Posso dizer que Ari Aster está sendo um dos diretores que mais tenho prazer de acompanhar nos últimos anos. Seu gosto pelo incômodo é algo que eu aprecio muito no cinema, e a forma com que ele consegue transmitir essa sensação de agonia e terror psicológico em cenas específicas é digna de estudo pelo excelente uso da linguagem cinematográfica. Tomando como exemplo os planos aéreos giratórios em conjunto da trilha sonora que utiliza no começo do filme com a chegada do grupo de amigos à cidade sueca, temos a sensação de um leve presságio do horror que os aguarda. Essa vertiginosa movimentação de câmera é usada também em outros momentos, como quando a protagonista, Dani, começa a ter uma crise de pânico ao tentar ser consolada por um de seus amigos, Pelle, a respeito da morte de seus pais, e vai ao banheiro chorar - neste instante há um corte que mantém Dani no banheiro, chorando, mas situando-a em outro local, evidenciando uma fluída e criativa transição de lugar e tempo. Essas pequenas escolhas são importantes notar pois ajuda a entender o por que quase não sentimos os 147 minutos de duração.
"Midsommar" é um filme que exibe o talento de Aster tanto tecnicamente quanto em criatividade narrativa. Ele ousa em caminhos pouco explorados como a do terror em plena luz do dia enquanto nos imerge em uma insana e desconhecida jornada ritualística. Desprovidos de entendimento do que esteja de fato acontecendo e o significado de tudo aquilo, pode-se, ao menos, constatar que o roteiro passa uma reflexão sobre como família, relacionamento e luto são enxergados de acordo com diferentes culturas e sociedades e de que muita coisa na vida é uma questão de perspectiva. Ainda assim, há uma sensação de lacuna em seu término. Talvez seja preenchida quando a versão oficial do diretor for lançada.
O cinema do diretor filipino emula uma sociedade, atribui diversos conflitos reais ao longo das quase seis horas de projeção e o que você testemunha é um relato hipnotizante que, futuramente, pode servir como marco histórico de uma época. Não há desperdício, tampouco divagações ou contemplações vazias: cada personagem é inserido de forma única e natural enquanto Lav Diaz conta, pedaço a pedaço, os eventos que ocorreram naquele lugar cheio de cultura e problemas políticos.
O uso do preto branco rende composições brilhantes, principalmente as que acontecem em locais fechados, quase sempre mantendo a câmera imóvel, produzindo uma sensação de voyeurismo muito forte. Talvez, por isto, a imersão seja tão grande.
Seu estilo é completamente autoral e seu nome carrega um peso importantíssimo referente ao cinema lento (slow cinema).
Os primeiros frames de “Benzinho” estabelecem com êxito a aura cômica que esconde os problemas daquela família. Aos poucos vamos conhecendo Irene (Karine Teles) e não demora muito para que a identificação, de quem veio de família pobre ou já passou algum perrengue na vida, aconteça. Em uma situação financeira complicada, a mãe tenta encontrar glória em seu trabalho, algo que agarra com muito orgulho ao mesmo tempo que se recusa vender uma casa que lhe pertence, assunto que seu marido (um excepcional Otávio Müller) sempre traz à tona, com o intuito de ir contra sua vontade para investir em um negócio próprio, já que sua loja de xerox não tem um mais retorno lucrativo. Apontando apenas alguns dos problemas enfrentados por Irene, eis que surge uma surpresa que vem pra somar a todas preocupações que já possuía: seu filho, Fernando (Konstantinos Sarris), foi convidado a jogar handball na Alemanha.
A doçura e amor misturados em sua preocupação pelo filho que irá para longe é perfeitamente representado por Karine Teles, isso porque, além da ótima performance da atriz, o diretor, Gustavo Pizzi, aposta na identidade brasileira, fazendo com que as chances de um brasileiro se conectar com tudo isso que ocorre sejam de 99%. Aliás, outro ponto que vale mencionar é a direção de Pizzi: sua câmera se esconde atrás dos atores, deixando-os responsáveis por toda a mágica, nunca puxando a atenção para si. Considero uma escolha excelente para este tipo de trabalho, mostra que tem domínio sobre a visão que quer passar sem se perder em exageros.
É um filme leve e pesado, bonito e triste, doce e amargo. Merece a atenção de todos que desejam ter uma hora e meia de ótimas sensações e, claro, um chorinho se você for igual eu.
Eu, como amante do cinema exploitation, trash e extremismo francês, estava ansioso para ver “Revenge”, e felizmente é muito bom.
Por meio de uma estória que crítica o comportamento animalesco do homem, a diretora Coralie Fargeat utiliza o sangue, violência e o desejo de vingança para imprimir sua mensagem contra o pensamento machista. Não há economia no absurdo: é gráfico, não há receio algum de mostrar com gosto todas feridas que são causadas aos personagens ao longo do filme; não há muita preocupação com a verossimilhança de certos acontecimentos, porém esta nunca atrapalha o engajamento/imersão, visto que, para quem entende a proposta, não se deixa iludir por algo extremamente realista.
Como um todo, entrega uma experiência muito gostosa (pra quem gosta do gênero) e importante, sem esquecer de citar a cena alucinógena simples, mas muito bem executada pela ótima escolha de trilha sonora e pela atuação fervorosa da protagonista.
Em nossa vida diária, buscamos nos deparar com momentos que nos encantem, nos tragam felicidade, nos façam sentir. Pelo menos é assim comigo: busco na arte uma forma de lidar com sentimentos e ideias que jamais seria possível sem ela. Ela que traz de volta aquela ardente sensação de primeiro amor ao ver um filme como “Call Me by Your Name”; aquela que dilacera seu coração pela imensa dor do fim de um relacionamento como em "Blue Valentine” e "Eternal Sunshine of the Spotless Mind”; ou até quando causa repugnância e desprezo por chocar com imagens pesadas como em “Gummo” e temas fortíssimos como em “El Club". Nessa incansável procura, acontece de sermos presenteados com obras como esta.
O que Julianas Rojas e Marco Dutra alcançam aqui é precisamente aquilo que causa estranhamento: o diferente. Trata-se da aceitação do ser pelo que é, sem a tentativa de mudar sua origem para se adequar à uma padronizada sociedade. Por meio do uso do cinema de gênero(s) e impecáveis atuações, uma obra única do cinema nacional nasce e, assim como o que ele defende, é incomum: a princípio, o que pareceria ser uma crítica social já vista referente às diferenças de classes ao usar uma babá (Isabel Zuaa) que consegue um emprego na casa de uma mulher grávida (Marjorie Estiano), somos agraciados com a surpresa na mudança abrupta do drama para algo fantasioso (entrar em detalhes seria estragar a experiência da descoberta). Todos posteriores desdobramentos da trama nos levam numa viagem pela arte, que usa o mágico, a música, e o pontual humor para nos fazer rir, temer e chorar.
“As Boas Maneiras” prova, mais uma vez, como o cinema brasileiro é maravilhoso. Uma lição sobre maternidade, entender as diferenças e aceitar que elas existem, além da mais importante: nunca negar o que você é. Incrivelmente, após duas horas de projeção e muitas coisas inesperadas acontecendo, nada se torna mais emocionante e significativo que um simples dar de mãos.
Em geral, nos westerns, toda glória é atribuída ao matador que mais tirou vidas ou que, pelo menos, o faz muito bem. “Unforgiven” bate de frente com esse ideal do gênero. Não há glória em assassinato. Não há glória na morte, nem há uma reverência ao estilo cowboy de ser.
Os personagens tem um desenvolvimento espetacular, pois o que vem se tornar o vilão, de início, parece alguém “do bem”, assim como o protagonista que, com um passado obscuro, encontra brechas morais para os preencher com rendenção ao tentar não repetir erros já cometidos. Contudo, nem sempre atingimos a perfeição sobre nós mesmos. A vida de princípios mudada pela esposa de William acaba sendo brevemente ignorada, mostrando a imperfeição atingida quando pressionado emocionalmente pelas circunstâncias.
Como uma despedida dos filmes que o trouxeram para o estrelato, Clint desconstrói o gênero e constrói um filme perfeito sobre o mal das armas e a desonra extrema que há em matar um ser humano. Foge do comum, cria um espetáculo visual, e entrega uma história única que ainda consegue fazer refletir sobre diversos problemas políticos-sociais atuais.
Apenas um dos roteiros mais bem escritos que já vi. Lawrence possui tantas facetas que ficaria fácil colocar “Baseado em uma história real”, de tão crível que é a imperfeição de seu heroísmo. Seus defeitos morais são muito bem explorados, assim como de todos os lados da guerra — nada e ninguém é unidimensional. As 3h47min de filme exploram ao máximo desde os personagens e os combates políticos, até os vastos desertos da Arábia: impecáveis locações e planos resultados da filmagem em 70mm e da fotografia perfeita hipnotizam qualquer um.
Falar bem dessa obra-prima é chover no molhado. É obrigação de todo mundo que ama cinema assisti-lo.
Abbas Kiarostami, pelos passos do menino que protagoniza o filme, desenha uma crítica em volta dos modos disciplinares rigorosos de seu país. Uma jornada simples, mas que questiona costumes e tradições de um lugar extremamente conservador.
As ações do menino refletem o medo imposto pela figura adulta e autoritária, mas que é entrelaçado com sua bondade, resultando num final extremamente bonito e tocante de como pequenas ações podem mudar o dia (ou a vida) do próximo.
Sem saber absolutamente nada sobre, chego no cinema (convidado pela Veja) para assistir, antes de sua estreia, "Tully", protagonizado e produzido por Charlize Theron.
A simplicidade caótica do cotidiano das mães foi exposta com perfeição. Eu senti cada gota de agonia, revolta, tristeza, sufocamento e raiva que a protagonista, incrivelmente interpretada por Charlize Theron, sofre por ser mãe.
A edição do filme é espetacular: a repetição dos atos exaustivos de trocar fralda, levar na escola, dar comida, etc., é transmitido com êxito para o público em um crescente que, ao aumentar a velocidade da passagem dessas tarefas, faz a gente sentir na pele o furacão diário que é tudo aquilo. Aprendemos que, com a dedicação para criar filhos, podemos perder nossa identidade e nossa liberdade diante de nós mesmos ao longo do tempo, e é sobre isso que se trata "Tully".
A captura perfeita da busca do "eu" perdido. É lindo, é emocionante, é real. Uma obra que surpreende pela identidade fortíssima que o diretor Jason Reitman imprime — tanto visual quanto sentimentalmente —, pela atuação soberba de Theron, e toda atmosfera de auto-redescobrimento que, acima de todos, as mães irão se identificar. Não vejo a hora de mostrar para a minha, tenho quase certeza que ela irá se conectar muito com esse filmaço.
Todo mundo sabe o papel importantíssimo do primeiro filme de Deadpool para com o universo dos super-heróis: trouxe fim a dúvida dos estúdios de se a violência gráfica, humor ácido e vulgaridade geraria bilheteria.
Nesta continuação do anti-herói temos praticamente tudo em uma escala maior: mais personagens, mais cenas de ação, mais CGI e mais destruição. Contudo, não é só o valor de produção que aumentou, mas o número de piadas por minuto também, e isto sendo o único defeito do filme. Por mais que eu tenha rido MUITO durante todo longa, há pequenos segmentos que não precisavam ter piada repetida pela quarta vez, como por exemplo aquela do
estagiário que passa do ponto já na cena o avião, sendo que poderiam ter deixado ela na cena anterior, no encontro com o Firefist (Julian Dennison, excelente em “Hunt for the Wilderpeople”).
David Leitch, que dirigiu os ótimos "John Wick" e "Atomic Blonde", consegue criar cenas de ação extremamente empolgantes e sabendo alternar com excelência entre os personagens, principalmente nas lutas finais: Colosso e Juggernaut formaram uma rivalidade gratificante de ver pelo tamanho e força dos dois, e a dupla inesperada de Deadpool e Cable foi hilária e inspirada devido o entrosamento perfeito por ter, de um lado, o desleixo e falta de preocupação de alguém que não pode morrer, e do outro, o preparo excessivo e foco de quem está determinado em apenas terminar sua tarefa e voltar para seu tempo.
Todos que acompanham o gênero estão acostumados com as fórmulas básicas e caminhos previsíveis que são utilizados, porém aqui, os roteiristas subvertem algumas coisas, e elas são o frescor do filme: a criatividade e simplicidade do super poder da Dominó (Zazie Beetz) foi sen-sa-cio-nal; a mudança no rumo da estória ao juntar Cable com à X-Force e ir atrás do que, inicialmente, pensava ser a pessoa em perigo (Firefist); a ousadia de pegar o grupo X-Force, e em seguida simplesmente matar todos daquele jeito não foi previsto (pelo menos por mim), e isso me deixou meio sem saber pra onde o filme estava indo. É muito bom sentir isso quando a saturação do gênero está tomando conta ao longo do tempo.
Há muitas referências, mas tem algumas que gostaria de destacar: a o começo sobre Logan, a dos X-Men na mansão (auto-referência o primeiro Deadpool) e a do filme "The Proposition". Claro que há várias outras, mas é uma tarefa árdua tentar lembrar de todas.
Subversivo, auto-crítico, engraçado e com cenas de ação magistralmente executadas, “Deadpool 2” entrega tudo que promete e ainda possui a cena pós-créditos mais incrível de qualquer filme de herói.
Revendo pude perceber detalhes que passaram batidos na primeira vez, e que texto incrível de Woody, o bicho tava inspirado demais. A mente volúvel e indecisa dos personagens quanto a seus relacionamentos é muito próxima da realidade: sempre fazendo escolhas que são melhores para eles sem empatia ao próximo.
O final, no qual o personagem de Allen vai até a Tracy pedindo para ela não partir
demonstra bem esse egoísmo que temos quando estamos sozinhos, e como é fácil dispensar as pessoas quando se tem o privilégio de escolha. Fiquei com vontade de rever diversos filmes do diretor, imagino o olhar diferenciado que teria deles hoje.
The Rock parece agradar a maioria do público devido à quantidade de filmes do gênero que vem fazendo. Em “Rampage” ele estrela, mais uma vez, e entrega o esperado, assim como o restante do elenco, exceto a dupla de vilões que são horríveis por culpa do roteiro extremamente expositivo e didático.
O filme diverte e entedia na mesma medida: não há absolutamente nada de novo, as cenas de ação são razoáveis e o humor funciona só quando envolve o personagem de Jeffrey Dean Morgan (que parece vir direto de TWD, porque a semelhança é gigante) ou quando envolve George.
No fim das contas é apenas mais um blockbuster para ver uns monstros gigantes brigando que mais dá tédio do que te envolve.
"Não importa sobre o que um filme é, e sim como é sobre o que ele é".
Acredito que essa frase seja a base do cinema. Transformar uma premissa simples em uma experiência de tirar o fôlego é uma coisa que me cativa a ponto de fazer meus olhos brilharem, pois sempre pensei que histórias são importantes, mas, no cinema, histórias não são tão importantes quanto ao jeito que você a conta, ou melhor: a mostra.
Um mundo pós-apocalíptico onde ninguém pode fazer barulho e o único objetivo é sobreviver. Simples, mas que nas mãos de John Krasinski — é o protagonista junto de Emily Blunt, com quem também é casado (não, eu não sabia desses detalhes até ver o filme e me falarem) — realiza um filme de imersão e experiência cinematográfica de alto nível.
Possuindo como elemento mais importante o silêncio para construção de tensão e urgência das cenas, a trilha sonora é muito bem usada e contribui para pontuar certos momentos, dando um impacto bastante bem-vindo na maioria dos casos; a minoria sendo alguns jump scares desnecessários.
“A Quiet Place” não tem ambição alguma em explicar os motivos de como tudo aconteceu, nem de ter uma mensagem relevante sobre a humanidade em um mundo atingido pela morte, como acontece no brilhante “It Comes at Night”. Seu objetivo é proporcionar, criativamente, ansiedade e medo por meio de situações aterrorizantes, potencializadas pela ótima montagem e atuações de todo elenco.
Por todas as máscaras que vestimos durante nossas vidas para nos encaixarmos entre os meios sociais, temos o que seria a libertação de identidade, unificando as nossas falsas faces e, assim, revelando o verdadeiro “Eu”.
Inesperadamente consigo um par de ingressos de um amigo para poder ir na pré-estreia de “Love, Simon”, mais recente filme que conta a história de um adolescente confuso e inseguro devido sua sexualidade reprimida.
O filme se sai incrivelmente bem em sua premissa, e ainda consegue atingir um pouco mais ao trazer à tona, além da jornada do protagonista de se assumir perante seus conhecidos, pequenos debates sobre amizade, compreensão e empatia. As atuações entregam o necessário para este tipo de filme, todas muito competentes e que ajudam no engajamento do telespectador — meu comprometimento com os conflitos de Simon foi elevado a um nível altíssimo devido a diversão pontual muito bem distribuída e o roteiro muito bem escrito, que sabe construir os dramas familiares e, principalmente, os dramas envolvendo seus amigos, nos quais mostram que sofrimento não justifica egoísmo, afetando todos a sua volta.
Ainda que o filme tenha saídas fáceis e seja feito nos moldes do gênero, não decepciona nem um pouco (pelo contrário) pelo carisma dos personagens, seu humor eficaz e pela mensagem necessária que poderá ajudar muitos adolescentes, ou qualquer pessoa que tenha seu “segredo” pessoal, a superar sua insegurança e contar o que você é ao mundo.
A luta incessante para consertar pedaços de um relacionamento danificado pelas brigas e desentendimentos de um casal que, mesmo se amando, não convivem em harmonia.
Wong Kar Wai sabe como cativar pelo visual: a cor das cenas são muito vivas e a movimentação da câmera cria dinamismo no ponto certo, sem se tornar exibicionista ou sem propósito para com a narrativa. Particularmente, gosto muito das cenas das cidades, poderia ficar vendo aquilo por horas, apenas aquelas imagens e a trilha sonora, que é muito boa também.
“Happy Together” é o segundo filme do diretor chinês que assisto e to empolgadíssimo para o resto de sua filmografia, pois seu trabalho aqui me ganhou demais.
Como começar a escrever sobre um filme cuja experiência foi ótima, porém seu significado não tão claro? Bom, posso dizer que a maioria dos bons filmes, ou ao menos os que eu admiro pessoalmente, apresentam indagações difíceis de serem respondidas, exigindo de seu público uma reflexão para além das horas de projeção.
O que mais me chamou a atenção foi a trilha sonora. A atmosfera quase onírica criada pelos sons sintéticos que se agravam conforme a equipe de cinco mulheres avançam pelo evento incompreendido chamado de “The Shimmer”, é responsável pela imersão que só reforça a importância de ver este filme no cinema.
Ainda que o roteiro, propositalmente, não seja tão claro em onde quer chegar com todo esse mistério, não nego que a experiência audiovisual por si só me ganhou. Contudo, não é porque o roteiro não deixa respostas escancaradas para seu público que cative menos, pois o interesse de descobrir o que há por trás de tudo aquilo e de filosofar sobre as questões biólogicas dos acontecimentos é constante até seu último minuto, no qual o final ambíguo e aberto para várias interpretações só eleva o filme.
"Annihilation" é um filmão de ficção científica por conseguir ter uma atmosfera bastante particular, criar cenas de terror orgânicas e ter atuações excelentes.
O estudo de personagem dos quatro irmãos é o ponto forte do filme no qual o roteiro explora as atitudes variantes de cada personalidade.
Por ter visto em cópia digital restaurada, não há como deixar de notar a elegância da fotografia preto e branco, que se tornou a minha favorita dos três longas que vi até então do diretor.
Ainda que os personagens sejam cativantes — no caso de Simone, detestável —, o filme não tem poder suficiente para sustentar as três horas de forma que a recompensa final seja equivalente ao tempo disposto por quem assiste. Se fosse mais direto ao ponto, acredito que ficaria melhor, sem perder nada de seu conteúdo.
“Rocco e Seus Irmãos” é um estudo muito válido sobre personagens de uma família italiana imperfeita, sobre o amor fatal e, sobre o amor de mãe, que releva os atos mais horrendos dos filhos, pois seu amor é imenso.
“Sabe qual a base daquilo que agrada à todos? A mediocridade.”
O filme que me deu medo do futuro por colocar na minha frente que vou envelhecer e, em algum momento, relembrar do passado ao mesmo tempo que busco reviver os momentos da juventude.
A aproximação do fim. O desaparecimento da beleza. O esvaziar da juventude. A busca que dura até o último segundo da vida de Gustav e, talvez, das nossas.
“Death in Venice” é uma obra necessária para todos amantes do cinema.
Pensando nas oportunidades que o filme perde ao retratar de forma cômica mas superficial temas sérios como a agressão física e psicológica da mãe e do marido, “I, Tonya” ainda vai muito bem ao apresentar a história de Tonya Harding de forma a colocar em pauta a crueldade e julgamento alheio que, em conjunto com a mídia, crucificou a patinadora pelo “ataque”, e o que percebe-se ter sido um equívoco dado os depoimentos dos envolvidos. Me recordo de ver alguns vídeos dela no YouTube, e os comentários eram bem raivosos em relação a ela, e quando a cena na qual ela nos acusa de ter a “atacado” começa, esses comentários vieram em minha mente, me fazendo questionar tudo que fazemos desde que a TV e a mídia existem: julgar e achar que sabemos da verdade absoluta.
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraPosso dizer que Ari Aster está sendo um dos diretores que mais tenho prazer de acompanhar nos últimos anos. Seu gosto pelo incômodo é algo que eu aprecio muito no cinema, e a forma com que ele consegue transmitir essa sensação de agonia e terror psicológico em cenas específicas é digna de estudo pelo excelente uso da linguagem cinematográfica. Tomando como exemplo os planos aéreos giratórios em conjunto da trilha sonora que utiliza no começo do filme com a chegada do grupo de amigos à cidade sueca, temos a sensação de um leve presságio do horror que os aguarda. Essa vertiginosa movimentação de câmera é usada também em outros momentos, como quando a protagonista, Dani, começa a ter uma crise de pânico ao tentar ser consolada por um de seus amigos, Pelle, a respeito da morte de seus pais, e vai ao banheiro chorar - neste instante há um corte que mantém Dani no banheiro, chorando, mas situando-a em outro local, evidenciando uma fluída e criativa transição de lugar e tempo. Essas pequenas escolhas são importantes notar pois ajuda a entender o por que quase não sentimos os 147 minutos de duração.
"Midsommar" é um filme que exibe o talento de Aster tanto tecnicamente quanto em criatividade narrativa. Ele ousa em caminhos pouco explorados como a do terror em plena luz do dia enquanto nos imerge em uma insana e desconhecida jornada ritualística. Desprovidos de entendimento do que esteja de fato acontecendo e o significado de tudo aquilo, pode-se, ao menos, constatar que o roteiro passa uma reflexão sobre como família, relacionamento e luto são enxergados de acordo com diferentes culturas e sociedades e de que muita coisa na vida é uma questão de perspectiva. Ainda assim, há uma sensação de lacuna em seu término. Talvez seja preenchida quando a versão oficial do diretor for lançada.
Do Que Vem Antes
4.4 12 Assista AgoraO cinema do diretor filipino emula uma sociedade, atribui diversos conflitos reais ao longo das quase seis horas de projeção e o que você testemunha é um relato hipnotizante que, futuramente, pode servir como marco histórico de uma época. Não há desperdício, tampouco divagações ou contemplações vazias: cada personagem é inserido de forma única e natural enquanto Lav Diaz conta, pedaço a pedaço, os eventos que ocorreram naquele lugar cheio de cultura e problemas políticos.
O uso do preto branco rende composições brilhantes, principalmente as que acontecem em locais fechados, quase sempre mantendo a câmera imóvel, produzindo uma sensação de voyeurismo muito forte. Talvez, por isto, a imersão seja tão grande.
Seu estilo é completamente autoral e seu nome carrega um peso importantíssimo referente ao cinema lento (slow cinema).
Não é à toa.
Benzinho
3.9 348 Assista AgoraOs primeiros frames de “Benzinho” estabelecem com êxito a aura cômica que esconde os problemas daquela família. Aos poucos vamos conhecendo Irene (Karine Teles) e não demora muito para que a identificação, de quem veio de família pobre ou já passou algum perrengue na vida, aconteça. Em uma situação financeira complicada, a mãe tenta encontrar glória em seu trabalho, algo que agarra com muito orgulho ao mesmo tempo que se recusa vender uma casa que lhe pertence, assunto que seu marido (um excepcional Otávio Müller) sempre traz à tona, com o intuito de ir contra sua vontade para investir em um negócio próprio, já que sua loja de xerox não tem um mais retorno lucrativo. Apontando apenas alguns dos problemas enfrentados por Irene, eis que surge uma surpresa que vem pra somar a todas preocupações que já possuía: seu filho, Fernando (Konstantinos Sarris), foi convidado a jogar handball na Alemanha.
A doçura e amor misturados em sua preocupação pelo filho que irá para longe é perfeitamente representado por Karine Teles, isso porque, além da ótima performance da atriz, o diretor, Gustavo Pizzi, aposta na identidade brasileira, fazendo com que as chances de um brasileiro se conectar com tudo isso que ocorre sejam de 99%. Aliás, outro ponto que vale mencionar é a direção de Pizzi: sua câmera se esconde atrás dos atores, deixando-os responsáveis por toda a mágica, nunca puxando a atenção para si. Considero uma escolha excelente para este tipo de trabalho, mostra que tem domínio sobre a visão que quer passar sem se perder em exageros.
É um filme leve e pesado, bonito e triste, doce e amargo. Merece a atenção de todos que desejam ter uma hora e meia de ótimas sensações e, claro, um chorinho se você for igual eu.
Uma Rua Chamada Pecado
4.3 454 Assista AgoraBrando está muito bem, mas a Vivien Leigh destruiu. Que performance foi essa!
Vingança
3.2 581 Assista AgoraEu, como amante do cinema exploitation, trash e extremismo francês, estava ansioso para ver “Revenge”, e felizmente é muito bom.
Por meio de uma estória que crítica o comportamento animalesco do homem, a diretora Coralie Fargeat utiliza o sangue, violência e o desejo de vingança para imprimir sua mensagem contra o pensamento machista. Não há economia no absurdo: é gráfico, não há receio algum de mostrar com gosto todas feridas que são causadas aos personagens ao longo do filme; não há muita preocupação com a verossimilhança de certos acontecimentos, porém esta nunca atrapalha o engajamento/imersão, visto que, para quem entende a proposta, não se deixa iludir por algo extremamente realista.
Como um todo, entrega uma experiência muito gostosa (pra quem gosta do gênero) e importante, sem esquecer de citar a cena alucinógena simples, mas muito bem executada pela ótima escolha de trilha sonora e pela atuação fervorosa da protagonista.
As Boas Maneiras
3.5 647 Assista AgoraEm nossa vida diária, buscamos nos deparar com momentos que nos encantem, nos tragam felicidade, nos façam sentir. Pelo menos é assim comigo: busco na arte uma forma de lidar com sentimentos e ideias que jamais seria possível sem ela. Ela que traz de volta aquela ardente sensação de primeiro amor ao ver um filme como “Call Me by Your Name”; aquela que dilacera seu coração pela imensa dor do fim de um relacionamento como em "Blue Valentine” e "Eternal Sunshine of the Spotless Mind”; ou até quando causa repugnância e desprezo por chocar com imagens pesadas como em “Gummo” e temas fortíssimos como em “El Club". Nessa incansável procura, acontece de sermos presenteados com obras como esta.
O que Julianas Rojas e Marco Dutra alcançam aqui é precisamente aquilo que causa estranhamento: o diferente. Trata-se da aceitação do ser pelo que é, sem a tentativa de mudar sua origem para se adequar à uma padronizada sociedade. Por meio do uso do cinema de gênero(s) e impecáveis atuações, uma obra única do cinema nacional nasce e, assim como o que ele defende, é incomum: a princípio, o que pareceria ser uma crítica social já vista referente às diferenças de classes ao usar uma babá (Isabel Zuaa) que consegue um emprego na casa de uma mulher grávida (Marjorie Estiano), somos agraciados com a surpresa na mudança abrupta do drama para algo fantasioso (entrar em detalhes seria estragar a experiência da descoberta). Todos posteriores desdobramentos da trama nos levam numa viagem pela arte, que usa o mágico, a música, e o pontual humor para nos fazer rir, temer e chorar.
“As Boas Maneiras” prova, mais uma vez, como o cinema brasileiro é maravilhoso. Uma lição sobre maternidade, entender as diferenças e aceitar que elas existem, além da mais importante: nunca negar o que você é. Incrivelmente, após duas horas de projeção e muitas coisas inesperadas acontecendo, nada se torna mais emocionante e significativo que um simples dar de mãos.
Os Imperdoáveis
4.3 654Em geral, nos westerns, toda glória é atribuída ao matador que mais tirou vidas ou que, pelo menos, o faz muito bem. “Unforgiven” bate de frente com esse ideal do gênero. Não há glória em assassinato. Não há glória na morte, nem há uma reverência ao estilo cowboy de ser.
Os personagens tem um desenvolvimento espetacular, pois o que vem se tornar o vilão, de início, parece alguém “do bem”, assim como o protagonista que, com um passado obscuro, encontra brechas morais para os preencher com rendenção ao tentar não repetir erros já cometidos.
Contudo, nem sempre atingimos a perfeição sobre nós mesmos. A vida de princípios mudada pela esposa de William acaba sendo brevemente ignorada, mostrando a imperfeição atingida quando pressionado emocionalmente pelas circunstâncias.
Como uma despedida dos filmes que o trouxeram para o estrelato, Clint desconstrói o gênero e constrói um filme perfeito sobre o mal das armas e a desonra extrema que há em matar um ser humano. Foge do comum, cria um espetáculo visual, e entrega uma história única que ainda consegue fazer refletir sobre diversos problemas políticos-sociais atuais.
Obra-prima.
Lawrence da Arábia
4.2 416 Assista AgoraApenas um dos roteiros mais bem escritos que já vi. Lawrence possui tantas facetas que ficaria fácil colocar “Baseado em uma história real”, de tão crível que é a imperfeição de seu heroísmo. Seus defeitos morais são muito bem explorados, assim como de todos os lados da guerra — nada e ninguém é unidimensional. As 3h47min de filme exploram ao máximo desde os personagens e os combates políticos, até os vastos desertos da Arábia: impecáveis locações e planos resultados da filmagem em 70mm e da fotografia perfeita hipnotizam qualquer um.
Falar bem dessa obra-prima é chover no molhado. É obrigação de todo mundo que ama cinema assisti-lo.
Onde Fica a Casa do Meu Amigo?
4.2 145 Assista AgoraAbbas Kiarostami, pelos passos do menino que protagoniza o filme, desenha uma crítica em volta dos modos disciplinares rigorosos de seu país. Uma jornada simples, mas que questiona costumes e tradições de um lugar extremamente conservador.
As ações do menino refletem o medo imposto pela figura adulta e autoritária, mas que é entrelaçado com sua bondade, resultando num final extremamente bonito e tocante de como pequenas ações podem mudar o dia (ou a vida) do próximo.
Tully
3.9 562 Assista AgoraSem saber absolutamente nada sobre, chego no cinema (convidado pela Veja) para assistir, antes de sua estreia, "Tully", protagonizado e produzido por Charlize Theron.
A simplicidade caótica do cotidiano das mães foi exposta com perfeição. Eu senti cada gota de agonia, revolta, tristeza, sufocamento e raiva que a protagonista, incrivelmente interpretada por Charlize Theron, sofre por ser mãe.
A edição do filme é espetacular: a repetição dos atos exaustivos de trocar fralda, levar na escola, dar comida, etc., é transmitido com êxito para o público em um crescente que, ao aumentar a velocidade da passagem dessas tarefas, faz a gente sentir na pele o furacão diário que é tudo aquilo. Aprendemos que, com a dedicação para criar filhos, podemos perder nossa identidade e nossa liberdade diante de nós mesmos ao longo do tempo, e é sobre isso que se trata "Tully".
A captura perfeita da busca do "eu" perdido. É lindo, é emocionante, é real. Uma obra que surpreende pela identidade fortíssima que o diretor Jason Reitman imprime — tanto visual quanto sentimentalmente —, pela atuação soberba de Theron, e toda atmosfera de auto-redescobrimento que, acima de todos, as mães irão se identificar. Não vejo a hora de mostrar para a minha, tenho quase certeza que ela irá se conectar muito com esse filmaço.
Tom na Fazenda
3.7 368 Assista AgoraEsse não deu certo pra mim, infelizmente.
Mac & Devin Go to High School
2.5 61Nem pra ver chapado serve. MUITO ruim.
Deadpool 2
3.8 1,3K Assista AgoraTodo mundo sabe o papel importantíssimo do primeiro filme de Deadpool para com o universo dos super-heróis: trouxe fim a dúvida dos estúdios de se a violência gráfica, humor ácido e vulgaridade geraria bilheteria.
Nesta continuação do anti-herói temos praticamente tudo em uma escala maior: mais personagens, mais cenas de ação, mais CGI e mais destruição. Contudo, não é só o valor de produção que aumentou, mas o número de piadas por minuto também, e isto sendo o único defeito do filme. Por mais que eu tenha rido MUITO durante todo longa, há pequenos segmentos que não precisavam ter piada repetida pela quarta vez, como por exemplo aquela do
estagiário que passa do ponto já na cena o avião, sendo que poderiam ter deixado ela na cena anterior, no encontro com o Firefist (Julian Dennison, excelente em “Hunt for the Wilderpeople”).
David Leitch, que dirigiu os ótimos "John Wick" e "Atomic Blonde", consegue criar cenas de ação extremamente empolgantes e sabendo alternar com excelência entre os personagens, principalmente nas lutas finais: Colosso e Juggernaut formaram uma rivalidade gratificante de ver pelo tamanho e força dos dois, e a dupla inesperada de Deadpool e Cable foi hilária e inspirada devido o entrosamento perfeito por ter, de um lado, o desleixo e falta de preocupação de alguém que não pode morrer, e do outro, o preparo excessivo e foco de quem está determinado em apenas terminar sua tarefa e voltar para seu tempo.
Todos que acompanham o gênero estão acostumados com as fórmulas básicas e caminhos previsíveis que são utilizados, porém aqui, os roteiristas subvertem algumas coisas, e elas são o frescor do filme: a criatividade e simplicidade do super poder da Dominó (Zazie Beetz) foi sen-sa-cio-nal; a mudança no rumo da estória ao juntar Cable com à X-Force e ir atrás do que, inicialmente, pensava ser a pessoa em perigo (Firefist); a ousadia de pegar o grupo X-Force, e em seguida simplesmente matar todos daquele jeito não foi previsto (pelo menos por mim), e isso me deixou meio sem saber pra onde o filme estava indo. É muito bom sentir isso quando a saturação do gênero está tomando conta ao longo do tempo.
Há muitas referências, mas tem algumas que gostaria de destacar: a o começo sobre Logan, a dos X-Men na mansão (auto-referência o primeiro Deadpool) e a do filme "The Proposition". Claro que há várias outras, mas é uma tarefa árdua tentar lembrar de todas.
Subversivo, auto-crítico, engraçado e com cenas de ação magistralmente executadas, “Deadpool 2” entrega tudo que promete e ainda possui a cena pós-créditos mais incrível de qualquer filme de herói.
Manhattan
4.1 595 Assista AgoraRevendo pude perceber detalhes que passaram batidos na primeira vez, e que texto incrível de Woody, o bicho tava inspirado demais. A mente volúvel e indecisa dos personagens quanto a seus relacionamentos é muito próxima da realidade: sempre fazendo escolhas que são melhores para eles sem empatia ao próximo.
O final, no qual o personagem de Allen vai até a Tracy pedindo para ela não partir
Rampage: Destruição Total
3.0 537 Assista AgoraThe Rock parece agradar a maioria do público devido à quantidade de filmes do gênero que vem fazendo. Em “Rampage” ele estrela, mais uma vez, e entrega o esperado, assim como o restante do elenco, exceto a dupla de vilões que são horríveis por culpa do roteiro extremamente expositivo e didático.
O filme diverte e entedia na mesma medida: não há absolutamente nada de novo, as cenas de ação são razoáveis e o humor funciona só quando envolve o personagem de Jeffrey Dean Morgan (que parece vir direto de TWD, porque a semelhança é gigante) ou quando envolve George.
No fim das contas é apenas mais um blockbuster para ver uns monstros gigantes brigando que mais dá tédio do que te envolve.
Um Lugar Silencioso
4.0 3,0K Assista Agora"Não importa sobre o que um filme é, e sim como é sobre o que ele é".
Acredito que essa frase seja a base do cinema. Transformar uma premissa simples em uma experiência de tirar o fôlego é uma coisa que me cativa a ponto de fazer meus olhos brilharem, pois sempre pensei que histórias são importantes, mas, no cinema, histórias não são tão importantes quanto ao jeito que você a conta, ou melhor: a mostra.
Um mundo pós-apocalíptico onde ninguém pode fazer barulho e o único objetivo é sobreviver. Simples, mas que nas mãos de John Krasinski — é o protagonista junto de Emily Blunt, com quem também é casado (não, eu não sabia desses detalhes até ver o filme e me falarem) — realiza um filme de imersão e experiência cinematográfica de alto nível.
Possuindo como elemento mais importante o silêncio para construção de tensão e urgência das cenas, a trilha sonora é muito bem usada e contribui para pontuar certos momentos, dando um impacto bastante bem-vindo na maioria dos casos; a minoria sendo alguns jump scares desnecessários.
“A Quiet Place” não tem ambição alguma em explicar os motivos de como tudo aconteceu, nem de ter uma mensagem relevante sobre a humanidade em um mundo atingido pela morte, como acontece no brilhante “It Comes at Night”. Seu objetivo é proporcionar, criativamente, ansiedade e medo por meio de situações aterrorizantes, potencializadas pela ótima montagem e atuações de todo elenco.
Os Olhos Sem Rosto
4.0 232Por todas as máscaras que vestimos durante nossas vidas para nos encaixarmos entre os meios sociais, temos o que seria a libertação de identidade, unificando as nossas falsas faces e, assim, revelando o verdadeiro “Eu”.
Com Amor, Simon
4.0 1,2K Assista AgoraInesperadamente consigo um par de ingressos de um amigo para poder ir na pré-estreia de “Love, Simon”, mais recente filme que conta a história de um adolescente confuso e inseguro devido sua sexualidade reprimida.
O filme se sai incrivelmente bem em sua premissa, e ainda consegue atingir um pouco mais ao trazer à tona, além da jornada do protagonista de se assumir perante seus conhecidos, pequenos debates sobre amizade, compreensão e empatia. As atuações entregam o necessário para este tipo de filme, todas muito competentes e que ajudam no engajamento do telespectador — meu comprometimento com os conflitos de Simon foi elevado a um nível altíssimo devido a diversão pontual muito bem distribuída e o roteiro muito bem escrito, que sabe
construir os dramas familiares e, principalmente, os dramas envolvendo seus amigos, nos quais mostram que sofrimento não justifica egoísmo, afetando todos a sua volta.
Ainda que o filme tenha saídas fáceis e seja feito nos moldes do gênero, não decepciona nem um pouco (pelo contrário) pelo carisma dos personagens, seu humor eficaz e pela mensagem necessária que poderá ajudar muitos adolescentes, ou qualquer pessoa que tenha seu “segredo” pessoal, a superar sua insegurança e contar o que você é ao mundo.
Felizes Juntos
4.2 261 Assista AgoraA luta incessante para consertar pedaços de um relacionamento danificado pelas brigas e desentendimentos de um casal que, mesmo se amando, não convivem em harmonia.
Wong Kar Wai sabe como cativar pelo visual: a cor das cenas são muito vivas e a movimentação da câmera cria dinamismo no ponto certo, sem se tornar exibicionista ou sem propósito para com a narrativa. Particularmente, gosto muito das cenas das cidades, poderia ficar vendo aquilo por horas, apenas aquelas imagens e a trilha sonora, que é muito boa também.
“Happy Together” é o segundo filme do diretor chinês que assisto e to empolgadíssimo para o resto de sua filmografia, pois seu trabalho aqui me ganhou demais.
Aniquilação
3.4 1,6K Assista AgoraComo começar a escrever sobre um filme cuja experiência foi ótima, porém seu significado não tão claro? Bom, posso dizer que a maioria dos bons filmes, ou ao menos os que eu admiro pessoalmente, apresentam indagações difíceis de serem respondidas, exigindo de seu público uma reflexão para além das horas de projeção.
O que mais me chamou a atenção foi a trilha sonora. A atmosfera quase onírica criada pelos sons sintéticos que se agravam conforme a equipe de cinco mulheres avançam pelo evento incompreendido chamado de “The Shimmer”, é responsável pela imersão que só reforça a importância de ver este filme no cinema.
Ainda que o roteiro, propositalmente, não seja tão claro em onde quer chegar com todo esse mistério, não nego que a experiência audiovisual por si só me ganhou. Contudo, não é porque o roteiro não deixa respostas escancaradas para seu público que cative menos, pois o interesse de descobrir o que há por trás de tudo aquilo e de filosofar sobre as questões biólogicas dos acontecimentos é constante até seu último minuto, no qual o final ambíguo e aberto para várias interpretações só eleva o filme.
"Annihilation" é um filmão de ficção científica por conseguir ter uma atmosfera bastante particular, criar cenas de terror orgânicas e ter atuações excelentes.
Desencanto
4.4 171 Assista AgoraCativa do primeiro ao último segundo. Um dos maiores romances que já vi.
Rocco e Seus Irmãos
4.4 125O estudo de personagem dos quatro irmãos é o ponto forte do filme no qual o roteiro explora as atitudes variantes de cada personalidade.
Por ter visto em cópia digital restaurada, não há como deixar de notar a elegância da fotografia preto e branco, que se tornou a minha favorita dos três longas que vi até então do diretor.
Ainda que os personagens sejam cativantes — no caso de Simone, detestável —, o filme não tem poder suficiente para sustentar as três horas de forma que a recompensa final seja equivalente ao tempo disposto por quem assiste. Se fosse mais direto ao ponto, acredito que ficaria melhor, sem perder nada de seu conteúdo.
“Rocco e Seus Irmãos” é um estudo muito válido sobre personagens de uma família italiana imperfeita, sobre o amor fatal e, sobre o amor de mãe, que releva os atos mais horrendos dos filhos, pois seu amor é imenso.
Morte em Veneza
4.0 210 Assista Agora“Sabe qual a base daquilo que agrada à todos? A mediocridade.”
O filme que me deu medo do futuro por colocar na minha frente que vou envelhecer e, em algum momento, relembrar do passado ao mesmo tempo que busco reviver os momentos da juventude.
A aproximação do fim. O desaparecimento da beleza. O esvaziar da juventude. A busca que dura até o último segundo da vida de Gustav e, talvez, das nossas.
“Death in Venice” é uma obra necessária para todos amantes do cinema.
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraPensando nas oportunidades que o filme perde ao retratar de forma cômica mas superficial temas sérios como a agressão física e psicológica da mãe e do marido, “I, Tonya” ainda vai muito bem ao apresentar a história de Tonya Harding de forma a colocar em pauta a crueldade e julgamento alheio que, em conjunto com a mídia, crucificou a patinadora pelo “ataque”, e o que percebe-se ter sido um equívoco dado os depoimentos dos envolvidos. Me recordo de ver alguns vídeos dela no YouTube, e os comentários eram bem raivosos em relação a ela, e quando a cena na qual ela nos acusa de ter a “atacado” começa, esses comentários vieram em minha mente, me fazendo questionar tudo que fazemos desde que a TV e a mídia existem: julgar e achar que sabemos da verdade absoluta.