Mais que um diálogo conciso sobre as personas, "Yanin no kao" é um retrato bem verdadeiro e tocante da psique.
As pessoas usam máscaras para serem aceitas não somente pelos outros, mas por si mesmas; rejeitam-se como são, tal como suas imperfeições vistas como "deformidades", seja pelo medo do julgamento alheio, seja pela insegurança, impotência ou medo da solidão.
Me lembro de ter lido em algum lugar uma frase que diz: "Se você esmagar uma barata, você é um herói. Se você esmagar uma borboleta, você é um vilão. A moral tem critério estético." Tal frase, quando associada ao que se passa no filme, isto é, nos contatos que o Sr. Okuyama tem com a sociedade usando as faixas e depois a máscara, faz certo sentido, uma vez que a própria moral do protagonista passa pelo crivo estético.
Este é um filme que também me faz refletir sobre como as pessoas lidam com o amor. "Quando estamos apaixonados, nos desmascaramos." — dita num breve diálogo, tal afirmação me faz pensar que é no amor, tanto quanto no extremo desespero, que as aparências se dissipam como névoa e ficamos de fato nus, porque apesar da vulnerabilidade nos colocamos diante do outro sem medo, ainda que no amor sua razão seja a confiança, enquanto que no desespero seja a indolência.
É difícil formular algo sobre este filme porque é um filmão da porra em todos os sentidos da expressão. Se um dia você tiver a oportunidade de vê-lo, veja porque vale a pena cada segundo.
O cinema nipônico tem um lugar especial no meu coração e eu penso que todo ser humano teria uma vida mais interessante de se viver se buscasse conhecer os filmes e os diretores desse cinema em específico antes de morrer.
E embora "The Sword of Doom" (Dai-bosatsu tôge) não seja nenhum épico do clássico cinema japonês, é certamente um filme marcante, porque além de ter uma boa história com ótimas atuações é muito bem dirigido.
Tatsuya Nakadai protagoniza as melhores sequências de luta entre samurais que eu já vi na vida; eu já era seu fã em "Harakiri" pela mesma razão e agora só reafirmo que esse cara é um monstro sagrado.
Um bom filme macabro não precisa necessariamente ser de terror. E Helter Skelter deixa isso bem claro.
Mas o que posso dizer desse filme?
O que particularmente me deixou pasmo não foram as boas atuações e a história cativante repleta de mensagens que, mais do que nunca, refletem a realidade que vivemos, com toda essa importância que as pessoas dão às aparências; mas a fotografia embasbacante, a trilha sonora pontualíssima, a mise-en-scène de uma qualidade do caralho, a disposição de cores e os movimentos de câmera cautelosos que te induzem a um quadro de horror sobre a beleza.
Em Helter Skelter são escancaradas a busca desenfreada pela beleza ideal, a obsessão pela imagem, o narcisismo exacerbado, a mesquinhez, a inveja, a ganância, a desfaçatez, o fanatismo e a péssima tendência que as pessoas têm de elegerem um modelo em quem possam se espelhar. E é aí que entra Ririko, uma jovem narcisista, sem escrúpulos, manipuladora e dissimulada, capaz de tudo, até dos atos mais sórdidos, para se manter sempre nas capas das revistas, atraindo para si os holofotes e a atenção do público. Em consequência disso, Ririko é uma pessoa extremamente infeliz, vazia e apesar de estar sempre tão rodeada de pessoas, sente-se absolutamente só, uma vez que ninguém realmente a ama e que só está por perto pelo status, pela fama e pelo dinheiro. Ninguém exceto Tada, que por ser subserviente se submete aos caprichos e humilhações impostas por Ririko.
Vale muito a pena enfatizar a correlação que Mika Ninagawa traz neste filme com os dias de hoje. Em tempos onde Tumblr, Instagram e outros veículos de imagem estão em alta, a maioria das pessoas dá mais importância às aparências, aos ideais estéticos e com isto se esquecem de quem são; na (des)necessidade de agradarem a todos, traem a si mesmas pelo o que se deseja ser ou ter e, portanto, entram num caminho sem volta para acabarem num poço sem fundo.
Tá aí um filme que me surpreendeu bastante. É repleto de cenas boas, com um terror sólido e uma abordagem inteligente a um tema que, pelo menos para mim, é bem interessante.
Essa temática indígena/apache agrega um forte misticismo à trama, o que faz das cenas de possessão muito criativas.
Embora os efeitos deixem a desejar em certos momentos, não comprometem o resultado final do filme.
Ojeda vai direto ao ponto, fazendo um bom uso do gore nos momentos certos e, portanto, entrega uma história visceral.
É interessante como Singles versa sobre as dessincronias amorosas, evidenciando o fato de que as pessoas mesmo numa relação mudam e então se estranham por terem se tornado diferentes umas das outras, rompendo com toda aquela idealização típica que, com o tempo, conforme a convivência, se dilui.
O filme segue o mesmo padrão já clichê dos filmes românticos, porém induz à uma reflexão válida acerca de muita coisa presente nos dias de hoje, como joguinhos de desinteresse, por exemplo.
Complexo de Édipo. Psicopatia. Narcisismo. Psicose. Egoísmo. Inversão de valores. Maquiavelismo. Apatia. Bullying. Idolatria. Negligência. Rejeição. Abandono. Vingança. Preconceito.
A crueza com a qual temas tão delicados são abordados neste filme é extraordinária. E somada à fotografia impecável e à trilha sonora que vai desde Radiohead a Bach, tem-se então uma obra de elevado teor poético sobre a desfaçatez humana, sobre a natureza corrompida do homem.
Algumas cenas são tão lindas que chegam a ser inesquecíveis. O roteiro é tão bem executado que ao final do filme você se pega surpreso não apenas pelos plot twists e pela narrativa sucinta, mas pela crueldade contida em cada cena, em cada personagem.
É impossível ver Kokuhaku (aka "Confessions") sem se perguntar sobre o que será das próximas gerações, já que os princípios e valores básicos da educação têm sido cada vez mais distorcidos...
Porque a tendência é a da pessoa se corromper mais cedo do que se pode imaginar.
Primeiramente: não seja uma pessoa cuzona como a Hae-Won. Não seja.
É por gente cuzona como ela que muita merda acontece e continua a acontecer nesse mundo.
Pois bem, que coisa surpreendente esse filme... Normalmente você espera tanto que as tuas expectativas sejam atendidas num determinado filme que quando elas finalmente são, sendo que isto dificilmente acontece, você até fica surpreso.
Eis um interessante retrato do colapso nervoso. Pode parecer que "Bedevilled" extrapole diante da realidade, mas há nele mais fidelidade com o cotidiano de muitas pessoas do que se imagina.
Bok-Nam mostra que por mais passivo que se seja, ninguém é de ferro.
Entre tantas referências estéticas à pintura, como ao quadro "The Night Watch", de Rembrandt, tem-se aqui uma belíssima peça sobre a vingança, culminada por um colapso após tanto tempo de passividade diante da humilhação.
O uso que Peter Greenaway faz das cores em cada cenário é brilhante e seu cuidado é notável, com ênfase na alternância de cores nas roupas de Georgina ao entrar e sair do banheiro. Pode-se dizer o mesmo quanto aos planos, enquadramentos e movimentos de câmera, cuidadosamente bem feitos.
Albert é sem dúvida o tipo de personagem tão detestável que odiá-lo torna-se impossível. Ele é a síntese de tudo o que há de mais degenerado na burguesia.
Pode parecer um filme maçante para alguns e até o é, em certo momento, mas seu desfecho é tão sensacional que compensa cada minuto.
É uma aula sobre a "Alegoria da Caverna", de Platão.
E se eu fosse professor de Filosofia e precisasse ensinar sobre, usaria este filme como objeto de estudo, para que todos os alunos pudessem ter pelo menos uma boa noção sobre isto.
Certos filmes são tão bons que fazem o meu dia valer a pena só de vê-los.
É o caso deste, que para mim é o melhor filme deste ano até agora.
Se no gênero do Terror continuarem a ser lançados filmes como este, certamente teremos potenciais clássicos nos próximos anos.
"Get Out!" aborda um tema tão falado como o racismo de maneira totalmente inovadora, expondo-o não apenas em seu aspecto histórico, mas sob véus de progressismo, o que me fez imaginar como seria a Ku Klux Klan nos dias de hoje.
Não sei vocês que o viram, mas pude notar uma senhora influência de Cronenberg aqui.
É extraordinário como um filme do cinema mudo de 1926 consegue retratar os diferentes tipos de transtornos mentais de maneira que muitos filmes atuais com toda a tecnologia não conseguem.
É uma sequência de imagens simples, estarrecedora e tocante pela sensibilidade com a qual é conduzida; um retrato da loucura humana em sua forma mais íntima e verdadeira. Há genialidade em cada frame disto aqui.
E pensar que por mais de 40 anos uma peça genuína como esta foi dada como perdida e então, por acaso, é encontrada pelo Teinosuke Kinugasa escondida num vaso de um galpão de seu jardim... Isto é quase como um feito arqueológico.
Como seria se você pudesse ver, num sentido literal, a realidade bruta das coisas?
Apesar do tom conspiratório e distópico, John Carpenter responde esta pergunta com uma crítica mordaz e contundente ao sistema, à mídia, ao consumismo, à elite e à sociedade.
Ele expõe escancaradamente a indução à letargia feita pela mídia, que nos leva a um nível de realidade distorcido e nos impõe o conformismo; o consumismo que nos faz querer ter mais e mais coisas que não precisamos em detrimento de nossos próprios valores; o sistema repressor que nos priva de questionar a realidade em que vivemos, de contestar a (des)ordem vigente das coisas; a elite mesquinha, hipócrita e parasita que nos manipula a seu bel-prazer e para que não nos revoltemos contra a hierarquia social, e a sociedade submissa e desumanizada, que se submete à minoria dominante, aceitando sua mordaça sem objetar e que subsiste, então, completamente alienada no senso comum.
O diretor metaforiza os óculos como o senso crítico, como símbolo da consciência lúcida e do sujeito desperto, imune à coerção midiática e aos constructos sociais. Repare que quem os coloca e age de maneira mais intransigente logo é marginalizado, porque é o que tende a acontecer com quem pensa criticamente e se rebela contra o sistema e a elite. Um outro detalhe que vale citar é a dor de cabeça que se tem tanto com o uso excessivo dos óculos quanto com as mensagens de interferência na TV, o que eu entendo como o processo de desencantamento do indivíduo. Já as lentes de contato representam justamente o estado em que o estranhamento com a realidade já não existe.
Tudo é claramente muito simbólico neste filme. Desde as faces de caveira que designam as classes dominantes e as pessoas corrompidas, ao "Nada" que é a personificação da ausência de status social, bens materiais e quaisquer privilégios que tornem alguém visível socialmente, a luta entre os dois personagens centrais, que sintetiza a difícil desalienação de uma pessoa condicionada à ilusão, até ao preto e branco, que remete à padronização sistemática.
Essas são apenas algumas das observações sobre o que notei em "They Live", que além de ser um ótimo filme e se manter sempre tão atual, poderia também ser perfeitamente usado para o estudo de Sociologia.
Céus.... Nem reparei direito no filme com essas duas deusas em cena. Tive as mesmas palpitações de coração e falta de ar que a Mia Baran, mas contemplando a Sharon Stone e a Isabelle Adjani juntas.
Talvez a lição mais importante que se pode tirar dessa história é a compreensão. A compreensão de que independente de qualquer coisa, somos iguais uns aos outros e que nunca é cedo ou tarde demais para se compreender isto. Somos todos doutrinados de tal maneira que nos condicionamos a aceitar o que nos ensinam como certo e errado como verdades imutáveis, e a muito custo percebemos que tais "verdades" nos foram ensinadas de forma errada.
É sobre isto que se trata este filme. Sobre a doutrinação. Sobre o fundamentalismo que impede as pessoas de enxergarem a amplitude do horizonte de suas vidas, privando-as de encontrar a razão do ser. A serenidade deveria ser ensinada como princípio básico da compreensão.
Infelizmente muitas pessoas só aprendem a ser mais serenas e compreensivas através da dor. É através da perda e quando o orgulho já não é mais edificante que essas pessoas percebem que suas convicções morais as distanciaram mais do as aproximaram de seus propósitos.
Quantas pessoas não devem estar passando pelo mesmo dilema que Bobby neste momento? Será mesmo necessário que elas morram para que aqueles intolerantes em seus fundamentalismos compreendam que a homossexualidade não é escolha e muito menos doença?
Enquanto isso, muitas pessoas lutam para viver sob os escombros de si mesmas...
Pode-se dizer que a “trilogia adolescente apocalíptica” de Gregg Araki é a síntese da juventude desolada e sem perspectivas, que recorre ao hedonismo para aliviar suas frustrações sobre si mesma, com o mundo e a realidade com a qual se choca.
Em todos os três filmes, "Totally Fucked Up", "The Doom Generation" e "Nowhere" (1993, 1995 e 1997, respectivamente), e apesar de não haver nenhuma correlação narrativa entre eles, o diretor estabelece um diálogo existencialista com determinado teor de niilismo pautado em diferentes camadas, sobre as quais se moldam as vidas de jovens que se veem com a pressão social de serem "alguém na vida" e ao mesmo tempo indecisos sobre o que devem ou não fazer para isto. A partir daí, cria-se então um declive à subversão na qual se estagnam por inconformidade.
No entanto, Gregg Araki vai além do retrato que faz da juventude vazia e sem perspectivas de vida. Você pode perfeitamente pensar que cada um dos filmes dessa trilogia são nonsenses à primeira vista, mas basta um olhar mais atento para perceber que na verdade ele critica uma série de coisas que levaram os jovens dos idos anos '90 a se corromper, apesar das maluquices diversas e estéticas extravagantes que remetem ao universo adolescente daquela época.
Resumidamente, a “trilogia adolescente apocalíptica” é um retrato real sobre os dilemas da geração perdida que apesar de ter sido feito há duas décadas atrás, permanece bem atual.
P.S.: Tenho a teoria de que a Amy Blue é a Mia Wallace mais jovem, mas isto fica para outro dia.
"— What did he do to make this house so evil, Mr. Fischer? — Drug addiction, alcoholism, sadism, beastiality, mutilation, murder, vampirism, necrophilia, cannibalism, not to mention a gamut of sexual goodies. Shall I go on? — How did it end? — If it had ended, we would not be here."
Sensacional. É um dos melhores filmes no quesito casa mal assombrada que já vi.
O filme tem todo um conjunto de acertos que me fizeram compreender sem dificuldade o porquê de ser considerado um clássico... É um deleite. Como não se deslumbrar com essa cenografia? E essa mise-en-scène? É o tipo de mansão dos meus sonhos. E além do mais, o jogo de luz e sombra, os enquadramentos e planos, os efeitos (bem avançados para a época), a ambientação, as atuações e a atmosfera envolvente do início ao fim; tudo muito bem acertado.
Há um onirismo presente nesse filme que não se vê igual em nenhum outro do gênero, por mais sofisticado que seja.
Concordo que o final poderia ser outro muito melhor, mas ainda assim me surpreendi positivamente com este filme, tanto por sua premissa quanto por sua atmosfera bastante densa e ambientação claustrofóbica.
Há falhas no enredo que poderiam muito bem ser corrigidas, entretanto achei bem interessante essa abordagem ao imaginário popular com seus mitos acerca do necrotério e o ofício da necrópsia.
É algo que falta nesse gênero. Explorar outros ambientes, elaborar novas premissas, adotar diferentes perspectivas e se desprender dos clichês. A inovação é algo que deve estar sempre em alta e não em segundo plano por medo de não gerar lucros.
Este não é um filme para qualquer pessoa. Não mesmo.
Trata-se de uma peça genuína de Terror, expondo-o em sua forma mais crua e visceral.
São nítidas as influências de Béla Tarr tanto em sua estética quanto em seu ritmo; há também uma forte influência de Michael Haneke condensada nos personagens.
Nicolas Pesce não poderia iniciar sua carreira cinematográfica de maneira melhor. São 76 minutos de filme muito bem aproveitados, onde ele dialoga sobre a maldade humana, refletindo sobre seus motivadores e sobre até que ponto ela vai através de uma perspectiva realista, pautando com minimalismo temas bastante complexos.
"The Eyes of My Mother" é inovador não apenas por trazer uma abordagem diferente para o Terror como também por explorá-lo de maneira mais intimista.
É uma pena que um filme com uma estética tão linda, com uma temática lovecraftiana e cheio de boas referências a John Carpenter, Clive Barker e Lucio Fulci tenha um roteiro tão ruim...
Algumas cenas são tão bem elaboradas que em diversas vezes fiquei boquiaberto no decorrer do filme. Entretanto, é tudo muito disperso, já que o roteiro não tem uma estrutura narrativa definida. Ou seja, não há uma história consistente que dê sentido aos seus acontecimentos.
Apesar disto, "The Void" conseguiu prender a minha atenção do início ao fim tanto por sua estética primorosa e pelas atuações convincentes, quanto pelas cenas visualmente impactantes e o teor de um gore bem dosado, que em momento algum atrapalha o requinte visual do filme.
Também gostei bastante da atmosfera cósmica de "The Void", que com tantos bons recursos poderia sim ter sido muito melhor desenvolvido em termos de enredo e narrativa.
A Face do Outro
4.2 60Mais que um diálogo conciso sobre as personas, "Yanin no kao" é um retrato bem verdadeiro e tocante da psique.
As pessoas usam máscaras para serem aceitas não somente pelos outros, mas por si mesmas; rejeitam-se como são, tal como suas imperfeições vistas como "deformidades", seja pelo medo do julgamento alheio, seja pela insegurança, impotência ou medo da solidão.
Me lembro de ter lido em algum lugar uma frase que diz: "Se você esmagar uma barata, você é um herói. Se você esmagar uma borboleta, você é um vilão. A moral tem critério estético." Tal frase, quando associada ao que se passa no filme, isto é, nos contatos que o Sr. Okuyama tem com a sociedade usando as faixas e depois a máscara, faz certo sentido, uma vez que a própria moral do protagonista passa pelo crivo estético.
Este é um filme que também me faz refletir sobre como as pessoas lidam com o amor. "Quando estamos apaixonados, nos desmascaramos." — dita num breve diálogo, tal afirmação me faz pensar que é no amor, tanto quanto no extremo desespero, que as aparências se dissipam como névoa e ficamos de fato nus, porque apesar da vulnerabilidade nos colocamos diante do outro sem medo, ainda que no amor sua razão seja a confiança, enquanto que no desespero seja a indolência.
A Espada da Maldição
4.2 35É difícil formular algo sobre este filme porque é um filmão da porra em todos os sentidos da expressão. Se um dia você tiver a oportunidade de vê-lo, veja porque vale a pena cada segundo.
O cinema nipônico tem um lugar especial no meu coração e eu penso que todo ser humano teria uma vida mais interessante de se viver se buscasse conhecer os filmes e os diretores desse cinema em específico antes de morrer.
E embora "The Sword of Doom" (Dai-bosatsu tôge) não seja nenhum épico do clássico cinema japonês, é certamente um filme marcante, porque além de ter uma boa história com ótimas atuações é muito bem dirigido.
Tatsuya Nakadai protagoniza as melhores sequências de luta entre samurais que eu já vi na vida; eu já era seu fã em "Harakiri" pela mesma razão e agora só reafirmo que esse cara é um monstro sagrado.
Helter Skelter
3.9 70Um bom filme macabro não precisa necessariamente ser de terror. E Helter Skelter deixa isso bem claro.
Mas o que posso dizer desse filme?
O que particularmente me deixou pasmo não foram as boas atuações e a história cativante repleta de mensagens que, mais do que nunca, refletem a realidade que vivemos, com toda essa importância que as pessoas dão às aparências; mas a fotografia embasbacante, a trilha sonora pontualíssima, a mise-en-scène de uma qualidade do caralho, a disposição de cores e os movimentos de câmera cautelosos que te induzem a um quadro de horror sobre a beleza.
Em Helter Skelter são escancaradas a busca desenfreada pela beleza ideal, a obsessão pela imagem, o narcisismo exacerbado, a mesquinhez, a inveja, a ganância, a desfaçatez, o fanatismo e a péssima tendência que as pessoas têm de elegerem um modelo em quem possam se espelhar. E é aí que entra Ririko, uma jovem narcisista, sem escrúpulos, manipuladora e dissimulada, capaz de tudo, até dos atos mais sórdidos, para se manter sempre nas capas das revistas, atraindo para si os holofotes e a atenção do público. Em consequência disso, Ririko é uma pessoa extremamente infeliz, vazia e apesar de estar sempre tão rodeada de pessoas, sente-se absolutamente só, uma vez que ninguém realmente a ama e que só está por perto pelo status, pela fama e pelo dinheiro. Ninguém exceto Tada, que por ser subserviente se submete aos caprichos e humilhações impostas por Ririko.
Vale muito a pena enfatizar a correlação que Mika Ninagawa traz neste filme com os dias de hoje. Em tempos onde Tumblr, Instagram e outros veículos de imagem estão em alta, a maioria das pessoas dá mais importância às aparências, aos ideais estéticos e com isto se esquecem de quem são; na (des)necessidade de agradarem a todos, traem a si mesmas pelo o que se deseja ser ou ter e, portanto, entram num caminho sem volta para acabarem num poço sem fundo.
Cloverfield: Monstro
3.2 1,4K Assista AgoraNunca ansiei tanto pela morte de um protagonista como o deste filme... Que cara chato da porra, mano! Invasivo, inconveniente e não para de falar.
Enfim, o filme é legal, até.
Savaged
3.0 86Tá aí um filme que me surpreendeu bastante. É repleto de cenas boas, com um terror sólido e uma abordagem inteligente a um tema que, pelo menos para mim, é bem interessante.
Essa temática indígena/apache agrega um forte misticismo à trama, o que faz das cenas de possessão muito criativas.
Embora os efeitos deixem a desejar em certos momentos, não comprometem o resultado final do filme.
Ojeda vai direto ao ponto, fazendo um bom uso do gore nos momentos certos e, portanto, entrega uma história visceral.
Vida de Solteiro
3.7 261 Assista AgoraÉ interessante como Singles versa sobre as dessincronias amorosas, evidenciando o fato de que as pessoas mesmo numa relação mudam e então se estranham por terem se tornado diferentes umas das outras, rompendo com toda aquela idealização típica que, com o tempo, conforme a convivência, se dilui.
O filme segue o mesmo padrão já clichê dos filmes românticos, porém induz à uma reflexão válida acerca de muita coisa presente nos dias de hoje, como joguinhos de desinteresse, por exemplo.
Confissões
4.2 855Complexo de Édipo. Psicopatia. Narcisismo. Psicose. Egoísmo. Inversão de valores. Maquiavelismo. Apatia. Bullying. Idolatria. Negligência. Rejeição. Abandono. Vingança. Preconceito.
A crueza com a qual temas tão delicados são abordados neste filme é extraordinária. E somada à fotografia impecável e à trilha sonora que vai desde Radiohead a Bach, tem-se então uma obra de elevado teor poético sobre a desfaçatez humana, sobre a natureza corrompida do homem.
Algumas cenas são tão lindas que chegam a ser inesquecíveis. O roteiro é tão bem executado que ao final do filme você se pega surpreso não apenas pelos plot twists e pela narrativa sucinta, mas pela crueldade contida em cada cena, em cada personagem.
É impossível ver Kokuhaku (aka "Confessions") sem se perguntar sobre o que será das próximas gerações, já que os princípios e valores básicos da educação têm sido cada vez mais distorcidos...
Porque a tendência é a da pessoa se corromper mais cedo do que se pode imaginar.
Endemoniada
4.0 316 Assista AgoraPrimeiramente: não seja uma pessoa cuzona como a Hae-Won. Não seja.
É por gente cuzona como ela que muita merda acontece e continua a acontecer nesse mundo.
Pois bem, que coisa surpreendente esse filme... Normalmente você espera tanto que as tuas expectativas sejam atendidas num determinado filme que quando elas finalmente são, sendo que isto dificilmente acontece, você até fica surpreso.
Eis um interessante retrato do colapso nervoso. Pode parecer que "Bedevilled" extrapole diante da realidade, mas há nele mais fidelidade com o cotidiano de muitas pessoas do que se imagina.
Bok-Nam mostra que por mais passivo que se seja, ninguém é de ferro.
O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante
4.1 155Entre tantas referências estéticas à pintura, como ao quadro "The Night Watch", de Rembrandt, tem-se aqui uma belíssima peça sobre a vingança, culminada por um colapso após tanto tempo de passividade diante da humilhação.
O uso que Peter Greenaway faz das cores em cada cenário é brilhante e seu cuidado é notável, com ênfase na alternância de cores nas roupas de Georgina ao entrar e sair do banheiro. Pode-se dizer o mesmo quanto aos planos, enquadramentos e movimentos de câmera, cuidadosamente bem feitos.
Albert é sem dúvida o tipo de personagem tão detestável que odiá-lo torna-se impossível. Ele é a síntese de tudo o que há de mais degenerado na burguesia.
Pode parecer um filme maçante para alguns e até o é, em certo momento, mas seu desfecho é tão sensacional que compensa cada minuto.
Bad Boy Bubby
4.0 142É uma aula sobre a "Alegoria da Caverna", de Platão.
E se eu fosse professor de Filosofia e precisasse ensinar sobre, usaria este filme como objeto de estudo, para que todos os alunos pudessem ter pelo menos uma boa noção sobre isto.
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraCertos filmes são tão bons que fazem o meu dia valer a pena só de vê-los.
É o caso deste, que para mim é o melhor filme deste ano até agora.
Se no gênero do Terror continuarem a ser lançados filmes como este, certamente teremos potenciais clássicos nos próximos anos.
"Get Out!" aborda um tema tão falado como o racismo de maneira totalmente inovadora, expondo-o não apenas em seu aspecto histórico, mas sob véus de progressismo, o que me fez imaginar como seria a Ku Klux Klan nos dias de hoje.
Não sei vocês que o viram, mas pude notar uma senhora influência de Cronenberg aqui.
Uma Página de Loucura
4.1 46 Assista AgoraO b r a - p r i m a!
É extraordinário como um filme do cinema mudo de 1926 consegue retratar os diferentes tipos de transtornos mentais de maneira que muitos filmes atuais com toda a tecnologia não conseguem.
É uma sequência de imagens simples, estarrecedora e tocante pela sensibilidade com a qual é conduzida; um retrato da loucura humana em sua forma mais íntima e verdadeira. Há genialidade em cada frame disto aqui.
E pensar que por mais de 40 anos uma peça genuína como esta foi dada como perdida e então, por acaso, é encontrada pelo Teinosuke Kinugasa escondida num vaso de um galpão de seu jardim... Isto é quase como um feito arqueológico.
Além do Arco-Íris Negro
3.0 91A única parte boa é quando toca Venom. Só.
O Segredo do Bosque dos Sonhos
3.8 88Se o padre não tivesse cometido os crimes na cara dura, talvez não faria faísca quando ele caiu do penhasco.
Eles Vivem
3.7 730 Assista AgoraComo seria se você pudesse ver, num sentido literal, a realidade bruta das coisas?
Apesar do tom conspiratório e distópico, John Carpenter responde esta pergunta com uma crítica mordaz e contundente ao sistema, à mídia, ao consumismo, à elite e à sociedade.
Ele expõe escancaradamente a indução à letargia feita pela mídia, que nos leva a um nível de realidade distorcido e nos impõe o conformismo; o consumismo que nos faz querer ter mais e mais coisas que não precisamos em detrimento de nossos próprios valores; o sistema repressor que nos priva de questionar a realidade em que vivemos, de contestar a (des)ordem vigente das coisas; a elite mesquinha, hipócrita e parasita que nos manipula a seu bel-prazer e para que não nos revoltemos contra a hierarquia social, e a sociedade submissa e desumanizada, que se submete à minoria dominante, aceitando sua mordaça sem objetar e que subsiste, então, completamente alienada no senso comum.
O diretor metaforiza os óculos como o senso crítico, como símbolo da consciência lúcida e do sujeito desperto, imune à coerção midiática e aos constructos sociais. Repare que quem os coloca e age de maneira mais intransigente logo é marginalizado, porque é o que tende a acontecer com quem pensa criticamente e se rebela contra o sistema e a elite. Um outro detalhe que vale citar é a dor de cabeça que se tem tanto com o uso excessivo dos óculos quanto com as mensagens de interferência na TV, o que eu entendo como o processo de desencantamento do indivíduo. Já as lentes de contato representam justamente o estado em que o estranhamento com a realidade já não existe.
Tudo é claramente muito simbólico neste filme. Desde as faces de caveira que designam as classes dominantes e as pessoas corrompidas, ao "Nada" que é a personificação da ausência de status social, bens materiais e quaisquer privilégios que tornem alguém visível socialmente, a luta entre os dois personagens centrais, que sintetiza a difícil desalienação de uma pessoa condicionada à ilusão, até ao preto e branco, que remete à padronização sistemática.
Essas são apenas algumas das observações sobre o que notei em "They Live", que além de ser um ótimo filme e se manter sempre tão atual, poderia também ser perfeitamente usado para o estudo de Sociologia.
Shocker: 100.000 Volts de Terror
2.7 112Esse filme pode não ser dos melhores, mas essa trilha sonora é do caralho.
Diabolique
3.0 116 Assista AgoraCéus.... Nem reparei direito no filme com essas duas deusas em cena. Tive as mesmas palpitações de coração e falta de ar que a Mia Baran, mas contemplando a Sharon Stone e a Isabelle Adjani juntas.
Orações para Bobby
4.4 1,4KTalvez a lição mais importante que se pode tirar dessa história é a compreensão. A compreensão de que independente de qualquer coisa, somos iguais uns aos outros e que nunca é cedo ou tarde demais para se compreender isto. Somos todos doutrinados de tal maneira que nos condicionamos a aceitar o que nos ensinam como certo e errado como verdades imutáveis, e a muito custo percebemos que tais "verdades" nos foram ensinadas de forma errada.
É sobre isto que se trata este filme. Sobre a doutrinação. Sobre o fundamentalismo que impede as pessoas de enxergarem a amplitude do horizonte de suas vidas, privando-as de encontrar a razão do ser. A serenidade deveria ser ensinada como princípio básico da compreensão.
Infelizmente muitas pessoas só aprendem a ser mais serenas e compreensivas através da dor. É através da perda e quando o orgulho já não é mais edificante que essas pessoas percebem que suas convicções morais as distanciaram mais do as aproximaram de seus propósitos.
Quantas pessoas não devem estar passando pelo mesmo dilema que Bobby neste momento? Será mesmo necessário que elas morram para que aqueles intolerantes em seus fundamentalismos compreendam que a homossexualidade não é escolha e muito menos doença?
Enquanto isso, muitas pessoas lutam para viver sob os escombros de si mesmas...
Enfim... É de utilidade pública este filme.
Geração Maldita
3.7 126"The world sucks"
Pode-se dizer que a “trilogia adolescente apocalíptica” de Gregg Araki é a síntese da juventude desolada e sem perspectivas, que recorre ao hedonismo para aliviar suas frustrações sobre si mesma, com o mundo e a realidade com a qual se choca.
Em todos os três filmes, "Totally Fucked Up", "The Doom Generation" e "Nowhere" (1993, 1995 e 1997, respectivamente), e apesar de não haver nenhuma correlação narrativa entre eles, o diretor estabelece um diálogo existencialista com determinado teor de niilismo pautado em diferentes camadas, sobre as quais se moldam as vidas de jovens que se veem com a pressão social de serem "alguém na vida" e ao mesmo tempo indecisos sobre o que devem ou não fazer para isto. A partir daí, cria-se então um declive à subversão na qual se estagnam por inconformidade.
No entanto, Gregg Araki vai além do retrato que faz da juventude vazia e sem perspectivas de vida. Você pode perfeitamente pensar que cada um dos filmes dessa trilogia são nonsenses à primeira vista, mas basta um olhar mais atento para perceber que na verdade ele critica uma série de coisas que levaram os jovens dos idos anos '90 a se corromper, apesar das maluquices diversas e estéticas extravagantes que remetem ao universo adolescente daquela época.
Resumidamente, a “trilogia adolescente apocalíptica” é um retrato real sobre os dilemas da geração perdida que apesar de ter sido feito há duas décadas atrás, permanece bem atual.
P.S.: Tenho a teoria de que a Amy Blue é a Mia Wallace mais jovem, mas isto fica para outro dia.
A Casa da Noite Eterna
3.6 108"— What did he do to make this house so evil, Mr. Fischer?
— Drug addiction, alcoholism, sadism, beastiality, mutilation, murder, vampirism, necrophilia, cannibalism, not to mention a gamut of sexual goodies. Shall I go on?
— How did it end?
— If it had ended, we would not be here."
Sensacional. É um dos melhores filmes no quesito casa mal assombrada que já vi.
O filme tem todo um conjunto de acertos que me fizeram compreender sem dificuldade o porquê de ser considerado um clássico... É um deleite. Como não se deslumbrar com essa cenografia? E essa mise-en-scène? É o tipo de mansão dos meus sonhos. E além do mais, o jogo de luz e sombra, os enquadramentos e planos, os efeitos (bem avançados para a época), a ambientação, as atuações e a atmosfera envolvente do início ao fim; tudo muito bem acertado.
Há um onirismo presente nesse filme que não se vê igual em nenhum outro do gênero, por mais sofisticado que seja.
A Autópsia
3.3 1,0K Assista AgoraConcordo que o final poderia ser outro muito melhor, mas ainda assim me surpreendi positivamente com este filme, tanto por sua premissa quanto por sua atmosfera bastante densa e ambientação claustrofóbica.
Há falhas no enredo que poderiam muito bem ser corrigidas, entretanto achei bem interessante essa abordagem ao imaginário popular com seus mitos acerca do necrotério e o ofício da necrópsia.
É algo que falta nesse gênero. Explorar outros ambientes, elaborar novas premissas, adotar diferentes perspectivas e se desprender dos clichês. A inovação é algo que deve estar sempre em alta e não em segundo plano por medo de não gerar lucros.
Os Olhos de Minha Mãe
3.6 180 Assista AgoraEste não é um filme para qualquer pessoa. Não mesmo.
Trata-se de uma peça genuína de Terror, expondo-o em sua forma mais crua e visceral.
São nítidas as influências de Béla Tarr tanto em sua estética quanto em seu ritmo; há também uma forte influência de Michael Haneke condensada nos personagens.
Nicolas Pesce não poderia iniciar sua carreira cinematográfica de maneira melhor. São 76 minutos de filme muito bem aproveitados, onde ele dialoga sobre a maldade humana, refletindo sobre seus motivadores e sobre até que ponto ela vai através de uma perspectiva realista, pautando com minimalismo temas bastante complexos.
"The Eyes of My Mother" é inovador não apenas por trazer uma abordagem diferente para o Terror como também por explorá-lo de maneira mais intimista.
Lábios de Sangue
3.1 14 Assista AgoraPor um momento pensei que fosse o Bon Scott.
A Seita Maligna
3.0 292É uma pena que um filme com uma estética tão linda, com uma temática lovecraftiana e cheio de boas referências a John Carpenter, Clive Barker e Lucio Fulci tenha um roteiro tão ruim...
Algumas cenas são tão bem elaboradas que em diversas vezes fiquei boquiaberto no decorrer do filme. Entretanto, é tudo muito disperso, já que o roteiro não tem uma estrutura narrativa definida. Ou seja, não há uma história consistente que dê sentido aos seus acontecimentos.
Apesar disto, "The Void" conseguiu prender a minha atenção do início ao fim tanto por sua estética primorosa e pelas atuações convincentes, quanto pelas cenas visualmente impactantes e o teor de um gore bem dosado, que em momento algum atrapalha o requinte visual do filme.
Também gostei bastante da atmosfera cósmica de "The Void", que com tantos bons recursos poderia sim ter sido muito melhor desenvolvido em termos de enredo e narrativa.