo no script, e depois percebem que foi improvisação de momento, seguram a risada (nem sempre de maneira bem sucedida, hehe) e tocam o barco. Dez temporadas juntos deve render esse tipo de familiaridade e timing.
O último episódio ('Reynolds vs. Reynolds: the cereal defense') é uma pérola, sem dúvida entre os melhores da série. Pelo tom debochado com que os personagens falam e por conta dos argumentos toscos que eles usam a maior parte do tempo, podemos ser levados a crer que é uma série esdrúxula, com humor fácil e superficial ou, ainda, apelativo pelo grotesco e pelo grosseiro das situações. Mas aí vem episódios como esse e vemos que eles tocam em cordas muito mais profundas e sensíveis do que parece à primeira vista, e você vê que na verdade a tosquice é só carapaça, um artifício consciente para mostrar o absurdo de certas convenções e de certos comportamentos sociais.
Essa série é um primor! Alguém mais viu fortes traços de Camus no personagem do Matthew McConaughey? Os monólogos deles são brutais, são de uma crueza filosófica, de uma sinceridade desencantada e existencialista de arrancar os cabelos.
Me espantei pensando sobre como cada uma das Golden Girls traz um background interessante para conhecer os diferentes grupos que vieram a formar os Estados Unidos. Filtrem-se aqueles estereotipagens para fazer graça e os exageros que a comédia pede e teremos vários traços que ajudam a entender a herança sulista (Blanche), os imigrantes italianos (Sophia), os agricultores do Midwest (Rose) e os urbanóides não raro secos de Nova York (Dorothy). Todos eles são ajudaram a formar os Estados Unidos. São personagens ricos interpretados por atrizes que souberam dar personalidade a cada um deles. Trata-se, portanto, de uma série muito divertida.
Eis no que uma série bem escrita pode resultar: numa trama bem construída, bem pensada e bem amarrada. Mas 30 Rock é mais do que isso porque tem personagens muito bons e, para completar, um humor fino e cheio de referências à política e aos cidadãos médios norte-americanos, os quais, a propósito, não são tão distantes dos nossos. A inteligência das sátiras ao mundo das celebridades, à velha peleia entre democratas e republicanos, à televisão, à sociedade do espetáculo, ao individualismo, ao idealismo eram todos pontos a favor de 30 Rock e de Tina Fey, em particular.
Continua com o brilhantismo da primeira temporada preservando a essência que a consagrou, mas evoluindo, criado novas situações, colocando os personagens em contato com novos dilemas e novas realidades, todos esses lastreadas em um impecável trabalho de reconstrução de uma época, uma produção invejável e um diálogo com a História dos Estados Unidos do ponto de vista mais geral. Ou seja, tem todos os ingredientes de uma grande produção.
A questão que parece ser trazida à tona a todo o momento é: onde é que nossa vida se tornou tão complicada? hehehe. Larry David transforma tudo nem big deal, cara, como as convenções sociais podem ser massacrantes.
Louie (1ª Temporada)
4.3 42Pelo formato adotado (alternância de stand-up com uma trama dramática), não pude deixar de tomar 'Seinfeld' como referência, o que me levou a ter que controlar o impulso quase-que-natural de tentar reduzir a coisa toda a um 'é melhor' ou 'é pior'. Por conta disto, digo: o stand-up do Louis C.K. é excelente, ele consegue ser grotesco o suficiente para pôr as coisas em perspectiva; mas a parte 'de enredo' da série é bem fraca, muito cheia de auto-comiseração, de um niilismo de barriga-cheia.
Stranger Things (2ª Temporada)
4.3 1,6KRazões dignas de serem citadas para indicar 'Stranger things' para alguém:
a) trilha sonora;
b) personagens cativantes (e atores mirins excelentes);
c) atmosfera anos 80 muito bem construída;
d) roteiro e história amarradinhos e redondinhos;
e) o timing do último episódio (que esbanjo de entrelaçamento de narrativas!)
Motivo para apontar de modo que não te achem 'bitch' da série:
- aquela trama com a 08 pareceu um pouco fora de propósito, rápida demais e um tanto quanto sem função. Embora dê para imaginar que ela tem a ver com a auto-descoberta da Eleven e do passado dela (até para que ela pudesse ter uma participação nos eventos da 2ª temporada que não se limitasse a ficar trancafiada naquela cabana do Hopper), me parece que ela ficou avulsa em relação à trama central dessa temporada.
BoJack Horseman (4ª Temporada)
4.5 240 Assista AgoraMantém o brilhantismo e continua altamente recomendável. Não somente pela trama, mas pelo experimentalismo da série em termos de narrativa, explorando formas diferentes de construir o episódio - alternando pontos de vista, indo e voltando no tempo, contando de um ponto de vista futuro, a partir do prisma de um observador senil etc.
Menção honrosa para aquele episódio sobre Beatrice, em que ela vai lembrando (fragmentariamente, já que está acometida de senilidade e esquecimento) sobre sua própria vida e maternidade. Que primor de amarração de roteiro e de estórias longevas agora finalmnte articuladas sob a luz! Que densidade psicológica e dramática! Que engenhosidade para representar os lapsos e lacunas da memória dela por meio da linguagem visual!
BoJack Horseman (3ª Temporada)
4.6 267 Assista AgoraComo pode algo tão engraçado e cheio de ironias ser capaz de atingir notas trágicas e verdades existencialistas tão duras na mudança de uma cena? No início da sequência ainda estamos rindo da piadinha debochada anterior e então, 'Kapow!', toma-se uma reflexão filosófica doída e quase se perde o rumo. Que roteiro! Que personagem desprezível e fascinante!
It's Always Sunny in Philadelphia (10ª Temporada)
4.4 25Sou só eu ou mais alguém fica imaginando, ao atentar-se para os diálogos, o que estava de fato no roteiro e o que foi espocando no meio da gravação? Tem vezes que você percebe um microssegundo de hesitação diante da fala de alguém, como se eles estivessem pensando onde estava aquilo no script, e depois percebem que foi improvisação de momento, seguram a risada (nem sempre de maneira bem sucedida, hehe) e tocam o barco. Dez temporadas juntos deve render esse tipo de familiaridade e timing.
It's Always Sunny in Philadelphia (8ª Temporada)
4.4 26 Assista AgoraO último episódio ('Reynolds vs. Reynolds: the cereal defense') é uma pérola, sem dúvida entre os melhores da série. Pelo tom debochado com que os personagens falam e por conta dos argumentos toscos que eles usam a maior parte do tempo, podemos ser levados a crer que é uma série esdrúxula, com humor fácil e superficial ou, ainda, apelativo pelo grotesco e pelo grosseiro das situações. Mas aí vem episódios como esse e vemos que eles tocam em cordas muito mais profundas e sensíveis do que parece à primeira vista, e você vê que na verdade a tosquice é só carapaça, um artifício consciente para mostrar o absurdo de certas convenções e de certos comportamentos sociais.
True Detective (1ª Temporada)
4.7 1,6K Assista AgoraEssa série é um primor! Alguém mais viu fortes traços de Camus no personagem do Matthew McConaughey? Os monólogos deles são brutais, são de uma crueza filosófica, de uma sinceridade desencantada e existencialista de arrancar os cabelos.
As Super Gatas (2ª Temporada)
4.6 5Me espantei pensando sobre como cada uma das Golden Girls traz um background interessante para conhecer os diferentes grupos que vieram a formar os Estados Unidos. Filtrem-se aqueles estereotipagens para fazer graça e os exageros que a comédia pede e teremos vários traços que ajudam a entender a herança sulista (Blanche), os imigrantes italianos (Sophia), os agricultores do Midwest (Rose) e os urbanóides não raro secos de Nova York (Dorothy). Todos eles são ajudaram a formar os Estados Unidos. São personagens ricos interpretados por atrizes que souberam dar personalidade a cada um deles. Trata-se, portanto, de uma série muito divertida.
Um Maluco na TV (7° Temporada)
4.3 32Eis no que uma série bem escrita pode resultar: numa trama bem construída, bem pensada e bem amarrada. Mas 30 Rock é mais do que isso porque tem personagens muito bons e, para completar, um humor fino e cheio de referências à política e aos cidadãos médios norte-americanos, os quais, a propósito, não são tão distantes dos nossos. A inteligência das sátiras ao mundo das celebridades, à velha peleia entre democratas e republicanos, à televisão, à sociedade do espetáculo, ao individualismo, ao idealismo eram todos pontos a favor de 30 Rock e de Tina Fey, em particular.
Sentirei falta dessa série, com certeza.
Boardwalk Empire - O Império do Contrabando (2ª Temporada)
4.5 110 Assista AgoraContinua com o brilhantismo da primeira temporada preservando a essência que a consagrou, mas evoluindo, criado novas situações, colocando os personagens em contato com novos dilemas e novas realidades, todos esses lastreadas em um impecável trabalho de reconstrução de uma época, uma produção invejável e um diálogo com a História dos Estados Unidos do ponto de vista mais geral. Ou seja, tem todos os ingredientes de uma grande produção.
Como Eu Conheci Sua Mãe (1ª Temporada)
4.5 784 Assista Agora'It's going to be legend - wait, and I hope you're not intolerant to lacotsis - dary!' - Barney
Segura a Onda (1ª Temporada)
4.3 46 Assista AgoraA questão que parece ser trazida à tona a todo o momento é: onde é que nossa vida se tornou tão complicada? hehehe. Larry David transforma tudo nem big deal, cara, como as convenções sociais podem ser massacrantes.
Scrubs (9ª Temporada)
2.8 22Temporada bem ruinzinha. O que continua valendo a pena são as aniquilações verbais do Dr. Cox.