Alice Rohrwacher faz filmes como quem sonha. Sair da sala de cinema é como despertar duma soneca delicada. “La Chimera” traz um tempo deslocalizado – no seu cinema é sempre difícil determinar uma época histórica, um ano, uma década (“Feliz como Lázaro” é feudal & tecno). Isso porque seu sublime dá corda a certa mistura entre memória, corpo, cidade, campo. Uma anti-geografia. Uma estética de tempo indefinido. Em La Chimera, Brasil, Itália e Inglaterra. A senhora na cadeira de rodas falando uma língua matriarcal que se faz através da violência, do permanecimento no espaço da casa – que não deixa de ser o espaço do passado; passado onde as coisas não passam; onde a morte não pode passar, e portanto não pode ir embora. O personagem de Arthur, ladrão-amado e anti-héroi, narrado através dos elementos arqueológicos materiais (recalcados no chão) e imateriais (fossilizados na memória). É indefinido. Indefinido porque não pousa. E não pousa porque não pode pousar – andarilho, itinerante, apátrida. Sem chão – embora extremamente fincado lá, no mais essencial dos solos (o do amor e da morte). Um homem ora bruto ora encantado por um dom que seduz, enigmatiza, desumaniza. Ele e sua quimeras… Seu presente mais íntimo que parece vir com um preço alto, o preço de não poder voar para cima. Ele caminha, caminha, caminha, e só caminha pra trás. Seu andar é sempre um regresso. Ainda quando ele tenta – beijar outra boca que não aquela, primeira – a terra o suga de volta. Como se trabalhasse para a terra, como se impossível fosse seguir a vida, como se o elemento onírico e escavador de recordação fosse seu único possível. Ainda que convidado a estar entre várias outras – mulheres e crianças – numa espécie de lar encantado, há uma imagem que o assombra, uma imagem para a qual não pode deixar de não retornar. Uma tristeza, uma beleza... Poxa, gosto muitíiissimo desse cinema. Graciassssss, Alice
muuyy divertido. cenários do mundo fantástico, "retrô futurista", como disse a pessoa que assistiu comigo. um filme feminista. gosto muito de como a narrativa sexual tem centralidade e é inseparável da descoberta da vida. descobrir o mundo e descobrir o sexo como sendo a mesma coisa, um só ato ou atos simultâneos. por isso acho que as cenas de sexo deveriam ter sido melhor exploradas... foram curtas, um tanto quanto tímidas e tradicionais pensando que o diretor é o Yorgos. é o filme menos estranho dele. não tem aquela marca de personagens com comportamentos absurdos e incompreensíveis, é mais racional, conforme o discurso tradicional da ciência que os personagens pautam. a marca maior do Yorgos aqui talvez tenha ficado p/ trilha sonora. é bem engraçado e bom de ver. os homens tentando aprisioná-la, cada um com seu discuso... discurso amoroso, discurso médico-científico. são marcas fortes do patriarcado que os personagens homens representaram muito bem... figurino chiquérrimo também.
Num consigo dar nota, mas vai 3,8. Gostei bastante desse! Trata de temas bem contemporâneos relacionados ao trabalho e ao uso do tempo. Fiquei pensando nessa intuição de despertencimento às cidades, ao mesmo tempo uma falta de coragem/vontade/possibilidade de sair delas e de fato morar no interior, "longe"... São dilemas de vários de nós, humanos urbanos desse tempo.
Mostram o roubo ao banco como a alternativa mais possível e plausível pra mudar de vida(/viver a vida). É engraçado e trágico. Mas a radicalidade da ideia de roubar o banco (embora seja executada sutilmente e sem grandes alardes) casa bem com a radicalidade do ato de doar metade ou mais da metade do tempo de vida pra um trabalho sem sentido, chato, repetitivo. Também pensei como o bicho homi da cidade é bêsta e carece de experiências de maior carga sensível. No filme o Morán conhece a mina, xona, quer mudar pra cidade de interior e levar uma vida mais próxima a natureza, tudo bem rápido... é como se a gente (bicho homi y mulher da cidade do trabalho etc) tivesse perdido o básico do básico, uma certa fagulha de encantamento, conexão com a vida - nuvens cavalos rios intimidade etc - que qualquer experiência de proximidade com esses elementos é altamente transformadora, catártica. O que não é um problema. Só fiquei pensando nisso agora... no quanto o personagem do Morán é carente de companhias, de experiências significativas. Não mostra muito da vida pregressa dele, mas aparenta ser um cara bem "normal". Isso é legal no filme, é um filme de assalto em que os assaltantes são cidadãos comuns, de vidas pacatas e normais... Só estão cansados de trabalhar, que nem quase todo mundo.
Ah, os diálogos entre eles (cineasta, irmãs e os "protagonistas") são mei esquisitos. Não me convocaram muito... Trilha sonora maravilhosa. Cenas lindas. Tanto de Buenos Aires como da região montanhosa. Talvez a primeira parte tenha me prendido mais, com os personagens do banco. As partes envolvendo a prisão meio méeehh. Mas nada que estragasse a experiência, assisti ao filme bem curiosa e feliz :) e dividi ele em 2 kkk agora num lembro se vi no mesmo dia prolongadamente ou de um dia pro outro. Mas tô aprendendo a fazer isso de cortar o filme sem grandes neuras kk enfim, mó legal o filme
Uauu.. esse roteiro é super complexo e é uma teia de vários temas, tanto é que rapidamente perdi o interesse na "verdade" e fui me deleitando movida por outras curiosidades. A Sandra é uma grande curiosidade.. ela é mei misteriosa, séria. Um peixe fora d'água, pouco sorridente e simpática se pensada em comparação aos outros desse país que não é o "seu". Dá pra pensar a espetacularização de processos judiciais, novos modelos de casamento pós feminismo, oq é possível e impossível ser dito fora da língua materna, questões mil sobre relações amorosas.. o que me pegou especialmente é a fragilidade da linha entre intimidade e crueldade, entre o que é meu, seu e nosso (exemplo literal é o rolê da ideia emprestada do livro). Anos de casamento produzem também muitas armas contra o outro, o diálogo gravado entre o casal é muito bom e mostra bem isso. Achei Sandra cruel em vários momentos, mas a dicotomia entre a figura dela e do marido também fazem pensar na crueldade do lugar ""passivo""" (com muitas aspas). É tenso esse filme!! Senti até medo em alguns momentos kk a cena final (não o arco todo, a última cena mesmo) achei fraquinha. E nossa, um julgamento desse sem mandar ninguém se f*der já é vitória kkk
me interessei mais pela parte biográfica contada pelas fotos, na outra não me prendi tanto. mas não estragou a experiência. doc lindo! que fotos maravilhosas...
Emilia afundada na terra só com os olhos pra fora.. que cena! A poça d'água de lágrimas do ladin misturada na terra.. Uau.
Pra'lém da compreensão total dos símbolos, gostei muito das imagens. Tem uma estranheza erótica, sensação de invasão angelical. Anjos violentos sedutores. Espíritos cafajestes, deslumbramento divino por meio da matéria
O Brasil deve ser um dos pedaços de terra mais encantado desse mundo... sério, olha isso. Pra quem tem família no goiás e passou tempo de vida na roça, esse filme é ouro. Conflitos enormes e ancestrais, com fundura pra além dessa vida e desse tempo.
Essa primeira cena é genial: a Fernanda entrando numa casa que poderia ser do século passado, bem interiorana, a cara do Brasil colônia. Em seguida ela passa pro outro cômodo e tem ar condicionado, gente rica e chique, vários elementos modernos... Eu fiquei: eita! Foi um ótimo jeito de apresentar o cenário/imaginário da história. Tem elementos do fantástico e do cinema de horror muito bem "engoiazados" rs. Só acho que ali pros últimos 30 min, o filme deu uma acelerada brusca que destoou um pouco do que tava rolando anteriormente. Mas de boa. E nuh, o que é aquela colcha de bordado??? Caramba muito linda e muito assustadora
Bem no início pensei: esse filme não vai ser "fácil" de ver... mas pouco tempo depois fui completamente arrastada. O filme me tomou. Tem uma inteligência muito grande aí. Passagens de cena muito cabulosas. Câmera parada, vários minutos de cena... algo está ali. As vezes é cansativo. Mas e daí, né? Eu pude descansar e estar eufórica durante a experiência. Muito muito massa assistir algo que se passa no DF, ver o sotaque e as gírias daqui em tela. Léa é um acontecimento mitológico. O cabelão, o cigarro constante, a moto, as mulheres. É um filme engraçado e também abismático. Do nada você cai e chora, do nada você ri. É um jogo de aproximação e distanciamento. Léa me olha no olho, depois ninguém mais me vê, depois eu entro ali. Uma realidade tão diferente da minha... Acho que a ficção cria essa possibilidade de aproximação. É uma ideia que me surgiu enquanto escrevo isso, tenho que pensar mais sobre. Mas algo no sentido de que é impossível pra mim sentir essa realidade, é preciso inventar uma narrativa que me faça, de alguma forma, entrar mais além. Entrei. Não fui mera espectadora. A realidade pode ser uma ficção cruel. A vida dessas mulheres com os tons cyberpunks que já estão presentes na narrativa "biográfica" e "factual", basta furar seu eixo de ficcionalização que jorra tudo isso ali. O roteiro cravou isso muito bem. Uma experiência que vale muito a pena. Diferente de tudo que já vi.
amei!!! que trilha sonora maravilhosa, nossa. a questão da monstruosidade é tratada dum jeito muito interessante. o que as marcas de um corpo feminino podem transmitir? é através de um corte (de uma nova textura na pele antes lisa/ "perfeita"/"higiênica") que mariana encontra espaço para a diferença... sai do emprego onde tudo é como ela já conhece e vai trampar num lugar feio/sujo/outro... tem sexo no ar, tem corpos dançantes que se movem sem pudor e sem medo. esses personagens do hospital são incríveis! a dona loira é demaisss, totalmente sensual e estranha. a atmosfera de terror certamente cai muito bem pra pensar o contexto evangélico no Brasil. o medo do sexo. o medo do outro. o medo do próprio corpo...
Tem cheiro, tem sensação de vento, tem tempo. Gosto muito de câmera na cara - corta para uma câmera no que olhos veem - câmera na cara - olhos... Faz a gente existir no personagem.
Mas achei que entrou num lugar clichê - o que não necessariamente é um problema - mas não vi nada muito novo ser produzido sobre o clichê. Depois da morte do Remi, senti que estava assistindo um drama qualquer e comum, sem muita originalidade discursiva sobre luto e culpa, sobre o sofrimento de modo geral. Bota a gente pra chorar, mas achei um choro induzido demais...
Assisti em formato de série, todo picado. É muito lindo e claustrofóbico. Eles tem uma intimidade (tem?) tão próxima que dá agonia - a quase ausência de outros personagens/atores fomenta bem isso. Um excesso mortífero e enjoativo... típico do amor quando longo, quando envelhecido, quando umbilical demais. O filme é muito DOIS a todo momento, ai. Dá um trem de agonia. Quase não tem ar pra respirar, eles perto um do outro o tempo inteiro, falando o tempo inteiro. Falam tanto que não transam. Inclusive, que beijos feios desse filme kkkkk ave maria, horrível.
Os diálogos são absurdos (já era de se esperar realmente Bergman é sinistro). Marianne lendo o texto, as fotos passando... nuh, esse texto dela é lindo! E ele no bocejo. Toda chance que Johan tem de (re)despertar o interesse sexual da Marianne ele joga fora. (Não que isso dependa dele, mas depende também). Senti raiva. Dá vontade de gritar SAIM!!! Assina essa porra e vai embora logo!!!!! Corre... Parece que a qualquer passo ou palavra a mais tem um perigo de queda num abismo enooorme.. eles estão sambando perto dum lugar tão perigoso. O amor é tipo uma loucura mesmo. Os dois são enlouquecidos. A incapacidade de separação é agonizante. Dá pra criticar essa falta de coragem dos dois pra ir embora, mas no final das contas, acho que eles conseguiram fazer um bom arranjo pra relação. Enfim mil fitas, devastação estomacal esse filme.
Ps: vale a pena assistir o remake. Assisti antes de ver o original e os dois são ótimos.
esse final!!!!! passa do hilário/aliviante ao melancólico numa esperteza muito boa. a Elaine com uma cara de "que que eu acabei de fazer, bicho?" kkk e um silêncio de total falta de intimidade entre dos dois. como pontuaram em alguns comentários aí, senti falta de um aprofundamento na relação do Benjamin e Mrs. Robinson, ou mais falas dela. ela é uma personagem muito interessante e um pouco mal explorada. mas é isso, a relação dos dois é de outra ordem... quando elementos da vida pessoal/o mínimo de diálogo é inserido, a relação acaba, pq talvez não se sustente fora de um disfarce sexual, às escuras. Benjamin reprimido de presença excessiva dos pais faz de sua descoberta sexual um grande ato de desafio à lei; fica com a mulher casada e ainda com a filha. arre égua. músicas maravilhosas, filmes setentinos (esse é quase 70) são bonsss!
Uma embarcação indo do Brasil a Portugal, a relação entre colonizador e colonizados, entre brancos e negros, entre o reinado e o falo. Um retrato especulativo das imagens que assombravam Dom Pedro I. Explora as possíveis angústias da "realeza" sem perder de vista a crítica ao lugar de violência e poder que eles ocupam. E é um filme lindo lindo, tem o mar o barco o vento o sonho e o delírio como personagens. Gostei muito!
É bem óbvio que o Irakli não corresponde totalmente ou não tem coragem pra viver esse amor, mas a cada sorriso sutil dele pro Merab eu acreditava junto rs, pq Merab apaixonado é totalmente convincente. Uma paixão parcialmente inventada... como todas, mas pra funcionar a outra parte da dupla também precisa estar inventando seu amor pelo outro.
É um filme visual. Tem cenas lindas, realmente... Gosto desses closes no rosto. As cenas sangrentas também são bonitas - mirando nessa erótica do canibalismo. Mas é isso... parece que é só um filme bonito com trilha sonora ótima, às vezes soa como um clipe ou trailer. O romance e o diálogo entre o casal é muito muito fraco. Gostei de assistir pq enfim as coisas do Guadagnino são gostosas de ver, mas não tem nada muito tocante nesse filme. No final achei que a Maren comeria os ossos do Lee
Revi ontem... Ai. Uma delícia de filme. Esse tem menos diálogos intensos do que os outros filmes do Joaquim Trier, acho que pela diferença dessa personagem, a Julie, pros outros. Ela é menos depressiva e menos intelectualóide do que o pessoal de "Oslo, 31 de agosto", por ex. Ela fala disso no filme, pro Aksel, "eu sou menos analítica que você, você me acha mais fraca por isso". Ela observa e assim apreende o melhor sentido das coisas. E me parece que ela sempre tá com um sorriso escondido no rosto... mesmo quando chora. Acho que é um certo fulgor de juventude muito presente.
A cena dela e Aksel terminando o namoro é de partir o coração, nuh. A fala dele, quando já doente, sobre uma certa força que colocava nos objetos, sobre uma emoção em escutar os discos nas lojas... e que mesmo quando essa emoção se perdeu, ele continuou a repetir o ato... como quem busca ainda ali uma força de sentido na vida que já não há. Faltou buscar em outros lugares...
Quero ver tudo que Joaquim Trier fizer. Esse filme é um presente lindo pra quem tem entre 25 e 35 anos.
a cena da Nanisca caminhando por uma estrada verde para libertar a filha e as demais guerreiras presas, por ex. De tirar o fôlego. Mas quando vai tirando o fôlego a cena já acabou.
A gente precisa muitíssimo de filmes que retratem a história africana e a escravidão. A Viagem de Pedro, da Bodansky, que saiu recentemente, faz um puta trabalho, embora com outro foco - o dos devaneios de Dom Pedro (sem se retirar duma crítica a escravidão e ao colonialismo). A Mulher Rei é um filme forte. Emociona e angustia. O que a Europa fez com o povo africano é um dos crimes mais horrendos que o mundo já presenciou - embora o filme foque mais nos conflitos entre os africanos, não se perde de vista o papel da Europa no desgraçamento do mundo.
As vezes no pós filme só consigo pensar numas palavras e termos soltos. Me ocorrem: casa, cinismo, suco gástrico, corroído, esterilidade onírica, solidez-imodificável. Raiz dura, inabalável (e seca por dentro) que conseguiu nascer de sementes estragadas.. enfim. Um professor de psicanálise recomendou esse filme, falou que era um bom filme pra entender sobre a categoria estrutural da perversão em psicanálise...
Gente, que sofrimento irremediável dessa mulher. Um sofrimento que não sabe encontrar no outro um laço possível. Não sabe chorar junto. Não sabe fazer encontro - com o olhar, com a delícia. Um exagero. Uma caricatura feia. Um tesão amaldiçoado e açoitado. Esse final silencioso... nuhhh... Fim sem som, só imagem. Sem conversa. Sem "entre", é sempre ali, em Erika, naquele olhar de peixe morto ou de peixe que quer comer mas tem vergonha da própria fome. Um olhar firme, mas que deixa pistas pequeninas pelo caminho: um choro que sai por total acidente e falha da forma, coçadas nas mãos e orelhas.. como algo pontiagudo que se desloca da fórmula planejada, da fórmula que se sabe, da forma que se é...
La chimera
3.8 11Alice Rohrwacher faz filmes como quem sonha. Sair da sala de cinema é como despertar duma soneca delicada. “La Chimera” traz um tempo deslocalizado – no seu cinema é sempre difícil determinar uma época histórica, um ano, uma década (“Feliz como Lázaro” é feudal & tecno). Isso porque seu sublime dá corda a certa mistura entre memória, corpo, cidade, campo. Uma anti-geografia. Uma estética de tempo indefinido. Em La Chimera, Brasil, Itália e Inglaterra. A senhora na cadeira de rodas falando uma língua matriarcal que se faz através da violência, do permanecimento no espaço da casa – que não deixa de ser o espaço do passado;
passado onde as coisas não passam;
onde a morte não pode passar, e portanto não pode ir embora. O personagem de Arthur, ladrão-amado e anti-héroi, narrado através dos elementos arqueológicos materiais (recalcados no chão) e imateriais (fossilizados na memória). É indefinido. Indefinido porque não pousa. E não pousa porque não pode pousar – andarilho, itinerante, apátrida. Sem chão – embora extremamente fincado lá, no mais essencial dos solos (o do amor e da morte). Um homem ora bruto ora encantado por um dom que seduz, enigmatiza, desumaniza. Ele e sua quimeras… Seu presente mais íntimo que parece vir com um preço alto, o preço de não poder voar para cima. Ele caminha, caminha, caminha, e só caminha pra trás. Seu andar é sempre um regresso. Ainda quando ele tenta – beijar outra boca que não aquela, primeira – a terra o suga de volta. Como se trabalhasse para a terra, como se impossível fosse seguir a vida, como se o elemento onírico e escavador de recordação fosse seu único possível. Ainda que convidado a estar entre várias outras – mulheres e crianças – numa espécie de lar encantado, há uma imagem que o assombra, uma imagem para a qual não pode deixar de não retornar. Uma tristeza, uma beleza... Poxa, gosto muitíiissimo desse cinema. Graciassssss, Alice
Pobres Criaturas
4.2 1,1K Assista Agoramuuyy divertido. cenários do mundo fantástico, "retrô futurista", como disse a pessoa que assistiu comigo. um filme feminista. gosto muito de como a narrativa sexual tem centralidade e é inseparável da descoberta da vida. descobrir o mundo e descobrir o sexo como sendo a mesma coisa, um só ato ou atos simultâneos. por isso acho que as cenas de sexo deveriam ter sido melhor exploradas... foram curtas, um tanto quanto tímidas e tradicionais pensando que o diretor é o Yorgos. é o filme menos estranho dele. não tem aquela marca de personagens com comportamentos absurdos e incompreensíveis, é mais racional, conforme o discurso tradicional da ciência que os personagens pautam. a marca maior do Yorgos aqui talvez tenha ficado p/ trilha sonora. é bem engraçado e bom de ver. os homens tentando aprisioná-la, cada um com seu discuso... discurso amoroso, discurso médico-científico. são marcas fortes do patriarcado que os personagens homens representaram muito bem... figurino chiquérrimo também.
Os Delinquentes
3.3 16 Assista AgoraNum consigo dar nota, mas vai 3,8. Gostei bastante desse! Trata de temas bem contemporâneos relacionados ao trabalho e ao uso do tempo. Fiquei pensando nessa intuição de despertencimento às cidades, ao mesmo tempo uma falta de coragem/vontade/possibilidade de sair delas e de fato morar no interior, "longe"... São dilemas de vários de nós, humanos urbanos desse tempo.
Mostram o roubo ao banco como a alternativa mais possível e plausível pra mudar de vida(/viver a vida). É engraçado e trágico. Mas a radicalidade da ideia de roubar o banco (embora seja executada sutilmente e sem grandes alardes) casa bem com a radicalidade do ato de doar metade ou mais da metade do tempo de vida pra um trabalho sem sentido, chato, repetitivo. Também pensei como o bicho homi da cidade é bêsta e carece de experiências de maior carga sensível. No filme o Morán conhece a mina, xona, quer mudar pra cidade de interior e levar uma vida mais próxima a natureza, tudo bem rápido... é como se a gente (bicho homi y mulher da cidade do trabalho etc) tivesse perdido o básico do básico, uma certa fagulha de encantamento, conexão com a vida - nuvens cavalos rios intimidade etc - que qualquer experiência de proximidade com esses elementos é altamente transformadora, catártica. O que não é um problema. Só fiquei pensando nisso agora... no quanto o personagem do Morán é carente de companhias, de experiências significativas. Não mostra muito da vida pregressa dele, mas aparenta ser um cara bem "normal". Isso é legal no filme, é um filme de assalto em que os assaltantes são cidadãos comuns, de vidas pacatas e normais... Só estão cansados de trabalhar, que nem quase todo mundo.
Ah, os diálogos entre eles (cineasta, irmãs e os "protagonistas") são mei esquisitos. Não me convocaram muito... Trilha sonora maravilhosa. Cenas lindas. Tanto de Buenos Aires como da região montanhosa. Talvez a primeira parte tenha me prendido mais, com os personagens do banco. As partes envolvendo a prisão meio méeehh. Mas nada que estragasse a experiência, assisti ao filme bem curiosa e feliz :) e dividi ele em 2 kkk agora num lembro se vi no mesmo dia prolongadamente ou de um dia pro outro. Mas tô aprendendo a fazer isso de cortar o filme sem grandes neuras kk enfim, mó legal o filme
Rotting in the Sun
3.5 82 Assista AgoraQue claustrofobia
Personagens detestáveis
Anatomia de uma Queda
4.0 782 Assista AgoraUauu.. esse roteiro é super complexo e é uma teia de vários temas, tanto é que rapidamente perdi o interesse na "verdade" e fui me deleitando movida por outras curiosidades. A Sandra é uma grande curiosidade.. ela é mei misteriosa, séria. Um peixe fora d'água, pouco sorridente e simpática se pensada em comparação aos outros desse país que não é o "seu". Dá pra pensar a espetacularização de processos judiciais, novos modelos de casamento pós feminismo, oq é possível e impossível ser dito fora da língua materna, questões mil sobre relações amorosas.. o que me pegou especialmente é a fragilidade da linha entre intimidade e crueldade, entre o que é meu, seu e nosso (exemplo literal é o rolê da ideia emprestada do livro). Anos de casamento produzem também muitas armas contra o outro, o diálogo gravado entre o casal é muito bom e mostra bem isso. Achei Sandra cruel em vários momentos, mas a dicotomia entre a figura dela e do marido também fazem pensar na crueldade do lugar ""passivo""" (com muitas aspas). É tenso esse filme!! Senti até medo em alguns momentos kk a cena final (não o arco todo, a última cena mesmo) achei fraquinha. E nossa, um julgamento desse sem mandar ninguém se f*der já é vitória kkk
All the Beauty and the Bloodshed
3.6 23me interessei mais pela parte biográfica contada pelas fotos, na outra não me prendi tanto. mas não estragou a experiência. doc lindo! que fotos maravilhosas...
Teorema
4.0 198Emilia afundada na terra só com os olhos pra fora.. que cena! A poça d'água de lágrimas do ladin misturada na terra.. Uau.
Pendular
3.6 54devaneio simples e bonito sobre o espaço (da casa, espaço entre um corpo e outro, espaço da barriga)...
Fogaréu
3.4 21O Brasil deve ser um dos pedaços de terra mais encantado desse mundo... sério, olha isso. Pra quem tem família no goiás e passou tempo de vida na roça, esse filme é ouro. Conflitos enormes e ancestrais, com fundura pra além dessa vida e desse tempo.
Essa primeira cena é genial: a Fernanda entrando numa casa que poderia ser do século passado, bem interiorana, a cara do Brasil colônia. Em seguida ela passa pro outro cômodo e tem ar condicionado, gente rica e chique, vários elementos modernos... Eu fiquei: eita! Foi um ótimo jeito de apresentar o cenário/imaginário da história. Tem elementos do fantástico e do cinema de horror muito bem "engoiazados" rs. Só acho que ali pros últimos 30 min, o filme deu uma acelerada brusca que destoou um pouco do que tava rolando anteriormente. Mas de boa. E nuh, o que é aquela colcha de bordado??? Caramba muito linda e muito assustadora
Evoé! Retrato de um Antropófago
4.3 24"A vida é o que é. E a vida tem sempre razão".
A Garota Radiante
3.6 11 Assista AgoraMeu deus... Levaram alguns minutos preu conseguir sair da sala de cinema. E em prantos.
Mato Seco em Chamas
3.7 23 Assista AgoraBem no início pensei: esse filme não vai ser "fácil" de ver... mas pouco tempo depois fui completamente arrastada. O filme me tomou. Tem uma inteligência muito grande aí. Passagens de cena muito cabulosas. Câmera parada, vários minutos de cena... algo está ali. As vezes é cansativo. Mas e daí, né? Eu pude descansar e estar eufórica durante a experiência. Muito muito massa assistir algo que se passa no DF, ver o sotaque e as gírias daqui em tela. Léa é um acontecimento mitológico. O cabelão, o cigarro constante, a moto, as mulheres. É um filme engraçado e também abismático. Do nada você cai e chora, do nada você ri. É um jogo de aproximação e distanciamento. Léa me olha no olho, depois ninguém mais me vê, depois eu entro ali. Uma realidade tão diferente da minha... Acho que a ficção cria essa possibilidade de aproximação. É uma ideia que me surgiu enquanto escrevo isso, tenho que pensar mais sobre. Mas algo no sentido de que é impossível pra mim sentir essa realidade, é preciso inventar uma narrativa que me faça, de alguma forma, entrar mais além. Entrei. Não fui mera espectadora. A realidade pode ser uma ficção cruel. A vida dessas mulheres com os tons cyberpunks que já estão presentes na narrativa "biográfica" e "factual", basta furar seu eixo de ficcionalização que jorra tudo isso ali. O roteiro cravou isso muito bem. Uma experiência que vale muito a pena. Diferente de tudo que já vi.
Medusa
3.4 50 Assista Agoraamei!!! que trilha sonora maravilhosa, nossa. a questão da monstruosidade é tratada dum jeito muito interessante. o que as marcas de um corpo feminino podem transmitir? é através de um corte (de uma nova textura na pele antes lisa/ "perfeita"/"higiênica") que mariana encontra espaço para a diferença... sai do emprego onde tudo é como ela já conhece e vai trampar num lugar feio/sujo/outro... tem sexo no ar, tem corpos dançantes que se movem sem pudor e sem medo. esses personagens do hospital são incríveis! a dona loira é demaisss, totalmente sensual e estranha. a atmosfera de terror certamente cai muito bem pra pensar o contexto evangélico no Brasil. o medo do sexo. o medo do outro. o medo do próprio corpo...
Close
4.2 470 Assista AgoraTem cheiro, tem sensação de vento, tem tempo. Gosto muito de câmera na cara - corta para uma câmera no que olhos veem - câmera na cara - olhos... Faz a gente existir no personagem.
Mas achei que entrou num lugar clichê - o que não necessariamente é um problema - mas não vi nada muito novo ser produzido sobre o clichê. Depois da morte do Remi, senti que estava assistindo um drama qualquer e comum, sem muita originalidade discursiva sobre luto e culpa, sobre o sofrimento de modo geral. Bota a gente pra chorar, mas achei um choro induzido demais...
Cenas de um Casamento
4.4 232Assisti em formato de série, todo picado. É muito lindo e claustrofóbico. Eles tem uma intimidade (tem?) tão próxima que dá agonia - a quase ausência de outros personagens/atores fomenta bem isso. Um excesso mortífero e enjoativo... típico do amor quando longo, quando envelhecido, quando umbilical demais. O filme é muito DOIS a todo momento, ai. Dá um trem de agonia. Quase não tem ar pra respirar, eles perto um do outro o tempo inteiro, falando o tempo inteiro. Falam tanto que não transam. Inclusive, que beijos feios desse filme kkkkk ave maria, horrível.
Os diálogos são absurdos (já era de se esperar realmente Bergman é sinistro). Marianne lendo o texto, as fotos passando... nuh, esse texto dela é lindo! E ele no bocejo. Toda chance que Johan tem de (re)despertar o interesse sexual da Marianne ele joga fora. (Não que isso dependa dele, mas depende também). Senti raiva. Dá vontade de gritar SAIM!!! Assina essa porra e vai embora logo!!!!! Corre... Parece que a qualquer passo ou palavra a mais tem um perigo de queda num abismo enooorme.. eles estão sambando perto dum lugar tão perigoso. O amor é tipo uma loucura mesmo. Os dois são enlouquecidos. A incapacidade de separação é agonizante. Dá pra criticar essa falta de coragem dos dois pra ir embora, mas no final das contas, acho que eles conseguiram fazer um bom arranjo pra relação. Enfim mil fitas, devastação estomacal esse filme.
Ps: vale a pena assistir o remake. Assisti antes de ver o original e os dois são ótimos.
A Primeira Noite de Um Homem
4.1 810 Assista Agoraesse final!!!!! passa do hilário/aliviante ao melancólico numa esperteza muito boa. a Elaine com uma cara de "que que eu acabei de fazer, bicho?" kkk e um silêncio de total falta de intimidade entre dos dois. como pontuaram em alguns comentários aí, senti falta de um aprofundamento na relação do Benjamin e Mrs. Robinson, ou mais falas dela. ela é uma personagem muito interessante e um pouco mal explorada. mas é isso, a relação dos dois é de outra ordem... quando elementos da vida pessoal/o mínimo de diálogo é inserido, a relação acaba, pq talvez não se sustente fora de um disfarce sexual, às escuras. Benjamin reprimido de presença excessiva dos pais faz de sua descoberta sexual um grande ato de desafio à lei; fica com a mulher casada e ainda com a filha. arre égua. músicas maravilhosas, filmes setentinos (esse é quase 70) são bonsss!
A Viagem de Pedro
3.2 23 Assista AgoraUma embarcação indo do Brasil a Portugal, a relação entre colonizador e colonizados, entre brancos e negros, entre o reinado e o falo. Um retrato especulativo das imagens que assombravam Dom Pedro I. Explora as possíveis angústias da "realeza" sem perder de vista a crítica ao lugar de violência e poder que eles ocupam. E é um filme lindo lindo, tem o mar o barco o vento o sonho e o delírio como personagens. Gostei muito!
O Menu
3.6 1,0K Assista Agoraachei o filme parecido com os pratos do chef... superestimados e com um sabor que não tá a altura da intenção conceitual por trás.
é divertido, não é horrível. fui esperando demais
E Então Nós Dançamos
4.0 85 Assista AgoraEu amei!! Te tira o fôlego e devolve.
Essa direção e montagem de cenas é mto boa.. cria espaços de contemplação em movimento.
É bem óbvio que o Irakli não corresponde totalmente ou não tem coragem pra viver esse amor, mas a cada sorriso sutil dele pro Merab eu acreditava junto rs, pq Merab apaixonado é totalmente convincente. Uma paixão parcialmente inventada... como todas, mas pra funcionar a outra parte da dupla também precisa estar inventando seu amor pelo outro.
Até os Ossos
3.3 260 Assista AgoraHmmm...
É um filme visual. Tem cenas lindas, realmente... Gosto desses closes no rosto. As cenas sangrentas também são bonitas - mirando nessa erótica do canibalismo. Mas é isso... parece que é só um filme bonito com trilha sonora ótima, às vezes soa como um clipe ou trailer. O romance e o diálogo entre o casal é muito muito fraco. Gostei de assistir pq enfim as coisas do Guadagnino são gostosas de ver, mas não tem nada muito tocante nesse filme. No final achei que a Maren comeria os ossos do Lee
A Pior Pessoa do Mundo
4.0 601 Assista AgoraRevi ontem... Ai. Uma delícia de filme. Esse tem menos diálogos intensos do que os outros filmes do Joaquim Trier, acho que pela diferença dessa personagem, a Julie, pros outros. Ela é menos depressiva e menos intelectualóide do que o pessoal de "Oslo, 31 de agosto", por ex. Ela fala disso no filme, pro Aksel, "eu sou menos analítica que você, você me acha mais fraca por isso". Ela observa e assim apreende o melhor sentido das coisas. E me parece que ela sempre tá com um sorriso escondido no rosto... mesmo quando chora. Acho que é um certo fulgor de juventude muito presente.
A cena dela e Aksel terminando o namoro é de partir o coração, nuh. A fala dele, quando já doente, sobre uma certa força que colocava nos objetos, sobre uma emoção em escutar os discos nas lojas... e que mesmo quando essa emoção se perdeu, ele continuou a repetir o ato... como quem busca ainda ali uma força de sentido na vida que já não há. Faltou buscar em outros lugares...
A Mulher Rei
4.1 486 Assista AgoraViola Davis!!! Uau. Filmaço. Só tenho ressalvas quanto a rapidez do filme. Algumas cenas ganhariam mais potência se demorassem mais nas imagens -
a cena da Nanisca caminhando por uma estrada verde para libertar a filha e as demais guerreiras presas, por ex. De tirar o fôlego. Mas quando vai tirando o fôlego a cena já acabou.
A gente precisa muitíssimo de filmes que retratem a história africana e a escravidão. A Viagem de Pedro, da Bodansky, que saiu recentemente, faz um puta trabalho, embora com outro foco - o dos devaneios de Dom Pedro (sem se retirar duma crítica a escravidão e ao colonialismo). A Mulher Rei é um filme forte. Emociona e angustia. O que a Europa fez com o povo africano é um dos crimes mais horrendos que o mundo já presenciou - embora o filme foque mais nos conflitos entre os africanos, não se perde de vista o papel da Europa no desgraçamento do mundo.
Não Fale o Mal
3.6 670É bem bom, mas também pouco original e esquecível...
A Professora de Piano
4.0 685 Assista AgoraAs vezes no pós filme só consigo pensar numas palavras e termos soltos. Me ocorrem: casa, cinismo, suco gástrico, corroído, esterilidade onírica, solidez-imodificável. Raiz dura, inabalável (e seca por dentro) que conseguiu nascer de sementes estragadas.. enfim. Um professor de psicanálise recomendou esse filme, falou que era um bom filme pra entender sobre a categoria estrutural da perversão em psicanálise...
Gente, que sofrimento irremediável dessa mulher. Um sofrimento que não sabe encontrar no outro um laço possível. Não sabe chorar junto. Não sabe fazer encontro - com o olhar, com a delícia. Um exagero. Uma caricatura feia. Um tesão amaldiçoado e açoitado. Esse final silencioso... nuhhh... Fim sem som, só imagem. Sem conversa. Sem "entre", é sempre ali, em Erika, naquele olhar de peixe morto ou de peixe que quer comer mas tem vergonha da própria fome. Um olhar firme, mas que deixa pistas pequeninas pelo caminho: um choro que sai por total acidente e falha da forma, coçadas nas mãos e orelhas.. como algo pontiagudo que se desloca da fórmula planejada, da fórmula que se sabe, da forma que se é...