Espécie de Tempos Modernos francês sobre a ascendente sociedade de consumo, é um filme certamente difícil pra nossa nova sensibilidade dispersa, mas eu fiquei bastante contente de ter terminado. O Tati conseguiu criar uma obra cômica mas ácida, lenta mas agitada, coreografada mas caótica, cinzenta mas vibrante: uma espécie de desfile de coisas sutilmente ligadas, de pessoas vagamente atentas, de espaços inutilmente modernos, e que mesmo assim encontram aquele vago charme francês.
É realmente um feito você montar esses sets e trucagens quase como se fossem tableau vivants dos anos 60... mas infelizmente o pouco de estrutura narrativa que usaram é bastante monótona.
Nada a dizer sobre a direção de arte e fotografia do Terayama que, aqui como no resto da sua filmografia, é primorosa e já valeria por si. O que mais me alegrou, porém, foi notar as sutis ligações do Pastoral com os filmes-ensaios que surgiam na mesma época entre a França e a Alemanha. A rebeldia narrativa do Terayama se aproxima bastante de um Marker ou um Kluge, mas, como se sofresse entre a vontade de ver e a incapacidade de ser, o tom do diretor japonês será ao mesmo tempo radical e agônico. Ao meu ver, Pastoral é um filme que casa muito bem com Joguem Seus Livros: se um trata de uma certa inconformidade subjetiva e até cultural do diretor, o outro se atira de cabeça na irresolução sociopolítica de uma geração criada entre os demônios da guerra, os atavismos da cultura japonesa e os tratores da modernização vertiginosa do país. Diálogo de relógios que não se sobrepõem: o familiar de parede e madeira, e o individual de pulso e metal.
Independentemente das opiniões sobre a trama - que realmente não é tão boa -, esse filme do Komasa é de uma intuição tremenda. Se pensarmos que antecede até mesmo o Congresso Futurista (2013), que à época era uma ficção científica no mais puro sentido de ficção, esse filme se torna quase premonitório das problemáticas que a vivência juvenil em ambientes digitais engendrou.
Se a trama fosse tão bem amarrada quanto o plano sequência, seria um excelente filme. Minha impressão, no entanto, é de que ficou um estranho vazio entre a estrutura policial e dramática, que acabou aparando o personalismo tanto do argumento quanto dos personagens.
Monótono e prolixo. Na próxima, poderiam escolher arqueólogos menos vaidosos e roteiristas menos dramáticos, porque a série parece mais um grande afago de ego que um documentário de cunho pedagógico. As frases de efeito óbvias, as cenas toscamente roteirizadas, os comentários superficiais: absolutamente nada transmite sinceridade ou seriedade. A impressão que fica é de uma arqueologia coach: é tudo a "maior descoberta da história", o "sonho de qualquer arqueólogo", o "resultado de toda uma vida", e assim sucessivamente sem nenhum embasamento histórico. Deviam reassistir Segredos de Saqqara e tentar entender o que se perdeu entre essas duas produções....
Poxa, prum filme em que a protagonista é uma narratóloga, o desenvolvimento do enredo é bem precário. Tem aí algumas ligações entre as duas partes do filme - cada história do suposto djinn remete a algum aspecto do relacionamento anterior dela -, mas elas são tão mal trabalhadas que a impressão maior que fica é a de um enredo genérico, ou pior, indeciso. Coisa que impressiona, porque o trabalho de câmera é primoroso, e eles definitivamente não economizaram em atuação, cenografia e figurino. Vai entender..
Mais um belo filme do Zhang Yimou. Os figurinos e os cenários são de encher os olhos, e a fotografia sóbria soube equilibrar a teatralidade da coisa toda. O filme tem uma aura inesquecível de tragédia shakespeareana, e o enredo cumpre bem essa promessa. No mais, baixei querendo um wuxia qualquer, mas fico feliz que o diretor tenha abandonado um pouco suas famosas cenas de luta pra focar em maquinações de corte. Caiu bem no seu estilo.
O argumento dos sete mestres sempre me convence (El Topo, Ninja Scroll, Hero, etc), mas aqui ele parece quase secundário... O primeiro terço do filme é desperdiçado em picuinha, e as lutas de verdade acabaram ficando corridas, sem desenvolvimento lateral algum. O que salva são, de fato, as coreografias, que não dá pra falar mal de nada.
O pai dos folk horrors. A absoluta falta de violência do filme é algo que muito se tenta e pouco se sucede. O uso diegético da trilha é interessantíssimo, mesmo que erre o timing algumas vezes. Realmente, é um filme que nasceu clássico e continua assim: tudo nele ainda é tentativa, desconcerto, subversão. Mesmo os erros são sinceros, e nos apontam novas estratégias e caminhos. 10/10.
Um clássico é um clássico, né? Cômico e aterrorizador na medida certa, a trilha é bizarramente plagiada do Psicose mas se encaixa bem na trama, os efeitos especiais tem aquele charme que só os 80 proporcionam, e o arco do protagonista é bastante coerente, da primeira à última cena. A única coisa que me incomodou foi a atuação e a interação do casal principal, que foi de uma breguice assim, singular.
Apesar de ser um marco para o gênero documentário, contém muito pouco de documentário. Não se enganem, há muitas cenas encenadas, costumes criados e eventos editados nesse filme, ao ponto de, a olhos contemporâneos, ele ser mais propriamente um filme pseudoetnográfico ou docudramático. Fora isso, méritos pelo Flaherty pela edição que, basicamente, funda a verossimilhança do gênero.
Pra mim, Serviço Secreto foi uma tentativa bastante evidente de renovar a fórmula cinematicamente batida do 007 do Connery: pequenos chistes, destinos turísticos, lutas intermináveis, uma cena de cassino e algumas bondgirls subservientes. Chega a ser curioso que, dentre tantos filmes idênticos do 007, bem esse que tenta mudar alguma coisa caiu na obscuridade. Não por acaso, vão ser necessários outros trinta anos até que a série tenha ímpeto para se renovar novamente, já no arco do Craig.
Esse último filme deixou bastante claro pra mim a fórmula pronta do Studio Chizu: roteiros fracos e previsíveis, muitas vezes tomados sem modificações de histórias populares, mas com um verniz modernoso e uma animação impecável. Quer dizer, não é porque o filme se passa em ambiente digital (Suicide Room tem quantos anos já, quinze?) nem que ele é esteticamente bonito (botemos aqui o excelente Congresso Futurista) que se pode ignorar o roteiro nesse nível. Neste sentido, o Makoto Shinkai faz um trabalho incomparável: ainda traz um balaio cheinho de clichês, mas entende a necessidade da sutileza, do silêncio e da surpresa em qualquer filme que não menospreza o espectador. Enfim, a impressão que fica é que, de um diretor esteticamente interessante, o Mamoru virou um produtor executivo de filmes infantis.
O 3D mais impressionante que já vi. Fora isso, enredo repisado de mocinhos e vilões, com várias pontas soltas. Fica a impressão de que ou a produção do filme foi apressada - o que parece improvável, tendo em vista os quase dez anos de espera - ou o enredo foi diluído para dois títulos. O arco da filha, por exemplo, tem acenos ao longo de todo o filme, sem concretizar uma só conversa ou descoberta. Até mesmo o argumento principal do filme - o desenvolvimento pessoal do protagonista - parece somente preparar o terreno pra um segundo título que retornaria, enfim, à batalha contra a invasão. Resta disso tudo que o filme vai esquentando, esquentando, pra terminar no morninho. Mas que é um bom filme de domingo, isso ele é.
Válido como documento histórico das contradições práticas do marxismo e das mutações teóricas do documentarismo ao longo do século XX. Em particular, apresenta com bastante clareza a influência da factografia soviética na redescoberta da importância da montagem em filmes documentários por alguns diretores de vanguarda dos anos 60.
Novamente, Mia Goth e Ti West nos oferecem uma sinergia incrível entre atuação e direção em um enredo que parece saído da cabeça de uma Judy Garland psicótica. Não há grandes comentários aqui: a trilha é boa, a fotografia, excelente, nenhuma atuação deixa a desejar, e a direção de arte acertou demais no uso saturado mas contido de cores primárias. Meu único porém seria que o filme atinge seus ápices precisamente quando menos se leva à sério, o que não acontece com tanta frequência em Pearl como em X.
Playtime - Tempo de Diversão
4.0 54Espécie de Tempos Modernos francês sobre a ascendente sociedade de consumo, é um filme certamente difícil pra nossa nova sensibilidade dispersa, mas eu fiquei bastante contente de ter terminado. O Tati conseguiu criar uma obra cômica mas ácida, lenta mas agitada, coreografada mas caótica, cinzenta mas vibrante: uma espécie de desfile de coisas sutilmente ligadas, de pessoas vagamente atentas, de espaços inutilmente modernos, e que mesmo assim encontram aquele vago charme francês.
O Fantástico Mundo de Júlio Verne
3.8 3É realmente um feito você montar esses sets e trucagens quase como se fossem tableau vivants dos anos 60... mas infelizmente o pouco de estrutura narrativa que usaram é bastante monótona.
Lola Montes
4.0 23Um desses filmes que saímos de alma lavada pela beleza.
Meu Nome é Gal
3.1 118 Assista AgoraInfelizmente, é um filme que falha enquanto documentário e falta enquanto poesia.
Pastoral: Morrer no Campo
4.4 20Nada a dizer sobre a direção de arte e fotografia do Terayama que, aqui como no resto da sua filmografia, é primorosa e já valeria por si. O que mais me alegrou, porém, foi notar as sutis ligações do Pastoral com os filmes-ensaios que surgiam na mesma época entre a França e a Alemanha. A rebeldia narrativa do Terayama se aproxima bastante de um Marker ou um Kluge, mas, como se sofresse entre a vontade de ver e a incapacidade de ser, o tom do diretor japonês será ao mesmo tempo radical e agônico. Ao meu ver, Pastoral é um filme que casa muito bem com Joguem Seus Livros: se um trata de uma certa inconformidade subjetiva e até cultural do diretor, o outro se atira de cabeça na irresolução sociopolítica de uma geração criada entre os demônios da guerra, os atavismos da cultura japonesa e os tratores da modernização vertiginosa do país. Diálogo de relógios que não se sobrepõem: o familiar de parede e madeira, e o individual de pulso e metal.
Sala do Suicídio
3.8 275Independentemente das opiniões sobre a trama - que realmente não é tão boa -, esse filme do Komasa é de uma intuição tremenda. Se pensarmos que antecede até mesmo o Congresso Futurista (2013), que à época era uma ficção científica no mais puro sentido de ficção, esse filme se torna quase premonitório das problemáticas que a vivência juvenil em ambientes digitais engendrou.
Medusa Deluxe
3.2 19 Assista AgoraSe a trama fosse tão bem amarrada quanto o plano sequência, seria um excelente filme. Minha impressão, no entanto, é de que ficou um estranho vazio entre a estrutura policial e dramática, que acabou aparando o personalismo tanto do argumento quanto dos personagens.
Jogo Mortal
3.2 108 Assista AgoraÉ uma paródia, então quem vier buscando roteiros elaborados e suspenses de matar não vai encontrar não..
Morte no Nilo
3.1 351 Assista AgoraMeh.
Explorando o Desconhecido: A Pirâmide Perdida
3.4 6 Assista AgoraMonótono e prolixo. Na próxima, poderiam escolher arqueólogos menos vaidosos e roteiristas menos dramáticos, porque a série parece mais um grande afago de ego que um documentário de cunho pedagógico. As frases de efeito óbvias, as cenas toscamente roteirizadas, os comentários superficiais: absolutamente nada transmite sinceridade ou seriedade. A impressão que fica é de uma arqueologia coach: é tudo a "maior descoberta da história", o "sonho de qualquer arqueólogo", o "resultado de toda uma vida", e assim sucessivamente sem nenhum embasamento histórico. Deviam reassistir Segredos de Saqqara e tentar entender o que se perdeu entre essas duas produções....
Era Uma Vez um Gênio
3.5 159 Assista AgoraPoxa, prum filme em que a protagonista é uma narratóloga, o desenvolvimento do enredo é bem precário. Tem aí algumas ligações entre as duas partes do filme - cada história do suposto djinn remete a algum aspecto do relacionamento anterior dela -, mas elas são tão mal trabalhadas que a impressão maior que fica é a de um enredo genérico, ou pior, indeciso. Coisa que impressiona, porque o trabalho de câmera é primoroso, e eles definitivamente não economizaram em atuação, cenografia e figurino. Vai entender..
A Sombra do Reino
3.6 37 Assista AgoraMais um belo filme do Zhang Yimou. Os figurinos e os cenários são de encher os olhos, e a fotografia sóbria soube equilibrar a teatralidade da coisa toda. O filme tem uma aura inesquecível de tragédia shakespeareana, e o enredo cumpre bem essa promessa. No mais, baixei querendo um wuxia qualquer, mas fico feliz que o diretor tenha abandonado um pouco suas famosas cenas de luta pra focar em maquinações de corte. Caiu bem no seu estilo.
Heróis do Oriente
4.1 11 Assista AgoraO argumento dos sete mestres sempre me convence (El Topo, Ninja Scroll, Hero, etc), mas aqui ele parece quase secundário... O primeiro terço do filme é desperdiçado em picuinha, e as lutas de verdade acabaram ficando corridas, sem desenvolvimento lateral algum. O que salva são, de fato, as coreografias, que não dá pra falar mal de nada.
Super Mario Bros.: O Filme
3.9 781 Assista AgoraÉ bem feito, mas pouquíssimo original..
O Homem de Palha
4.0 483 Assista AgoraO pai dos folk horrors. A absoluta falta de violência do filme é algo que muito se tenta e pouco se sucede. O uso diegético da trilha é interessantíssimo, mesmo que erre o timing algumas vezes. Realmente, é um filme que nasceu clássico e continua assim: tudo nele ainda é tentativa, desconcerto, subversão. Mesmo os erros são sinceros, e nos apontam novas estratégias e caminhos. 10/10.
A Hora dos Mortos-Vivos
3.8 354Um clássico é um clássico, né? Cômico e aterrorizador na medida certa, a trilha é bizarramente plagiada do Psicose mas se encaixa bem na trama, os efeitos especiais tem aquele charme que só os 80 proporcionam, e o arco do protagonista é bastante coerente, da primeira à última cena. A única coisa que me incomodou foi a atuação e a interação do casal principal, que foi de uma breguice assim, singular.
Nanook, o Esquimó
3.8 81 Assista AgoraApesar de ser um marco para o gênero documentário, contém muito pouco de documentário. Não se enganem, há muitas cenas encenadas, costumes criados e eventos editados nesse filme, ao ponto de, a olhos contemporâneos, ele ser mais propriamente um filme pseudoetnográfico ou docudramático. Fora isso, méritos pelo Flaherty pela edição que, basicamente, funda a verossimilhança do gênero.
007: A Serviço Secreto de Sua Majestade
3.4 221 Assista AgoraPra mim, Serviço Secreto foi uma tentativa bastante evidente de renovar a fórmula cinematicamente batida do 007 do Connery: pequenos chistes, destinos turísticos, lutas intermináveis, uma cena de cassino e algumas bondgirls subservientes. Chega a ser curioso que, dentre tantos filmes idênticos do 007, bem esse que tenta mudar alguma coisa caiu na obscuridade. Não por acaso, vão ser necessários outros trinta anos até que a série tenha ímpeto para se renovar novamente, já no arco do Craig.
O Estranho na Praia
3.7 25 Assista AgoraEssa twinkinha sofreu, ein?
Belle
3.6 56Esse último filme deixou bastante claro pra mim a fórmula pronta do Studio Chizu: roteiros fracos e previsíveis, muitas vezes tomados sem modificações de histórias populares, mas com um verniz modernoso e uma animação impecável. Quer dizer, não é porque o filme se passa em ambiente digital (Suicide Room tem quantos anos já, quinze?) nem que ele é esteticamente bonito (botemos aqui o excelente Congresso Futurista) que se pode ignorar o roteiro nesse nível. Neste sentido, o Makoto Shinkai faz um trabalho incomparável: ainda traz um balaio cheinho de clichês, mas entende a necessidade da sutileza, do silêncio e da surpresa em qualquer filme que não menospreza o espectador. Enfim, a impressão que fica é que, de um diretor esteticamente interessante, o Mamoru virou um produtor executivo de filmes infantis.
Clichês de Hollywood: O Cinema Como Você Sempre Viu
3.5 30Excelente. Poderiam até ter alongado um pouco mais.
Avatar: O Caminho da Água
3.9 1,3K Assista AgoraO 3D mais impressionante que já vi. Fora isso, enredo repisado de mocinhos e vilões, com várias pontas soltas. Fica a impressão de que ou a produção do filme foi apressada - o que parece improvável, tendo em vista os quase dez anos de espera - ou o enredo foi diluído para dois títulos. O arco da filha, por exemplo, tem acenos ao longo de todo o filme, sem concretizar uma só conversa ou descoberta. Até mesmo o argumento principal do filme - o desenvolvimento pessoal do protagonista - parece somente preparar o terreno pra um segundo título que retornaria, enfim, à batalha contra a invasão. Resta disso tudo que o filme vai esquentando, esquentando, pra terminar no morninho. Mas que é um bom filme de domingo, isso ele é.
Pravda
3.5 5Válido como documento histórico das contradições práticas do marxismo e das mutações teóricas do documentarismo ao longo do século XX. Em particular, apresenta com bastante clareza a influência da factografia soviética na redescoberta da importância da montagem em filmes documentários por alguns diretores de vanguarda dos anos 60.
Pearl
3.9 987Novamente, Mia Goth e Ti West nos oferecem uma sinergia incrível entre atuação e direção em um enredo que parece saído da cabeça de uma Judy Garland psicótica. Não há grandes comentários aqui: a trilha é boa, a fotografia, excelente, nenhuma atuação deixa a desejar, e a direção de arte acertou demais no uso saturado mas contido de cores primárias. Meu único porém seria que o filme atinge seus ápices precisamente quando menos se leva à sério, o que não acontece com tanta frequência em Pearl como em X.