Ótimo neo-noir nipônico pautado numa linda fotografia e nos seus personagens interessantes. Flor Seca lembra um romance de David Goodis - escritor noir estadunidense - com seus personagens amargurados, que buscam encontrar sentido em suas vidas vazias.
Muraki, o protagonista, é um ex-detento, membro da Yakuza, recém saído da prisão. Perambulando pela noite, o criminoso cruza o caminho de Saeko, uma garota misteriosa que passa as noites em intensas jogatinas nos cassinos clandestinos de Tóquio. A visão da jovem, a única mulher, no meio de tantos homens cria um curioso contraste, onde a presença da bela garota deixa o ambiente mais alegre para aqueles soturnos apostadores. O envolvimento dos dois é imediato, contudo, focado na busca do "prazer" que o jogo proporciona, deixando o lado romântico sabiamente de lado, ficando esse apenas sub-entendido.
O diretor, Masahiro Shinoda, acerta em cheio na ambientação e nos apresenta um Japão ocidentalizado, com possantes carros - a cena do racha é primorosa - , bares diversos e música. As cenas passadas em pequenos becos da cidade são belíssimas e não devem nada aos melhores exemplares do gênero em preto e branco.
O final, como não poderia deixar de ser, é pessimista e vai, com certeza, agradar aos fãs do cinema noir.
A Trilogia de Apu começa maravilhosamente bem com o singelo e ao mesmo tempo intenso A Canção da Estrada. Narrado de forma realista, o longa de Satyajit Ray nos leva ao encontro de uma família indiana que vive na paupérrima região de Bengala. Somos apresentados a uma rotina difícil, que, contudo, ainda tem seus momentos de beleza. Seja na relação do casal de irmãos, (o pequeno e esperto) Apu e a adolescente Durga, seja no momento em que o garoto vê um trem pela primeira vez ou quando os parentes vizinhos - que no começo do longa apresentam-se mesquinhos - revelam-se solidários ao drama da família de Apu.
O pai, o típico homem sonhador irresponsável, embora de bom coração e a mãe, realista e batalhadora do dia a dia. Também temos perambulando por ali a avó, uma simpática senhora que é meio que jogada para escanteio pelos parentes - com exceção de Apu e a irmã - e mostra como a velhice é cruelmente descartável.
Para um filme de estreia, Satyajit Ray mostra-se um exímio diretor, tanto de atores quanto como a maneira que sua câmera retrata o ambiente ora empregando certo lirismo a natureza que cerca os arredores da casa da família, ora no realismo que retrata a extrema pobreza do lugar. Também há de se destacar a cítara de Ravi Shankar, presente de forma certeira em todos os momentos que o longa exige.
A Canção da Estrada é mais um longa asiático imperdível concebido na década de cinquenta e ganha lugar de destaque lado a lado com grandes obras de Kurosawa entre outros.
Tava esperando uma bomba - tanto que nem fiz questão de ir ao cinema ver - e acabei me surpreendendo. Não é que Thor Ragnarok é um bom filme? Claro, tem inúmeros defeitos: nem todas as piadas funcionam, a Hela - da ótima - Cate Blanchett é um desperdício, e o Ragnarok em si não diz a que veio, sendo, no fim, uma tremenda baboseira que só serve de guancho para Vingadores Guerra Infinita. Todavia, o que transforma Thor Ragnarok num bom filme é toda a passagem em Sakaar - se bem que seja triste ver a ótima HQ Planeta Hulk ser utilizada como mero fanservice - onde temos o encontro de Thor, Loki, a Valquíria e o gigante esmeralda, que, juntos, formam um time inusitado e bem entrosado. As piadas entre Loki, o irmão e Hulk funcionam bem e o colorido da fotografia e as cenas de ação contagiam.
Ainda acho o Thor do cinema mal retratado, porém se não pensarmos nos quadrinhos, até que dá para engolir esse Deus do Trovão bocó e sua comédia de ação despretensiosa.
Baseado numa história real, Lion é uma boa pedida de cinema onde logo de cara já há uma tremenda empatia pelo protagonista, graças a atuação e carisma do pequeno Sunny Pawar, ator mirim que faz o protagonista quando criança. Graças a ele, a gente logo embarca na história de Saroo, que se perde do irmão na imensa Índia e é adotado por um casal de australianos. Depois de adulto Saroo é vivido com competência por Dev Patel e sua jornada em busca de suas origens mostra-se bastante atrativa.
A direção de Garth Davis é muito boa, principalmente nos momentos passados na Índia, onde o contraste da bela fotografia com a pobreza do país asiático é o grande destaque.
Filme pré Nova Hollywood - que viria a ser inaugurada no ano seguinte com o próprio Arthur Penn e o seu clássico sobre Bonnie & Clyde, Caçada Humana já traz ingredientes da grande fase vindoura do cinema yankee que perduraria pela década seguinte. A trama traz bons questionamentos sobre alienação, racismo, armento do cidadão, culminando num final extremamente pessimista e até imprevisível, ainda mais em se tratando de um filme de meados dos anos sessenta.
O elenco é encabeçado por Marlon Brando na pele do bem intencionado xerife, Calder, talvez a única alma sensata na pequena cidade texana que entra em polvorosa por conta da fuga de Bubber (um jovem Robert Redford) da prisão. A direção de Penn é muito boa, assim como toda parte técnica, como desenho de produção, fotografia e trilha sonora. O único problema é que o filme é mais longo do que deveria, sendo que, por algumas vezes, perde o foco. Tirando isso, é um ótimo exemplar do cinema estadunidense da época.
Uma curiosidade: Robert Duvall faz um papel pequeno no longa e em determinada momento contracena com Marlon Brando, somente os dois numa sala. E imaginar que dali a poucos anos os mesmos voltarão a se encontrar, só que dessa vez num escritório de pouca iluminação, num filme chamado O Poderoso Chefão.
Spielberg é sempre, pelo menos tecnicamente, garantia de bom cinema. Aqui o cineasta mostra-se bem intencionado ao mostrar a promiscuidade da relação imprensa/políticos jogando na mesa boas questões morais, contudo sem muito aprofundamento. Os protagonistas Hanks e Streep são competentes como sempre, embora eu ache um exagero a indicação da atriz ao Oscar. O longa também conta com um ótimo elenco de apoio, quase todos oriundos de ótimos seriados, como Bob Odenkirk (Better Call Saul), Sarah Paulson (American Horror Story), Matthew Rhys (The Americans) e Carrie Coon (The Leftovers/Fargo). A trama em si - embora curiosa - não é lá muito atrativa e o filme só se segura mesmo graças ao suspense que o cineasta constrói, principalmente do segundo para o terceiro ato. Em tempo: a trilha sonora é uma das mais fracas do mestre John Willians - que nesse ano arrebentou em Os Últimos Jedi.
Bom filme. Ótimas atuações, principalmente de Allison Janney, que faz a mãe da protagonista. A escolha de fazer uma espécie de mockumentary também foi acertada. A história em si é bizarra, porém não tem folego para sustentar duas horas de filme, embora a direção, ainda mais nos momentos de competição, seja inspirada.
Misturar drama e humor não é tarefa fácil, ainda mais em se tratando de uma história policial. Os Irmãos Coen são cineastas notórios em usar tal artimanha, contudo os resultados podem de variar de ótimos - Fargo - para obras que extrapolam os limites - ex. Queime Depois de Ler. No caso de Três Anúncios de Um Crime ficou no meio termo. O humor não chega a atrapalhar de fato, todavia não acrescenta nada a trama. Se o diretor tivesse focado no drama policial, acredito que o resultado teria sido satisfatório, já que o mesmo conta com um ótimo elenco e manda bem na direção, como, por exemplo, no plano sequência da delegacia. Outro problema é a entrada de um personagem no meio da projeção, um chefe de policial negro que poderia dar tons de Calor na Noite ao longa, porém a discussão racial - afinal estamos no Sul dos EUA - fica em segundo plano, onde o personagem acaba por executar apenas uma pequena ação relevante na trama, que, de todo qualquer maneira, seria executada, devido ao comportamento instável do personagem de Sam Rockwell.
Mesmo com o questionável humor e o desperdício de um personagem, Três Anúncios Para Um Crime ainda é um filme muito bom, principalmente por conta de sua inusitada trama policial, onde, ao final, o diretor Martin McDonagh acerta a mão em deixá-la
MELHOR FILME DO DEL TORO DESDE O LABIRINTO DO FAUNO
Ultimamente não tenho curtido muito o cinema de Guilhermo Del Toro. O segundo Hellboy pecou no excesso de fantasia deixando de lado a "aventura grotesca". Círculo de Fogo, apesar de bom, não passa de um onanismo nerd que visa apenas o entretenimento fácil. E a Colina Escarlate morreu na praia com sua - mesmo que plasticamente bonita - homenagem aos romances góticos. Recebi o retorno de Del Toro à Fábula adulta com empolgação e, de fato, A Forma da Água se mostrou um filme empolgante.
É tecnicamente impecável, como a maioria das obras do diretor, tem apelo emocional, certo carisma e é ao mesmo tempo atípico. A história de amor entre uma humana e uma criatura sub-aquática humanoide é facilmente comprada pela audiência, mesmo com suas diversas conveniências de roteiro visando facilitar as ações dos personagens com relação a algo que - na teoria - deveria ser ultra-secreto, já que a trama se passa no período da Guerra Fria, onde a paranoia reinava em absoluto. Para mim, incomoda um pouco, todavia acaba sendo passável, desde que o foco seja nas relações humanas (e não humanas) da história.
A identificação da protagonista mudinha com a criatura evoca o cinema sobre casais disfuncionais, onde, nesse caso, temos dois párias, que mesmo sendo de "espécies" diferentes, tem muito em comum. Logo o expectador começa a torcer pela relação amorosa entre os dois, por mais insólita que ela seja. Também temos bons coadjuvantes como o vizinho da protagonista e sua colega de trabalho, que assim como nós, por mais bizarro que seja, também torcem pela relação e até arriscam a pele para que ela se concretize. No campo antagonista, temos um vilão clássico vívido com competência por Michael Shannon.
Del Toro acerta na ambientação e na maneira como trata a fábula de forma mundana, onde temos cenas de gore, nudez, sexo e palavrões. Algo que ele já havia feito com maestria em O Labirinto do Fauno (aquele que considero seu melhor filme).
Um longa com cara de Sessão da Tarde, de produção modesta e sem grandes pretensões. No entanto, tem o mérito de ter a coragem de fazer duras críticas ao regime colonialista/explorador do Império (nem tão mais império assim nessa época) Britânico pós segunda guerra, ainda mais chamando Winston Churchill, o mais "amado" e "respeitado" genocida da história moderna, de mentiroso.
Esteticamente, como eu disse, é modesto. Provavelmente como orçamento era limitado, não houve como nos apresentar cenas grandiosas. As atuações são bem fraquinhas e a narrativa em si tratada de forma superficial e corrida. No mais, um feijão com arroz assistivel cujos maiores destaques são as críticas pontuais à exploração da coroa britânica nos países da Africa.
Eu tenho um problema com o cinema surrealista (nonsense) japonês. Na maioria das vezes, detesto. Isso quando consigo chegar ao final. No caso de Antiporno, pelo menos consegui terminar e isso por conta da sua estética.
Vamos lá: a direção de arte é impecável. O uso das cores e do espaço do cenário onde a câmera transita com liberdade trazendo uma boa fotografia. Quanto a narrativa, apesar do longa ser curto, em torno de uma hora e quinze minutos, é extremamente arrastada e carregada no surrealismo - do qual não sou lá grande entusiasta. As atuações são propositadamente exageradas e, basicamente, não há trama. Na verdade, são colagens de cenas que deixam, nas entrelinhas, uma crítica ao patriarcado nipônico, um dos mais severos do mundo. Na parte do erotismo, ele é exatamente antiporno (como o próprio título) onde todas as cenas mais "calientes" tem a missão de nos incomodar e fazer refletir ao invés de excitar.
Pena que, no geral, o longa não tenha me ganhado. Tenho respeito pelo tema, no entanto, aqui, ele foi exageradamente - pelo lado mau - executado.
A Guerra dos Sexos foi um filme pensado para abocanhar prêmios. Principalmente aquele careca dourado. Ponto. Feito na medida para agradar os membros da Acadêmia, tenta discorrer sobre o empoderamento feminino, entretanto só arranha a superfície. Além disso, comete um erro, um verdadeiro tiro no pé, é maniqueísta. Tal equívoco do roteiro só serve de munição para quem vier detratar o longa.
Emma Stone mostra-se uma boa atriz e manda bem na sua interpretação da tenista Billie Jean King. Steve Carrell também está bem na pele de Bobby "Porco Chauvinista" Riggs. Como eu disse são boas atuações. Todavia visam uma indicaçãozinha ao careca dourado. O elenco de apoio é apenas razoável e dez minutos após a sessão você nem mais lembra quem é quem.
Apesar dos dois bons atores protagonistas, o roteiro não se sustenta. Começa animador para logo depois cair na armadilha do "romance entrave de narrativa". Ainda mais um triângulo amoroso inverossímil, onde uma das partes age de maneira nada crível. Também trata a questão da igualdade entre os sexos de forma rasa, ficando só na promessa. O mundo inteiro sabe o resultado dessa partida de tênis. Transformar o episódio numa espécie e Rocky O Lutador de saias, a meu ver, não foi das melhores ideias. O episódio poderia muito bem ser melhor explorado com situações mais sutis e um pouco ambíguas sem deixar o maniqueísmo tão escancarado. Realmente, é uma pena. A história em que se baseia o longa é ótima e poderia render uma discussão muito mais profunda sobre o tema "guerra dos sexos".
Me lembro ainda pequeno de ver, acho que na Globo, a chamada para esse filme. Na época, me perguntava o porque desse filme, passado em outro país, com um sujeito voando com asas de anjo, se chamava Brazil. Enfim, esse foi meu primeiro contato com essa obra do Terry Gilliam. Alguns anos depois, acho que em 1998, o assisti pela primeira vez, no saudoso canal 21 (rede que passava diversas gemas da sétima arte durante a madrugada). Gostei do filme, embora, acredite, não tinha maturidade para absorvê-lo por completo.
Rever Brazil - O Filme hoje é meio que obrigatório. Em tempos sombrios, nada melhor do que mergulhar nessa ácida distopia e, ao final, ficar com "a mente mais ligada" para o que acontece a nossa volta.
Sam Lowry, o protagonista, pelo menos no meu caso, é um sujeito de fácil identificação. Sem grandes ambições, o personagem quer apenas fazer seu trabalho e, como uma forma de escapismo daquele sufocante Estado Burocrático e Facista, viver uma fantasia interna onde é uma espécie de cavaleiro na busca incessante da mulher idealizada. Entretanto, Lowry é obrigado a sair da sua "zona de conforto" quando um erro burocrático o insere numa trama nonsense permeada pela sombra do autoritarismo e da superficialidade. Ou seja, um retrato bem atual dos tempos modernos.
O jeito meio apalermado de Lowry pode até enganar de início. Todavia, o personagem, ao longo da projeção se mostra bastante esperto. A relação do protagonista com sua mãe - a típica dondoca opressora - é bem construída, carregada de humor negro, sendo a personagem uma acertada previsão do que se tornariam as abastadas mulheres de meia-idade do século XXI, que buscam, de todas e patéticas formas, a juventude eterna. Aliás, o humor desse longa é bem peculiar, ácido, incomodo e nada pensado para fazer rir e sim para martelar na cabeça do espectador durante dias.
Tecnicamente, Brazil é cheio de méritos. Nesse sentido, Gilliam abraçou o cinema noir dos anos quarenta e cinquenta - no figurino, enquadramentos, etc - e o cyberpunk, com seu futuro claustrofóbico, escuro e enfumaçado. A trilha é bastante interessante e Aquarela do Brasil casa bem com as cenas. Sobre o elenco, além da ótima atuação de Jonathan Pryce como Lowry, temos um baita elenco de apoio com nomes como: De Niro, Iam Holm e Bob Hoskins. Gilliam também acerta na montagem e embora o filme seja longo - 140 minutos - não há aquela sensação de arrasto. O cineasta também sabe manipular bem sua obra, onde, no final, quase somos enganados, para na sequência seguinte sermos surpreendidos por uma derradeira cena traumática e tecnicamente primorosa que encerra de forma coerente o longa.
Em tempo: Pelo menos para mim, há uma clara influência de O Processo, romance de Franz Kafka nesse trabalho. Todavia, acho que o cineasta se saiu melhor do que escritor tcheco tanto na mensagem quanto na maneira de contar a história.
Plasticamente perfeito e de roteiro ousado, a segunda parte da nova trilogia de Star Wars acerta em cheio. O longa é uma montanha russa de emoções muito bem construída pela direção precisa de Rian Johnson (que também assina o roteiro). Johnson, provavelmente, é o diretor - fora o próprio George Lucas claro - a ter mais liberdade na linguagem narrativa de um filme da saga. Pelo menos duas ou três cenas fogem completamente do padrão estabelecido ao longo dos anos.
Sendo o capítulo mais longo de Star Wars, Os Últimos Jedi tem tempo de criar e resolver diversas situações e dar espaço para praticamente todo mundo brilhar, principalmente Luke Skywalker. O agora Mestre Jedi ermitão é a melhor coisa do filme. Todas as suas cenas são ótimas culminando num final de derramar lágrimas.
Eu sou um ferrenho defensor de O Despertar da Força. Mesmo tendo a estrutura quase idêntica ao filme de 1977, a obra de J.J Abrams voltou a abraçar o lado aventuresco da saga e nos trouxe ótimos novos personagens sem tirar o brilho dos antigos. Agora, já com todos os novatos estabelecidos, era realmente hora de ousar. Ecos de O Império Contra Ataca existem sim no filme, mas mais é por conta da situação entre Resistência x Primeira Ordem do qualquer outra coisa. Do meio para o final, Johnson joga os protagonistas em diversas situação não esperadas, tirando Star Wars da zona de conforto, e deixando a platéia desnorteada sem saber o que está por vir.
Mais do que tudo, esse filme trata de conflito de gerações, porém de uma maneira madura e que, realmente, me pegou de surpresa. O ímpeto da juventude versus a sapiência da maturidade é tema recorrente de diversas obras, mas aqui, no final, temos uma grande lição, muito rara em se tratando de blockbusters. A banda sonora de John Willians continua inspirada e a direção de Johnson nas batalhas é de cair o queixo. Realmente, o cara sabe filmar ação em grande escala sem que fiquemos perdidos no meio da cacofonia e do CGI (como é costume no cinema de aventura/ação atual).
O triste nisso tudo é ver a última atuação de Carrie Fisher sem deixar de pensar no próximo filme. Tenho para mim que Leia seria de extrema importância no episódio IX. Agora é aguardar o que JJ Abrams e companhia farão com a personagem.
Mais uma vez a Lucasfilm entrega um excelente filme - embora eu acredite que ele vá acabar dividindo opiniões - provando que a decisão de George Lucas em passar sua maior criação para uma nova geração comandar foi mais do que acertada (e aqui fica um curioso paralelo do filme com a situação de Lucas no que diz respeito a "passagem de bastão").
O primeiro Kingsman pegou todo mundo de surpresa com uma divertida, estilosa e sacana paródia dos filmes de James Bond. Além disso, trouxe a antológica cena da igreja, onde criacionistas fanáticos são massacrados numa catártica carnificina ao som de Free Bird do Lynyrd Skynyrd. Óbvio que com o sucesso do filme uma continuação seria inevitável. Pena que O Círculo Dourado não chega aos pés de seu predecessor.
A direção ainda apresenta alguns momentos inspirados - como a cena de abertura - porém o péssimo roteiro não se sustenta. Dessa vez temos uma vilã extremamente caricata com um plano boboca e a adição da versão estadunidense dos Kingsman, os Statesman, que, no final, não fedem nem cheiram. Ou seja, O Círculo Dourado não passa apenas de um exercício de estilo de Mattew Vaughn sem nada a acrescentar.
Em tempo: A participação do Elton John é patética.
Mundo de Andy é muito bom. E a atuação de Jim também. Porém, esperava mais dessa produção que acaba se transformando numa verdadeira ego-trip do ator. Caso fosse, de fato, um documentário, com depoimentos dos envolvidos na produção do filme na época, principalmente do Milos Forman, teria sido uma experiência melhor aproveitada.
Foge totalmente da filmografia até então apresentada pelo diretor espanhol Alex de la Iglesia, embora tenha um lado cômico (como é de praxe). Esse é seu trabalho mais tenso. Bem dirigido e com coisas em aberto para encucar o espectador ao fim da projeção. Gostei bastante.
A Warner e Zack Snyder tinham tudo na mão. Um universo inteiro onde lendas do século XX habitam e vivem suas aventuras há quase oitenta anos. Entretanto, depois do fraco Batman v Superman, eles não aprenderam a lição. Liga da Justiça é um tantinho melhor do que o filme que reuniu - e colocou para brigarem - os dois ícones dos quadrinhos mas isso é praticamente nada.
Num roteiro preguiçoso, sem o mínimo de emoção, onde não sentimos ameaça e nem vontade de torcer por ninguém, Snyder e cia tropeçam feio e colocam o universo DC no cinema em cheque. Será que vale a pena continuar? Nem Joss Whedon - um bom roteirista que sabe lidar bem com múltiplos personagens - conseguiu arrumar a bagunça que já estava feita. As críticas furiosas com relação Batman v Superman ligaram o farol amarelo da Warner e, provavelmente, o estúdio caiu matando em Snyder para que ele mudasse o tom do filme - que já estava sendo rodado. Ou seja, Liga da Justiça é uma verdadeira colcha de retalhos, seja nas piadinhas forçadas, seja na boca artificial do Superman, seja na brusca mudança de personalidade do Batman.
Para mim não parece um filme que custou 300 milhões de dólares. Os efeitos especiais e cenografia não estão bons, o vilão - além de um péssimo personagem - é um boneco de CGI muito do mal feito. A volta do Superman é sem graça. A volta do Superman em ação é mais sem graça ainda (embora ele agora esteja com o semblante mais superheroico como sua contra-parte nas HQS) e o filme só vale mesmo por uma ou duas cenas legais - a primeira com o Batman foi a que mais gostei - e um ou outro momento onde vemos a mão de Whedon no roteiro. De resto, um filme genérico e esquecível. A segunda cena pós crédito até que é legal e promissora. Porém, não consigo mais acreditar nas promessas vindas desse "desuniverso" cinematográfico da DC. Uma pena.
A questão da influência dos westerns gringos nem me incomodou. O problema mesmo é com a questão narrativa e desenvolvimento dos personagens. Esteticamente é apenas ok, onde ao mesmo, curiosamente, vemos lindas tomadas, entretanto algumas passagens lembraram produções televisivas meia-boca.
Um exemplo de bom western brasuca é o próprio Faroeste Caboclo, onde o diretor, claramente, se inspirou em Sergio Leone com resultado bem mais satisfatório.
Razoável e olhe lá. Achei que o documentário seria exclusivamente sobre a gravação de Sgt. Peppers e a importância do seu legado. Logo isso é deixado de lado para se falar do Maharishi e da fundação da Apple, dois pontos já discutidos a exaustão.
Se perde em meio a tantas reviravoltas. Fora que com 1 hora de filme da para sacar o principal plot-twist. E o ator que interpreta o Dória é ruim de doer.
Quando anunciaram que Blade Runner teria uma continuação, minha primeira reação foi: Pronto, mais uma bomba que vai macular o legado do clássico sci-fi. Quando Ridley Scott foi confirmado no projeto, fiquei mais temeroso ainda já que Scott ao longo dos ano vem se mostrando um cineasta deveras irregular. Mesmo com a notícia de que o autor do roteiro do filme de 1982 estaria envolvido não me tranquilizou. Só vim a ter certo otimismo quando Dennis Villeneuve foi contratado como diretor. Ainda mais depois do cineasta lançar um dos melhores filmes do ano passado, o excelente A Chegada. Depois vieram os trailers cujo foco era um pouco voltado às pirotecnias, o que não me deixou animado. Ou seja, entrei no cinema sem grandes expectativas para não me decepcionar.
Entretanto, mesmo que eu tivesse entrado na sala de exibição cheio de ansiedade e fé, não estaria preparado para um resultado tão positivo.
OBRIGADO, DENIS VILLENEUVE!
O novo Blade Runner é soberbo! Visualmente destruidor, ele traz o clima do filme de 1982, porém com a marca de Villeneuve. A fotografia é a coisa mais linda das telas esse ano e facilmente estará entre as indicadas ao careca dourado ano que vem. A trama é muito, mas muito bem desenvolvida, não só evocando ao original como abrindo novas ótimas possibilidades para esse universo. 2049 é puro tech-noir, até mais do que o seu antecessor. A trama de investigação remete aos filmes policiais dos anos 40/50 com cada pista revelando um fato novo até o seu acachapante final. Blade Runner continua com sua pegada filosófica, discutindo temas pertinentes desde a época do original até os dias de hoje. Na direção de arte, houve um tremendo cuidado em manter fidelidade com o original não só no clima, mas também a tecnologia e os designs dos ambientes e cidades. Obviamente tudo está avançado pois estamos trinta anos a frente do original na história, porém tudo exibido condiz com aquela atmosfera que tanto amamos.
O elenco é ótimo. Ryan Gosling nasceu para esse tipo de papel. Se fosse ator nos anos 40, estaria ao lado de Borgart e Mitchium no panteão dos atores de filmes noir. O elenco feminino também manda muito bem - com destaque para a cubana Ana de Armas. Jared Leto, apesar de um tanto afetado, acerta com seu Niander Wallace. Todavia, a melhor atuação é de, pasmem, Harrison Ford. Há muito tempo eu não via o veterano atuando de maneira tão entregue. A volta de Deckard é emocionante - para nós público - embora Blade Runner seja um filme bem centrado e racional.
No inicio do texto, eu comentei sobre as pirotecnias do trailer. Mais uma vez o marketing quer vender algo que não condiz com o que vemos na tela. As cenas de ação são como no original, pontuais e que servem a história. Sobre a trilha sonora, não há como comparar com a obra-prima do Vangelis, mas a exibida aqui é bastante competente e em diversos momentos lembra a banda sonora composta pelo grego em 82.
Blade Runner 2049 é até o momento, de longe, o melhor filme do ano. Quem gosta do original dificilmente não vai gostar dessa continuação. O carinho de Villeneuve e dos envolvidos foi tanto com o material original que não da para reclamar de praticamente nada. É aquilo, nas mãos de gente competente e comprometida, até mesmo um clássico como Blade Runner conseguiu ter uma continuação que faz jus ao original.
Flor Seca
4.0 15Ótimo neo-noir nipônico pautado numa linda fotografia e nos seus personagens interessantes. Flor Seca lembra um romance de David Goodis - escritor noir estadunidense - com seus personagens amargurados, que buscam encontrar sentido em suas vidas vazias.
Muraki, o protagonista, é um ex-detento, membro da Yakuza, recém saído da prisão. Perambulando pela noite, o criminoso cruza o caminho de Saeko, uma garota misteriosa que passa as noites em intensas jogatinas nos cassinos clandestinos de Tóquio. A visão da jovem, a única mulher, no meio de tantos homens cria um curioso contraste, onde a presença da bela garota deixa o ambiente mais alegre para aqueles soturnos apostadores. O envolvimento dos dois é imediato, contudo, focado na busca do "prazer" que o jogo proporciona, deixando o lado romântico sabiamente de lado, ficando esse apenas sub-entendido.
O diretor, Masahiro Shinoda, acerta em cheio na ambientação e nos apresenta um Japão ocidentalizado, com possantes carros - a cena do racha é primorosa - , bares diversos e música. As cenas passadas em pequenos becos da cidade são belíssimas e não devem nada aos melhores exemplares do gênero em preto e branco.
O final, como não poderia deixar de ser, é pessimista e vai, com certeza, agradar aos fãs do cinema noir.
A Canção da Estrada
4.4 71 Assista AgoraA Trilogia de Apu começa maravilhosamente bem com o singelo e ao mesmo tempo intenso A Canção da Estrada. Narrado de forma realista, o longa de Satyajit Ray nos leva ao encontro de uma família indiana que vive na paupérrima região de Bengala. Somos apresentados a uma rotina difícil, que, contudo, ainda tem seus momentos de beleza. Seja na relação do casal de irmãos, (o pequeno e esperto) Apu e a adolescente Durga, seja no momento em que o garoto vê um trem pela primeira vez ou quando os parentes vizinhos - que no começo do longa apresentam-se mesquinhos - revelam-se solidários ao drama da família de Apu.
O pai, o típico homem sonhador irresponsável, embora de bom coração e a mãe, realista e batalhadora do dia a dia. Também temos perambulando por ali a avó, uma simpática senhora que é meio que jogada para escanteio pelos parentes - com exceção de Apu e a irmã - e mostra como a velhice é cruelmente descartável.
Para um filme de estreia, Satyajit Ray mostra-se um exímio diretor, tanto de atores quanto como a maneira que sua câmera retrata o ambiente ora empregando certo lirismo a natureza que cerca os arredores da casa da família, ora no realismo que retrata a extrema pobreza do lugar. Também há de se destacar a cítara de Ravi Shankar, presente de forma certeira em todos os momentos que o longa exige.
A Canção da Estrada é mais um longa asiático imperdível concebido na década de cinquenta e ganha lugar de destaque lado a lado com grandes obras de Kurosawa entre outros.
Thor: Ragnarok
3.7 1,9K Assista AgoraTava esperando uma bomba - tanto que nem fiz questão de ir ao cinema ver - e acabei me surpreendendo. Não é que Thor Ragnarok é um bom filme? Claro, tem inúmeros defeitos: nem todas as piadas funcionam, a Hela - da ótima - Cate Blanchett é um desperdício, e o Ragnarok em si não diz a que veio, sendo, no fim, uma tremenda baboseira que só serve de guancho para Vingadores Guerra Infinita. Todavia, o que transforma Thor Ragnarok num bom filme é toda a passagem em Sakaar - se bem que seja triste ver a ótima HQ Planeta Hulk ser utilizada como mero fanservice - onde temos o encontro de Thor, Loki, a Valquíria e o gigante esmeralda, que, juntos, formam um time inusitado e bem entrosado. As piadas entre Loki, o irmão e Hulk funcionam bem e o colorido da fotografia e as cenas de ação contagiam.
Ainda acho o Thor do cinema mal retratado, porém se não pensarmos nos quadrinhos, até que dá para engolir esse Deus do Trovão bocó e sua comédia de ação despretensiosa.
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista AgoraBaseado numa história real, Lion é uma boa pedida de cinema onde logo de cara já há uma tremenda empatia pelo protagonista, graças a atuação e carisma do pequeno Sunny Pawar, ator mirim que faz o protagonista quando criança. Graças a ele, a gente logo embarca na história de Saroo, que se perde do irmão na imensa Índia e é adotado por um casal de australianos. Depois de adulto Saroo é vivido com competência por Dev Patel e sua jornada em busca de suas origens mostra-se bastante atrativa.
A direção de Garth Davis é muito boa, principalmente nos momentos passados na Índia, onde o contraste da bela fotografia com a pobreza do país asiático é o grande destaque.
Caçada Humana
3.7 45Filme pré Nova Hollywood - que viria a ser inaugurada no ano seguinte com o próprio Arthur Penn e o seu clássico sobre Bonnie & Clyde, Caçada Humana já traz ingredientes da grande fase vindoura do cinema yankee que perduraria pela década seguinte. A trama traz bons questionamentos sobre alienação, racismo, armento do cidadão, culminando num final extremamente pessimista e até imprevisível, ainda mais em se tratando de um filme de meados dos anos sessenta.
O elenco é encabeçado por Marlon Brando na pele do bem intencionado xerife, Calder, talvez a única alma sensata na pequena cidade texana que entra em polvorosa por conta da fuga de Bubber (um jovem Robert Redford) da prisão. A direção de Penn é muito boa, assim como toda parte técnica, como desenho de produção, fotografia e trilha sonora. O único problema é que o filme é mais longo do que deveria, sendo que, por algumas vezes, perde o foco. Tirando isso, é um ótimo exemplar do cinema estadunidense da época.
Uma curiosidade: Robert Duvall faz um papel pequeno no longa e em determinada momento contracena com Marlon Brando, somente os dois numa sala. E imaginar que dali a poucos anos os mesmos voltarão a se encontrar, só que dessa vez num escritório de pouca iluminação, num filme chamado O Poderoso Chefão.
The Post: A Guerra Secreta
3.5 607 Assista AgoraSpielberg é sempre, pelo menos tecnicamente, garantia de bom cinema. Aqui o cineasta mostra-se bem intencionado ao mostrar a promiscuidade da relação imprensa/políticos jogando na mesa boas questões morais, contudo sem muito aprofundamento. Os protagonistas Hanks e Streep são competentes como sempre, embora eu ache um exagero a indicação da atriz ao Oscar. O longa também conta com um ótimo elenco de apoio, quase todos oriundos de ótimos seriados, como Bob Odenkirk (Better Call Saul), Sarah Paulson (American Horror Story), Matthew Rhys (The Americans) e Carrie Coon (The Leftovers/Fargo). A trama em si - embora curiosa - não é lá muito atrativa e o filme só se segura mesmo graças ao suspense que o cineasta constrói, principalmente do segundo para o terceiro ato. Em tempo: a trilha sonora é uma das mais fracas do mestre John Willians - que nesse ano arrebentou em Os Últimos Jedi.
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraBom filme. Ótimas atuações, principalmente de Allison Janney, que faz a mãe da protagonista. A escolha de fazer uma espécie de mockumentary também foi acertada. A história em si é bizarra, porém não tem folego para sustentar duas horas de filme, embora a direção, ainda mais nos momentos de competição, seja inspirada.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraMisturar drama e humor não é tarefa fácil, ainda mais em se tratando de uma história policial. Os Irmãos Coen são cineastas notórios em usar tal artimanha, contudo os resultados podem de variar de ótimos - Fargo - para obras que extrapolam os limites - ex. Queime Depois de Ler. No caso de Três Anúncios de Um Crime ficou no meio termo. O humor não chega a atrapalhar de fato, todavia não acrescenta nada a trama. Se o diretor tivesse focado no drama policial, acredito que o resultado teria sido satisfatório, já que o mesmo conta com um ótimo elenco e manda bem na direção, como, por exemplo, no plano sequência da delegacia. Outro problema é a entrada de um personagem no meio da projeção, um chefe de policial negro que poderia dar tons de Calor na Noite ao longa, porém a discussão racial - afinal estamos no Sul dos EUA - fica em segundo plano, onde o personagem acaba por executar apenas uma pequena ação relevante na trama, que, de todo qualquer maneira, seria executada, devido ao comportamento instável do personagem de Sam Rockwell.
Mesmo com o questionável humor e o desperdício de um personagem, Três Anúncios Para Um Crime ainda é um filme muito bom, principalmente por conta de sua inusitada trama policial, onde, ao final, o diretor Martin McDonagh acerta a mão em deixá-la
em aberto para que o público termine a sessão a imaginar as cenas cenas do que virá a seguir.
A Forma da Água
3.9 2,7KMELHOR FILME DO DEL TORO DESDE O LABIRINTO DO FAUNO
Ultimamente não tenho curtido muito o cinema de Guilhermo Del Toro. O segundo Hellboy pecou no excesso de fantasia deixando de lado a "aventura grotesca". Círculo de Fogo, apesar de bom, não passa de um onanismo nerd que visa apenas o entretenimento fácil. E a Colina Escarlate morreu na praia com sua - mesmo que plasticamente bonita - homenagem aos romances góticos. Recebi o retorno de Del Toro à Fábula adulta com empolgação e, de fato, A Forma da Água se mostrou um filme empolgante.
É tecnicamente impecável, como a maioria das obras do diretor, tem apelo emocional, certo carisma e é ao mesmo tempo atípico. A história de amor entre uma humana e uma criatura sub-aquática humanoide é facilmente comprada pela audiência, mesmo com suas diversas conveniências de roteiro visando facilitar as ações dos personagens com relação a algo que - na teoria - deveria ser ultra-secreto, já que a trama se passa no período da Guerra Fria, onde a paranoia reinava em absoluto. Para mim, incomoda um pouco, todavia acaba sendo passável, desde que o foco seja nas relações humanas (e não humanas) da história.
A identificação da protagonista mudinha com a criatura evoca o cinema sobre casais disfuncionais, onde, nesse caso, temos dois párias, que mesmo sendo de "espécies" diferentes, tem muito em comum. Logo o expectador começa a torcer pela relação amorosa entre os dois, por mais insólita que ela seja. Também temos bons coadjuvantes como o vizinho da protagonista e sua colega de trabalho, que assim como nós, por mais bizarro que seja, também torcem pela relação e até arriscam a pele para que ela se concretize. No campo antagonista, temos um vilão clássico vívido com competência por Michael Shannon.
Del Toro acerta na ambientação e na maneira como trata a fábula de forma mundana, onde temos cenas de gore, nudez, sexo e palavrões. Algo que ele já havia feito com maestria em O Labirinto do Fauno (aquele que considero seu melhor filme).
Um Reino Unido
3.7 97 Assista AgoraUm longa com cara de Sessão da Tarde, de produção modesta e sem grandes pretensões. No entanto, tem o mérito de ter a coragem de fazer duras críticas ao regime colonialista/explorador do Império (nem tão mais império assim nessa época) Britânico pós segunda guerra, ainda mais chamando Winston Churchill, o mais "amado" e "respeitado" genocida da história moderna, de mentiroso.
Esteticamente, como eu disse, é modesto. Provavelmente como orçamento era limitado, não houve como nos apresentar cenas grandiosas. As atuações são bem fraquinhas e a narrativa em si tratada de forma superficial e corrida. No mais, um feijão com arroz assistivel cujos maiores destaques são as críticas pontuais à exploração da coroa britânica nos países da Africa.
Anti-Porno
3.4 60 Assista AgoraEu tenho um problema com o cinema surrealista (nonsense) japonês. Na maioria das vezes, detesto. Isso quando consigo chegar ao final. No caso de Antiporno, pelo menos consegui terminar e isso por conta da sua estética.
Vamos lá: a direção de arte é impecável. O uso das cores e do espaço do cenário onde a câmera transita com liberdade trazendo uma boa fotografia. Quanto a narrativa, apesar do longa ser curto, em torno de uma hora e quinze minutos, é extremamente arrastada e carregada no surrealismo - do qual não sou lá grande entusiasta. As atuações são propositadamente exageradas e, basicamente, não há trama. Na verdade, são colagens de cenas que deixam, nas entrelinhas, uma crítica ao patriarcado nipônico, um dos mais severos do mundo. Na parte do erotismo, ele é exatamente antiporno (como o próprio título) onde todas as cenas mais "calientes" tem a missão de nos incomodar e fazer refletir ao invés de excitar.
Pena que, no geral, o longa não tenha me ganhado. Tenho respeito pelo tema, no entanto, aqui, ele foi exageradamente - pelo lado mau - executado.
A Guerra dos Sexos
3.7 316 Assista AgoraEMPODERAMENTO SUPERFICIAL
A Guerra dos Sexos foi um filme pensado para abocanhar prêmios. Principalmente aquele careca dourado. Ponto. Feito na medida para agradar os membros da Acadêmia, tenta discorrer sobre o empoderamento feminino, entretanto só arranha a superfície. Além disso, comete um erro, um verdadeiro tiro no pé, é maniqueísta. Tal equívoco do roteiro só serve de munição para quem vier detratar o longa.
Emma Stone mostra-se uma boa atriz e manda bem na sua interpretação da tenista Billie Jean King. Steve Carrell também está bem na pele de Bobby "Porco Chauvinista" Riggs. Como eu disse são boas atuações. Todavia visam uma indicaçãozinha ao careca dourado. O elenco de apoio é apenas razoável e dez minutos após a sessão você nem mais lembra quem é quem.
Apesar dos dois bons atores protagonistas, o roteiro não se sustenta. Começa animador para logo depois cair na armadilha do "romance entrave de narrativa". Ainda mais um triângulo amoroso inverossímil, onde uma das partes age de maneira nada crível. Também trata a questão da igualdade entre os sexos de forma rasa, ficando só na promessa. O mundo inteiro sabe o resultado dessa partida de tênis. Transformar o episódio numa espécie e Rocky O Lutador de saias, a meu ver, não foi das melhores ideias. O episódio poderia muito bem ser melhor explorado com situações mais sutis e um pouco ambíguas sem deixar o maniqueísmo tão escancarado. Realmente, é uma pena. A história em que se baseia o longa é ótima e poderia render uma discussão muito mais profunda sobre o tema "guerra dos sexos".
Brazil, o Filme
3.8 403 Assista AgoraMe lembro ainda pequeno de ver, acho que na Globo, a chamada para esse filme. Na época, me perguntava o porque desse filme, passado em outro país, com um sujeito voando com asas de anjo, se chamava Brazil. Enfim, esse foi meu primeiro contato com essa obra do Terry Gilliam. Alguns anos depois, acho que em 1998, o assisti pela primeira vez, no saudoso canal 21 (rede que passava diversas gemas da sétima arte durante a madrugada). Gostei do filme, embora, acredite, não tinha maturidade para absorvê-lo por completo.
Rever Brazil - O Filme hoje é meio que obrigatório. Em tempos sombrios, nada melhor do que mergulhar nessa ácida distopia e, ao final, ficar com "a mente mais ligada" para o que acontece a nossa volta.
Sam Lowry, o protagonista, pelo menos no meu caso, é um sujeito de fácil identificação. Sem grandes ambições, o personagem quer apenas fazer seu trabalho e, como uma forma de escapismo daquele sufocante Estado Burocrático e Facista, viver uma fantasia interna onde é uma espécie de cavaleiro na busca incessante da mulher idealizada. Entretanto, Lowry é obrigado a sair da sua "zona de conforto" quando um erro burocrático o insere numa trama nonsense permeada pela sombra do autoritarismo e da superficialidade. Ou seja, um retrato bem atual dos tempos modernos.
O jeito meio apalermado de Lowry pode até enganar de início. Todavia, o personagem, ao longo da projeção se mostra bastante esperto. A relação do protagonista com sua mãe - a típica dondoca opressora - é bem construída, carregada de humor negro, sendo a personagem uma acertada previsão do que se tornariam as abastadas mulheres de meia-idade do século XXI, que buscam, de todas e patéticas formas, a juventude eterna. Aliás, o humor desse longa é bem peculiar, ácido, incomodo e nada pensado para fazer rir e sim para martelar na cabeça do espectador durante dias.
Tecnicamente, Brazil é cheio de méritos. Nesse sentido, Gilliam abraçou o cinema noir dos anos quarenta e cinquenta - no figurino, enquadramentos, etc - e o cyberpunk, com seu futuro claustrofóbico, escuro e enfumaçado. A trilha é bastante interessante e Aquarela do Brasil casa bem com as cenas. Sobre o elenco, além da ótima atuação de Jonathan Pryce como Lowry, temos um baita elenco de apoio com nomes como: De Niro, Iam Holm e Bob Hoskins. Gilliam também acerta na montagem e embora o filme seja longo - 140 minutos - não há aquela sensação de arrasto. O cineasta também sabe manipular bem sua obra, onde, no final, quase somos enganados, para na sequência seguinte sermos surpreendidos por uma derradeira cena traumática e tecnicamente primorosa que encerra de forma coerente o longa.
Em tempo: Pelo menos para mim, há uma clara influência de O Processo, romance de Franz Kafka nesse trabalho. Todavia, acho que o cineasta se saiu melhor do que escritor tcheco tanto na mensagem quanto na maneira de contar a história.
Star Wars, Episódio VIII: Os Últimos Jedi
4.1 1,6K Assista AgoraPlasticamente perfeito e de roteiro ousado, a segunda parte da nova trilogia de Star Wars acerta em cheio. O longa é uma montanha russa de emoções muito bem construída pela direção precisa de Rian Johnson (que também assina o roteiro). Johnson, provavelmente, é o diretor - fora o próprio George Lucas claro - a ter mais liberdade na linguagem narrativa de um filme da saga. Pelo menos duas ou três cenas fogem completamente do padrão estabelecido ao longo dos anos.
Sendo o capítulo mais longo de Star Wars, Os Últimos Jedi tem tempo de criar e resolver diversas situações e dar espaço para praticamente todo mundo brilhar, principalmente Luke Skywalker. O agora Mestre Jedi ermitão é a melhor coisa do filme. Todas as suas cenas são ótimas culminando num final de derramar lágrimas.
Eu sou um ferrenho defensor de O Despertar da Força. Mesmo tendo a estrutura quase idêntica ao filme de 1977, a obra de J.J Abrams voltou a abraçar o lado aventuresco da saga e nos trouxe ótimos novos personagens sem tirar o brilho dos antigos. Agora, já com todos os novatos estabelecidos, era realmente hora de ousar. Ecos de O Império Contra Ataca existem sim no filme, mas mais é por conta da situação entre Resistência x Primeira Ordem do qualquer outra coisa. Do meio para o final, Johnson joga os protagonistas em diversas situação não esperadas, tirando Star Wars da zona de conforto, e deixando a platéia desnorteada sem saber o que está por vir.
Mais do que tudo, esse filme trata de conflito de gerações, porém de uma maneira madura e que, realmente, me pegou de surpresa. O ímpeto da juventude versus a sapiência da maturidade é tema recorrente de diversas obras, mas aqui, no final, temos uma grande lição, muito rara em se tratando de blockbusters. A banda sonora de John Willians continua inspirada e a direção de Johnson nas batalhas é de cair o queixo. Realmente, o cara sabe filmar ação em grande escala sem que fiquemos perdidos no meio da cacofonia e do CGI (como é costume no cinema de aventura/ação atual).
O triste nisso tudo é ver a última atuação de Carrie Fisher sem deixar de pensar no próximo filme. Tenho para mim que Leia seria de extrema importância no episódio IX. Agora é aguardar o que JJ Abrams e companhia farão com a personagem.
Mais uma vez a Lucasfilm entrega um excelente filme - embora eu acredite que ele vá acabar dividindo opiniões - provando que a decisão de George Lucas em passar sua maior criação para uma nova geração comandar foi mais do que acertada (e aqui fica um curioso paralelo do filme com a situação de Lucas no que diz respeito a "passagem de bastão").
A Colina Escarlate
3.3 1,3K Assista AgoraHomenagem aos romances góticos pouco inspirada. Só vale mesmo pela direção de arte.
Kingsman: O Círculo Dourado
3.5 885 Assista AgoraSÓ ESTILO NÃO SUSTENTA UM FILME
O primeiro Kingsman pegou todo mundo de surpresa com uma divertida, estilosa e sacana paródia dos filmes de James Bond. Além disso, trouxe a antológica cena da igreja, onde criacionistas fanáticos são massacrados numa catártica carnificina ao som de Free Bird do Lynyrd Skynyrd. Óbvio que com o sucesso do filme uma continuação seria inevitável. Pena que O Círculo Dourado não chega aos pés de seu predecessor.
A direção ainda apresenta alguns momentos inspirados - como a cena de abertura - porém o péssimo roteiro não se sustenta. Dessa vez temos uma vilã extremamente caricata com um plano boboca e a adição da versão estadunidense dos Kingsman, os Statesman, que, no final, não fedem nem cheiram. Ou seja, O Círculo Dourado não passa apenas de um exercício de estilo de Mattew Vaughn sem nada a acrescentar.
Em tempo: A participação do Elton John é patética.
Assassinato no Expresso do Oriente
3.4 938 Assista AgoraPra quê refilmar uma obra cujo filme original, dos anos setenta, dirigido pelo genial Sidney Lumet, não tem nada de datado?
Jim & Andy: The Great Beyond
4.2 162 Assista AgoraMundo de Andy é muito bom. E a atuação de Jim também. Porém, esperava mais dessa produção que acaba se transformando numa verdadeira ego-trip do ator. Caso fosse, de fato, um documentário, com depoimentos dos envolvidos na produção do filme na época, principalmente do Milos Forman, teria sido uma experiência melhor aproveitada.
O Bar
3.2 569Foge totalmente da filmografia até então apresentada pelo diretor espanhol Alex de la Iglesia, embora tenha um lado cômico (como é de praxe). Esse é seu trabalho mais tenso. Bem dirigido e com coisas em aberto para encucar o espectador ao fim da projeção. Gostei bastante.
Liga da Justiça
3.3 2,5K Assista AgoraCHANCE DESPERDIÇADA
A Warner e Zack Snyder tinham tudo na mão. Um universo inteiro onde lendas do século XX habitam e vivem suas aventuras há quase oitenta anos. Entretanto, depois do fraco Batman v Superman, eles não aprenderam a lição. Liga da Justiça é um tantinho melhor do que o filme que reuniu - e colocou para brigarem - os dois ícones dos quadrinhos mas isso é praticamente nada.
Num roteiro preguiçoso, sem o mínimo de emoção, onde não sentimos ameaça e nem vontade de torcer por ninguém, Snyder e cia tropeçam feio e colocam o universo DC no cinema em cheque. Será que vale a pena continuar? Nem Joss Whedon - um bom roteirista que sabe lidar bem com múltiplos personagens - conseguiu arrumar a bagunça que já estava feita. As críticas furiosas com relação Batman v Superman ligaram o farol amarelo da Warner e, provavelmente, o estúdio caiu matando em Snyder para que ele mudasse o tom do filme - que já estava sendo rodado. Ou seja, Liga da Justiça é uma verdadeira colcha de retalhos, seja nas piadinhas forçadas, seja na boca artificial do Superman, seja na brusca mudança de personalidade do Batman.
Para mim não parece um filme que custou 300 milhões de dólares. Os efeitos especiais e cenografia não estão bons, o vilão - além de um péssimo personagem - é um boneco de CGI muito do mal feito. A volta do Superman é sem graça. A volta do Superman em ação é mais sem graça ainda (embora ele agora esteja com o semblante mais superheroico como sua contra-parte nas HQS) e o filme só vale mesmo por uma ou duas cenas legais - a primeira com o Batman foi a que mais gostei - e um ou outro momento onde vemos a mão de Whedon no roteiro. De resto, um filme genérico e esquecível. A segunda cena pós crédito até que é legal e promissora. Porém, não consigo mais acreditar nas promessas vindas desse "desuniverso" cinematográfico da DC. Uma pena.
O Matador
3.3 222 Assista AgoraA questão da influência dos westerns gringos nem me incomodou. O problema mesmo é com a questão narrativa e desenvolvimento dos personagens. Esteticamente é apenas ok, onde ao mesmo, curiosamente, vemos lindas tomadas, entretanto algumas passagens lembraram produções televisivas meia-boca.
Um exemplo de bom western brasuca é o próprio Faroeste Caboclo, onde o diretor, claramente, se inspirou em Sergio Leone com resultado bem mais satisfatório.
It Was Fifty Years Ago Today! The Beatles: Sgt Pepper …
3.5 10Razoável e olhe lá. Achei que o documentário seria exclusivamente sobre a gravação de Sgt. Peppers e a importância do seu legado. Logo isso é deixado de lado para se falar do Maharishi e da fundação da Apple, dois pontos já discutidos a exaustão.
Um Contratempo
4.2 2,0KSe perde em meio a tantas reviravoltas. Fora que com 1 hora de filme da para sacar o principal plot-twist. E o ator que interpreta o Dória é ruim de doer.
Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraAve, Villeneuve!
Quando anunciaram que Blade Runner teria uma continuação, minha primeira reação foi: Pronto, mais uma bomba que vai macular o legado do clássico sci-fi. Quando Ridley Scott foi confirmado no projeto, fiquei mais temeroso ainda já que Scott ao longo dos ano vem se mostrando um cineasta deveras irregular. Mesmo com a notícia de que o autor do roteiro do filme de 1982 estaria envolvido não me tranquilizou. Só vim a ter certo otimismo quando Dennis Villeneuve foi contratado como diretor. Ainda mais depois do cineasta lançar um dos melhores filmes do ano passado, o excelente A Chegada. Depois vieram os trailers cujo foco era um pouco voltado às pirotecnias, o que não me deixou animado. Ou seja, entrei no cinema sem grandes expectativas para não me decepcionar.
Entretanto, mesmo que eu tivesse entrado na sala de exibição cheio de ansiedade e fé, não estaria preparado para um resultado tão positivo.
OBRIGADO, DENIS VILLENEUVE!
O novo Blade Runner é soberbo! Visualmente destruidor, ele traz o clima do filme de 1982, porém com a marca de Villeneuve. A fotografia é a coisa mais linda das telas esse ano e facilmente estará entre as indicadas ao careca dourado ano que vem. A trama é muito, mas muito bem desenvolvida, não só evocando ao original como abrindo novas ótimas possibilidades para esse universo. 2049 é puro tech-noir, até mais do que o seu antecessor. A trama de investigação remete aos filmes policiais dos anos 40/50 com cada pista revelando um fato novo até o seu acachapante final. Blade Runner continua com sua pegada filosófica, discutindo temas pertinentes desde a época do original até os dias de hoje. Na direção de arte, houve um tremendo cuidado em manter fidelidade com o original não só no clima, mas também a tecnologia e os designs dos ambientes e cidades. Obviamente tudo está avançado pois estamos trinta anos a frente do original na história, porém tudo exibido condiz com aquela atmosfera que tanto amamos.
O elenco é ótimo. Ryan Gosling nasceu para esse tipo de papel. Se fosse ator nos anos 40, estaria ao lado de Borgart e Mitchium no panteão dos atores de filmes noir. O elenco feminino também manda muito bem - com destaque para a cubana Ana de Armas. Jared Leto, apesar de um tanto afetado, acerta com seu Niander Wallace. Todavia, a melhor atuação é de, pasmem, Harrison Ford. Há muito tempo eu não via o veterano atuando de maneira tão entregue. A volta de Deckard é emocionante - para nós público - embora Blade Runner seja um filme bem centrado e racional.
No inicio do texto, eu comentei sobre as pirotecnias do trailer. Mais uma vez o marketing quer vender algo que não condiz com o que vemos na tela. As cenas de ação são como no original, pontuais e que servem a história. Sobre a trilha sonora, não há como comparar com a obra-prima do Vangelis, mas a exibida aqui é bastante competente e em diversos momentos lembra a banda sonora composta pelo grego em 82.
Blade Runner 2049 é até o momento, de longe, o melhor filme do ano. Quem gosta do original dificilmente não vai gostar dessa continuação. O carinho de Villeneuve e dos envolvidos foi tanto com o material original que não da para reclamar de praticamente nada. É aquilo, nas mãos de gente competente e comprometida, até mesmo um clássico como Blade Runner conseguiu ter uma continuação que faz jus ao original.