Assisti ontem, em 3D e, apesar de não gostar de versões 3D, acho que "Life of Pi" vale a pena ser visto de qualquer maneira. A fotografia e os efeitos visuais constroem um verdadeiro espetáculo, que não só dão vida à narrativa factual, como nos transportam além da visão real do que a natureza nos apresenta, até a própria imaginação do narrador-personagem, de uma maneira que só o cinema (quando bem elaborado) é capaz de reconstruir. Concordo com as opiniões de que não é um filme de cunho didático/religioso, mas de cunho simplesmente moral. Como um ser humano extremamente sensível, Pi encontrou na religião, desde cedo, o seu refúgio em relação ao que não podia explicar, e um bom caminho para justificar sua percepção do mundo, baseada em princípios morais que ele já possuía, de sua própria personalidade e também como herança da criação dada pelos pais. O filme deixa isso bem claro, dando ao espectador a liberdade para interpretar os rumos da vida de Pi como o caminho de sua revelação espiritual ou como uma inevitável luta constante pela sobrevivência, baseada nas leis naturais, sendo a religião uma maneira de tornar essa luta mais tolerável. Tanto, que os personagens da mãe e do pai de Pi equilibram essas duas visões, um agarrando-se à fé, o outro, à razão. Mas não se engane, nenhum questionamento moral é simples, e o filme apresenta reflexões e mensagens ao mesmo tempo complexas, tocantes e encantadoras. Por exemplo, no final, eu não soube responder qual das versões contadas por Pi de sua aventura no mar era a verdadeira. Tinha ele dividido mesmo um bote com aquele tigre? Ou o Tigre era uma fantasia (uma alegoria, que representava a lição de sobrevivência mais importante de sua infância) à qual ele tinha se agarrado para manter-se vivo? Não seria o Tigre a representação dele mesmo, como na versão em que o macaco representava a mãe, o cozinheiro a raposa e o marinheiro a zebra? Aqui, o Tigre representa exatamente o outro lado dele mesmo, o lado em que o instinto de sobrevivência toma a rédea de sua personalidade, como ele mesmo revela, quando diz que a fome nos transforma. Assim, com essa alegoria, ele tentava justificar o fato de ter matado o cozinheiro, mesmo tendo sempre pregado a não-violência, inclusive por ser vegetariano. Quando ele conta não ter suportado o fato de ver o tigre ir embora, não seria a representação do seu lado feroz e instintivo indo embora, tendo ele, dali em diante, que conviver com a violência que presenciou e da qual também utilizou?
Caberá a nós escolher uma das versões, como coube ao escritor que ouvia a história.
Comprar Ingressos
Este site usa cookies para oferecer a melhor experiência possível. Ao navegar em nosso site, você concorda com o uso de cookies.
Se você precisar de mais informações e / ou não quiser que os cookies sejam colocados ao usar o site, visite a página da Política de Privacidade.
This is it
3.8 1Sutil, encantador, fantástico!
"This is It
and I am It
and You are It
and so is That
and He is It
and She is It
and It is It
and That is That"
As Aventuras de Pi
3.9 4,4KAssisti ontem, em 3D e, apesar de não gostar de versões 3D, acho que "Life of Pi" vale a pena ser visto de qualquer maneira. A fotografia e os efeitos visuais constroem um verdadeiro espetáculo, que não só dão vida à narrativa factual, como nos transportam além da visão real do que a natureza nos apresenta, até a própria imaginação do narrador-personagem, de uma maneira que só o cinema (quando bem elaborado) é capaz de reconstruir. Concordo com as opiniões de que não é um filme de cunho didático/religioso, mas de cunho simplesmente moral. Como um ser humano extremamente sensível, Pi encontrou na religião, desde cedo, o seu refúgio em relação ao que não podia explicar, e um bom caminho para justificar sua percepção do mundo, baseada em princípios morais que ele já possuía, de sua própria personalidade e também como herança da criação dada pelos pais. O filme deixa isso bem claro, dando ao espectador a liberdade para interpretar os rumos da vida de Pi como o caminho de sua revelação espiritual ou como uma inevitável luta constante pela sobrevivência, baseada nas leis naturais, sendo a religião uma maneira de tornar essa luta mais tolerável. Tanto, que os personagens da mãe e do pai de Pi equilibram essas duas visões, um agarrando-se à fé, o outro, à razão.
Mas não se engane, nenhum questionamento moral é simples, e o filme apresenta reflexões e mensagens ao mesmo tempo complexas, tocantes e encantadoras. Por exemplo, no final, eu não soube responder qual das versões contadas por Pi de sua aventura no mar era a verdadeira. Tinha ele dividido mesmo um bote com aquele tigre? Ou o Tigre era uma fantasia (uma alegoria, que representava a lição de sobrevivência mais importante de sua infância) à qual ele tinha se agarrado para manter-se vivo? Não seria o Tigre a representação dele mesmo, como na versão em que o macaco representava a mãe, o cozinheiro a raposa e o marinheiro a zebra? Aqui, o Tigre representa exatamente o outro lado dele mesmo, o lado em que o instinto de sobrevivência toma a rédea de sua personalidade, como ele mesmo revela, quando diz que a fome nos transforma. Assim, com essa alegoria, ele tentava justificar o fato de ter matado o cozinheiro, mesmo tendo sempre pregado a não-violência, inclusive por ser vegetariano. Quando ele conta não ter suportado o fato de ver o tigre ir embora, não seria a representação do seu lado feroz e instintivo indo embora, tendo ele, dali em diante, que conviver com a violência que presenciou e da qual também utilizou?
Caberá a nós escolher uma das versões, como coube ao escritor que ouvia a história.