O quarto episódio é, até então, o mais Black Mirror da temporada, e isto é muito bom! Estabelecendo uma distopia em que pares perfeitos são descobertos através de um sistema de matchmaking, a narrativa opta por discutir bastante coisa sobre relacionamentos contemporâneos, ex: a inabilidade crescente em estabelecer um relacionamento espontâneo, senão mediante um app; a apreensão finalística em estabelecer prazos de validade em vez de apenas aproveitar o momento enquanto durar; a importância das decepções passadas etc.
É um episódio completo em explorar aquilo que se propõe, com a ajuda dos ótimos Georgina Campbell (apaixonante) e Joe Cole, cuja ansiedade emocional é emocionante sem apelar para o sentimentalismo. A química entre eles ajuda o espectador a comprar o casal, elemento indispensável para o sucesso do episódio, que encontra no formalismo da linguagem informações importantes: desde a presença, no design de produção, de abundantes estruturas regulares (quadrados, retângulos, hexágonos etc) até a falta quase total de tons vermelhos, que simbolizam o amor, dando lugar a tons de azul, amarelo, cinza e marrom que emprestam sua amargura aos demais relacionamentos vistos.
Mas é o desfecho, antecipado por uma conversa despretensiosa, que mais me impressionou, ao demonstrar que o amor requer a rebelião do coração para que possa ser, ao menos quase, uma ciência exata. Adorei!
Para comentários de todos os episódios da 4ª temporada de Black Mirror, acesse www.goo.gl/YpQdyV
É apenas natural, conhecendo a filmografia do diretor John Hillcoat (do maravilhoso "A Estrada"), que este episódio esteja menos preocupado com a tecnologia e mais com o que ela pretende revelar sobre o ser humano, em particular, sua protagonista, interpretada pela sempre competente Andrea Riseborough, encurralada por um segredo que a encontrou onde ela menos espera.
Mas neste mundo opaco em que pizzas são entregues por veículos automáticos e em que um dispositivo chamado relembrador permite acessar as memórias para múltiplos fins (ex: investigações de seguro), falta ao roteiro o liame que integre o futurismo apresentado e a narrativa desenvolvida. Não que os elementos não estejam todos presentes: a neve, que esconde tanto, o título "Crocodilo", em alusão à memória destes animais e também a seu couro grosso, e mesmo a mansão onde a protagonista habita, toda coberta de grandes painéis de vidro, cuja transparência é incrivelmente sugestiva.
Nem me incomodo que a ficção-científica seja pano de fundo para um típico thriller - até porque a ironia que encerra o episódio é curiosa -, e sim que a narrativa preocupe-se mais em escancarar o que estamos dispostos a fazer para proteger nossos segredos do que em desenvolver a dinâmica entre as personagens ou mesmo a coesão do roteiro, que parece mover-se adiante apenas em busca de chocar. Pelo menos, Andrea compensa.
Para comentários de todos os episódios da 4ª temporada de Black Mirror, acesse www.goo.gl/YpQdyV
Crítica: A premissa é das mais intrigantes e abre margem para debater dois temas distintos e atuais, muito bem conciliados: o limite do papel protetor e educador dos pais em uma época de acesso praticamente irrestrito à informação, através de uma tecnologia que possibilita a invasão da liberdade e da privacidade da filha, censurando até mesmo o que esta pode ver; e, em menor grau mas não menos importante, o grau de dependência das redes sociais, gestando uma espécie de stalker virtual, dependente de consumir a vida alheia.
Tais temas são amarrados pela atuação de Rosemarie DeWitt, que se esforça ao máximo para evitar o clichê da mãe sufocante e superprotetora, acrescentando ternura a sua composição, e pela direção consistente de Jodie Foster (de "Um Novo Despertar" e "Jogo do Dinheiro"), que confere um ar indie à ficção-científica, inclusive na fotografia com a câmera na mão e uma paleta mais lavada de cores.
Mas todo seu esforço não compensa a sensação de que havia mais a ser explorado no episódio que, se não é decepcionante, também não atinge as possibilidades de sua premissa, sobretudo diante de sua frustrante previsibilidade. Se por um lado há muito significado na forma com que Sara reage ao cachorro da casa vizinha - uma metáfora certeira do amadurecimento, cuja beleza decorre da simplicidade da abordagem -, por outro o controle parental é utilizado, na maior parte do tempo, sem ter a perspicácia de ir além da vigia, evitando o terreno pedregoso que seria debater as consequências da visão higienizada à Sara. Em resumo, é bom, mas deveria ser mais.
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A partir do que apenas aparenta ser mais uma paródia corriqueira de Star Trek, "USS Callister" revela-se mais ambicioso ao problematizar o ambiente corporativo e evidenciar o que se escondem detrás dos avatares das redes sociais. Com a duração de um longa-metragem (76 minutos), o episódio dirigido por Toby Haynes não tarda a apresentar o desenvolvedor Robert Daly (Jesse Plemons, também conhecido como clone de Matt Damon) e co-fundador de uma startup como vítima de uma espécie de bullying corporativo, sendo solenemente ignorado e destratado não somente pelo seu sócio, Walton (Jimmi Simpson), mas até pelos funcionários debaixo de si na hierarquia. Até que, ao chegar em casa, Robert satisfaz-se pessoalmente em uma realidade virtual em que é o capitão destemido de uma tropa estelar.
Não só sua calvície desaparece nesse mundo, mas a personalidade de Robert modifica-se radicalmente. E com ela, a compaixão que pensávamos sentir também se extingue; no lugar, uma mistura de repulsa, decorrente do assédio moral, da misoginia e de muito mais que entram na categoria de spoilers, e pena, já que sua visão de mundo é imatura e deturpada como resultado das frustrações que sente no mundo real. Se lá Robert é tímido, a frente de seu avatar é um troll, e as redes sociais estão cheias de pessoas assim, crentes de que estão protegidos pelo anonimato para cometer atrocidades e vomitar veneno.
E ainda que o roteiro apresente uma parcela de problemas, especialmente se pesarmos as reviravoltas a luz da informática ou, então, o tempo dos eventos retratados entre o real e o virtual, certo é que a narrativa absorve o espectador no mundo de Bob (literalmente!) e não o deixa escapar até o instante final. Um ótimo começo para a 4ª temporada de Black Mirror.
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Séries documentais como esta são importantes para recordar que a realidade é sempre mais estranha, convoluta e fascinante que a ficção. Ao longo de 4 horas divididas em 6 capítulos - que acabam sem que nos demos conta disto -, o documentarista vencedor do Oscar Errol Morris e Eric Olson visitam a trágica morte do pai deste, supostamente resultante de um experimento da CIA envolvendo LSD que o levou ao suicídio... mas há algo de podre no reino da Dinamarca.
Assim, usando Hamlet de Shakespeare como pano de fundo, a narrativa nos envolve em um loop infinito de revelações que criminaliza o Governo dos Estados Unidos - dá para confiar em governos? - e demonstra até onde este, a instituição e seus membros, estaria disposta a ir para encobrir a verdade. Que é reconstituída através dos relatos e inferências que se podem produzir com base na quantidade de informações, de forma sempre atraente e heterodoxa, dada a predileção de Errol Morris por ângulos inusitados e múltiplas câmeras (repare quantas apenas estão registrando seu bate-papo com Eric).
Por falar nele, Eric desponta como um herói trágico, incapaz de superar a morte do pai e as consequências negativas que esta carga pesada traz sobre sua vida, sem deixar de ser um interlocutor interessante, municiado de um senso crítico realista e aperfeiçoado ciente, contudo, de que jamais obterá a confissão que deseja e a verdade que buscou, por toda sua vida. Mas pode chegar perto o bastante de um fechamento amargo.
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Primeiramente, esqueça a comparação com Stranger Things. Não há nada nesta série alemã de ficção-científica que lembre, nem vagamente, a trama fantástica criada pelos irmãos Duffer. Se fosse comparar, Dark está mais para Lost, que parece obrigar, após cada episódio, que o espectador vá procurar nos fóruns de notícias explicações para o que acabou de assistir. Mas não estou aqui para mastigar a série, para isto há o Google.
Com uma atmosfera lúgubre e escura na qual os personagens nem exibem forças para sorrir, enquanto encaram, a distância, o esqueleto fantasmagórico da usina nuclear que traria prosperidade à região, Dark aproveita seu mistério central para compensar o mal-desenvolvimento dos muitos rostos, em períodos distintos, que atravessam a série. Há, claro, uma ou outra âncora narrativa, seja o policial Ulrich ou mesmo o misterioso Noah, mas nada que exija o envolvimento emocional do espectador - até porque o roteiro nem deseja criar dramas envolventes. O propósito está em um relacionamento exclusivamente intelectual com a série.
E não há nada de errado nisto, sobretudo porque viagens no tempo provocam angústia quando não compreendemos os paradoxos que elas encerram (confesso, às vezes até desenho as linhas do tempo para ver se não esqueci algo... De Volta para o Futuro que não me deixe mentir!), e o mistério alimenta-se da ideia de que o tempo não é contínuo nem linear, permitindo que o futuro modifique o passado, não apenas vice-versa. Dói a cabeça, confunde e machuca, mas também joga a gente dentro do buraco de minhoca do qual não escaparemos ilesos, invocando também a mitologia grega (Teseu, Ariadne e o Minotauro), a religião (33 anos, a idade de Cristo na cruz, separam as viagens) e a homenagem a H. G. Wells. Deste autor, deixo a dica para buscarem em A Máquina do Tempo a chave para aceitar o paradoxo, não para responder as muitíssimas perguntas deixadas no ar com a certeza de que novas temporadas virão. E serão bem-vindas.
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O evento televisivo de 2017 é o retorno da cultuada série "Twin Peaks", 26 anos após o término de sua segunda temporada, um marco que influenciou e sedimentou o caminho do sucesso de grande parte das produções que você tanto cultua atualmente, com seus mistérios movimentando a opinião pública, antes do advento de fóruns de especulação e discussão (ora, nem a internet como conhecemos existia).
Esqueça respostas triviais! Tal como a primeira temporada, o hermetismo narrativo de David Lynch admite somente interpretações para seu quebra-cabeça mundano, vulgar, surrealista, caótico, misterioso e, ultimamente, indecifrável, ao menos segundo a lógica herdada de produções cuja ambição morre na revelação da identidade do assassino. É isto exatamente o que você não encontrará neste blend de gêneros que tem início, por óbvio, no thriller até desaguar na comédia comportamental tipicamente Lynchniana, no novelesco de amores impossíveis e traumas familiares, no terror macabro e fantástico e na ficção-científica, ambos produtos da realidade alternativa (se o Episódio 8 não torcer e retorcer seus neurônios, não sei mais o que fará!), no policial com ênfase na violência gratuita de seus personagens e, enfim, no drama de identidade decorrente do conceito filosófico do Doppelgänger (o Duplo como narrado por Dostoiévski).
Uma ode à atmosfera construída com inteligência, contemplação, observação e a dose fortíssima de conhecimento da realidade e das potencialidades da linguagem, o retorno de "Twin Peaks" pode até não repetir o efeito da mítica temporada inicial - surpreender, no contexto audiovisual, passou a significar frustrar o espectador, que sempre espera o gabarito de suas perguntas ao término do show em vez de, ele próprio, formar a própria convicção -, mas permanece como um dos eventos que justificam meu amor a esta arte.
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Do ponto de vista técnico, a segunda temporada permanece impecável: a reconstrução da época com rigorosos detalhes, a trilha sonora capaz de retratar a realeza pelo valor que lhe é dado pelos ingleses, a fotografia elegante, sofisticada e exuberante em tema e conflito (quantas sequências memoráveis, como aquela em que a luz incidente no rosto de Elizabeth no décimo episódio é vencida pelas sombras subsequentes) e a montagem inteligente (p. ex.: os eventos antecedentes a certo escândalo amarrados pelo insistente toque do telefone ou, então, a cronologia livre no episódio que retroage para exibir por que um personagem foi esbofeteado na cara). Em síntese, a realeza como entendida por esta produção é glamorosa, mas também apática, e a interpretação de Claire Foy permanece um dos pontos altos da temporada, retratando o desconforto da rainha por meio do olhar vacilante, não decisivo, das mãos inquietas e do esbranquiçamento da já alva face sempre que confrontada com algum desdobramento político ou familiar. Ao passo que Matt Smith permanece digno no posto de sua cara-metade, embora sempre me incomode a forma com que o ator transformou o encarar de baixo para cima como muleta de interpretação. Porém, tanto talento envolvido não esconde o fato de que a série está mais preocupada com episódios em vez da construção deles ou de sua inter-conexão. Afora os três primeiros capítulos e o último, por decorrência, todos os demais têm um nível de independência preocupante entre si, com personagens que somem ou cujas consequências de suas ações não são mais visíveis, sem esquecer a presença de saltos no tempo que apaziguam os efeitos dramáticos e as relações conturbadas entre os membros centrais da corte. Episodicamente, funciona muitíssimo bem, sobretudo em função de Foy; a soma das partes, esta ainda pode melhorar.
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Amo faroestes e, certamente, os personagens criados por Scott Frank para esta série guardam complexidades raramente vistas no gênero. Mas, nesta terra abandonada por deus, o que produz eco narrativo com a igreja cuja construção jamais é concluída, a sensação é de que falta espírito ao lado do senso de inevitabilidade que é a chegada do bandido Frank Griffin à cidade de La Belle. Jeff Daniels, que interpreta o vilão, transcende em um papel irretocável, cuja vulnerabilidade decorrente da deficiência física não o impede de impor respeito e temor ao seu redor. É um daqueles personagens que todo ator ama interpretar, por ser cheio de nuances e conflitos, às vezes indescritíveis, em que a monstruosidade parece estar entranhada com humanidade - sei que parece contraditório, mas é isto de que mais gosto! -, e cada um dos encontros casuais revela isto de modo fascinante e inédito. Bem, vocês não acham curioso que eu esteja elogiando tanto o vilão? É porque o restante dos personagens, embora frutos de raízes sólidas, está degraus abaixo, mesmo que as performances de Jack O'Connell, Scoot McNairy, Michelle Dockery e outros sejam competentes. A sensação é a de que a esterilidade do oeste selvagem e o próprio estilo característico do gênero - mais contemplativo, brutal e desumano -, drenaram a vida sem oferecer o contraponto emocional, mesmo que a temática de empoderamento feminino neste ambiente inóspito e hostil e a capacidade de elas se defenderem com as próprias mãos sejam bem-vinda. Gostaria de ter sido fisgado, já que o gênero é oásis para a cinefilia, mas...
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Determinadas histórias são tão absurdas que o conceito de realidade expande-se para se adaptar a elas, e esta, retratada nesta minissérie documental em três capítulos, está neste grupo. A partir de um tuíte infeliz, ainda que compreensível, postado por Kate Del Castillo, após usufruir bastante sucesso como atriz de telenovelas mexicanas e tentar a sorte com papéis desafiadores em Hollywood, aquela se viu em uma trama envolvendo a admiração do narcotraficante, o desejo da indústria do entretenimento em capitalizar - na figura de um ator renomado e vencedor de dois Oscar -, e a difamação engendrada pela mídia e pelo Governo do México. A trama é boa demais para ser ignorada, e seus tentáculos ramificam-se em muitas direções, até mesmo à misoginia de conglomerados televisivos e da administração pública mexicana. Por estar narrada apenas do ponto de vista de Kate, já que os demais envolvidos decidiram não gravar depoimentos, a trama pode, à primeira vista, ser tendenciosa e digna de menos fé por parte do público, afinal revela apenas o lado da vítima sem ser contraditado. Por outro lado, ao permitir que os entrevistados expressem desagravo e reprovação em face a certas atitudes de Kate, a narrativa reganha a confiança em desenhar, de modo convincente, a teia intrincada em que Kate se envolveu. O resultado é esta minissérie contagiante, boa demais que, bem, é verdade.
Outra verdade? O @cinemacomcritica no instagram também está cheio de opiniões críticas para você, siga-nos lá :)
Baseado na autobiografia de Sophia Amoruso e estrelado por uma Britt Robertson em 220 V, o desafio desta série não é construir conflitos e resolvê-los em episódios curtos, com menos de 30 minutos cada, mas sim de estabelecer a sua protagonista, que é nossa guia pelos 13 episódios (12, se contarmos que em um deles, Annie assume o volante).
Mas antes de discutirmos isto, vamos rodear outros tópicos: a fotografia mais exposta do que o habitual e a quantidade de cores da série apontam para a personalidade over de Sophia, além de o uso da cor vermelha sugerir sua paixão intensa em se tornar dona do próprio nariz. Além disto, os personagens coadjuvantes são interessantes, ainda que subdesenvolvidos - exceto Annie -, e há decisões originais e criativas como aquela em que um fórum de debates na internet é reproduzido como se fosse uma mesa redonda onde se reúnem os inimigos do James Bond. E mesmo que haja obstáculos menores do que outros, soando mais como desculpa para encher linguiça, trata-se de uma obra importante por destacar o empenho e a determinação de uma mulher (ou de duas mulheres) para alcançarem seu sonho a despeito de homens acreditarem ou não no seu talento.
E aí voltamos a Britt Robertson, cuja estatura diminuta é inversamente proporcional ao tumulto que ela provoca, mera reprodução do que sente dentro de si: desbocada e insuportável às vezes, mas sempre determinada, confiante e intensa, Britt encontra algo para ser menos uma versão de "O Lobo de Wall Street" da moda fashion e ser mais humana, sobretudo nos seus relacionamentos com quem ama (seu pai, Annie e Shane). Uma série movimentada e envolvente apesar do formato flertar com a sitcom, com episódios soltos uns dos outros embora sejam naturalmente a evolução do predecessor em um todo que rodeia Sophia. Sempre ela.
Apesar de vizinhas, as cidades de Pagford e Fields têm em comum apenas o interesse no centro de recuperação para viciados em metadona, a Sweetlove House. E a intenção dos abastados de Pagford é de transformar a unidade em um spa para "embelezar" a cidade e evitar a presença indesejável dos "delinquentes viciados" que vêm de Fields. Leitor do livro de J. K. Rowling - que é mais sensacional do que a série Harry Potter -, a série transportou nos curtos 3 episódios (apenas 3 horas não parece o bastante) o que havia de essencial neste dilema: a relação de causa e efeito que nossas ações diárias têm na vida daqueles que compartilham conosco o direito de integrar a humanidade.
Humanidade. Dignidade. Respeito. Cidadania. Temas que parecem bonitos quando ditos em alto e bom som, mas parecem perder o sentido quando exigem sacrifícios sociais maiores (a palavra assistencialismo e a ojeriza que desperta em muitos, vêm aqui a calhar; a crise internacional desatada com os imigrantes de guerra também desperta associações). Em suma, por mais bonita, bucólica e aprazível Pagford parece ser à primeira vista, boa parte de seus habitantes é vil, mesquinha, egoísta e alheia ao papel que a sociedade lhe incumbe; isto e grande parte das nuances narrativas estão na série, que considero atual, crítica e tocante.
Não use a falta de fidedignidade com a Bíblia pra julgar este filme, já que o livro de Bill O'Reilly e Martin Dugard humaniza a figura central de Jesus e suas ações adquirem então contornos não milagrosos, embora sejam divulgadas como se fossem. Nisto, o Jesus da narrativa é um homem inseguro que fortalece com a própria missão e a auto-afirmação de que é o filho de Deus, assim como ele, seus antagonistas (Herodes, Pilates, Caifas, Judas) ganham maiores conflitos, dúvidas, motivações fora da linearidade que o Texto lhes confere.
A importância história e o status de filme seminal do cinema não impedem que o trabalho de 7 horas de Louis Feuillade seja perfeito. Não é. Seu roteiro pobre e inconstante abusa do deus ex machina e soluções preguiçosas - os heróis descobrem o esconderijo dos vilões pelo rastro de óleo de um carro -, mas há um charme em ver Musidora (que interpreta Irma Vep) e o bando dos Vampiros (Satanás, Morèno, Venenos etc) contra o séquito do bem formado pelo jornalista Phillipe Guérande e o divertidíssimo Mazamete.
Confira a nossa opinião sobre o primeiro (e desinteressante) episódio de Believe, série criada por Alfonso Cuarón (que dirige o primeiro episódio) e produzida por J. J. Abrams.
Mais do que uma temporada sobre investigação de um serial killer, uma aula em desenvolvimento de personagens com dois intérpretes sensacionais e uma atmosfera perturbadora e sufocante.
Meus comentários sobre o último episódio, Form and Void: http://www.blogsoestado.com/emcartaz/2014/03/11/true-detective-s01e08-form-and-void/
Resta-nos aguardar que surpresas estão separadas por Fukunaga que, com uma trama gigantesca expandindo-se por quase 2 décadas e envolvendo dezenas de personagens, parece ter tudo sob controle. Diferente de Rust e Martin dentro do quarto escuro, trancado e circular das próprias vidas.
Comentários sobre o quinto episódio: http://www.blogsoestado.com/emcartaz/2014/02/19/true-detective-s01e05-the-secret-fate-of-all-life/
Uma das estreias mais antecipadas da temporada de séries chega a HBO, True Detective, com Matthew McConaughey e Woody Harrelson. Comentei aqui sobre o primeiro e ótimo episódio.
Enfim um episódio verdadeiramente bom e tenso além de sinalizar de novo às possibilidades vislumbradas no primeiro episódio, em se tratando do passado de Phil Coulson e o que aconteceu com ele após-Os Vingadores e um vilão no pano de fundo.
Confira os comentários - http://www.blogsoestado.com/emcartaz/2013/10/17/agentes-da-shield-s01e04-eye-spy/
O terceiro episódio é uma melhora singela em relação aos anteriores. Traz o "caso da semana", mas este funciona como uma história de origem do novo supervilão do universo Marvel, Graviton.
Black Mirror (4ª Temporada)
3.8 1,3K Assista AgoraHANG THE DJ.
O quarto episódio é, até então, o mais Black Mirror da temporada, e isto é muito bom! Estabelecendo uma distopia em que pares perfeitos são descobertos através de um sistema de matchmaking, a narrativa opta por discutir bastante coisa sobre relacionamentos contemporâneos, ex: a inabilidade crescente em estabelecer um relacionamento espontâneo, senão mediante um app; a apreensão finalística em estabelecer prazos de validade em vez de apenas aproveitar o momento enquanto durar; a importância das decepções passadas etc.
É um episódio completo em explorar aquilo que se propõe, com a ajuda dos ótimos Georgina Campbell (apaixonante) e Joe Cole, cuja ansiedade emocional é emocionante sem apelar para o sentimentalismo. A química entre eles ajuda o espectador a comprar o casal, elemento indispensável para o sucesso do episódio, que encontra no formalismo da linguagem informações importantes: desde a presença, no design de produção, de abundantes estruturas regulares (quadrados, retângulos, hexágonos etc) até a falta quase total de tons vermelhos, que simbolizam o amor, dando lugar a tons de azul, amarelo, cinza e marrom que emprestam sua amargura aos demais relacionamentos vistos.
Mas é o desfecho, antecipado por uma conversa despretensiosa, que mais me impressionou, ao demonstrar que o amor requer a rebelião do coração para que possa ser, ao menos quase, uma ciência exata. Adorei!
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Black Mirror (4ª Temporada)
3.8 1,3K Assista AgoraCROCODILE.
É apenas natural, conhecendo a filmografia do diretor John Hillcoat (do maravilhoso "A Estrada"), que este episódio esteja menos preocupado com a tecnologia e mais com o que ela pretende revelar sobre o ser humano, em particular, sua protagonista, interpretada pela sempre competente Andrea Riseborough, encurralada por um segredo que a encontrou onde ela menos espera.
Mas neste mundo opaco em que pizzas são entregues por veículos automáticos e em que um dispositivo chamado relembrador permite acessar as memórias para múltiplos fins (ex: investigações de seguro), falta ao roteiro o liame que integre o futurismo apresentado e a narrativa desenvolvida. Não que os elementos não estejam todos presentes: a neve, que esconde tanto, o título "Crocodilo", em alusão à memória destes animais e também a seu couro grosso, e mesmo a mansão onde a protagonista habita, toda coberta de grandes painéis de vidro, cuja transparência é incrivelmente sugestiva.
Nem me incomodo que a ficção-científica seja pano de fundo para um típico thriller - até porque a ironia que encerra o episódio é curiosa -, e sim que a narrativa preocupe-se mais em escancarar o que estamos dispostos a fazer para proteger nossos segredos do que em desenvolver a dinâmica entre as personagens ou mesmo a coesão do roteiro, que parece mover-se adiante apenas em busca de chocar. Pelo menos, Andrea compensa.
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Black Mirror (4ª Temporada)
3.8 1,3K Assista AgoraARKANGEL
Crítica: A premissa é das mais intrigantes e abre margem para debater dois temas distintos e atuais, muito bem conciliados: o limite do papel protetor e educador dos pais em uma época de acesso praticamente irrestrito à informação, através de uma tecnologia que possibilita a invasão da liberdade e da privacidade da filha, censurando até mesmo o que esta pode ver; e, em menor grau mas não menos importante, o grau de dependência das redes sociais, gestando uma espécie de stalker virtual, dependente de consumir a vida alheia.
Tais temas são amarrados pela atuação de Rosemarie DeWitt, que se esforça ao máximo para evitar o clichê da mãe sufocante e superprotetora, acrescentando ternura a sua composição, e pela direção consistente de Jodie Foster (de "Um Novo Despertar" e "Jogo do Dinheiro"), que confere um ar indie à ficção-científica, inclusive na fotografia com a câmera na mão e uma paleta mais lavada de cores.
Mas todo seu esforço não compensa a sensação de que havia mais a ser explorado no episódio que, se não é decepcionante, também não atinge as possibilidades de sua premissa, sobretudo diante de sua frustrante previsibilidade. Se por um lado há muito significado na forma com que Sara reage ao cachorro da casa vizinha - uma metáfora certeira do amadurecimento, cuja beleza decorre da simplicidade da abordagem -, por outro o controle parental é utilizado, na maior parte do tempo, sem ter a perspicácia de ir além da vigia, evitando o terreno pedregoso que seria debater as consequências da visão higienizada à Sara. Em resumo, é bom, mas deveria ser mais.
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Black Mirror (4ª Temporada)
3.8 1,3K Assista AgoraUSS CALLISTER
A partir do que apenas aparenta ser mais uma paródia corriqueira de Star Trek, "USS Callister" revela-se mais ambicioso ao problematizar o ambiente corporativo e evidenciar o que se escondem detrás dos avatares das redes sociais. Com a duração de um longa-metragem (76 minutos), o episódio dirigido por Toby Haynes não tarda a apresentar o desenvolvedor Robert Daly (Jesse Plemons, também conhecido como clone de Matt Damon) e co-fundador de uma startup como vítima de uma espécie de bullying corporativo, sendo solenemente ignorado e destratado não somente pelo seu sócio, Walton (Jimmi Simpson), mas até pelos funcionários debaixo de si na hierarquia. Até que, ao chegar em casa, Robert satisfaz-se pessoalmente em uma realidade virtual em que é o capitão destemido de uma tropa estelar.
Não só sua calvície desaparece nesse mundo, mas a personalidade de Robert modifica-se radicalmente. E com ela, a compaixão que pensávamos sentir também se extingue; no lugar, uma mistura de repulsa, decorrente do assédio moral, da misoginia e de muito mais que entram na categoria de spoilers, e pena, já que sua visão de mundo é imatura e deturpada como resultado das frustrações que sente no mundo real. Se lá Robert é tímido, a frente de seu avatar é um troll, e as redes sociais estão cheias de pessoas assim, crentes de que estão protegidos pelo anonimato para cometer atrocidades e vomitar veneno.
E ainda que o roteiro apresente uma parcela de problemas, especialmente se pesarmos as reviravoltas a luz da informática ou, então, o tempo dos eventos retratados entre o real e o virtual, certo é que a narrativa absorve o espectador no mundo de Bob (literalmente!) e não o deixa escapar até o instante final. Um ótimo começo para a 4ª temporada de Black Mirror.
Para comentários de todos os episódios da 4ª temporada de Black Mirror, acesse www.goo.gl/YpQdyV
Wormwood (1ª Temporada)
3.6 7 Assista AgoraSéries documentais como esta são importantes para recordar que a realidade é sempre mais estranha, convoluta e fascinante que a ficção. Ao longo de 4 horas divididas em 6 capítulos - que acabam sem que nos demos conta disto -, o documentarista vencedor do Oscar Errol Morris e Eric Olson visitam a trágica morte do pai deste, supostamente resultante de um experimento da CIA envolvendo LSD que o levou ao suicídio... mas há algo de podre no reino da Dinamarca.
Assim, usando Hamlet de Shakespeare como pano de fundo, a narrativa nos envolve em um loop infinito de revelações que criminaliza o Governo dos Estados Unidos - dá para confiar em governos? - e demonstra até onde este, a instituição e seus membros, estaria disposta a ir para encobrir a verdade. Que é reconstituída através dos relatos e inferências que se podem produzir com base na quantidade de informações, de forma sempre atraente e heterodoxa, dada a predileção de Errol Morris por ângulos inusitados e múltiplas câmeras (repare quantas apenas estão registrando seu bate-papo com Eric).
Por falar nele, Eric desponta como um herói trágico, incapaz de superar a morte do pai e as consequências negativas que esta carga pesada traz sobre sua vida, sem deixar de ser um interlocutor interessante, municiado de um senso crítico realista e aperfeiçoado ciente, contudo, de que jamais obterá a confissão que deseja e a verdade que buscou, por toda sua vida. Mas pode chegar perto o bastante de um fechamento amargo.
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Dark (1ª Temporada)
4.4 1,6KPrimeiramente, esqueça a comparação com Stranger Things. Não há nada nesta série alemã de ficção-científica que lembre, nem vagamente, a trama fantástica criada pelos irmãos Duffer. Se fosse comparar, Dark está mais para Lost, que parece obrigar, após cada episódio, que o espectador vá procurar nos fóruns de notícias explicações para o que acabou de assistir. Mas não estou aqui para mastigar a série, para isto há o Google.
Com uma atmosfera lúgubre e escura na qual os personagens nem exibem forças para sorrir, enquanto encaram, a distância, o esqueleto fantasmagórico da usina nuclear que traria prosperidade à região, Dark aproveita seu mistério central para compensar o mal-desenvolvimento dos muitos rostos, em períodos distintos, que atravessam a série. Há, claro, uma ou outra âncora narrativa, seja o policial Ulrich ou mesmo o misterioso Noah, mas nada que exija o envolvimento emocional do espectador - até porque o roteiro nem deseja criar dramas envolventes. O propósito está em um relacionamento exclusivamente intelectual com a série.
E não há nada de errado nisto, sobretudo porque viagens no tempo provocam angústia quando não compreendemos os paradoxos que elas encerram (confesso, às vezes até desenho as linhas do tempo para ver se não esqueci algo... De Volta para o Futuro que não me deixe mentir!), e o mistério alimenta-se da ideia de que o tempo não é contínuo nem linear, permitindo que o futuro modifique o passado, não apenas vice-versa. Dói a cabeça, confunde e machuca, mas também joga a gente dentro do buraco de minhoca do qual não escaparemos ilesos, invocando também a mitologia grega (Teseu, Ariadne e o Minotauro), a religião (33 anos, a idade de Cristo na cruz, separam as viagens) e a homenagem a H. G. Wells. Deste autor, deixo a dica para buscarem em A Máquina do Tempo a chave para aceitar o paradoxo, não para responder as muitíssimas perguntas deixadas no ar com a certeza de que novas temporadas virão. E serão bem-vindas.
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Twin Peaks (3ª Temporada)
4.4 622 Assista AgoraO evento televisivo de 2017 é o retorno da cultuada série "Twin Peaks", 26 anos após o término de sua segunda temporada, um marco que influenciou e sedimentou o caminho do sucesso de grande parte das produções que você tanto cultua atualmente, com seus mistérios movimentando a opinião pública, antes do advento de fóruns de especulação e discussão (ora, nem a internet como conhecemos existia).
Esqueça respostas triviais! Tal como a primeira temporada, o hermetismo narrativo de David Lynch admite somente interpretações para seu quebra-cabeça mundano, vulgar, surrealista, caótico, misterioso e, ultimamente, indecifrável, ao menos segundo a lógica herdada de produções cuja ambição morre na revelação da identidade do assassino. É isto exatamente o que você não encontrará neste blend de gêneros que tem início, por óbvio, no thriller até desaguar na comédia comportamental tipicamente Lynchniana, no novelesco de amores impossíveis e traumas familiares, no terror macabro e fantástico e na ficção-científica, ambos produtos da realidade alternativa (se o Episódio 8 não torcer e retorcer seus neurônios, não sei mais o que fará!), no policial com ênfase na violência gratuita de seus personagens e, enfim, no drama de identidade decorrente do conceito filosófico do Doppelgänger (o Duplo como narrado por Dostoiévski).
Uma ode à atmosfera construída com inteligência, contemplação, observação e a dose fortíssima de conhecimento da realidade e das potencialidades da linguagem, o retorno de "Twin Peaks" pode até não repetir o efeito da mítica temporada inicial - surpreender, no contexto audiovisual, passou a significar frustrar o espectador, que sempre espera o gabarito de suas perguntas ao término do show em vez de, ele próprio, formar a própria convicção -, mas permanece como um dos eventos que justificam meu amor a esta arte.
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The Crown (2ª Temporada)
4.5 254 Assista AgoraDo ponto de vista técnico, a segunda temporada permanece impecável: a reconstrução da época com rigorosos detalhes, a trilha sonora capaz de retratar a realeza pelo valor que lhe é dado pelos ingleses, a fotografia elegante, sofisticada e exuberante em tema e conflito (quantas sequências memoráveis, como aquela em que a luz incidente no rosto de Elizabeth no décimo episódio é vencida pelas sombras subsequentes) e a montagem inteligente (p. ex.: os eventos antecedentes a certo escândalo amarrados pelo insistente toque do telefone ou, então, a cronologia livre no episódio que retroage para exibir por que um personagem foi esbofeteado na cara). Em síntese, a realeza como entendida por esta produção é glamorosa, mas também apática, e a interpretação de Claire Foy permanece um dos pontos altos da temporada, retratando o desconforto da rainha por meio do olhar vacilante, não decisivo, das mãos inquietas e do esbranquiçamento da já alva face sempre que confrontada com algum desdobramento político ou familiar. Ao passo que Matt Smith permanece digno no posto de sua cara-metade, embora sempre me incomode a forma com que o ator transformou o encarar de baixo para cima como muleta de interpretação. Porém, tanto talento envolvido não esconde o fato de que a série está mais preocupada com episódios em vez da construção deles ou de sua inter-conexão. Afora os três primeiros capítulos e o último, por decorrência, todos os demais têm um nível de independência preocupante entre si, com personagens que somem ou cujas consequências de suas ações não são mais visíveis, sem esquecer a presença de saltos no tempo que apaziguam os efeitos dramáticos e as relações conturbadas entre os membros centrais da corte. Episodicamente, funciona muitíssimo bem, sobretudo em função de Foy; a soma das partes, esta ainda pode melhorar.
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Godless
4.3 224 Assista AgoraAmo faroestes e, certamente, os personagens criados por Scott Frank para esta série guardam complexidades raramente vistas no gênero. Mas, nesta terra abandonada por deus, o que produz eco narrativo com a igreja cuja construção jamais é concluída, a sensação é de que falta espírito ao lado do senso de inevitabilidade que é a chegada do bandido Frank Griffin à cidade de La Belle. Jeff Daniels, que interpreta o vilão, transcende em um papel irretocável, cuja vulnerabilidade decorrente da deficiência física não o impede de impor respeito e temor ao seu redor. É um daqueles personagens que todo ator ama interpretar, por ser cheio de nuances e conflitos, às vezes indescritíveis, em que a monstruosidade parece estar entranhada com humanidade - sei que parece contraditório, mas é isto de que mais gosto! -, e cada um dos encontros casuais revela isto de modo fascinante e inédito. Bem, vocês não acham curioso que eu esteja elogiando tanto o vilão? É porque o restante dos personagens, embora frutos de raízes sólidas, está degraus abaixo, mesmo que as performances de Jack O'Connell, Scoot McNairy, Michelle Dockery e outros sejam competentes. A sensação é a de que a esterilidade do oeste selvagem e o próprio estilo característico do gênero - mais contemplativo, brutal e desumano -, drenaram a vida sem oferecer o contraponto emocional, mesmo que a temática de empoderamento feminino neste ambiente inóspito e hostil e a capacidade de elas se defenderem com as próprias mãos sejam bem-vinda. Gostaria de ter sido fisgado, já que o gênero é oásis para a cinefilia, mas...
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Quando Conheci El Chapo
3.5 10 Assista AgoraDeterminadas histórias são tão absurdas que o conceito de realidade expande-se para se adaptar a elas, e esta, retratada nesta minissérie documental em três capítulos, está neste grupo. A partir de um tuíte infeliz, ainda que compreensível, postado por Kate Del Castillo, após usufruir bastante sucesso como atriz de telenovelas mexicanas e tentar a sorte com papéis desafiadores em Hollywood, aquela se viu em uma trama envolvendo a admiração do narcotraficante, o desejo da indústria do entretenimento em capitalizar - na figura de um ator renomado e vencedor de dois Oscar -, e a difamação engendrada pela mídia e pelo Governo do México. A trama é boa demais para ser ignorada, e seus tentáculos ramificam-se em muitas direções, até mesmo à misoginia de conglomerados televisivos e da administração pública mexicana. Por estar narrada apenas do ponto de vista de Kate, já que os demais envolvidos decidiram não gravar depoimentos, a trama pode, à primeira vista, ser tendenciosa e digna de menos fé por parte do público, afinal revela apenas o lado da vítima sem ser contraditado. Por outro lado, ao permitir que os entrevistados expressem desagravo e reprovação em face a certas atitudes de Kate, a narrativa reganha a confiança em desenhar, de modo convincente, a teia intrincada em que Kate se envolveu. O resultado é esta minissérie contagiante, boa demais que, bem, é verdade.
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Girlboss (1ª Temporada)
3.6 333 Assista AgoraBaseado na autobiografia de Sophia Amoruso e estrelado por uma Britt Robertson em 220 V, o desafio desta série não é construir conflitos e resolvê-los em episódios curtos, com menos de 30 minutos cada, mas sim de estabelecer a sua protagonista, que é nossa guia pelos 13 episódios (12, se contarmos que em um deles, Annie assume o volante).
Mas antes de discutirmos isto, vamos rodear outros tópicos: a fotografia mais exposta do que o habitual e a quantidade de cores da série apontam para a personalidade over de Sophia, além de o uso da cor vermelha sugerir sua paixão intensa em se tornar dona do próprio nariz. Além disto, os personagens coadjuvantes são interessantes, ainda que subdesenvolvidos - exceto Annie -, e há decisões originais e criativas como aquela em que um fórum de debates na internet é reproduzido como se fosse uma mesa redonda onde se reúnem os inimigos do James Bond. E mesmo que haja obstáculos menores do que outros, soando mais como desculpa para encher linguiça, trata-se de uma obra importante por destacar o empenho e a determinação de uma mulher (ou de duas mulheres) para alcançarem seu sonho a despeito de homens acreditarem ou não no seu talento.
E aí voltamos a Britt Robertson, cuja estatura diminuta é inversamente proporcional ao tumulto que ela provoca, mera reprodução do que sente dentro de si: desbocada e insuportável às vezes, mas sempre determinada, confiante e intensa, Britt encontra algo para ser menos uma versão de "O Lobo de Wall Street" da moda fashion e ser mais humana, sobretudo nos seus relacionamentos com quem ama (seu pai, Annie e Shane).
Uma série movimentada e envolvente apesar do formato flertar com a sitcom, com episódios soltos uns dos outros embora sejam naturalmente a evolução do predecessor em um todo que rodeia Sophia. Sempre ela.
Morte Súbita
3.2 110Apesar de vizinhas, as cidades de Pagford e Fields têm em comum apenas o interesse no centro de recuperação para viciados em metadona, a Sweetlove House. E a intenção dos abastados de Pagford é de transformar a unidade em um spa para "embelezar" a cidade e evitar a presença indesejável dos "delinquentes viciados" que vêm de Fields. Leitor do livro de J. K. Rowling - que é mais sensacional do que a série Harry Potter -, a série transportou nos curtos 3 episódios (apenas 3 horas não parece o bastante) o que havia de essencial neste dilema: a relação de causa e efeito que nossas ações diárias têm na vida daqueles que compartilham conosco o direito de integrar a humanidade.
Humanidade. Dignidade. Respeito. Cidadania. Temas que parecem bonitos quando ditos em alto e bom som, mas parecem perder o sentido quando exigem sacrifícios sociais maiores (a palavra assistencialismo e a ojeriza que desperta em muitos, vêm aqui a calhar; a crise internacional desatada com os imigrantes de guerra também desperta associações). Em suma, por mais bonita, bucólica e aprazível Pagford parece ser à primeira vista, boa parte de seus habitantes é vil, mesquinha, egoísta e alheia ao papel que a sociedade lhe incumbe; isto e grande parte das nuances narrativas estão na série, que considero atual, crítica e tocante.
Quem Matou Jesus?
3.4 4Não use a falta de fidedignidade com a Bíblia pra julgar este filme, já que o livro de Bill O'Reilly e Martin Dugard humaniza a figura central de Jesus e suas ações adquirem então contornos não milagrosos, embora sejam divulgadas como se fossem. Nisto, o Jesus da narrativa é um homem inseguro que fortalece com a própria missão e a auto-afirmação de que é o filho de Deus, assim como ele, seus antagonistas (Herodes, Pilates, Caifas, Judas) ganham maiores conflitos, dúvidas, motivações fora da linearidade que o Texto lhes confere.
Os Vampiros
4.0 75A importância história e o status de filme seminal do cinema não impedem que o trabalho de 7 horas de Louis Feuillade seja perfeito. Não é. Seu roteiro pobre e inconstante abusa do deus ex machina e soluções preguiçosas - os heróis descobrem o esconderijo dos vilões pelo rastro de óleo de um carro -, mas há um charme em ver Musidora (que interpreta Irma Vep) e o bando dos Vampiros (Satanás, Morèno, Venenos etc) contra o séquito do bem formado pelo jornalista Phillipe Guérande e o divertidíssimo Mazamete.
Believe (1ª Temporada)
3.7 125Confira a nossa opinião sobre o primeiro (e desinteressante) episódio de Believe, série criada por Alfonso Cuarón (que dirige o primeiro episódio) e produzida por J. J. Abrams.
http://www.blogsoestado.com/emcartaz/2014/03/20/believe-s01e01-pilot/
True Detective (1ª Temporada)
4.7 1,6K Assista AgoraMais do que uma temporada sobre investigação de um serial killer, uma aula em desenvolvimento de personagens com dois intérpretes sensacionais e uma atmosfera perturbadora e sufocante.
Meus comentários sobre o último episódio, Form and Void: http://www.blogsoestado.com/emcartaz/2014/03/11/true-detective-s01e08-form-and-void/
True Detective (1ª Temporada)
4.7 1,6K Assista AgoraA um episódio do final da primeira temporada, True Detective caminha para a revelação do Rei Amarelo, Carcosa e mais.
http://www.blogsoestado.com/emcartaz/2014/03/06/true-detective-s01e07-after-youve-gone/
True Detective (1ª Temporada)
4.7 1,6K Assista AgoraComentários sobre o sexto episódio que, nada mais é, do que a prévia do clímax.
http://www.blogsoestado.com/emcartaz/2014/02/27/true-detective-s01e06-haunted-houses/
True Detective (1ª Temporada)
4.7 1,6K Assista AgoraResta-nos aguardar que surpresas estão separadas por Fukunaga que, com uma trama gigantesca expandindo-se por quase 2 décadas e envolvendo dezenas de personagens, parece ter tudo sob controle. Diferente de Rust e Martin dentro do quarto escuro, trancado e circular das próprias vidas.
Comentários sobre o quinto episódio: http://www.blogsoestado.com/emcartaz/2014/02/19/true-detective-s01e05-the-secret-fate-of-all-life/
True Detective (1ª Temporada)
4.7 1,6K Assista AgoraComentários sobre o último episódio: http://www.blogsoestado.com/emcartaz/2014/02/12/true-detective-s01e04-who-goes-there/
P.S.: Você sabia que o título, Who Goes There?, é o mesmo nome da ficção-científica clássica que inspirou O Enigma de Outro Mundo?
True Detective (1ª Temporada)
4.7 1,6K Assista AgoraUma das estreias mais antecipadas da temporada de séries chega a HBO, True Detective, com Matthew McConaughey e Woody Harrelson. Comentei aqui sobre o primeiro e ótimo episódio.
http://www.blogsoestado.com/emcartaz/2014/01/14/true-detective-s01e01-the-long-bright-dark/
Agentes da S.H.I.E.L.D. (1ª Temporada)
3.8 474 Assista AgoraEnfim um episódio verdadeiramente bom e tenso além de sinalizar de novo às possibilidades vislumbradas no primeiro episódio, em se tratando do passado de Phil Coulson e o que aconteceu com ele após-Os Vingadores e um vilão no pano de fundo.
Confira os comentários - http://www.blogsoestado.com/emcartaz/2013/10/17/agentes-da-shield-s01e04-eye-spy/
Agentes da S.H.I.E.L.D. (1ª Temporada)
3.8 474 Assista AgoraO terceiro episódio é uma melhora singela em relação aos anteriores. Traz o "caso da semana", mas este funciona como uma história de origem do novo supervilão do universo Marvel, Graviton.
Confira - http://www.blogsoestado.com/emcartaz/2013/10/10/agentes-da-s-h-i-e-l-d-s01e03-the-asset/
Agentes da S.H.I.E.L.D. (1ª Temporada)
3.8 474 Assista AgoraO segundo episódio equivale ao que a Marvel tem produzido nos cinemas, ou seja, filmes seguros, pouco ambiciosos e que assumem poucos riscos.
Minha opinião sobre 0-8-4
http://www.blogsoestado.com/emcartaz/2013/10/03/agentes-da-s-h-i-e-l-d-s01e02-0-8-4/