A Realidade Encontra na Fantasia sua Verdadeira Voz
Não é de hoje que a abdução é usada para fazer referências de caráter cômico, poético e, algumas vezes, de fatalidade. Ouvimos comentários irônicos de pessoas que desejam ser levadas por seres superiores para escapar de situações difíceis, há quem esteja mais voltado na linha de pensamento de Raul Seixas que desejava ser levado por um disco voador, pois, segundo ele, há inúmeras estrelas para serem descobertas (trecho da música S.O.S). Mas há outra metáfora que perde toda a veia cômica quando atrelada ao desaparecimento de alguém. O que se esperar caso este desaparecimento esteja diretamente ligado a uma mulher trans que vive num país em que, até o último senso de 2020 realizado pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), encabeçava a lista de homicídios de pessoas trans?
Durante um fenômeno nunca visto, acompanhamos Marilene que procura por sua filha Roberta, uma mulher trans que está desaparecida há dias. Nesta busca, Enock Carvalho e Matheus Farias, criam um palco convidativo para o público onde este último torna-se intimo de Marilene, acompanhamos sua saga de perto em busca de pistas que levam a Roberta. Através de planos mais fechados sobre a protagonista, conseguimos enxergar através do semblante calmo, uma voz que grita e que anseia por ter sua filha de volta. Estas escolhas contrastam com o plano de fundo, pois sempre que enquadrado, a cidade adquiri uma estética de labirinto, assim como o som diegético sempre sufocante e ensurdecedor que embaralha nossa percepção ao redor do caso.
Entre a ficção e a realidade, o filme encontra um meandro seguro para conduzir sua trama, pois Inabitável, mesmo se apresentando como ficção, ele nunca deixa de lado seu palco naturalista. Se em determinado momento somos conduzidos pelo suspense das novas peças que surgem durante o filme, o mesmo nos traz de volta para realidade através do olhar de Marilene e como esta enfrenta os fatos que desconhecia de sua filha ou como algumas esferas da sociedade se comportam ao fazer referência à Roberta. Quando a realidade se torna inconfortável, o filme trata de trazer o ambiente imagético novamente. Neste aspecto, a obra se destaca ao trazer um assunto contemporâneo, contada através de uma perspectiva fantástica que já foi utilizada dezenas de vezes por obras de outros autores.
Inabitável se comunica de forma objetiva e alegórica com seu público, pois se utiliza deste jogo de metáforas, hora ficção e realidade, outra natural e fantástico, e assim adquire uma roupagem moderna para transmitir suas ideias de total relevância social.
George A. Smith mostrou que o close poderia ser uma arma narrativa poderosa, pois até então, diretores acreditavam que a câmera afastada era a melhor forma de o público entender toda a ação.
"- Este não é um filme de ficção - Esta não é a sua vida - Deus não existe"
"Os humanos se diferenciam dos outros animais pelo telencéfalo altamente desenvolvido, pelo polegar opositor e por serem livres. Livre é o estado daquele que tem liberdade. Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."
Segundo o livro que eu estou lendo, Guia Ilustrado Zahar de Cinema: "The Great Train Robbery" inaugurou o gênero de faroeste, foi o pioneiro em contar uma história bem definida e utilizar um close-up final (de um tiro disparado contra o público).
Eu imagino a reação de ineditismo do público na época, devia ser algo grandioso. Interessante notar que estamos acostumados da câmera ser um dos fatores a ditar ritmo e fazer parte da ação, no inicio do cinema ela era apenas uma luneta na qual observávamos os atores regerem estas características.
Doze minutos é o suficiente para nos cativar. As lembranças são as coisas mais valiosas que podemos levar de alguém, e não há nada mais singelo do que preservar estas lembranças. O tempo é cruel e tem o poder de tornar grandes momentos, em pequenas histórias que vamos passamos adiante, até que um dia, estas histórias morrem.
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Inabitável
3.9 11A Realidade Encontra na Fantasia sua Verdadeira Voz
Não é de hoje que a abdução é usada para fazer referências de caráter cômico, poético e, algumas vezes, de fatalidade. Ouvimos comentários irônicos de pessoas que desejam ser levadas por seres superiores para escapar de situações difíceis, há quem esteja mais voltado na linha de pensamento de Raul Seixas que desejava ser levado por um disco voador, pois, segundo ele, há inúmeras estrelas para serem descobertas (trecho da música S.O.S). Mas há outra metáfora que perde toda a veia cômica quando atrelada ao desaparecimento de alguém. O que se esperar caso este desaparecimento esteja diretamente ligado a uma mulher trans que vive num país em que, até o último senso de 2020 realizado pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), encabeçava a lista de homicídios de pessoas trans?
Durante um fenômeno nunca visto, acompanhamos Marilene que procura por sua filha Roberta, uma mulher trans que está desaparecida há dias. Nesta busca, Enock Carvalho e Matheus Farias, criam um palco convidativo para o público onde este último torna-se intimo de Marilene, acompanhamos sua saga de perto em busca de pistas que levam a Roberta. Através de planos mais fechados sobre a protagonista, conseguimos enxergar através do semblante calmo, uma voz que grita e que anseia por ter sua filha de volta. Estas escolhas contrastam com o plano de fundo, pois sempre que enquadrado, a cidade adquiri uma estética de labirinto, assim como o som diegético sempre sufocante e ensurdecedor que embaralha nossa percepção ao redor do caso.
Entre a ficção e a realidade, o filme encontra um meandro seguro para conduzir sua trama, pois Inabitável, mesmo se apresentando como ficção, ele nunca deixa de lado seu palco naturalista. Se em determinado momento somos conduzidos pelo suspense das novas peças que surgem durante o filme, o mesmo nos traz de volta para realidade através do olhar de Marilene e como esta enfrenta os fatos que desconhecia de sua filha ou como algumas esferas da sociedade se comportam ao fazer referência à Roberta. Quando a realidade se torna inconfortável, o filme trata de trazer o ambiente imagético novamente. Neste aspecto, a obra se destaca ao trazer um assunto contemporâneo, contada através de uma perspectiva fantástica que já foi utilizada dezenas de vezes por obras de outros autores.
Inabitável se comunica de forma objetiva e alegórica com seu público, pois se utiliza deste jogo de metáforas, hora ficção e realidade, outra natural e fantástico, e assim adquire uma roupagem moderna para transmitir suas ideias de total relevância social.
3 da Manhã
3.0 1Link do curta:
https://www.youtube.com/watch?v=iab3ZIk2ZSw&feature=youtu.be&fbclid=IwAR2sqoGRM_ExBlokL7Rjt5xBLPWURNclliNXZcCBzsqjgKKcwv5Ya9nwjRc
O Gatinho Doente
3.9 13George A. Smith mostrou que o close poderia ser uma arma narrativa poderosa, pois até então, diretores acreditavam que a câmera afastada era a melhor forma de o público entender toda a ação.
Le Cheval Emballé
4.0 5Eis que surge o cross cutting contrastando eventos, avançando a história e criando tensão.
Ilha das Flores
4.5 1,0K"- Este não é um filme de ficção
- Esta não é a sua vida
- Deus não existe"
"Os humanos se diferenciam dos outros animais pelo telencéfalo altamente desenvolvido, pelo polegar opositor e por serem livres. Livre é o estado daquele que tem liberdade. Liberdade é uma palavra que o
sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém
que não entenda."
O Grande Roubo do Trem
3.8 185Segundo o livro que eu estou lendo, Guia Ilustrado Zahar de Cinema: "The Great Train Robbery" inaugurou o gênero de faroeste, foi o pioneiro em contar uma história bem definida e utilizar um close-up final (de um tiro disparado contra o público).
Eu imagino a reação de ineditismo do público na época, devia ser algo grandioso. Interessante notar que estamos acostumados da câmera ser um dos fatores a ditar ritmo e fazer parte da ação, no inicio do cinema ela era apenas uma luneta na qual observávamos os atores regerem estas características.
A Casa de Pequenos Cubinhos
4.5 766Doze minutos é o suficiente para nos cativar. As lembranças são as coisas mais valiosas que podemos levar de alguém, e não há nada mais singelo do que preservar estas lembranças. O tempo é cruel e tem o poder de tornar grandes momentos, em pequenas histórias que vamos passamos adiante, até que um dia, estas histórias morrem.