Estão em cartaz dois filmes que se passam na Segunda Guerra Mundial: “Dunkirk”, dirigido por Christopher Nolan, e “Os meninos que enganavam os nazistas’, de Christian Duguay. Ambos, para quem já assistiu a inúmeras produções sobre a guerra, tratam um pouco do mesmo. Tem gente dizendo até que são clichês. Para mim, no entanto, continuam tendo seu valor. O primeiro envolve o espectador pela ação intensa e alucinante; o segundo, com lirismo e uma maravilhosa sintonia entre os dois atores-mirins na interpretação dos personagens principais que são irmãos na história, prende a gente na cadeira do cinema do início ao fim e até nos faz chorar de emoção. Valem muito a pena!
Até que ponto uma mulher pode ir para conquistar aquilo de mais precioso que lhe foi roubado: a liberdade de escolha; a liberdade de ir e vir; a liberdade para dizer não; a liberdade de se entregar a quem quiser, quando quiser?!
Até que ponto a morte física de um homem custa mais que a morte moral, a morte social, a morte psíquica de tantas mulheres?
O filme Lady Macbeth, que acabou de estrear esta semana, nos faz refletir sobre isso. Se, por um lado, podemos dizer que a personagem que dá nome ao filme, interpretada muito bem pela atriz Florence Pugh, parece ter algo que beira à loucura de um serial killer; por outro, é possível entender (justificar?!) suas ações como um acerto de contas de todas as mulheres que foram (e são?!) “assassinadas” em suas vidas pela sociedade patriarcal, dominadas pelos machos, que tudo podiam (podem?!) sobre elas. As cenas repetidas do início do filme mostram bem a prisão feminina, numa rotina entediante, sufocante e limitada das mulheres, e a total oposição em relação aos homens.
O mais curioso é que toda a força e coragem de Lady Macbeth não faz dela uma heroína feminista. Embora tenha invertido um possível estupro (que poderia ter sofrido) em uma relação na qual ela parece ser a cabeça pensante e dominadora, sua força e suas ações têm uma determinação específica: viver a grande e avassaladora paixão por um homem. O final, entretanto, deixou-me uma dúvida: foi mesmo somente um grito de desespero contra a opressão ou havia ali também uma loucura incontinente?
Assistam!!! Assistam!!! Assistam!!! Imagine sair do cinema completamente arrepiado, emocionado, extasiado, e a pessoa que te acompanha se mostra frustrada e decepcionada. Foi o que aconteceu na sexta-feira, dia 11, comigo e com João, meu marido. Eu amei o filme “A garota ocidental: entre o coração e a tradição”, premiado no Festival de Toronto em 2016, do diretor Stephan Streker. E ele odiou.
É um filme seco e lento, sem trilha sonora que o encorpe. Entretanto, essa escolha, a meu ver, provoca o esperado: a intensificação da carga dramática enfrentada pela personagem principal. Tudo é dito no quase não-dito, que se expressa por meio dos implícitos descortinados nos rostos de todos os personagens após pequenos diálogos.
O filme nos leva a refletir sobre as diferenças culturais, que devem ser respeitadas, mas, mais especificamente sobre os direitos do indivíduo em relação às imposições das tradições. É bem complexo o tema! A vida de cada um de nós se constrói sob valores familiares, sob as tradições e aspectos culturais de um povo e, ainda para alguns, sob os preceitos religiosos que a família segue e nos quais acredita. No entanto, em determinadas situações, esses valores podem esbarrar nos desejos individuais e criar verdadeiros impasses entre o que se quer e o que se tem de seguir. “Noces”, título original do filme, possibilita várias discussões temáticas, mas a principal delas pode ser resumida em uma visão transmitida à protagonista, Zahira, por sua irmã mais velha: “É claro que a vida é injusta. Somos mulheres.” Afinal, o corpo da mulher é sempre de vários homens (pai, irmão, marido…), menos dela própria.
Embora o fechamento seja previsível (uma das reclamações de João), ele é tristemente coerente com toda a realidade que se abre aos nossos olhos. Até que ponto o ser humano, ou melhor, alguns seres humanos devem se cercear, se castigar, se reprimir em prol de um coletivo? Qual o peso e o preço das decisões que você toma para sua vida e pela sua cabeça? Até que ponto você é livre para decidir? Até que ponto suas decisões interferem (seriamente) na vida do outro? E mais: até que ponto o outro tem direito de interferir na sua liberdade?
O mais interessante é que o grito de Zahira não é um grito de rebeldia pela rebeldia, de uma jovem de 18 anos que se acha onipotente e precisa se rebelar contra tudo e contra todos. O grito de Zahira vem carregado de fé (ela pratica, onde estiver, seus costumes religiosos), de amor à família (ela não quer vê-los sofrer), de respeito a tudo o que aprendeu e ao que a constituiu como um ser pensante (seu bebê só tem alma a partir do 3o mês, mas ela já o ama desde a fase embrionária). O grito de Zahira é o grito da vida, da súplica por oxigênio, da sobrevivência básica de um ser humano que se entende como gente, e não como uma marionete nas mãos dos outros. O grito de Zahira é o grito de milhões de mulheres do Oriente, mas também do Ocidente. Mulheres abandonadas, usadas, abusadas, rotuladas, criminalizadas e discriminadas por escolherem ser livres.
A história, baseada em fatos reais, mexeu profundamente comigo. Um homem vai à guerra sem pegar em uma arma sequer por princípios religiosos. Ele vai para resgatar a vida, não para produzir mortes. Desmond Doss não exige que outros façam o mesmo que ele, não se considera melhor que ninguém por se sentir eleito. Veste o mesmo uniforme dado a todos, não muda suas roupas; anda no meio dos que estão lá para matar, não se separa dos "impuros". Ele também não tenta convencer os colegas de sua fé nem diz aos outros que estão errados ou que não podem usar uma arma nem podem matar. Ele está no mundo. Apenas deseja ser quem é. E é esse jeito de ser que transforma o meio em que está, convence a todos, fortalece e une o grupo, dá o apoio e a força necessários para que todos sigam em frente. Mesmo no sábado, dia de descanso para sua religião, Doss vai ao campo de batalha. Ele não se fecha em seu mundinho, suas regras, pq sabe que precisa ser sal e luz, e não pimenta nos olhos dos outros. Mas, como conquistou o respeito de todos com suas ações e coragem, eles aguardam que ore antes de entrarem no inferno. Doss ora em silêncio, sozinho. Ele sabe que seu gesto solitário, silencioso e de pura fé vale muito mais do que a espetacularização do ato de orar. Todos aguardam em silêncio. O silêncio se faz oração. Doss não é um homem que prega ou impõe a Palavra, ele a vive em abundância, sempre com um sorriso no rosto, porque sente a plenitude do Amor. Doss é agora, através do filme, e foi, provavelmente em sua vida real, sal na terra e luz no mundo. Um exemplo a ser seguido, independente de religião, crença ou ausência de crença. Ele foi um homem que viveu, na prática, a fé em seu Deus e o amor ao próximo. Enxergou e aceitou cada um como é, sem apontar um dedo sequer no nariz do outro. Doss só quis fazer o que Cristo pregou. Deixemo-nos invadir pela beleza da mensagem do filme. Sejamos Amor!
Não sou conhecedora da sétima arte. Por isso as resenhas que escrevo dos filmes de que gosto são puramente sentimentais. Os filmes falam comigo e eu passo dias degustando-os em minha mente. Mergulho em mim e deixo o coração e os sentidos da visão, da audição e até a imaginação do tato, do paladar e do olfato se expressarem e me invadirem a ponto de ter de escrever, para por uma ordem nessa deliciosa ebulição.
Selton Mello conseguiu me deixar com o seu “O filme da minha vida” extasiada. Estou assim desde sábado, quando o vi no Kinoplex Leblon. E não foi a história em si que me conquistou totalmente, mas o modo como foi contada, as escolhas feitas na construção das cores, das imagens, dos figurinos. Fiquei totalmente envolvida com as expressões faciais dos atores, as músicas. Ah! Que músicas… Escute-asaqui. Tudo junto transformou o filme numa bela poesia. Até na fumaça do cigarro havia lirismo! E o trem! O que era aquele ir e vir de uma cidade a outra, sobre os trilhos e a fumaça da chaminé? Lindo demais!
Nada foi esquecido! O jeito simplório do povo interiorano. A rudeza dos homens ignorantes que lutam para expressar sentimentos e emoções (as falas do personagem do próprio Selton Mello chegam a ser filosóficas!), a juventude que se pretende rebelde, os meninos adolescentes na louca curiosidade da iniciação sexual e o papel das mulheres, retratadas adequadamente para a época na qual a história se passa. Fica claro que havia mulher pra casar; mulher bonita para desfrutar, mas que não servia pra casar, porque estava a frente do seu tempo exercendo a sua liberdade; mulher só pra usar nas necessidades masculinas.
Talvez, a redenção do machismo no olhar do poeta-diretor venha, para nós, no papel de dois homens. Um, que trai, mas que assume seu erro e cria seus filhos no amor atuante; outro, que esconde, em seu egoísmo(?), um segredo e, mesmo em sua rudeza, não consegue se deitar com uma prostituta porque ama outra mulher (direita, claro!).
Enfim, há sensibilidade, há amor, há muita emoção n’ O filme da minha vida. Vale muito a pena se deixar levar, nos quase 120 minutos, dessa fantasia.
O meu/seu relacionamento conjugal pode virar um curioso e interessante material para um filme espetacular. Quando as coisas mais banais e sem refinamento algum são enxergadas como parte da construção de algo maior, elas viram um rico material dramatúrgico. O filme “Monsieur & Madame Adelman” mostra isso. Do primeiro encontro – sem romantismo algum – a uma paixão avassaladora – meticulosamente planejada por quem narra a história -, tudo pode ser dramatizado. Desde que o narrador seja muito bom no que faz, claro! E é assim que conhecemos toda a história de um relacionamento louco, torto, com suas tristezas e alegrias, sucessos e decadências, sorrisos íntimos e traições. Traições tão complexas que atingem até o espectador. Mais um filme que se embrenha nas questões íntimas da vida de um escritor, que mistura, num delicioso realismo, as relações entre ficção e realidade, entre autor e narrador. Já tinha adorado as relações entre ficção e realidade, autor e narrador em o “O cidadão ilustre”, argentino. Agora este francês: “Monsieur & Madame Adelman”, do diretor, roteirista e ator, Nicolas Bedos, e da roteirista e atriz, Doria Tillier. Imperdível!!! Aliás, não posso deixar de dizer que Madame Adelman é uma senhora personagem feminina. Que mulher! Decidida e autêntica, sabe muito bem o que quer. Do início ao fim! tatiandoavida.com
Quem é de História até pode levantar críticas sobre o foco dado aos ingleses em Dunkirk, mas a adrenalina que há nele, as imagens e emoções dos voos nos aviões de guerra além do desespero durante os naufrágios de barcos que tentavam salvar vidas e eram atacados mantêm uma tensão eletrizante. Adoooro! Ah! E é bom que seja na telona do cinema.
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Os Meninos que Enganavam Nazistas
4.1 179 Assista AgoraEstão em cartaz dois filmes que se passam na Segunda Guerra Mundial: “Dunkirk”, dirigido por Christopher Nolan, e “Os meninos que enganavam os nazistas’, de Christian Duguay. Ambos, para quem já assistiu a inúmeras produções sobre a guerra, tratam um pouco do mesmo. Tem gente dizendo até que são clichês. Para mim, no entanto, continuam tendo seu valor. O primeiro envolve o espectador pela ação intensa e alucinante; o segundo, com lirismo e uma maravilhosa sintonia entre os dois atores-mirins na interpretação dos personagens principais que são irmãos na história, prende a gente na cadeira do cinema do início ao fim e até nos faz chorar de emoção. Valem muito a pena!
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Lady Macbeth
3.5 157Até que ponto uma mulher pode ir para conquistar aquilo de mais precioso que lhe foi roubado: a liberdade de escolha; a liberdade de ir e vir; a liberdade para dizer não; a liberdade de se entregar a quem quiser, quando quiser?!
Até que ponto a morte física de um homem custa mais que a morte moral, a morte social, a morte psíquica de tantas mulheres?
O filme Lady Macbeth, que acabou de estrear esta semana, nos faz refletir sobre isso. Se, por um lado, podemos dizer que a personagem que dá nome ao filme, interpretada muito bem pela atriz Florence Pugh, parece ter algo que beira à loucura de um serial killer; por outro, é possível entender (justificar?!) suas ações como um acerto de contas de todas as mulheres que foram (e são?!) “assassinadas” em suas vidas pela sociedade patriarcal, dominadas pelos machos, que tudo podiam (podem?!) sobre elas. As cenas repetidas do início do filme mostram bem a prisão feminina, numa rotina entediante, sufocante e limitada das mulheres, e a total oposição em relação aos homens.
O mais curioso é que toda a força e coragem de Lady Macbeth não faz dela uma heroína feminista. Embora tenha invertido um possível estupro (que poderia ter sofrido) em uma relação na qual ela parece ser a cabeça pensante e dominadora, sua força e suas ações têm uma determinação específica: viver a grande e avassaladora paixão por um homem. O final, entretanto, deixou-me uma dúvida: foi mesmo somente um grito de desespero contra a opressão ou havia ali também uma loucura incontinente?
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A Garota Ocidental
3.9 31 Assista AgoraAssistam!!! Assistam!!! Assistam!!!
Imagine sair do cinema completamente arrepiado, emocionado, extasiado, e a pessoa que te acompanha se mostra frustrada e decepcionada. Foi o que aconteceu na sexta-feira, dia 11, comigo e com João, meu marido. Eu amei o filme “A garota ocidental: entre o coração e a tradição”, premiado no Festival de Toronto em 2016, do diretor Stephan Streker. E ele odiou.
É um filme seco e lento, sem trilha sonora que o encorpe. Entretanto, essa escolha, a meu ver, provoca o esperado: a intensificação da carga dramática enfrentada pela personagem principal. Tudo é dito no quase não-dito, que se expressa por meio dos implícitos descortinados nos rostos de todos os personagens após pequenos diálogos.
O filme nos leva a refletir sobre as diferenças culturais, que devem ser respeitadas, mas, mais especificamente sobre os direitos do indivíduo em relação às imposições das tradições. É bem complexo o tema! A vida de cada um de nós se constrói sob valores familiares, sob as tradições e aspectos culturais de um povo e, ainda para alguns, sob os preceitos religiosos que a família segue e nos quais acredita. No entanto, em determinadas situações, esses valores podem esbarrar nos desejos individuais e criar verdadeiros impasses entre o que se quer e o que se tem de seguir. “Noces”, título original do filme, possibilita várias discussões temáticas, mas a principal delas pode ser resumida em uma visão transmitida à protagonista, Zahira, por sua irmã mais velha: “É claro que a vida é injusta. Somos mulheres.” Afinal, o corpo da mulher é sempre de vários homens (pai, irmão, marido…), menos dela própria.
Embora o fechamento seja previsível (uma das reclamações de João), ele é tristemente coerente com toda a realidade que se abre aos nossos olhos. Até que ponto o ser humano, ou melhor, alguns seres humanos devem se cercear, se castigar, se reprimir em prol de um coletivo? Qual o peso e o preço das decisões que você toma para sua vida e pela sua cabeça? Até que ponto você é livre para decidir? Até que ponto suas decisões interferem (seriamente) na vida do outro? E mais: até que ponto o outro tem direito de interferir na sua liberdade?
O mais interessante é que o grito de Zahira não é um grito de rebeldia pela rebeldia, de uma jovem de 18 anos que se acha onipotente e precisa se rebelar contra tudo e contra todos. O grito de Zahira vem carregado de fé (ela pratica, onde estiver, seus costumes religiosos), de amor à família (ela não quer vê-los sofrer), de respeito a tudo o que aprendeu e ao que a constituiu como um ser pensante (seu bebê só tem alma a partir do 3o mês, mas ela já o ama desde a fase embrionária). O grito de Zahira é o grito da vida, da súplica por oxigênio, da sobrevivência básica de um ser humano que se entende como gente, e não como uma marionete nas mãos dos outros. O grito de Zahira é o grito de milhões de mulheres do Oriente, mas também do Ocidente. Mulheres abandonadas, usadas, abusadas, rotuladas, criminalizadas e discriminadas por escolherem ser livres.
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Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraA história, baseada em fatos reais, mexeu profundamente comigo. Um homem vai à guerra sem pegar em uma arma sequer por princípios religiosos. Ele vai para resgatar a vida, não para produzir mortes. Desmond Doss não exige que outros façam o mesmo que ele, não se considera melhor que ninguém por se sentir eleito. Veste o mesmo uniforme dado a todos, não muda suas roupas; anda no meio dos que estão lá para matar, não se separa dos "impuros". Ele também não tenta convencer os colegas de sua fé nem diz aos outros que estão errados ou que não podem usar uma arma nem podem matar. Ele está no mundo. Apenas deseja ser quem é. E é esse jeito de ser que transforma o meio em que está, convence a todos, fortalece e une o grupo, dá o apoio e a força necessários para que todos sigam em frente. Mesmo no sábado, dia de descanso para sua religião, Doss vai ao campo de batalha. Ele não se fecha em seu mundinho, suas regras, pq sabe que precisa ser sal e luz, e não pimenta nos olhos dos outros. Mas, como conquistou o respeito de todos com suas ações e coragem, eles aguardam que ore antes de entrarem no inferno. Doss ora em silêncio, sozinho. Ele sabe que seu gesto solitário, silencioso e de pura fé vale muito mais do que a espetacularização do ato de orar. Todos aguardam em silêncio. O silêncio se faz oração. Doss não é um homem que prega ou impõe a Palavra, ele a vive em abundância, sempre com um sorriso no rosto, porque sente a plenitude do Amor. Doss é agora, através do filme, e foi, provavelmente em sua vida real, sal na terra e luz no mundo. Um exemplo a ser seguido, independente de religião, crença ou ausência de crença. Ele foi um homem que viveu, na prática, a fé em seu Deus e o amor ao próximo. Enxergou e aceitou cada um como é, sem apontar um dedo sequer no nariz do outro. Doss só quis fazer o que Cristo pregou. Deixemo-nos invadir pela beleza da mensagem do filme. Sejamos Amor!
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O Filme da Minha Vida
3.6 500 Assista AgoraNão sou conhecedora da sétima arte. Por isso as resenhas que escrevo dos filmes de que gosto são puramente sentimentais. Os filmes falam comigo e eu passo dias degustando-os em minha mente. Mergulho em mim e deixo o coração e os sentidos da visão, da audição e até a imaginação do tato, do paladar e do olfato se expressarem e me invadirem a ponto de ter de escrever, para por uma ordem nessa deliciosa ebulição.
Selton Mello conseguiu me deixar com o seu “O filme da minha vida” extasiada. Estou assim desde sábado, quando o vi no Kinoplex Leblon. E não foi a história em si que me conquistou totalmente, mas o modo como foi contada, as escolhas feitas na construção das cores, das imagens, dos figurinos. Fiquei totalmente envolvida com as expressões faciais dos atores, as músicas. Ah! Que músicas… Escute-asaqui. Tudo junto transformou o filme numa bela poesia. Até na fumaça do cigarro havia lirismo! E o trem! O que era aquele ir e vir de uma cidade a outra, sobre os trilhos e a fumaça da chaminé? Lindo demais!
Nada foi esquecido! O jeito simplório do povo interiorano. A rudeza dos homens ignorantes que lutam para expressar sentimentos e emoções (as falas do personagem do próprio Selton Mello chegam a ser filosóficas!), a juventude que se pretende rebelde, os meninos adolescentes na louca curiosidade da iniciação sexual e o papel das mulheres, retratadas adequadamente para a época na qual a história se passa. Fica claro que havia mulher pra casar; mulher bonita para desfrutar, mas que não servia pra casar, porque estava a frente do seu tempo exercendo a sua liberdade; mulher só pra usar nas necessidades masculinas.
Talvez, a redenção do machismo no olhar do poeta-diretor venha, para nós, no papel de dois homens. Um, que trai, mas que assume seu erro e cria seus filhos no amor atuante; outro, que esconde, em seu egoísmo(?), um segredo e, mesmo em sua rudeza, não consegue se deitar com uma prostituta porque ama outra mulher (direita, claro!).
Enfim, há sensibilidade, há amor, há muita emoção n’ O filme da minha vida. Vale muito a pena se deixar levar, nos quase 120 minutos, dessa fantasia.
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Monsieur e Madame Adelman
4.1 134O meu/seu relacionamento conjugal pode virar um curioso e interessante material para um filme espetacular. Quando as coisas mais banais e sem refinamento algum são enxergadas como parte da construção de algo maior, elas viram um rico material dramatúrgico. O filme “Monsieur & Madame Adelman” mostra isso. Do primeiro encontro – sem romantismo algum – a uma paixão avassaladora – meticulosamente planejada por quem narra a história -, tudo pode ser dramatizado. Desde que o narrador seja muito bom no que faz, claro! E é assim que conhecemos toda a história de um relacionamento louco, torto, com suas tristezas e alegrias, sucessos e decadências, sorrisos íntimos e traições. Traições tão complexas que atingem até o espectador.
Mais um filme que se embrenha nas questões íntimas da vida de um escritor, que mistura, num delicioso realismo, as relações entre ficção e realidade, entre autor e narrador. Já tinha adorado as relações entre ficção e realidade, autor e narrador em o “O cidadão ilustre”, argentino. Agora este francês: “Monsieur & Madame Adelman”, do diretor, roteirista e ator, Nicolas Bedos, e da roteirista e atriz, Doria Tillier. Imperdível!!!
Aliás, não posso deixar de dizer que Madame Adelman é uma senhora personagem feminina. Que mulher! Decidida e autêntica, sabe muito bem o que quer. Do início ao fim!
tatiandoavida.com
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraQuem é de História até pode levantar críticas sobre o foco dado aos ingleses em Dunkirk, mas a adrenalina que há nele, as imagens e emoções dos voos nos aviões de guerra além do desespero durante os naufrágios de barcos que tentavam salvar vidas e eram atacados mantêm uma tensão eletrizante. Adoooro! Ah! E é bom que seja na telona do cinema.