Só consegui me conectar com a série a partir do 4° episódio, acho que só engata mesmo a partir daí. Antes disso, achei o excesso de gritaria muito chato, mas que vai fazendo sentido ao longo dos episódios quando a complexidade dos personagens são expostas. O elenco é afiadíssimo, destaque total para Jeremy Allen White, Ayo Edebiri e L-Boy, ótimos! Não posso dizer o mesmo de Ebon Moss-Bachrach que só berra.
Fora isso, o clima gélido e a trilha sonora dão um tom frenético e entendo perfeitamente ser considerada uma série de comédia pelo ar tragicômico.
Concordo com o camarada abaixo dizendo que a série é bem existencialista. Contudo, achei que fosse gostar mais dessa produção. Achei, digamos, eficaz. Nada mirabolante, nada inovador, roteiro batido, até chato. Diminuiria para, no máximo 8 episódios. A caracterização do Fábio Assunção é péssima e isso esteticamente influencia em como você compra o drama do personagem. O que faz "Fim" deslanchar por conta desse roteiro meia boca é mesmo o elenco, especialmente as mulheres que estão assombrosas no papel, todas, sem exceção, brilham. Entre os homens, por mais que Bruno Mazzeo esteja no melhor papel da carreira (algo me diz que ele é exatamente assim na vida real: chato e soberbo), Thelmo Fernandes é que mais me chamou a atenção.
E é sobre isso: início, meio e fim! O que te molda é como você coordena (ou se deixa ser coordenado) nesse meio até o derradeiro...
Na minha lembrança era uma série sem defeitos. Revisto, enxerguei alguns erros. Tudo muito corrido e merecia pelo menos mais um episódio dos quatro originais para dar mais consistência e ênfase no dilema de Sereia e da Mãe de Santo.
E nem vou adentrar o mérito de uma Bahia branca e com atores negros sendo desperdiçados em figuração de luxo. Poderiam render bem mais a Zezé Motta (uma atriz do porte dela naquela pontinha) e Margareth Menezes.
No mais, Isis Valverde vence pela beleza e carisma, né?
Assinado por Aline Birch (“Normal People”, 2020 e a badalada “Succession”, 2018-2023 da HBO), a minissérie de seis episódios mantém o clima mórbido, soturno e com ares de thriller psicológico do filme. O caldo engrossa com questões sociais muito pertinentes na atualidade como racismo cordial, racismo parental (a cena do desdém de outra médica com uma paciente negra é cruel), sistema médico ruim e parcial, a desumanização dos corpos das mulheres em um momento feliz e vulnerável da gravidez ao parto, os ricos excêntricos em suas bolhas sociais que vivem pelo lucro e ridicularização da vida que não esteja inserida nesta bolha, entre outras camadas.
A nova série da Amazon Prime simplesmente chamada “Novela” é um festival das mais absurdas ferramentas usadas pelos autores e diretores para prender a atenção do telespectador. Co-produzida junto com a galera da Porta dos Fundos (sim, eles mesmos!), a nova comédia da plataforma é bizarramente interessante muito mais pelo contexto e da zoação que fazem do que o roteiro (um tanto bobo) assim.
Gosto de maratonar séries/minisséries/novelas. Entretanto, há aquelas produções que não se ousa tal efeito para não deixar nada passar despercebido, “Cangaço Novo” é uma dessas produções. Ao longo de algumas semanas em doses homeopáticas, fui digerindo esse “nodestern” que não deixa em dever em nada nas produções gringas.
Vi muita gente comentando que a série é uma “epopéia nordestina” e com toda razão. “Cangaço Novo” é um misto de muitas coisas que já vimos por aí, mas com um frescor/sabor e sotaque nordestino sempre preterido historicamente no nosso audiovisual, por produções sudestinas.
Está tudo ali: conhecimento de si em meio a uma adversidade, disputas políticas, territoriais, crimes, uma quadrilha carismática, questões éticas e morais, traumas e anseios familiares, amores, desamores, mortes e muito sangue derramado. E um matriarcado representado pela potência da mulher nordestina.
Quem é o certo, quem é o errado? Não sabemos, mas o elenco majoritariamente nordestino te prende do início ao fim. Desde nomes consagrados como Hermila Guedes (nunca esteve tão linda), Marcélia Calixto (sempre excelente), Ricardo Blat e Luiz Carlos Vasconcelos, sensacionais, até o elenco desconhecido do grande público com muita força cênica. Mas os grandes nomes que te deixam em estado êxtase não são outros senão Allan Souza Lima, Alice Carvalho e Thainá Duarte: a mente, a brutalidade e o silêncio que ecoa mais que barulho, respectivamente.
E teve mais gente que desprezou a série por estarmos “ovacionando” a bandidagem. Minha resposta: um bando de hipócritas. Os mesmos que falam isso são os mesmos que aplaudem “Breaking Bad”, “Better Call Saul”, “Sons of Anarchy” (minha série favorita), “Peaky Blinders” e “Boardwalk Empire”, por exemplo. Séries gringas fantásticas e que, em resumo, não se diferenciam de “Cangaço Novo” que, por sua vez, não deixa em dever em nada para eles.
"Não sou da época do Balão Mágico. Mesmo assim, toda a magia e pureza desse quarteto mais que fantástico permeou a infância da pessoa que vos escreve, nascida no final daquela década de 1980 marcada pelos seus excessos, cores vibrantes, uma alegria sem igual e muita diversão, apesar dos pesares. Bom, pelo menos, é isso que imagino quando falam com muita nostalgia daquela época de encantos e descobertas. E eu poderia falar o mesmo da minha infância feliz dos anos 1990 ou da minha pré e adolescência nos anos 2000."
Os filhos são as projeções dos seus pais. É um relacionamento bastante louco e nada fácil de conceber no que se trata da relação entre pais e filhos. “O coração que bate fora do peito”, os pais e mães dizem dos seus filhos e filhas. As projeções já começam por aí quando se cria expectativas em torno do futuro do/a rebento/a e de como ele/a será enquanto pessoa. Boa? Ruim? Bem relacionada e bem de vida? Seguindo seus próprios passos ou os passos condicionados pelos pais? Enfim, projeções.
Mas os filhos crescem e resolvem trilhar seus próprios caminhos, ainda que similares aos dos pais, mas apenas seus caminhos. Aí que o coração sai pela boca quando os/as rebentos/as saem do ninho para seguir o seu próprio destino. Mas, e quando destino sai da trilha e se mostra um verdadeiro pesadelo? Onde anda o coração fora do peito perdido na bagunça do seu próprio caos interior? Eis “Onde Está Meu Coração”, minissérie importe sobre o vício de crack e de como a droga não apenas destrói o/a usuário/a, mas todo o seu redor. E, para, além disso, é uma história de amor entre pais e filhos na busca de reparar erros e acertos, conexão, família e união.
Um roteiro bem elaborado e escrito por George Moura e Sérgio Goldenberg, mas incomoda um pouco os longos dez episódios, a sensação é que, depois de quarto ou quinto episódio, a série ficou rodando em círculos em quase um pleonasmo sem fim. Penso que seis ou oito episódios seriam o suficiente.
Outra coisa muito óbvia é quando se trata de relações de drogas na dramaturgia, sempre visto pela ótica branca e rica, já perceberam? O sofrimento podem ser os mesmos, as dores podem ser as mesmas, mas as soluções não. Esse arco burguês e da facilidade do tratamento, dos privilégios jogados no lixo em virtude da droga e tudo mais me pareceu um tanto fundamentalista e até elitista no sentido de: “oh, vejam uma doutora rica, branca e viciada, como pode?”, enfim, vocês entenderam.
E isso fica explícito no episódio sete quando ela vai presa por tentativa de assalto e logo depois liberada... Por motivos óbvios.
No mais, grande elenco em sintonia. Letícia Colin é um talento extraordinário, você sente tudo em seu olhar, seus tiques, suas caras e bocas propositalmente perturbadoras, a angústia. Grandiosa.
Imagino os gatilhos que essa produção foi para Fábio Assunção ou uma maneira de exorcismo dos seus demônios, todos sabem dos seus problemas com bebidas e drogas.
Mas, em minha opinião, o grande nome é de Mariana Lima. Que atriz, meus caros. Que atriz! Está tudo no seu olhar, na sua urgência em proteger sua cria, sua família. Um espetáculo. Cada vez mais amo essa mulher.
Castor Gonçalves de Andrade e Silva, ou simplesmente Castor de Andrade. Esse era/é o nome do homem que revolucionou Bangu e o Rio de Janeiro por volta de 1960 e 1990. O maior contraventor, bicheiro e amigo das celebridades. Um bandido bossa nova querido pelo público e imprensa. Castor de Andrade, ou Patrono Dr. Castor de Andrade, assim como muitos mafiosos, tinha o dom da oratória e sabia como poucos intimidar e causar admiração na mesma proporção.
Sem duvidas, um ser admirável quanto execrável. O bem e o mal na mesma intensidade como poucos que escreveram seu nome na história. E quanto vale escrever o nome na história? Para ele, além do Bangu e a Mocidade Independente de Padre Miguel, Doutor Castor, um roedor que comeu pelas beiradas, fez seu nome e fortuna, com jogo de bicho, trambiques, mortes e muita dose de poder, o cara foi um figura lendária, imponente e importante.
Creio que o personagem Giovani Improta (José Wilker) em Senhora do Destino (2004) foi inspirado nele tamanha a sua popularidade e devoção da população a ele, mão aberta para quem o bajulava e um santo, considerado para muitos um santo. Só perceber a paixão dos entrevistados falando sobre ele.
Castor de Andrade, após assistir esse documentário em quatro episódios da Globoplay, não há a menor dúvida que ele foi o maior malandro/gangster do Brasil. Inteligente, sabia dos seus privilégios e usava ao seu favor, pois era bem articulado. Um grande orador, mestre e meliante. Um sujeito como poucos, infelizmente, admirável e necessário para a comunidade.
E, para minha surpresa, Reginão, vulgo minha mãe, o conheceu e foi tudo aquilo mesmo. Estou em conflito de admiração e julgamento.
"Em certo momento de um dos cinco episódios, ele diz que a canção “Palco” é sua “música talismã”. E não há como discordar. O palco, a arte, corre pelo sangue e DNA dos Gil. Seus filhos, netos e bisnetos têm o talento nato para a musicalidade. Todos com suas personalidades e que estão ali para um bem comum: celebrar a vida e obra de Gilberto Gil."
Minha crítica completa no site CineSet: <critica-em-casa-com-os-gil/>
Para qualquer produção que é feita, sempre há um contexto por trás, uma moral, um ponto de vista a ser defendido ou denuncia. Mas qual o contexto de “Sex Appeal”, minissérie global de muito sucesso de quase trinta anos atrás? Para onde veio? Para onde vai? Qual a sua necessidade de existir? Respondo, nem deveria ter existido!
A minissérie é um aglomerado de coisas que não funcionariam nem separadamente. E, pensando no contexto da época, recheado de machismo e racismo descarado que de tão naturalizados ficam como uma parte “cômica” dos longos 20 capítulos. Mas o problema não é só isso, o texto de Antônio Calmon (a mente que concebeu Top Model, Vamp e Um Anjo Caiu do Céu, por exemplo) é ruim, de mau gosto e recheada de furos que são tão óbvios que não é possível que a Globo tenha subestimado tanto a inteligência do público. E subestimou com razão, dado o sucesso absurdo da produção que voltou com muitos louros e celebrações no Globoplay no final do ano passado. Todavia, há bons momentos. Especialmente por ter revelado quatro grandes estrelas/musas ainda na casa dos 15 e 16 anos: a protagonista Angel (Luana Piovani), Camila Pitanga, Carolina Dieckmann e Danielle Winits, que já tinha seus 19 aninhos. A linguagem juvenil, com a quebra da quarta parede ou cortes rápidos com cenas de modelos de uma transição de cena para outra funciona. Um pré-Malhação para maiores. A trilha sonora com o melhor de época foi o grande momento, talvez, a melhor coisa da minissérie.
Destaque também para os saudosos Walmor Chargas, Cleyde Yáconis, Beth Lago e Thales Pan Chacon, excelentes em cena. Elizabeth Savalla e Octávio Augusto, talentosos que são sempre preenchendo a tela. Lui Mendes se destaca também. Tony Tornado, Bel Kutner e Lilia Cabral (antes de ser A LILIA CABRAL) sem muito o que fazer em cena com personagens dispensáveis. Mas o show de horrores de atuações de Mário Gomes, Rômulo Arantes, Kadu Moliterno e Dennis Carvalho, nesta altura, já veteranos, é imperdoável. Até Nico Puig, então revelação, esteve melhor que eles. Até o Supla, sim, ele mesmo, estava mais carismático.
E a história em si de modelos rumo ao sucesso, com intriga, fanatismo, culto satânico (péssimo gosto) e mistério? Apenas dispensáveis. Foram vinte capítulos que se enxugar muito, salvam-se apenas seis e olhe lá. O mundo na moda nunca foi tão mal representado. Entre a Angel pudica e sem brilho dos anos 90 e a Angel safadinha dos anos 2010 (Verdades Secretas), fique com a segunda.
"“Heartstopper” não entrega nada de novo. Não há grandes acontecimentos senão a paixão desses adolescentes em viver suas paixões, suas vidas, encarar os medos e desafios. Se reconhecer como um indivíduo de fato com seus traumas (ou a ausência deles) e a certeza que com uma rede de apoio sempre se é mais forte e pronto para encarar qualquer eventualidade."
Minha crítica completa no site CineSet: <critica-heartstopper-netflix-2022/>
Encantado com essa série que não tem nada de novo mas traz um frescor muito bom. E a química entre Steve Martin e Martin Short faz querer a gente assistir a série num looping infinito. E o episódio 7? Muito bom!
A crítica completa você pode ler no site CineSet (eles bloqueiam links aqui): <critica-only-murders-in-the-building/>
Crimes, mistérios, paixões, intrigas, alta sociedade hipócrita, racismo, homofobia, machismo, vingança e uma boa dose de drama permeiam uma pacata cidadezinha do interior do Rio de Janeiro no início dos anos 1960. Parece familiar, não? E é mesmo. “Se Eu Fechar os Olhos Agora” não passa de uma obra requentada de crime e mistério maquiada com uma boa produção e ambientação da época.
A produção tem como base o livro homônimo do jornalista Edney Silvestre e conta a história de um grande crime que choca a cidadezinha, a morte da estonteante Anita (Thainá Duarte), seu corpo é encontrado pelos dois meninos inseparáveis, Paulo Roberto (João Gabriel D´Aleluia) e Eduardo (Xande Valois) que, juntamente com o idoso aparentemente vulnerável, Ubiratan (Antônio Fagundes), resolvem desvendar o mistério por trás da morte da moça e os outros crimes desencadeados a partir disso.
E o que encontram é uma série de crimes como escravidão, estupro, pedofilia, incesto, mascarados pela boa sociedade rica e branca da época representados pelos poderosos da região, o prefeito Adriano Torres (Murilo Benício) e sua fiel e zelosa esposa Isabel (Débora Falabella), o magnata Geraldo Bastos (Gabriel Braga Nunes) e sua esfuziante esposa troféu Adalgisa (Mariana Ximenes) e o Bispo Dom Tadeu (Jonas Bloch) com seu inseparável chaveirinho Danilo (Vitor Thiré). Dinheiro, poder, prestigio permeiam essa região que, com muita dose de hipocrisia, narcisismo e sadismo, aparenta ser o que não é.
Com roteiro de Ricardo Linhares e com direção de Carlos Manga Jr, a minissérie de dez capítulos enrola muito presa num mistério que poderia ser resolvido em uns cinco episódios. Mas a Globo não consegue abrir mão do dramalhão novelesco, mesmo em produções mais curtas, eles sempre caem nessa cilada e isso diminui um pouco a qualidade das minisséries e séries já que a proposta é se distanciar das novelas. Mas, por mais que haja bons exemplos dessa distância, ainda assim, muitos caem nessa linguagem novelesca e que enrola bastante.
Os temas propostos são jogados como se fossem uma notinha de rodapé. Frases sobre racismo, homofobia, machismo e o patriarcado de homens brancos e influentes soam mais como uma frase de efeito para mostrar o comportamento, mas nunca como uma reflexão. Particularmente não me agrada a assinatura solo de Ricardo Linhares, não acho um autor que tenha cacife para voos solo, mas, talvez, esta seja sua obra mais interessante, enquanto autor principal, mesmo aos trancos e barrancos.
Outro fator importante que dá uma quebrada é a escalação do de um trio importante na trama: Enzo Romani não convence misterioso Renato (só como objeto sexual mesmo), Marcela Fetter como jovem rica e empoderada filha do prefeito Cecília e a peça chave, Anita. Um trio fraquíssimo. E o Paulo Rocha como um dos vilões? Creio que foi a escolha mais equivocada de todo o elenco. Que ator ruim!
Eles destoam do restante do elenco afiado, especialmente com os meninos Xande e João Gabriel, seguros em cena, Fagundes fazendo tipos que se especializou nos últimos anos, Falabella mais contida e Ximenes sempre preenchendo a tela com seu carisma, mesmo caricata. Murilo e Braga Nunes sabem usar do charme para personagens ambíguos, embora precisem urgentemente de uma renovação em seu repertório.
Destaque para as participações de Milton Gonçalves (narrador), Jonas Bloch e Betty Faria e uma cena estarrecedora com Ruth de Souza, que atriz ela era, em uma única cena, valeu pelos dez episódios. Seu último trabalho em vida. Medalhões da dramaturgia brasileira.
“Se Eu Fechar os Olhos Agora” não inova em nada, enrola muito, mas é uma boa distração, especialmente por conta do elenco em um contexto geral.
Historicamente os homens brancos e ricos comandam o sistema. Eles dão as regras do jogo. O poder ilimitado do patriarcado deixa um rastro de sangue, mentiras e violência. E eles sabem que, no alto do seu poder, da sua condição e prestígio, nada acontece com eles. Como um arranhão. Pois eles estão inseridos nessa podridão de poder que perpassa gerações. É estrutural.
A série é livremente baseada no livro “A Clínica: A Farsa e os Crimes de Roger Abdelmassih”, de Vicente Vilardaga, que conta os crimes de cometidos pelo ex-médico, famoso por ser especialista em reprodução humana. Na ocasião da fertilização, ele abusava sexualmente das suas pacientes, ainda dopadas pelos medicamentos.
Manipulador, machista, invasivo. São alguns adjetivos para classificar Roger Sadala (Antônio Calloni), um homem de família, religioso e acima do bem e do mal. Mas por trás de toda a fortaleza, renome, fama e fortuna, havia um monstro. Um predador pronto para dar o bote na CERTEZA que nada e nem ninguém o impediria de continuar com seus crimes: estuprar mulheres na busca do sonho de ser mãe. E esse estupro não deixa de ser coletivo, quando o ato repugnante ressoa por toda família da vítima: marido, filhos, casamento, relações sociais, empregos, tudo acaba, cai por terra. Como conviver com uma vida invadida, violada quando se buscava um sonho? E esse sonho, que se concretiza é sempre uma lembrança de uma passagem que nunca irá cicatrizar.
A dor é muito mais que física, mas psicológica. A série é contada por várias perspectivas. Do médico, da jornalista Mira (Elisa Volpatto) que busca desmascará-lo e algumas de suas vítimas: Stella (Adriana Esteves), Vera (Fernanda D’Umbra), Daiane (Jéssica Ellen) e Maria José (Hermila Guedes). Todas abusadas, destroçadas, deprimidas. Uma vida que de muitas cores, torna-se um breu, um vazio.
Destaque para o cuidado de Amora Mautner, uma diretora bem mais ou menos que, aqui, prima pela qualidade e delicadeza em não produzir algo apelativo. Seu melhor momento até agora.
O machismo permeia toda a série, não somente pelos atos do médico, mas pelos companheiros das vítimas. Homens, né? Precisa falar mais alguma coisa? Não compreendem e só enxergam o que querem.
Apesar de longo, tem dez episódios que poderiam ser reduzidos em oito e da narrativa pesada, “Assédio” se sustenta mesmo pelas atuações. Antônio Calloni está fora de série como esse sujeito asqueroso. Ele é um ator que preza pela qualidade e isso fica marcado nos seus personagens.
Esteves está fantástica representando a depressão profunda em estágio agudo. Quando ela sai do seu lugar de conforto, berrando e bufando, entrega mais um show de atuação. Mariana Lima e sua fragilizada Glória, sofrida esposa do médico, é a prova cabal que é a melhor atriz em atividade no momento. Jessica Ellen, Hermilia, Fernanda, Mira e a pequena participação de Léa Garcia e Mônica Iozzi são as cerejas do bolo. Talento nato brasileiro.
Infelizmente Roger, olha só, na certeza de sua impunidade, mesmo condenado há mais de 200 anos de reclusão em regime fechado, não ficou nem três anos preso (não sem antes fugir por três anos) e, no momento, encontra-se em prisão domiciliar em um condomínio de luxo em São Paulo. Como sempre, homens ricos e brancos impunes!
Apesar das novelas, seus grandes clássicos são mesmo as séries e minisséries, sempre grandiosas, com uma produção cuidadosa e luxuosa. Algo bem folhetinesco, alguns sem muito roteiro elaborado, apenas para entreter. E é aí que mora o problema! A emissora acostumou mal seu cativo, ou não tão mais cativo assim, público. Basta perceber que, quando eles apostam em algo mais sério, “para pensar e refletir”, o ibope, sempre ele!, não alcança os níveis desejados. Querendo ou não, nessa aposta de ir quase sempre ao óbvio, a produção da casa, como um todo, caiu num vício.
Protagonizada por Cauã Reymond, a série narra o dia a dia de um grupo de petroleiros na Plataforma 137 e fora dela. Dante (Cauã) comanda aquele lugar com mãos de ferro e é muito querido por seus companheiros, até a chegada da nova gerente/chefe, Júlia (Maria Casadevall). Lógico que com o ódio em comum por esses dois líderes completamente opostos restaria o que senão a paixão avassaladora? Mas Dante é casado com a inconstante Leona (Sophie Charlotte) que, por sua vez, tem um caso com o irmão dele, Bruno (Klebber Toledo), um bandido da marca maior. Alguns personagens têm seus dramas desenvolvidos para além daquela ilha totalmente inóspita pelo qual eles dão o sangue, como Rocha (Vitória Ferraz) drama com seu filho pequeno e marido violento, ou Buda (Taumaturgo Ferreira), melhor amigo de Dante e ex-viciado. Porém, dramas que são escada (artifício para desenvolver algo do protagonista). A sensação ao assistir aos doze episódios de mais ou menos cinquenta minutos é que longa demais, poderia ser reduzida em, no máximo seis episódios. E eis aí o vício!
Ilha de Ferro pecou muito por encher linguiça, cair nas armadilhas de uma paixão fulminante (espere muito peito e bunda e sexo selvagem entre Cauã e Maria) e tramas de bandidagem que seria muito melhor explorada se a série realmente tivesse menos episódios. O que faltou no roteiro fraquíssimo não deixou em dever em nada na direção/produção artística e geral de Afonso Poyart (diretor de um dos melhores filmes de ação nacional, Dois Coelhos, 2012) e direção de Roberta Richard e Guga Sander. Essas seis mãos juntas conseguiram fazer de um roteiro fraco algo aceitável, especialmente nos dois últimos episódios grandiosos em produção que, se americano fosse, certamente levaria o Emmy.
O que incomodou bastante também é que todo mundo ali é perturbado, parece que a imponente Ilha de Ferro os deixa, literalmente, sem chão. Não há ninguém equilibrado. Mais uma vez, o vício da escrita para chamar a atenção e conseguir certa tensão dramática.
Cauã Reymond tá muito bem em cena, mas nada que ele não tenha feito em todas as suas novelas na última década: o cara revoltado com a vida, violento, metido a justo e a herói e com problemas com a mãe. Maria Casadevall segura muito bem a sua aflita personagem.
Mas é ela, Sophie Charlotte que é o grande nome. Atriz que a cada trabalho vem provando do seu talento. Sua Leona é louca, intensa, apaixonada, inconstante, duvidosa, desequilibrada. Nas mãos de qualquer outra atriz menos sensível, cairia na caricatura, já que a personagem em si já é uma caricatura, mas ela consegue humaniza-la, sem dúvidas, seu melhor trabalho na TV.
Ilha de Ferro não seria nada sem uma grande produção para maquiar um roteiro limitado e longo para parecer maior que é. No fim, é uma série enfadonha.
Quem foi Eva? Segundo os escritos da Bíblia, foi a primeira mulher do Planeta Terra, nascida da costela de Adão, o primeiro homem. Enganada e seduzida pela serpente, come o fruto proibido e, como castigo para ambos, Deus enviou o caos à terra. Esta é uma breve síntese já foi esmiuçada diversas vezes acerca da etimologia da humanidade. Sob o comando de Leonardo Nogueira, a série busca explicitar complexidades atuais na questão da mulher, do feminino, do seu protagonismo e a retomada do poder de suas próprias vidas. Eva, a original, dizem, foi a grande causadora do caos em que estamos inseridos, por se deixar seduzir pela cobra. Aqui, essa sedução é pela liberdade.
Crítica completa no CineSet, vão lá nos prestigiar. Como não pode colocar link aqui, eis o título da crítica: "‘AS FILHAS DE EVA’: A SEDUTORA SERPENTE CHAMADA LIBERDADE".
Imagina você ser jovem, cheia de vida, ser comissária de bordo e saber aproveitar todas as cidades do mundo, mesmo que em poucas horas? Vidão? Pode ser. Cassie Bowden (Kaley Cuoco, nossa eterna Penny de TBBT) é uma dessas pessoas que sabe aproveitar uma boa oportunidade, aliás, ela mesma faz as dela.
Numa dessas viagens internacionais, ela conhece Alex Sokolov (Michiel Huisman), passageiro da primeira classe, rico e sedutor. E aí não tem como resistir, né? Os dois passeiam por Bangkok, na Tailândia, no melhor estilo casal. Eles vão ao luxuoso hotel em que ele está hospedado, uma noite perfeita. O problema é o dia seguinte: Cassie acorda com Alex morto, precisamente degolado, ao seu lado. E aí começa o desespero da nossa heroína.
Aliás, anti-heroína. Cassie é um caos ambulante: dificuldade de relacionamentos, muito sexo sem compromisso, atrasos, atrapalhadas e claro, o seu problemas com álcool que atinge em cheio a sua jornada. Jornada que se transforma em uma luta pela sobrevivência, pois, além de ter que provar a sua inocência, ela tem busca descobrir quem matou Alex e quem são as pessoas que também querem lhe matar na figura da psicopata Miranda Croft (Michelle Gomez).
Em meio à dramédia, entramos na vida e na mente em conflito de Cassie, aliás, não só quem assiste, mas o próprio Alex, que está vivinho da silva na mente dela, como uma espécie de consciência que lhe ajuda a desvendar o caso. Pois Cassie é uma mulher com traumas e usa do álcool para escondê-las, abusos que advém da infância.
O alcoolismo, aqui, é tratado com certo cuidado até porque é uma série de comédia, com dois pés no drama, e de como ele pode destruir uma pessoa a nível de relacionamentos – as cenas dela com o irmão são bem bonitas. E de como uma simples noitada pode se transformar um labirinto sinistro.
Apesar de divertida, achei o roteiro bastante pretensioso e mirabolante para um besteirol, um besteirol da HBO, ou seja, dez degraus acima do melhor besteirol das outras produtoras/canais/streamings. É (quase) tudo muito óbvio.
O que amarra mesmo é o carisma de Kaley (acho bem parecido com o carisma de uma Jennifer Aniston, por exemplo) que nos provou que é muito mais que a Penny de The Big Bang Theory, personagem que viveu por 12 fucking anos, e ela exala química com todos que estão em cena com ela, desde Michiel e Colin Woodell (seus dois interesses amorosos “fixos”), passando por Rosie Perez e Zosia Mamet, que faz suas melhores amigas, até a própria Miranda. Você compra toda aquela turbulência de pessoa, a autossabotagem por não se sentir parte de um meio ou importante o suficiente e todas as situações absurdas que ela se propõe para descobrir quem matou, provar sua inocência e salvar sua pele, claro.
É uma série indefesa, de apenas oito episódios. Num ano de grandes produções certamente, The Flight Attendant, aos tropeços, se destacou e com muito mérito.
Hacks narra a vida de Deborah Vance (Jean Smart, EXCEPCIONAL), uma grande Prima-Dona dos palcos, comediante de primeira e precursora no stand up liderado por mulheres. Sempre de casa cheia em sua residência em Las Vegas, ela percebe, com imposição do seu empresário (Paul W. Downs), que é preciso renovar seu repertório e é aí que entra caótica e Ava Daniels (Hannah Einbinder), uma comediante/roteirista em ascensão que está cancelada em Hollywood por uma piada infame no Twitter. Portanto, a união das duas é um recomeço feliz e produtivo, certo?
Errado! Deborah e Ava são duas bicudas. A primeira é milionária, porém decadente e tem todo aquele porte de diva má, sem papas na língua abusando da licença poética da idade. A segunda é inconstante, insegura e é a única que bate de frente e consegue dizer algumas verdades para a diva decadente (particularmente achei a personagem insuportável, mas bem atuada).
O bom de Hacks é que ao longo dos dez episódios não vemos apenas esse embate entre as duas, mas a construção de uma relação profissional e pessoal, pois ambas vão se reconhecendo entre si e construindo uma história.
Criada por um timaço, entre eles, Paul W. Downs, a nova aposta da HBO Max também tem a função de cutucar a ferida da presença da mulher no showbizz e de como a indústria é cruel com essas mulheres ao mínimo deslize ou simplesmente por envelhecer, fora o assédio e o menosprezo por seu trabalho. E no mundo machista e misógino como este é um grande ato uma mulher conseguir construir um império, ainda que sempre apontada pelos erros e vista como “sombra” de algum homem que elevou a sua carreira. Têm coisas que, infelizmente, nunca mudam né?
Lembrando que a série é livremente inspirada na LENDA Joan Rivers (aquela senhora desbocada e extravagante do extinto programa Fashion Police), pioneira na comédia, na língua afiada, no stand up e que quase teve a carreira arruinada no seu início por conta de... Homem!
Mas a alma da série é ela, Jean Smart, a queridinha do momento no alto dos seus 70 anos e muita bagagem nas costas. Sempre no posto de coadjuvante, a lenda está no auge da popularidade e carreira e com todo o mérito. Sua Deborah Vance é um presente. Ela é sarcástica, venenosa, sexy e muito humana. Emmy mais que merecido.
Um adendo: outro grande mérito é reconhecer o talento LGBTQ+, além do próprio criador, Paul, estão na série Carl Clemons-Hopkins, Mark Indelicato e Johnny Sibilly. A própria Hannah e sua Ava são uma mulheres bissexuais.
Uma das obras mais populares e por isso mesmo muito famigerada, Dom Casmurro de Machado de Assis é uma obra atemporal. Quem nunca leu por curiosidade leu por obrigação, já que é uma obra indispensável nas aulas de literatura e dos cursinhos pré-vestibulares. Bom, ela fala por si mesma. Por isso mesmo, quando há uma adaptação deve-se ter o mínimo de cuidado possível. E a Globo caprichou aqui. Dirigida e produzida por ninguém menos que Luiz Fernando Carvalho, pra mim, o MELHOR DIRETOR da atualidade (Renascer, Meu Pedacinho de Chão, Os Maias, Hoje é Dia de Maria, são alguns dos grandes clássicos da história da dramaturgia brasileira). A nova roupagem de Dom Casmurro, aqui, apenas Capitu, é um deslumbre aos olhos. É o assombro em sua mais elevada potência. A direção de arte te chama para ser parte da história e do nascimento da paixão juvenil entre Bentinho e Capitu. Adjetivos são poucos para falar da elegância desse trabalho criativo, divertido e lúdico. Na época eu assisti e achei interessante. Hoje, com outros olhos, acho uma obra fantástica e que merece ser revista e redescoberta. Por sua importância e potência. Michel Melamed brilha como o narrador e seu fragmentado Bentinho. Eliana Giardini esteve, então, no melhor momento de sua carreira após Um Só Coração (2005). César Cardadeiro, dá o tom ao jovem Bentinho. E Maria Fernanda Cândido é hipnótica como a adulta Capitu. Mas a série é toda dela, Letícia Persiles, como a jovem Capitu. Deslumbrante, sapeca, insinuante, sedutora e aquele olhar que diz muito e não diz nada. Ela reluz. Brilha intensamente. Bela estreia da atriz na tv. Sempre pensei que ela realmente tivesse traído o Bentinho com Escobar. Assistindo agora, fico na dúvida, mas tentado a acreditar que não traiu por dois motivos do sim e não: se sim, o Escobar não passava de um cabra metido, invejoso e sedutor (aliás, a escalação do Pierre Baitelli foi um acerto, ele sabe ser tudo isso, um ator que merece mais atenção), talvez tenha seduzido Capitu por capricho. E para o não: Bentinho não passava de um macho mimado, chato e com sentimento de posse de algo que, em sua cabeça, lhe pertencia. Frutos de sua imaginação ou fato consumado? Eu prefiro ficar do lado de Capitu. E "Elephant Gun" (Beirut) que não sai mais da cabeça? 9/10
"NOTA DO AUTOR: interessante como toda história de um playboy branco que envereda para o crime sempre ganha holofotes, livros, filmes, séries. Como se quisessem de alguma maneira humanizá-los (eis aí o privilégio branco), exemplos não faltam, como Meu Nome Não é Johnny (2008). Enquanto os jovens negros e periféricos sempre vistos como parte do problema de uma estrutura desigual. Mas não precisamos ter suas histórias contadas, afinal, quem se importa?"
Minha crítica completa está no CineSet, com o título: ‘DOM’: HISTÓRIA DE AMOR PATERNO NO MEIO DO CAOS DAS DROGAS (pois aqui eles bloqueiam os links, fica difícil de postar senão desse jeito).
Não há nada mais aprisionador e angustiante que um luto não vivido, não sentido e não processado. Ele te leva por caminhos bastantes perigosos, te transforma e você tem que lidar com esse seu novo eu, essa nova maneira de ver o mundo, de encarar a realidade dura e tão somente ver o lado negativo das coisas e das pessoas. É o peso. É fardo. E parece que queremos esse fardo, é como se nos libertamos disso, estaremos traindo a memória daquele ente tão querido que se foi. E assim que é imponente e impetuosa Mare Sheehan (Kate Winslet). Detetive que busca no seu trabalho manter o luto pela perda do seu filho.
Séries e filmes de detetives mentalmente f*didos estão bastante saturados. Mas a nova produção da HBO nos brinda com mais uma excelente minissérie para falar de crimes e, nas entrelinhas, do luto. Ali, todo mundo tem que lidar de alguma forma com a dor.
Na pacata Easttwon, duas meninas estão desaparecidas e cabe a Mare investigar o caso. Quando a jovem Erin (Cailee Spaeny), aparece morta, ela e Zabel (Evan Peters, finalmente fora do cativeiro do Ryan Murphy) buscam por pistas para desvendar estes casos que, aparentemente não tem qualquer relação.
Ao longo dos sete episódios somos jogados as novas pistas do caso de Erin, até o derradeiro plot twist no último episódio (que rende uma excelente discussão, mais aí seria spoiler) e na rotina de Mare, dos seus familiares e amigos de toda uma vida. Todos se conhecem desde pequenos, é quase que uma grande família em que Mare é a base solida de segurança. Mas será que todos se conhecem mesmo? Toda família grande segredos tenebrosos, não?
O grande destaque não poderia ser outro que Kate Winslet. Que atriz, meus amigos! Despida de toda vaidade, ela coloca suas rugas, seu corpo de uma mulher de 46 anos para personificar essa mulher abalada pela perda, pelo trabalho, pelo sentimento de culpa e de fracasso como mãe e mulher. Sem dúvidas é a melhor atriz de sua geração e podemos atestar mais uma excelente desempenho dessa atriz que já mostrou diversas vezes que é muito mais que a mimada Rose de Titanic (coisa que seu companheiro de tela, ele mesmo, nunca precisou, né?).
Essa segunda temporada é o atestado da genialidade de Michaela Coel. Ela consegue transitar entre o absurdo e o nonsense e ainda assim ser muito real, te leva a se identificar com loucura bem intencionada de Tracey. Uma das coisas que mais gosto nas produções dela é a voz que a mesma coloca nos outros atores/personagens que não teriam grandes oportunidades (o plot de sua irmã, Cynthia - Susie Wokoma - e da mãe delas, Joy - Shola Adewusi - são interessantíssimos). Aqui, eles são um protagonismo à parte, caminham juntos. Estão todos conectados no caótico meio de viver e sobreviver em um mundo com muitas regras, muitas convenções, repressão. E a quebra desses paradigmas são importantes. Penso que essa é a grande lição da série como um todo, especialmente dessa temporada.
Tracey é uma menina de 24 anos, ingênua, criada em uma família bastante religiosa e decide dar um rumo em sua vida: perder a virgindade! Esse é o plot da espirituosa Chewing Gum.
Ao longo dos seis episódios, acompanhamos o infortúnio, constrangedor e hilário nessa jornada em perder o tão precioso "fruto proibido". Mas a série é muito mais que isso, toca em pontos bastante sensíveis de maneira muito subjetiva, como o racismo, o padrão de beleza, a relação interracial, a presença forte da comunidade/vizinhança enquanto suporte e, claro, religião.
A atração fica por conta de Michaela Coel, essa preta é um assombro. Ela traz leveza, simpatia e caos na mesma proporção, naquele humor peculiar britânico. A quebra da quarta parede (quando o personagem olha e fala diretamente para a câmera), aproxima mais Tracey de quem assiste e te leva junto para embarcar naquela loucura. Aliás, esse recurso funciona muito nesse tipo de humor "dramédia", vide outra série britânica bárbara da última década, "Fleabag", lançada depois de Gum.
Voltando a Michaela, ela é um grande achado da indústria. A série é baseada numa peça de teatro de sua autoria. Logo, ela escreve, produz e ainda protagoniza. Um grande talento da nova safra de artistas multitalentosos. Vale o play!
O Urso (1ª Temporada)
4.3 410 Assista AgoraSó consegui me conectar com a série a partir do 4° episódio, acho que só engata mesmo a partir daí. Antes disso, achei o excesso de gritaria muito chato, mas que vai fazendo sentido ao longo dos episódios quando a complexidade dos personagens são expostas. O elenco é afiadíssimo, destaque total para Jeremy Allen White, Ayo Edebiri e L-Boy, ótimos! Não posso dizer o mesmo de Ebon Moss-Bachrach que só berra.
Fora isso, o clima gélido e a trilha sonora dão um tom frenético e entendo perfeitamente ser considerada uma série de comédia pelo ar tragicômico.
Fim (1ª Temporada)
4.1 53Concordo com o camarada abaixo dizendo que a série é bem existencialista. Contudo, achei que fosse gostar mais dessa produção. Achei, digamos, eficaz. Nada mirabolante, nada inovador, roteiro batido, até chato. Diminuiria para, no máximo 8 episódios. A caracterização do Fábio Assunção é péssima e isso esteticamente influencia em como você compra o drama do personagem. O que faz "Fim" deslanchar por conta desse roteiro meia boca é mesmo o elenco, especialmente as mulheres que estão assombrosas no papel, todas, sem exceção, brilham. Entre os homens, por mais que Bruno Mazzeo esteja no melhor papel da carreira (algo me diz que ele é exatamente assim na vida real: chato e soberbo), Thelmo Fernandes é que mais me chamou a atenção.
E é sobre isso: início, meio e fim! O que te molda é como você coordena (ou se deixa ser coordenado) nesse meio até o derradeiro...
O Canto da Sereia
4.0 309Na minha lembrança era uma série sem defeitos. Revisto, enxerguei alguns erros. Tudo muito corrido e merecia pelo menos mais um episódio dos quatro originais para dar mais consistência e ênfase no dilema de Sereia e da Mãe de Santo.
E nem vou adentrar o mérito de uma Bahia branca e com atores negros sendo desperdiçados em figuração de luxo. Poderiam render bem mais a Zezé Motta (uma atriz do porte dela naquela pontinha) e Margareth Menezes.
No mais, Isis Valverde vence pela beleza e carisma, né?
Gêmeas: Mórbida Semelhança
3.5 42 Assista AgoraAssinado por Aline Birch (“Normal People”, 2020 e a badalada “Succession”, 2018-2023 da HBO), a minissérie de seis episódios mantém o clima mórbido, soturno e com ares de thriller psicológico do filme. O caldo engrossa com questões sociais muito pertinentes na atualidade como racismo cordial, racismo parental (a cena do desdém de outra médica com uma paciente negra é cruel), sistema médico ruim e parcial, a desumanização dos corpos das mulheres em um momento feliz e vulnerável da gravidez ao parto, os ricos excêntricos em suas bolhas sociais que vivem pelo lucro e ridicularização da vida que não esteja inserida nesta bolha, entre outras camadas.
Minha crítica completa em: cineset .com .br/critica-gemeas-morbida-semelhanca-rachel-weisz/
Novela (1ª Temporada)
3.2 13 Assista AgoraA nova série da Amazon Prime simplesmente chamada “Novela” é um festival das mais absurdas ferramentas usadas pelos autores e diretores para prender a atenção do telespectador. Co-produzida junto com a galera da Porta dos Fundos (sim, eles mesmos!), a nova comédia da plataforma é bizarramente interessante muito mais pelo contexto e da zoação que fazem do que o roteiro (um tanto bobo) assim.
Minha crítica completa em: cineset .com .br/critica-novela-monica-iozzi/
Cangaço Novo (1ª Temporada)
4.4 207 Assista AgoraGosto de maratonar séries/minisséries/novelas. Entretanto, há aquelas produções que não se ousa tal efeito para não deixar nada passar despercebido, “Cangaço Novo” é uma dessas produções. Ao longo de algumas semanas em doses homeopáticas, fui digerindo esse “nodestern” que não deixa em dever em nada nas produções gringas.
Vi muita gente comentando que a série é uma “epopéia nordestina” e com toda razão. “Cangaço Novo” é um misto de muitas coisas que já vimos por aí, mas com um frescor/sabor e sotaque nordestino sempre preterido historicamente no nosso audiovisual, por produções sudestinas.
Está tudo ali: conhecimento de si em meio a uma adversidade, disputas políticas, territoriais, crimes, uma quadrilha carismática, questões éticas e morais, traumas e anseios familiares, amores, desamores, mortes e muito sangue derramado. E um matriarcado representado pela potência da mulher nordestina.
Quem é o certo, quem é o errado? Não sabemos, mas o elenco majoritariamente nordestino te prende do início ao fim. Desde nomes consagrados como Hermila Guedes (nunca esteve tão linda), Marcélia Calixto (sempre excelente), Ricardo Blat e Luiz Carlos Vasconcelos, sensacionais, até o elenco desconhecido do grande público com muita força cênica. Mas os grandes nomes que te deixam em estado êxtase não são outros senão Allan Souza Lima, Alice Carvalho e Thainá Duarte: a mente, a brutalidade e o silêncio que ecoa mais que barulho, respectivamente.
E teve mais gente que desprezou a série por estarmos “ovacionando” a bandidagem. Minha resposta: um bando de hipócritas. Os mesmos que falam isso são os mesmos que aplaudem “Breaking Bad”, “Better Call Saul”, “Sons of Anarchy” (minha série favorita), “Peaky Blinders” e “Boardwalk Empire”, por exemplo. Séries gringas fantásticas e que, em resumo, não se diferenciam de “Cangaço Novo” que, por sua vez, não deixa em dever em nada para eles.
A Superfantástica História do Balão
4.0 44 Assista Agora"Não sou da época do Balão Mágico. Mesmo assim, toda a magia e pureza desse quarteto mais que fantástico permeou a infância da pessoa que vos escreve, nascida no final daquela década de 1980 marcada pelos seus excessos, cores vibrantes, uma alegria sem igual e muita diversão, apesar dos pesares. Bom, pelo menos, é isso que imagino quando falam com muita nostalgia daquela época de encantos e descobertas. E eu poderia falar o mesmo da minha infância feliz dos anos 1990 ou da minha pré e adolescência nos anos 2000."
Minha crítica completa: cineset .com .br/critica-a-super-fantastica-historia-do-balao/#google_vignette
Onde Está Meu Coração
4.1 112Os filhos são as projeções dos seus pais. É um relacionamento bastante louco e nada fácil de conceber no que se trata da relação entre pais e filhos. “O coração que bate fora do peito”, os pais e mães dizem dos seus filhos e filhas. As projeções já começam por aí quando se cria expectativas em torno do futuro do/a rebento/a e de como ele/a será enquanto pessoa. Boa? Ruim? Bem relacionada e bem de vida? Seguindo seus próprios passos ou os passos condicionados pelos pais? Enfim, projeções.
Mas os filhos crescem e resolvem trilhar seus próprios caminhos, ainda que similares aos dos pais, mas apenas seus caminhos. Aí que o coração sai pela boca quando os/as rebentos/as saem do ninho para seguir o seu próprio destino. Mas, e quando destino sai da trilha e se mostra um verdadeiro pesadelo? Onde anda o coração fora do peito perdido na bagunça do seu próprio caos interior? Eis “Onde Está Meu Coração”, minissérie importe sobre o vício de crack e de como a droga não apenas destrói o/a usuário/a, mas todo o seu redor. E, para, além disso, é uma história de amor entre pais e filhos na busca de reparar erros e acertos, conexão, família e união.
Um roteiro bem elaborado e escrito por George Moura e Sérgio Goldenberg, mas incomoda um pouco os longos dez episódios, a sensação é que, depois de quarto ou quinto episódio, a série ficou rodando em círculos em quase um pleonasmo sem fim. Penso que seis ou oito episódios seriam o suficiente.
Outra coisa muito óbvia é quando se trata de relações de drogas na dramaturgia, sempre visto pela ótica branca e rica, já perceberam? O sofrimento podem ser os mesmos, as dores podem ser as mesmas, mas as soluções não. Esse arco burguês e da facilidade do tratamento, dos privilégios jogados no lixo em virtude da droga e tudo mais me pareceu um tanto fundamentalista e até elitista no sentido de: “oh, vejam uma doutora rica, branca e viciada, como pode?”, enfim, vocês entenderam.
E isso fica explícito no episódio sete quando ela vai presa por tentativa de assalto e logo depois liberada... Por motivos óbvios.
No mais, grande elenco em sintonia. Letícia Colin é um talento extraordinário, você sente tudo em seu olhar, seus tiques, suas caras e bocas propositalmente perturbadoras, a angústia. Grandiosa.
Imagino os gatilhos que essa produção foi para Fábio Assunção ou uma maneira de exorcismo dos seus demônios, todos sabem dos seus problemas com bebidas e drogas.
Mas, em minha opinião, o grande nome é de Mariana Lima. Que atriz, meus caros. Que atriz! Está tudo no seu olhar, na sua urgência em proteger sua cria, sua família. Um espetáculo. Cada vez mais amo essa mulher.
Doutor Castor
4.4 77Castor Gonçalves de Andrade e Silva, ou simplesmente Castor de Andrade. Esse era/é o nome do homem que revolucionou Bangu e o Rio de Janeiro por volta de 1960 e 1990. O maior contraventor, bicheiro e amigo das celebridades. Um bandido bossa nova querido pelo público e imprensa. Castor de Andrade, ou Patrono Dr. Castor de Andrade, assim como muitos mafiosos, tinha o dom da oratória e sabia como poucos intimidar e causar admiração na mesma proporção.
Sem duvidas, um ser admirável quanto execrável. O bem e o mal na mesma intensidade como poucos que escreveram seu nome na história. E quanto vale escrever o nome na história? Para ele, além do Bangu e a Mocidade Independente de Padre Miguel, Doutor Castor, um roedor que comeu pelas beiradas, fez seu nome e fortuna, com jogo de bicho, trambiques, mortes e muita dose de poder, o cara foi um figura lendária, imponente e importante.
Creio que o personagem Giovani Improta (José Wilker) em Senhora do Destino (2004) foi inspirado nele tamanha a sua popularidade e devoção da população a ele, mão aberta para quem o bajulava e um santo, considerado para muitos um santo. Só perceber a paixão dos entrevistados falando sobre ele.
Castor de Andrade, após assistir esse documentário em quatro episódios da Globoplay, não há a menor dúvida que ele foi o maior malandro/gangster do Brasil. Inteligente, sabia dos seus privilégios e usava ao seu favor, pois era bem articulado. Um grande orador, mestre e meliante. Um sujeito como poucos, infelizmente, admirável e necessário para a comunidade.
E, para minha surpresa, Reginão, vulgo minha mãe, o conheceu e foi tudo aquilo mesmo. Estou em conflito de admiração e julgamento.
Em Casa com os Gil (1ª Temporada)
4.5 26 Assista Agora"Em certo momento de um dos cinco episódios, ele diz que a canção “Palco” é sua “música talismã”. E não há como discordar. O palco, a arte, corre pelo sangue e DNA dos Gil. Seus filhos, netos e bisnetos têm o talento nato para a musicalidade. Todos com suas personalidades e que estão ali para um bem comum: celebrar a vida e obra de Gilberto Gil."
Minha crítica completa no site CineSet: <critica-em-casa-com-os-gil/>
Sex Appeal
3.4 16Para qualquer produção que é feita, sempre há um contexto por trás, uma moral, um ponto de vista a ser defendido ou denuncia. Mas qual o contexto de “Sex Appeal”, minissérie global de muito sucesso de quase trinta anos atrás? Para onde veio? Para onde vai? Qual a sua necessidade de existir?
Respondo, nem deveria ter existido!
A minissérie é um aglomerado de coisas que não funcionariam nem separadamente. E, pensando no contexto da época, recheado de machismo e racismo descarado que de tão naturalizados ficam como uma parte “cômica” dos longos 20 capítulos.
Mas o problema não é só isso, o texto de Antônio Calmon (a mente que concebeu Top Model, Vamp e Um Anjo Caiu do Céu, por exemplo) é ruim, de mau gosto e recheada de furos que são tão óbvios que não é possível que a Globo tenha subestimado tanto a inteligência do público. E subestimou com razão, dado o sucesso absurdo da produção que voltou com muitos louros e celebrações no Globoplay no final do ano passado.
Todavia, há bons momentos. Especialmente por ter revelado quatro grandes estrelas/musas ainda na casa dos 15 e 16 anos: a protagonista Angel (Luana Piovani), Camila Pitanga, Carolina Dieckmann e Danielle Winits, que já tinha seus 19 aninhos.
A linguagem juvenil, com a quebra da quarta parede ou cortes rápidos com cenas de modelos de uma transição de cena para outra funciona. Um pré-Malhação para maiores. A trilha sonora com o melhor de época foi o grande momento, talvez, a melhor coisa da minissérie.
Destaque também para os saudosos Walmor Chargas, Cleyde Yáconis, Beth Lago e Thales Pan Chacon, excelentes em cena. Elizabeth Savalla e Octávio Augusto, talentosos que são sempre preenchendo a tela. Lui Mendes se destaca também. Tony Tornado, Bel Kutner e Lilia Cabral (antes de ser A LILIA CABRAL) sem muito o que fazer em cena com personagens dispensáveis. Mas o show de horrores de atuações de Mário Gomes, Rômulo Arantes, Kadu Moliterno e Dennis Carvalho, nesta altura, já veteranos, é imperdoável. Até Nico Puig, então revelação, esteve melhor que eles. Até o Supla, sim, ele mesmo, estava mais carismático.
E a história em si de modelos rumo ao sucesso, com intriga, fanatismo, culto satânico (péssimo gosto) e mistério? Apenas dispensáveis. Foram vinte capítulos que se enxugar muito, salvam-se apenas seis e olhe lá. O mundo na moda nunca foi tão mal representado.
Entre a Angel pudica e sem brilho dos anos 90 e a Angel safadinha dos anos 2010 (Verdades Secretas), fique com a segunda.
Heartstopper (1ª Temporada)
4.5 416 Assista Agora"“Heartstopper” não entrega nada de novo. Não há grandes acontecimentos senão a paixão desses adolescentes em viver suas paixões, suas vidas, encarar os medos e desafios. Se reconhecer como um indivíduo de fato com seus traumas (ou a ausência deles) e a certeza que com uma rede de apoio sempre se é mais forte e pronto para encarar qualquer eventualidade."
Minha crítica completa no site CineSet: <critica-heartstopper-netflix-2022/>
Only Murders in the Building (1ª Temporada)
4.1 215Encantado com essa série que não tem nada de novo mas traz um frescor muito bom. E a química entre Steve Martin e Martin Short faz querer a gente assistir a série num looping infinito. E o episódio 7? Muito bom!
A crítica completa você pode ler no site CineSet (eles bloqueiam links aqui):
<critica-only-murders-in-the-building/>
Se eu Fechar os Olhos Agora
4.0 28Crimes, mistérios, paixões, intrigas, alta sociedade hipócrita, racismo, homofobia, machismo, vingança e uma boa dose de drama permeiam uma pacata cidadezinha do interior do Rio de Janeiro no início dos anos 1960. Parece familiar, não? E é mesmo. “Se Eu Fechar os Olhos Agora” não passa de uma obra requentada de crime e mistério maquiada com uma boa produção e ambientação da época.
A produção tem como base o livro homônimo do jornalista Edney Silvestre e conta a história de um grande crime que choca a cidadezinha, a morte da estonteante Anita (Thainá Duarte), seu corpo é encontrado pelos dois meninos inseparáveis, Paulo Roberto (João Gabriel D´Aleluia) e Eduardo (Xande Valois) que, juntamente com o idoso aparentemente vulnerável, Ubiratan (Antônio Fagundes), resolvem desvendar o mistério por trás da morte da moça e os outros crimes desencadeados a partir disso.
E o que encontram é uma série de crimes como escravidão, estupro, pedofilia, incesto, mascarados pela boa sociedade rica e branca da época representados pelos poderosos da região, o prefeito Adriano Torres (Murilo Benício) e sua fiel e zelosa esposa Isabel (Débora Falabella), o magnata Geraldo Bastos (Gabriel Braga Nunes) e sua esfuziante esposa troféu Adalgisa (Mariana Ximenes) e o Bispo Dom Tadeu (Jonas Bloch) com seu inseparável chaveirinho Danilo (Vitor Thiré). Dinheiro, poder, prestigio permeiam essa região que, com muita dose de hipocrisia, narcisismo e sadismo, aparenta ser o que não é.
Com roteiro de Ricardo Linhares e com direção de Carlos Manga Jr, a minissérie de dez capítulos enrola muito presa num mistério que poderia ser resolvido em uns cinco episódios. Mas a Globo não consegue abrir mão do dramalhão novelesco, mesmo em produções mais curtas, eles sempre caem nessa cilada e isso diminui um pouco a qualidade das minisséries e séries já que a proposta é se distanciar das novelas. Mas, por mais que haja bons exemplos dessa distância, ainda assim, muitos caem nessa linguagem novelesca e que enrola bastante.
Os temas propostos são jogados como se fossem uma notinha de rodapé. Frases sobre racismo, homofobia, machismo e o patriarcado de homens brancos e influentes soam mais como uma frase de efeito para mostrar o comportamento, mas nunca como uma reflexão.
Particularmente não me agrada a assinatura solo de Ricardo Linhares, não acho um autor que tenha cacife para voos solo, mas, talvez, esta seja sua obra mais interessante, enquanto autor principal, mesmo aos trancos e barrancos.
Outro fator importante que dá uma quebrada é a escalação do de um trio importante na trama: Enzo Romani não convence misterioso Renato (só como objeto sexual mesmo), Marcela Fetter como jovem rica e empoderada filha do prefeito Cecília e a peça chave, Anita. Um trio fraquíssimo. E o Paulo Rocha como um dos vilões? Creio que foi a escolha mais equivocada de todo o elenco. Que ator ruim!
Eles destoam do restante do elenco afiado, especialmente com os meninos Xande e João Gabriel, seguros em cena, Fagundes fazendo tipos que se especializou nos últimos anos, Falabella mais contida e Ximenes sempre preenchendo a tela com seu carisma, mesmo caricata. Murilo e Braga Nunes sabem usar do charme para personagens ambíguos, embora precisem urgentemente de uma renovação em seu repertório.
Destaque para as participações de Milton Gonçalves (narrador), Jonas Bloch e Betty Faria e uma cena estarrecedora com Ruth de Souza, que atriz ela era, em uma única cena, valeu pelos dez episódios. Seu último trabalho em vida. Medalhões da dramaturgia brasileira.
“Se Eu Fechar os Olhos Agora” não inova em nada, enrola muito, mas é uma boa distração, especialmente por conta do elenco em um contexto geral.
Assédio
4.3 62Historicamente os homens brancos e ricos comandam o sistema. Eles dão as regras do jogo. O poder ilimitado do patriarcado deixa um rastro de sangue, mentiras e violência. E eles sabem que, no alto do seu poder, da sua condição e prestígio, nada acontece com eles. Como um arranhão. Pois eles estão inseridos nessa podridão de poder que perpassa gerações. É estrutural.
A série é livremente baseada no livro “A Clínica: A Farsa e os Crimes de Roger Abdelmassih”, de Vicente Vilardaga, que conta os crimes de cometidos pelo ex-médico, famoso por ser especialista em reprodução humana. Na ocasião da fertilização, ele abusava sexualmente das suas pacientes, ainda dopadas pelos medicamentos.
Manipulador, machista, invasivo. São alguns adjetivos para classificar Roger Sadala (Antônio Calloni), um homem de família, religioso e acima do bem e do mal. Mas por trás de toda a fortaleza, renome, fama e fortuna, havia um monstro. Um predador pronto para dar o bote na CERTEZA que nada e nem ninguém o impediria de continuar com seus crimes: estuprar mulheres na busca do sonho de ser mãe. E esse estupro não deixa de ser coletivo, quando o ato repugnante ressoa por toda família da vítima: marido, filhos, casamento, relações sociais, empregos, tudo acaba, cai por terra. Como conviver com uma vida invadida, violada quando se buscava um sonho? E esse sonho, que se concretiza é sempre uma lembrança de uma passagem que nunca irá cicatrizar.
A dor é muito mais que física, mas psicológica. A série é contada por várias perspectivas. Do médico, da jornalista Mira (Elisa Volpatto) que busca desmascará-lo e algumas de suas vítimas: Stella (Adriana Esteves), Vera (Fernanda D’Umbra), Daiane (Jéssica Ellen) e Maria José (Hermila Guedes). Todas abusadas, destroçadas, deprimidas. Uma vida que de muitas cores, torna-se um breu, um vazio.
Destaque para o cuidado de Amora Mautner, uma diretora bem mais ou menos que, aqui, prima pela qualidade e delicadeza em não produzir algo apelativo. Seu melhor momento até agora.
O machismo permeia toda a série, não somente pelos atos do médico, mas pelos companheiros das vítimas. Homens, né? Precisa falar mais alguma coisa? Não compreendem e só enxergam o que querem.
Apesar de longo, tem dez episódios que poderiam ser reduzidos em oito e da narrativa pesada, “Assédio” se sustenta mesmo pelas atuações. Antônio Calloni está fora de série como esse sujeito asqueroso. Ele é um ator que preza pela qualidade e isso fica marcado nos seus personagens.
Esteves está fantástica representando a depressão profunda em estágio agudo. Quando ela sai do seu lugar de conforto, berrando e bufando, entrega mais um show de atuação. Mariana Lima e sua fragilizada Glória, sofrida esposa do médico, é a prova cabal que é a melhor atriz em atividade no momento. Jessica Ellen, Hermilia, Fernanda, Mira e a pequena participação de Léa Garcia e Mônica Iozzi são as cerejas do bolo. Talento nato brasileiro.
Infelizmente Roger, olha só, na certeza de sua impunidade, mesmo condenado há mais de 200 anos de reclusão em regime fechado, não ficou nem três anos preso (não sem antes fugir por três anos) e, no momento, encontra-se em prisão domiciliar em um condomínio de luxo em São Paulo. Como sempre, homens ricos e brancos impunes!
Ilha de Ferro (1ª Temporada)
3.8 27Apesar das novelas, seus grandes clássicos são mesmo as séries e minisséries, sempre grandiosas, com uma produção cuidadosa e luxuosa. Algo bem folhetinesco, alguns sem muito roteiro elaborado, apenas para entreter.
E é aí que mora o problema!
A emissora acostumou mal seu cativo, ou não tão mais cativo assim, público. Basta perceber que, quando eles apostam em algo mais sério, “para pensar e refletir”, o ibope, sempre ele!, não alcança os níveis desejados. Querendo ou não, nessa aposta de ir quase sempre ao óbvio, a produção da casa, como um todo, caiu num vício.
Protagonizada por Cauã Reymond, a série narra o dia a dia de um grupo de petroleiros na Plataforma 137 e fora dela. Dante (Cauã) comanda aquele lugar com mãos de ferro e é muito querido por seus companheiros, até a chegada da nova gerente/chefe, Júlia (Maria Casadevall). Lógico que com o ódio em comum por esses dois líderes completamente opostos restaria o que senão a paixão avassaladora? Mas Dante é casado com a inconstante Leona (Sophie Charlotte) que, por sua vez, tem um caso com o irmão dele, Bruno (Klebber Toledo), um bandido da marca maior.
Alguns personagens têm seus dramas desenvolvidos para além daquela ilha totalmente inóspita pelo qual eles dão o sangue, como Rocha (Vitória Ferraz) drama com seu filho pequeno e marido violento, ou Buda (Taumaturgo Ferreira), melhor amigo de Dante e ex-viciado. Porém, dramas que são escada (artifício para desenvolver algo do protagonista).
A sensação ao assistir aos doze episódios de mais ou menos cinquenta minutos é que longa demais, poderia ser reduzida em, no máximo seis episódios. E eis aí o vício!
Ilha de Ferro pecou muito por encher linguiça, cair nas armadilhas de uma paixão fulminante (espere muito peito e bunda e sexo selvagem entre Cauã e Maria) e tramas de bandidagem que seria muito melhor explorada se a série realmente tivesse menos episódios. O que faltou no roteiro fraquíssimo não deixou em dever em nada na direção/produção artística e geral de Afonso Poyart (diretor de um dos melhores filmes de ação nacional, Dois Coelhos, 2012) e direção de Roberta Richard e Guga Sander. Essas seis mãos juntas conseguiram fazer de um roteiro fraco algo aceitável, especialmente nos dois últimos episódios grandiosos em produção que, se americano fosse, certamente levaria o Emmy.
O que incomodou bastante também é que todo mundo ali é perturbado, parece que a imponente Ilha de Ferro os deixa, literalmente, sem chão. Não há ninguém equilibrado. Mais uma vez, o vício da escrita para chamar a atenção e conseguir certa tensão dramática.
Cauã Reymond tá muito bem em cena, mas nada que ele não tenha feito em todas as suas novelas na última década: o cara revoltado com a vida, violento, metido a justo e a herói e com problemas com a mãe. Maria Casadevall segura muito bem a sua aflita personagem.
Mas é ela, Sophie Charlotte que é o grande nome. Atriz que a cada trabalho vem provando do seu talento. Sua Leona é louca, intensa, apaixonada, inconstante, duvidosa, desequilibrada. Nas mãos de qualquer outra atriz menos sensível, cairia na caricatura, já que a personagem em si já é uma caricatura, mas ela consegue humaniza-la, sem dúvidas, seu melhor trabalho na TV.
Ilha de Ferro não seria nada sem uma grande produção para maquiar um roteiro limitado e longo para parecer maior que é. No fim, é uma série enfadonha.
Filhas de Eva
3.8 42Quem foi Eva? Segundo os escritos da Bíblia, foi a primeira mulher do Planeta Terra, nascida da costela de Adão, o primeiro homem. Enganada e seduzida pela serpente, come o fruto proibido e, como castigo para ambos, Deus enviou o caos à terra.
Esta é uma breve síntese já foi esmiuçada diversas vezes acerca da etimologia da humanidade.
Sob o comando de Leonardo Nogueira, a série busca explicitar complexidades atuais na questão da mulher, do feminino, do seu protagonismo e a retomada do poder de suas próprias vidas. Eva, a original, dizem, foi a grande causadora do caos em que estamos inseridos, por se deixar seduzir pela cobra.
Aqui, essa sedução é pela liberdade.
Crítica completa no CineSet, vão lá nos prestigiar. Como não pode colocar link aqui, eis o título da crítica: "‘AS FILHAS DE EVA’: A SEDUTORA SERPENTE CHAMADA LIBERDADE".
A Comissária de Bordo (1ª Temporada)
3.5 97 Assista AgoraImagina você ser jovem, cheia de vida, ser comissária de bordo e saber aproveitar todas as cidades do mundo, mesmo que em poucas horas? Vidão? Pode ser. Cassie Bowden (Kaley Cuoco, nossa eterna Penny de TBBT) é uma dessas pessoas que sabe aproveitar uma boa oportunidade, aliás, ela mesma faz as dela.
Numa dessas viagens internacionais, ela conhece Alex Sokolov (Michiel Huisman), passageiro da primeira classe, rico e sedutor. E aí não tem como resistir, né? Os dois passeiam por Bangkok, na Tailândia, no melhor estilo casal. Eles vão ao luxuoso hotel em que ele está hospedado, uma noite perfeita. O problema é o dia seguinte: Cassie acorda com Alex morto, precisamente degolado, ao seu lado. E aí começa o desespero da nossa heroína.
Aliás, anti-heroína. Cassie é um caos ambulante: dificuldade de relacionamentos, muito sexo sem compromisso, atrasos, atrapalhadas e claro, o seu problemas com álcool que atinge em cheio a sua jornada. Jornada que se transforma em uma luta pela sobrevivência, pois, além de ter que provar a sua inocência, ela tem busca descobrir quem matou Alex e quem são as pessoas que também querem lhe matar na figura da psicopata Miranda Croft (Michelle Gomez).
Em meio à dramédia, entramos na vida e na mente em conflito de Cassie, aliás, não só quem assiste, mas o próprio Alex, que está vivinho da silva na mente dela, como uma espécie de consciência que lhe ajuda a desvendar o caso. Pois Cassie é uma mulher com traumas e usa do álcool para escondê-las, abusos que advém da infância.
O alcoolismo, aqui, é tratado com certo cuidado até porque é uma série de comédia, com dois pés no drama, e de como ele pode destruir uma pessoa a nível de relacionamentos – as cenas dela com o irmão são bem bonitas. E de como uma simples noitada pode se transformar um labirinto sinistro.
Apesar de divertida, achei o roteiro bastante pretensioso e mirabolante para um besteirol, um besteirol da HBO, ou seja, dez degraus acima do melhor besteirol das outras produtoras/canais/streamings. É (quase) tudo muito óbvio.
O que amarra mesmo é o carisma de Kaley (acho bem parecido com o carisma de uma Jennifer Aniston, por exemplo) que nos provou que é muito mais que a Penny de The Big Bang Theory, personagem que viveu por 12 fucking anos, e ela exala química com todos que estão em cena com ela, desde Michiel e Colin Woodell (seus dois interesses amorosos “fixos”), passando por Rosie Perez e Zosia Mamet, que faz suas melhores amigas, até a própria Miranda. Você compra toda aquela turbulência de pessoa, a autossabotagem por não se sentir parte de um meio ou importante o suficiente e todas as situações absurdas que ela se propõe para descobrir quem matou, provar sua inocência e salvar sua pele, claro.
É uma série indefesa, de apenas oito episódios. Num ano de grandes produções certamente, The Flight Attendant, aos tropeços, se destacou e com muito mérito.
Hacks (1ª Temporada)
4.2 91Hacks narra a vida de Deborah Vance (Jean Smart, EXCEPCIONAL), uma grande Prima-Dona dos palcos, comediante de primeira e precursora no stand up liderado por mulheres. Sempre de casa cheia em sua residência em Las Vegas, ela percebe, com imposição do seu empresário (Paul W. Downs), que é preciso renovar seu repertório e é aí que entra caótica e Ava Daniels (Hannah Einbinder), uma comediante/roteirista em ascensão que está cancelada em Hollywood por uma piada infame no Twitter. Portanto, a união das duas é um recomeço feliz e produtivo, certo?
Errado! Deborah e Ava são duas bicudas. A primeira é milionária, porém decadente e tem todo aquele porte de diva má, sem papas na língua abusando da licença poética da idade. A segunda é inconstante, insegura e é a única que bate de frente e consegue dizer algumas verdades para a diva decadente (particularmente achei a personagem insuportável, mas bem atuada).
O bom de Hacks é que ao longo dos dez episódios não vemos apenas esse embate entre as duas, mas a construção de uma relação profissional e pessoal, pois ambas vão se reconhecendo entre si e construindo uma história.
Criada por um timaço, entre eles, Paul W. Downs, a nova aposta da HBO Max também tem a função de cutucar a ferida da presença da mulher no showbizz e de como a indústria é cruel com essas mulheres ao mínimo deslize ou simplesmente por envelhecer, fora o assédio e o menosprezo por seu trabalho. E no mundo machista e misógino como este é um grande ato uma mulher conseguir construir um império, ainda que sempre apontada pelos erros e vista como “sombra” de algum homem que elevou a sua carreira. Têm coisas que, infelizmente, nunca mudam né?
Lembrando que a série é livremente inspirada na LENDA Joan Rivers (aquela senhora desbocada e extravagante do extinto programa Fashion Police), pioneira na comédia, na língua afiada, no stand up e que quase teve a carreira arruinada no seu início por conta de... Homem!
Mas a alma da série é ela, Jean Smart, a queridinha do momento no alto dos seus 70 anos e muita bagagem nas costas. Sempre no posto de coadjuvante, a lenda está no auge da popularidade e carreira e com todo o mérito. Sua Deborah Vance é um presente. Ela é sarcástica, venenosa, sexy e muito humana. Emmy mais que merecido.
Um adendo: outro grande mérito é reconhecer o talento LGBTQ+, além do próprio criador, Paul, estão na série Carl Clemons-Hopkins, Mark Indelicato e Johnny Sibilly. A própria Hannah e sua Ava são uma mulheres bissexuais.
Capitu
4.5 629Uma das obras mais populares e por isso mesmo muito famigerada, Dom Casmurro de Machado de Assis é uma obra atemporal. Quem nunca leu por curiosidade leu por obrigação, já que é uma obra indispensável nas aulas de literatura e dos cursinhos pré-vestibulares.
Bom, ela fala por si mesma. Por isso mesmo, quando há uma adaptação deve-se ter o mínimo de cuidado possível. E a Globo caprichou aqui. Dirigida e produzida por ninguém menos que Luiz Fernando Carvalho, pra mim, o MELHOR DIRETOR da atualidade (Renascer, Meu Pedacinho de Chão, Os Maias, Hoje é Dia de Maria, são alguns dos grandes clássicos da história da dramaturgia brasileira). A nova roupagem de Dom Casmurro, aqui, apenas Capitu, é um deslumbre aos olhos. É o assombro em sua mais elevada potência. A direção de arte te chama para ser parte da história e do nascimento da paixão juvenil entre Bentinho e Capitu. Adjetivos são poucos para falar da elegância desse trabalho criativo, divertido e lúdico.
Na época eu assisti e achei interessante. Hoje, com outros olhos, acho uma obra fantástica e que merece ser revista e redescoberta. Por sua importância e potência.
Michel Melamed brilha como o narrador e seu fragmentado Bentinho. Eliana Giardini esteve, então, no melhor momento de sua carreira após Um Só Coração (2005). César Cardadeiro, dá o tom ao jovem Bentinho. E Maria Fernanda Cândido é hipnótica como a adulta Capitu.
Mas a série é toda dela, Letícia Persiles, como a jovem Capitu. Deslumbrante, sapeca, insinuante, sedutora e aquele olhar que diz muito e não diz nada. Ela reluz. Brilha intensamente. Bela estreia da atriz na tv.
Sempre pensei que ela realmente tivesse traído o Bentinho com Escobar. Assistindo agora, fico na dúvida, mas tentado a acreditar que não traiu por dois motivos do sim e não: se sim, o Escobar não passava de um cabra metido, invejoso e sedutor (aliás, a escalação do Pierre Baitelli foi um acerto, ele sabe ser tudo isso, um ator que merece mais atenção), talvez tenha seduzido Capitu por capricho. E para o não: Bentinho não passava de um macho mimado, chato e com sentimento de posse de algo que, em sua cabeça, lhe pertencia. Frutos de sua imaginação ou fato consumado? Eu prefiro ficar do lado de Capitu.
E "Elephant Gun" (Beirut) que não sai mais da cabeça?
9/10
Dom (1ª Temporada)
4.1 180"NOTA DO AUTOR: interessante como toda história de um playboy branco que envereda para o crime sempre ganha holofotes, livros, filmes, séries. Como se quisessem de alguma maneira humanizá-los (eis aí o privilégio branco), exemplos não faltam, como Meu Nome Não é Johnny (2008). Enquanto os jovens negros e periféricos sempre vistos como parte do problema de uma estrutura desigual. Mas não precisamos ter suas histórias contadas, afinal, quem se importa?"
Minha crítica completa está no CineSet, com o título: ‘DOM’: HISTÓRIA DE AMOR PATERNO NO MEIO DO CAOS DAS DROGAS (pois aqui eles bloqueiam os links, fica difícil de postar senão desse jeito).
Mare of Easttown
4.4 655 Assista AgoraNão há nada mais aprisionador e angustiante que um luto não vivido, não sentido e não processado. Ele te leva por caminhos bastantes perigosos, te transforma e você tem que lidar com esse seu novo eu, essa nova maneira de ver o mundo, de encarar a realidade dura e tão somente ver o lado negativo das coisas e das pessoas. É o peso. É fardo. E parece que queremos esse fardo, é como se nos libertamos disso, estaremos traindo a memória daquele ente tão querido que se foi. E assim que é imponente e impetuosa Mare Sheehan (Kate Winslet). Detetive que busca no seu trabalho manter o luto pela perda do seu filho.
Séries e filmes de detetives mentalmente f*didos estão bastante saturados. Mas a nova produção da HBO nos brinda com mais uma excelente minissérie para falar de crimes e, nas entrelinhas, do luto. Ali, todo mundo tem que lidar de alguma forma com a dor.
Na pacata Easttwon, duas meninas estão desaparecidas e cabe a Mare investigar o caso. Quando a jovem Erin (Cailee Spaeny), aparece morta, ela e Zabel (Evan Peters, finalmente fora do cativeiro do Ryan Murphy) buscam por pistas para desvendar estes casos que, aparentemente não tem qualquer relação.
Ao longo dos sete episódios somos jogados as novas pistas do caso de Erin, até o derradeiro plot twist no último episódio (que rende uma excelente discussão, mais aí seria spoiler) e na rotina de Mare, dos seus familiares e amigos de toda uma vida. Todos se conhecem desde pequenos, é quase que uma grande família em que Mare é a base solida de segurança. Mas será que todos se conhecem mesmo? Toda família grande segredos tenebrosos, não?
O grande destaque não poderia ser outro que Kate Winslet. Que atriz, meus amigos! Despida de toda vaidade, ela coloca suas rugas, seu corpo de uma mulher de 46 anos para personificar essa mulher abalada pela perda, pelo trabalho, pelo sentimento de culpa e de fracasso como mãe e mulher. Sem dúvidas é a melhor atriz de sua geração e podemos atestar mais uma excelente desempenho dessa atriz que já mostrou diversas vezes que é muito mais que a mimada Rose de Titanic (coisa que seu companheiro de tela, ele mesmo, nunca precisou, né?).
Chewing Gum (2ª Temporada)
4.1 125Essa segunda temporada é o atestado da genialidade de Michaela Coel. Ela consegue transitar entre o absurdo e o nonsense e ainda assim ser muito real, te leva a se identificar com loucura bem intencionada de Tracey. Uma das coisas que mais gosto nas produções dela é a voz que a mesma coloca nos outros atores/personagens que não teriam grandes oportunidades (o plot de sua irmã, Cynthia - Susie Wokoma - e da mãe delas, Joy - Shola Adewusi - são interessantíssimos). Aqui, eles são um protagonismo à parte, caminham juntos. Estão todos conectados no caótico meio de viver e sobreviver em um mundo com muitas regras, muitas convenções, repressão. E a quebra desses paradigmas são importantes. Penso que essa é a grande lição da série como um todo, especialmente dessa temporada.
Status: aclamada!
Chewing Gum (1ª Temporada)
4.1 249Tracey é uma menina de 24 anos, ingênua, criada em uma família bastante religiosa e decide dar um rumo em sua vida: perder a virgindade! Esse é o plot da espirituosa Chewing Gum.
Ao longo dos seis episódios, acompanhamos o infortúnio, constrangedor e hilário nessa jornada em perder o tão precioso "fruto proibido". Mas a série é muito mais que isso, toca em pontos bastante sensíveis de maneira muito subjetiva, como o racismo, o padrão de beleza, a relação interracial, a presença forte da comunidade/vizinhança enquanto suporte e, claro, religião.
A atração fica por conta de Michaela Coel, essa preta é um assombro. Ela traz leveza, simpatia e caos na mesma proporção, naquele humor peculiar britânico. A quebra da quarta parede (quando o personagem olha e fala diretamente para a câmera), aproxima mais Tracey de quem assiste e te leva junto para embarcar naquela loucura. Aliás, esse recurso funciona muito nesse tipo de humor "dramédia", vide outra série britânica bárbara da última década, "Fleabag", lançada depois de Gum.
Voltando a Michaela, ela é um grande achado da indústria. A série é baseada numa peça de teatro de sua autoria. Logo, ela escreve, produz e ainda protagoniza. Um grande talento da nova safra de artistas multitalentosos. Vale o play!