O privilégio racial e de classe sob a ótica do amadurecimento infanto-juvenil, a transição entre períodos históricos que invade a subjetividade familiar, o neoliberalismo de Reagan apoderando-se das instituições. Na impossibilidade de uma resolução com justiça, evidencia-se a frágil constituição moral de toda uma geração.
Apesar de toda força da abordagem sociopolítica, segue impressionando o domínio de Gray sobre o drama familiar. Após a conversa com o avô no parque, é devastador o peso com que Gray filma a mãe a observar aquela situação à distância pelo carro. Dá pra sentir sua dor tanto quanto na cena em que Joaquin Phoenix, também pelo carro, vê seu pai morrer em Os Donos da Noite. Outro paralelo com a própria filmografia do diretor vem do fascínio das crianças com a exploração espacial, remetendo ao tema de A Cidade Perdida de Z: diante da sensação de falência e descrença com seu próprio mundo, só resta sonhar em explorar novos lugares.
Certa vez, em uma artroscopia de joelho, acordei da anestesia no meio da operação com o médico-cirurgião falando para uma das enfermeiras: “É que eu sou especialista em quadril, não de joelho”. Nunca tive certeza se esse diálogo realmente aconteceu ou se foi um devaneio da sedação. Depois de assistir esse filme, tenho certeza que foi real.
Sobre o filme: confesso que cogitei sair no início da sessão, mas logo fiquei hipnotizado e horas depois não conseguia pensar em outra coisa senão no filme. Das experiências mais intensas que já tive em uma sala de cinema.
Acho que nem se eu presenciasse um ao vivo, iria acreditar tanto em milagres quanto acredito assistindo a esse filme. Parece que há algo nas imagens que vai além da materialidade da luz impressa na película. Não sei exatamente o que é, só sei que poucos conseguem sugerir essa presença em cena — e talvez ninguém tenha feito isso de forma tão assombrosa quanto Dreyer nesse filme. Dos maiores já feitos.
Kar-Wai faz questão de pontuar e reiterar os gestos, os toques, os olhares; detalhes que marcam a passagem do tempo e a construção de um amor eternizado. Momentos furtivos que são encenados repetidamente, porque os personagens sabem que são momentos que só podem sobreviver enquanto memória. A própria repetição do tema musical, que se torna quase um leitmotiv e quando tocado nos faz recordar do que acabamos de ver e sentir instantes antes, em cenas que começam a parecer cada vez mais como momentos suspensos no tempo. Quando a música volta a tocar nos créditos finais parece que é para, assim como aos personagens, nos assombrar com a lembrança de seu relacionamento e do que poderia ter sido.
O modo de filmar de Kar-Wai é como se estivesse construindo uma espécie de exercício de memória afetiva, para os personagens e para o espectador. A câmera sempre atenta aos detalhes dos espaços e aos movimentos de quem os ocupa. Corpos que congelam no tempo em corredores e escadas, cômodos que permanecem como testemunhas após seus antigos moradores se mudarem, um buraco na parede coberto por um punhado de lama. O espaço e a imagem como prova de existência da memória. "Pois se a memória dos homens é limitada, já a do mundo é eterna; e a ela ninguém poderá escapar."
Em Trânsito é um filme sobre construir identidades com ruínas, sobre a urgência do desprendimento para a sobrevivência, sobre a necessidade do autoengano para a manutenção da esperança, sobre o quanto pode haver de mesquinho na generosidade, sobre viver desencantos enquanto se espera por milagres. Temas de peso histórico flagrantes frente à câmera de Petzold, que revela espaços onde as mazelas da II Guerra transpõem-se à Europa atual. Angustiante perceber que tal distopia em nada parece exagerada ou deslocada. As vítimas e os algozes projetados parecem tanto extraídos de outrora quanto de nossa realidade vigente. Em que ano estamos?
Pra senha do vilão ser “B055man69” anotada em um post-it é porque o Spielberg obviamente chegou num ponto da carreira em que ele sabe que não precisa prestar contas a ninguém e tá tudo bem.
Quer dizer que tudo o que é preciso pra transformar um policial racista, misógno e extremamente violento em um novo homem, com valores e atitudes completamente diferentes, é uma carta póstuma do seu chefe? Claro que ir parar, coincidentemente, no mesmo leito de hospital do cara que você jogou pela janela do segundo andar e ele te oferecer um suco de laranja também ajuda.
Aí já dá pra ter uma noção dos maiores problemas do filme: esses truquezinhos de roteiro que pesam a mão nas viradas dramáticas e a falta de cuidado/sensibilidade/responsabilidade/noção/pesquisa/lógica/seiláoquemais com que o filme trata os temas levantados. O filme tem como mote inicial o estupro e morte de uma garota e a todo tempo tenta levantar questões raciais, mas a impressão que fica mesmo é que isso só serve como muleta pro roteiro, porque é impressionante como o filme passa pano pra um bocado de atitudes machistas e racistas e no fim ainda abraça a redenção do personagem que mais promoveu essas atitudes.
Todo mundo sabe que o personagem do Sam Rockwell torturou um cara negro, espancou e jogou pela janela outro cara, deu um soco na secretária dele, prendeu injustamente uma mulher negra e no final a gente simplesmente tem que esquecer tudo o que ele fez, já que ele milagrosamente se transformou em um cara legal? Tudo bem que ele foi demitido, mas, convenhamos, isso era o mínimo que podia ser feito, já que a gente tá falando de crimes e ele nem sequer foi indiciado por nada. Em qualquer filme um pouco mais sério, tudo isso poderia surgir como um comentário crítico à truculência policial e à impunidade com que isso é tratado dentro do próprio sistema criminal, mas obviamente esse não é o tratamento que o filme dá. Afinal, quem precisa de justiça legal quando o roteiro quer que você se sinta bem com o personagem quando ele está indo fazer justiça com as próprias mãos ao lado da protagonista?
Aí também tem a figura do xerife, que sabe de tudo isso e faz o que? Isso mesmo, passa pano pro cara, e uma piada racista e homofóbica, também. O filme ainda quer que a gente goste dele. Por quê? Porque ele tem câncer, oras. E duas filhas fofas. E, óbvio, porque ele é o Woody Harrelson.
Outra bola dentro que os caras tentam dar e erram feio é com a questão da violência doméstica. O filme pinta o ex-marido da Mildred como um agressor sacana, aí beleza. Mas então o cara aparece, enforca a personagem contra a parede e no minuto seguinte ela tá lá segurando a mão dele pra tentar consolá-lo. Tipo, deve ser ok perdoar instantaneamente uma agressão dessas se o cara estiver de luto, né. Pra piorar a namorada do cara vê a agressão e age como se estivesse tudo bem. Claro, ela é muito burra, assim como são todas as garotas jovens e bonitas. Dúvida? Presta atenção na secretária do Welby então.
O filme tenta falar até sobre o preconceito às pessoas com nanismo. A intenção é pra lá de bacana, mas o personagem do Peter Dinklage é tão mal aproveitado e deslocado do resto do filme que parece menos um comentário crítico do que uma subtrama pra lá de cruel. Tem também a crítica à igreja, que aparece em uma analogia mais aleatória e forçada que muita parábola bíblica.
A sensação que fica no final é que o filme quis abraçar todos os temas do mundo e trazer à discussão questões de todos os grupo sociais oprimidos, mas parece também que em momento algum se preocupou em fazer uma pesquisa cuidadosa sobre essas questões e tampouco conversar com as pessoas realmente afetadas por elas. Mas pra que fazer isso, né? Só colocar uma mulher como protagonista, uma mulher negra como chefe dela e outro personagem negro como chefe de polícia. Pronto, aí tá liberado falar o que você quiser e juntar tudo em um roteiro melodramático cheio de saquinhas espertas e alívios cômicos não tão cômicos assim (a não ser que você goste de piadas racistas, aí, meu amigo, esse filme foi feito pra você).
O tipo de filme que te faz repensar toda a filmografia do diretor. A "Fonte da Vida", por exemplo, conseguiu ir de "muito ruim" pra "tem coisa bem pior".
Duas horas de gente-bonita-vestindo-roupas-caras-em-locações-com-decoração-modernista rodopiando em frente a câmera. Tô falando de Song to Song, mas basicamente dá pra dizer a mesma coisa de todos os filmes recentes do diretor. Meio deprimente perceber como o Malick se reduziu a uma autoparódia, em que cada novo filme parece ser uma versão mais preguiçosa do anterior.
Quando o filme acabou, fiquei com uma sensação parecida com a que se tem quando se acaba de ganhar um presente. No caso, o presente de Hou Hsiao-hsien foi esse partilhamento do olhar sobre a experiência daquelas pessoas e daquele universo. Um universo concebido de forma tão rica e singular que, da mesma forma que parece ser capaz de abrigar todas as experiências do mundo, também parece existir somente em função daquilo que vemos em frente à câmera. E a grande força do filme reside mesmo nessa sensação paradoxal de estar em contato com memórias tão pessoais que aparentemente só mesmo seu dono seria capaz de encontrar um sentido totalizante a elas e, ao mesmo tempo, estar compartilhando de uma tentativa de compreensão do tempo que parece universal e passível a qualquer pessoa.
É até difícil falar de Animais Noturnos como um todo, porque é um filme que oscila muito na transição entre os três tempos narrativos apresentados. O que melhor funciona é a ficção policial do livro, tem os personagens mais interessantes e seus bons momentos de tensão, mesmo que também apresente certos clichês. As outras narrativas funcionam como uma espécie de espelho dessa, o que as torna enfadonhas e mesmo uma atriz como a Amy Adams acaba ficando apagada nesse papel passivo de autoanálise em que ela é colocada após iniciar a leitura do livro. E os flashbacks com certeza são o que o filme tem de pior, de tão caricatos que são na maioria de suas cenas. No final, mesmo que esses tempos consigam se amarrar, fica a sensação de que eles pouco acrescentam uns aos outros, denunciando um problema estrutural que o filme tenta esconder com os truques maneiristas de montagem que o Tom Ford usa aos montes pra ir conectando as histórias. Em suma, é um filme que se resolve mal isoladamente em suas narrativas e funciona ainda pior quando tenta dar sentido a elas como um todo.
Ao mesmo tempo em que parece surgir um flerte com um cinema malickiano e uma atualização temática na carreira do diretor, também me parece que Gus Van Sant se reduziu a uma versão preguiçosa dele mesmo. Uma versão preguiçosa de Gerry, pra ser mais específico. Um filme me lembra bastante o outro nessa jornada de autodescoberta que sai da vida ordinária e passa por reveses físicos para chegar à sua catarse. Mas nesse aqui falta uma concepção visual mais apurada e o roteiro acaba tendo que segurar muita coisa. O que não necessariamente seria um problema, se não fosse o fato dele caminhar numa crescente de escolhas fáceis e obviedades e, mesmo com suas deficiências, ser essencial para que tudo se amarre no final, com as imagens ganhando mais uma função ilustrativa do que trazendo uma força capaz de atribuir significados adicionais ao filme.
Novamente Clint trabalha a desconstrução do herói americano pós 11 de setembro, agora com ainda mais precisão do que em American Sniper. E o filme realmente funciona muito melhor quando foca no protagonista, no lado humano por trás da figura pública e na oposição entre a repercussão midiática e a realidade psíquica do personagem do que quando trabalha na construção mitológica do momento da aterrissagem, o que faz com que alguns flashbacks pareçam desnecessários. Fora isso, é um dos melhores trabalhos recentes de Clint, com seu classicismo e domínio narrativo sempre muito eficientes, o que já seria suficiente pra fazer de Sully um dos melhores filmes de 2016.
O que foi vendido como algo do patamar de 2001 e Solaris, chega no máximo ao nível de Interstellar. E há mesmo material para se comparar com Nolan, ambos cinemas de cenas insípidas com tramas autoexplicativas supostamente “profundas”, que preferem exagerar no didatismo e enfiar convicções goela abaixo do público a dar espaço para a reflexão e imaginação do espectador. É justamente o que acontece em A Chegada. Apesar do primeiro ato não ser de todo ruim e ter lá seus bons momentos quando consegue sustentar a atmosfera de mistério, no desenrolar do filme tudo acaba sendo sufocado por um roteiro altamente expositivo e um diretor que nunca se arrisca a ir além das convencionalidades. Sem falar na tentativa de emular uma estética contemplativa que só serve mesmo como maquiagem pra “densidade” do filme, nunca chegando perto da dimensão transcendentalista de um Malick ou Tarkovsky, que só ficam mesmo no plano da idealização referencial de Villeneuve.
A dinâmica interna que Miguel Gomes consegue criar nesse primeiro episódio é um negócio absurdo, é como se o filme tivesse uma linguagem própria, que emerge claramente quando o diretor abandona o filme. Mesmo sem alguém para guiá-lo, o filme segue, e as metáforas, outrora incapazes de serem compreendidas pela burrice confessa de seu realizador, encontram sozinhas seus próprios significados. Sozinhas não, mas como se Portugal, das relações previamente estabelecidas por Miguel Gomes, fosse agora capaz não só de se apresentar enquanto país, como também o fazer em forma de elemento montador do filme. Quando Sherazade entra em cena, o filme ganha ainda mais liberdade e toma emprestado de As Mil e Uma Noites sua estrutura e a característica fundamental de sua protagonista: a habilidade narrativa que lhe é capaz de adiar a morte. Dessa forma, o cineasta fugitivo, agora cativo de sua equipe, suplica por sua vida e em troca oferece histórias fantásticas, que passeiam entre personagens passíveis de existirem apenas no universo ficcional e críticas políticas fortemente calcadas na realidade.
Belas paisagens, trilha sonora alta sempre ditando o clima da cena, protagonista quase sempre filmada em planos próximos, amores reprimidos; tá tudo lá. Um pequeno manual de como se fazer um melodrama de época. Vinterberg se prende muito às convencionalidades do gênero, o que não é necessariamente ruim, mas, pra alguém do repertório dele, acaba sendo inofensivo demais. Acaba virando esse filme todo certinho, que nunca sai do lugar comum.
Por ser um Malick, vou dar mais uma chance na revisão, mas em uma primeira assistida diria que basicamente são duas horas de Christian Bale tendo uma crise existencial e rodopiando com mulheres bonitas em frente à câmera.
O maior problema do filme parece ser esse invólucro emocional que o David Schurmann criou em torno do filme e que é inexiste para o espectador que, diferente dele e de outros membros da família, não carrega consigo a memória de um convívio com a verdadeira Kat. Não por acaso, o único momento em que o filme conseguiu me tocar foi quando surgiram imagens de arquivo de Kat junto aos seus familiares. Nesses poucos minutos, o filme conseguiu trazer mais emoção do que durante todo o resto de sua projeção. Diante de uma verdadeira história de altruísmo e dedicação, faltou talento ao diretor para ir além de um filme caseiro. Claro, há um apuro técnico, mas todo esse visual envernizado parece servir apenas para tentar esconder uma total falta de identidade de seu realizador. O que sobra é a boa intenção de David Schurmann em homenagear a irmã. Pena que é preciso muito mais para se fazer um bom filme.
Armageddon Time
3.3 46 Assista AgoraO privilégio racial e de classe sob a ótica do amadurecimento infanto-juvenil, a transição entre períodos históricos que invade a subjetividade familiar, o neoliberalismo de Reagan apoderando-se das instituições. Na impossibilidade de uma resolução com justiça, evidencia-se a frágil constituição moral de toda uma geração.
Apesar de toda força da abordagem sociopolítica, segue impressionando o domínio de Gray sobre o drama familiar. Após a conversa com o avô no parque, é devastador o peso com que Gray filma a mãe a observar aquela situação à distância pelo carro. Dá pra sentir sua dor tanto quanto na cena em que Joaquin Phoenix, também pelo carro, vê seu pai morrer em Os Donos da Noite. Outro paralelo com a própria filmografia do diretor vem do fascínio das crianças com a exploração espacial, remetendo ao tema de A Cidade Perdida de Z: diante da sensação de falência e descrença com seu próprio mundo, só resta sonhar em explorar novos lugares.
De Humani Corporis Fabrica
3.7 6Certa vez, em uma artroscopia de joelho, acordei da anestesia no meio da operação com o médico-cirurgião falando para uma das enfermeiras: “É que eu sou especialista em quadril, não de joelho”. Nunca tive certeza se esse diálogo realmente aconteceu ou se foi um devaneio da sedação. Depois de assistir esse filme, tenho certeza que foi real.
Sobre o filme: confesso que cogitei sair no início da sessão, mas logo fiquei hipnotizado e horas depois não conseguia pensar em outra coisa senão no filme. Das experiências mais intensas que já tive em uma sala de cinema.
A Palavra
4.5 100Acho que nem se eu presenciasse um ao vivo, iria acreditar tanto em milagres quanto acredito assistindo a esse filme. Parece que há algo nas imagens que vai além da materialidade da luz impressa na película. Não sei exatamente o que é, só sei que poucos conseguem sugerir essa presença em cena — e talvez ninguém tenha feito isso de forma tão assombrosa quanto Dreyer nesse filme. Dos maiores já feitos.
Amor à Flor da Pele
4.3 500 Assista AgoraKar-Wai faz questão de pontuar e reiterar os gestos, os toques, os olhares; detalhes que marcam a passagem do tempo e a construção de um amor eternizado. Momentos furtivos que são encenados repetidamente, porque os personagens sabem que são momentos que só podem sobreviver enquanto memória. A própria repetição do tema musical, que se torna quase um leitmotiv e quando tocado nos faz recordar do que acabamos de ver e sentir instantes antes, em cenas que começam a parecer cada vez mais como momentos suspensos no tempo. Quando a música volta a tocar nos créditos finais parece que é para, assim como aos personagens, nos assombrar com a lembrança de seu relacionamento e do que poderia ter sido.
O modo de filmar de Kar-Wai é como se estivesse construindo uma espécie de exercício de memória afetiva, para os personagens e para o espectador. A câmera sempre atenta aos detalhes dos espaços e aos movimentos de quem os ocupa. Corpos que congelam no tempo em corredores e escadas, cômodos que permanecem como testemunhas após seus antigos moradores se mudarem, um buraco na parede coberto por um punhado de lama. O espaço e a imagem como prova de existência da memória. "Pois se a memória dos homens é limitada, já a do mundo é eterna; e a ela ninguém poderá escapar."
Em Trânsito
3.8 48 Assista AgoraEm Trânsito é um filme sobre construir identidades com ruínas, sobre a urgência do desprendimento para a sobrevivência, sobre a necessidade do autoengano para a manutenção da esperança, sobre o quanto pode haver de mesquinho na generosidade, sobre viver desencantos enquanto se espera por milagres. Temas de peso histórico flagrantes frente à câmera de Petzold, que revela espaços onde as mazelas da II Guerra transpõem-se à Europa atual. Angustiante perceber que tal distopia em nada parece exagerada ou deslocada. As vítimas e os algozes projetados parecem tanto extraídos de outrora quanto de nossa realidade vigente. Em que ano estamos?
A Casa Que Jack Construiu
3.5 788 Assista Agora............┏┓
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.......╱▔....V T N C... ▔╲
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Black Mirror: Bandersnatch
3.5 1,4KPena que não colocaram uma escolha pra fazer o filme começar a ficar bom.
Jogador Nº 1
3.9 1,4K Assista AgoraPra senha do vilão ser “B055man69” anotada em um post-it é porque o Spielberg obviamente chegou num ponto da carreira em que ele sabe que não precisa prestar contas a ninguém e tá tudo bem.
Enter The Void: Viagem Alucinante
4.0 871Assistir isso aqui acho que é a experiência mais próxima que alguém pode chegar do que seria ter um ataque epiléptico em slow motion.
O Passageiro
3.3 376 Assista AgoraQuando a galera do mal perceber que não se deve mexer com a família do Liam Neeson, a gente vai perder uns bons filmes de ação.
Aniquilação
3.4 1,6K Assista AgoraMirou em Stalker e Solaris, mas acertou em A Chegada.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraQuer dizer que tudo o que é preciso pra transformar um policial racista, misógno e extremamente violento em um novo homem, com valores e atitudes completamente diferentes, é uma carta póstuma do seu chefe? Claro que ir parar, coincidentemente, no mesmo leito de hospital do cara que você jogou pela janela do segundo andar e ele te oferecer um suco de laranja também ajuda.
Aí já dá pra ter uma noção dos maiores problemas do filme: esses truquezinhos de roteiro que pesam a mão nas viradas dramáticas e a falta de cuidado/sensibilidade/responsabilidade/noção/pesquisa/lógica/seiláoquemais com que o filme trata os temas levantados. O filme tem como mote inicial o estupro e morte de uma garota e a todo tempo tenta levantar questões raciais, mas a impressão que fica mesmo é que isso só serve como muleta pro roteiro, porque é impressionante como o filme passa pano pra um bocado de atitudes machistas e racistas e no fim ainda abraça a redenção do personagem que mais promoveu essas atitudes.
Todo mundo sabe que o personagem do Sam Rockwell torturou um cara negro, espancou e jogou pela janela outro cara, deu um soco na secretária dele, prendeu injustamente uma mulher negra e no final a gente simplesmente tem que esquecer tudo o que ele fez, já que ele milagrosamente se transformou em um cara legal? Tudo bem que ele foi demitido, mas, convenhamos, isso era o mínimo que podia ser feito, já que a gente tá falando de crimes e ele nem sequer foi indiciado por nada. Em qualquer filme um pouco mais sério, tudo isso poderia surgir como um comentário crítico à truculência policial e à impunidade com que isso é tratado dentro do próprio sistema criminal, mas obviamente esse não é o tratamento que o filme dá. Afinal, quem precisa de justiça legal quando o roteiro quer que você se sinta bem com o personagem quando ele está indo fazer justiça com as próprias mãos ao lado da protagonista?
Aí também tem a figura do xerife, que sabe de tudo isso e faz o que? Isso mesmo, passa pano pro cara, e uma piada racista e homofóbica, também. O filme ainda quer que a gente goste dele. Por quê? Porque ele tem câncer, oras. E duas filhas fofas. E, óbvio, porque ele é o Woody Harrelson.
Outra bola dentro que os caras tentam dar e erram feio é com a questão da violência doméstica. O filme pinta o ex-marido da Mildred como um agressor sacana, aí beleza. Mas então o cara aparece, enforca a personagem contra a parede e no minuto seguinte ela tá lá segurando a mão dele pra tentar consolá-lo. Tipo, deve ser ok perdoar instantaneamente uma agressão dessas se o cara estiver de luto, né. Pra piorar a namorada do cara vê a agressão e age como se estivesse tudo bem. Claro, ela é muito burra, assim como são todas as garotas jovens e bonitas. Dúvida? Presta atenção na secretária do Welby então.
O filme tenta falar até sobre o preconceito às pessoas com nanismo. A intenção é pra lá de bacana, mas o personagem do Peter Dinklage é tão mal aproveitado e deslocado do resto do filme que parece menos um comentário crítico do que uma subtrama pra lá de cruel. Tem também a crítica à igreja, que aparece em uma analogia mais aleatória e forçada que muita parábola bíblica.
A sensação que fica no final é que o filme quis abraçar todos os temas do mundo e trazer à discussão questões de todos os grupo sociais oprimidos, mas parece também que em momento algum se preocupou em fazer uma pesquisa cuidadosa sobre essas questões e tampouco conversar com as pessoas realmente afetadas por elas. Mas pra que fazer isso, né? Só colocar uma mulher como protagonista, uma mulher negra como chefe dela e outro personagem negro como chefe de polícia. Pronto, aí tá liberado falar o que você quiser e juntar tudo em um roteiro melodramático cheio de saquinhas espertas e alívios cômicos não tão cômicos assim (a não ser que você goste de piadas racistas, aí, meu amigo, esse filme foi feito pra você).
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraO tipo de filme que te faz repensar toda a filmografia do diretor. A "Fonte da Vida", por exemplo, conseguiu ir de "muito ruim" pra "tem coisa bem pior".
De Canção Em Canção
2.9 373 Assista AgoraDuas horas de gente-bonita-vestindo-roupas-caras-em-locações-com-decoração-modernista rodopiando em frente a câmera. Tô falando de Song to Song, mas basicamente dá pra dizer a mesma coisa de todos os filmes recentes do diretor.
Meio deprimente perceber como o Malick se reduziu a uma autoparódia, em que cada novo filme parece ser uma versão mais preguiçosa do anterior.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraO filme tem tanto de Jacques Demy quanto o Ryan Gosling tem de bom dançarino e cantor.
Um Tempo para Viver, um Tempo para Morrer
4.0 16Quando o filme acabou, fiquei com uma sensação parecida com a que se tem quando se acaba de ganhar um presente. No caso, o presente de Hou Hsiao-hsien foi esse partilhamento do olhar sobre a experiência daquelas pessoas e daquele universo. Um universo concebido de forma tão rica e singular que, da mesma forma que parece ser capaz de abrigar todas as experiências do mundo, também parece existir somente em função daquilo que vemos em frente à câmera. E a grande força do filme reside mesmo nessa sensação paradoxal de estar em contato com memórias tão pessoais que aparentemente só mesmo seu dono seria capaz de encontrar um sentido totalizante a elas e, ao mesmo tempo, estar compartilhando de uma tentativa de compreensão do tempo que parece universal e passível a qualquer pessoa.
Animais Noturnos
4.0 2,2K Assista AgoraÉ até difícil falar de Animais Noturnos como um todo, porque é um filme que oscila muito na transição entre os três tempos narrativos apresentados. O que melhor funciona é a ficção policial do livro, tem os personagens mais interessantes e seus bons momentos de tensão, mesmo que também apresente certos clichês. As outras narrativas funcionam como uma espécie de espelho dessa, o que as torna enfadonhas e mesmo uma atriz como a Amy Adams acaba ficando apagada nesse papel passivo de autoanálise em que ela é colocada após iniciar a leitura do livro. E os flashbacks com certeza são o que o filme tem de pior, de tão caricatos que são na maioria de suas cenas. No final, mesmo que esses tempos consigam se amarrar, fica a sensação de que eles pouco acrescentam uns aos outros, denunciando um problema estrutural que o filme tenta esconder com os truques maneiristas de montagem que o Tom Ford usa aos montes pra ir conectando as histórias. Em suma, é um filme que se resolve mal isoladamente em suas narrativas e funciona ainda pior quando tenta dar sentido a elas como um todo.
O Mar de Árvores
3.3 92 Assista AgoraAo mesmo tempo em que parece surgir um flerte com um cinema malickiano e uma atualização temática na carreira do diretor, também me parece que Gus Van Sant se reduziu a uma versão preguiçosa dele mesmo. Uma versão preguiçosa de Gerry, pra ser mais específico. Um filme me lembra bastante o outro nessa jornada de autodescoberta que sai da vida ordinária e passa por reveses físicos para chegar à sua catarse. Mas nesse aqui falta uma concepção visual mais apurada e o roteiro acaba tendo que segurar muita coisa. O que não necessariamente seria um problema, se não fosse o fato dele caminhar numa crescente de escolhas fáceis e obviedades e, mesmo com suas deficiências, ser essencial para que tudo se amarre no final, com as imagens ganhando mais uma função ilustrativa do que trazendo uma força capaz de atribuir significados adicionais ao filme.
Sully: O Herói do Rio Hudson
3.6 577 Assista AgoraNovamente Clint trabalha a desconstrução do herói americano pós 11 de setembro, agora com ainda mais precisão do que em American Sniper. E o filme realmente funciona muito melhor quando foca no protagonista, no lado humano por trás da figura pública e na oposição entre a repercussão midiática e a realidade psíquica do personagem do que quando trabalha na construção mitológica do momento da aterrissagem, o que faz com que alguns flashbacks pareçam desnecessários. Fora isso, é um dos melhores trabalhos recentes de Clint, com seu classicismo e domínio narrativo sempre muito eficientes, o que já seria suficiente pra fazer de Sully um dos melhores filmes de 2016.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraO que foi vendido como algo do patamar de 2001 e Solaris, chega no máximo ao nível de Interstellar. E há mesmo material para se comparar com Nolan, ambos cinemas de cenas insípidas com tramas autoexplicativas supostamente “profundas”, que preferem exagerar no didatismo e enfiar convicções goela abaixo do público a dar espaço para a reflexão e imaginação do espectador. É justamente o que acontece em A Chegada. Apesar do primeiro ato não ser de todo ruim e ter lá seus bons momentos quando consegue sustentar a atmosfera de mistério, no desenrolar do filme tudo acaba sendo sufocado por um roteiro altamente expositivo e um diretor que nunca se arrisca a ir além das convencionalidades. Sem falar na tentativa de emular uma estética contemplativa que só serve mesmo como maquiagem pra “densidade” do filme, nunca chegando perto da dimensão transcendentalista de um Malick ou Tarkovsky, que só ficam mesmo no plano da idealização referencial de Villeneuve.
As Mil e Uma Noites: Volume 1, O Inquieto
4.1 28 Assista AgoraA dinâmica interna que Miguel Gomes consegue criar nesse primeiro episódio é um negócio absurdo, é como se o filme tivesse uma linguagem própria, que emerge claramente quando o diretor abandona o filme. Mesmo sem alguém para guiá-lo, o filme segue, e as metáforas, outrora incapazes de serem compreendidas pela burrice confessa de seu realizador, encontram sozinhas seus próprios significados. Sozinhas não, mas como se Portugal, das relações previamente estabelecidas por Miguel Gomes, fosse agora capaz não só de se apresentar enquanto país, como também o fazer em forma de elemento montador do filme. Quando Sherazade entra em cena, o filme ganha ainda mais liberdade e toma emprestado de As Mil e Uma Noites sua estrutura e a característica fundamental de sua protagonista: a habilidade narrativa que lhe é capaz de adiar a morte. Dessa forma, o cineasta fugitivo, agora cativo de sua equipe, suplica por sua vida e em troca oferece histórias fantásticas, que passeiam entre personagens passíveis de existirem apenas no universo ficcional e críticas políticas fortemente calcadas na realidade.
Longe Deste Insensato Mundo
3.6 232 Assista AgoraBelas paisagens, trilha sonora alta sempre ditando o clima da cena, protagonista quase sempre filmada em planos próximos, amores reprimidos; tá tudo lá. Um pequeno manual de como se fazer um melodrama de época.
Vinterberg se prende muito às convencionalidades do gênero, o que não é necessariamente ruim, mas, pra alguém do repertório dele, acaba sendo inofensivo demais. Acaba virando esse filme todo certinho, que nunca sai do lugar comum.
Cavaleiro de Copas
3.2 412 Assista AgoraPor ser um Malick, vou dar mais uma chance na revisão, mas em uma primeira assistida diria que basicamente são duas horas de Christian Bale tendo uma crise existencial e rodopiando com mulheres bonitas em frente à câmera.
Pequeno Segredo
3.4 118 Assista AgoraO maior problema do filme parece ser esse invólucro emocional que o David Schurmann criou em torno do filme e que é inexiste para o espectador que, diferente dele e de outros membros da família, não carrega consigo a memória de um convívio com a verdadeira Kat. Não por acaso, o único momento em que o filme conseguiu me tocar foi quando surgiram imagens de arquivo de Kat junto aos seus familiares. Nesses poucos minutos, o filme conseguiu trazer mais emoção do que durante todo o resto de sua projeção.
Diante de uma verdadeira história de altruísmo e dedicação, faltou talento ao diretor para ir além de um filme caseiro. Claro, há um apuro técnico, mas todo esse visual envernizado parece servir apenas para tentar esconder uma total falta de identidade de seu realizador. O que sobra é a boa intenção de David Schurmann em homenagear a irmã. Pena que é preciso muito mais para se fazer um bom filme.