"Os Observadores" fez jus ao sobrenome do diretor: não prometeu nada e entregou o que prometeu. Partindo da premissa nada inovadora sobre um lugar no meio da floresta, há aqui inclusao de elementos sobrenaturais de forma abrupta e muito pouco convincente, apelando para o desconhecido. Por mais que o elenco esteja ótimo, a gente percebe que é um filme bem vazio, e para piorar anticlimático. Gostei do tom claustrofóbico e da ambientação (por mais clichê), ena que é tudo mal aproveitado.
"Grande Sertão: Veredas" é um dos maiores clássicos da literatura brasileira, escrito por João Guimarães Rosa e publicado pela primeira vez em 1956. O romance é notável por sua linguagem inovadora, então faz muito sentido essa adaptação privilegiar a linguagem, de modo que a gente se sente completamente imersivo num mundo literário meio teatral.
Sendo assim, cacoetes e tons a mais ficou organicamente atralado à narrativa, fantasiosa algumas vezes. A briga entre facção e polícia com uma estética cenográfica que vai do realismo ao fantasioso, me lembrou um pouco "Amor sublime amor", tendo como pano de fundo um sertão em favela. Geograficamente, a encenação ficou perfeita.
Confesso que o tom acelerado e de urgência me incomoda um pouco, o filme tem pouco espaço para contemplação, e o ritmo cansa lá pelas tantas. Mas é essa a proposta, e foi muito bem executada.
Ainda acho que Caio Blat é superestimado, mas aqui tem uma ajuda de um roteiro que sabe o que quer. A complexidade dos antagonistas Riobaldo e Hermógenes é notável, mas é na construção de Diadorim que há o coração do filme, e aqui foi muito bem interpretado, fugindo da caricatura.
A narração em off preserva parte do texto original mas tem pinceladas didáticas, em especial a mora da história. Assim, o filme tenta equilibrar a prolixidade com o tom mais popular e pedagógico ao grande público, por mais que o personagem narrador as vezes exponha até demais, acho ótima a preocupação do cineasta em fazer da obra algo mais palatável, até porque, as imagens dão conta do recado, de modo que é um filme fácil de se compreender e preserva grande parte da poesia do material original.
Gosto de quase tudo nesse filme em termos estéticos, do sangue e mortes meio plastificadas ao caos irbano construído, é uma delícia a fotografia e a direção de arte. a trilha está incansável, de modo que tenta segurar as quase duas horas de um filme feito para não piscar.
"Grande sertão" é uma obra ousada, o saldo é pra lá de positivo, Guel Arraes de fato fez aqui seu melhor trabalho e nos entrega um grande presente em pleno mês junino.
Um trabalho documental bem interessante sobre a música popular brasileira e o pianista brasileiro desaparecido pela ditadura militar argentina. Claro que há uma comoção muito grande a respeito do caso, e não é à toa: um músico promissor sem ligação com partidos de esquerda, mas tido como subversivo por ser artista, tendo que pagar pela vida fruto da brutalidade.
Sobrevivendo com muitos relatos e participações de famosos nomes da música brasileira, o documentário/animação também se sustenta pelos traços, simples mas bem bonitos. Muitas falas são jogadas e há um excesso de informações que no meio do filme cansa, mas a trilha e o charme do filme compensam.
Dá pra ver que o roteiro sabia onde queria chegar, reconsituindo os passos e a história de vida do músico, por mais que quase se perca,imagino que muita coisa ainda deva ter ficado de fora. Riquíssima fonte da história cultural tupiniquim.
Há vários filmes sobre como lidar com o luto, e aqui o padrão Netflix uniu um filme com vibe adolescente e o luto de uma irmã que perde a outra. Claro que o roteiro força situações, inclusive amorosas (para variar), mas gosto como a personagem principal é trabalhada, numa complexidade e confusão interessantes, não a tratando como uma adolescente boba. Ora ela vai ter que se encontrar, seja para lidar com sua personalidade prpopria (e não a projeção à irmã), ora terá de lidar com a culpa ou solidão. Bom, algumas emoções soaram bem genuínas.
Liam Neeson está mais para drama do que para ação aqui, sendo que a ação ao explodir em tela ao final, é bem ruinzinha, não empolga. Os conflitos civis entre Irlanda e Inglaterra, bem como a questão de grupos separatistas é muito mal explorada, serva mais para situar quase que de forma mecanicista os grupos. O roteiro pelo menos não complica, não é cheio de reviravoltas absurdas, então parte da história é crível.
Um filme que se faz propositalmente prolixo, com uma espécie de citações, diálogos em excesso, sem nenhum momento sequer dedicado à imagem, exceto na (pouca explorada) piscina, e de forma óbvia. Uma bomba.
Em que pese seja ótimo ver novamente o Will Smith em tela, esse Bad boys tem uma história tão ordinária quanto os demais, e todo o suspense da identidade do vilão é injustificável, assim como coisas aleatórias acontecendo (o acidente do aprceiro, por exemplo). O bom é que é perceptível o quanto o elenco se diverte fazendo aquela galhofa. Para desespero dos críticos de filmes de ação em relação a estarem parecendo cenas de videogame, aqui a direção mandou todo mundo pra longe e se entregou à estética de um Counter Strike da vida, inclusive com câmeras em primeira pessoa... Ao menos a diversão é garantida, para uma história completamente esquecível. Esperava que ao menos ganhasse em emoção, mas é falho também nesse quesito, embora tenha um tom familiar e nostálgico interessante.
O filme tem boas intenções e alguns diálogos interessantes, mas a intenção é solapada pelo péssimo argumento: emulando uma Hogwarts (sem castelo, claro, apenas uma sala caracterizando o grupo mágico) de pessoas negras, é no mínimo estranho ver que o roteiro tenta literalmente criar uma realidade invertida, onde pessoas pretas com poderes ajudam pessoas negras, mas isso não se sustenta quando vemos o protagonista sofrer diversos ataques, e ao revidar, inclusive sofre penalizações (!). Pra piorar, o roteiro vai do racismo ao sexismo em sua conclusão. Foi pra isso que os roteiristas pediram aumento?
O filme sabe dosar muito bem a comédia em um tom meio delirante de seu protagonista (Jake Johnson está ótimo), de modo que dei boas gargalhadas com as situações, sem saber ao certo se era delírio de seu personagem.
O mais bacana é que a direção não levou tudo ao besteirol: ao contrário, eu me sentir envolvido à história e achei crível a trama, que basicmente põe um homem solitário e com dificualdades de relacionamento social, quase um incel (embora ele seja demais educado pra isso), a conviver obrgatoriamente com pessoas, do contrário, ele será morto.
As participações especias não estão apenas fazendo figuração, realmente acrescentam à obra. Isso prova que o roteiro foi trabalhado, embora a parte técnica do filme seja bem mediana, há um esforço aqui pela história.
É um delírio, claro, e muitos absurdos acontecem, mas a representação simbólica da solidão do homem hétero está muito bem representada aqui. Filme muito divertido e que surpreende positivamente.
Só a memória afetiva sobrevive, porque é um filme que, ao chegar em Hogwarts, carece de ritmo, bem como a explicação dos marotos é muito mal trabalhada (e são figura centrais aqui). Feito para fãs, e isso não é um elogio, ainda que Cuarón seja o diretor mais talentoso da saga, disso não há como negar, com momentos esteticamente bem interessantes.
Gosto da condução do primeiro ato, uma personagem enigmática e imponente e administrar o jardim pedindo para o seu funcionário mais "íntimo" que ensine botânica à sobrinha degenerada. Ainda que a moça em nenhum momento pareça ser uma má pessoa, o roteiro faz questão, com a trilha sonora e demais elementos, de tornar sua presença um perigo ou ao menos um mistério.
Então, de certa forma o filme mostra as expectativas que criamos sobre os outros, muito do que chamamos de "tóxico" são projeções, e o filme tenta mostrar isso com diversos elementos, desde personagens que passaram pelo nazismo, racismo, criminalidade ou desejos reprimidos. O problema que se perde nesse turbilhão.
Ao menos a metáfora para um jardim que vai perdendo cores devido esse turbilhão, funciona, mas sem saber ao certo onde se aprofundar e com uma história entediante, o filme vai decaindo exponencimente da metade pro final.
Tem um formato e uma estética meio televisiva, com diálogos e situações que, infelizmente, não passam a naturalidade da situação. A história do rapaz que engana um oficial lhe oferecendo aulas da língua persa, na verdade inventando um idioma, tem momentos interessantes, como a associação que o rapaz faz com a lista de nomes dos prisioneiros e as palavras. Uma pena que seu algoz é caricato, na verdade todo o formato é demasiadamente maniqueísta. Ainda assim, arranca um pulso de esperança na justiça de seu desfecho, e realmente é uma história gostosa de acompanhar.
Anthony Hopkins já fez um filme de diálogo em "Dois papas", mas enquanto o filme de temática religiosa tem um propósito claro na condução das falas, aqui Freud e C. S. Lewis estão completamente perdidos, como cegos em tiroteio, e com citações que beiram a transcrição de seus livros clássicos, mas deixando no ar um tom de ser muito forçada a situação. Ainda assim certos temas até instigam, mas certamente não será nesse filme que se promoverá um bom debate.
A única coisa boa é a pegada naturalista, mas o roteiro é tão vazio, anda em círculos, e os meninos são tão sem graça, que ou você curte a colcha de retalhos ou você eternamente irá se perguntar: por quê?
Temos uma excelente ideia aqui sobre seres humanos deficientes que ganham "superpoderes" com o desenvolvimento de próteses cada vez mais modernas, oq ue é sentido de forma vital no mundo dos esportes. Mas todo o desenvolvimento da trama é aquele padrão típico da Netflix: resoluções fáceis e convenientes, roteiro que você precisa desligar o cérebro para acreditar, muitas e muitas facilidades. A ação não convence muito, mas a parte técnica ao menos está bem caprichada, com muitos elementos cenográficos interessantes. Uma pena ter o padrão enlatado, com vilões quase unilaterais. Dava pra ser um filme bem melhor.
Que delícia de documentário! Não sou da época dos Muppets nem da Vila Sésamo, mas fiquei vidrado com a edição primorosa, são quase duas horas de filme e que faz jus à mente criativa do Jim Henson. Só achei que o documentário trouxe poucos dados e, muitas vezes faltou uma legenda básica ali (como nos famosos que fizeram aprticipações especiais com os muppets, fiquei sem reconhecer alguns). Ainda assim, um filminho muito divertido, que dá conta de falar sobre uma carreira toda de forma muito competente, inclusive de fracassos e pressões da indústria midiática.
Gosto particularmente de como o documentário equilibra a visão dos dirigentes com os demais funcionários, em especial a dupla fundadora da empresa que fora destituída de seus cargos pela ganância dos novos administradores. Acredito que o documentário seja um excelente ponta pé para se discutir o capitalismo financeiro, com suas empresas de capital aberto que, muitas vezes, estão em descompasso com o mundo real, ainda que seja uma tragédia anunciada. Faltou um pouco mais de pegada pedagógica para se tornar verdadeiramente uma aula, pois o doc prefere focar nos aspectos moralistas de quem causou a derrocada da empresa e nos aspectos de salvador de quem está tentando reerguê-la.
A habilidade e falta de pressa em narrar a história funciona para gerar ambientação, mas torna-se aborrecida lá pelas tantas e esconde uma história vazia. O começo do filme trás dados itneressantes sobre crimes violentos, mas ao apostar num estudo de caso, pareceu tudo muito masoquista mesmo, sem uma ligação maior com um todo. Basicamente o casal indo parar numa casinha no meio do nada e o fime descambando naquele tipo de perseguição genérica que já vimos milhões de vezes. Gosto da dupla protagonista e da química do casal, e juntamente com o ar charmoso com que tudo é filmado, ao menos o filme não é de se jogar fora. Se desistirem do capítulo dois, ninguém sentirá falta.
Quando a cena de apresentação começa (o Magal num palco que não trasmite imersão nenhuma) você já sabe que dali em diante será um filme sofrível, tanto pela aspecto técnico da direçãod e arte quanto pela direção, que não sabe se desvencilhar dos cacoetes pra TV. Duas estrelas para o par de protagonista, que consegue conferir dignidade ao material, mesmo com roteiro e diálogo bem ruins. Ao menos a homenagem ao casal existe enquanto ainda estão vivos, e também foi um ponto acertado a trama envolver um recorte da sua juventude. Outro ponto positivo é que as músicas foram inseridas de forma econômica e no tempo certo, mas infelizmente as danças são bem fracas: iria dizer que se parecem com danças do tik tok, mas antes fosse! Com mais recurso, dava pra fazer um bom musical sobre essa história.
Que tara é essa de Hollywood por filmes de freira e ainda por cima grávidas? Ficou tosco? Muito. Mas ao menos o final salva tudo do desastre, com uma perseguição bem claustrofóbica. A atuação da querida Sydney Sweeney também está acima da média do gênero, carregando o filme nas costas.
Não conhecia nada da série, do anime, ou dos filmes anteriores, e isso não me impediu de me divertir. As cenas coreografadas estão sensacionais, simplesmente é fantástico ver o vôlei ganhando uma animação tão bem feita, com destaque para dois momentos: a câmera acompanhando a bola e o giro de 360º. Talvez faltou uma apresentação melhor dos personagens, mas quem acompanha não terá dificuldade alguma com essa obra. Menção honrosa à dublagem brasileira, com nossas gírias e jargões que arrancaram várias gargalhadas do cinema.
Em "quem quer ser o milionário", Dev Patel é testado em sua história de vida, vendo num jogo de perguntas e respostas, em um conto meio fantabuloso, uma forma de subir na vida. Ainda que o "American way of life" permaneça como ideologia impregnante, temos aqui um filme que não mede esforços na violência e para escancarar a desigualdade social da Índia, com elementos universais (e chega a ser até um tanto masoquista).
Logo no início, já como diretor, Patel torna seu cinema palatável às massas: a vingança do filme, queridos cristãos, é algo bíblico, desde Adão e Eva, o mundo se fez em culpa e vingança. Assim, fazendo um apelo religioso de modo a justificar todo o sangue que será derramado, uns gratuitamente e outros nem tanto, ao menos Patel tem o discernimento de seu cinema coreografado e imagético, como num John Wick lá daquelas bandas.
Infelizmente seu porte físico não me deixou imerso tanto quanto deveria, mas o roteiro está um capricho só, assim como a direção de arte: usa a Índia com muitos elementos culturais, muitos dos quais sequer explica, e embora alguns espectadores possam parecer perdido, gosto da ideia de inserir organicamente os elementos de sua origem sem maiores notas de rodapé, de modo que, se a trama central é bem didática em suas motivações (com direito a um flashback revelador), os detalhes, que são muitos, obrigam-nos a estarmos sempre atentos.
Assim, ele dá vida a seu protagonista impávido por vingança, que penetra numa empresa com figurões e consegue, sem largar suas raízes, promover um derramamento de sangue com cenas que equilibram bem o espetáculo de sua câmera e o jogo de corpos.
Por mais que essa história de redenção esteja longe de ser a mais original possível, temos um excelente retrato da Índia, e de como o cinema comercial de Hollywood a vê, mas aqui várias características particulares fazem do filme um algo a mais. Não sei até que ponto é caricatural ou desrespeitoso às tradições, mas como mensagem em si, é poderosa, é gostoso de assistir, duas horas que passei vidrado na tela do cinema acompanhando esse tom épico que lembra muito bem os filmes indianos ("bollywood"), mas que insere Patel de forma muito mais globalizada no cenário cinematográfico.
Embora eu ache que a todo o instante o roteiro estivesse procurando conflitos (com os Beatles, com a mídia, com a genialidade de um integrante etc), pra quem não conhecia nada da banda como eu, foi interessante. Um filme com muitos elementos para se discutir a indústria cultural e de massa, a questão da originalidade em confronto com aquilo que o público quer ver, e pegando os efervescentes anos de 1960. Excelente escolha, e bem legal ver a maioria dos integrantes vivos.
Não há dúvidas de que é uma animação muito bonita de assistir, até mesmo a paleta de cores casa muito bem com a proposta futurista dark, assim como as cenas de ação bem produzidas. No entanto, confesso que o roteiro não me agradou, tanto o excesso de personagens como o miolo todo: o final se basta como trama independentemente de toda a correria que o filme apresentou, ficando tudo muito gratuito.
Os Observadores
3.2 40"Os Observadores" fez jus ao sobrenome do diretor: não prometeu nada e entregou o que prometeu. Partindo da premissa nada inovadora sobre um lugar no meio da floresta, há aqui inclusao de elementos sobrenaturais de forma abrupta e muito pouco convincente, apelando para o desconhecido. Por mais que o elenco esteja ótimo, a gente percebe que é um filme bem vazio, e para piorar anticlimático. Gostei do tom claustrofóbico e da ambientação (por mais clichê), ena que é tudo mal aproveitado.
Grande Sertão
3.5 15"Grande Sertão: Veredas" é um dos maiores clássicos da literatura brasileira, escrito por João Guimarães Rosa e publicado pela primeira vez em 1956. O romance é notável por sua linguagem inovadora, então faz muito sentido essa adaptação privilegiar a linguagem, de modo que a gente se sente completamente imersivo num mundo literário meio teatral.
Sendo assim, cacoetes e tons a mais ficou organicamente atralado à narrativa, fantasiosa algumas vezes. A briga entre facção e polícia com uma estética cenográfica que vai do realismo ao fantasioso, me lembrou um pouco "Amor sublime amor", tendo como pano de fundo um sertão em favela. Geograficamente, a encenação ficou perfeita.
Confesso que o tom acelerado e de urgência me incomoda um pouco, o filme tem pouco espaço para contemplação, e o ritmo cansa lá pelas tantas. Mas é essa a proposta, e foi muito bem executada.
Ainda acho que Caio Blat é superestimado, mas aqui tem uma ajuda de um roteiro que sabe o que quer. A complexidade dos antagonistas Riobaldo e Hermógenes é notável, mas é na construção de Diadorim que há o coração do filme, e aqui foi muito bem interpretado, fugindo da caricatura.
A narração em off preserva parte do texto original mas tem pinceladas didáticas, em especial a mora da história. Assim, o filme tenta equilibrar a prolixidade com o tom mais popular e pedagógico ao grande público, por mais que o personagem narrador as vezes exponha até demais, acho ótima a preocupação do cineasta em fazer da obra algo mais palatável, até porque, as imagens dão conta do recado, de modo que é um filme fácil de se compreender e preserva grande parte da poesia do material original.
Gosto de quase tudo nesse filme em termos estéticos, do sangue e mortes meio plastificadas ao caos irbano construído, é uma delícia a fotografia e a direção de arte. a trilha está incansável, de modo que tenta segurar as quase duas horas de um filme feito para não piscar.
"Grande sertão" é uma obra ousada, o saldo é pra lá de positivo, Guel Arraes de fato fez aqui seu melhor trabalho e nos entrega um grande presente em pleno mês junino.
Atiraram no Pianista
4.1 3 Assista AgoraUm trabalho documental bem interessante sobre a música popular brasileira e o pianista brasileiro desaparecido pela ditadura militar argentina. Claro que há uma comoção muito grande a respeito do caso, e não é à toa: um músico promissor sem ligação com partidos de esquerda, mas tido como subversivo por ser artista, tendo que pagar pela vida fruto da brutalidade.
Sobrevivendo com muitos relatos e participações de famosos nomes da música brasileira, o documentário/animação também se sustenta pelos traços, simples mas bem bonitos. Muitas falas são jogadas e há um excesso de informações que no meio do filme cansa, mas a trilha e o charme do filme compensam.
Dá pra ver que o roteiro sabia onde queria chegar, reconsituindo os passos e a história de vida do músico, por mais que quase se perca,imagino que muita coisa ainda deva ter ficado de fora. Riquíssima fonte da história cultural tupiniquim.
Uma Parte de Você
2.8 10Há vários filmes sobre como lidar com o luto, e aqui o padrão Netflix uniu um filme com vibe adolescente e o luto de uma irmã que perde a outra. Claro que o roteiro força situações, inclusive amorosas (para variar), mas gosto como a personagem principal é trabalhada, numa complexidade e confusão interessantes, não a tratando como uma adolescente boba. Ora ela vai ter que se encontrar, seja para lidar com sua personalidade prpopria (e não a projeção à irmã), ora terá de lidar com a culpa ou solidão. Bom, algumas emoções soaram bem genuínas.
Na Terra de Santos e Pecadores
3.0 22Liam Neeson está mais para drama do que para ação aqui, sendo que a ação ao explodir em tela ao final, é bem ruinzinha, não empolga. Os conflitos civis entre Irlanda e Inglaterra, bem como a questão de grupos separatistas é muito mal explorada, serva mais para situar quase que de forma mecanicista os grupos. O roteiro pelo menos não complica, não é cheio de reviravoltas absurdas, então parte da história é crível.
O Cara da Piscina
2.1 2Um filme que se faz propositalmente prolixo, com uma espécie de citações, diálogos em excesso, sem nenhum momento sequer dedicado à imagem, exceto na (pouca explorada) piscina, e de forma óbvia. Uma bomba.
Bad Boys: Até O Fim
3.6 18Em que pese seja ótimo ver novamente o Will Smith em tela, esse Bad boys tem uma história tão ordinária quanto os demais, e todo o suspense da identidade do vilão é injustificável, assim como coisas aleatórias acontecendo (o acidente do aprceiro, por exemplo). O bom é que é perceptível o quanto o elenco se diverte fazendo aquela galhofa. Para desespero dos críticos de filmes de ação em relação a estarem parecendo cenas de videogame, aqui a direção mandou todo mundo pra longe e se entregou à estética de um Counter Strike da vida, inclusive com câmeras em primeira pessoa... Ao menos a diversão é garantida, para uma história completamente esquecível. Esperava que ao menos ganhasse em emoção, mas é falho também nesse quesito, embora tenha um tom familiar e nostálgico interessante.
The American Society of Magical Negroes
2.3 5 Assista AgoraO filme tem boas intenções e alguns diálogos interessantes, mas a intenção é solapada pelo péssimo argumento: emulando uma Hogwarts (sem castelo, claro, apenas uma sala caracterizando o grupo mágico) de pessoas negras, é no mínimo estranho ver que o roteiro tenta literalmente criar uma realidade invertida, onde pessoas pretas com poderes ajudam pessoas negras, mas isso não se sustenta quando vemos o protagonista sofrer diversos ataques, e ao revidar, inclusive sofre penalizações (!). Pra piorar, o roteiro vai do racismo ao sexismo em sua conclusão. Foi pra isso que os roteiristas pediram aumento?
Autoconfiança
2.8 8O filme sabe dosar muito bem a comédia em um tom meio delirante de seu protagonista (Jake Johnson está ótimo), de modo que dei boas gargalhadas com as situações, sem saber ao certo se era delírio de seu personagem.
O mais bacana é que a direção não levou tudo ao besteirol: ao contrário, eu me sentir envolvido à história e achei crível a trama, que basicmente põe um homem solitário e com dificualdades de relacionamento social, quase um incel (embora ele seja demais educado pra isso), a conviver obrgatoriamente com pessoas, do contrário, ele será morto.
As participações especias não estão apenas fazendo figuração, realmente acrescentam à obra. Isso prova que o roteiro foi trabalhado, embora a parte técnica do filme seja bem mediana, há um esforço aqui pela história.
É um delírio, claro, e muitos absurdos acontecem, mas a representação simbólica da solidão do homem hétero está muito bem representada aqui. Filme muito divertido e que surpreende positivamente.
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban
4.2 1,6K Assista AgoraSó a memória afetiva sobrevive, porque é um filme que, ao chegar em Hogwarts, carece de ritmo, bem como a explicação dos marotos é muito mal trabalhada (e são figura centrais aqui). Feito para fãs, e isso não é um elogio, ainda que Cuarón seja o diretor mais talentoso da saga, disso não há como negar, com momentos esteticamente bem interessantes.
Jardim dos Desejos
3.2 16Gosto da condução do primeiro ato, uma personagem enigmática e imponente e administrar o jardim pedindo para o seu funcionário mais "íntimo" que ensine botânica à sobrinha degenerada. Ainda que a moça em nenhum momento pareça ser uma má pessoa, o roteiro faz questão, com a trilha sonora e demais elementos, de tornar sua presença um perigo ou ao menos um mistério.
Então, de certa forma o filme mostra as expectativas que criamos sobre os outros, muito do que chamamos de "tóxico" são projeções, e o filme tenta mostrar isso com diversos elementos, desde personagens que passaram pelo nazismo, racismo, criminalidade ou desejos reprimidos. O problema que se perde nesse turbilhão.
Ao menos a metáfora para um jardim que vai perdendo cores devido esse turbilhão, funciona, mas sem saber ao certo onde se aprofundar e com uma história entediante, o filme vai decaindo exponencimente da metade pro final.
Uma Lição de Esperança
3.8 20 Assista AgoraTem um formato e uma estética meio televisiva, com diálogos e situações que, infelizmente, não passam a naturalidade da situação. A história do rapaz que engana um oficial lhe oferecendo aulas da língua persa, na verdade inventando um idioma, tem momentos interessantes, como a associação que o rapaz faz com a lista de nomes dos prisioneiros e as palavras. Uma pena que seu algoz é caricato, na verdade todo o formato é demasiadamente maniqueísta. Ainda assim, arranca um pulso de esperança na justiça de seu desfecho, e realmente é uma história gostosa de acompanhar.
A última Sessão de Freud
3.0 9 Assista AgoraAnthony Hopkins já fez um filme de diálogo em "Dois papas", mas enquanto o filme de temática religiosa tem um propósito claro na condução das falas, aqui Freud e C. S. Lewis estão completamente perdidos, como cegos em tiroteio, e com citações que beiram a transcrição de seus livros clássicos, mas deixando no ar um tom de ser muito forçada a situação. Ainda assim certos temas até instigam, mas certamente não será nesse filme que se promoverá um bom debate.
Arco-Íris de Gasolina
2.9 2 Assista AgoraA única coisa boa é a pegada naturalista, mas o roteiro é tão vazio, anda em círculos, e os meninos são tão sem graça, que ou você curte a colcha de retalhos ou você eternamente irá se perguntar: por quê?
Biônicos
2.4 44Temos uma excelente ideia aqui sobre seres humanos deficientes que ganham "superpoderes" com o desenvolvimento de próteses cada vez mais modernas, oq ue é sentido de forma vital no mundo dos esportes. Mas todo o desenvolvimento da trama é aquele padrão típico da Netflix: resoluções fáceis e convenientes, roteiro que você precisa desligar o cérebro para acreditar, muitas e muitas facilidades. A ação não convence muito, mas a parte técnica ao menos está bem caprichada, com muitos elementos cenográficos interessantes. Uma pena ter o padrão enlatado, com vilões quase unilaterais. Dava pra ser um filme bem melhor.
Jim Henson, o Homem-Ideia
4.0 3 Assista AgoraQue delícia de documentário! Não sou da época dos Muppets nem da Vila Sésamo, mas fiquei vidrado com a edição primorosa, são quase duas horas de filme e que faz jus à mente criativa do Jim Henson. Só achei que o documentário trouxe poucos dados e, muitas vezes faltou uma legenda básica ali (como nos famosos que fizeram aprticipações especiais com os muppets, fiquei sem reconhecer alguns). Ainda assim, um filminho muito divertido, que dá conta de falar sobre uma carreira toda de forma muito competente, inclusive de fracassos e pressões da indústria midiática.
MoviePass: A Última Sessão
3.5 2 Assista AgoraGosto particularmente de como o documentário equilibra a visão dos dirigentes com os demais funcionários, em especial a dupla fundadora da empresa que fora destituída de seus cargos pela ganância dos novos administradores. Acredito que o documentário seja um excelente ponta pé para se discutir o capitalismo financeiro, com suas empresas de capital aberto que, muitas vezes, estão em descompasso com o mundo real, ainda que seja uma tragédia anunciada. Faltou um pouco mais de pegada pedagógica para se tornar verdadeiramente uma aula, pois o doc prefere focar nos aspectos moralistas de quem causou a derrocada da empresa e nos aspectos de salvador de quem está tentando reerguê-la.
Os Estranhos: Capítulo 1
2.1 79A habilidade e falta de pressa em narrar a história funciona para gerar ambientação, mas torna-se aborrecida lá pelas tantas e esconde uma história vazia. O começo do filme trás dados itneressantes sobre crimes violentos, mas ao apostar num estudo de caso, pareceu tudo muito masoquista mesmo, sem uma ligação maior com um todo. Basicamente o casal indo parar numa casinha no meio do nada e o fime descambando naquele tipo de perseguição genérica que já vimos milhões de vezes. Gosto da dupla protagonista e da química do casal, e juntamente com o ar charmoso com que tudo é filmado, ao menos o filme não é de se jogar fora. Se desistirem do capítulo dois, ninguém sentirá falta.
Meu Sangue Ferve por Você
3.1 6Quando a cena de apresentação começa (o Magal num palco que não trasmite imersão nenhuma) você já sabe que dali em diante será um filme sofrível, tanto pela aspecto técnico da direçãod e arte quanto pela direção, que não sabe se desvencilhar dos cacoetes pra TV. Duas estrelas para o par de protagonista, que consegue conferir dignidade ao material, mesmo com roteiro e diálogo bem ruins. Ao menos a homenagem ao casal existe enquanto ainda estão vivos, e também foi um ponto acertado a trama envolver um recorte da sua juventude. Outro ponto positivo é que as músicas foram inseridas de forma econômica e no tempo certo, mas infelizmente as danças são bem fracas: iria dizer que se parecem com danças do tik tok, mas antes fosse! Com mais recurso, dava pra fazer um bom musical sobre essa história.
Imaculada
3.1 226Que tara é essa de Hollywood por filmes de freira e ainda por cima grávidas? Ficou tosco? Muito. Mas ao menos o final salva tudo do desastre, com uma perseguição bem claustrofóbica. A atuação da querida Sydney Sweeney também está acima da média do gênero, carregando o filme nas costas.
HAIKYU!! A Batalha do Lixão
4.3 8Não conhecia nada da série, do anime, ou dos filmes anteriores, e isso não me impediu de me divertir. As cenas coreografadas estão sensacionais, simplesmente é fantástico ver o vôlei ganhando uma animação tão bem feita, com destaque para dois momentos: a câmera acompanhando a bola e o giro de 360º. Talvez faltou uma apresentação melhor dos personagens, mas quem acompanha não terá dificuldade alguma com essa obra. Menção honrosa à dublagem brasileira, com nossas gírias e jargões que arrancaram várias gargalhadas do cinema.
Fúria Primitiva
3.7 105Em "quem quer ser o milionário", Dev Patel é testado em sua história de vida, vendo num jogo de perguntas e respostas, em um conto meio fantabuloso, uma forma de subir na vida. Ainda que o "American way of life" permaneça como ideologia impregnante, temos aqui um filme que não mede esforços na violência e para escancarar a desigualdade social da Índia, com elementos universais (e chega a ser até um tanto masoquista).
Logo no início, já como diretor, Patel torna seu cinema palatável às massas: a vingança do filme, queridos cristãos, é algo bíblico, desde Adão e Eva, o mundo se fez em culpa e vingança. Assim, fazendo um apelo religioso de modo a justificar todo o sangue que será derramado, uns gratuitamente e outros nem tanto, ao menos Patel tem o discernimento de seu cinema coreografado e imagético, como num John Wick lá daquelas bandas.
Infelizmente seu porte físico não me deixou imerso tanto quanto deveria, mas o roteiro está um capricho só, assim como a direção de arte: usa a Índia com muitos elementos culturais, muitos dos quais sequer explica, e embora alguns espectadores possam parecer perdido, gosto da ideia de inserir organicamente os elementos de sua origem sem maiores notas de rodapé, de modo que, se a trama central é bem didática em suas motivações (com direito a um flashback revelador), os detalhes, que são muitos, obrigam-nos a estarmos sempre atentos.
Assim, ele dá vida a seu protagonista impávido por vingança, que penetra numa empresa com figurões e consegue, sem largar suas raízes, promover um derramamento de sangue com cenas que equilibram bem o espetáculo de sua câmera e o jogo de corpos.
Por mais que essa história de redenção esteja longe de ser a mais original possível, temos um excelente retrato da Índia, e de como o cinema comercial de Hollywood a vê, mas aqui várias características particulares fazem do filme um algo a mais. Não sei até que ponto é caricatural ou desrespeitoso às tradições, mas como mensagem em si, é poderosa, é gostoso de assistir, duas horas que passei vidrado na tela do cinema acompanhando esse tom épico que lembra muito bem os filmes indianos ("bollywood"), mas que insere Patel de forma muito mais globalizada no cenário cinematográfico.
The Beach Boys
3.8 8Embora eu ache que a todo o instante o roteiro estivesse procurando conflitos (com os Beatles, com a mídia, com a genialidade de um integrante etc), pra quem não conhecia nada da banda como eu, foi interessante. Um filme com muitos elementos para se discutir a indústria cultural e de massa, a questão da originalidade em confronto com aquilo que o público quer ver, e pegando os efervescentes anos de 1960. Excelente escolha, e bem legal ver a maioria dos integrantes vivos.
Mars Express
3.8 10 Assista AgoraNão há dúvidas de que é uma animação muito bonita de assistir, até mesmo a paleta de cores casa muito bem com a proposta futurista dark, assim como as cenas de ação bem produzidas. No entanto, confesso que o roteiro não me agradou, tanto o excesso de personagens como o miolo todo: o final se basta como trama independentemente de toda a correria que o filme apresentou, ficando tudo muito gratuito.