Esse é um filme sobre fim de carreira, fuga da realidade, mágoas, recomeços e autoaceitação. Com seu próprio ritmo ele expressa uma naturalidade e originalidade nas relações que é de grande êxito. A trilha sonora é muito envolvente e de alta qualidade, as letras das músicas fazem parte da construção do personagem principal, em que da suporte a excelente atuação de Jeff Bridges, que entrega realidade e firmeza em um momento delicado de decadência no fim de carreira de um cantor famoso do mundo country. É muito claro o sentimento de mágoas do passado e a buscar por redenção ao encontrar uma mulher que lhe preenche, em um momento que parece levar a história para um clichê romântico, mas isso é abordado e desenvolvido de uma forma que surpreende e se torna o ponto alto do filme, reafirmando toda a veracidade já construída. Um filme bem leal a sua proposta e encantador com sua simplicidade.
Aqui a arte não imita a vida, ela absorve, transforma e se constrói em conjunto. É interessante acompanhar essa construção, que por meio da pintura, de belas atuações e de uma fotografia bem bonita, nos mostra como se dá a dinâmica dos relacionamentos: no início uma tela em branco; quando sustentada apenas pelo querer de um dos lados envolvidos acaba sem vida, sem emoção, e na verdade não há construção de um sentimento, apenas uma projeção do que poderia ser, uma carcaça vazia e sem alma... mas quando as almas se encontram e se conectam com o mesmo objetivo, cresce algo novo, nós são feitos e conexões passam a existir exalando vivacidade... Retrato de uma Jovem em Chamas trata tudo isso sem pressa, esbanjando elegância com seus figurinos da época, jogando na cara a gangorra que era a vida de uma mulher no século XVIII: não ter voz para seguir o seu próprio caminho e ao mesmo tempo, nos bastidores da vida, se permitindo viver e experimentar um amor a seu modo pelo menos pelos instantes possíveis. O filme é isso, é sentimento, é arte, é o mais íntimo dos relacionamentos, em que observamos os conflitos vividos pelas personagens, trazendo uma lição de amor em permitir que os caminhos que já estavam traçados sigam sem interferência, abdicando dos sentimentos em prol da tradição, indo contra seus verdadeiros anseios de permanecer junto. São sentimentos fortes, doloridos e toda essa dor é resumida com um lindo desfecho, que transmite uma emoção sensacional capaz de te fazer sentir tudo que a personagem está sentindo, sem a menção de uma única palavra... Forte.
O filme começa de uma forma despretensiosa, parecendo bem previsível, mas aos poucos vai construindo uma atmosfera em que te deixa confuso a respeito do que é tudo aquilo que está acontecendo, uma hora parece obvio, na outra já não faz sentido, fazendo em certo ponto as atuações parecem forçada.. mas só parecem. É um suspense firme que não abandona nenhum detalhe no percurso, o desespero do protagonista é plausível, os embates são bem feitos e a confusão é compartilhada com quem assiste, só peca um pouco na trilha que as vezes entrega o que está por vir, tirando a sutileza.
O filme aborda muito das visões contrárias do Papa Bento XVI e do Papa Francisco, o que dá a ideia de um filme maçante, mas Dois Papas é carismático, íntimo. A direção e fotografia faz tudo parecer simpático, com seus ângulos e movimentos de câmera muito característico de documentário, nos aproxima dos papas com certa amigabilidade, o que funciona muito bem graças as excelentes atuações e a narrativa que retira um pouco do véu da santidade intocável dos papas e nos faz enxerga-los pelo lado humano, com suas revelações e diálogos, trazendo reflexões sobre questões atuais acerca da igreja católica e das responsabilidades e ações dos papas enquanto líderes e humanos.
O filme tenta mostrar um drama existencial disfarçado de sessão da tarde por meio de uma criança problemática. Por trás dessa ideia existe um fraco discurso sobre o porque de crianças se tornarem assim, como elas visualizam e interpretam as complicações da vida adulta de sua família e acabam reagindo de uma forma não compreendida e autodestrutiva e qual a participação dos pais nesse desenvolvimento. A premissa é boa, porém isto é feito sem nenhuma profundidade e acaba não convencendo e perdendo a força com o passar dos minutos, não cria nenhuma empatia e nem dá a devida importância aos personagens, permanecendo em sua rasa zona de conforto e tornando tudo banal.
Esse filme traz aquele humor escrachado, mas mesmo assim fala muito bem sobre acreditar: em si mesmo, nos seus sonhos. Dolemite é um personagem caricato, muito bem construído por Eddie Murphy, que traz uma autoestima incrível e mesmo com esse humor meio duvidoso passa aquela lição de que nada é impossível quando se está disposto a lutar pelo que quer, com persistência e não desistindo com as "pedras" no caminho... Em meio a tantas rimas de teor sexual, o filme nos faz entender que tudo é uma questão de quanto se está disposto a pagar pelos seus sonhos (e não estamos falando de dinheiro). Uma história inspiradora a seu próprio modo.
Neste filme a música e os tons azulados que estão por toda parte se tornam um personagem, a representação do músico famoso que morre e dá vida a essa história. Tudo caminha devagar, sem muitos diálogos, é um filme para sentir e absorver da apatia da esposa sobrevivente toda sua dor e sofrimento, que segue buscando o desapego de tudo que lhe trazia felicidade e prendendo em si toda forma de sentimento, escondendo-se de si mesma, fugindo das lembranças que insistem em se fazer presentes ao seu redor... É um filme sobre luto, depressão, solidão e frustrações, que mostra muito sobre lidar com as próprias sombras, que não há como apagar entes queridos da mente e do coração e que a libertação da dor é aprender a conviver e seguir em frente.
Um show de atuações e repleto de diálogos fortes, o filme mostra uma realidade muito próxima de todas as pessoas: o fim de um relacionamento. É tudo tão crível que causa muita aflição e desconforto ao observar todo o desgaste de um divórcio, tanto para quem vive como para que está próximo. Dói e com isso facilmente causa empatia e/ou identificação, trazendo a tona reflexões sobre as mudanças pelas quais todos passamos ao longo da vida, que com o processo de amadurecimento deixamos de tolerar certas coisas e passamos a ter anseios por outras, o que as vezes pode se tornar um processo doloroso e desconstrutivo quando se tem uma vida a dois, que é o que acontece aqui, em que vemos o amor e admiração se dissolverem em meio a conflitos de um casal, que era tudo um pro outro, se transformando em agressores verbais e emocionais.
Um filme sobre amor, preconceito e injustiças, que traz atuações interessantes, porém não inova na temática que desenvolve, trazendo o típico romance que rompe barreiras e se mantém firme mesmo diante do contexto racial da época e toda injustiça sofrida pelos personagens. É possível sentir que o filme tem um potencial de causar impacto, porém não o utiliza, decide por mostrar tudo de forma amena, não dando a devida enfase ao sofrimento vivido e acaba por não causar a devida emoção ou comoção em quem assiste. Também merecia dar uma certa importância nas motivações que desencadearam uma prisão injusta e a mudança completa da vida de pessoas inocentes, mas não o faz e acaba se tornando um pouco apático e mediano.
Com uma trilha sonora que mescla perspicácia, melancolia e incerteza vai aos poucos apresentando personagens complexos, peculiares, construídos com atuações impecáveis de Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman, em que sentimos a total entrega e dedicação dos atores. Tudo vai se desenrolando num contexto de descobertas, vivências e abordagens do conhecimento e da ciência fora do padrão da época, expostos com uma fotografia encantadora, mas com uma história que não se posiciona e acaba por não nos dizer nada. A história é longa e existe um emaranhado de informações vazias que não chega a lugar nenhum, não há substância, não há objetivo, não acrescenta e tudo acaba deixando a sensação de que a direção acreditou que com excelentes atuações, trilha sonora e fotografia, não seria necessário uma boa história... é frustrante e um desperdício de talento.
Um filme sobre vingança e gente perturbada. Confissões começa como um filme bobo de adolescentes rebeldes, com um início turbulento com muito diálogo em meio a muito ruido, mas de acordo com que as confissões vão aparecendo, o filme cresce e traz a tona muitas reflexões sobre bullying e suas motivações, pessoas cruéis e todos os artifícios que utilizam para satisfazerem seus anseios e como decepções na infância podem transformar pessoas em monstros. No desenrolar dos fatos existem uns exageros, não é um filme perfeito, mas deixa seu recado sobre como os fracos podem machucar os mais fracos quando lhes convém e é uma ótima experiência observar o jogo da manipulação, a vingança, o terror psicológico que mantém quem assiste curioso em descobrir no que aquilo tudo vai dar e a duvidar se as afirmações são reais ou manipulações.
Aqui temos um drama cotidiano que vai tecendo sem pressa, sem militância comum de filmes que retratam a mudança da mulher, ele mostra sem exageros a transição do caos de uma vida familiar meio sem ânimo e sufocante, para o retorno a essência do ser singular. Entramos na intimidade de Manana, uma mulher com mais de 50 anos que está cansada e omissa do seu próprio eu, que após anos casada e pertencente a uma cultura em que a mulher tem o papel de apenas cuidar da família, vai ao encontro de si num movimento contrário, abandonando tudo e indo rumo ao desconhecido, mesmo com sua família contra. Sua nova moradia deixa muito claro as motivações da personagem, é onde ela encontra a paz que há anos não tinha, em que finalmente pode fazer as próprias escolhas, curtir no silêncio a própria companhia. É um filme que vai sendo construído lentamente, em meio a embates familiares e novas percepções da protagonista tanto de si como do que a rodeia e embora tenha uma duração que vai além do que devia e resulta num final não esperado, é um bom filme.
O filme é baseado em uma peça teatral e se mantém nessa pegada com as atuações. É cheio de referências, diálogos rápidos e uma história absurda, um trash nacional que passeia entre o terror/gore e a comédia, com alguns momentos de divertimento com suas histórias cruzadas e personagens malucos. Os cortes e dinamismo nas idas e vindas no tempo torna o filme bem acelerado e diferente, sem medo de se mostrar exagerado e tosco. A história tem uma ideia bem original, o que não necessariamente se faz excelente em sua execução, mas se tratando de cinema nacional, é uma experiência.
O filme é ácido, pesado, cru. No início parece irritante, sem propósito, muito fácil de julgar, mas com o desenrolar descobre-se que é mais que isso e mostra que é sobre as complicações da relação entre mãe e filho e as rebeldias da vida adolescente causadas por isso. A história coloca em foco o quanto as facetas do ser humano é cíclica, não havendo o mau e o bom definidos, nem o certo e o errado de forma unilateral, mostrando aqui que por trás de todo ressentimento, mágoa, rebeldia ou indiferença sempre há uma falha de comunicação causadora do incômodo, na relação de mãe e filho isso é mostrado em forma de incompreensão de ambos os lados, em que os dois só reclamam ou cobram um ao outro, ninguém para pra entender e conversar sobre o que os levou até ali. O destaque são as atuações, interpretadas de uma forma muito forte, firme, real, em que o próprio diretor Xavier Dolan dá vida ao protagonista, o que com certeza fez com muito êxito, não tirando também o brilho da atuação de Anne Dorval como a mãe. A fotografia também tem seu papel, de forma muito bela e pontual nos imerge em um ambiente sombrio, opaco, em que aquelas pessoas vivem - mas sem vida nenhum - encontrando cores apenas na vida que gostariam de ter, deixando a reflexão: O que de fato você está fazendo para mudar o que lhe incomoda, além de reclamar e se rebelar?
O filme tem uma premissa boa, utiliza o recurso do grupo de pessoas aleatórias dentro de uma ambiente fechado "lutando" por algo desconhecido, isso desperta muito a curiosidade em descobrir o que é tudo aquilo. Começa muito bem com isso, traz um pouco de crítica em relação ao processos seletivos para grandes empresas e a forma como as pessoas reagem a concorrência, mas com o passar dos minutos vai perdendo a força tendo em vista que os personagens agem de forma exagerada por um propósito que não parece palpável. Poderia ter sido melhor desenvolvido.
O filme é um drama muito incômodo e angustiante na maioria do tempo, tem os três atos muito bem definidos, um início movimentado, fundamental para a imersão de quem assiste, após isso vem longos momentos de tensão e angustia, que apesar do principal antagonista não passar todo o peso que seu papel exige, tem atuações fortes e simbólicas trazendo a tona todo o cenário de segregação racial nos EUA na década de 60 dotado de imensa crueldade que parecem não ter fim nunca, e para concluir, um revoltante final silenciosamente gritante simbolizando muito bem o caso que é baseado em fatos reais.
O filme é extremamente sexista, dá a ideia de que o fato de ser homem já é um atestado de ser cretino e ainda junta todos os clichês de gênero possíveis num filme só de uma forma de extremo mau gosto, com atuações forçadas e enredo completamente exagerado e sem sentido. Ridículo..
O filme é arrastado e deixa muitos pontos em aberto, mas parece ser proposital, para que cada pessoa sinta conforme suas experiências de vida. O filme é fortemente marcado pela presença das flores, que vem com um simbolismo muito forte sobre o florescer, não das flores em sim, mas da vida das pessoas, o florescer dos sentimentos. A fotografia deixa clara o clima em que as personagens vivem, sempre no meio das
não tem o apreço do marido e encontra no recebimento das flores a atenção que lhe faz sentir viva, ou na outra que perde o marido e só depois se dá conta do quanto estava distante e não se importava com os interesses de seu parceiro...
Enfim, esse é um filme para refletir e observar o que te faz florescer e perceber se sua energia está sendo depositada no que realmente interessa ou você está apenas se deixando murchar com o passar dos dias, sem dar o devido cuidado ao que traz cor a sua vida... Sentimos assim que fins são necessários para que hajam recomeços.
O filme traz um tema mórbido de uma forma muito delicada e sensível. Aqui temos um filho que retorna ao lar de seus pais e a partir disso vamos acompanhando os dramas de uma família com assuntos mal resolvidos enquanto a mãe vai perdendo a vida ao longo dos meses, o que faz com que todos juntem forças para lidar tanto com seus problemas pessoais como com toda a dor e pensamentos estranhos que vem a tona quando se tem alguém a beira da morte na família. Embora seja um pouco clichê, causa uma empatia por ser um tema que quase todos já passaram ou passarão por algo semelhante.
O cavaleiro de copas é um filme abstrato, traz por meio de imagens aleatórias e uma narração em off um personagem com suas inquietações e questionamentos sobre a forma de se relacionar dos dias atuais e coisas que vem acontecendo com ele, isso feito com ótimas atuações e uma trilha sonora bem peculiar que encaixa perfeitamente. O filme é cheio de altos e baixos, tem momentos que o roteiro
traz momentos bem poéticos, diálogos interessantes, já em outros é apenas a vida vazia do personagem pulando de relacionamento em relacionamento constantemente,
Um banho de vida é sobre as dificuldades da vida, de como adultos maduros lidam com seus fracassos, angustias, tristezas. Um roteiro bem original que soube dosar muito bem o drama e o humor e mostra de uma forma leve, porém clara e objetiva, a forma como a depressão pode se manifestar das mais diversas formas, e que na maioria das vezes quem está por perto nem nota. Não é sobre ser membro de uma equipe de nada sincronizado masculino, é sobre ter uma rede de apoio e se sentir pertencente e útil no mundo. Esse sem dúvidas é um filme que aquece o coração.
O filme é o retrato da transição da infância para a adolescência dos anos 90, desde a ambientação com referências a época até os diálogos bem 5ª série... tudo é muito nostálgico e com certeza quem viveu essa época vai se identificar bastante. Aqui você observa os acontecimentos e percebe todas as neuras que todo adolescente tem: as chateações, as descobertas, as besteiras, os medos e claro, a vontade de abandonar a infância e se tornar adulto a qualquer preço. Anos 90 não é um filmaço, percebe-se que a direção não soube usar bem os poucos recursos disponíveis, tem um clima em que as coisas sempre tendem a se resolver da melhor forma, as subtramas não chegam a ter uma resolução ou desenvolvimento, não possui clímax, é apenas a visão de um garoto se transformando num babaca, com vários clichês mas sem ser necessariamente chato.
O filme sai da zona de conforto é muito gratificante ver o cinema nacional se aventurando assim... e dando certo. Tanto as atuações como os efeitos, cumprem muito bem o seu papel de apoio ao enredo sombrio e macabro em que vive Stenio, um jovem homem que tem o "dom" de falar com os mortos. Este dom não é explicado e nem precisa, o foco não esse, a construção é feita sobre aquilo que se ouve e o que é feito com essas informações que não sabemos se são reais ou loucura e que aos poucos vão encurralando Stenio e o levando a caminhos sem volta, com muita tensão tanto pra ele e sua família, como para quem está assistindo.
O filme tem um ar de autorretrato, onde vai destrinchando lentamente as lembranças de uma longa caminhada, cheia de dores, descobertas, decepções e glória. Tudo vai acontecendo de forma sutil, íntima, dada as circunstancias dramáticas de dores físicas e psicológicas, encontros e desencontros, podia ser mais intenso, mais sofrido, mas mesmo assim não deixa de ser um bom filme. A fotografia é bem bonita, com uma forte presença do vermelho nas cenas, trazendo toda a representatividade do que move o personagem, do que lhe dá vida, lhe apoia e faz seu coração pulsar. Dor e Glória é sobre a montanha russa que é a vida, onde passamos por diversos momentos difíceis, em que fazemos escolhas, crescemos, aprendemos, nos decepcionamos, nos reinventamos e assim, de degrau em degrau, construímos uma vida entre dores e glórias.
Coração Louco
3.7 544 Assista AgoraEsse é um filme sobre fim de carreira, fuga da realidade, mágoas, recomeços e autoaceitação. Com seu próprio ritmo ele expressa uma naturalidade e originalidade nas relações que é de grande êxito. A trilha sonora é muito envolvente e de alta qualidade, as letras das músicas fazem parte da construção do personagem principal, em que da suporte a excelente atuação de Jeff Bridges, que entrega realidade e firmeza em um momento delicado de decadência no fim de carreira de um cantor famoso do mundo country. É muito claro o sentimento de mágoas do passado e a buscar por redenção ao encontrar uma mulher que lhe preenche, em um momento que parece levar a história para um clichê romântico, mas isso é abordado e desenvolvido de uma forma que surpreende e se torna o ponto alto do filme, reafirmando toda a veracidade já construída. Um filme bem leal a sua proposta e encantador com sua simplicidade.
Retrato de uma Jovem em Chamas
4.4 899 Assista AgoraAqui a arte não imita a vida, ela absorve, transforma e se constrói em conjunto. É interessante acompanhar essa construção, que por meio da pintura, de belas atuações e de uma fotografia bem bonita, nos mostra como se dá a dinâmica dos relacionamentos: no início uma tela em branco; quando sustentada apenas pelo querer de um dos lados envolvidos acaba sem vida, sem emoção, e na verdade não há construção de um sentimento, apenas uma projeção do que poderia ser, uma carcaça vazia e sem alma... mas quando as almas se encontram e se conectam com o mesmo objetivo, cresce algo novo, nós são feitos e conexões passam a existir exalando vivacidade... Retrato de uma Jovem em Chamas trata tudo isso sem pressa, esbanjando elegância com seus figurinos da época, jogando na cara a gangorra que era a vida de uma mulher no século XVIII: não ter voz para seguir o seu próprio caminho e ao mesmo tempo, nos bastidores da vida, se permitindo viver e experimentar um amor a seu modo pelo menos pelos instantes possíveis. O filme é isso, é sentimento, é arte, é o mais íntimo dos relacionamentos, em que observamos os conflitos vividos pelas personagens, trazendo uma lição de amor em permitir que os caminhos que já estavam traçados sigam sem interferência, abdicando dos sentimentos em prol da tradição, indo contra seus verdadeiros anseios de permanecer junto. São sentimentos fortes, doloridos e toda essa dor é resumida com um lindo desfecho, que transmite uma emoção sensacional capaz de te fazer sentir tudo que a personagem está sentindo, sem a menção de uma única palavra... Forte.
Fratura
3.3 918O filme começa de uma forma despretensiosa, parecendo bem previsível, mas aos poucos vai construindo uma atmosfera em que te deixa confuso a respeito do que é tudo aquilo que está acontecendo, uma hora parece obvio, na outra já não faz sentido, fazendo em certo ponto as atuações parecem forçada.. mas só parecem. É um suspense firme que não abandona nenhum detalhe no percurso, o desespero do protagonista é plausível, os embates são bem feitos e a confusão é compartilhada com quem assiste, só peca um pouco na trilha que as vezes entrega o que está por vir, tirando a sutileza.
Dois Papas
4.1 962 Assista AgoraO filme aborda muito das visões contrárias do Papa Bento XVI e do Papa Francisco, o que dá a ideia de um filme maçante, mas Dois Papas é carismático, íntimo. A direção e fotografia faz tudo parecer simpático, com seus ângulos e movimentos de câmera muito característico de documentário, nos aproxima dos papas com certa amigabilidade, o que funciona muito bem graças as excelentes atuações e a narrativa que retira um pouco do véu da santidade intocável dos papas e nos faz enxerga-los pelo lado humano, com suas revelações e diálogos, trazendo reflexões sobre questões atuais acerca da igreja católica e das responsabilidades e ações dos papas enquanto líderes e humanos.
Não Sou Eu, Eu Juro!
4.4 579O filme tenta mostrar um drama existencial disfarçado de sessão da tarde por meio de uma criança problemática. Por trás dessa ideia existe um fraco discurso sobre o porque de crianças se tornarem assim, como elas visualizam e interpretam as complicações da vida adulta de sua família e acabam reagindo de uma forma não compreendida e autodestrutiva e qual a participação dos pais nesse desenvolvimento. A premissa é boa, porém isto é feito sem nenhuma profundidade e acaba não convencendo e perdendo a força com o passar dos minutos, não cria nenhuma empatia e nem dá a devida importância aos personagens, permanecendo em sua rasa zona de conforto e tornando tudo banal.
Meu Nome é Dolemite
3.8 361 Assista AgoraEsse filme traz aquele humor escrachado, mas mesmo assim fala muito bem sobre acreditar: em si mesmo, nos seus sonhos. Dolemite é um personagem caricato, muito bem construído por Eddie Murphy, que traz uma autoestima incrível e mesmo com esse humor meio duvidoso passa aquela lição de que nada é impossível quando se está disposto a lutar pelo que quer, com persistência e não desistindo com as "pedras" no caminho... Em meio a tantas rimas de teor sexual, o filme nos faz entender que tudo é uma questão de quanto se está disposto a pagar pelos seus sonhos (e não estamos falando de dinheiro). Uma história inspiradora a seu próprio modo.
A Liberdade é Azul
4.1 650 Assista AgoraNeste filme a música e os tons azulados que estão por toda parte se tornam um personagem, a representação do músico famoso que morre e dá vida a essa história. Tudo caminha devagar, sem muitos diálogos, é um filme para sentir e absorver da apatia da esposa sobrevivente toda sua dor e sofrimento, que segue buscando o desapego de tudo que lhe trazia felicidade e prendendo em si toda forma de sentimento, escondendo-se de si mesma, fugindo das lembranças que insistem em se fazer presentes ao seu redor... É um filme sobre luto, depressão, solidão e frustrações, que mostra muito sobre lidar com as próprias sombras, que não há como apagar entes queridos da mente e do coração e que a libertação da dor é aprender a conviver e seguir em frente.
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista AgoraUm show de atuações e repleto de diálogos fortes, o filme mostra uma realidade muito próxima de todas as pessoas: o fim de um relacionamento. É tudo tão crível que causa muita aflição e desconforto ao observar todo o desgaste de um divórcio, tanto para quem vive como para que está próximo. Dói e com isso facilmente causa empatia e/ou identificação, trazendo a tona reflexões sobre as mudanças pelas quais todos passamos ao longo da vida, que com o processo de amadurecimento deixamos de tolerar certas coisas e passamos a ter anseios por outras, o que as vezes pode se tornar um processo doloroso e desconstrutivo quando se tem uma vida a dois, que é o que acontece aqui, em que vemos o amor e admiração se dissolverem em meio a conflitos de um casal, que era tudo um pro outro, se transformando em agressores verbais e emocionais.
Se a Rua Beale Falasse
3.7 284 Assista AgoraUm filme sobre amor, preconceito e injustiças, que traz atuações interessantes, porém não inova na temática que desenvolve, trazendo o típico romance que rompe barreiras e se mantém firme mesmo diante do contexto racial da época e toda injustiça sofrida pelos personagens. É possível sentir que o filme tem um potencial de causar impacto, porém não o utiliza, decide por mostrar tudo de forma amena, não dando a devida enfase ao sofrimento vivido e acaba por não causar a devida emoção ou comoção em quem assiste. Também merecia dar uma certa importância nas motivações que desencadearam uma prisão injusta e a mudança completa da vida de pessoas inocentes, mas não o faz e acaba se tornando um pouco apático e mediano.
O Mestre
3.7 1,0K Assista AgoraCom uma trilha sonora que mescla perspicácia, melancolia e incerteza vai aos poucos apresentando personagens complexos, peculiares, construídos com atuações impecáveis de Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman, em que sentimos a total entrega e dedicação dos atores. Tudo vai se desenrolando num contexto de descobertas, vivências e abordagens do conhecimento e da ciência fora do padrão da época, expostos com uma fotografia encantadora, mas com uma história que não se posiciona e acaba por não nos dizer nada. A história é longa e existe um emaranhado de informações vazias que não chega a lugar nenhum, não há substância, não há objetivo, não acrescenta e tudo acaba deixando a sensação de que a direção acreditou que com excelentes atuações, trilha sonora e fotografia, não seria necessário uma boa história... é frustrante e um desperdício de talento.
Confissões
4.2 854Um filme sobre vingança e gente perturbada. Confissões começa como um filme bobo de adolescentes rebeldes, com um início turbulento com muito diálogo em meio a muito ruido, mas de acordo com que as confissões vão aparecendo, o filme cresce e traz a tona muitas reflexões sobre bullying e suas motivações, pessoas cruéis e todos os artifícios que utilizam para satisfazerem seus anseios e como decepções na infância podem transformar pessoas em monstros. No desenrolar dos fatos existem uns exageros, não é um filme perfeito, mas deixa seu recado sobre como os fracos podem machucar os mais fracos quando lhes convém e é uma ótima experiência observar o jogo da manipulação, a vingança, o terror psicológico que mantém quem assiste curioso em descobrir no que aquilo tudo vai dar e a duvidar se as afirmações são reais ou manipulações.
My Happy Family
3.9 49Aqui temos um drama cotidiano que vai tecendo sem pressa, sem militância comum de filmes que retratam a mudança da mulher, ele mostra sem exageros a transição do caos de uma vida familiar meio sem ânimo e sufocante, para o retorno a essência do ser singular. Entramos na intimidade de Manana, uma mulher com mais de 50 anos que está cansada e omissa do seu próprio eu, que após anos casada e pertencente a uma cultura em que a mulher tem o papel de apenas cuidar da família, vai ao encontro de si num movimento contrário, abandonando tudo e indo rumo ao desconhecido, mesmo com sua família contra. Sua nova moradia deixa muito claro as motivações da personagem, é onde ela encontra a paz que há anos não tinha, em que finalmente pode fazer as próprias escolhas, curtir no silêncio a própria companhia.
É um filme que vai sendo construído lentamente, em meio a embates familiares e novas percepções da protagonista tanto de si como do que a rodeia e embora tenha uma duração que vai além do que devia e resulta num final não esperado, é um bom filme.
Morgue Story: Sangue, Baiacu e Quadrinhos
3.8 45 Assista AgoraO filme é baseado em uma peça teatral e se mantém nessa pegada com as atuações. É cheio de referências, diálogos rápidos e uma história absurda, um trash nacional que passeia entre o terror/gore e a comédia, com alguns momentos de divertimento com suas histórias cruzadas e personagens malucos. Os cortes e dinamismo nas idas e vindas no tempo torna o filme bem acelerado e diferente, sem medo de se mostrar exagerado e tosco. A história tem uma ideia bem original, o que não necessariamente se faz excelente em sua execução, mas se tratando de cinema nacional, é uma experiência.
Eu Matei Minha Mãe
3.9 1,3KO filme é ácido, pesado, cru. No início parece irritante, sem propósito, muito fácil de julgar, mas com o desenrolar descobre-se que é mais que isso e mostra que é sobre as complicações da relação entre mãe e filho e as rebeldias da vida adolescente causadas por isso. A história coloca em foco o quanto as facetas do ser humano é cíclica, não havendo o mau e o bom definidos, nem o certo e o errado de forma unilateral, mostrando aqui que por trás de todo ressentimento, mágoa, rebeldia ou indiferença sempre há uma falha de comunicação causadora do incômodo, na relação de mãe e filho isso é mostrado em forma de incompreensão de ambos os lados, em que os dois só reclamam ou cobram um ao outro, ninguém para pra entender e conversar sobre o que os levou até ali. O destaque são as atuações, interpretadas de uma forma muito forte, firme, real, em que o próprio diretor Xavier Dolan dá vida ao protagonista, o que com certeza fez com muito êxito, não tirando também o brilho da atuação de Anne Dorval como a mãe. A fotografia também tem seu papel, de forma muito bela e pontual nos imerge em um ambiente sombrio, opaco, em que aquelas pessoas vivem - mas sem vida nenhum - encontrando cores apenas na vida que gostariam de ter, deixando a reflexão: O que de fato você está fazendo para mudar o que lhe incomoda, além de reclamar e se rebelar?
Exame
3.3 236O filme tem uma premissa boa, utiliza o recurso do grupo de pessoas aleatórias dentro de uma ambiente fechado "lutando" por algo desconhecido, isso desperta muito a curiosidade em descobrir o que é tudo aquilo. Começa muito bem com isso, traz um pouco de crítica em relação ao processos seletivos para grandes empresas e a forma como as pessoas reagem a concorrência, mas com o passar dos minutos vai perdendo a força tendo em vista que os personagens agem de forma exagerada por um propósito que não parece palpável. Poderia ter sido melhor desenvolvido.
Detroit em Rebelião
4.0 193 Assista AgoraO filme é um drama muito incômodo e angustiante na maioria do tempo, tem os três atos muito bem definidos, um início movimentado, fundamental para a imersão de quem assiste, após isso vem longos momentos de tensão e angustia, que apesar do principal antagonista não passar todo o peso que seu papel exige, tem atuações fortes e simbólicas trazendo a tona todo o cenário de segregação racial nos EUA na década de 60 dotado de imensa crueldade que parecem não ter fim nunca, e para concluir, um revoltante final silenciosamente gritante simbolizando muito bem o caso que é baseado em fatos reais.
Se Eu Fosse Um Homem
2.3 116 Assista AgoraO filme é extremamente sexista, dá a ideia de que o fato de ser homem já é um atestado de ser cretino e ainda junta todos os clichês de gênero possíveis num filme só de uma forma de extremo mau gosto, com atuações forçadas e enredo completamente exagerado e sem sentido. Ridículo..
Flores
3.5 40O filme é arrastado e deixa muitos pontos em aberto, mas parece ser proposital, para que cada pessoa sinta conforme suas experiências de vida. O filme é fortemente marcado pela presença das flores, que vem com um simbolismo muito forte sobre o florescer, não das flores em sim, mas da vida das pessoas, o florescer dos sentimentos. A fotografia deixa clara o clima em que as personagens vivem, sempre no meio das
sombras, sozinhas, numa sensação de abandono
não tem o apreço do marido e encontra no recebimento das flores a atenção que lhe faz sentir viva, ou na outra que perde o marido e só depois se dá conta do quanto estava distante e não se importava com os interesses de seu parceiro...
Outras Pessoas
3.7 116O filme traz um tema mórbido de uma forma muito delicada e sensível. Aqui temos um filho que retorna ao lar de seus pais e a partir disso vamos acompanhando os dramas de uma família com assuntos mal resolvidos enquanto a mãe vai perdendo a vida ao longo dos meses, o que faz com que todos juntem forças para lidar tanto com seus problemas pessoais como com toda a dor e pensamentos estranhos que vem a tona quando se tem alguém a beira da morte na família. Embora seja um pouco clichê, causa uma empatia por ser um tema que quase todos já passaram ou passarão por algo semelhante.
Cavaleiro de Copas
3.2 412 Assista AgoraO cavaleiro de copas é um filme abstrato, traz por meio de imagens aleatórias e uma narração em off um personagem com suas inquietações e questionamentos sobre a forma de se relacionar dos dias atuais e coisas que vem acontecendo com ele, isso feito com ótimas atuações e uma trilha sonora bem peculiar que encaixa perfeitamente. O filme é cheio de altos e baixos, tem momentos que o roteiro
traz momentos bem poéticos, diálogos interessantes, já em outros é apenas a vida vazia do personagem pulando de relacionamento em relacionamento constantemente,
Um Banho de Vida
3.9 114Um banho de vida é sobre as dificuldades da vida, de como adultos maduros lidam com seus fracassos, angustias, tristezas. Um roteiro bem original que soube dosar muito bem o drama e o humor e mostra de uma forma leve, porém clara e objetiva, a forma como a depressão pode se manifestar das mais diversas formas, e que na maioria das vezes quem está por perto nem nota. Não é sobre ser membro de uma equipe de nada sincronizado masculino, é sobre ter uma rede de apoio e se sentir pertencente e útil no mundo. Esse sem dúvidas é um filme que aquece o coração.
Anos 90
3.9 502O filme é o retrato da transição da infância para a adolescência dos anos 90, desde a ambientação com referências a época até os diálogos bem 5ª série... tudo é muito nostálgico e com certeza quem viveu essa época vai se identificar bastante. Aqui você observa os acontecimentos e percebe todas as neuras que todo adolescente tem: as chateações, as descobertas, as besteiras, os medos e claro, a vontade de abandonar a infância e se tornar adulto a qualquer preço. Anos 90 não é um filmaço, percebe-se que a direção não soube usar bem os poucos recursos disponíveis, tem um clima em que as coisas sempre tendem a se resolver da melhor forma, as subtramas não chegam a ter uma resolução ou desenvolvimento, não possui clímax, é apenas a visão de um garoto se transformando num babaca, com vários clichês mas sem ser necessariamente chato.
Morto Não Fala
3.4 384 Assista AgoraO filme sai da zona de conforto é muito gratificante ver o cinema nacional se aventurando assim... e dando certo. Tanto as atuações como os efeitos, cumprem muito bem o seu papel de apoio ao enredo sombrio e macabro em que vive Stenio, um jovem homem que tem o "dom" de falar com os mortos. Este dom não é explicado e nem precisa, o foco não esse, a construção é feita sobre aquilo que se ouve e o que é feito com essas informações que não sabemos se são reais ou loucura e que aos poucos vão encurralando Stenio e o levando a caminhos sem volta, com muita tensão tanto pra ele e sua família, como para quem está assistindo.
Dor e Glória
4.2 619 Assista AgoraO filme tem um ar de autorretrato, onde vai destrinchando lentamente as lembranças de uma longa caminhada, cheia de dores, descobertas, decepções e glória. Tudo vai acontecendo de forma sutil, íntima, dada as circunstancias dramáticas de dores físicas e psicológicas, encontros e desencontros, podia ser mais intenso, mais sofrido, mas mesmo assim não deixa de ser um bom filme. A fotografia é bem bonita, com uma forte presença do vermelho nas cenas, trazendo toda a representatividade do que move o personagem, do que lhe dá vida, lhe apoia e faz seu coração pulsar. Dor e Glória é sobre a montanha russa que é a vida, onde passamos por diversos momentos difíceis, em que fazemos escolhas, crescemos, aprendemos, nos decepcionamos, nos reinventamos e assim, de degrau em degrau, construímos uma vida entre dores e glórias.