Que porrada na cara! Tive que pausar o filme algumas vezes porque não conseguia absorver tanta maldade, e também porque me senti atordoada em inúmeras cenas. Este filme é um retrato nu e cru da miséria do white trash australiano. Em diversos momentos chega a ser constrangedor observar todo esse estado de penúria ao qual a humanidade foi reduzida. A vida é bem dura naquele fim de mundo sujo e não há nenhuma perspectiva de futuro ou esperança que torne a existência daquelas pessoas um pouco menos miserável. Fadados ao pior da degradação moral e humana, uma vez que o abandono afetivo e a precariedade financeira surgem como fatores determinantes e condicionantes àquelas vidas, são pessoas que estão por conta própria, totalmente entregues à abjeção.
John não matava pelo ódio aos homossexuais e pedófilos, matava por sadismo, por prazer na crueldade e no sofrimento do outro. Se não houvesse gays e pedófilos na comunidade, ele arranjaria outro grupo para aterrorizar e despejar toda sua covardia travestida de "justiça". O filme traz uma reflexão social muito válida; com exceção da psicopatia, esse homem não é muito diferente desses "justiceiros sociais", tão presentes na realidade brasileira e que barbarizam comumente em nome de crimes cometidos contra "gente de bem". O que nos tornamos, hein? Métodos de tortura sobrepondo-se às leis. E a vida humana se reduz a nada.
Pobre Jamie. Foi apenas um adolescente que, completamente à toa e carente de uma figura paterna, acabou fazendo o que não queria e finalmente se deixou corromper pelas práticas homicidas do padrasto (claramente psicopata). Me doeu ver o tanto de abuso físico e psicológico que esse garoto teve que aguentar.
Sem dúvida, um dos filmes mais pesados - gáfica e psicologicamente - que já vi.
Filmeco medíocre, desonesto e misógino em absolutamente todos aspectos possíveis! Argh! Não sei de onde consegui força pra terminar de ver. Bla bla bla romantização de abuso bla bla bla protagonista babaca e completamente insuportável transformado em herói bla bla bla another boring movie, that's the truth!
Começo dizendo que os aspectos técnicos de La La Land são IM-PE-CÁ-VEIS, mas não foi esse o principal motivo pelo qual fui assisti-lo. Portanto, se você está interessado em ler sobre tais aspectos, minhas palavras não são para você, pois não discorrerei aqui sobre essa questão. E sempre deixando bem claro que minha opinião tem ligação e influência direta com a importância que eu dou ao cinema como ferramenta de análise capaz de dissecar e refletir a realidade cultural e política de um determinado contexto e sua época. Então, se você é um desses espectadores que só tem a pretensão de sentar na poltrona, comer sua pipoca e "desligar o cérebro" (odeio essa expressão), essas palavras também não são para você, ok? Nem perca seu tempo. Dito isso, bora falar dos impactos negativos que a mensagem desse filme traz consigo e das fantasias meritocráticas inatingíveis que ele reforça.
Esse é meu segundo filme do Damien Chazelle, e uma coisa que eu notei é que ele sempre pauta seus roteiros na busca incansável de seus personagens pelo reconhecimento e pela fama, e se você não alcança esse patamar do "sonho americano", você é um loser que não se esforçou o bastante pelos seus objetivos. São filmes que nos trazem motivação através de uma mensagem que é falsa e altamente ilusória. Particularmente, também me incomoda que este diretor goste tanto de celebrar ritmos construídos e eternizados por negros mas sempre protagonizados por brancos. Quando fui assistir esse filme eu não esperava de forma alguma que ele pintasse um retrato fidedigno da verdadeira realidade dos aspirantes a artistas em Los Angeles, mas eu também não esperava uma ode tão descarada ao "sonho americano" e a todo esse discurso de ideal meritocrático falido, e é exatamente em cima desse subjetivismo narcísico e conservador que essa obra se sustenta. Justamente por isso foi bem estranho ver o feedback da galera saindo da sessão, todo mundo muito empolgado, me dizendo o quão incrível se sentiam e eu não consegui sentir a mesma coisa. Quer dizer, com quem esse filme tá realmente falando? Com certeza não comigo e nem com você. Me vêm à mente algumas reflexões inevitáveis; o quanto cada vez mais somos empurrados numa competitividade sem fim em busca de um ideal de sucesso inalcançável para maioria esmagadora da população, o quanto essa mentalidade dominante que a mídia e o capital nos impõe sobre o que é felicidade, forma um senso comum acerca das definições de "ganhar" e "perder". Ao final, uma coisa ecoou na minha cabeça: a glamourização de chegar a ser alguém famoso, por vezes, grita mais alto que a própria vontade de fazer arte e causar algum impacto no mundo através dela. Há infinitas maneiras de se viver a arte, tantas possibilidades... E me irrita sobremaneira que isso seja resumido a holofotes e aplausos. Tudo aqui é reduzido ao deslumbre do american way of life. Poxa, penso que é importante começarmos a questionarmos as dinâmicas e parâmetros de sucesso que nos são impelidos desde sempre por meio de produções como esta, e em meio a tudo isso, encontrar satisfação pessoal, não como utopia, mas como concretude. O filme tem seus momentos de beleza, mas o fato de estar vinculado a uma determinada perspectiva de classe me fez, do meu lugar, enxergá-lo quase como um devaneio, uma realidade fantasiosa. Apesar de estar sendo ovacionado pelos motivos errados, La La Land faz uma bela homenagem aos clássicos musicais da velha Hollywood - onde os tempos eram outros -. A problemática aqui reside no lugar em que essa mensagem está estruturada. O filme é bacana, divertiu, valeu o ingresso! Não preciso concordar moralmente como um filme para achá-lo bom. Sei separar as coisas.
"Mia: People love what other people are passionate about."
"Droga! Fui pega mais uma vez pelo combo pôster-tumblr-feelings + "universo paralelo" na sinopse. Isso precisa parar!
Ok, o filme começa e já nos primeiros minutos você pega um bode desgraçado do protagonista, isso porque não demora muito até percebermos que ele é aquele tipo de cara insuportavelmente pedante, que se acha melhor que todo mundo e adora fazer referências pseudointelectuais enquanto analisa tudo e todos a sua volta. Logo em seguida, somos apresentados a Kimberly, ela representa o típico esteriótipo da ~manic pixie dream girl~ e seu espírito livre equivale ao tamanho da sua falta de personalidade. Que mulher insuportável! Em diversos momentos fica claro que essa chata de galocha não nutre nenhuma boa vontade de manter a relação, pois a mesma está ocupada demais fazendo cobranças infundadas, criando paranóias e causando brigas do nada. Eu sei que muita gente que assistiu ao filme deve ter pensado que a culpa do relacionamento não ter dado certo foi somente do Dell por ele ter desperdiçado todas as chances que lhe foram dadas, mas isso não é totalmente verdade. A melancolia dela, às vezes, vai no limiar do óbvio e do sem sentido. Não há nada de muito verdadeiro na maneira como a personagem se relaciona com as pessoas ao seu redor. Dell e Kimberly são duas figuras extremamente egoístas que não curtem muito encarar as consequências das atitudes que tomam, agem por impulso e, ao primeiro sinal de que as coisas não estão dando certo, desistem um do outro e decidem seguir caminhos diferentes. Mesmo que em alguns momentos você torça para que aquilo dê certo de uma vez, você já sabe que está fadado ao fracasso. A relação deles não é saudável e, em diversas ocasiões, vira quase uma competição de quem machuca mais o outro. E eu nem sei se dá pra chamar aquilo de amor, uma vez que o próprio Dell assume a possibilidade de que talvez o que ele sente seja apenas dependência emocional. Acontece que dificulta muito se conectar com a história que o filme quer te contar quando você não está nem aí para os personagens e tudo que os circunda soa unidimensional e enfadonho. Grande parte dos diálogos são constituídos, literalmente, de referências que não acrescentam nada do ponto de vista narrativo. O que eu vi foi um amontoado de quotes artificiais e clichês que quase sempre caem pra filosofia barata. Nada soa orgânico nas conversas entre eles, simplesmente porque não parece o tipo de coisa que uma pessoa diria pra outra na vida real. Não sei, acho que faltou um diretor de mãos firmes pra corrigir alguns probleminhas de atuação dos dois atores, ambos parecem muito afetados e caricatos, sem falar na ausência de química. O filme toca muito na questão de só valorizar uma coisa quando essa coisa é perdida, e nos faz pensar em como aquilo que você diz e aquilo que o outro entende nem sempre é a mesma coisa. Mas nenhuma dessas reflexões é desenvolvida com profundidade. Sobram boas ideias, bastante estilização e uma premissa interessante, só que tudo acaba engolido pelo excesso de referências e falta de verossimilhança no comportamento dos personagens. Comet não foi um bom filme pra mim, mas talvez um coração partido ou um término recente afete seu julgamento sobre ele.
"Dell: If you're capable of making choices that knowingly hurts the other person, that's not love."
Bem repetitivo. O problema desse filme é que ele é chato pra cacete e ainda se acha muito sensível e autoral. Não há absolutamente nada acima das expectativas aqui. Com um roteiro que perambula em círculos e sempre volta para o mesmo lugar, parece mais um videoclipe de duas horas de duração. Prepotente. Essa é a palavra, prepotente ao extremo. Gaspar Noé é irritantemente autorreferente, irritantemente longo e insuportavelmente excessivo. Há um narcisismo sem precedentes aqui, muito maior do que o normalmente visto em suas obras anteriores. É como se ele tivesse a certeza de estar trabalhando num projeto realmente transgressor e genial. Se vende como um filme de amor - a começar pelo título -, mas não há nenhum tipo de amor aqui além do amor próprio. Btw, esse Murphy é um dos personagens mais desprezíveis que eu já tive o desprazer de ver em cena. Tudo gira em torno do pau dele e todas as vontades precisam ser obedecidas ao bel prazer dele. É o cara que vai acabar com a tua vida, te deixar na merda, e tudo bem, porque ele fode gostoso pra caralho.
E pra quem acha que esse filme quebrou tabus por causa de um punhado de cenas de sexo esteticamente bonitas e uma fotografia marcante, só uma coisinha: Lars Von Trier, John Cameron Mitchell, entre outros diretores e diretoras já fizeram isso, e de maneira infinitamente mais profunda. Eu recomendaria o filme numa boa se as pessoas soubessem assistir sem romantizar cada fragmento de abuso que veem pela frente, mas vocês não sabem; pelo menos é o que os arroubos (“belo!”, “poético!”, “libertador!”) da opinião geral sugerem nos comentários. Encerro minha opinião com uma frase dita pelo protagonista, que reflete a real filosofia por trás desse filme.
"Murphy: I wanna make movies out of blood, sperm and tears. That's the essence of life."
Todos os elogios não são suficientes perante ao que Andrei Tarkovski merece. Sessenta minutos é tão pouco tempo... Eu poderia ficar horas a fio apenas ouvindo este homem falar sobre sua arte.
Eu passo mal quando lembro da genialidade dessa obra-prima, sério mesmo. Revisitei-o; continua irretocavelmente poderoso, lírico e delicado. Aquele que viu essa obra e não sentiu nada, não gosta de cinema. Salve Tarkovski!
Pura identidade cultural. Uma ode ao sentimento mais cantado e decantado de todos os tempos, para todos que já sofreram ou sofrerão por ele. Se a paixão é a coisa mais brega do mundo, então somos todos bregas.
Não tem nada de novo a dizer sobre a indústria da moda, mas funciona como vislumbre de como se dá a construção social da figura feminina em cima da estética, e também como desmonte da estrutura do comércio de mulheres. A história assusta porque mostra mulheres grotescas e animalescas como homens. Refn tenta, porém, não consegue esconder sua visão fetichista sobre o tema. Além do mais, a vagarosidade, pedância e autoindulgência do filme começaram a incomodar demais a partir do segundo ato. Talvez eu dê uma segunda chance em outro momento.
É incrível como esse filme não conseguiu se aprofundar em absolutamente nenhuma das questões que se propôs a abordar. Não vou nem citar o outro famigerado filme da diretora aqui, como vi muitos tecerem comparações, porque o cu não tem a ver com as calças. São temáticas completamente diferentes e qualquer comparação entre as duas obras é sem sentido. Ok, o filme quer nos falar sobre um adolescente descobrindo-se sexualmente, identidade de gênero, sua líbido, seus amores, tudo isso acontecendo em meio a descoberta de que, na verdade, ele foi sequestrado enquanto ainda bebê na maternidade pela mulher que ele achou a vida inteira ser sua mãe. Eu tô aqui me perguntando como a Anna achou que seria possível desenvolver todas essas questões em míseros 80min. Deu no que deu: um filme que parece um curta, que acaba sem mais nem menos e que falha no propósito de causar reflexões. O processo da transição de gênero é totalmente negligenciado pelo roteiro, não há esmero, não há um olhar mais apurado sobre a questão. O filme parece dizer apenas que gênero é performance, e acho que nem se tocaram disso. Os problemas no roteiro não param por aí... Como ignorar o fato de que a mãe de criação e a irmã (também roubada) simplesmente desaparecem da metade do filme pra lá? O que diabos foi aquilo?! Outra coisa que me incomodou foi a construção do protagonista, ele não parece ter sido feito pra cativar. O machismo do personagem se manifesta em pequenas ações (não ajudando em casa, sequer sabe fritar um ovo), além disso, eu diria que ele tem sérias tendências à violência contra mulher (isso fica nítido nas cenas dele empurrando agressivamente sua ficante/namorada e a mãe biológica toda vez que explode de raiva). Pierre é apático, é tapado, sem carisma, não encanta, e eu acho que ele foi feito pra ser assim mesmo. Sem falar que a atuação do ator deixa muito a desejar. O resto do elenco é mediano em suas atuações (com exceção do Matheus Nachtergaele, sempre em nível máximo de excelência). Aproveitando o ensejo, por quê não falar do elenco principal majoritariamente branco? Ignorar completamente um problema não é a melhor forma de resolvê-lo, e sendo uma mulher engajada em questões políticas e socias dentro do cinema, achei que Anna tivesse entendido isso. Mas pelo visto não. Que foi? A representatividade do filme já estava esgotada com um garoto branco, classe média, confuso sobre questões de gênero e sexualidade? Me poupe! Me recordo que quando num debate na USP Anna foi perguntada sobre o porquê de Jéssica (Que Horas Ela Volta) ser branca, e não negra (como era originalmente no roteiro), ela respondeu que havia analisado melhor, que se a personagem fosse branca, o filme seria mais sobre racismo do que sobre classismo. Além do mais, a atriz apareceu, ela se encantou com seu talento e foi decidido que seria assim. Eu amei Jéssica. Mas qual a desculpa aqui dessa vez? Não vejo nenhum motivo plausível para as únicas negras do filme serem uma empregada uniformizada e uma secretária. No mais, premissa foda, que poderia ter sido infinitamente melhor executada, mas que falha miseravelmente ao entregar um drama muito mal estruturado e escrito com personagens subdesenvolvidos. É realmente uma pena uma trama tão boa como essa não ter tido seu potencial explorado ao máximo.
"Pierre: Eu não escolhi ser sequestrado duas vezes!"
Não traz nada de novo ou que já não saibamos sobre a alienação, futilidade e breguice dos jovens da alta classe brasileira. A ideia de "estupidez branca adolescente" já foi utilizada de maneira bem mais eficaz em vários outros filmes do mesmo estilo. Neville D’Almeida nos apresenta uma crítica travestida de sátira a toda uma geração completamente alheia à realidade à volta, através de cinco amigos burgueses, que não tem problemas financeiros, mas adoram alugar uma laje no morro pra fazer suas festinhas regadas a sexo, drogas e... sertanejo. O tédio e falta de propósito de suas vidas os fazem almejar algo fora de suas bolhas. O diretor também não parece nem um pouco preocupado em fazer com que o público nutra alguma simpatia por seus personagens. Não é que eles tenham sido mal utilizados, é que eles foram construídos pra serem dessa maneira, desagradáveis e insuportáveis. Depois de muitos "cus" "pirocas", todo tipo de piadinha machista de cunho sexual e muito falocentrismo, você já não aguenta mais olhar pra cara daquela gente afetada. As interpretações são extremamente teatrais, os personagens falam gritando o filme inteiro, e em alguns momentos é incompreensível o que está sendo dito. Com exceção da Bruna Linzmeyer e do Johnny Massaro, achei o elenco bem ruinzinho, mal escalado. A ideia era boa, mas o desenvolvimento ficou abaixo do que eu esperava. Além do fato do filme ser bem curto, o que deixou o mesmo corrido demais, focando somente no espetáculo. Apesar dos defeitos, o longa traz duas questões bastante atuais para reflexão: A “fetichização” da favela e como a burguesia brasileira se apropria de outras culturas sem qualquer pudor.
P.s: Eu sei que elite cafona não é privilégio carioca, não. Tem em tudo quanto é lugar. Mas não deu pra deixar de notar que a do Rio de Janeiro tem todo um jeitinho inconfundível, né? Risos.
"Amsterdã: "Vocês sabem como é mal acordar e já sacar que você tá fodido?"
Creio ser necessário passar por essa realidade para entender verdadeiramente o filme e seus personagens, caso contrário, é provável que passará os 96min sentindo raiva dos dois. A verdade é que não sei se sou capaz de dar uma análise imparcial sobre esse filme, não somente por me identificar com a estória que é retratada mas também porque me vejo intensamente representada nesse personagem. Me sinto muito mal ao vê-lo. Testemunhei muitos aqui reclamando do roteiro, não concordo com tais reclamações, pois o roteiro, apesar de simples, me parece adequado ao que o filme se propõe. Chega assustar a forma como Dolan conseguiu transpor com tamanha verossimilhança o sentimento de amor e ódio que permeia aquela relação, a histeria, as explosões, e não menos importante, os raros momentos em que ele consegue se conectar com a mãe. Tudo sem maniqueísmos, tal como na vida real. O ódio que as pessoas sentiram de Hubert equivale ao ódio que o próprio Hubert sente de si mesmo, por sentir o que sente, e da forma como sente. Porque, por mais que seja difícil pra quem está fora acreditar/entender, é bem mais doloroso do que parece. A verdade é nua e crua: Às vezes o que separa duas pessoas é, justamente, estarem muito próximas. Às vezes, e só às vezes, você precisa ficar longe de quem ama, pra não correr o risco de não amar mais.
“Não há outra coisa que matar nessa vida que o inimigo interior, o duplo no duro núcleo. Dominá-lo é uma arte. Até que ponto somos artistas?”
Regurgitei com tanto pretensiosismo. Aonde está a genialidade desse filme? Com um roteiro extremamente irregular (aliás, o roteiro é o maior dos problemas aqui), o filme se sustenta somente por seu senso estético e se rende à lugares comuns sem o menor apuro, tornando uma estória naturalmente fácil de gerar identificação num desfile de obviedades e simbolismos vazios. Queria muito ter gostado da obra, por ela representar uma temática bastante interessante pra mim, que é esse processo tão tumultuado de transição do jovem para a idade adulta e todo sentimento de inadequação inerente que envolve esse período, tudo de um ponto de vista externo e quase onírico. Mas é impossível nutrir qualquer interesse ou empatia por personagens tão unidimensionais e, sobretudo, por um protagonista tão apático, pedante e fora do lugar. Um filme sem objetivo, que não apresenta nenhum propósito e ainda se acha muito poético e intimista. Tinha potencial.
Sabe o que é mais patético nesse furdunço todo causado por esses farofeiros ideológicos? No fim das contas, o filme tem mais elementos da condição humana do que elementos políticos em si. Eu sequer considero um filme de esquerda. É uma singela homenagem à democracia, que tem como pano de fundo uma metáfora à recente situação em que o país se encontra, utilizando, aliás, um argumento de muita qualidade e pleno de mensagens sociais. Argumento esse que não por acaso conversa muito com o aconteceu na cidade de Recife durante o movimento de resistência Ocupa Estelita, sobre como empreiteiras possuem o poder de controlar políticos e se apropriar do que deveria ser público. Isto posto, não vou entrar no mérito das acusações caluniosas e que beiram o ridículo feitas pela direita golpista de que o diretor, a equipe e os atores estariam ganhando dinheiro público para realizar protestos fora do Brasil. Tsc. Tsc. Tsc. Só digo uma coisa: com protesto ou sem protesto, os boicotadores da direita burra nem iam ver Aquarius mesmo. Vocês nem ligam pra cultura. Antes de discorrer sobre a obra preciso dizer que fiquei extremamente encantada por ter visto Aquarius no histórico Cinema São Luíz, o templo do cinema pernambucano e um dos poucos que resiste. Espaço belíssimo e de memória da cidade. Agora vou pegar meu banquinho aqui e falar dos aspectos que considerei relevantes pra discussão e compreensão do assunto abordado.
A problemática, a meu ver, reside muito mais no modo equivocado que as pessoas estão analisando o filme do que no próprio filme em si. Acho que estão olhando pela ótica errada. Clara é um poço de memórias, lembranças e saudosismo. Mas, além disso, é também uma personagem contraditória, pois ao mesmo tempo que crítica a classe social em que está inserida, usufrui de seus privilégios sem ao que parece às vezes ter noção deles. A relação patrão-empregado que possuí com a empregada, Ladjane, uma residente de uma zona periférica de Recife, evidencia bem essa contradição e a relação de poder que existe ali. Há uma tensão opressiva que paira sempre que as duas estão juntas em cena. Penso que não há lógica em ovacionar essa protagonista como símbolo máximo da resistência à opressão do capitalismo ou da luta de classes. Clara representa, sim, uma resistência do próprio meio em que vive (um meio burguês, que fique claro), mas não deve jamais ser tomada como uma heroína de massas, ou algo do tipo. Tentem assistir Aquarius da seguinte maneira: imaginem a história do filme no contexto das remoções de famílias em favelas. Vejam com um olhar mais apurado, sem romantizar tanto. Achei Clara espirituosa e inspiradora em diversos sentidos, mas seria lindo assistir a história de Ladjane. Eu gostaria muito.
“Clara: Toca Maria Bethânia pra ela, mostra que tu é intenso.”
Juíza moralista de MERDAAAA que entrou e saiu de uma universidade e não aprendeu que a realidade não é aquilo que a gente quer acreditar, mas aquilo que ela realmente é. Sujeitinha amarga, desumana, que vomita ódio de classe e cospe ignorância, julgando uma realidade sobre qual não faz ideia. Essa mulher é o reflexo perfeito de um judiciário parcial e representante da elite branca e classista desse país. Se isso não é política de higienização social, eu não sei o que é. Como alguém, do alto de seus privilégios, olha pra uma adolescente que roubou pra alimentar o próprio filho e diz que "fome não é justificativa pra roubar"? Querer um comportamento diferente de quem vive a margem da sociedade é, no mínimo, um puta egoísmo. É muito fácil dizer que o garoto não deveria ter matado o pai que fazia da vida dele e da mãe um inferno porque é maldade. Querida, mal vai a vida dele. Como uma pessoa, que esteja lúcida, vai querer morar na rua, viver na miséria ou sofrer violência constante? Condições e oportunidades são pra poucos. Um cálculo básico do ensino superior brasileiro mostra que menos de 10℅ da população brasileira está nas universidades. E tem gente que acha que os demais escolheram viver fora delas? Alguém tem pena dessas crianças que vivem nas ruas? Então porque eles teriam pena de vocês? 70% da população carcerária no Brasil é negra. 56,8℅ é jovem. Afirmar que esses crimes acontecem por "maldade" é dizer que maldade é característica intrínseca ao indivíduo pobre e negro. É estarrecedor ver que o judiciário, assim como a classe médica do país, em sua maioria é formada por uma casta racista que tem nojo de pobres. Trabalhem voluntariamente em abrigos por alguns meses. Ouçam a história de cada um desses meninos. Receba seu carinho e efeto e depois venha me dizer pra jogá-los na cadeia porque "já tem idade pra matar". É um desafio. Sua opinião não continua a mesma depois de uma experiência dessas. Enfim, fica manisfestado meu profundo constrangimento e comiseração por um sistema que é incapaz de enxergar as diferenças sociais, culturais e históricas que construíram esse país selvagem.
Não conseguiu comunicar. Ficou no quase. Confesso que já fui ver um tanto ressabiada por conta dessa escolha de protagonistas, no mínimo, esquisita. Woody Allen é a pretensão encarnada. Possivelmente aqui atingiu o suprassumo do que eu chamo de "filme pra burguês ver". Aguardemos ansiosos o dia em que esse diretor sairá da zona de conforto que têm permanecido desde os anos 80. De resto, o jogo de câmeras sofisticado só reafirma o talento inato dele na direção. E a cinematografia magnífica se deve muito ao brilhante diretor de fotografia italiano Vittorio Storaro. Narração expositiva preguiçosa é um troço que sempre me incomoda. A cena da praia com a câmera imóvel posicionada dentro da caverna é linda de morrer.
O cerne de Ghost in the Shell tem como base dois versículos bíblicos: “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido”. I Coríntios, 13:12 "Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino." I Coríntios, 13:11 (sim, a ordem tá trocada)
A impressão que eu tenho é que obras da cultura cyberpunk nunca foram tão atuais quanto agora. A contemplação futurística e filosófica, sobretudo acerca da discussão dualística de corpo e alma, é algo absurdamente profundo num filme tão pequeno. O filme inteiro delinea essa questão sobre o que seria humano. Uma Inteligência Artificial capaz de não adquirir, mas aprender e criar pensamentos e consciência, poderia ser considerada uma forma de vida? O que fundamentalmente constitui o ser humano? Sua alma ou seu corpo? Essa substituição do corpo humano seria a evolução ou a perda da própria humanidade? Se somos essencialmente formados por memórias e experiências adquiridas ao longo da vida, e nossa individualidade se constitui através disso, então, o que resta quando tudo é deletado?
Obra-prima do cinema de animação, visualmente deslumbrante. Em termos de cyberpunk Ghost in the Shell só fica atrás de Akira.
“Puppet Master: And can you offer me proof of your existence? How can you, when neither modern science nor philosophy can explain what life is?”
Falar o quê? Meu coração está em pedaços. É de doer a alma. E perceber que isso é só uma vírgula quando se fala da situação de famílias vivendo em estado de extrema pobreza nesse país, devido a essa distribuição de renda de merda. Devia ser obrigatório as emissoras de tv brasileiras exibirem esse documentário no horário nobre, dias antes das eleições, pra que as pessoas vissem uma realidade que em geral veem apenas nas estatísticas. Famílias vivendo em condições sub-humanas, a fome e a miséria do ponto de vista de quem enfrenta o problema. A realidade é feia, ela machuca... Melhor é olhar para o outro lado e fingir que nada acontece, enquanto usufrui de seus privilégios sem ter que pensar muito sobre isso.
Sei que cada vez menos quero viver em um mundo onde a ganância se sobrepõe a vida humana.
Eu não esperava menos de um filme feito pra uma fanbase machista e babaca. O que fizeram com as personagens femininas aqui é tão escroto que é difícil pensar em argumentos técnicos pra analisar o restante da obra. Todos esses elogios super suspeitos à Arlequina são totalmente justificáveis, afinal, transformaram ela numa mistura de prostituta com lolita. Tudo que os machistas nerds punheteiros e as mulheres que acham lindo esse relacionamento abusivo romantizado de merda queriam. O filme tem classificação indicativa de 12 anos. Eu ouvi meninas de 14 se dizendo maravilhadas com a personagem ao final da sessão, e vocês vem dizer que essa objetificação deve ser ignorada pelo teor ficcional da obra?
O cinema também forma nossa cultura, então é necessário, sim, que o machismo seja retirado desse ambiente. Filmes assim só servem pra que homens reafirmem suas ideias machistas e mulheres se espelhem em exemplos errados. O fato do público alvo ser adolescente, só torna o problema ainda pior.
A DC sofre de um mal enorme chamado Warner. Mesmo expandindo o universo, se não houver planejamento por pessoas que entendam a real essência dos personagens ao invés de deixar tudo nas mãos de diretores, o filme da Liga está fadado ao fracasso antes mesmo de estrear. Um personagem não se constitui sozinho, ele está imerso na complexidade dramática construída por uma equipe técnica e artística. David Ayer foi um diretor terrível que merece todos os deméritos possíveis por ter dirigido um dos piores filmes do ano.
Só Mulher-Maravilha e Pantera Negra pra nos salvar!
Eu me lembro que a não muito tempo atrás, eu estava, numa discussão, falando que não dá pra uma pessoa branca se dizer negra só por descender de negros e usaram albinos como argumento, acho que foi quando me dei conta que a grande maioria das pessoas não tem a menor noção do que é albinismo, muito menos de materialismo. Albino não é "raça". Não são "albinos", são pessoas negras com albinismo.
Na África, mais especificamente na Tanzânia, onde a taxa de albinismo é uma das maiores, essa condição trás consigo um agravante terrível: essas pessoas são perseguidas e mortas. E esse, talvez, seja o maior de todos os sintomas de subdesenvolvimento na África. É a pura falta de conhecimento e ciência. É a maldita ignorância. Seres humanos caçados pra servirem de talismã, isolados socialmente do resto da comunidade e sofrendo severamente com o câncer e outras doenças de pele. Em algumas partes do continente se espalhou a crença de que comer albinos pode trazer sorte, e eu já li que até políticos participam encomendando pedaços de albinos, por crerem que trará sorte nas eleições. Essas pessoas não tem privilégio nenhum por causa da pele branca, são descriminados e tidos como anomalias.
Em meio a tanto sofrimento e descaso, ainda existem pessoas capazes de serem solidárias e fazer o bem sem absolutamente nenhum interesse capitalista por trás. Médicos e farmacêuticos que trabalham desinteressadamente para resolver os problemas de albinos. Hombre Negro Piel Blanca nós da uma aula de conscientização, e mostra que quando a essência da humanidade grita dentro de nós, é impossível ficar indiferente enquanto tantos não tem as condições mínimas pra viver. Como olhar ao redor, ver pessoas sangrando e não sangrar? Acredito que a indignação usada como combustível de resistência é a melhor forma pra que a gente consiga prosseguir lutando por igualdade pra todos, numa sociedade ainda tão escrota e injusta. Esse documentário me fez chorar, mas também me encheu de esperança. Não consigo descrever o sentimento de fé na humanidade que senti. Se uma pessoa decide ser a diferença na vida de outras, isso pra mim já é motivo o suficiente pra crer num futuro melhor.
O outro lado de uma socialização masculina ditada pelo capitalismo. O lado que mostra como o machismo danifica o desenvolvimento dos homens e como isso afeta o resto da sociedade, quase como numa progressão geométrica. Chegou a hora de lidar com isso, e de começar a pensar em como formar homens com um novo conceito de masculinidade, homens mais humanos, longe desse padrão machista que humilha, que violenta, que mata. Se queremos melhorar o modo como nossas meninas estão sendo tratadas, temos que atentar para como estamos educando nossos meninos. A cada segundo da vida de um homem, a socialização grita. Uma mistura perigosa de privilégios + liberdade + sexualidade livre, estimulada e formada pela pornografia. O bebê nem nasceu e a sua socialização já está pronta, esperando por ele. Eu não consigo mais olhar pra um homem e ver simplesmente uma pessoa. Eu vejo uma pessoa que foi socializada para ser dominadora e superior.
O documentário é pontual em desmistificar através de estudos e estatísticas o mito da "natureza/instinto masculino". É sabido que não é um comportamento biológico, é sistemático e fruto de socialização. É mostrado o altíssimo índice de tentativas e de suicídios entre homens, os dados que comprovam sobre a violência realizada por homens ser maior, mesmo em culturas que garotas têm acesso fácil a armas. A extrema maioria dos estupros no mundo é cometido por homens, a maioria esmagadora das vítimas são mulheres e menores de idade. Mas homens também estupram outros homens. A violência masculina existe em vários níveis. Violência não se limita a bater, espancar, estuprar, não. Existe também a manutenção diária da violência, a violência que naturaliza que homens odeiem (ódio esse que parte de um inconsciente coletivo) mulheres.
Ao mesmo tempo em que estes garotos de nove, dez, onze anos estão entrando na puberdade, e suas identidades enquanto homens está se formando de forma mais determinante, aonde naturalmente começam a se interessar por questões afetivas e sexuais, é nessa brecha que a pornografia entra, uma das ramificações mais diretas da cultura do estupro - além, óbvio, da exploração de mulheres. Uma pornografia que reduz mulheres a objetos e cria fetiches que não estavam ali antes, que diz que mulheres existem para o prazer sexual dos homens, de qualquer forma que os homens quiserem esse prazer.
"Existe uma cultura de estupro, e isso significa que os estupradores não estão saindo de bueiros. São produzidos pela nossa cultura."
Ao final, a mensagem que cada um pode contribuir nessa reformulação do papel do que é ser homem. A ausência dos papéis de gênero socialmente construídos ainda é uma realidade distante, mas é inegável como os problemas ligados a ele acarretam uma pá de questões sociais. Apesar de ser baseado na sociedade estadunidense, confesso que não vejo grandes diferenças em relação à sociedade brasileira.
Espero que o máximo de pessoas vejam esse documentário, é utilidade pública isso aqui.
"A lésbica é a furia de todas as mulheres condensada até o ponto de explosão"
Eu queria que todo mundo assistisse a esse documentário. Eu quero que crianças assistam a esse documentário. Nós, mulheres, lutamos pelas MESMAS coisas há 50 anos. Em momentos de crise, que mais precisamos de empoderamento, mulheres de grande inspiração para não esquecermos da luta. A luta segue, é constante e atemporal. Luto, pra nós, é verbo.
Cara, que delícia de filme é esse Bone Tomahank! Contém todos os ingredientes de um bom filme do gênero: tem os arquétipos típicos dos westerns clássicos, tem referências a outras obras e diretores, diálogos incríveis e, não menos importante, tem a quantidade de sangue e violência que deve ter, na medida certa. O elenco também se sai muito bem, sobretudo o Kurt Russell e o Patrick Wilson. As cenas gore e bang bang que evolvem o grupo e a tribo são maravilhosas e muito realistas. Confesso que em alguns momentos senti falta de uma trilha sonora mais presente, acho que deixaria o filme ainda melhor.
Meu deus, aquela perna do Arthur me deu uma puta agonia! Fiquei me perguntando se ele conseguiria ou se ela necrosaria e ele simplesmente morreria ali no meio deserto mesmo.
Enfim, filmaço! Vale cada segundo. Muito consistente, do início ao fim.
Os Crimes de Snowtown
3.4 113 Assista AgoraQue porrada na cara! Tive que pausar o filme algumas vezes porque não conseguia absorver tanta maldade, e também porque me senti atordoada em inúmeras cenas.
Este filme é um retrato nu e cru da miséria do white trash australiano. Em diversos momentos chega a ser constrangedor observar todo esse estado de penúria ao qual a humanidade foi reduzida. A vida é bem dura naquele fim de mundo sujo e não há nenhuma perspectiva de futuro ou esperança que torne a existência daquelas pessoas um pouco menos miserável. Fadados ao pior da degradação moral e humana, uma vez que o abandono afetivo e a precariedade financeira surgem como fatores determinantes e condicionantes àquelas vidas, são pessoas que estão por conta própria, totalmente entregues à abjeção.
Duas coisas:
John não matava pelo ódio aos homossexuais e pedófilos, matava por sadismo, por prazer na crueldade e no sofrimento do outro. Se não houvesse gays e pedófilos na comunidade, ele arranjaria outro grupo para aterrorizar e despejar toda sua covardia travestida de "justiça". O filme traz uma reflexão social muito válida; com exceção da psicopatia, esse homem não é muito diferente desses "justiceiros sociais", tão presentes na realidade brasileira e que barbarizam comumente em nome de crimes cometidos contra "gente de bem". O que nos tornamos, hein? Métodos de tortura sobrepondo-se às leis. E a vida humana se reduz a nada.
Pobre Jamie. Foi apenas um adolescente que, completamente à toa e carente de uma figura paterna, acabou fazendo o que não queria e finalmente se deixou corromper pelas práticas homicidas do padrasto (claramente psicopata). Me doeu ver o tanto de abuso físico e psicológico que esse garoto teve que aguentar.
Sem dúvida, um dos filmes mais pesados - gáfica e psicologicamente - que já vi.
Passageiros
3.3 1,5K Assista AgoraFilmeco medíocre, desonesto e misógino em absolutamente todos aspectos possíveis! Argh! Não sei de onde consegui força pra terminar de ver.
Bla bla bla romantização de abuso bla bla bla protagonista babaca e completamente insuportável transformado em herói bla bla bla another boring movie, that's the truth!
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista Agora~~ unpopular opinion ~~
Começo dizendo que os aspectos técnicos de La La Land são IM-PE-CÁ-VEIS, mas não foi esse o principal motivo pelo qual fui assisti-lo. Portanto, se você está interessado em ler sobre tais aspectos, minhas palavras não são para você, pois não discorrerei aqui sobre essa questão. E sempre deixando bem claro que minha opinião tem ligação e influência direta com a importância que eu dou ao cinema como ferramenta de análise capaz de dissecar e refletir a realidade cultural e política de um determinado contexto e sua época. Então, se você é um desses espectadores que só tem a pretensão de sentar na poltrona, comer sua pipoca e "desligar o cérebro" (odeio essa expressão), essas palavras também não são para você, ok? Nem perca seu tempo. Dito isso, bora falar dos impactos negativos que a mensagem desse filme traz consigo e das fantasias meritocráticas inatingíveis que ele reforça.
Esse é meu segundo filme do Damien Chazelle, e uma coisa que eu notei é que ele sempre pauta seus roteiros na busca incansável de seus personagens pelo reconhecimento e pela fama, e se você não alcança esse patamar do "sonho americano", você é um loser que não se esforçou o bastante pelos seus objetivos. São filmes que nos trazem motivação através de uma mensagem que é falsa e altamente ilusória. Particularmente, também me incomoda que este diretor goste tanto de celebrar ritmos construídos e eternizados por negros mas sempre protagonizados por brancos.
Quando fui assistir esse filme eu não esperava de forma alguma que ele pintasse um retrato fidedigno da verdadeira realidade dos aspirantes a artistas em Los Angeles, mas eu também não esperava uma ode tão descarada ao "sonho americano" e a todo esse discurso de ideal meritocrático falido, e é exatamente em cima desse subjetivismo narcísico e conservador que essa obra se sustenta. Justamente por isso foi bem estranho ver o feedback da galera saindo da sessão, todo mundo muito empolgado, me dizendo o quão incrível se sentiam e eu não consegui sentir a mesma coisa. Quer dizer, com quem esse filme tá realmente falando? Com certeza não comigo e nem com você. Me vêm à mente algumas reflexões inevitáveis; o quanto cada vez mais somos empurrados numa competitividade sem fim em busca de um ideal de sucesso inalcançável para maioria esmagadora da população, o quanto essa mentalidade dominante que a mídia e o capital nos impõe sobre o que é felicidade, forma um senso comum acerca das definições de "ganhar" e "perder".
Ao final, uma coisa ecoou na minha cabeça: a glamourização de chegar a ser alguém famoso, por vezes, grita mais alto que a própria vontade de fazer arte e causar algum impacto no mundo através dela.
Há infinitas maneiras de se viver a arte, tantas possibilidades... E me irrita sobremaneira que isso seja resumido a holofotes e aplausos. Tudo aqui é reduzido ao deslumbre do american way of life. Poxa, penso que é importante começarmos a questionarmos as dinâmicas e parâmetros de sucesso que nos são impelidos desde sempre por meio de produções como esta, e em meio a tudo isso, encontrar satisfação pessoal, não como utopia, mas como concretude.
O filme tem seus momentos de beleza, mas o fato de estar vinculado a uma determinada perspectiva de classe me fez, do meu lugar, enxergá-lo quase como um devaneio, uma realidade fantasiosa.
Apesar de estar sendo ovacionado pelos motivos errados, La La Land faz uma bela homenagem aos clássicos musicais da velha Hollywood - onde os tempos eram outros -. A problemática aqui reside no lugar em que essa mensagem está estruturada.
O filme é bacana, divertiu, valeu o ingresso! Não preciso concordar moralmente como um filme para achá-lo bom. Sei separar as coisas.
"Mia: People love what other people are passionate about."
Eu Estava Justamente Pensando em Você
3.6 372"Droga! Fui pega mais uma vez pelo combo pôster-tumblr-feelings + "universo paralelo" na sinopse. Isso precisa parar!
Ok, o filme começa e já nos primeiros minutos você pega um bode desgraçado do protagonista, isso porque não demora muito até percebermos que ele é aquele tipo de cara insuportavelmente pedante, que se acha melhor que todo mundo e adora fazer referências pseudointelectuais enquanto analisa tudo e todos a sua volta. Logo em seguida, somos apresentados a Kimberly, ela representa o típico esteriótipo da ~manic pixie dream girl~ e seu espírito livre equivale ao tamanho da sua falta de personalidade. Que mulher insuportável! Em diversos momentos fica claro que essa chata de galocha não nutre nenhuma boa vontade de manter a relação, pois a mesma está ocupada demais fazendo cobranças infundadas, criando paranóias e causando brigas do nada.
Eu sei que muita gente que assistiu ao filme deve ter pensado que a culpa do relacionamento não ter dado certo foi somente do Dell por ele ter desperdiçado todas as chances que lhe foram dadas, mas isso não é totalmente verdade. A melancolia dela, às vezes, vai no limiar do óbvio e do sem sentido. Não há nada de muito verdadeiro na maneira como a personagem se relaciona com as pessoas ao seu redor. Dell e Kimberly são duas figuras extremamente egoístas que não curtem muito encarar as consequências das atitudes que tomam, agem por impulso e, ao primeiro sinal de que as coisas não estão dando certo, desistem um do outro e decidem seguir caminhos diferentes. Mesmo que em alguns momentos você torça para que aquilo dê certo de uma vez, você já sabe que está fadado ao fracasso. A relação deles não é saudável e, em diversas ocasiões, vira quase uma competição de quem machuca mais o outro. E eu nem sei se dá pra chamar aquilo de amor, uma vez que o próprio Dell assume a possibilidade de que talvez o que ele sente seja apenas dependência emocional.
Acontece que dificulta muito se conectar com a história que o filme quer te contar quando você não está nem aí para os personagens e tudo que os circunda soa unidimensional e enfadonho. Grande parte dos diálogos são constituídos, literalmente, de referências que não acrescentam nada do ponto de vista narrativo. O que eu vi foi um amontoado de quotes artificiais e clichês que quase sempre caem pra filosofia barata. Nada soa orgânico nas conversas entre eles, simplesmente porque não parece o tipo de coisa que uma pessoa diria pra outra na vida real. Não sei, acho que faltou um diretor de mãos firmes pra corrigir alguns probleminhas de atuação dos dois atores, ambos parecem muito afetados e caricatos, sem falar na ausência de química.
O filme toca muito na questão de só valorizar uma coisa quando essa coisa é perdida, e nos faz pensar em como aquilo que você diz e aquilo que o outro entende nem sempre é a mesma coisa. Mas nenhuma dessas reflexões é desenvolvida com profundidade.
Sobram boas ideias, bastante estilização e uma premissa interessante, só que tudo acaba engolido pelo excesso de referências e falta de verossimilhança no comportamento dos personagens.
Comet não foi um bom filme pra mim, mas talvez um coração partido ou um término recente afete seu julgamento sobre ele.
"Dell: If you're capable of making choices that knowingly hurts the other person, that's not love."
Love
3.5 883 Assista AgoraBem repetitivo. O problema desse filme é que ele é chato pra cacete e ainda se acha muito sensível e autoral. Não há absolutamente nada acima das expectativas aqui. Com um roteiro que perambula em círculos e sempre volta para o mesmo lugar, parece mais um videoclipe de duas horas de duração. Prepotente. Essa é a palavra, prepotente ao extremo. Gaspar Noé é irritantemente autorreferente, irritantemente longo e insuportavelmente excessivo. Há um narcisismo sem precedentes aqui, muito maior do que o normalmente visto em suas obras anteriores. É como se ele tivesse a certeza de estar trabalhando num projeto realmente transgressor e genial. Se vende como um filme de amor - a começar pelo título -, mas não há nenhum tipo de amor aqui além do amor próprio. Btw, esse Murphy é um dos personagens mais desprezíveis que eu já tive o desprazer de ver em cena. Tudo gira em torno do pau dele e todas as vontades precisam ser obedecidas ao bel prazer dele. É o cara que vai acabar com a tua vida, te deixar na merda, e tudo bem, porque ele fode gostoso pra caralho.
E pra quem acha que esse filme quebrou tabus por causa de um punhado de cenas de sexo esteticamente bonitas e uma fotografia marcante, só uma coisinha: Lars Von Trier, John Cameron Mitchell, entre outros diretores e diretoras já fizeram isso, e de maneira infinitamente mais profunda.
Eu recomendaria o filme numa boa se as pessoas soubessem assistir sem romantizar cada fragmento de abuso que veem pela frente, mas vocês não sabem; pelo menos é o que os arroubos (“belo!”, “poético!”, “libertador!”) da opinião geral sugerem nos comentários.
Encerro minha opinião com uma frase dita pelo protagonista, que reflete a real filosofia por trás desse filme.
"Murphy: I wanna make movies out of blood, sperm and tears. That's the essence of life."
Tempo de Viagem
4.1 23Todos os elogios não são suficientes perante ao que Andrei Tarkovski merece. Sessenta minutos é tão pouco tempo... Eu poderia ficar horas a fio apenas ouvindo este homem falar sobre sua arte.
O Espelho
4.3 264 Assista AgoraEu passo mal quando lembro da genialidade dessa obra-prima, sério mesmo. Revisitei-o; continua irretocavelmente poderoso, lírico e delicado. Aquele que viu essa obra e não sentiu nada, não gosta de cinema. Salve Tarkovski!
Vou Rifar Meu Coração
4.1 214VIVA O BREGA E SUAS HISTÓRIAS!!!
Pura identidade cultural. Uma ode ao sentimento mais cantado e decantado de todos os tempos, para todos que já sofreram ou sofrerão por ele. Se a paixão é a coisa mais brega do mundo, então somos todos bregas.
Demônio de Neon
3.2 1,2K Assista AgoraNão tem nada de novo a dizer sobre a indústria da moda, mas funciona como vislumbre de como se dá a construção social da figura feminina em cima da estética, e também como desmonte da estrutura do comércio de mulheres. A história assusta porque mostra mulheres grotescas e animalescas como homens. Refn tenta, porém, não consegue esconder sua visão fetichista sobre o tema. Além do mais, a vagarosidade, pedância e autoindulgência do filme começaram a incomodar demais a partir do segundo ato.
Talvez eu dê uma segunda chance em outro momento.
Mãe Só Há Uma
3.5 407 Assista AgoraÉ incrível como esse filme não conseguiu se aprofundar em absolutamente nenhuma das questões que se propôs a abordar. Não vou nem citar o outro famigerado filme da diretora aqui, como vi muitos tecerem comparações, porque o cu não tem a ver com as calças. São temáticas completamente diferentes e qualquer comparação entre as duas obras é sem sentido. Ok, o filme quer nos falar sobre um adolescente descobrindo-se sexualmente, identidade de gênero, sua líbido, seus amores, tudo isso acontecendo em meio a descoberta de que, na verdade, ele foi sequestrado enquanto ainda bebê na maternidade pela mulher que ele achou a vida inteira ser sua mãe. Eu tô aqui me perguntando como a Anna achou que seria possível desenvolver todas essas questões em míseros 80min. Deu no que deu: um filme que parece um curta, que acaba sem mais nem menos e que falha no propósito de causar reflexões. O processo da transição de gênero é totalmente negligenciado pelo roteiro, não há esmero, não há um olhar mais apurado sobre a questão. O filme parece dizer apenas que gênero é performance, e acho que nem se tocaram disso.
Os problemas no roteiro não param por aí... Como ignorar o fato de que a mãe de criação e a irmã (também roubada) simplesmente desaparecem da metade do filme pra lá? O que diabos foi aquilo?! Outra coisa que me incomodou foi a construção do protagonista, ele não parece ter sido feito pra cativar. O machismo do personagem se manifesta em pequenas ações (não ajudando em casa, sequer sabe fritar um ovo), além disso, eu diria que ele tem sérias tendências à violência contra mulher (isso fica nítido nas cenas dele empurrando agressivamente sua ficante/namorada e a mãe biológica toda vez que explode de raiva). Pierre é apático, é tapado, sem carisma, não encanta, e eu acho que ele foi feito pra ser assim mesmo. Sem falar que a atuação do ator deixa muito a desejar. O resto do elenco é mediano em suas atuações (com exceção do Matheus Nachtergaele, sempre em nível máximo de excelência).
Aproveitando o ensejo, por quê não falar do elenco principal majoritariamente branco? Ignorar completamente um problema não é a melhor forma de resolvê-lo, e sendo uma mulher engajada em questões políticas e socias dentro do cinema, achei que Anna tivesse entendido isso. Mas pelo visto não. Que foi? A representatividade do filme já estava esgotada com um garoto branco, classe média, confuso sobre questões de gênero e sexualidade? Me poupe! Me recordo que quando num debate na USP Anna foi perguntada sobre o porquê de Jéssica (Que Horas Ela Volta) ser branca, e não negra (como era originalmente no roteiro), ela respondeu que havia analisado melhor, que se a personagem fosse branca, o filme seria mais sobre racismo do que sobre classismo. Além do mais, a atriz apareceu, ela se encantou com seu talento e foi decidido que seria assim. Eu amei Jéssica. Mas qual a desculpa aqui dessa vez? Não vejo nenhum motivo plausível para as únicas negras do filme serem uma empregada uniformizada e uma secretária.
No mais, premissa foda, que poderia ter sido infinitamente melhor executada, mas que falha miseravelmente ao entregar um drama muito mal estruturado e escrito com personagens subdesenvolvidos. É realmente uma pena uma trama tão boa como essa não ter tido seu potencial explorado ao máximo.
"Pierre: Eu não escolhi ser sequestrado duas vezes!"
A Frente Fria que a Chuva Traz
2.5 152 Assista AgoraNão traz nada de novo ou que já não saibamos sobre a alienação, futilidade e breguice dos jovens da alta classe brasileira. A ideia de "estupidez branca adolescente" já foi utilizada de maneira bem mais eficaz em vários outros filmes do mesmo estilo. Neville D’Almeida nos apresenta uma crítica travestida de sátira a toda uma geração completamente alheia à realidade à volta, através de cinco amigos burgueses, que não tem problemas financeiros, mas adoram alugar uma laje no morro pra fazer suas festinhas regadas a sexo, drogas e... sertanejo. O tédio e falta de propósito de suas vidas os fazem almejar algo fora de suas bolhas. O diretor também não parece nem um pouco preocupado em fazer com que o público nutra alguma simpatia por seus personagens. Não é que eles tenham sido mal utilizados, é que eles foram construídos pra serem dessa maneira, desagradáveis e insuportáveis. Depois de muitos "cus" "pirocas", todo tipo de piadinha machista de cunho sexual e muito falocentrismo, você já não aguenta mais olhar pra cara daquela gente afetada. As interpretações são extremamente teatrais, os personagens falam gritando o filme inteiro, e em alguns momentos é incompreensível o que está sendo dito. Com exceção da Bruna Linzmeyer e do Johnny Massaro, achei o elenco bem ruinzinho, mal escalado. A ideia era boa, mas o desenvolvimento ficou abaixo do que eu esperava. Além do fato do filme ser bem curto, o que deixou o mesmo corrido demais, focando somente no espetáculo.
Apesar dos defeitos, o longa traz duas questões bastante atuais para reflexão: A “fetichização” da favela e como a burguesia brasileira se apropria de outras culturas sem qualquer pudor.
P.s: Eu sei que elite cafona não é privilégio carioca, não. Tem em tudo quanto é lugar. Mas não deu pra deixar de notar que a do Rio de Janeiro tem todo um jeitinho inconfundível, né? Risos.
"Amsterdã: "Vocês sabem como é mal acordar e já sacar que você tá fodido?"
Eu Matei Minha Mãe
3.9 1,3KCreio ser necessário passar por essa realidade para entender verdadeiramente o filme e seus personagens, caso contrário, é provável que passará os 96min sentindo raiva dos dois. A verdade é que não sei se sou capaz de dar uma análise imparcial sobre esse filme, não somente por me identificar com a estória que é retratada mas também porque me vejo intensamente representada nesse personagem. Me sinto muito mal ao vê-lo. Testemunhei muitos aqui reclamando do roteiro, não concordo com tais reclamações, pois o roteiro, apesar de simples, me parece adequado ao que o filme se propõe. Chega assustar a forma como Dolan conseguiu transpor com tamanha verossimilhança o sentimento de amor e ódio que permeia aquela relação, a histeria, as explosões, e não menos importante, os raros momentos em que ele consegue se conectar com a mãe. Tudo sem maniqueísmos, tal como na vida real. O ódio que as pessoas sentiram de Hubert equivale ao ódio que o próprio Hubert sente de si mesmo, por sentir o que sente, e da forma como sente. Porque, por mais que seja difícil pra quem está fora acreditar/entender, é bem mais doloroso do que parece.
A verdade é nua e crua: Às vezes o que separa duas pessoas é, justamente, estarem muito próximas. Às vezes, e só às vezes, você precisa ficar longe de quem ama, pra não correr o risco de não amar mais.
“Não há outra coisa que matar nessa vida que o inimigo interior, o duplo no duro núcleo. Dominá-lo é uma arte. Até que ponto somos artistas?”
Ponto Zero
3.3 45Regurgitei com tanto pretensiosismo. Aonde está a genialidade desse filme? Com um roteiro extremamente irregular (aliás, o roteiro é o maior dos problemas aqui), o filme se sustenta somente por seu senso estético e se rende à lugares comuns sem o menor apuro, tornando uma estória naturalmente fácil de gerar identificação num desfile de obviedades e simbolismos vazios. Queria muito ter gostado da obra, por ela representar uma temática bastante interessante pra mim, que é esse processo tão tumultuado de transição do jovem para a idade adulta e todo sentimento de inadequação inerente que envolve esse período, tudo de um ponto de vista externo e quase onírico. Mas é impossível nutrir qualquer interesse ou empatia por personagens tão unidimensionais e, sobretudo, por um protagonista tão apático, pedante e fora do lugar. Um filme sem objetivo, que não apresenta nenhum propósito e ainda se acha muito poético e intimista. Tinha potencial.
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraSabe o que é mais patético nesse furdunço todo causado por esses farofeiros ideológicos? No fim das contas, o filme tem mais elementos da condição humana do que elementos políticos em si. Eu sequer considero um filme de esquerda. É uma singela homenagem à democracia, que tem como pano de fundo uma metáfora à recente situação em que o país se encontra, utilizando, aliás, um argumento de muita qualidade e pleno de mensagens sociais. Argumento esse que não por acaso conversa muito com o aconteceu na cidade de Recife durante o movimento de resistência Ocupa Estelita, sobre como empreiteiras possuem o poder de controlar políticos e se apropriar do que deveria ser público. Isto posto, não vou entrar no mérito das acusações caluniosas e que beiram o ridículo feitas pela direita golpista de que o diretor, a equipe e os atores estariam ganhando dinheiro público para realizar protestos fora do Brasil. Tsc. Tsc. Tsc. Só digo uma coisa: com protesto ou sem protesto, os boicotadores da direita burra nem iam ver Aquarius mesmo. Vocês nem ligam pra cultura.
Antes de discorrer sobre a obra preciso dizer que fiquei extremamente encantada por ter visto Aquarius no histórico Cinema São Luíz, o templo do cinema pernambucano e um dos poucos que resiste. Espaço belíssimo e de memória da cidade. Agora vou pegar meu banquinho aqui e falar dos aspectos que considerei relevantes pra discussão e compreensão do assunto abordado.
A problemática, a meu ver, reside muito mais no modo equivocado que as pessoas estão analisando o filme do que no próprio filme em si. Acho que estão olhando pela ótica errada. Clara é um poço de memórias, lembranças e saudosismo. Mas, além disso, é também uma personagem contraditória, pois ao mesmo tempo que crítica a classe social em que está inserida, usufrui de seus privilégios sem ao que parece às vezes ter noção deles. A relação patrão-empregado que possuí com a empregada, Ladjane, uma residente de uma zona periférica de Recife, evidencia bem essa contradição e a relação de poder que existe ali. Há uma tensão opressiva que paira sempre que as duas estão juntas em cena. Penso que não há lógica em ovacionar essa protagonista como símbolo máximo da resistência à opressão do capitalismo ou da luta de classes. Clara representa, sim, uma resistência do próprio meio em que vive (um meio burguês, que fique claro), mas não deve jamais ser tomada como uma heroína de massas, ou algo do tipo. Tentem assistir Aquarius da seguinte maneira: imaginem a história do filme no contexto das remoções de famílias em favelas. Vejam com um olhar mais apurado, sem romantizar tanto. Achei Clara espirituosa e inspiradora em diversos sentidos, mas seria lindo assistir a história de Ladjane. Eu gostaria muito.
“Clara: Toca Maria Bethânia pra ela, mostra que tu é intenso.”
Juízo
4.0 118Juíza moralista de MERDAAAA que entrou e saiu de uma universidade e não aprendeu que a realidade não é aquilo que a gente quer acreditar, mas aquilo que ela realmente é. Sujeitinha amarga, desumana, que vomita ódio de classe e cospe ignorância, julgando uma realidade sobre qual não faz ideia. Essa mulher é o reflexo perfeito de um judiciário parcial e representante da elite branca e classista desse país. Se isso não é política de higienização social, eu não sei o que é.
Como alguém, do alto de seus privilégios, olha pra uma adolescente que roubou pra alimentar o próprio filho e diz que "fome não é justificativa pra roubar"? Querer um comportamento diferente de quem vive a margem da sociedade é, no mínimo, um puta egoísmo. É muito fácil dizer que o garoto não deveria ter matado o pai que fazia da vida dele e da mãe um inferno porque é maldade. Querida, mal vai a vida dele.
Como uma pessoa, que esteja lúcida, vai querer morar na rua, viver na miséria ou sofrer violência constante?
Condições e oportunidades são pra poucos. Um cálculo básico do ensino superior brasileiro mostra que menos de 10℅ da população brasileira está nas universidades. E tem gente que acha que os demais escolheram viver fora delas?
Alguém tem pena dessas crianças que vivem nas ruas? Então porque eles teriam pena de vocês? 70% da população carcerária no Brasil é negra. 56,8℅ é jovem. Afirmar que esses crimes acontecem por "maldade" é dizer que maldade é característica intrínseca ao indivíduo pobre e negro. É estarrecedor ver que o judiciário, assim como a classe médica do país, em sua maioria é formada por uma casta racista que tem nojo de pobres.
Trabalhem voluntariamente em abrigos por alguns meses. Ouçam a história de cada um desses meninos. Receba seu carinho e efeto e depois venha me dizer pra jogá-los na cadeia porque "já tem idade pra matar". É um desafio. Sua opinião não continua a mesma depois de uma experiência dessas. Enfim, fica manisfestado meu profundo constrangimento e comiseração por um sistema que é incapaz de enxergar as diferenças sociais, culturais e históricas que construíram esse país selvagem.
Café Society
3.3 530 Assista AgoraNão conseguiu comunicar. Ficou no quase. Confesso que já fui ver um tanto ressabiada por conta dessa escolha de protagonistas, no mínimo, esquisita. Woody Allen é a pretensão encarnada. Possivelmente aqui atingiu o suprassumo do que eu chamo de "filme pra burguês ver". Aguardemos ansiosos o dia em que esse diretor sairá da zona de conforto que têm permanecido desde os anos 80.
De resto, o jogo de câmeras sofisticado só reafirma o talento inato dele na direção. E a cinematografia magnífica se deve muito ao brilhante diretor de fotografia italiano Vittorio Storaro. Narração expositiva preguiçosa é um troço que sempre me incomoda. A cena da praia com a câmera imóvel posicionada dentro da caverna é linda de morrer.
O Fantasma do Futuro
4.1 395 Assista AgoraO cerne de Ghost in the Shell tem como base dois versículos bíblicos:
“Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido”. I Coríntios, 13:12
"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino." I Coríntios, 13:11
(sim, a ordem tá trocada)
A impressão que eu tenho é que obras da cultura cyberpunk nunca foram tão atuais quanto agora. A contemplação futurística e filosófica, sobretudo acerca da discussão dualística de corpo e alma, é algo absurdamente profundo num filme tão pequeno.
O filme inteiro delinea essa questão sobre o que seria humano. Uma Inteligência Artificial capaz de não adquirir, mas aprender e criar pensamentos e consciência, poderia ser considerada uma forma de vida? O que fundamentalmente constitui o ser humano? Sua alma ou seu corpo? Essa substituição do corpo humano seria a evolução ou a perda da própria humanidade? Se somos essencialmente formados por memórias e experiências adquiridas ao longo da vida, e nossa individualidade se constitui através disso, então, o que resta quando tudo é deletado?
Obra-prima do cinema de animação, visualmente deslumbrante. Em termos de cyberpunk Ghost in the Shell só fica atrás de Akira.
“Puppet Master: And can you offer me proof of your existence? How can you, when neither modern science nor philosophy can explain what life is?”
Garapa
4.3 153 Assista AgoraFalar o quê? Meu coração está em pedaços. É de doer a alma.
E perceber que isso é só uma vírgula quando se fala da situação de famílias vivendo em estado de extrema pobreza nesse país, devido a essa distribuição de renda de merda. Devia ser obrigatório as emissoras de tv brasileiras exibirem esse documentário no horário nobre, dias antes das eleições, pra que as pessoas vissem uma realidade que em geral veem apenas nas estatísticas.
Famílias vivendo em condições sub-humanas, a fome e a miséria do ponto de vista de quem enfrenta o problema. A realidade é feia, ela machuca... Melhor é olhar para o outro lado e fingir que nada acontece, enquanto usufrui de seus privilégios sem ter que pensar muito sobre isso.
Sei que cada vez menos quero viver em um mundo onde a ganância se sobrepõe a vida humana.
Esquadrão Suicida
2.8 4,0K Assista AgoraEu não esperava menos de um filme feito pra uma fanbase machista e babaca. O que fizeram com as personagens femininas aqui é tão escroto que é difícil pensar em argumentos técnicos pra analisar o restante da obra.
Todos esses elogios super suspeitos à Arlequina são totalmente justificáveis, afinal, transformaram ela numa mistura de prostituta com lolita. Tudo que os machistas nerds punheteiros e as mulheres que acham lindo esse relacionamento abusivo romantizado de merda queriam.
O filme tem classificação indicativa de 12 anos. Eu ouvi meninas de 14 se dizendo maravilhadas com a personagem ao final da sessão, e vocês vem dizer que essa objetificação deve ser ignorada pelo teor ficcional da obra?
O cinema também forma nossa cultura, então é necessário, sim, que o machismo seja retirado desse ambiente. Filmes assim só servem pra que homens reafirmem suas ideias machistas e mulheres se espelhem em exemplos errados. O fato do público alvo ser adolescente, só torna o problema ainda pior.
A DC sofre de um mal enorme chamado Warner. Mesmo expandindo o universo, se não houver planejamento por pessoas que entendam a real essência dos personagens ao invés de deixar tudo nas mãos de diretores, o filme da Liga está fadado ao fracasso antes mesmo de estrear. Um personagem não se constitui sozinho, ele está imerso na complexidade dramática construída por uma equipe técnica e artística. David Ayer foi um diretor terrível que merece todos os deméritos possíveis por ter dirigido um dos piores filmes do ano.
Só Mulher-Maravilha e Pantera Negra pra nos salvar!
Homem Negro de Pele Branca
3.7 6Eu me lembro que a não muito tempo atrás, eu estava, numa discussão, falando que não dá pra uma pessoa branca se dizer negra só por descender de negros e usaram albinos como argumento, acho que foi quando me dei conta que a grande maioria das pessoas não tem a menor noção do que é albinismo, muito menos de materialismo. Albino não é "raça". Não são "albinos", são pessoas negras com albinismo.
Na África, mais especificamente na Tanzânia, onde a taxa de albinismo é uma das maiores, essa condição trás consigo um agravante terrível: essas pessoas são perseguidas e mortas. E esse, talvez, seja o maior de todos os sintomas de subdesenvolvimento na África. É a pura falta de conhecimento e ciência. É a maldita ignorância. Seres humanos caçados pra servirem de talismã, isolados socialmente do resto da comunidade e sofrendo severamente com o câncer e outras doenças de pele. Em algumas partes do continente se espalhou a crença de que comer albinos pode trazer sorte, e eu já li que até políticos participam encomendando pedaços de albinos, por crerem que trará sorte nas eleições.
Essas pessoas não tem privilégio nenhum por causa da pele branca, são descriminados e tidos como anomalias.
Em meio a tanto sofrimento e descaso, ainda existem pessoas capazes de serem solidárias e fazer o bem sem absolutamente nenhum interesse capitalista por trás. Médicos e farmacêuticos que trabalham desinteressadamente para resolver os problemas de albinos.
Hombre Negro Piel Blanca nós da uma aula de conscientização, e mostra que quando a essência da humanidade grita dentro de nós, é impossível ficar indiferente enquanto tantos não tem as condições mínimas pra viver. Como olhar ao redor, ver pessoas sangrando e não sangrar? Acredito que a indignação usada como combustível de resistência é a melhor forma pra que a gente consiga prosseguir lutando por igualdade pra todos, numa sociedade ainda tão escrota e injusta. Esse documentário me fez chorar, mas também me encheu de esperança. Não consigo descrever o sentimento de fé na humanidade que senti. Se uma pessoa decide ser a diferença na vida de outras, isso pra mim já é motivo o suficiente pra crer num futuro melhor.
A Máscara em que Você Vive
4.5 201O outro lado de uma socialização masculina ditada pelo capitalismo. O lado que mostra como o machismo danifica o desenvolvimento dos homens e como isso afeta o resto da sociedade, quase como numa progressão geométrica. Chegou a hora de lidar com isso, e de começar a pensar em como formar homens com um novo conceito de masculinidade, homens mais humanos, longe desse padrão machista que humilha, que violenta, que mata. Se queremos melhorar o modo como nossas meninas estão sendo tratadas, temos que atentar para como estamos educando nossos meninos.
A cada segundo da vida de um homem, a socialização grita. Uma mistura perigosa de privilégios + liberdade + sexualidade livre, estimulada e formada pela pornografia. O bebê nem nasceu e a sua socialização já está pronta, esperando por ele.
Eu não consigo mais olhar pra um homem e ver simplesmente uma pessoa. Eu vejo uma pessoa que foi socializada para ser dominadora e superior.
O documentário é pontual em desmistificar através de estudos e estatísticas o mito da "natureza/instinto masculino". É sabido que não é um comportamento biológico, é sistemático e fruto de socialização. É mostrado o altíssimo índice de tentativas e de suicídios entre homens, os dados que comprovam sobre a violência realizada por homens ser maior, mesmo em culturas que garotas têm acesso fácil a armas. A extrema maioria dos estupros no mundo é cometido por homens, a maioria esmagadora das vítimas são mulheres e menores de idade. Mas homens também estupram outros homens. A violência masculina existe em vários níveis. Violência não se limita a bater, espancar, estuprar, não. Existe também a manutenção diária da violência, a violência que naturaliza que homens odeiem (ódio esse que parte de um inconsciente coletivo) mulheres.
Ao mesmo tempo em que estes garotos de nove, dez, onze anos estão entrando na puberdade, e suas identidades enquanto homens está se formando de forma mais determinante, aonde naturalmente começam a se interessar por questões afetivas e sexuais, é nessa brecha que a pornografia entra, uma das ramificações mais diretas da cultura do estupro - além, óbvio, da exploração de mulheres. Uma pornografia que reduz mulheres a objetos e cria fetiches que não estavam ali antes, que diz que mulheres existem para o prazer sexual dos homens, de qualquer forma que os homens quiserem esse prazer.
"Existe uma cultura de estupro, e isso significa que os estupradores não estão saindo de bueiros. São produzidos pela nossa cultura."
Ao final, a mensagem que cada um pode contribuir nessa reformulação do papel do que é ser homem. A ausência dos papéis de gênero socialmente construídos ainda é uma realidade distante, mas é inegável como os problemas ligados a ele acarretam uma pá de questões sociais.
Apesar de ser baseado na sociedade estadunidense, confesso que não vejo grandes diferenças em relação à sociedade brasileira.
Espero que o máximo de pessoas vejam esse documentário, é utilidade pública isso aqui.
She’s Beautiful When She’s Angry
4.6 152"A lésbica é a furia de todas as mulheres condensada até o ponto de explosão"
Eu queria que todo mundo assistisse a esse documentário. Eu quero que crianças assistam a esse documentário.
Nós, mulheres, lutamos pelas MESMAS coisas há 50 anos. Em momentos de crise, que mais precisamos de empoderamento, mulheres de grande inspiração para não esquecermos da luta. A luta segue, é constante e atemporal. Luto, pra nós, é verbo.
As Sufragistas
4.1 778 Assista AgoraMedo de que com esse filme as pessoas esqueçam ainda mais do feminismo negro.
Rastro de Maldade
3.7 408 Assista AgoraCara, que delícia de filme é esse Bone Tomahank! Contém todos os ingredientes de um bom filme do gênero: tem os arquétipos típicos dos westerns clássicos, tem referências a outras obras e diretores, diálogos incríveis e, não menos importante, tem a quantidade de sangue e violência que deve ter, na medida certa. O elenco também se sai muito bem, sobretudo o Kurt Russell e o Patrick Wilson. As cenas gore e bang bang que evolvem o grupo e a tribo são maravilhosas e muito realistas. Confesso que em alguns momentos senti falta de uma trilha sonora mais presente, acho que deixaria o filme ainda melhor.
Meu deus, aquela perna do Arthur me deu uma puta agonia! Fiquei me perguntando se ele conseguiria ou se ela necrosaria e ele simplesmente morreria ali no meio deserto mesmo.
Enfim, filmaço! Vale cada segundo. Muito consistente, do início ao fim.