Bom filme. A história é bastante interessante e o roteiro - principalmente os diálogos - competente. Pena que seja longo demais. Um pouco mais de agilidade na montagem e talvez o resultado teria sido melhor. O elenco é ótimo, Chastain, Elba e Costner, todos muito bem.
Filme de excepcional visual que traz um herói trágico nos moldes da literatura romântica do século XIX (o sujeito tem o rosto deformado durante uma batalha na Primeira Guerra), Au revoir là-haut é uma boa aventura/comédia/drama, que, no entanto, peca justamente no desenvolvimento de um dos seus protagonistas. À princípio, temos certa empatia pelo personagem trágico Edouard e suas máscaras, todavia, ao longo da projeção, o mesmo acaba por perder importância e, ao final, tem uma derrapada quase imperdoável. Ainda bem que, para compensar, temos outro protagonista, Maillard, vivido pelo próprio diretor. Esse sim eu diria que é o verdadeiro herói da história.
Como dito acima, o visual excepcional é a grande sacada de Au revoir là-haut. Desde o plano sequência de abertura com a câmera seguindo um cachorro em meio as trincheiras da primeira guerra, as ótimas cenas de batalha, outros planos sequência bem colocados, o uso das cores e a direção de arte são um deleite para os olhos. Pena que Edouard, que tinha tudo para ser ótimo, torna-se um desperdício.
Pow, Kobayashi, assim você mata nóis! Que filme é esse!? Achei quase tão bom quanto a obra-prima Harakiri. Tecnicamente perfeito, aliado a uma atuação impressionante de Toshiro Mifune - aqui "botando cornos" no Kurosawa - , Kobayashi, mais uma vez, coloca seus protagonistas contra o sistema de subserviência feudal do Japão do Xogunato. Cenas antológicas é o que não faltam, com grande destaque para o duelo final, onde o suspense gerado é tão impactante quanto o derradeiro tiroteio de Três Homens Em Conflito.
Esse é o típico exemplar de cinema onde não há o que reclamar. Trilha sonora. Direção de Arte. Roteiro. Montagem. Atuações. Tudo soa como uma bela sinfonia. Obrigado, Mestre Kobayashi e viva ao cinema nipônico dos anos cinquenta e sessenta!
Esse filme é um caso curioso. Ao mesmo tempo em que consegue ser belíssimo - a cena de abertura - da coroação - e a cena final são pinturas, consegue também, principalmente na montagem, ser quase amador. É um bom exemplar do cinema soviético, bastante influenciado pelo expressionismo alemão a meu ver, contudo é arrastado e os cortes não conseguem dar dimensão exata de sua cronologia. Não posso usar de desculpa o fato de ser um filme dos anos quarenta já que nessa época já tínhamos obras seminais em qualidade técnica, nesse sentido, em boa parte do planeta.
Filme mais atual do que nunca, ainda mais em se tratando de Brasil (não dá para não destacar os planos de reforma previdencial tupiniquim). Nesse soberbo exemplar do neorrealismo italiano, temos o simpático velhinho Umberto - na companhia do seu fiel cãozinho Flike - tendo que se virar para dar conta de pagar suas contas num país - recém saído da guerra - com problemas financeiros terríveis a ponto de não poder arcar com uma pensão descente aos trabalhadores aposentados. Soma-se isso a falta de solidariedade da dondoca dona do imóvel onde Umberto é locador de um cômodo, o abandono da velhice e a falta de boa saúde, temos uma situação limite filmada com maestria documental pelo cineastas Vittorio De Sica.
Tão tocante quanto Ladrões de Bicicleta, porém, pelo menos ao seu final, um pouquinho mais otimista, Umberto D torna-se obrigatório, ainda mais para nós, brasileiros mais jovens, que temos a dignidade da nossa velhice ameaçada.
Bom trabalho do estadunidense Sidney Lumet, dessa vez numa trama passada no Reino Unido. Sean Connery - numa de suas melhores atuações - é o atormentado policial envolvido numa investigação de abuso infantil que o leva a tomar medidas drásticas, trazendo dolorosas consequências para sua carreira e vida pessoal.
O filme todo sustenta-se no estudo desse personagem e Connery carrega o filme nas costas. Pena que Lumet, aqui, mostra-se arrastado, comprometendo o resultado final. O que tinha potencial para ser mais uma obra-prima do mestre, torna-se apenas um bom filme. No entanto, Lumet tem crédito de sobra.
Traz muito em comum com a obra-prima, também soviética, Vá e Veja, além, de curiosamente, a diretora Larisa Shepitko, ser esposa do realizador do primeiro. Filmado de forma quase documental, num preto e branco angustiante, mostra os horrores da guerra através do sofrimento das pessoas do campo e dos dispersos soldados do exército vermelho. A crueldade nazista também é denunciada, assim como a covardia de quem trai seus compatriotas.
Excelente trabalho de Larisa que, apesar de melancólico, não cai no drama fácil. O final é de dar um nó na garganta.
Soberba continuação de Jean de Florette focada agora em Manon, a filha de Jean, agora uma jovem e bela camponesa, quase selvagem, embora tenha absorvido muito dos conhecimentos do seu progenitor. Ugolin reaparece menos asqueroso, no entanto digno de pena. Soubeyran também está de volta, tão maquiavélico quanto no primeiro filme, pelo menos até sua metade.
Aqui a ganância perde espaço para outros sentimentos como obsessão e vingança. Emmanuelle Béart, em sua estreia no cinema, está muito bem como a Manon mais velha. Além da semelhança física com a garotinha do filme anterior, Béart mantém a mesma forma de atuação, marcada pelo olhar expressivo. Daniel Auteuil continua excelente como Ugolin e toda parte técnica mantém o nível. O roteiro encerra a história iniciada em Jean de Florette de forma pra lá de satisfatória com final digno da qualidade dessa obra ímpar do cinema francês. A última cena é uma pintura.
Conto clássico sobre cobiça e inveja magistralmente conduzido por Claude Berri, diretor que até então me era desconhecido. Gérard Depardieu é Jean, que da o nome ao longa, um homem da cidade que herda uma propriedade na zona rural francesa. Otimista e bem intencionado, o corcunda inicia, com suas próprias mãos e com a ajuda da esposa e de sua pequena filha Manon, o cultivo da terra e a criação de coelhos. Contudo, a cobiça desenfreada dos seus vizinhos pela sua terra (rica em água e de solo fértil), encabeçados pelo maquiavélico Soubeyran e o dissimulado Ugolin, pode colocar todo seu esforço em xeque.
Jean de Florette é baseado numa obra da literatura do século XX, embora, em sua essência traga muito dos clássicos do século anterior. Sua adaptação cinematográfica é primorosa, tanto esteticamente - o filme é um deslumbre de cores e natureza - quanto em roteiro, muito bem construído e envolvente. O elenco é de primeira, com destaque para Daniel Auteuil e seu asqueroso Ugolin, o tipo de vilão mais torpe que existe, o lobo em pele de cordeiro. Depardieu também dá um show com seu personagem simpático e trabalhador. Em algumas cenas chega, realmente, a ser angustiante ver o esforço do homem em tentar, de todas as maneiras, levar a cabo seu plano para com sua propriedade, quase sempre dando com os burros n'água por conta de terceiros. A trilha sonora também é outra coisa a ser elogiada, a partitura, em alguns momentos, me lembrou o também fantástico trabalho de Nino Rota em o Poderoso Chefão.
Para mim, Jean de Florette foi uma mais do que grata surpresa. Já tinha ouvido falar do longa vagamente, todavia não imaginava que fosse excelente. Agora é me preparar para o que vem em seguida com sua continuação direta: A Vingança de Manon.
Competente noir do Fritz Lang. Como sempre, tecnicamente muito bom. O roteiro apresenta ótimos diálogos embora a trama, de modo geral, não seja lá muito instigante. Outro ponto fraco é o elenco. Nenhum personagem consegue despertar empatia talvez pelo desempenho medíocre dos atores. Contudo, ainda é Lang, que mesmo em filmes menores se mostra acima da média.
O segundo longa da saga Yakuza Papers não faz feio frente ao primeiro e continua sua escalada de violência frenética na luta pelo poder e território entre os membros da Yakuza do pós Guerra. Aqui temos um novo protagonista, um sujeito que cumpriu pena com Hirono, cronologicamente no primeiro filme, mas que não tínhamos conhecimento até então. Ao sair da prisão o mesmo é escalado para atuar num clã de Hiroshima, cidade em recuperação devido a destruição pela Bomba em 45, campo fértil para o crime organizado.
Kinji Fukasaku continua como diretor e novamente traz seu ritmo acelerado - as vezes até exagerado - e muito sangue e traições. O protagonista do filme anterior, Shozo Hirono, também da as caras em momentos chave do longa fazendo um ótimo trabalho de "linkagem" entre os personagens.
Primeiro filme que vejo do diretor tcheco Frantisek Vlácil. Valendo-se de certo suspense e trilha sonora tétrica, Armadilha do Diabo passa-se na Boemia do século XVI e trata do embate entre religião e ciência. Num pequeno vilarejo, um simples moleiro mostra-se grande conhecedor da geologia do lugar e consegue descobrir água em abundância numa época de grande seca. Todavia, tal feito desperta a ira de um Padre recém chegado e do governador do lugar. Ambos, apoiados na inveja e na cegueira religiosa, acreditam tratar-se de obra do Diabo.
O cinema de Vlácil é bem executado. O diretor, nesse longa, trouxe algumas inovações na maneira de filmar para a época. O roteiro traz um bom tema, contudo, no final da uma pequena escorregada, mas nada que comprometa o resultado final que ainda é bastante satisfatório.
Sei que esse longa trata-se do primeiro de uma trilogia. Agora fiquei curioso sobre os outros dois e, provavelmente, os verei em breve.
Depois de conferir o excelente Lanternas Vermelhas, assisti ao filme anterior de Zhang Yimou, Amor e Sedução, uma obra muito boa, que trata temas também presentes no Lanternas, como patriarcado e o tratamento reservado as mulheres chinesas, etc. Contudo aqui, há toda a trama de adultério e erotismo - sem ser explícito - envolvendo a personagem de Gong Li - sempre ótima - e o sobrinho de seu esposo. Também temos ao longo da projeção a adição de uma criança, que acaba por levar o filme para um caminho um tanto quanto surpreendente.
Tecnicamente é mais uma obra impecável do cineasta chinês. O uso dos tecidos, das cores, tudo de extremo de bom gosto. Um colírio para os olhos.
Muito bom esse longa tupiniquim realizado por Roberto Pires, diretor que até então eu desconhecia. Pistoleiro alagoano é despachado à Salvador para dar cabo de um político, no melhor estilo coroné, de extrema influência na região. A trama é crítica ao coronelismo nordestino e sua forma de repressão através da política e da violência. Chega a ser irônico assistir aos diálogos utópicos de um jovem deputado sobre a "libertação do país" do jugo desse tipo de elite política praticamente às vésperas do Golpe Militar (o longa é de 1962).
A cena de abertura e os créditos iniciais são surpreendentes para um filme do começo dos anos sessenta, ainda mais brasileiro. Cheio de estilo, antecipou uma estética que viria a ser usada somente no final da década e muito mais nos anos setenta. O protagonista é vivido por um jovem Agildo Ribeiro (no único papel dramático que eu testemunhei do mesmo), sendo um boa atuação. Aliás, o maior defeito do filme encontra-se justamente nesse quesito. Enquanto Agildo manda bem, a grande maioria do elenco é muito ruim, principalmente o sujeito que faz o deputado jovem e idealista com voz de locutor.
Tocaia no Asfalto está disponível no YouTube numa versão restaurada de 2007. Vale a pena dar uma conferida.
Para mim um dos filmes definitivos sobre feminismo. Enquanto o mundo inteiro, hoje, venera como exemplo de luta contra o patriarcado a Mulher-Maravilha, lá em 2004, Ousmane Sembene nos apresentava Collé, uma senegalesa, mulher do povo, que mesmo vivendo na extrema pobreza e sob o jugo cultural/religioso/patriarcal do seu vilarejo, luta uma árdua batalha para que quatro garotinhas não sofram o ritual de "purificação" onde órgão sexual feminino é mutilado de maneira extremamente cruel. Para que ninguém toque nas meninas, Collé faz uso do Moolaadé, uma espécie de "proteção mágica" oriunda ainda das crendices pré islamismo do local, fato que traz uma dicotomia interessante, no sentido religioso/cultural, ao longa.
Collé não tem super-força, nem laço da verdade e muito menos é filha de um Deus. Contudo, exibe uma extraordinária e comovente coragem no combate ao ato cruel, deixando os homens do vilarejo terrivelmente irritados. Após a revolta da brava Collé, o vilarejo nunca mais será o mesmo.
Ousmane Sembene filma de forma quase documental. Sem floreios, o cineasta usa sua câmera numa poderosa crítica ao patriarcado, sem também deixar de cutucar o capital, representado pela figura do comerciante apelidado de Mercenário, sujeito que explora os nativos com a venda de seus produtos pois exerce um monopólio comercial no lugar.
Esse é o terceiro longa de Sembene que vejo. Dos três, é o melhor. O mais completo. O mais belo em sua mensagem. Uma pena que Moolaadé não tenha o reconhecimento que merece, pois no momento em que temos heroína da DC como exemplo máximo de feminismo no cinema, alguma coisa está errada.
Depois de se dar mal em Hollywood com o fraco O Último Desafio, Kim Jee Woon volta à sua terra natal para nos presentear com esse ótimo thriller de espionagem. Passado na época da ocupação japonesa na Coréia, A Era da Escuridão trata dos conflitos e dilemas dos membros da Resistência coreana em meio ao domínio nipônico. Como de praxe, Woon não poupa nas sequências de ação magistralmente filmadas e coreografadas. O elenco é todo formado por colaboradores frequentes do cineasta, com destaque para o sempre ótimo Kang-ho Song, aqui num papel bastante dramático. Outro destaques são a direção de arte e uma sequência longuíssima passada dentro de um trem, muito bem realizada, e calcada no suspense.
Só mesmo o velho Hitch para nos deixar quase duas horas grudados em frente a tela num longa passado, praticamente, num único cenário cuja ação e suspense são conduzidos através dos diálogos. Façanha que ele também tinha feito em Rope e Lifeboat, contudo Disque M Para Matar, mesmo sendo inferior aos dois citados, ainda sim dá um bom caldo.
Neo-noir de Zhang Yimou plasticamente perfeito e com uma baita atuação de Gong Li. A primeira metade é um tanto arrastada e cheguei a temer pela qualidade da narrativa. Ainda bem que do meio para frente, a trama muda de foco culminando num final surpreendente. A última cena é sensacional.
Filme de Henri-Georges Clouzot à frente do seu tempo, onde uma trama que a princípio é de mistério, torna-se um mosaico da população de uma pequena cidade. Adultério, aborto, a Igreja são alguns dos temas abordados graças ao suspense criado em torno das cartas do misterioso Corvo.
Funciona muito bem como cinema. Duvidoso como relato histórico. Em O Processo da Revolução, a figura de Danton é alçada a grande e injustiçada vítima do processo de Terror de Robespierre, num maniqueísmo bastante suspeito por parte do diretor. Basta ver a caracterização de ambos: Danton, alto, imponente, falastrão, bem-humorado. Robespierre, baixinho, carrancudo, de poucas palavras na maioria da vezes. Claro, o público será condicionado a torcer pelo primeiro.
Não sou grande conhecedor da Revolução Francesa, porém sempre tive mais apreço à figura de Robespierre. Tirando a questão do maniqueísmo, não há como negar que Andrzej Wajda é um ótimo diretor. Um filme que facilmente poderia cair no tédio, nas mãos do polonês, vira um thriller político de primeira, acompanhado de uma sinistra - e ótima - trilha sonora. Isso sem falar nos outros méritos técnicos como fotografia, direção de arte, atuações e o mise en scène, principalmente as de tribunal e as das reuniões do comitê.
Muito bom esse longa russo focado na sniper Lyudmila Pavlichenko, do exército soviético, que durante a Segunda Guerra deu cabo de mais de trezentos nazistas. A narrativa é dividida entre Pavlichenko em combate, principalmente na defensiva soviética à cidade de Sevastopol, e entre a sniper em visita aos EUA, onde fez uma turnê(!?) no ano de 1942 e desenvolveu amizade com a primeira dama que, ao que parece, perdurou por anos (fato que eu desconhecia).
Tecnicamente, é um filme bem acabado. Pena que, como já é costumeiro no cinema de guerra russo atual, caia no melodrama fácil em diversos momentos. Todavia, mesmo com defeitos, ainda é uma boa pedida, já que é sempre bom conhecermos heróis, do maior conflito da história da humanidade, que venham de fora do eixo EUA e Europa Central.
Alejandro Amenábar matou a pau com o jovem clássico Ágora em 2009, contudo, seu filme seguinte, Regressão, apesar de ter como mote os perigos da histeria coletiva, não consegue segurar as pontas por conta de um anti-clímax, compreensível do ponto de vista da mensagem, porém brochante como cinema. Outro erro foi a escalação da superestimada Emma Watson, num papel de suma importância para a trama do filme, que aqui tem péssima atuação.
A direção do filme é boa, a escalação de Ethan Hawke idem. Amenábar consegue, até certo ponto, criar suspense através de um ambiente paranoico, onde em determinado momento, ficamos tão perdidos quanto o protagonista. Pena que em toda cena onde é exigida, Emma Watson entrega uma performance mequetrefe, praticamente nula. Para piorar, sua personagem, importantíssima para a trama, não é lá muito bem desenvolvida. Uma pena já que até a metade, Regressão, era um longa bem promissor.
Deixar Mudbound fora das premiações do início do ano é um crime. A desculpa do longa ser uma produção financiada pela Netflix e que esse fator pese negativamente entre os da "cadimia" não cola. Mudbound é melhor do que qualquer um dos nove indicados. Ainda por cima, trata a questão do racismo de forma pertinente, dolorosa e pé no chão. Já que o show business estadunidense ultimamente está voltado para esse tipo de questão - vide o sucesso avassalador de Pantera Negra - por quê não dar o reconhecimento para uma obra que, verdadeiramente, mergulha em águas profundas sobre o assunto?
Muito bem colocado historicamente, Mudbound é rico em bons personagens. A diretora, Dee Rees (quando eu penso que a tal de Greta do fraco Ladybird foi indicada e não ela, chega a me dar comichões), conseguiu ótimas atuações do elenco, com destaque para Jonathan Banks (falar bem desse aqui é chover no molhado) e Rob Morgan (essa cara é ótimo). A trama envolta nos dramas de uma família de negros e uma família de brancos no Mississipi dos quarenta envolta, ainda, com a questão dos traumas pós segunda guerra mundial, pobreza e as tensões raciais é muito bem conduzida. Cada personagem tem seu momento para brilhar e mesmo os mais odiáveis - como o Pappy do Banks - não caem na armadilha da inverossimilidade. Tecnicamente, o longa também não deixa por menos, numa excelente direção de arte e fotografia competente.
No final, Mudbound foi uma obra que preencheu todos os requisitos e ainda assim ficou de fora da festa. Ignorado pelos caducos sim, contudo lembrado com muito carinho e reflexão pelos expectadores comuns.
PS: A Netflix Brasil pisou feio na bola em não liberar esse filme na plataforma. Espero que pelo menos tenha a decência de quando o fizer, dar o suporte de divulgação à altura da obra. Afinal, das dezenas de longas financiadas pela companhia, esse é o melhor.
Visualmente espetacular da primeira à última cena, nem dá para crer que trata-se de o mesmo diretor de A Muralha, bomba com Matt Damon. Lanternas Vermelhas é o melhor do cinema chinês, não só em beleza como roteiro e atuações. O tom teatral aliado a estupenda fotografia fisga do espectador de imediato. Esse tipo de filme costuma ter um desenvolvimento bem arrastado, coisa que não senti em Lanternas Vermelhas, muito pelo contrário. As duas horas e pouco de projeção passaram rápido.
O roteiro faz um microcosmo da sociedade chinesa do início do século XX, onde os nobres tinham riquezas a perder de vista, influência e servos, muitos servos - estes extremamente subservientes, com exceção da criada Yan'er. Além disso, o patriarcado do extremo oriente, como não poderia deixar de ser, bastante opressor. As quatro esposas do "Senhor" - sempre distante da lente do diretor Zhang Yimou para representar também o modo distante com que o nobre lida com suas mulheres - convivem com o luxo, contudo são esmagadas pelo tédio e pela disputa - entre elas - da atenção do nobre. Yimou sabe construir a tensão entre as esposas num intenso crescendo que culmina num final primoroso.
O elenco é liderado pela ótima Gong Li - a quarta esposa e protagonista do filme que casa com o nobre pois perdeu seus pais e precisa fugir da pobreza. A jovem chegou a cursar a universidade por alguns meses, todavia não teve como pagar seus estudos sendo obrigada a deixar a independência de lado e embarcar nesse modo de vida onde há fartura e conforto ao mesmo tempo que um clima opressor, quase tirânico.
Já assisti a alguns filmes de Yimou, porém Lanternas Vermelhas, até o momento, para mim, é o seu melhor trabalho. Sem dúvida, merece a fama que tem.
A Grande Jogada
3.7 342 Assista AgoraBom filme. A história é bastante interessante e o roteiro - principalmente os diálogos - competente. Pena que seja longo demais. Um pouco mais de agilidade na montagem e talvez o resultado teria sido melhor. O elenco é ótimo, Chastain, Elba e Costner, todos muito bem.
Nos Vemos no Paraíso
4.0 52 Assista AgoraFilme de excepcional visual que traz um herói trágico nos moldes da literatura romântica do século XIX (o sujeito tem o rosto deformado durante uma batalha na Primeira Guerra), Au revoir là-haut é uma boa aventura/comédia/drama, que, no entanto, peca justamente no desenvolvimento de um dos seus protagonistas. À princípio, temos certa empatia pelo personagem trágico Edouard e suas máscaras, todavia, ao longo da projeção, o mesmo acaba por perder importância e, ao final, tem uma derrapada quase imperdoável. Ainda bem que, para compensar, temos outro protagonista, Maillard, vivido pelo próprio diretor. Esse sim eu diria que é o verdadeiro herói da história.
Como dito acima, o visual excepcional é a grande sacada de Au revoir là-haut. Desde o plano sequência de abertura com a câmera seguindo um cachorro em meio as trincheiras da primeira guerra, as ótimas cenas de batalha, outros planos sequência bem colocados, o uso das cores e a direção de arte são um deleite para os olhos. Pena que Edouard, que tinha tudo para ser ótimo, torna-se um desperdício.
Rebelião
4.5 37Pow, Kobayashi, assim você mata nóis! Que filme é esse!? Achei quase tão bom quanto a obra-prima Harakiri. Tecnicamente perfeito, aliado a uma atuação impressionante de Toshiro Mifune - aqui "botando cornos" no Kurosawa - , Kobayashi, mais uma vez, coloca seus protagonistas contra o sistema de subserviência feudal do Japão do Xogunato. Cenas antológicas é o que não faltam, com grande destaque para o duelo final, onde o suspense gerado é tão impactante quanto o derradeiro tiroteio de Três Homens Em Conflito.
Esse é o típico exemplar de cinema onde não há o que reclamar. Trilha sonora. Direção de Arte. Roteiro. Montagem. Atuações. Tudo soa como uma bela sinfonia. Obrigado, Mestre Kobayashi e viva ao cinema nipônico dos anos cinquenta e sessenta!
Ivan, o Terrível - Parte I
4.1 50 Assista AgoraEsse filme é um caso curioso. Ao mesmo tempo em que consegue ser belíssimo - a cena de abertura - da coroação - e a cena final são pinturas, consegue também, principalmente na montagem, ser quase amador. É um bom exemplar do cinema soviético, bastante influenciado pelo expressionismo alemão a meu ver, contudo é arrastado e os cortes não conseguem dar dimensão exata de sua cronologia. Não posso usar de desculpa o fato de ser um filme dos anos quarenta já que nessa época já tínhamos obras seminais em qualidade técnica, nesse sentido, em boa parte do planeta.
Umberto D.
4.4 124 Assista AgoraFilme mais atual do que nunca, ainda mais em se tratando de Brasil (não dá para não destacar os planos de reforma previdencial tupiniquim). Nesse soberbo exemplar do neorrealismo italiano, temos o simpático velhinho Umberto - na companhia do seu fiel cãozinho Flike - tendo que se virar para dar conta de pagar suas contas num país - recém saído da guerra - com problemas financeiros terríveis a ponto de não poder arcar com uma pensão descente aos trabalhadores aposentados. Soma-se isso a falta de solidariedade da dondoca dona do imóvel onde Umberto é locador de um cômodo, o abandono da velhice e a falta de boa saúde, temos uma situação limite filmada com maestria documental pelo cineastas Vittorio De Sica.
Tão tocante quanto Ladrões de Bicicleta, porém, pelo menos ao seu final, um pouquinho mais otimista, Umberto D torna-se obrigatório, ainda mais para nós, brasileiros mais jovens, que temos a dignidade da nossa velhice ameaçada.
Até os Deuses Erram
3.4 15Bom trabalho do estadunidense Sidney Lumet, dessa vez numa trama passada no Reino Unido. Sean Connery - numa de suas melhores atuações - é o atormentado policial envolvido numa investigação de abuso infantil que o leva a tomar medidas drásticas, trazendo dolorosas consequências para sua carreira e vida pessoal.
O filme todo sustenta-se no estudo desse personagem e Connery carrega o filme nas costas. Pena que Lumet, aqui, mostra-se arrastado, comprometendo o resultado final. O que tinha potencial para ser mais uma obra-prima do mestre, torna-se apenas um bom filme. No entanto, Lumet tem crédito de sobra.
A Ascensão
4.3 61Traz muito em comum com a obra-prima, também soviética, Vá e Veja, além, de curiosamente, a diretora Larisa Shepitko, ser esposa do realizador do primeiro. Filmado de forma quase documental, num preto e branco angustiante, mostra os horrores da guerra através do sofrimento das pessoas do campo e dos dispersos soldados do exército vermelho. A crueldade nazista também é denunciada, assim como a covardia de quem trai seus compatriotas.
Excelente trabalho de Larisa que, apesar de melancólico, não cai no drama fácil. O final é de dar um nó na garganta.
A Vingança de Manon
4.4 37Soberba continuação de Jean de Florette focada agora em Manon, a filha de Jean, agora uma jovem e bela camponesa, quase selvagem, embora tenha absorvido muito dos conhecimentos do seu progenitor. Ugolin reaparece menos asqueroso, no entanto digno de pena. Soubeyran também está de volta, tão maquiavélico quanto no primeiro filme, pelo menos até sua metade.
Aqui a ganância perde espaço para outros sentimentos como obsessão e vingança. Emmanuelle Béart, em sua estreia no cinema, está muito bem como a Manon mais velha. Além da semelhança física com a garotinha do filme anterior, Béart mantém a mesma forma de atuação, marcada pelo olhar expressivo. Daniel Auteuil continua excelente como Ugolin e toda parte técnica mantém o nível. O roteiro encerra a história iniciada em Jean de Florette de forma pra lá de satisfatória com final digno da qualidade dessa obra ímpar do cinema francês. A última cena é uma pintura.
Jean de Florette
4.4 51Conto clássico sobre cobiça e inveja magistralmente conduzido por Claude Berri, diretor que até então me era desconhecido. Gérard Depardieu é Jean, que da o nome ao longa, um homem da cidade que herda uma propriedade na zona rural francesa. Otimista e bem intencionado, o corcunda inicia, com suas próprias mãos e com a ajuda da esposa e de sua pequena filha Manon, o cultivo da terra e a criação de coelhos. Contudo, a cobiça desenfreada dos seus vizinhos pela sua terra (rica em água e de solo fértil), encabeçados pelo maquiavélico Soubeyran e o dissimulado Ugolin, pode colocar todo seu esforço em xeque.
Jean de Florette é baseado numa obra da literatura do século XX, embora, em sua essência traga muito dos clássicos do século anterior. Sua adaptação cinematográfica é primorosa, tanto esteticamente - o filme é um deslumbre de cores e natureza - quanto em roteiro, muito bem construído e envolvente. O elenco é de primeira, com destaque para Daniel Auteuil e seu asqueroso Ugolin, o tipo de vilão mais torpe que existe, o lobo em pele de cordeiro. Depardieu também dá um show com seu personagem simpático e trabalhador. Em algumas cenas chega, realmente, a ser angustiante ver o esforço do homem em tentar, de todas as maneiras, levar a cabo seu plano para com sua propriedade, quase sempre dando com os burros n'água por conta de terceiros. A trilha sonora também é outra coisa a ser elogiada, a partitura, em alguns momentos, me lembrou o também fantástico trabalho de Nino Rota em o Poderoso Chefão.
Para mim, Jean de Florette foi uma mais do que grata surpresa. Já tinha ouvido falar do longa vagamente, todavia não imaginava que fosse excelente. Agora é me preparar para o que vem em seguida com sua continuação direta: A Vingança de Manon.
No Silêncio de uma Cidade
3.8 22Competente noir do Fritz Lang. Como sempre, tecnicamente muito bom. O roteiro apresenta ótimos diálogos embora a trama, de modo geral, não seja lá muito instigante. Outro ponto fraco é o elenco. Nenhum personagem consegue despertar empatia talvez pelo desempenho medíocre dos atores. Contudo, ainda é Lang, que mesmo em filmes menores se mostra acima da média.
Duelo em Hiroshima
3.9 3O segundo longa da saga Yakuza Papers não faz feio frente ao primeiro e continua sua escalada de violência frenética na luta pelo poder e território entre os membros da Yakuza do pós Guerra. Aqui temos um novo protagonista, um sujeito que cumpriu pena com Hirono, cronologicamente no primeiro filme, mas que não tínhamos conhecimento até então. Ao sair da prisão o mesmo é escalado para atuar num clã de Hiroshima, cidade em recuperação devido a destruição pela Bomba em 45, campo fértil para o crime organizado.
Kinji Fukasaku continua como diretor e novamente traz seu ritmo acelerado - as vezes até exagerado - e muito sangue e traições. O protagonista do filme anterior, Shozo Hirono, também da as caras em momentos chave do longa fazendo um ótimo trabalho de "linkagem" entre os personagens.
Armadilha do Diabo
4.0 9Primeiro filme que vejo do diretor tcheco Frantisek Vlácil. Valendo-se de certo suspense e trilha sonora tétrica, Armadilha do Diabo passa-se na Boemia do século XVI e trata do embate entre religião e ciência. Num pequeno vilarejo, um simples moleiro mostra-se grande conhecedor da geologia do lugar e consegue descobrir água em abundância numa época de grande seca. Todavia, tal feito desperta a ira de um Padre recém chegado e do governador do lugar. Ambos, apoiados na inveja e na cegueira religiosa, acreditam tratar-se de obra do Diabo.
O cinema de Vlácil é bem executado. O diretor, nesse longa, trouxe algumas inovações na maneira de filmar para a época. O roteiro traz um bom tema, contudo, no final da uma pequena escorregada, mas nada que comprometa o resultado final que ainda é bastante satisfatório.
Sei que esse longa trata-se do primeiro de uma trilogia. Agora fiquei curioso sobre os outros dois e, provavelmente, os verei em breve.
Amor e Sedução
4.1 24Depois de conferir o excelente Lanternas Vermelhas, assisti ao filme anterior de Zhang Yimou, Amor e Sedução, uma obra muito boa, que trata temas também presentes no Lanternas, como patriarcado e o tratamento reservado as mulheres chinesas, etc. Contudo aqui, há toda a trama de adultério e erotismo - sem ser explícito - envolvendo a personagem de Gong Li - sempre ótima - e o sobrinho de seu esposo. Também temos ao longo da projeção a adição de uma criança, que acaba por levar o filme para um caminho um tanto quanto surpreendente.
Tecnicamente é mais uma obra impecável do cineasta chinês. O uso dos tecidos, das cores, tudo de extremo de bom gosto. Um colírio para os olhos.
Tocaia no Asfalto
4.0 22Muito bom esse longa tupiniquim realizado por Roberto Pires, diretor que até então eu desconhecia. Pistoleiro alagoano é despachado à Salvador para dar cabo de um político, no melhor estilo coroné, de extrema influência na região. A trama é crítica ao coronelismo nordestino e sua forma de repressão através da política e da violência. Chega a ser irônico assistir aos diálogos utópicos de um jovem deputado sobre a "libertação do país" do jugo desse tipo de elite política praticamente às vésperas do Golpe Militar (o longa é de 1962).
A cena de abertura e os créditos iniciais são surpreendentes para um filme do começo dos anos sessenta, ainda mais brasileiro. Cheio de estilo, antecipou uma estética que viria a ser usada somente no final da década e muito mais nos anos setenta. O protagonista é vivido por um jovem Agildo Ribeiro (no único papel dramático que eu testemunhei do mesmo), sendo um boa atuação. Aliás, o maior defeito do filme encontra-se justamente nesse quesito. Enquanto Agildo manda bem, a grande maioria do elenco é muito ruim, principalmente o sujeito que faz o deputado jovem e idealista com voz de locutor.
Tocaia no Asfalto está disponível no YouTube numa versão restaurada de 2007. Vale a pena dar uma conferida.
Moolaadé
4.4 43Para mim um dos filmes definitivos sobre feminismo. Enquanto o mundo inteiro, hoje, venera como exemplo de luta contra o patriarcado a Mulher-Maravilha, lá em 2004, Ousmane Sembene nos apresentava Collé, uma senegalesa, mulher do povo, que mesmo vivendo na extrema pobreza e sob o jugo cultural/religioso/patriarcal do seu vilarejo, luta uma árdua batalha para que quatro garotinhas não sofram o ritual de "purificação" onde órgão sexual feminino é mutilado de maneira extremamente cruel. Para que ninguém toque nas meninas, Collé faz uso do Moolaadé, uma espécie de "proteção mágica" oriunda ainda das crendices pré islamismo do local, fato que traz uma dicotomia interessante, no sentido religioso/cultural, ao longa.
Collé não tem super-força, nem laço da verdade e muito menos é filha de um Deus. Contudo, exibe uma extraordinária e comovente coragem no combate ao ato cruel, deixando os homens do vilarejo terrivelmente irritados. Após a revolta da brava Collé, o vilarejo nunca mais será o mesmo.
Ousmane Sembene filma de forma quase documental. Sem floreios, o cineasta usa sua câmera numa poderosa crítica ao patriarcado, sem também deixar de cutucar o capital, representado pela figura do comerciante apelidado de Mercenário, sujeito que explora os nativos com a venda de seus produtos pois exerce um monopólio comercial no lugar.
Esse é o terceiro longa de Sembene que vejo. Dos três, é o melhor. O mais completo. O mais belo em sua mensagem. Uma pena que Moolaadé não tenha o reconhecimento que merece, pois no momento em que temos heroína da DC como exemplo máximo de feminismo no cinema, alguma coisa está errada.
A Era da Escuridão
3.8 32 Assista AgoraDepois de se dar mal em Hollywood com o fraco O Último Desafio, Kim Jee Woon volta à sua terra natal para nos presentear com esse ótimo thriller de espionagem. Passado na época da ocupação japonesa na Coréia, A Era da Escuridão trata dos conflitos e dilemas dos membros da Resistência coreana em meio ao domínio nipônico. Como de praxe, Woon não poupa nas sequências de ação magistralmente filmadas e coreografadas. O elenco é todo formado por colaboradores frequentes do cineasta, com destaque para o sempre ótimo Kang-ho Song, aqui num papel bastante dramático. Outro destaques são a direção de arte e uma sequência longuíssima passada dentro de um trem, muito bem realizada, e calcada no suspense.
Que Woon não saia tão cedo da Coréia novamente.
Disque M Para Matar
4.4 680 Assista AgoraSó mesmo o velho Hitch para nos deixar quase duas horas grudados em frente a tela num longa passado, praticamente, num único cenário cuja ação e suspense são conduzidos através dos diálogos. Façanha que ele também tinha feito em Rope e Lifeboat, contudo Disque M Para Matar, mesmo sendo inferior aos dois citados, ainda sim dá um bom caldo.
Operação Xangai
3.7 13Neo-noir de Zhang Yimou plasticamente perfeito e com uma baita atuação de Gong Li. A primeira metade é um tanto arrastada e cheguei a temer pela qualidade da narrativa. Ainda bem que do meio para frente, a trama muda de foco culminando num final surpreendente. A última cena é sensacional.
Sombras do Pavor
4.0 34 Assista AgoraFilme de Henri-Georges Clouzot à frente do seu tempo, onde uma trama que a princípio é de mistério, torna-se um mosaico da população de uma pequena cidade. Adultério, aborto, a Igreja são alguns dos temas abordados graças ao suspense criado em torno das cartas do misterioso Corvo.
Danton: O Processo da Revolução
3.8 73Funciona muito bem como cinema. Duvidoso como relato histórico. Em O Processo da Revolução, a figura de Danton é alçada a grande e injustiçada vítima do processo de Terror de Robespierre, num maniqueísmo bastante suspeito por parte do diretor. Basta ver a caracterização de ambos: Danton, alto, imponente, falastrão, bem-humorado. Robespierre, baixinho, carrancudo, de poucas palavras na maioria da vezes. Claro, o público será condicionado a torcer pelo primeiro.
Não sou grande conhecedor da Revolução Francesa, porém sempre tive mais apreço à figura de Robespierre. Tirando a questão do maniqueísmo, não há como negar que Andrzej Wajda é um ótimo diretor. Um filme que facilmente poderia cair no tédio, nas mãos do polonês, vira um thriller político de primeira, acompanhado de uma sinistra - e ótima - trilha sonora. Isso sem falar nos outros méritos técnicos como fotografia, direção de arte, atuações e o mise en scène, principalmente as de tribunal e as das reuniões do comitê.
A Sniper Russa
3.8 75 Assista Agora"NÃO MATO HOMENS. MATO FACISTAS."
Muito bom esse longa russo focado na sniper Lyudmila Pavlichenko, do exército soviético, que durante a Segunda Guerra deu cabo de mais de trezentos nazistas. A narrativa é dividida entre Pavlichenko em combate, principalmente na defensiva soviética à cidade de Sevastopol, e entre a sniper em visita aos EUA, onde fez uma turnê(!?) no ano de 1942 e desenvolveu amizade com a primeira dama que, ao que parece, perdurou por anos (fato que eu desconhecia).
Tecnicamente, é um filme bem acabado. Pena que, como já é costumeiro no cinema de guerra russo atual, caia no melodrama fácil em diversos momentos. Todavia, mesmo com defeitos, ainda é uma boa pedida, já que é sempre bom conhecermos heróis, do maior conflito da história da humanidade, que venham de fora do eixo EUA e Europa Central.
Regressão
2.8 535 Assista AgoraAlejandro Amenábar matou a pau com o jovem clássico Ágora em 2009, contudo, seu filme seguinte, Regressão, apesar de ter como mote os perigos da histeria coletiva, não consegue segurar as pontas por conta de um anti-clímax, compreensível do ponto de vista da mensagem, porém brochante como cinema. Outro erro foi a escalação da superestimada Emma Watson, num papel de suma importância para a trama do filme, que aqui tem péssima atuação.
A direção do filme é boa, a escalação de Ethan Hawke idem. Amenábar consegue, até certo ponto, criar suspense através de um ambiente paranoico, onde em determinado momento, ficamos tão perdidos quanto o protagonista. Pena que em toda cena onde é exigida, Emma Watson entrega uma performance mequetrefe, praticamente nula. Para piorar, sua personagem, importantíssima para a trama, não é lá muito bem desenvolvida. Uma pena já que até a metade, Regressão, era um longa bem promissor.
Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi
4.1 323 Assista AgoraINJUSTIÇADO DO ANO
Deixar Mudbound fora das premiações do início do ano é um crime. A desculpa do longa ser uma produção financiada pela Netflix e que esse fator pese negativamente entre os da "cadimia" não cola. Mudbound é melhor do que qualquer um dos nove indicados. Ainda por cima, trata a questão do racismo de forma pertinente, dolorosa e pé no chão. Já que o show business estadunidense ultimamente está voltado para esse tipo de questão - vide o sucesso avassalador de Pantera Negra - por quê não dar o reconhecimento para uma obra que, verdadeiramente, mergulha em águas profundas sobre o assunto?
Muito bem colocado historicamente, Mudbound é rico em bons personagens. A diretora, Dee Rees (quando eu penso que a tal de Greta do fraco Ladybird foi indicada e não ela, chega a me dar comichões), conseguiu ótimas atuações do elenco, com destaque para Jonathan Banks (falar bem desse aqui é chover no molhado) e Rob Morgan (essa cara é ótimo). A trama envolta nos dramas de uma família de negros e uma família de brancos no Mississipi dos quarenta envolta, ainda, com a questão dos traumas pós segunda guerra mundial, pobreza e as tensões raciais é muito bem conduzida. Cada personagem tem seu momento para brilhar e mesmo os mais odiáveis - como o Pappy do Banks - não caem na armadilha da inverossimilidade. Tecnicamente, o longa também não deixa por menos, numa excelente direção de arte e fotografia competente.
No final, Mudbound foi uma obra que preencheu todos os requisitos e ainda assim ficou de fora da festa. Ignorado pelos caducos sim, contudo lembrado com muito carinho e reflexão pelos expectadores comuns.
PS: A Netflix Brasil pisou feio na bola em não liberar esse filme na plataforma. Espero que pelo menos tenha a decência de quando o fizer, dar o suporte de divulgação à altura da obra. Afinal, das dezenas de longas financiadas pela companhia, esse é o melhor.
Lanternas Vermelhas
4.3 201Visualmente espetacular da primeira à última cena, nem dá para crer que trata-se de o mesmo diretor de A Muralha, bomba com Matt Damon. Lanternas Vermelhas é o melhor do cinema chinês, não só em beleza como roteiro e atuações. O tom teatral aliado a estupenda fotografia fisga do espectador de imediato. Esse tipo de filme costuma ter um desenvolvimento bem arrastado, coisa que não senti em Lanternas Vermelhas, muito pelo contrário. As duas horas e pouco de projeção passaram rápido.
O roteiro faz um microcosmo da sociedade chinesa do início do século XX, onde os nobres tinham riquezas a perder de vista, influência e servos, muitos servos - estes extremamente subservientes, com exceção da criada Yan'er. Além disso, o patriarcado do extremo oriente, como não poderia deixar de ser, bastante opressor. As quatro esposas do "Senhor" - sempre distante da lente do diretor Zhang Yimou para representar também o modo distante com que o nobre lida com suas mulheres - convivem com o luxo, contudo são esmagadas pelo tédio e pela disputa - entre elas - da atenção do nobre. Yimou sabe construir a tensão entre as esposas num intenso crescendo que culmina num final primoroso.
O elenco é liderado pela ótima Gong Li - a quarta esposa e protagonista do filme que casa com o nobre pois perdeu seus pais e precisa fugir da pobreza. A jovem chegou a cursar a universidade por alguns meses, todavia não teve como pagar seus estudos sendo obrigada a deixar a independência de lado e embarcar nesse modo de vida onde há fartura e conforto ao mesmo tempo que um clima opressor, quase tirânico.
Já assisti a alguns filmes de Yimou, porém Lanternas Vermelhas, até o momento, para mim, é o seu melhor trabalho. Sem dúvida, merece a fama que tem.