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"Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que haja falta de amor." (Vladimir Maiakovski)

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Últimas opiniões enviadas

  • Thiago Lucio Oliveira da Silva

    DEATH NOTE

    “Death Note” é um filme americano produzido pela Netflix cuja adaptação se dá a partir de um renomado anime japonês escrito por Tsugumi Ohba e Takeshi Obata. Material original à parte (que eu desconheço), o filme cujo roteiro foi escrito pelo trio Jeremy Slater e os irmãos Charles e Vlas Parlapanides deixa de lado a suposta abordagem moral que serviria de pano de fundo para a narrativa para criar uma trama intrincada, irônica e debochada sobre o acaso e deixa a cargo do diretor Adam Wingard a construção de uma atmosfera que se assemelhe com a de um pesadelo para construir um suspense psicológico tenso e esteticamente atraente. Diante do promissor material que tinham em mãos, o tiro não chegou a sair pela culatra, mas entre altos e baixos, o resultado final acaba sendo bastante irregular.

    Light Turner (Nat Wolff) é um adolescente inteligente, introspectivo e imaturo que ganha de presente do destino o “Death Note”, o tal “Caderno da Morte” que lhe dá o poder de escolher quem deve morrer desde que ele escreva o nome das suas vítimas em suas páginas. Através da interferência de Ryuk (voz de Willem Dafoe), uma espécie de Anjo da Morte, Light se deixa influenciar, agindo como uma espécie de Justiceiro ao lado de Mia (Margaret Qualley), sua paixão platônica, porém ele sentirá na pele que ter o poder sobre a vida das pessoas não é uma tarefa das mais simples assim. A premissa é estabelecida de maneira absurda desde o primeiro momento já que o livro literalmente cai do céu para as mãos de Light, sendo que o roteiro do trio parece ter ciência disso já que apresenta Ryuk como um demônio dotado de um divertido senso de humor negro, que devora maçãs, jogando-as em qualquer lugar e que faz questão de debochar das próprias regras que estão escritas no caderno, como se ele mesmo não as levasse a sério, embora leve já que soa ameaçador quando necessário.

    A partir do momento que o roteiro estabelece a dinâmica entre o que Light escreve no caderno e o “modus operandi” de Ryuk, a comparação com a proposta de filmes como “Brainscan – Jogo Mortal” ou a série “Premonição” é inevitável. Aqui, o estabelecimento da premissa, no entanto, ocorre de maneira acelerada já que a execução da primeira vítima não demora, através de uma série de coincidências que culminam em uma decapitação, assim como a passagem de tempo que mostra a ascensão de Light ao posto de Justiceiro, sob a alcunha de Kira, e até mesmo a introdução de L (Lakeith Stanfield), uma espécie de agente especial que se encarrega de descobrir o verdadeiro responsável por essas mortes em série. Embora seja uma introdução ilustrada de forma dinâmica, a sensação que se tem é que o roteiro perdeu a oportunidade de se aprofundar um pouco mais no que havia de mais intrigante e complexo em sua abordagem a partir dos questionamentos morais, dos anseios e das dúvidas de Light e Mia, por exemplo.

    Se inicialmente L é mal introduzido como uma figura misteriosa e extravagante dentro do realista contexto policial (ele adora comer doces e parece não dormir devido o alto nível de açúcar presente no sangue), a partir do momento que a disputa entre ele e Light se transforma em um jogo de gato e rato, mesmo que entre dois jovens instáveis, os resultados são melhores pela condução das reviravoltas por parte do roteiro já que um precisa estar à frente do outro e também em termos de direção já que Adam Wingard tem a oportunidade de criar sequências de tensão, como as que envolvem os agentes do FBI ou o destino do secretário oriental de L, e até mesmo outras mais energéticas no que se refere à ação, como em uma sequência de perseguição a pé ou no bom clímax que se passa em uma montanha-russa. O diretor de fotografia David Tattersal sabe explorar diferentes variações de cores nas sequências diurnas e noturnas, especialmente aquelas cuja locação simula o Japão ou durante um bom duelo de diálogos entre Light e L que se passa dentro de uma lanchonete, porém a qualidade do trabalho se torna mais discutível mesmo durante as aparições de Ryuk. Se por um lado, ele e Wingard acertam em revelar o mínimo possível da sua natureza física, o que faz com que os ambientes sejam tomados pela falta de luz, refletindo apenas a claridade dos seus olhos malignos, sempre que a câmera busca um close da entidade é como se esforço se tornasse em vão, pois chama mais a atenção para o nível fraco dos efeitos especiais. Seria mais inteligente se o espectador mal visse quem era Ryuk e/ou se fosse possível apenas ouvir a sua voz até porque o trabalho de Willem Dafoe por si só já é assustador e horripilante, na medida certa, como somente ele é capaz de fazer (a voz já seria suficientemente marcante sem a necessidade de se materializar uma presença física).

    Nat Wolff é um jovem ator bastante talentoso e aqui precisa se equilibrar entre as diferentes versões de Light, como um jovem perturbado por uma presença maligna desconhecida, vide a sequência que se depara com Ryuk pela primeira vez e reage com autenticidade e escandalosamente assustado. Ou quando se deixa afetar pelo poder que tem em mãos, mas por acreditar que age de maneira correta, porta-se como alguém justo, racional e idealista, mostrando segurança, especialmente nos embates com Mia e Ryuk. Porém, ao chegar nos momentos em que se mostra mais obcecado e transtornado pelos efeitos colaterais da influência do caderno é justamente quando sua atuação se torna mais caricata e irregular, especialmente no final do segundo ato quando Wolff emula uma versão jovem e cartunesca de um Nicolas Cage em fase ruim. Essa mesma oscilação atinge os outros nomes do jovem elenco. Margaret Qualley se mostra uma jovem atriz promissora, mas a sua personagem parece agir de acordo com a necessidade do roteiro, logo as suas mudanças de postura e comportamento acabam favorecendo a atriz quando precisa evocar ingenuidade, fragilidade e/ou sensualidade, mas quando Mia apresenta uma postura mais agressiva, a jovem atriz já não confere a credibilidade necessária para a personagem naquele momento. Já Lakeith Stanfield parece se sair melhor quando L mantém parte do seu rosto coberto já que precisa explorar o tom da voz e a expressividade dos olhos. Quando o personagem perde esse tom de mistério, ele acaba se tornando uma caricatura de si mesmo e a atuação de Stanfield acaba deteriorando, mesmo que a sequência na lanchonete ofereça um bom duelo de atuações entre ele e Wolff.

    Contando com um terceiro ato que explora o melhor que a premissa do filme tem a oferecer e contando com dois saborosos momentos envolvendo músicas românticas da década de 80, “Death Note” é um filme irregular e incompleto que mesmo desperdiçando parcialmente o seu potencial ainda assim é capaz de manter o interesse até o final. Não deixa de ser igualmente irônico e debochado que a sensação que se tem é de que o filme é uma verdadeira montanha-russa de emoções, qualidades e defeitos, algo que certamente faria com que Ryuk risse debochadamente da nossa cara.

    6.0/10

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  • Thiago Lucio Oliveira da Silva

    ONDE ESTÁ SEGUNDA?

    “Onde Está Segunda?” é uma ficção científica que traz em seu pano de fundo um futuro distópico em que a lei do filho único alcançou uma escala global como uma forma de controlar a superpopulação no mundo que vive também uma crise de alimentos, logo uma família com irmãos não é permitida em função da política de alocação estabelecida por Nicolette Cayman (Glenn Close) que promete que os filhos excedentes serão mantidos em criogenia até que a ordem natural do mundo se restabeleça. Dentro dessa realidade, Terrence Settman (Willem Dafoe) se vê na obrigação de esconder suas setes netas, após a morte da sua filha durante o parto, com o objetivo de ensiná-las técnicas de sobrevivência para que não sejam descobertas e dando a cada uma delas o nome de um dia da semana como uma forma delas se organizarem dentro de uma rotina.

    Após 30 anos de sigilo, as sete irmãs (vividas por Noomi Rapace) se veem dentro de um impasse a partir do momento que Segunda desaparece sem deixar vestígios, fazendo com que o segredo delas seja ameaçado, inserindo-as dentro de uma conspiração que vai se revelando cada vez mais íntima no decorrer da narrativa. O roteiro escrito pela dupla Max Botkin e Kerry Williamson estabelece o contexto, mas não tem a pretensão de fazer com que a história seja um manifesto a respeito do tema da superpopulação. A falta de problematização sobre o assunto não impede que o filme seja apreciado, o que permite que o diretor Tommy Wirkola faça com que “Onde Está Segunda?” seja um thriller de ficção-científica extremamente dinâmico e eficiente em que se destacam especialmente uma crua sequência de luta que se passa dentro do apartamento das irmãs e outra que envolve uma longa e entrecortada perseguição a pé. Aliado a uma fotografia fria e impessoal e um trabalho de direção de arte sutil e sofisticada, a trama possui três atos muito bem definidos pelo roteiro e a direção só peca pelo exagero na estereotipização dos vilões e seus capangas, quase sempre filmados em pose e em câmera lenta.

    Estabelecendo a interação das sete protagonistas de maneira competente, salvo alguns momentos em que os efeitos especiais se tornam mais chamativos e distrativos, Wirkola conduz as sequências de luta com a crueza necessária, respeitando a personalidade de cada uma das personagens, e as sequências de ação conseguem mesclar a tensão com uma montagem vibrante, sem soar esquizofrênica, até mesmo quando a trilha sonora não consegue ser tão imponente quanto se pretendia. A atriz Noomi Rapace tem a sua disposição um palco para explorar as mais diferentes facetas de cada uma das personagens, explorando as mais diversas nuances, sem deixar de transparecer a delicadeza, a melancolia e/ou a força emocional de cada uma delas. A jornada do filme funciona muito através da jornada dramática das personagens, o que recai muito sobre a qualidade do trabalho e da entrega de Noomi Rapace seja em sua dedicação física assim como na carga emocional que ela deposita em suas composições, logo ela realiza um show à parte.

    A evolução da narrativa não está isenta de falhas e furos haja vista que a própria premissa possui a sua dose de conveniências, seja ao estabelecer o parto de sétuplos que assumem o nome de uma mãe que em vida já possuía um registro ou até mesmo a ideia dos nomes pelos dias da semana (o teste começa pela Quinta e a trama gira em torno da Segunda, ou seja, que diferença faz?). A ideia de inserir as personagens como uma bancária também não faz jus à promessa de ser uma profissão que atenderia as principais características das sete irmãs já que não se confirma, mas serve apenas para cumprir a necessidade do roteiro de introduzir uma conspiração financeira dentro da narrativa. As motivações dos vilões variam conforme a necessidade imediata do roteiro, sendo assim em um primeiro momento eles optam por dar sobrevida às irmãs para enganá-las e não chamar a atenção, porém logo em seguida eles não hesitam em disparar tiros, provocar explosões e realizar perseguições para “silenciá-las”, apesar de promover o caos por consequência. Ainda assim, o impacto dos momentos dramáticos provocados por cada catarse envolvendo as personagens não chega a ser totalmente prejudicado por essas escolhas controversas.

    Funcionando como um ótimo filme de ação, “Onde Está Segunda?” possui a sua dose de problemas e não faz muita questão de escondê-los, porém como filme de gênero cumpre muito bem a sua missão e ainda conta com performances inspiradas de Noomi Rapace para fazer com que a produção se destaque, tenha personalidade própria e coloque-se acima da média. Se o filme perde na abordagem pela falta de profundidade temática, ganha pontos ao fazer muito bem aquilo que se propõe e traz de melhor já que em termos de energia e ação, “Onde Está Segunda?” não deixa nada a desejar. Além disso é sempre bom ver uma boa ficção científica que por mais futurista que seja ainda assim consegue se sustentar com base em valores e emoções humanas e universais que independem do tempo em que se passa a história.

    7.5/10

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  • Thiago Lucio Oliveira da Silva

    OS DEFENSORES – 1ª TEMPORADA

    Depois de duas ótimas temporadas de “Demolidor”, duas gratas e razoáveis surpresas com “Jessica Jones” e “Luke Cage” e uma decepção com a fraca temporada de estreia de “Punho de Ferro”, os heróis do universo Marvel construído na plataforma Netflix se reúnem para combater uma nova ameaça em Nova Iorque na série “Os Defensores”. Encarregando-se de reapresentar os personagens mesmo no meio de suas jornadas pessoais (até para não espantar o espectador que não conseguiu acompanhar as séries próprias de cada um em sua totalidade), essa primeira temporada caminha em uma jornada tão eficiente quanto genérica, tão competente quanto conservadora, apostando muito mais na interação forçada entre estes quatro improváveis heróis do que propriamente na construção de uma temática arrojada ou que vá além do foi oferecido até aqui. Não chega a ter um resultado ruim, em seus momentos mais fracos flerta com um nível de frustração apenas moderado, mas dentro de um quadro geral os oito episódios mantém um bom e aceitável nível de qualidade.

    O roteiro de “Os Defensores” insere os planos da nova vilã Alexandra (Sigouney Weaver), vulgo Tentáculo, e tem a preocupação de inicialmente fazer com que personagens secundários de cada uma das séries surjam de maneira bastante orgânica em núcleos diferentes do que estávamos acostumados e à medida que a trama avança, a trajetória dos quatro protagonistas vai se aproximando, inicialmente em pares até que eles finalmente se encontram. O estilo da direção, o tom da fotografia e da montagem adotados em cada um dos núcleos respeita a linguagem adotada em cada uma das séries, o que facilita a identificação visual e da personalidade de cada um dos personagens. Embora algumas transições de núcleo sugiram falta de acabamento por parte do roteiro, a estrutura macro utilizada para promover essa reunião se mostra bem desenhada, afinal tudo funciona no seu devido lugar, cumpre a sua missão e ainda culmina com um clímax muito bem encenado e ensaiado que resulta em uma sequência de luta bastante dinâmica, apostando em cortes falsos e movimentos circulares de câmera para simular um plano-sequência, algo que se repete e funciona muito bem também em outros momentos, inclusive no clímax da temporada.

    A dinâmica entre Matt Murdock (Charlie Cox), Jessica Jones (Krysten Ritter), Luke Cage (Mike Colter) e Danny Randon (Finn Jones) funciona desde o primeiro encontro, especialmente para estabelecer as diferentes personalidades (o receio de Matt, o deboche de Jessica, o pavio curto de Luke, a ingenuidade de Danny), quase sempre apostando no bom humor (Matt usa o cachecol de Jessica Jones para cobrir seu rosto e os demais reconhecem o quão ridículo isso é; o título de “Punho de Ferro Imoral” soa tão ridículo como de fato é, embora o próprio não se dê conta). Ainda que Jessica ressinta a falta de um estilo característico de luta nas sequências em que todos estão em cena, haja vista que ela não é uma lutadora (embora seu estilo funcione melhor no clímax da temporada), os demais dão conta do recado e cada um mostra o seu valor, a sua técnica, a sua identidade no campo da ação. De maneira geral, a montagem não seja a comprometer, valorizando a agilidade e a velocidade dos golpes desferidos, ainda que em alguns momentos atrapalhe com certos cortes mais bruscos, como na sequência em que ocorre em um estacionamento subterrâneo com seis personagens em ação. Naturalmente, os heróis acabam sendo liderados por Stick (Scott Glenn) até porque o final da segunda temporada de “Demolidor” o colocava no centro da conspiração mitológica que serve de base para a narrativa dessa temporada de “Os Defensores”, o que torna fácil a associação com o núcleo de Danny que por sua vez acaba sendo o fio condutor da narrativa (para o bem ou para o mal). A aproximação de Jessica Jones se dá em função da sua atuação como detetive para investigar o sumiço de um arquiteto a pedido de uma esposa e filha desesperadas enquanto que a de Luke Cage se dá por causa do seu apelo com a comunidade do Harlem através da figura de um garoto aliciado para o crime, ou seja, a ligação de ambos ocorre mais através de eventos secundários.

    A evolução natural dos eventos não impede que existam alguns furos, afinal se Stick era o último soldado do exército que protegia Punho de Ferro por que ele não se encarregou de fazê-lo diretamente ao invés de se aproximar inicialmente de Matt? O mesmo vale para a própria motivação em torno do Punho de Ferro que muda de acordo com a necessidade imediata do roteiro, ora agindo como aliado, ora como chave, ora como uma arma que não pode cair em mãos erradas, fazendo com que a trama se torne redundante e prisioneira desse mérito eventual ao passo que em diferentes momentos repete-se a mesma situação de refém da situação, inclusive envolvendo as pessoas mais próximas dos heróis. Apesar da boa presença de cena da ótima Sigouney Weaver como Alexandra (e a sua participação não vai muito além disso), o time de vilões reunidos em “Os Defensores” não faz jus as maiores virtudes da série. Madame Gao (Wai Ching Ho), por exemplo, surgiu de maneira misteriosa e impiedosa em “Demolidor”, tornou-se uma vilã genérica, uma mera caricatura do que já foi um dia em “Punho de Ferro” e aqui se apresenta apenas como uma capanga qualquer, sem apelo algum. Qualquer traço de complexidade dramática de Elektra, seja como “Céu Negro” ou como potencial romântico de Matt, fica prejudicado pela interpretação monocromática da limitada Elodie Young ao passo que dois novos vilões, Sowande (Babs Olusanmokum), conhecido como “Chapéu Branco“, e Murakami (Yutaka Takeuchi), um antagonista que só fala em japonês, embora seja compreendido pelos demais, são mal introduzidos e se apresentam como adições inexpressivas e infrutíferas. Bakuto (Ramon Rodriguez) que já havia dado o ar da graça em “Punho de Ferro”, mas sem dizer ao que veio, mantém o mesmo fraco apelo.

    Em termos de diálogos, os questionamentos e a interação entre os heróis ocorrem de maneira coerente com a personalidade de cada um, apesar de algumas redundâncias e da quantidade reduzida de diálogos expositivos. Outros diálogos possuem qualidade mais discutível, especialmente pelas incontáveis vezes em que expressões genéricas como “nós estamos do mesmo lado” ou “quanto menos você souber, melhor será” são utilizadas para tentar explicar o que está acontecendo de maneira genérica, pelo caminho mais fácil. A trilha sonora é composta por melodias que remetem a outras já ouvidas nas séries anteriores, logo a sensação de dèja vu é inevitável, ainda assim a música-tema que serve de abertura não deixa de ter o seu apelo misterioso e grandioso assim como merece destaque um momento em que Matt Murdock inicia uma melodia em um piano até ser interrompido e a trilha sonora assume essa mesma continuidade melódica. Em contrapartida, o uso de um rap em um momento-chave do clímax da ação em um dos últimos episódios da temporada soa totalmente deslocado e inapropriado. O fato da trama da temporada girar parcialmente em torno da importância de Punho de Ferro não deixa de ser o calcanhar de Aquiles de “Os Defensores”, afinal mesmo que Danny tenha seu potencial cômico alavancado, especialmente com a sua boa interação com Luke Cage, não chega a ser bom o suficiente para fazer com que o personagem se torne mais simpático e/ou empático. A falta de carisma e talento de Finn Jones não contribui a favor da narrativa ainda que não comprometa o apelo da série como um todo e nem prejudique a mitologia dos outros personagens. Mike Colter é um poço de carisma mesmo que Luke Cage seja eventualmente alçado a condição de coadjuvante dentro da série com um campo de atuação bastante reduzido. Krysten Ritter continua sendo uma Jessica Jones irresistível com o seu estilo de humor debochado e politicamente incorreto, funcionando muito bem na parceria com Matt Murdock, sendo responsável pelas melhores tiradas, enquanto que cabe a Charlie Cox e o seu Demolidor servirem como o centro emocional da narrativa. A sua preocupação com o impacto das ações de heroísmo do seu personagem com relação às pessoas ao seu redor são extremamente legítimas, inclusive na sua relação com Elektra que funciona muito mais pelos esforços de Cox do que em função do apelo sustentado por Young, como já comentado.

    O desfecho de “Os Defensores” tem um problema central que vai de encontro com aquela máxima de solucionar problemas de uma trama sobrenatural e/ou espiritual e/ou filosófica através da utilização de tiros, socos, lutas e explosões, o que não deixa de ser uma tremenda contradição, porém o investimento da série na dinâmica dos personagens mostra que funcionou pelo senso de preocupação coletiva e de camaradagem entre seus membros que foi construída até alcançar o seu clímax, ainda que haja indícios que eles voltarão a seguir em carreiras solo antes de uma nova reunião. Eficiente e moderadamente competente, mesmo que não se destaque em comparação às outras (com exceção da fraca primeira temporada de “Punho de Ferro”), a sensação que se tem é que a primeira temporada de “Os Defensores” é apenas o primeiro “round” de uma luta pela qual vale a pena brigar.

    7.5/10

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