A ideia toda é super mal conduzida, e as mortes ficaram num anti-clímax terrível: basicamente os amigos se reúnem num casarão (quanta criatividade) para aproveitar o final de semana, no qual acham uma caixa com baralho de tarot/horóscopo. Sim, se é confuso pra você, para o roteiro também. Terá alguém no grupo que lerá o horóscopo de cada, e apartir dapi está lançada a maldição. Daí, quando acontecem as mortes (seguinto o prescrito nas cartas, claro que de certa forma um tanto quanto enigmático), você deve lembrar do que a jovem disse, só que o roteiro o faz com uma voz distante em eco e, para piorar, com muitos cortes e pouco sangue. A reviravolta e as piadas não funcionam. O filme todo é bem capenga, na verdade.
A única coisa que se salva nesse filme é a trilha sonora e o talento da protagonista mirim. Mesmo os veteranos estão canastrões, e a ideia de reparar os vínculos entre os amigos imaginários com seus criadores já crescidos (alguns nem tão adultos) falha miseravelmente, seja no apelo visual ridículo, seja no ritmo e edição tenebrosos. Não há aqui um domínio do espaço, de modo que os seres convivem com as pessoas de forma tão ridicularmente pobre, que filmes com mais de 30 anos como "Space Jam" parecem uma obra-prima. E tem uma direção de arte boa até, mas o roteiro e a direção não conseguem criar empatia com os seres. Decepcionante.
Confesso que me diverti bastante com a história dessas garotas. Aqui a lesbianidade surge como um elemento que é amis acessório do que propriamente vai guiar a trama, tendo o roteiro de 1990 feito piadas na medida certa. Uma pena que os vilões são bem ruins,e quando resolvem dar as caras com as protagonistas, fica tudo muito pior. Tem elementos bizarros, claro, mas como comédia funciona pela mão sempre talentosa do Cohen, que soube dosar o grotesco sem cair na vergonha alheia. Um road movie simpático, curto e bem divertido, embora nada muito memorável.
O talento do Ennio é indiscutível, com momentos que beiram a genialidade mesmo. Mas o documentário é um pé no caso, são duas horas e meia no mesmo formato: excesso de entrevistados babando ovo, em cortes rápidos (chega um momentoem que os adjetivos se esgotam); a cronologia dos filmes se mantém, com a inserção de trechos marcantes; o cenário não muda, ora de filmes ora o próprio homenageado e seus adoradores em close falando a respeito. Nada sobre o homem ou algo mais interessante sobre o processo de criação, apenas uma ou outra fala (como usou objetos em algumas composições, por eexemplo). E, claro, seguiu a cronologia mainstream, inclusive com ênfase dramático no Oscar.
É um documentário que fará o possível apra defender a tese de que, quanto mais forte o poder policial, pior apra a democracia. Apesar de alguns pontos de interesecção serem bem defendidos, como o racismo estrutural (gostei particularmente da citação filosófica sobre negros), peca, obvimente, por não apresentar contrapontos ao debate. E seria algo fundamental, pois o filme é um tanto maçante e acadêmico, com muita enrolação e ideias repetidas. Por mais que o resgate histórico seja importante, em determinado momento o filme anda em looping no argumento, muito porque a defesa de uma tese sem a antítese de fato paralisa a fluidez da trama. Acaba sendo mais um documentário com grande potencial, mas com pouca abertura para se compreender a complexidade da questão.
Existem três características importantíssimas para o filme biográfico musical funcionar que funcionam muito bem aqui: o recorte da trama; a caracterização do biografado; a organicidade das músicas ao enredo. "Back to black" é filmado com burocracia e sem inspiração, mas consegue se sair muito bem no essencial.
Além da protagonista Marisa Abela estar estupenda no papel, inclusive com evoluções no visual e na postural que soaram bastante natural, seu par romântico o namorado interpretado pelo excelente Jack O'Connel garante a tensão sexual que segura as pontas de um roteiro absolutamente clichê: o amor desguiado, a pressão entre a vida pessoal e artística da cantora, as drogas como ruína.
Alguns fãs reclamaram de como o pai foi retratado de forma bem benevolente, já que supostamente mantinha uma relação de exploração e pressão com a filha. Eu particularmente não conheço nada da vida dela para opinar, e o que vi foi um pai que, de fato, era um suporte equilibrado ali, provavelmente, na vida real, fora bem diferente disso mesmo.
Senti falta do processo de criação das músicas: por mais que o filme deixe explicado que a Amy viveu muito de suas letras, à exceção duma cena inicial, não lembro a moça em nenhum take com um lápis e um caderno na mão, de modo que tão logo os acontecimentos apareciam ( o luto, por exemplo) alguma música surgia como pano de fundo. Isso tira um pouco a naturalidade do vivido, mas ao mesmo tempo é um bom trabalho de como se confundia vida e obra.
Também achei, e não é culpa somente deste, que o filme forçou um ápice musical com "Rehab". Desde "Bohemia", aprece que se tornou algo estritamente necessário uma encenação final. Mas ao menos aqui se sai menos pior do que em filmes como os da "Whitney Houston". Ainda assim, lembro (esse sim está na memória) do seu último show, completamente desorientada e drogada, e o filme não trouxe isso à tona.
Em resumo, é uma biografia higienizada, facilitada pelo recorte certeiro de uma carreira que acabou bem cedo e de uma protagonista forte, com um par romântico que realmente funcionou em tela, do momento do encanto à ruína. Faz o básico e consegue, assim, entreter, mesmo com várias críticas à veracidade dos fatos. Ainda bem que cinema não necessariamente precisa ter compromisso com isso, muito embora, para uma biografia, isso de fato pode soar como defeito e concorrer contra a experiência pretendida.
Um filme completamente perdido sobre qual núcleo abordar, começa dando foco a questões corporativas numa empresa de energia da França, cuja Alta Administração vem se aproximando de interesses chineses, sendo sua protagonista uma líder sindical.
Nesse ínterim, ela sofre um atentado violento, dentro da própria casa, e o filme vai ganhando tons de contornos policiais. Sem sabermos ao certo a ligação entre um núcleo e outro, gosto de como o filme tenta se ater aos fatos e de como o que deve ficar em aberto realmente fica em aberto, mas não sei se as opções de narrar a história sob o ponto de vista dela, ainda mais ressaltando sua posição como sindicalista no título, foi a mais acertada.
Ainda assim, tudo foi filmada em tom burocrático, tornando o filme mais próximo do esquecível, mesmo que tenha sido baseado em fatos reais. Faltou-lhe identidade de gênero e visual para justificar as escolhas da obra.
Por mais violento e perturbador que seja a agressão sofrida, as lentes aqui usadas tornam tudo muito clean e o resultado é absurdamente frio para a proposta. As legendas ao final dizem muito mais do que duas horas de filme, sinal de que as imagens não deram conta do recado.
A ambientação com a fotografia escura até funciona, mesmo com a edição mecanicista em decidir contar a história em três momentos distintos (as memórias de infância do investigador, o que ocorrera com as meninas perdidas e o presente). Tudo isso pra esconder uma trama simples: desaparecimento de um corpo num ambiente denso e inóspito de mata fechada, onde aventureiros fazem trilha, o que coincide com o local onde 30 anos atrás um assassino em série matava mulheres.
No entanto, as justificativas para o grupo das meninas estarem ali é bem frágil, as conexões com o passado são bem frágeis, de modo que o suspense até engata, mas as motivações vão esnacendo o filme de qualquer pretenão mais séria. Para piorar, se o momento em que o filme regride aos acontecimentos com as meninas a mata parece ter quilômetros e quilômetros de distância, no momento presente das investigações parece que o espaço reduziu: faltou controle cênico do espaço.
Assim, o terço final do filme é só ladeira a baixo. A investiação feita sobre o caso é bem infantil, desenhos do Scooby-Doo conseguem ser mais profundos que isso. Se ficasse só no mistério talvez o filmefosse melhor, inclusive se deixasse mais aberto, pois é onde funciona. Ao tentar justificar a ação, o roteiro emenda uma disputa feminina constrangedora, um desenrolar que não vinga, um desfecho sem graça. Vale apenas para passsar o tempo mesmo.
O Oscar parece sabe muito bem mirar seu arsenal de arma soft para os russos. Mas se em "Navalny", premiado injustamente, a disputa por narrativas ficou enviesada, em "20 days in Mariupol" o viés se justifica, já que se trata de um estudo antropológico/histórico/investigativo de um lócus específico, e desta vez as palavras são poucas frente ao poder das imagens. É certo que a narração é over algumas vezes, mas pouco importa. Temos um retrato claro aqui do melhor cinema documental e da insanidade de uma guerra. Imagens perturbadoras, que irão perdurar por muito tempo em nossa memória. Lindo e, ao mesmo tempo, chocante.
Halder Gomes tem um extenso currículo com comédias nacionais regionais, retratando especialmente o povo nordestino, lugar que conhece de berço. Com isso, seu cinema usa uma linguagem mais popular e palatável, inegavelmente com certo apelo comercial que pode comprometer um tantinho incursões como essa aqui, voltado a um drama mais intimista e reflexivo. No entanto, acredito que o salto de qualidade e a ousadia, especialmente pelo domínio técnico do material em mãos e do uso de cores, como brinca com tons de vermelho e azul (do cabelo de suas atrizes à paleta dos quadros de pintura apresentados em cena), se permitindo voltas ao tempo, sem legenda, e uso de preto e branco de forma econômica, além de um cinema notadamente intimista, com uma edição tão ágil e populesca, fico com o veredito de que o cineasta realizou um grande filme, até agora o melhor nacional e um dos melhores do ano.
O filme me lembrou bastante "Cópia Fiel" (2010), dirigido por Abbas Kiarostami, que mergulha profundamente na questão da autenticidade e da cópia, utilizando uma narrativa complexa e rica em simbolismo para explorar esses temas. Halder Gomes, a seu jeito cearense, também questiona o conceito de autenticidade na arte, mas sem enveredar pela complexidade e pelo refinamento do Kiarostami. São apenas propostas diferentes.
Até porque, aqui temos um tom irônico e de desdém ao mundo glamuroso da arte, como o visto em obras do Allen: uma imersão naquele mundo, mas nitidamente por um olhar que lhe é externo, de um forasteiro. Assim, por mais que a sensação de ser um estrangeiro a falar daquele universo nunca passe, é também uma tentativa de um cineasta de explorar novos ares, do qual muito me impressiona o resultado, encantador na maioria das vezes, brusco em outras. No geral, muito satisfatório.
A obra original é tradicionalmente considerada mais valiosa devido à sua unicidade e ao vínculo direto com o criador. No entanto, o já citado "Cópia Fiel" sugere que o valor não está apenas no objeto em si, mas também na percepção e na experiência do observador. Walter Benjamin, em seu ensaio "A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica", discute como a reprodução técnica desvaloriza a “aura” da arte original, mas também democratiza o acesso à arte. Logo, a ideia de que uma cópia pode possuir um valor próprio é central no filme, tanto em Gomes quanto em Kiarostami. A cópia permite um novo tipo de interação e interpretação, potencialmente mais relevante para o contexto atual do observador. É aqui que os três personagens ganham vida nesse simulacro: a curadora golpista interpretada por Maria Fernanda Cândido, o pintor falsário Johannes muito bem vivido por Chico Díaz, e a deliciosa atriz ruiva e musa inspiradora vivida por Gracinda Nave.
Da relação lésbica à mistura entre inspiração artística, fetiche e ganância, embora o filme não tenha tirado toda a potencialidade da sensualidade de suas atrizes, consegue exalar o essencial para conduzir sua trama, movida em torno de um "Retrato de Dorian Gray" que seja capaz de elevar os ganhos de todos, insuflando o ego da atriz, musa inspiradora da obra, como em "O desprezo" de Goddard, e capaz de gerar lucros de quem desdenha da arte e está ali para faturar. Halder Gomes consegue, assim, trazer elementos de cinema clássico de uma moderna linguagem irônica e questionadora.
Ao editar seu filme de um modo ágil e imponente, e ainda, sem perder o toque farsesco e popular que lhe confere identidade, Gomes consegue sustentar uma história simples, até meio novelesca, por mais de duas horas sem perder o ritmo. Abrindo mais do lado mais intimista e reflexivo, às vezes, ele está entre o cineasta que ainda quer conversar com o seu público popular e o que está encantado com os vernizes dos museus europeus. Rodado em Portugal, Gomes vai conhecendo o mundo sem abandonar o olhar de um matuto. É um desbravador.
O filme fecha com a citação do ferreira Gullar, "A arte existe porque a vida não basta". Claro que temos problemas aqui com alguns diálogos (mecânicos), com a superficilidade de certos momentos, com a verossimilhança, talvez. Mas há momentos de puro deleite, com cortes preocupados em passar a dimensão de uma tela sendo pintada, é como se o filme em si fosse uma tentativa de imitar essa milenar discussão sobre autenticidade da arte e sobre como compreender que grandes obras (pinturas, mas o cinema também?) o são mais devido uma indústria por trás.
Platão, em sua teoria das Formas, argumenta que o mundo sensível é apenas uma sombra do mundo real das Ideias ou Formas, onde cada objeto no mundo físico é uma cópia imperfeita de uma Forma perfeita. "Vermleho Monet", que remete às cores de um pôr do sol no quadro de Monet, tendo no personagem pintor do filme, ironicamente, restado na lembrança (já que ele está perdendo a visão), deixa claro que a memória, a linguagem, em suma, a praticidade da vida é o ponto nodal da nossa percepção estética. A metáfora interessante e moderna dessa ideia vai sendo estudada, questionando se as cópias têm seu próprio valor intrínseco e se podem, em algum aspecto, alcançar a perfeição da Forma original, bem como atribuindo valor ao que não é necessariamente inerente ao objeto, mas construído através da interação e da interpretação, sinalizando muito mais pelo contexto do que pela obra em si.
A arte, assim, tem o poder de transformar nossa percepção da realidade e nos levar a questionar nossas crenças sobre autenticidade e valor, mas ao mesmo tempo em que a criamos, por ela somos criados. A tela que fora apresentada no final do filme, fruto de uma cena mais carnal dos personagens principais, mostra muito bem essa simbiose. Prefiro um forasteiro cearense a retratar esse universo, enriquecendo com sua linguagem e senso estético de que sabe que está lá, mas sem se ver como parte desse simulacro. Ainda assim, construído e influenciado por ele.
Se o John Galliano fosse brasileiro, seria eleitor de Bolsonaro, com certeza. Ao menos o documentário credita boa parte da sua criatividade à sua ganialidade (confesso que fiquei desconfiado de não ser produto de algo mais coletivo, em especial do seu amigo Steven). Ainda assim, muito bom o relato por trazer várias imagens antigas, permitindo ao espectador criar sua própria opinião. Confesso que sou do time que acredito na reabilitação das pessoas e na segunda chance, porém, é inegável não sentir desconforto para ver como o crime é muito mais leve quando se é um homem branco, ainda que gay.
PS: a melhor tradução para High and Slow seria "luxo e lixo" (expressão que uma das entrevistadas no documentário falou), o que, inclusive, retrataria melhor o universo do protagonista.
Não esperaria nada de um cara que dirigiu a primeira versão de "Meninas Malvadas", mas ao menos que fosse algo divertido, já que o já clássico filme da Regina, feito no início dos anos 2000, reúne os clichês do gênero e consegue trazer momentos icônicos e deliciosamente divertidos.
Já aqui, mais uma obra envolvendo sogra, casamento e amores passados, é tudo tão recliclado que o único atrativo fica por conta do belíssimo cenário, e se o cenário chama mais atenção que roteiro, personagens ou a trama em sim, é porque há algo de errado.
Então, temos o núcleo mais jovem, que irá casa, e o núcleo dos pais dos noivos, que revivem momentos e traumas. A bem da verdade, algo também interessante é a trama sair um pouco do núcleo jovem, mostrando uma vitalidade interessante para pessoas com mais idade. No etntanto, é tudo tão previsível e plastificado, com cenas tão higiênicas e pouco inspiradas, que tudo vai se passando sem agragar maior interesse ou emoção.
Para piorar, o núcleo de cosdjuvantes ou está para fazer um contraponto bem forçado ao casal, ou para tentar criar piadinhas. A cena mais interessante do filme, com os amigos na praia de nudismo, foi filmada com certa vergonha de mostrar os corpos, de modo que é isso que se trata o filme: sabe-se limitado, faz questão de ser limitado. Um filme que já parece datado, e não enxergou o potencial ali, não pela nudez, mas pela liberdade e pelo reencontro dos envolvidos.
Tudo não passou, portanto, de desculpa para fazer os sogros engrenarem um romance tão meloso quanto irreal. Pois embora o filme tente trazer vida nova e anos longos, o faz com os típicos dilemas da produção Netflix. Um desperdício.
Os noivos? Bem, aqui o casamento e os noivos são coadjuvantes de tudo, de modo que já sabemos o desfecho do filme antes mesmo de se passar 20 minutos da obra. A edição está longe de ser esperta. A parte técnica é bonita, claro, e o visual pode tentar camuflar mais uma história vazia diretamente do streaming.
É uma das franquias que eu mais amo no cinema, inclusive o contraverso produto do Tim Burton. No entanto, por mais linda que a fotografia esteja, confesso que achei este bem inferior em termos de roteiro, com vilões bastante estereotipados, com mensagens de doutrinação mais diretas e palatáveis, e principalmente, por um grande desbalanceamento do ritmo: enquanto as cenas de ação empolgam e são bem filmadas, o intervalo entre elas é tão raso quanto maçante, chato mesmo.
Ainda assim, a sensação de torpor à espécie humana permanece, e gostei porque independe do gênero: é a espécie que não presta mesmo. OBS: abre margem à uma continuação, então, esse filme realmente tem cara de um extenso (e por vezes tedioso) prólogo.
Tirando todo o anacronismo e revisionismo, é um filme divertido de acompanhar, me diverti muito mais com isso aqui do que com um Monty Python da vida. Claro que há um pouco de agenda woke, de modo que, sinceramente, eu me via mais no século XXI do que na primeira era cristã. Ainda assim, é simpático em sua proposta e confere diversidade a um mundo que acostumamos a ver com olhos europeus tradicionais.
Embra seja muito genérico, o filtrousado e os figurinos lembram os cássicos charmosos da década de 1980, de modo que a homenagem incrivelmente funciona. Claro que a história é boba, umromance improvável e cheio de personagens clichês em volta, mas para quem é saudosista desas vibe colegial oitocentista vai perceber a dedicação do fime em retratar a época, o timing funciona. Muito interessantever esse exercício de homenagem.
Não senti as quase 3h passarem, o roteiro tem uma fluidez e um vai vem no tempo mas com muita técnica, com filtros diferentes para você não ficar perdido, de modo que legendas são desnecessárias e a imagem dá conta do recado. No entanto, a trama sem pressa e um tanto sofisticadaé, na verdade, bem simples, com uma produtora documentando e escolhendo, dentre 4 histórias de acidente de trabalho, aquela que pode maquear melhor a versão em favor da empresa. é um tanto angustiante ver o capitalismo se aproveitar de epssoas vulneráveis, e consegue assim passar um ar sombrio, mais assutador que muito filme de terror.
Comédia sempre acima do tom, com piadas que dão uma vergonha alheia. As gags estão quase a nível de um "Austin Powers", mas tenta retratar o mundo das empresas de cereais da década de 1960 com muito sarcasmo, ironia, e várias "piadas" (?) de dupl sentido. Gosto como a produção tem ciência do amrketing por trás desse tipo de alimentação, no entanto, o filme por alguma razão não empolga, seja pela edição rapida e duvidosa, pelo excesso de personagens e de tentativas de soar engraçado. Talvez o único excesso que me agrada aqui sejam os figurinos, que estão bem coloridos e divertidos de ver.
O excesso de reminiscências deixa claro que literatura é uma coisa, filme é algo completamente diferente, de modo que aqui as imagens são incapazes de traduzir os extensos e aborrecidos monólogos da personagem principal. E olha que gosto do elenco, mesmo com suas limitações, achei que não ficaram bobinhos. A produção de arte deixa a desejar, e os enquadramentos são bem feios, tudo muito mal dirigido. Ainda assim, é um filme com enorme potencial, pois difere um pouco da abordagem açucarada de filmes enlatados para adolescentes para falar num tom mais sério sobre questões de saúde mental e do TOC, e o melhor, sem ser apelativo. John Green merecia um tratamento melhor, assim como fizeram no adorável "A culpa é das estrelas".
O filme funciona em absolutamente tudo o que se propõe quando direciona para homenagear filmes de ação: das gags visuais às brincadeiras com falas de alguns filmes, com direito a cenas de ação que não devem em nada aos clássicos, e uma atuação realmente acima da média do Gosling.
O dublê vai se centrar na vida desses anônimos que fazem cinema, mas não é apenas isso: vai mostrar muitos coadjuvantes e figurantes, câmeras, diretores, produtores. É quase um making of dentro de um filme, com direito a uma trama policial que, por mais simples que seja, permite ao roteiro inserir suas estripolias e cenas icônicas, aliás, mjuito bem dirigidas.
Blunt permanece mais passiva, porém, lá pelas tantas também arregaça as mangas, como boa parte do elenco. Confesso que a vilã não me agradou muito, em especial o maniqueísmo de suas falas, embora, talvez, lembre cernos filmes oitocentistas e mais farsescos.
Mas sem dúvidas o principal mérito de "O dublê" é as inúmeras referências casarem de forma muito orgânica e ágil ao roteiro e à edição, aliás, um show à parte: as duas horas passam voando, e mesmo na preparação para o terceiro ato, quando o filme quase perde o fôlego, a cena final gravando o filme dentro do filme se constitui como um clímax metalinguístico de puro domínio cênico, mesmo com o maniqueísmo da dupla de vilões.
Sem abrir mão da diversão e de tornar mais natural a homenagem, "O dublê" só força mesmo no romance, mas aqui é o que menos importa: garanti de muita explosão, apuro técnico e agilidade em narrar uma história bem amarradinha, tudo o que um filme de ação precisa ser. Destaque também para o som e a trilha do filme, excelentes e dão um charme maior à obra.
Uma animação bem movimentada e com inúmeras gags, faz rir crianças e adultos. Para ver como tornar tudo mais real, como o péssimo live-action, nem sempre é sinônimo de qualidade. Aqui, Garfield está bem mais expressivo, se permitindo, por exemplos, emoções que vão desde o famoso deleite pela gula até o drama familiar. Destaco também os coadjuvantes, muito bem construídos. Em termos de ação, o filme não passa de genérico, inclusive a invasão à fábrica de leite ficou um tanto decepcionante, sem o grau de detalhameno interno que esperava encontrar naquele cenário, fora o roteiro bem esquemático (missão, sabotagem, volta por cima, reencontro). As crianças na minha sessão amaram, recomendado aos pequenos.
Surpreendentemente, Nicholas Galitzine cntracena de igual pra igual com a Hathaway, com uma ajudinha, claro, do roteiro: enquanto escreveram ao rapaz um personagem mais maduro para sua idade, fizeram questão de infantilizar a atriz veterana.
Ainda assim, é um filme simpático demais, e por mais que tente apresentar ao público um romance açucarado, com conflitos muito mais externos que internos, há algumas camadas interessantes ali, como a imagem criada e esperada de um jovem pop star ou a pressão social que há em torno de uma mãe quarentona.
No fim, alguns elementos não são aprofundados, e o fato da dupla principal ser branca e não ter nítida como a difernça social interfere na vida de ambos (pois ela pega avião como se pegasse um metrô), sobra talento nas atuações, e a química, embora nem tenha tanto, é baseada num tremendo grau de esforço dos dois em conferir veracidade, um olhar e um beijo que transmitiu calor. Dupla sensacional, e é isso que importa num filme de romance.
O tom é bem burocrático, mas particularmente gostei muito da atuação centrada e convincente do Russell, que tira leite de pedra de um roteiro que, à primeria vista, parece confuso, mas é muito linear e de fácil assimilação. Note-se que todos os emaranhados da trama são resolvidos numa única cena, e nem se explica como convencer as autoridades da veracidade dos fatos. Ainda assim, a reviravolta do caso e o papel crucial de Russell, por mais previsível que tenha sido, conferiu um charme ao filme, fechando bem o seu arco.
O que está acontecendo com o Bruno Barreto? Espero ao menos que ele esteja ganahndo bem, o filme é deplorável, se sabe toda a história já no trailer, e tem aquela cara de especial de televisão, com atuações muto ruins e piadas fracas.
Enquanto o primeiro filme tinha a cara de um filme B de baixo orçamento, praticamente filmado todo na floresta, este aqui claramente passou de um filme B para um filme genérico mais padrão. Não sei dizer ao certo se isso fez bem ao filme, perdeu em charme mas ganhou na produção de arte e no roteiro, que agora tenta dar uma explicação mais racional às criaturas da floresta (por mais estapafúrdia que seja). O bom é que o sangue continua, mesmo com cenas bem plastificadas, com corpos que mais parecem manequins(as cenas arrancando a cabeça e membros causam risos involuntários). Ainda assim, gosto dessa farofada sanguinária.
O Tarô da Morte
2.6 9A ideia toda é super mal conduzida, e as mortes ficaram num anti-clímax terrível: basicamente os amigos se reúnem num casarão (quanta criatividade) para aproveitar o final de semana, no qual acham uma caixa com baralho de tarot/horóscopo. Sim, se é confuso pra você, para o roteiro também. Terá alguém no grupo que lerá o horóscopo de cada, e apartir dapi está lançada a maldição. Daí, quando acontecem as mortes (seguinto o prescrito nas cartas, claro que de certa forma um tanto quanto enigmático), você deve lembrar do que a jovem disse, só que o roteiro o faz com uma voz distante em eco e, para piorar, com muitos cortes e pouco sangue. A reviravolta e as piadas não funcionam. O filme todo é bem capenga, na verdade.
Amigos Imaginários
3.1 4A única coisa que se salva nesse filme é a trilha sonora e o talento da protagonista mirim. Mesmo os veteranos estão canastrões, e a ideia de reparar os vínculos entre os amigos imaginários com seus criadores já crescidos (alguns nem tão adultos) falha miseravelmente, seja no apelo visual ridículo, seja no ritmo e edição tenebrosos. Não há aqui um domínio do espaço, de modo que os seres convivem com as pessoas de forma tão ridicularmente pobre, que filmes com mais de 30 anos como "Space Jam" parecem uma obra-prima. E tem uma direção de arte boa até, mas o roteiro e a direção não conseguem criar empatia com os seres. Decepcionante.
Garotas em Fuga
2.7 20 Assista AgoraConfesso que me diverti bastante com a história dessas garotas. Aqui a lesbianidade surge como um elemento que é amis acessório do que propriamente vai guiar a trama, tendo o roteiro de 1990 feito piadas na medida certa. Uma pena que os vilões são bem ruins,e quando resolvem dar as caras com as protagonistas, fica tudo muito pior. Tem elementos bizarros, claro, mas como comédia funciona pela mão sempre talentosa do Cohen, que soube dosar o grotesco sem cair na vergonha alheia. Um road movie simpático, curto e bem divertido, embora nada muito memorável.
Ennio, O Maestro
4.5 15 Assista AgoraO talento do Ennio é indiscutível, com momentos que beiram a genialidade mesmo. Mas o documentário é um pé no caso, são duas horas e meia no mesmo formato: excesso de entrevistados babando ovo, em cortes rápidos (chega um momentoem que os adjetivos se esgotam); a cronologia dos filmes se mantém, com a inserção de trechos marcantes; o cenário não muda, ora de filmes ora o próprio homenageado e seus adoradores em close falando a respeito. Nada sobre o homem ou algo mais interessante sobre o processo de criação, apenas uma ou outra fala (como usou objetos em algumas composições, por eexemplo). E, claro, seguiu a cronologia mainstream, inclusive com ênfase dramático no Oscar.
Poder Policial
3.3 1É um documentário que fará o possível apra defender a tese de que, quanto mais forte o poder policial, pior apra a democracia. Apesar de alguns pontos de interesecção serem bem defendidos, como o racismo estrutural (gostei particularmente da citação filosófica sobre negros), peca, obvimente, por não apresentar contrapontos ao debate. E seria algo fundamental, pois o filme é um tanto maçante e acadêmico, com muita enrolação e ideias repetidas. Por mais que o resgate histórico seja importante, em determinado momento o filme anda em looping no argumento, muito porque a defesa de uma tese sem a antítese de fato paralisa a fluidez da trama. Acaba sendo mais um documentário com grande potencial, mas com pouca abertura para se compreender a complexidade da questão.
Back to Black
2.7 18Existem três características importantíssimas para o filme biográfico musical funcionar que funcionam muito bem aqui: o recorte da trama; a caracterização do biografado; a organicidade das músicas ao enredo. "Back to black" é filmado com burocracia e sem inspiração, mas consegue se sair muito bem no essencial.
Além da protagonista Marisa Abela estar estupenda no papel, inclusive com evoluções no visual e na postural que soaram bastante natural, seu par romântico o namorado interpretado pelo excelente Jack O'Connel garante a tensão sexual que segura as pontas de um roteiro absolutamente clichê: o amor desguiado, a pressão entre a vida pessoal e artística da cantora, as drogas como ruína.
Alguns fãs reclamaram de como o pai foi retratado de forma bem benevolente, já que supostamente mantinha uma relação de exploração e pressão com a filha. Eu particularmente não conheço nada da vida dela para opinar, e o que vi foi um pai que, de fato, era um suporte equilibrado ali, provavelmente, na vida real, fora bem diferente disso mesmo.
Senti falta do processo de criação das músicas: por mais que o filme deixe explicado que a Amy viveu muito de suas letras, à exceção duma cena inicial, não lembro a moça em nenhum take com um lápis e um caderno na mão, de modo que tão logo os acontecimentos apareciam ( o luto, por exemplo) alguma música surgia como pano de fundo. Isso tira um pouco a naturalidade do vivido, mas ao mesmo tempo é um bom trabalho de como se confundia vida e obra.
Também achei, e não é culpa somente deste, que o filme forçou um ápice musical com "Rehab". Desde "Bohemia", aprece que se tornou algo estritamente necessário uma encenação final. Mas ao menos aqui se sai menos pior do que em filmes como os da "Whitney Houston". Ainda assim, lembro (esse sim está na memória) do seu último show, completamente desorientada e drogada, e o filme não trouxe isso à tona.
Em resumo, é uma biografia higienizada, facilitada pelo recorte certeiro de uma carreira que acabou bem cedo e de uma protagonista forte, com um par romântico que realmente funcionou em tela, do momento do encanto à ruína. Faz o básico e consegue, assim, entreter, mesmo com várias críticas à veracidade dos fatos. Ainda bem que cinema não necessariamente precisa ter compromisso com isso, muito embora, para uma biografia, isso de fato pode soar como defeito e concorrer contra a experiência pretendida.
A Sindicalista
3.6 11 Assista AgoraUm filme completamente perdido sobre qual núcleo abordar, começa dando foco a questões corporativas numa empresa de energia da França, cuja Alta Administração vem se aproximando de interesses chineses, sendo sua protagonista uma líder sindical.
Nesse ínterim, ela sofre um atentado violento, dentro da própria casa, e o filme vai ganhando tons de contornos policiais. Sem sabermos ao certo a ligação entre um núcleo e outro, gosto de como o filme tenta se ater aos fatos e de como o que deve ficar em aberto realmente fica em aberto, mas não sei se as opções de narrar a história sob o ponto de vista dela, ainda mais ressaltando sua posição como sindicalista no título, foi a mais acertada.
Ainda assim, tudo foi filmada em tom burocrático, tornando o filme mais próximo do esquecível, mesmo que tenha sido baseado em fatos reais. Faltou-lhe identidade de gênero e visual para justificar as escolhas da obra.
Por mais violento e perturbador que seja a agressão sofrida, as lentes aqui usadas tornam tudo muito clean e o resultado é absurdamente frio para a proposta. As legendas ao final dizem muito mais do que duas horas de filme, sinal de que as imagens não deram conta do recado.
The Dry 2: Força da Natureza
2.4 2 Assista AgoraA ambientação com a fotografia escura até funciona, mesmo com a edição mecanicista em decidir contar a história em três momentos distintos (as memórias de infância do investigador, o que ocorrera com as meninas perdidas e o presente). Tudo isso pra esconder uma trama simples: desaparecimento de um corpo num ambiente denso e inóspito de mata fechada, onde aventureiros fazem trilha, o que coincide com o local onde 30 anos atrás um assassino em série matava mulheres.
No entanto, as justificativas para o grupo das meninas estarem ali é bem frágil, as conexões com o passado são bem frágeis, de modo que o suspense até engata, mas as motivações vão esnacendo o filme de qualquer pretenão mais séria. Para piorar, se o momento em que o filme regride aos acontecimentos com as meninas a mata parece ter quilômetros e quilômetros de distância, no momento presente das investigações parece que o espaço reduziu: faltou controle cênico do espaço.
Assim, o terço final do filme é só ladeira a baixo. A investiação feita sobre o caso é bem infantil, desenhos do Scooby-Doo conseguem ser mais profundos que isso. Se ficasse só no mistério talvez o filmefosse melhor, inclusive se deixasse mais aberto, pois é onde funciona. Ao tentar justificar a ação, o roteiro emenda uma disputa feminina constrangedora, um desenrolar que não vinga, um desfecho sem graça. Vale apenas para passsar o tempo mesmo.
20 Dias em Mariupol
3.9 57 Assista AgoraO Oscar parece sabe muito bem mirar seu arsenal de arma soft para os russos. Mas se em "Navalny", premiado injustamente, a disputa por narrativas ficou enviesada, em "20 days in Mariupol" o viés se justifica, já que se trata de um estudo antropológico/histórico/investigativo de um lócus específico, e desta vez as palavras são poucas frente ao poder das imagens. É certo que a narração é over algumas vezes, mas pouco importa. Temos um retrato claro aqui do melhor cinema documental e da insanidade de uma guerra. Imagens perturbadoras, que irão perdurar por muito tempo em nossa memória. Lindo e, ao mesmo tempo, chocante.
Vermelho Monet
3.3 7Halder Gomes tem um extenso currículo com comédias nacionais regionais, retratando especialmente o povo nordestino, lugar que conhece de berço. Com isso, seu cinema usa uma linguagem mais popular e palatável, inegavelmente com certo apelo comercial que pode comprometer um tantinho incursões como essa aqui, voltado a um drama mais intimista e reflexivo. No entanto, acredito que o salto de qualidade e a ousadia, especialmente pelo domínio técnico do material em mãos e do uso de cores, como brinca com tons de vermelho e azul (do cabelo de suas atrizes à paleta dos quadros de pintura apresentados em cena), se permitindo voltas ao tempo, sem legenda, e uso de preto e branco de forma econômica, além de um cinema notadamente intimista, com uma edição tão ágil e populesca, fico com o veredito de que o cineasta realizou um grande filme, até agora o melhor nacional e um dos melhores do ano.
O filme me lembrou bastante "Cópia Fiel" (2010), dirigido por Abbas Kiarostami, que mergulha profundamente na questão da autenticidade e da cópia, utilizando uma narrativa complexa e rica em simbolismo para explorar esses temas. Halder Gomes, a seu jeito cearense, também questiona o conceito de autenticidade na arte, mas sem enveredar pela complexidade e pelo refinamento do Kiarostami. São apenas propostas diferentes.
Até porque, aqui temos um tom irônico e de desdém ao mundo glamuroso da arte, como o visto em obras do Allen: uma imersão naquele mundo, mas nitidamente por um olhar que lhe é externo, de um forasteiro. Assim, por mais que a sensação de ser um estrangeiro a falar daquele universo nunca passe, é também uma tentativa de um cineasta de explorar novos ares, do qual muito me impressiona o resultado, encantador na maioria das vezes, brusco em outras. No geral, muito satisfatório.
A obra original é tradicionalmente considerada mais valiosa devido à sua unicidade e ao vínculo direto com o criador. No entanto, o já citado "Cópia Fiel" sugere que o valor não está apenas no objeto em si, mas também na percepção e na experiência do observador. Walter Benjamin, em seu ensaio "A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica", discute como a reprodução técnica desvaloriza a “aura” da arte original, mas também democratiza o acesso à arte. Logo, a ideia de que uma cópia pode possuir um valor próprio é central no filme, tanto em Gomes quanto em Kiarostami. A cópia permite um novo tipo de interação e interpretação, potencialmente mais relevante para o contexto atual do observador. É aqui que os três personagens ganham vida nesse simulacro: a curadora golpista interpretada por Maria Fernanda Cândido, o pintor falsário Johannes muito bem vivido por Chico Díaz, e a deliciosa atriz ruiva e musa inspiradora vivida por Gracinda Nave.
Da relação lésbica à mistura entre inspiração artística, fetiche e ganância, embora o filme não tenha tirado toda a potencialidade da sensualidade de suas atrizes, consegue exalar o essencial para conduzir sua trama, movida em torno de um "Retrato de Dorian Gray" que seja capaz de elevar os ganhos de todos, insuflando o ego da atriz, musa inspiradora da obra, como em "O desprezo" de Goddard, e capaz de gerar lucros de quem desdenha da arte e está ali para faturar. Halder Gomes consegue, assim, trazer elementos de cinema clássico de uma moderna linguagem irônica e questionadora.
Ao editar seu filme de um modo ágil e imponente, e ainda, sem perder o toque farsesco e popular que lhe confere identidade, Gomes consegue sustentar uma história simples, até meio novelesca, por mais de duas horas sem perder o ritmo. Abrindo mais do lado mais intimista e reflexivo, às vezes, ele está entre o cineasta que ainda quer conversar com o seu público popular e o que está encantado com os vernizes dos museus europeus. Rodado em Portugal, Gomes vai conhecendo o mundo sem abandonar o olhar de um matuto. É um desbravador.
O filme fecha com a citação do ferreira Gullar, "A arte existe porque a vida não basta". Claro que temos problemas aqui com alguns diálogos (mecânicos), com a superficilidade de certos momentos, com a verossimilhança, talvez. Mas há momentos de puro deleite, com cortes preocupados em passar a dimensão de uma tela sendo pintada, é como se o filme em si fosse uma tentativa de imitar essa milenar discussão sobre autenticidade da arte e sobre como compreender que grandes obras (pinturas, mas o cinema também?) o são mais devido uma indústria por trás.
Platão, em sua teoria das Formas, argumenta que o mundo sensível é apenas uma sombra do mundo real das Ideias ou Formas, onde cada objeto no mundo físico é uma cópia imperfeita de uma Forma perfeita. "Vermleho Monet", que remete às cores de um pôr do sol no quadro de Monet, tendo no personagem pintor do filme, ironicamente, restado na lembrança (já que ele está perdendo a visão), deixa claro que a memória, a linguagem, em suma, a praticidade da vida é o ponto nodal da nossa percepção estética. A metáfora interessante e moderna dessa ideia vai sendo estudada, questionando se as cópias têm seu próprio valor intrínseco e se podem, em algum aspecto, alcançar a perfeição da Forma original, bem como atribuindo valor ao que não é necessariamente inerente ao objeto, mas construído através da interação e da interpretação, sinalizando muito mais pelo contexto do que pela obra em si.
A arte, assim, tem o poder de transformar nossa percepção da realidade e nos levar a questionar nossas crenças sobre autenticidade e valor, mas ao mesmo tempo em que a criamos, por ela somos criados. A tela que fora apresentada no final do filme, fruto de uma cena mais carnal dos personagens principais, mostra muito bem essa simbiose. Prefiro um forasteiro cearense a retratar esse universo, enriquecendo com sua linguagem e senso estético de que sabe que está lá, mas sem se ver como parte desse simulacro. Ainda assim, construído e influenciado por ele.
Ascensão e Queda: John Galliano
3.7 6 Assista AgoraSe o John Galliano fosse brasileiro, seria eleitor de Bolsonaro, com certeza. Ao menos o documentário credita boa parte da sua criatividade à sua ganialidade (confesso que fiquei desconfiado de não ser produto de algo mais coletivo, em especial do seu amigo Steven). Ainda assim, muito bom o relato por trazer várias imagens antigas, permitindo ao espectador criar sua própria opinião. Confesso que sou do time que acredito na reabilitação das pessoas e na segunda chance, porém, é inegável não sentir desconforto para ver como o crime é muito mais leve quando se é um homem branco, ainda que gay.
PS: a melhor tradução para High and Slow seria "luxo e lixo" (expressão que uma das entrevistadas no documentário falou), o que, inclusive, retrataria melhor o universo do protagonista.
A Mãe da Noiva
2.5 28Não esperaria nada de um cara que dirigiu a primeira versão de "Meninas Malvadas", mas ao menos que fosse algo divertido, já que o já clássico filme da Regina, feito no início dos anos 2000, reúne os clichês do gênero e consegue trazer momentos icônicos e deliciosamente divertidos.
Já aqui, mais uma obra envolvendo sogra, casamento e amores passados, é tudo tão recliclado que o único atrativo fica por conta do belíssimo cenário, e se o cenário chama mais atenção que roteiro, personagens ou a trama em sim, é porque há algo de errado.
Então, temos o núcleo mais jovem, que irá casa, e o núcleo dos pais dos noivos, que revivem momentos e traumas. A bem da verdade, algo também interessante é a trama sair um pouco do núcleo jovem, mostrando uma vitalidade interessante para pessoas com mais idade. No etntanto, é tudo tão previsível e plastificado, com cenas tão higiênicas e pouco inspiradas, que tudo vai se passando sem agragar maior interesse ou emoção.
Para piorar, o núcleo de cosdjuvantes ou está para fazer um contraponto bem forçado ao casal, ou para tentar criar piadinhas. A cena mais interessante do filme, com os amigos na praia de nudismo, foi filmada com certa vergonha de mostrar os corpos, de modo que é isso que se trata o filme: sabe-se limitado, faz questão de ser limitado. Um filme que já parece datado, e não enxergou o potencial ali, não pela nudez, mas pela liberdade e pelo reencontro dos envolvidos.
Tudo não passou, portanto, de desculpa para fazer os sogros engrenarem um romance tão meloso quanto irreal. Pois embora o filme tente trazer vida nova e anos longos, o faz com os típicos dilemas da produção Netflix. Um desperdício.
Os noivos? Bem, aqui o casamento e os noivos são coadjuvantes de tudo, de modo que já sabemos o desfecho do filme antes mesmo de se passar 20 minutos da obra. A edição está longe de ser esperta. A parte técnica é bonita, claro, e o visual pode tentar camuflar mais uma história vazia diretamente do streaming.
Planeta dos Macacos: O Reinado
3.7 77É uma das franquias que eu mais amo no cinema, inclusive o contraverso produto do Tim Burton. No entanto, por mais linda que a fotografia esteja, confesso que achei este bem inferior em termos de roteiro, com vilões bastante estereotipados, com mensagens de doutrinação mais diretas e palatáveis, e principalmente, por um grande desbalanceamento do ritmo: enquanto as cenas de ação empolgam e são bem filmadas, o intervalo entre elas é tão raso quanto maçante, chato mesmo.
Ainda assim, a sensação de torpor à espécie humana permanece, e gostei porque independe do gênero: é a espécie que não presta mesmo. OBS: abre margem à uma continuação, então, esse filme realmente tem cara de um extenso (e por vezes tedioso) prólogo.
O Livro de Clarence
3.2 6 Assista AgoraTirando todo o anacronismo e revisionismo, é um filme divertido de acompanhar, me diverti muito mais com isso aqui do que com um Monty Python da vida. Claro que há um pouco de agenda woke, de modo que, sinceramente, eu me via mais no século XXI do que na primeira era cristã. Ainda assim, é simpático em sua proposta e confere diversidade a um mundo que acostumamos a ver com olhos europeus tradicionais.
Lisa Frankenstein
3.2 50Embra seja muito genérico, o filtrousado e os figurinos lembram os cássicos charmosos da década de 1980, de modo que a homenagem incrivelmente funciona. Claro que a história é boba, umromance improvável e cheio de personagens clichês em volta, mas para quem é saudosista desas vibe colegial oitocentista vai perceber a dedicação do fime em retratar a época, o timing funciona. Muito interessantever esse exercício de homenagem.
Não Espere Muito do Fim do Mundo
3.7 13 Assista AgoraNão senti as quase 3h passarem, o roteiro tem uma fluidez e um vai vem no tempo mas com muita técnica, com filtros diferentes para você não ficar perdido, de modo que legendas são desnecessárias e a imagem dá conta do recado. No entanto, a trama sem pressa e um tanto sofisticadaé, na verdade, bem simples, com uma produtora documentando e escolhendo, dentre 4 histórias de acidente de trabalho, aquela que pode maquear melhor a versão em favor da empresa. é um tanto angustiante ver o capitalismo se aproveitar de epssoas vulneráveis, e consegue assim passar um ar sombrio, mais assutador que muito filme de terror.
A Batalha do Biscoito Pop-Tart
2.4 24Comédia sempre acima do tom, com piadas que dão uma vergonha alheia. As gags estão quase a nível de um "Austin Powers", mas tenta retratar o mundo das empresas de cereais da década de 1960 com muito sarcasmo, ironia, e várias "piadas" (?) de dupl sentido. Gosto como a produção tem ciência do amrketing por trás desse tipo de alimentação, no entanto, o filme por alguma razão não empolga, seja pela edição rapida e duvidosa, pelo excesso de personagens e de tentativas de soar engraçado. Talvez o único excesso que me agrada aqui sejam os figurinos, que estão bem coloridos e divertidos de ver.
Tartarugas Até Lá Embaixo
3.2 20 Assista AgoraO excesso de reminiscências deixa claro que literatura é uma coisa, filme é algo completamente diferente, de modo que aqui as imagens são incapazes de traduzir os extensos e aborrecidos monólogos da personagem principal. E olha que gosto do elenco, mesmo com suas limitações, achei que não ficaram bobinhos. A produção de arte deixa a desejar, e os enquadramentos são bem feios, tudo muito mal dirigido. Ainda assim, é um filme com enorme potencial, pois difere um pouco da abordagem açucarada de filmes enlatados para adolescentes para falar num tom mais sério sobre questões de saúde mental e do TOC, e o melhor, sem ser apelativo. John Green merecia um tratamento melhor, assim como fizeram no adorável "A culpa é das estrelas".
O Dublê
3.7 74O filme funciona em absolutamente tudo o que se propõe quando direciona para homenagear filmes de ação: das gags visuais às brincadeiras com falas de alguns filmes, com direito a cenas de ação que não devem em nada aos clássicos, e uma atuação realmente acima da média do Gosling.
O dublê vai se centrar na vida desses anônimos que fazem cinema, mas não é apenas isso: vai mostrar muitos coadjuvantes e figurantes, câmeras, diretores, produtores. É quase um making of dentro de um filme, com direito a uma trama policial que, por mais simples que seja, permite ao roteiro inserir suas estripolias e cenas icônicas, aliás, mjuito bem dirigidas.
Blunt permanece mais passiva, porém, lá pelas tantas também arregaça as mangas, como boa parte do elenco. Confesso que a vilã não me agradou muito, em especial o maniqueísmo de suas falas, embora, talvez, lembre cernos filmes oitocentistas e mais farsescos.
Mas sem dúvidas o principal mérito de "O dublê" é as inúmeras referências casarem de forma muito orgânica e ágil ao roteiro e à edição, aliás, um show à parte: as duas horas passam voando, e mesmo na preparação para o terceiro ato, quando o filme quase perde o fôlego, a cena final gravando o filme dentro do filme se constitui como um clímax metalinguístico de puro domínio cênico, mesmo com o maniqueísmo da dupla de vilões.
Sem abrir mão da diversão e de tornar mais natural a homenagem, "O dublê" só força mesmo no romance, mas aqui é o que menos importa: garanti de muita explosão, apuro técnico e agilidade em narrar uma história bem amarradinha, tudo o que um filme de ação precisa ser. Destaque também para o som e a trilha do filme, excelentes e dão um charme maior à obra.
Garfield: Fora de Casa
3.3 17Uma animação bem movimentada e com inúmeras gags, faz rir crianças e adultos. Para ver como tornar tudo mais real, como o péssimo live-action, nem sempre é sinônimo de qualidade. Aqui, Garfield está bem mais expressivo, se permitindo, por exemplos, emoções que vão desde o famoso deleite pela gula até o drama familiar. Destaco também os coadjuvantes, muito bem construídos. Em termos de ação, o filme não passa de genérico, inclusive a invasão à fábrica de leite ficou um tanto decepcionante, sem o grau de detalhameno interno que esperava encontrar naquele cenário, fora o roteiro bem esquemático (missão, sabotagem, volta por cima, reencontro). As crianças na minha sessão amaram, recomendado aos pequenos.
Uma Ideia de Você
3.2 243 Assista AgoraSurpreendentemente, Nicholas Galitzine cntracena de igual pra igual com a Hathaway, com uma ajudinha, claro, do roteiro: enquanto escreveram ao rapaz um personagem mais maduro para sua idade, fizeram questão de infantilizar a atriz veterana.
Ainda assim, é um filme simpático demais, e por mais que tente apresentar ao público um romance açucarado, com conflitos muito mais externos que internos, há algumas camadas interessantes ali, como a imagem criada e esperada de um jovem pop star ou a pressão social que há em torno de uma mãe quarentona.
No fim, alguns elementos não são aprofundados, e o fato da dupla principal ser branca e não ter nítida como a difernça social interfere na vida de ambos (pois ela pega avião como se pegasse um metrô), sobra talento nas atuações, e a química, embora nem tenha tanto, é baseada num tremendo grau de esforço dos dois em conferir veracidade, um olhar e um beijo que transmitiu calor. Dupla sensacional, e é isso que importa num filme de romance.
A Teia
2.8 28O tom é bem burocrático, mas particularmente gostei muito da atuação centrada e convincente do Russell, que tira leite de pedra de um roteiro que, à primeria vista, parece confuso, mas é muito linear e de fácil assimilação. Note-se que todos os emaranhados da trama são resolvidos numa única cena, e nem se explica como convencer as autoridades da veracidade dos fatos. Ainda assim, a reviravolta do caso e o papel crucial de Russell, por mais previsível que tenha sido, conferiu um charme ao filme, fechando bem o seu arco.
Férias Trocadas
2.2 2O que está acontecendo com o Bruno Barreto? Espero ao menos que ele esteja ganahndo bem, o filme é deplorável, se sabe toda a história já no trailer, e tem aquela cara de especial de televisão, com atuações muto ruins e piadas fracas.
Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2
2.2 10Enquanto o primeiro filme tinha a cara de um filme B de baixo orçamento, praticamente filmado todo na floresta, este aqui claramente passou de um filme B para um filme genérico mais padrão. Não sei dizer ao certo se isso fez bem ao filme, perdeu em charme mas ganhou na produção de arte e no roteiro, que agora tenta dar uma explicação mais racional às criaturas da floresta (por mais estapafúrdia que seja). O bom é que o sangue continua, mesmo com cenas bem plastificadas, com corpos que mais parecem manequins(as cenas arrancando a cabeça e membros causam risos involuntários). Ainda assim, gosto dessa farofada sanguinária.