Ao contrário do que muitas pensam, não somente o Studio Guibli produz grandes obras, e afirmo, das mais novas certamente é uma das melhores feitas. Os filmes e animes japoneses assim como quase tudo vieram a decair em qualidade, também se ausentando da grandiosa criatividade que o país sempre demonstrou. Neste filme tivemos uma inversão, o que é um monstro? Os humanos também o seriam? Vale cada minuto, recomendadíssimo.
Uma vez ouvi uma pessoa falar que “sempre pioramos”, achei engraçado pois vai contra o que todos sempre dizem que caminhamos para evoluir, como um hippie new age que ouve Pink Floyd. E nesse filme Matrix 4 com certeza essa afirmativa negacionista é verdadeira, cada vez piora.
Que os autores da trilogia irmãos Wachowski, hoje irmãs após a mudança de gênero são gênios é indiscutível. O filme Matrix influenciou toda uma geração de blogs e fóruns antigos na internet sobre os mais variados e interessantes assuntos fora do mainstream – sem contar que está mais atual do que nunca neste final de ano de 2021.
Em suma o filme revive alguns pontos, mas de forma extremamente superficial, a red pill da verdade, e blue pill da ilusão, na qual a maioria das pessoas sempre ficará e desejará ficar imersas na blue pill; e que os agentes da Matrix irão perseguir de forma implacável quem deseja escapar e etc.
O ponto deste novo filme é retirar o protagonismo de Neo, afirmando que não existe o escolhido, e ele mesmo afirmando que não acredita nisto, indo de contraponto aos filmes anteriores. O antagonista principal é um psiquiatra, tido como analista, que mantinha Trinity e Neo presos em uma nova realidade da Matrix.
Existem várias mensagens relacionadas ao progressismo norte americano de escopo político ideológicos – neste valeria um texto somente para discuti-los. Mas o fato é que o filme foi dividido na relação entre Trinity e Neo, e que ambos estão juntos em suas missões proféticas.
Não discordo da junção Homem-Mulher como forma completa do potencial alquímico humano, entretanto não é compatível ao arquétipo do herói acima da Matrix que fora depositado no protagonista Neo em todos os filmes anteriores.
Sem contar que as máquinas agora também optavam em ter os humanos como amigos, o que até agora não consegui constatar como coerente, somente com possivelmente uma nova agenda que talvez surja no futuro em que as pessoas irão tratar a inteligência artificial como o “deus de neon” da canção The Sound of Silence de Simon & Garfunkel .
Resumindo, ao final a Trinity se tornou tão poderosa quando o Neo, a maioria dos personagens em destaque são mulheres e não brancas para eliminar os estereótipos de hollywood, várias mensagens políticas progressistas com enredo superficial e pouco trabalhado. Matrix se tornou uma profecia auto-realizadora, em que o primeiro filme em uma latência de 20 anos previu a decadência de suas sequências em novas formas de Matrix que nem seus autores previam, assustador.
O filme é feito por alguém que com toda certeza viveu nas tribos relacionadas ao rock e suas diferentes variáveis. Na qual o protagonista Willian Miller representa o virjão talentoso dentro da extravagância e rebeldia do mundo alternativo criado pelos roqueiros. Eu costumo afirmar que o rock foi planejado para emburrecer e revoltar a juventude – entretanto há ressalvas, existem verdadeiras obras-primas que foram produzidas, e isso nem o mais maquiavélico engenheiro social imaginaria.
Certamente com a revolução sexual, hippie nos anos 60 e com batidas fortes, agitadas e sexualizadas do rock teríamos uma nova moldura para os jovens, existem relatos de que durante o show dos Beatles o cheiro de urina das mulheres que ficavam em frente ao palco era quase insuportável – há um estranho fascínio nas mulheres por estrelas pop, especialmente no rock, na qual o músico transmuta-se em uma espécie de criatura divina.
O preceito da pessoa robotizada e perdida pela vida ordinária capitalista religiosa é estereotipado através da mãe de Willian, a senhora solteira Elaine Miller, possessiva, metódica, dominadora, a qual a própria filha teve de fugir para conquistar sua independência. Achei a sua personagem forçada demais, afinal uma pessoa comum e religiosa pode ser ponderada e não problemática como apresentada nas cenas.
As tietes como a bela Polexia e Penny Lane representam a mulher dentro das mudanças culturais pós revoluções com todo arcabouço de mudanças sociais através da mídia e cultura dominante da época. A promiscuidade, o mistério e a profundidade, particularmente este tipo de mulher é uma tentação do puro diabo, pois são atraentes, divertidas e magnéticas. Representam personas fortíssimas, quase como se encarnassem virtudes masculinas, ao contrário da fragilidade feminina.
Nota-se que Penny Lane, a mais profunda das moças vivia um dilema de felicidade aliada ao hedonismo mesclado com liberdade e um vazio profundo, como se fugisse de si e da própria realidade. É paradoxal imaginar como o fanatismo por músicos famosos faz com que belas moças se sujeitem a quaisquer coisas para tê-los, neste caso serem objetos de prazer sexual e entretenimento. A explicação mais aceitável me parecer ser antropológica e também psicológica.
As mulheres ao contrário dos homens que são atraídos fundamentalmente por beleza física, se atraem pelo status masculino, então alguém famoso, principalmente se for do meio que ela frequenta poderá se tornar o suprassumo do desejo, embora isso não aconteça com mulheres maduras em muitos casos, na maioria com jovens que ainda não perceberam como o mundo funciona e possuem problemas emocionais afetivos, convertendo todo seu desejo na figura de um salvador, no caso o astro superstar.
Não diria que os homens são diferentes, pois ao ver uma bela jovem, de beleza incomensurável também perderiam a razão e agiriam por puro instinto, deixando todo seu orgulho guardado. Logo as mulheres que adoram estrelas, atores, músicas possuem seu instinto por homens de alto status aflorado, concomitante com problemas emocionais afetivos e uma dose de desequilíbrio espiritual por adorarem outros homens mundanos.
Stillwater representa músicos que em conflitos buscam por fama, prazeres e com uma pequeníssima dose de poesia e talento apresentam alguns vislumbres de profundidade no caos da sociedade comum. Perdidos em disputas internas, difamações e duelos adolescentes embora sejam adultos, e a fase da juventude perdure para que aproveitem ao máximo. São como os homens do mundo, e que apenas do mundo desejam desfrutar.
O rock n’ roll representa um movimento de rebeldia que assumiu uma disputa com a normalidade, com suas regras e condutas próprias, geralmente somente os jovens são capazes de incorporá-lo por completo, pois exige drogas, promiscuidade e loucura. O indivíduo que permaneça nesta cultura por muito tempo está fadado ao fracasso na margem da cultura normal, é como uma escolha que deve ser tomada, uma vida de rebeldia e destruição ou uma vida ordinária e subserviente?
Neste filme fica claro que o protagonista Lou Bloom representa o homem moderno "hipster" dos grandes centros urbanos - ou nem tanto - sem aspirações substanciais, à procura de quaisquer situações que os tirem do tédio.
Não seria surpresa o filme focar justamente em gravações de filmagens violentas para serem vendidas à TV como tema pelo protagonista - analogamente a todo jovem hoje que se interessa muito mais por suas redes sociais, por fotografar e filmar situações que farão com que ele seja destacado de alguma forma - a velha história de não salvar a pessoa de um afogamento, porque antes precisava filmar para acreditarem.
Lou Bloom ecoa pelas ruas como o som do vazio das almas e mentes perdidas dos jovens do mundo pós-moderno, o qual somente sentem um vislumbra de vida quando filmam, expõe, machucam, agridem ao próximo - a face do utilitarismo em perspectiva atualizada.
Estava para baixar outro filme francês com nome parecido via torrent, e efetuei download deste por engano – e que engano maravilhoso.
Ferdinand parece representar um misto de homem comum francês vivendo o final da cultura de seu país, tão rica e berço das artes nobres da Europa – isso que o filme já tem mais de 50 anos. Anda sozinho em sua vida normal, conversas vazias em uma solidão constante seguida do cotidiano.
Entretanto quando conhece Marianne tudo é renovado, concessões, dinheiro, viagens, aventuras, tudo transforma sua vida, e de fato ele parece se sentir vivo, diferente de antes. Interessante uma das falas de Marianne que queria viajar pelo mundo mas acaba em uma praia com o mesmo vestido passando necessidades, os dois personagens não percebem que essa simplicidade tornou-se algo maior que a melhor das viagens.
Ao final, em meio às mágoas, sofrimentos, amores, promessas o filme termina com um vislumbre do mar e do sol, promessas de eternidade e da complexidade existencialista que está entre homem e mulher, sua união, e muito mais, além de nós.
À partir dos anos 30 começamos a receber bombardeio midiático em cima da temática alienígena, em que o universo é grandioso, e não é possível que estejamos sozinhos – o engraçado sobre isto é que confronta diretamente o paradigma ocidental das religiões judaico-cristãs, que somos criação divina única.
Até os anos 90 ainda poderíamos afirmar que os aliens eram vistos fortemente como criaturas perigosas e temidas, mas após o fortalecimento de seu embelezamento que são seres evoluídos e bonzinhos, hoje qualquer juvenil quer conhecer um alien, abraçá-lo, reverenciá-lo, e esse filme retoma este estereótipo típico e clichê brilhantemente.
Não é à toa que foi tão aclamado e possui nota tão elevada, ninguém percebe que somente faz parte do encerramento da lavagem cerebral que já se iniciou na geração dos nossos pais, e agora está completamente implantado tornando-se irreversível em nossa queridíssima geração nutella.
A única coisa boa deste filme foi ver que ao menos os chineses possuem colhões e queriam destruir os desgraçados dos aliens metidos a polvo que soltam fumaça, meus parabéns para China, que embora comunista, no filme foram os únicos dignos de respeito até o momento que desistiram de atacar.
Em filmes antigos há uma seleção especial de atores, que representam exatamente características faciais as quais seus personagens serão designados, já que no cinema mudo não há fala, dá-se importância gigantesca às expressões. O olhar de Frollo e também do Quasímodo são assustadores e vivos.
O mundo poderá nos coroar reis ao conquistarmos aceitação, glória, dinheiro, poder, fama, carregando-nos como grandes mestres. Uma vez que o desagrademos seremos açoitados e postos em um pelourinho pelo mesmo mundo. O ser humano possui uma estranha fascinação pelo feio, e também pelo belo.
No feio sentimos aversão, e também adoração ao ver tamanha miséria sobre alguém, seria engraçado, cômico. Como alguém vive dessa forma? Talvez ao vermos o fraco sentimos que somos fortes, e isso traz a nós um estranho vislumbre de felicidade. Somos miseráveis, nos aproveitamos e aproveitaremos das fraquezas alheias. Somente a compaixão pode superar o riso sobre o feio. A compaixão é uma forma de aceitação, empatia e amor, pouco presente entre os humanos.
Entretanto, no belo poderemos em alguns casos sentir inveja por não possuirmos tais atributos, resultando em autoflagelação projetada. Por outro lado poderemos sentir o ardor iluminado do transcendente, da perfeição divina, como a beleza e pureza de Esmeralda.
Os seres humanos podem ser anjos como no ato de compaixão de Esmeralda ao matar a sede do Corcunda no pelourinho, ou demônios sedentos por sangue ao desejarem sua morte somente por ser horrendo.
Phoebus capitão rodeado de mulheres e honrarias representa o herói do mundo, atrás somente das conquistas mundanas, sendo poderoso, altivo e também corruptível, sucumbe a tentação do material e não da alma. Esmeralda apaixonou-se pelo superficial, pelo glamour, e tudo que ele representava, um “amor” focado em volúpia social. Arrependeu-se ao final, uma vez que o Corcunda representando a não aceitação social, o vergonhoso, e ao mesmo tempo o sincero e puro, mostrou-se mais forte que qualquer situação mundana.
Frollo como um asceta representava o exílio do mundo decaído, que por muitas vezes traz a redenção, entretanto também pode trazer a amargura, raiva e misantropia. O homem posto à prova deverá enfrentar o inferno, posto em seu meio para que somente assim saiba se de fato consegue suportar os desgostos e infortúnios. Esconder-se poderá levá-lo à loucura, tornando-o o verdadeiro mal.
Gringoire era o espírito do jovem, alegria e progresso, talvez representasse o entusiasmos pré-revolução francesa. A vontade pela mudança, um marco importante seria a criação da imprensa, a forma de compartilhar informações rapidamente à população, modificando comportamentos, e também incitando-os, seja para o bem ou mal.
Esmeralda representa a divindade de uma mulher enigmática e inocente, a qual também poderá enganar-se como no caso de Phoebus, ou trazer virtudes, como compaixão ao Corcunda que mesmo chicoteado não chorava ou gritava, pois sua vida já fora e é tão tortuosa, que um mero açoite nada representa. Esmeralda era capaz de magneticamente apaixonar os homens, uma força incontrolável, que toda mulher bela e virtuosa possui, ela também poderá representar o lado elevado com o puro, ou o diabólico com a manipulação.
Toda França entrou em debate para inocentar ou sentenciar Esmeralda que acabou liberta, e com proteção incessante do Corcunda. Sua súplica à Deus no alto da torre após atirar pedras sobre quem tentava invadir parecia com o urro por ver-se pecando em prol de seu amor, o qual jamais poderia ser correspondido por ser tão horrendo; embora puro –, o amor que possuímos por Deus jamais poderá ser retribuído em totalidade aqui na Terra.
Por hora deveremos sofrer o jugo do não correspondido, do mundo falso, da maldade, das misérias e mazelas, das dores, da solidão, das maiores das solicitudes, o puro e bruto sofrimento. Aquém do transcendente, somente isso que nos resta, isolados em uma torre alta sempre solitários.
Uma ótima forma de começar um comentário sobre filmes seria com a terminologia: “não se trata de um filme para leigos”, e Silence não se trata de um filme para leigos.
Retrata toda força e repercussão da cristandade da Europa, embora a história seja no continente nipônico. É difícil por não dizer impossível imaginar como seria a religião prática na vida das pessoas com nossa perspectiva materialista, ateísta e niilista atual – inclusive dos religiosos -,a relação dos nossos avós com o sagrado era crível e palpável pois não participaram da contra-cultura cientificista anticristianismo. Que atacou em todos os aspectos quaisquer formas de expressões culturais religiosas baseadas em crenças abraâmicas.
A religião na idade média e renascimento era tratada como “cultura” – embora sempre o seja, apenas hoje que não -, ou seja, ainda mais forte que rei e estado. Seria a forma máxima de se viver, de crer, de conduta diária laboral, sexual e familiar. Observando dessa forma ampla, o cristianismo era muitíssimo perigoso ao Japão, mais que quaisquer aspectos da cultura europeia, ou até inimigo direto de guerra. O cristianismo seria capaz de transformar todas as circunstanciais sociais, culturais e religiosas, criaria uma nova civilização.
Poderíamos dizer que Kichijiro, o eterno pecador, representa toda característica do cristão, o indivíduo posto em um plano terreno de eterno sofrimento, e eterna fraqueza. Ciente que não conseguirá sobrepujar as forças mundanas apenas por si – ao contrário do Budismo -, dessa forma sempre a pecar e arrepender-se a suplicar pelo perdão. Um personagem caricato, e não mau por natureza, apenas representando a verdadeira essência do humano, a fraqueza arrematada pelo mundano.
Inclusive Kichijiro reavivou as forças do Padre Rodrigues que havia se tornado apóstata, ao clamar por perdão e confissão dos pecados, mesmo sem existir mais nenhuma circunstância para tal. Revelando uma fé presente mais forte que a de todos, ao de se colocar como o eterno sofredor, pecador, clamando pelo perdão divino. A força nos fracos – um dos principais preceitos do cristianismo,
Pe. Rodrigues, ao contrário de Pe. Ferreira que rendeu-se às torturas e abandonou a Deus, estava a guardar sua fé em um mar tortuoso infernal, solitário, sem nem mesmo contar a sua esposa. No silêncio, em seu âmago, guardava a Cristo, pois o amor jamais poderá ser medido ou calculado, somente no silêncio e em contato com o transcendente é que poderemos evidenciá-lo, seja em uma catedral gótica apostólica-romana, ou preso a um grande bambu, enterrado nos confins da Terra, com um simples crucifixo feito pelas mãos sujas e calejas de alguém que jamais será lembrado pela história.
Aos jornalistas, políticos, professores universitários, intelectuais e toda massa hollywoodiana pós anos 60, devemos um obrigado por terem nos condicionado como cães de Pavlov à mentalidade revolucionária, romper os padrões de nossos pais, termos a opção de escolher quaisquer religião, crença, cultura - ou seja, nenhuma. O homem ocidental foi criado através de suas crenças pagãs que foram adaptadas ao cristianismo, uma vez que eliminemos essas crenças, voltaremos ao barbarismo, voltaremos contra o próprio homem e sua civilização.
Esse filme marca a reação de mais de cinco décadas de lavagem cerebral, engenharia social implantada para modificarmos nosso sistema de crenças e comportamento. O amor verdadeiro do transcendente. Se devemos ter uma escolha para “admirarmos” alguém, automaticamente nos colocaremos como inferiores, logo, prefiro colocar minha admiração ao objeto, que por lógica somente poderia ser um ser incomensurável – DEUS -, palavra que se tornou proibida de ser dita de forma aberta sem ser taxado de fundamentalista ou burro nos grandes círculos de intelectuais pós-modernos.
O amor a Deus, formou a mentalidade do amor ao próximo, modificou toda história, e nos trouxe as maiores obras que poderíamos imaginar, o homem buscando a santidade, abandonar o seu lado vil e animalesco. Em um mundo puramente material, que somos apenas carne e osso como a proposta materialista moderna nos traz, o cenário desse filme seria: Os soldados iriam a guerra para vencer ou perder, conseguir dinheiro e fama, nada além do material, e certamente traria críticas aos religiosos. O protagonista hipoteticamente iria morrer cedo, ou trair a Deus de forma vergonhosa para demonstrar que se trata apenas de uma ilusão conveniente para se autoafirmar como puritano. Ah, estamos tão acostumados com tais cenas enjoativas, que até mesmo os diretores ateístas cansaram de reproduzir tais clichês.
Por isso deixo um forte elogio ao filme, que de forma brilhante e emocionante resgatou a mentalidade da religião, do amor, sem os costumeiros pontos semióticos de política anti-religião e tradição.
Raramente percebemos a importância das pessoas que nos circundam, posso discutir com minha mãe por ela ter comido meu pão-de-queijo, posso dia-após-dia dizer um rápido "oi" e "tchau", nos intervalos de trabalho, estudos e lazer, mas se de fato, entendermos o quanto nossas vidas ficariam solitárias caso não mais tenhamos tais pessoas, desmoronaríamos.
O sonho do homem em não sentir a dor da perda de entes queridos, eis a questão colocada em jogo aqui - o grande jogo que somos coletivos, família, sociedade e que, sozinhos não somos nada - suportar nossa solidão é a unção da maior dor de todas, relembrada nas vezes que nos despedimos de quem sempre desejaremos que permaneçam eternamente ao nosso lado.
Em nosso íntimo guardamos todas as nossas cargas de angústias e sofrimentos, relações diretas de contatos com as pessoas que nos cercam durante a vida.
Erik, o fantasma, teve uma infância absurdamente conturbada, sendo tratado como o mais vil e abjeto dos seres, um monstro, digno de chacota, raiva e risos, pelo único e simples motivo de possuir uma face horrenda. Ele representa a fraqueza do homem ao enxergar apenas o visível com os olhos, a ausência de beleza, o deformado, o fora de simetria, o excluído.
Mesmo Erik sendo um gênio, possuindo qualidades inalcançáveis ao comum, ainda era horrendo, e ficava em sua caverna no subsolo. Para ele seria impossível demonstrar toda grandiosidade de seu interior aos demais, que sempre iriam julgá-lo pelas aparências imediatas.
Christine encarna a inocência, a beleza, a virtude e a moral. Uma jovem talentosa, que recebe treinamento direto de seu anjo da música, o fantasma, perdidamente apaixonado por sua graça. Ela se destaca e ganha fama graças a ele.
Ao finalmente adquirir fama, ela é notada por seu rico amigo de infância, Raoul, que embora seja nobre, e também virtuoso, não chega minimamente perto da grandiosidade do fantasma, o ser das trevas – importante ressaltar que ele jamais se interessaria por Christine caso ela não conquistasse fama.
Há um duelo interno pelo puro e verdadeiro amor de Christine:
- O feio profundo. - O belo superficial.
O feio e profundo a fez conquistar tudo que é, admiradores, fama e reconhecimento. O belo superficial seria o encaixe no molde para as demais aquisições, uma vida perfeita, embora fosse injusto para com quem sempre esteve ao seu lado, antes do destaque e da fama. Como o sujeito comum e trabalhador não reconhecido por seus atos, e que somente após adquirir riquezas que ostentam uma imagem de poder, recebe reconhecimento, reconhecimento que jamais receberia, caso continuasse ainda em situação precária; logo, seriam válidos?
O ressentimento é uma das grandes mazelas que destroem o coração do homem, o fantasma era possuído por ressentimento, que se transformou em ódio ao mundo claro e hipócrita da superfície. O transformando literalmente em um monstro assassino e sem remorso.
Ao final, quando recebe um beijo, sente-se finalmente reconhecido pelo que de fato é. Se arrepende e enxerga as atrocidades que cometeu, liberta Christine para casar-se com Raoul, finalmente purificando todo aquele ressentimento para com os outros.
O coração do homem é miserável: sendo belo, sempre caíra na luz, inocência e superficialidade; sendo feio, cairá na escuridão, na profundidade, ressentimento e malícia. Seria possível ser bondoso sem jamais ser reconhecido interiormente, e caso fosse seria possível ser bondoso verdadeiramente recebendo toda glória do mundo? A única escolha seria apegar-se ao bem supremo e uno, que está além das mazelas do sofrimento humano, um bem maior que o animal, distorções e instabilidade que estaremos sempre sujeitos, somente idealizando algo maior que nós, nos libertaremos de nós mesmos, para que talvez um dia alcancemos a verdadeira iluminação.
A receita de um pão ordinário: - 1 quilo de farinha de trigo. - 1(a) xícara de chá de açúcar. - 2 ovos inteiros. - 50 gramas de fermento. - ½ litro de água. - ½ colher de sal.
Um alimento simples e milenar, não imaginamos a dificuldade real em encontrarmos os ingredientes em sua composição original, o trabalho investido na cana-de-açúcar, na colheita de trigo, e no cuidado da galinha. Possuímos todos graças à troca voluntária de produtores em massa, que repassam os produtos primários para empresas, sucessivamente supermercados, tudo perfeitamente belo, em grande quantidade e em validade.
A troca voluntária monetizada para obtenção de produtos denominamos capitalismo, um sistema que visa o abastecimento das necessidades das pessoas.
Em marte nada existe, não há galinhas, água, nem pessoas. Matt Damon no papel do astronauta Mark Watney nos apresenta esta realidade crua. Completamente sozinho em uma estação em outro planeta, desfrutando da solitude marciana. Imaginar-se sem alimentos, sem companhia de cachorros, árvores e pessoas, nos deixa abertos para aquele vazio das perguntas máximas da filosofia. Para quê? Para onde? E porquê? Um universo infinito em tamanho, e você, apenas mais um pontinho brigando por sobrevivência. A dor de estar afastado das pessoas, da humanidade deve ser indescritível, a maior das torturas, enlouquecedor. Desmamamos de nossa mãe, mas jamais das pessoas.
Há três pontos desonestos de semiótica repassam mensagens subliminares. A primeira quando Mark tenta conseguir fogo com uma cruz – a mensagem subentendida que não há valor algum na religião, em Cristo, e em Deus, o universo é complexo demais para uma crendice.
Quando na plataforma de lançamento um dos cientistas pergunta se o outro crê em Deus, que responde: Creio em vários deuses. E logo em seguida o foguete estoura. Deixa claro que se confiarmos em Deus, estaremos à deriva, sem certezas, sem salvação, explodiremos, ainda na fala “vários” deuses enfraquece ainda mais a visão de um ser supremo, de um originador de tudo, da essência, do iniciador onipotente. Já que existem vários, logo nenhum existe, não são significativos, apenas crenças bobas e superadas.
Na terceira o próprio Mark fala que irá dar e usar o que a ciência possui de melhor, logo é uma mensagem que subliminarmente transmite que nada além do conhecimento do homem, da tecnologia poderia o salvar, eliminando quaisquer possibilidades supranaturais. É o típico cientista secularista cético falando.
Finalmente, após essas poderosas sinaléticas ocultas passamos a crer no mundo sombrio, seco do vazio, do nada além do homem, somente o homem, a massificação do homem. Não há tempo para pensar em algo que transcende o homem, que vai além das suas capacidades cognitivas, não há tempo para perguntarmos se fomos criados por Deus, que o universo é uma criação dele, o estopim que desencadeou tudo. Apenas confiamos no homem e na ciência.
Há uma ar politicamente correto da wave de novos filmes sobre espaço, universo e astronautas. É preciso colocar todas as “raças” para que assim o filme fique mais polido e ninguém saia ofendido. Não é estranho que tenhamos latinos, brancos, asiáticos e negros nas grandes equipes de protagonistas, uma necessidade fabulosa em querer demonstrar uma imagem de aceitação, igualdade e diversidade. Cotas para o espaço, solidão da alma, Deus alucinação, homem salvação do homem. Hollywood cada vez melhor?
O ocidente vive no luxo e no conforto que o capitalismo proporcionou. O secularismo matou a espiritualidade, o Deus da idade média foi trocado pela razão dos iluminados, bem-vinda ciência.
Não por consequência queremos apenas desfrutar o que há no material, já que Deus morreu. Prazeres e facilidades, ninguém é capaz de segurar meus instintos, minhas paixões e minhas sobrecargas. Sou diferente de todos, vejo melhor que todos, sou o melhor de todos. O rei jovem que o mundo jamais reconheceu.
Viver sem um sentido nos causa uma dor inimaginável, o significado fora enterrado. Me restou apenas o vazio, o sentimento de culpa após sair em nome da diversão, encontrar pessoas e me entorpecer, com beijos eloquentes de socorro, no outro dia me resta apenas o que eu sou, e com um acréscimo de irresponsabilidade, perdição e mais dor.
O hipster de hoje surgiu na Europa, uma juventude perdida que se identifica com alargadores, tatuagens, capelos e roupas exóticas. Olhe como não sou mais um no meio da multidão. Insuportável dor em constatar que sou apenas um coelho no meio de uma imensa floresta, cada vez mais diferente, a cada minuto e segundo. Eu medito, sou vegano, já li o livro Ponto de Mutação do Capra e mesmo assim, tão espiritualizado, com vasta cultura musical e filmológica, ainda sinto esta dor maldita.
O vazio da minha existência, a melancolia, a insanidade retratada piamente nos personagens Frank e Clara, eles não escolheram ser loucos nem diferentes, como Jon tentou - e como tantos hipsters ironicamente tentam sem perceberem sua própria imagem ridícula.
A conclusão é que a loucura e a genialidade não podem ser forçadas, somente quem tomou do copo azul invisível saberá o que outros jamais saberão. Quando a originalidade chega às massas, aos fãs, ela simplesmente murcha e seca. Há um mundo maravilhoso em pessoas ocultas e que ninguém considera, o sujeito comum e problemático, que não se faz de diferente e ainda ornamenta em seu próprio corpo seus entraves atrás de glamour e atenção.
Quero que todos vocês vejam o sofrimento e a agonia de ser realmente diferente. Carregar a dor de todo o mundo nas costas, olhar os mínimos detalhes, nos lugares e nas pessoas, na menina que não atrai ninguém e não faz questão disso, do rapaz que faz piadas e ninguém ri. Música final: Eu amo todos.
Agradabilíssimo para reflexões, o tempo entre cenas propícia momentos para analisarmos situações e aguardarmos ansiosos pelas próximas cenas. O filme pode ser totalmente interpretado no âmbito de metáforas filosóficas.
O protagonista Antonius Block desencadeia toda uma sucessão de acontecimentos, fundamentalmente por sua partida de xadrez com a Morte. Ele estampa o homem tolo, arrogante e presunçoso que se vê onipotente, envolvido em inúmeras batalhas e mortes no passado, embora fiquem subentendidas nas cenas.
Seu escudeiro, Jöns, homem perspicaz e corajoso, que busca conhecimento, mas apenas no sentido material, ou seja, atrás de conquistas mundanas, não obstante no sentido de riquezas, mas também de honrarias. Figura uma linha tênue entre generosidade e crueldade, simetria perfeita entre “honra” e “egoísmo”.
E Jof, viajante que conduz sua família e outro artista acompanhante em uma espécie de circo ambulante. Sujeito com algumas habilidades parapsíquicas, engraçado e feliz.
A trama se desenrola na batalha gradativa de Antanius e a Morte, nota para o lenhador que perde sua esposa para um dos artistas que utiliza de exibicionismo para seduzir mulheres nos vilarejos, sem medir consequências. Ambos fogem, indignado, melancólico e enfurecido passionalmente, o lenhador decide acabar com o artista, ele representa o descontrole oriundo de carências internas, a possessão. Sua mulher representa a monotonia passiva em um relacionamento infértil com um sujeito demasiadamente carente e dominador, sua defesa é a manipulação, na primeira oportunidade fugira.
Adendo para a cena no bar, em que torturam friamente Jof com fogo, representação típica da humanidade insensível e cruel, embora não percebam que buscam prazer no sofrimento alheio. Há muitas cenas da inquisição, torturas e fanatismo. Seria a ruína completa do cristianismo inicial que promulgava o amor em sua mais pura essência, as deturpações da ignorância dos homens tolos. Medrosos, sempre a repetir, desde mil anos atrás teorias escatológicas sobre o final dos tempos. Há uma intercalação profunda acerca de Deus, que ele poderia ser criação do homem, para amenizar o medo da morte.
O artista morre após cair de uma árvore, seria uma representação da lei natural, uma consequência por seus atos luxuriosos. O que rebate diretamente indagações gnósticas, seria Deus? Engraçada a parte em que indagam à Morte, se ela sabia algo de Deus, e ela também desconhecia.
Na cena final todos morrem, exceto Jof e sua família. Dali, ninguém estava livre de entraves, todos possuíam; exceto a mulher de Jöns, ela representa a influência pela corrente sem tentar se desprender, ou seja, se ela desistisse de ficar com aquele grupo, se salvaria, mas por medo, decidiu ficar na zona de conforto e morreu, assim como a esposa de Antonius, cuja presunção morre nos últimos momentos ao implorar por Deus.
Jof vê todos amarrados levados pela Morte, os cavalheiros com o passado manchado de sangue, o lenhador possessivo inconsequente passional, a esposa infiel manipuladora, as mulheres dos cavalheiros que aceitaram consentir com o mal.
Assim, ao final, concluímos que apenas Jof e sua família feliz ficaram isentos da visita inesperada da Morte, ou seja, uma família unida e feliz, pura e saudável encontrará o caminho de Deus, o caminho que até mesmo a Morte desconhece.
O filme não é de fácil compreensão, abrem-se margens para achar o conteúdo simples e clichê, com música francesa (mesclada com mús. indiana) ensinando bobeirinhas de amor. Mas está muito além disso, trata dos níveis de amor, do mais carnal e físico ao transcendental profundo.
O protagonista Barfi, ensina sobre superação, e que dificuldades devem ser encaradas de forma positiva e engraçada, em nenhum momento vemos reclamações de sua parte, não se importa em expor-se ao ridículo, muito menos acerca do que irão pensar, isso o torna absolutamente normal e vívido. Esclarece que o único com poder de rebaixá-lo, submetê-lo, é ele mesmo junto à maneira a qual encara o mundo.
Ele se apaixona por Shruti, uma moça comum, daquelas robotizadas pelos preceitos negativos da sociedade, mas que fique claro – trata-se duma boa pessoa, o comportamento e idéias não podem definir o valor intrínseco de cada indivíduo.
Essa união é conflituosa em essência, pois para visão de pessoas médias robotizadas, uma moça atraente de boa família, jamais poderia unir-se a tal palerma inepto. As características de Barfi, surdo e mudo, obriga-nos a entendê-lo num contexto mais amplo, ou seja, à sua verdadeira identidade, sem depender de achismos pré-concebidos óbvios, que alteram o significado das deduções por falas.
Shruti demora a entender o contexto, e acaba perdendo sua paixão por medos e amestramentos internos muito bem solidificados, os quais não combate, “casar-se com outro pela imagem, para agradar seus familiares, sociedade geral, e maquiar seu próprio ego covarde protecionista nublado.”
Mas, Barfi, conhece Jhilmil, então toca-se em pontos genialmente expostos pelo autor:
- Não há “amor” à primeira vista: Amor à primeira vista normalmente é confundido com instinto sexual. Mas, maquiamos os termos para realidade ficar mais bela e aceitável.
O amor entre os dois surge após se conhecerem realmente, sem apelarem para as primeiras impressões sexuais definidas pela aparência que nos direcionam ao estado de alucinação e entorpecimento em busca dum bem maior (sexo), como no caso de Shruti.
Com Jhilmil, não houve escudos para agradar, impressionar o próximo, apenas liberdade e sinceridade, o que progrediu para um companheirismo inimaginável ao longo do tempo e vivência. Há momentos de alegria e angústia com muito apoio recíproco. O que mais seria o amor?
Não há conotação sexual entre Barfi e Jhilmil, outra ponto fundamental que ajuda a esclarecer os níveis de amor.
Amor Emocional: Definido por instinto, obviamente haveria coito se houvesse envolvimento entre Shruti e Barfi, como base substancial do relacionamento. O que define um amor mais frágil e passional, suscetível às angústias comuns pós desaquecimento libidinal; aborrecimentos bestas; ciúmes, etc. Quando não existe confiança e a base é sexual, a nossa insegurança interna domina o ar em casal, resultando em ver qualquer atitude alheia como afronta, desrespeito. Leva à estagnação completa, ou traição.
Amor Sentimental: Nível superior de amor, que não possui base na sexualidade, embora possa coexistir normalmente – não é o caso do filme. Este apoia-se no verdadeiro entendimento, como as brincadeiras alegres, fragilidades expostas, que levam à uma união mais forte, indiferentemente do que os outros achem, da necessidade de imagem perfeita para agradar conveniências do exterior.
O filme é uma obra-prima, recomendadíssimo para nos fazer refletir não somente aos conflitos sociais, mas sobretudo, nosso interior e o que entendemos como amor, será ele verdadeiro mesmo? Temos coragem para nos auto-enfrentar?
Como um filme assim fica escondido? Deveria estar entre as grandes obras do cinema mundial.
Mensagens de amor fraternal são transmitidas o tempo todo. Infelizmente, o homem moderno vive numa espécie de amestramento, acreditando piamente em regras internas impostas pela sociedade, a qual mede, pesa e dá um preço aos cidadãos.
Incomensurável a preocupação e interesse do Prof. Ram Shankar, pelo próximo. Mostra o valor de cada pessoa. Acabamos por julgar e analisar os outros com nossa base do que é bom ou ruim. E isso é egoísmo disfarçado, não podemos controlar os outros, imaginando que seriam boas pessoas simplesmente porque fazem o que achamos louvável e conveniente.
Definir os outros com nossa visão limitada, nos faz entrar num círculo miserável de estagnação e sofrimento. Perde-se toda beleza.
O nome já diz muito, “Como Estrelas na Terra”. Somos tocados de uma forma quase incompreensível, somos hipnotizados, como se respirássemos fundo, esquecendo das pequenas, médias e grandes frustrações cotidianas, um convite para sermos inundados de amor, esperança e compaixão.
Os clichês de amor, hoje ridicularizados, são logo eliminados, pois realmente nos passa mensagens corretas e profundas; somos todos estrelas, que podemos ser bobos para aproveitarmos à imensidão da Terra, que mesmo limitados podemos ajudar os outros, fica tudo mais límpido e divertido assim.
Há críticas diretas ao modo de vida competitivo social, muitas pessoas se tornam duras, gélidas e sofredoras. Fica difícil se preocupar com felicidade em um ambiente ilusório tão conturbado.
NÃO precisamos buscar ser o melhor em tudo. Quando tentamos isso, sofremos, ninguém consegue ser o melhor, um engodo, armadilha. A recompensa resume-se ao envenenamento de nossa própria mente. Quando deterioramos pelo envenenamento, presenteamos outrem com o simplório copo verde agonizante, distribuído gratuitamente pela inveja, mau humor, ostentação, etc.
Mas quem sabe possamos fazer como o Ram Shankar, criar coragem e lagar toda carga, aproveitar as coisas simples, brincando e rolando na caminhada.
Somos levados a reflexões sobre nós mesmos quando pensamos profundamente sobre o desenrolar da trama.
O que mais perturba não seriam as bizarrices; como mudança de sexo, sequestro, operações faciais e estupros. Mas, o que ocorreu com a mente de Vicente. Sabe-se que o cirurgião Robert Ledgard estava transtornado emocionalmente. Uma típica representação do sofrimento por emoções doentias relacionadas às paixões, perdas e vingança.
Robert não conseguiu superar a morte de sua esposa, à qual dependia. Dedutivamente sabe-se que qualquer relacionamento amoroso declina quando há uma dependência muito forte em algum lado, gera possessão, ciúmes. Não é espantoso imaginar que ela o traiu com Zeca.
Robert depositou suas emoções nubladas na sua filha traumatizada, que quase fora estuprada por Vicente, morrendo posteriormente por consequência do ato. Agora, Robert foi dominado pela vingança.
Ele culpou Vicente, rapaz com imaturidades comuns da juventude, por todo seu sofrimento anterior. Uma forma de aliviar tensões, independente das desgraças que causaria ao rapaz. Essa é a essência da vingança. Uma mera conveniência de descarga emocional, que causa ainda mais infortúnio. Ele tentou reviver a figura de sua falecida esposa no pobre Vicente.
Agora vem o ponto chave: Vicente se adaptou, tornou-se Vera. Não que tenha planejado para escapar posteriormente. Ele incorporou Vera, sua mente mudara, seu antigo eu morrera. Esse acontecimento nos assusta, o quanto mudamos simplesmente para nos adaptarmos ao ambiente?
Nosso nome pode morrer, simplesmente pelos acontecimentos? Os outros que nos fazem mudar? Nossa essência pode ser apagada ao máximo simplesmente por consequência do que nos acontece?
Será que nós somos pessoas tão fracas que simplesmente apagamos o que somos para nos adaptarmos à situações extremamente desprezíveis e grotescas? Abraçamos a origem do nosso sofrimento? Fazemos "amor" com ela?
Hoje somos algo, amanhã podemos ser alguma coisa totalmente diferente, não necessariamente boa. Apenas rendição eventual por fatos que nos deixaram de joelhos.
O ideal é mudar para o crescimento, enfrentando, superando e persistindo, isso se chama evolução. Entretanto, se simplesmente não nos enfrentarmos, maquiarmos nossos entraves, se desistirmos do que somos, não prosseguiremos. Criaremos uma ilusão que apenas aguada o dia de entregar o corpo.
Pode ser interpretado de várias maneiras, encaixa-se com o pensamento e experiências dos hormônios saltitantes de cada jovem. A famosa fase de experiências novas, independência, emoções não necessariamente boas, dependendo o nível de esclarecimento.
A princípio parece mais um daqueles filmes atrás de bilheteria - com uma atriz famosa e atraente na capa – além de temas corriqueiros de tramas de adolescentes mimados em países desenvolvidos. Mas não é! Surpresa.
Logicamente precisa tratar dos principais empasses que os juvenis tanto empacam:
AUTOAFIRMAÇÃO - Preciso desesperadamente provar minha existência, vejam que estou vivo, que não sou invisível. O que estou fazendo no mundo, quem sou eu?
SEXUALIDADE – O lar das ações impensadas, primitivas, que nos dominam e engatilham atitudes automáticas descuidadas. Surrar, humilhar e subjugar quaisquer atitudes alheias, principalmente se for mais fraco (passivo), para que assim sinta aquela sensação momentânea de superioridade, que todos me olhem com louvor, aprovando-me desgraçadamente. Quanto mais aceito eu for, quanto mais destaque eu ganhar, não importa o que seja preciso fazer, farei. Pois, assim, terei mais chances de ser notado, ou seja, acasalar. Ora que, pelo menos corram atrás de mim, para que minha autoestima suba montanhas ao nível Deus do universo.
Não posso ver nenhum “amigo” obter destaque, de forma justa ou injusta. Irei achar uma forma de acalmar minha inveja pelo seu obtido; que desejo ou renego, irei humilhá-lo sutilmente com comentários subliminares “engraçados” pejorativos em público, deixo subentendido que sou melhor por passividade alheia, escolherei apenas amigos que não revidem à altura, logicamente. Sou covarde, não consigo confrontar ninguém sem minhas máscaras, mas ao menos humilhando os outros, os trago para meu manto de infelicidade, agora posso deitar e dormir sossegado à noite. Não sou o único sofredor, tanto que expresso minha angústia com sarcasmo e nariz empinado convenientemente maquiado.
Mas no filme, o protagonista Charlie, assim como todo jovem, possui problemas com sua família. Nessa idade precisamos desenvolver outras faculdades que farão nossa visão de mundo ser ampliada.
Charlie não representava apenas um esquisitão tímido com problemas familiares refletidos nos seus relacionamentos na escola. Mas, a pureza confrontando as atitudes inconsequentes, miseráveis e pouco úteis da adolescência. Seria impossível passar por fase tão caótica, sem ser influenciado?
Talvez ser influenciado faça parte, mas não devemos abandonar nossa essência, devemos manter aquela luz somente nossa acessa. Charlie estava num padrão mental totalmente diferente, ele conseguia ver o contexto dos acontecimentos duma forma amplamente madura. Tanto que preferia não interferir, para não causar ainda mais sofrimento aos outros, muitas vezes se sacrificava por eles, era humilhado por decidir não entrar na turma dos descolados com atitudes horripilantes.
Charlie não buscava aceitação, logo era atacado severamente, poderia facilmente entrar parar o grupo dos atacantes, mas sabia que não era saudável. Um herói, que respeitava sua amada Sam, mesmo sabendo de sua infantilidade antiga, quando era embebedada por sujeitos mais velhos, e sempre repetia as mesmas ações em moldes diferentes, as garotas jovens buscam segurança, logo idealizam que ficarão mais seguras se estivem junto aos indivíduos mais destacados e respeitados, os quais muitas vezes adquiriram suas insígnias através da autopromoção exacerbada para outrem, ou seja, indivíduos que vivem pelos outros, humilhando, se transmutando, machucando qualquer um em prol dum aumento, ou permanência intacta de sua imagem, que se fosse refletida com sinceridade e exatidão assemelhar-se-ia à graxa preta.
O grande problema da autopromoção é que ficamos em foco, logo agimos de acordo com os conformes para não sermos rebaixados, ou seja, nunca agimos por vontade própria, somos escravos do julgamento dos outros. Os populares são os gênios da autopromoção, do marketing pessoal, mas para isso precisaram abandonar seu caráter e vida autêntica. O que adianta se esforçar para se tornar alguém assim?
Também, obviamente se ocorrer um envolvimento romântico com indivíduos nesse padrão comportamental, seria apenas superficial, acabando em sofrimento. Quando Charlie namora Mary Elizabeth, notamos carência afetiva e sexual, disfarçado num amor pronunciado por força do hábito. Não é à toa que o Charlie fala que enjoou de tocar em seus seios. Embora, sejam boas pessoas, quando se começa um relacionamento para suprir nossas carências, ele sempre se estagnará, acabará tragicamente.
Patrick, também representa algo indomável, que estava além das preocupações de aceitação, o que fazia dele autêntico e feliz. Embora, tenha problemas para esclarecer sua sexualidade, o que o levou a incógnitas e sofrimento.
No final das contas, Charlie representava a bondade, o amor. Sam, a imaturidade emocional, mas também a superação e o carinho. Patrick, a personalidade, a alegria. Juntos formaram um grupo alternativo, que surge apenas na rápida e inesquecível fase juvenil.
A grande vantagem de ser invisível, é que apenas assim aproveitamos a beleza da vida. Viver sem a dura necessidade de agradar, de aparecer, de fazer coisas inconvenientes. Estar seguro, calmo, apenas na seleta e verdadeira roda de amigos. A popularidade traz pressão, ou seja, traz sofrimento mental. Sejamos então invisíveis, que encontraremos a serenidade.
"Todos os jovens são interligados com suas experiências marcantes, isso é infinito, isso é amor."
Piscini Molitor, tenta escapar dum apelido constrangedor na infância, “Pipi”, para isso decora várias casas pós-vírgula da proporção numérica: “Pi – π”, após muitas tentativas e esforço, sua fraqueza transforma-se em símbolo de força.
Torna-se adepto das grandes religiões, extraindo conceitos e axiomas de cada uma, inclusive do pensamento cético de seu pai.
Cada religião, representa um pedaço de espelho quebrado, quando unem-se os cacos, temos um espelho completo, que reflete à verdadeira sabedoria.
No bote, aprendemos que todos estamos num grande barco, e que se quisermos sobreviver, chegar ao nosso destino, devemos trabalhar juntos. Embora na maioria das vezes convertamos nosso medo em egoísmo, causando destruição antes do objetivo.
O egoísmo na ânsia pela sobrevivência, leva à morte, prejudica ambos os lados, ocasionando duplo óbito, seja físico ou espiritual.
Devemos amansar nosso Richard Parker interior, faminto, agressivo. Pois somente trabalhando com nossos dois polos em harmonia, chegaremos ao destino.
Somos capazes de quebrar a corrente acostumada em obter lucros abusando dos mais fracos, que pode haver discernimento nas relações, o discernimento fora representado pela inteligência de Pi, ao amansar Richard Parker. Nas vezes que tentou à força, fracassou, quando roubava comida sempre se arriscava, rememora àquela característica comum nos tempos atuais, sempre querer tirar vantagens, acabamos assim por deturpar nosso caráter, nossa vida.
O ponto fundamental: temos uma escolha. O mundo que vemos, é o mundo que criamos em nossa cabeça. Podemos escolher um mundo duro e insensível, ou mergulhar na fantasia e no amor. Pode-se dizer que a realidade não importa tanto assim, desde que não percamos a esperança. Devemos sempre continuar remando.
Somos sacudidos inconsciente, nossa alma é tocada. Há relações do filme com os avanços da física quântica, no que se entende como entrelaçamento de partículas, ou seja, fora comprovado que partículas podem ser inter-relacionadas numa ampla cadeia, de forma instantânea, independente de tempo ou espaço. O que ocorre com uma, modifica a outra de imediato.
Poderia ser o concomitante entre filosofia, metafísica, esoterismo e ciência. Existiriam almas, pessoas interligadas? Almas gêmeas? Que surgiram da mesma partícula? Todos nós surgimos da mesma partícula? Essa seria a relação que une a humanidade? O que fazemos afeta diretamente os outros? Não é à toa que o slogan do filme é: “Tudo está conectado”.
O filme impressiona pela complexidade do ciclo das reencarnações. Trata dos principais problemas que assolam a mente dos homens, e desencadeiam causas que remetem sempre no círculo vicioso de erros. Cobiça, ambição, poder, inveja, etc.
“Nossas vidas não são nossas. Desde o útero até ao túmulo, somos ligados a outra pessoa. No passado e no presente. E com cada crime, e cada boa ação, fazemos renascer o futuro.”
Na sequência das vidas, os personagens são suscetíveis a caírem nas mesmas armadilhas, mas em situações diferentes, também se envolvem com outras pessoas, aumentando ainda mais seus grupos de ligações. Há sempre chances para se redimirem, mas normalmente não conseguem e afetam mais pessoas. Outro aspecto interessante seria sobre: “Os fracos são carne para os fortes comerem”. Expõem interrogações sobre a dominação do mais fraco. Sejam como no filme; escravos, clones, homossexuais, idosos de que ninguém espera nada.
O grande princípio que atrasa a relação dos humanos; subjugação. Entretanto, no filme vemos que ao contrário do que todos pensam, essas pessoas foram necessárias para salvação em cada cena.
O vasto gramado verde, quando notamos que somos apenas mais um broto perdido em meio à imensidão inconcebível, nos resta o silêncio, o silêncio da alma. Durante toda minha vida tive contato apenas com brotinhos próximos, e desse universo limitado tirei minha canção, da qual sibila minha existência.
Nada como Tóquio para representar nossa insignificância, nossa pequenez, uma cidade gigantesca. Além do toque genial de colocar ocidentais em meio ao mar de orientais, para assim focar nos personagens. Bob Harris um cineasta já fora de seus tempos áureos e Charlotte, moça solitária que nem mesmo conhece seu parceiro.
Há um vazio no filme, como nossas vidas chegam nisso? Seriam nossas escolhas? Há uma saída? Bem, para quem é solteiro, nos deixa uma vontade incomensurável de permanecer com o coxão pequeno. O relacionamento amoroso está num âmbito fora da lógica, o que nos deixa inquietos e sem rumo.
Peguemos então primeiramente a Charlotte:
Moça vivaz, jovem e atraente. O seu sentimento de culpa é altíssimo, como se ela buscasse ser uma moça destacada; e como uma barata sempre foi pisoteada. À exemplo da maioria dos casais jovens, se envolveu pelo futuro, pelos planos. Em uma cena ela cita ter tentado entrar no ramo da fotografia, sem êxito. Esse deve ter sido o ponto de junção de ambos, uma pequena compatibilidade profissional, seu marido John também é fotógrafo – união quase existencial se não fosse puramente material – diria apenas por atração sexual oriunda de carências que ambos não percebem.
Se soubessem que precisamos nos resolver para sermos felizes - nossas cargas internas, não entramos nos céus apenas por estarmos com quem desejamos, um engodo corriqueiro. Se não estamos satisfeitos com nós mesmos, cairemos na armadilha de ilusões. Ela não consegue colocar em prantos uma fagulha de um debate existencial, como se seu marido fosse um qualquer que ela acabou de ver na rua, não há empatia, não há envolvimento. O desgaste de uma relação fundada em superficialidades e sexualidade varia de um mês a dois anos, depois disso a chama diminuiu e o sofrimento inicia, quem está ao meu lado?
Outro personagem interessante seria a Kelly, loira histérica que parecia ter um caso antigo com John. Ela encarna o vazio, desesperada por holofotes, por atenção, não é à toa que se comunica com vivacidade exagerada, implorando o “olhem para mim”, ela também comprova que John se interessa muito mais pelo lado sexual das mulheres, que essas por sua vez suprem apenas o seu egoísmo maquiado, e um egoísta não liga para os sentimentos alheios, pensa somente nele, e em seu trabalho, atrás de preenchimentos e promoções supérfluas.
O Bob parece já ter passado por tudo isso, já ter experimentado de tudo, e ainda assim permanece com os espinhos. Se alimentava de seu status, de seu glamour, agora em declínio, não sabe lidar com isso, o velho dilema de aceitar à velhice.
Tampouco, Bob e Charlotte vivem como crianças, que tentam buscar felicidade em experiências efêmeras como danceterias, bebidas, cigarros entre outros atrativos. Vivemos de atrativos, não conseguimos nos silenciar, pois se ficássemos assim logo nos deprimiríamos por notar nossa própria pobreza interna. Atrativos que Tóquio tem de sobra, o desejo das grandes massas, fugir da realidade.
Um casal maduro não precisa de entorpecentes, de bebidas de futilidades, apenas da companhia do outro, o sentir da existência, que ambos caminham para um sentido, algo que transcende-os. Estão sozinhos em seus objetivos, mas unidos na estrada, no final o que importa mesmo é a estrada.
Como dizia o filósofo Olavo de Carvalho: "Muitas pessoas não alcançam o verdadeiro amor porque se apegam ao sexo para sentir que estão vivas, para fugir da angústia e do temor da morte. Mas é só a consciência da morte que nos abre para o verdadeiro amor, quando vemos a nossa amada envelhecendo, se extinguindo pouco a pouco, e imploramos a Deus que a preserve na outra vida."
Um sentiu o vazio do outro, e isso por lei dos semelhantes, os atraiu em meio às suas culpas, angústias e temores. Duas ervas daninhas no gramado fosforescente das vitrines de Tóquio.
Bem, o trilhar de um caminho maduro consigo mesmo nos mostrará que existem outras pessoas como nós, sinceras e que buscam uma vida mais elevada e verdadeira, o lugar onde espinhos não existem, bem, e se mesmo assim existirem, então continuemos a caminhar.
Impressionante como alguns filmes indianos conseguem passar idéias de formas alternativas. Possivelmente pelo fato de ser uma das poucas culturas que ainda mantenham vivas suas tradições espirituais e culturais refletidas no comportamento, embora adaptadas.
O filme extasia pela alegria, muito diferente das comédias estrangeiras apelativas, normalmente vinculadas ao sexo (apelo erótico) e a depreciação ácida alheia (humor negro). Há no humor inocente e bobo uma complexidade ímpar aos olhos do verdadeiro riso.
Uma forte alfinetada ao modo de vida competitivo ocidental, normalmente relacionado ao dinheiro, embora o capitalismo como modelo econômico, gere progresso positivo imprescindível. “Fazer a diferença”, tomou conotação de ser o melhor, isso causa muito sofrimento, pois é impossível e também inútil buscar ser o melhor para ostentar uma imagem ilusória de felicidade.
O mantra criado por Rancho, “Aal Izz Well – Tá Tudo Bem”, ilustra uma mensagem profunda. Nosso coração é covarde, podemos enganá-lo facilmente toda vez que nos depararmos com um problema, basta-nos repeti-lo para proporcionarmos tranquilidade interna, ou seja, facilitará o esclarecimento sem todo o estresse.
Chatur - O colega de classe egoísta, encarna o lado abominável na conduta de vida contemporânea. Ambição, arrogância, competição, inveja. Representa claramente o EGO e suas faces, o vazio existencial polarizado no mundano; na satisfação no material como soberania de comportamento.
Raju – Carrega um grande fardo familiar (carma), que o torna medroso pela forte pressão, acaba por suplicar apenas ajuda aos Deuses, quando deveria acreditar nas suas próprias capacidades. Raju, apenas consegue acreditar em si, quando fica meses refletindo numa cama de hospital, autocrítica positiva forçada.
Farhan – Covarde, não mostra suas verdadeiras intenções e aspirações, sempre sofreu uma forte repressão familiar. Seu pai, embora queira o seu melhor, pensa erroneamente que na prestigiada universidade de engenharia sua criança encontrará a felicidade, logo que, o sonho de seu filho seja muito mais simples. No final entende essa lógica, com ato de extrema coragem.
Rancho é o protagonista, carregando sabedoria em suas atitudes, contaminando gradativamente os lugares em que passa. Ajudando ao próximo sem pedir nada em troca. Se invertermos; “competição”, pelo interesse de “aprender sinceramente”, não precisamos nos preocuparmos tanto, o sucesso será apenas uma consequência, jamais o objetivo.
Há também mensagens sobre amor, não devemos nos envolver apenas pela imagem, ou seja, escolher uma pessoa para nos sentirmos bem ao apresentá-la impecavelmente aos outros, nos deliciando em gabolice. Aparência não é sinônimo de felicidade, seria mais aproximado de carências do nosso próprio egoísmo. A cultura indiana também surpreende por ter uma conotação sexual muito abaixo dos padrões normais, belo e moral, está longe de ser prioridade.
Ora, de idiota esse filme não apresenta nada. Apenas nos mostra que é muito bom ser um.
Macaco! Cada macaco no seu galho? Qual galho? Qual o sentido metafísico do galho? {}
Obra-prima do cinema mundial. Para ser analisado hoje, precisamos entender sobre o contexto temporal da época, tão logo não cairemos em redes anacrônicas em busca da banana dourada.
O Coronel Tylor (bright yes), protagonista, tem traços de personalidade não ao acaso, sagaz e comediante, um verdadeiro ser que vivia na decadência cultural dos EUA, na década de 70. Havia uma forte influência hippie, libertinagem à partir da revolução sexual e decadência juvenil à partir de entorpecentes. Uma época transigente, da velha família religiosa, para modulação atual, quebra de paradigmas, não necessariamente melhores.
Significativo o fato da única mulher a bordo da espaçonave morrer, logicamente, se tivesse sobrevivido, causaria a ruína dos homens que a disputariam em situações extremas.
Superficial o pensamento que analisa os pontos diante perspectivas da guerra fria, sobretudo como a conhecemos nos livros de história. Capitalismo VS Comunismo. Há engodos e falcatruas que recriam convenientemente ambos os lados, principalmente, e de forma abjeta, o comunista.
Que somos macacos de terno, isso ninguém nega, seja no lado da liberdade americana, que embora boa, rume à autodestruição; ou pelo encarne da utopia materialista, falsa e assassina, oriunda do comunismo.
Há simbologias, como no tribunal dos três macacos; um tapa os ouvidos, o outro os olhos e o último à boca. Por definição cutuca a moralidade religiosa falsa – seria a definição não apenas de não querer ver, ouvir e falar, mas também o inverso, não poder ver, ouvir ou falar, através de manipulações e censuras. Paupérrimo, que o filme seja interpretado apenas como mera crítica religiosa de ateus e neo-hippies, já que quem estuda religião verdadeiramente, sabe que o caminho da libertação promulgado pelo cristianismo torna os adeptos aprendizes da fagulha divina (amor) em seu dia-a-dia. Existem bons cristãos, assim como maus, julgar o todo trata presunção e ignorância.
Há todo um incentivo para romper barreiras com jovens que devem repensar a forma pela qual os adultos vivem, como se não existissem sábios verdadeiros que ensinassem o melhor às crianças, essa forma de pensamento progressista que nos faz aceitar qualquer proposta, na maioria dos casos ridícula, de jovens alucinados pelo próprio egoísmo do ser, em querer mudar o mundo através de caprichos. Uma sociedade guiada por jovens, é uma sociedade morta em essência, que já não possui valores suficientes para se protelar à continuidade de uma herança cultural digna.
Quando sinto o cheiro da minha mão, sinto o cheiro de macaco, assim como o cheiro dos meus pés e pernas. Vamos continuar a caminhar pelas tribunas circenses que exigem de nós certa desenvoltura e seriedade. Em meio as palhaçadas, encontramos outros seres que junto de nós, pulam de galho e galho. Ao final, se não acabarem por cortar nossa árvore, verdadeiros momentos remanescerão em nossos peitos, e um sentido existirá, não no extremo, mas um que sempre existiu, apertado em nosso âmago.
Saímos de nossas doces suítes amanteigadas e perfumadas cujo despojo da maciez de felpos de algodão, hoje, nos salientam e amortecem o esforço.
Vivemos facilmente, basta-nos arranjar um emprego, e teremos comida, moradia, e tudo mais, hoje qualquer pessoa vive em meio ao luxo extremo se compararmos à épocas longínquas.
Éramos, não diria dependentes, mas fazíamos parte de um todo, o qual denominamos família. Homens e mulheres trabalhavam para sobrevivência, de forma simples e precária, incrivelmente viviam e eram mais felizes, diria interligados com emoções, sentimentos – relações humanas.
Como descrever o sentimento de ligação à matriarca, que abandona sua própria vida, seu próprio ser, em prol da continuação. “Amor é quando um continua o outro.”. Quando há continuidade, há união, há crescimento, há evolução.
Como devemos nos comparar com pessoas de épocas passadas. Vivemos atrás de prazeres, de euforias, perdemos nossas ligações com a família, com nós mesmos, com o sentido. Vivemos através de máscaras, de conformismos, como redes balançantes, que ora choram, ora urram com calor da cerveja.
A sensação de vazio, de falso ato, nos corrompe, secos e isolados. O que terá de novo, o suprassumo da vida encontra-se em baladinhas?! Por que, às vezes bebo mais que o necessário?! Por que fico abatido aos domingos?! O que falta? Não tenho todo respeito, todos os prazeres carnais e mentais?! Solidão, assisto filmes de comédia, comédia, comédia – eu rio, tu ris, ele ri – Tomo antidepressivos, ou droga, ainda não estou embriagado, caramba, quanta zoeira! Quanta loucura. Atingi o grau máximo do viver?
Além de tocar em espiritualidade diretamente, seja com evocações de espíritos e grupos cármicos familiares, que se encontram sucessivamente, de geração em geração.
O guia do poder, a líbido, a força da vida. Percebemos sinaléticas, da representação da procriação, e da loucura que ela pode causar, se for desregrada, negligenciada ou bloqueada.
O exterior e o interior. Significaria muito, em uma pequena aldeia, renegar pessoas por aparência, se a necessidade me atrai à elas, e ironicamente percebo minha tolice, minha crueldade em selecionar egoicamente vidas, sentimentos por fetiches e medos de aceitação.
Nas próximas gerações, que encontremos nossos grupos, que nos perdoemos, principalmente hoje. O aquém e o além estão próximos, e, o fio da mudança está na luz e na sabedoria que não perdemos no mudar das estações.
O Rapaz e o Monstro
4.2 140 Assista AgoraAo contrário do que muitas pensam, não somente o Studio Guibli produz grandes obras, e afirmo, das mais novas certamente é uma das melhores feitas.
Os filmes e animes japoneses assim como quase tudo vieram a decair em qualidade, também se ausentando da grandiosa criatividade que o país sempre demonstrou. Neste filme tivemos uma inversão, o que é um monstro? Os humanos também o seriam?
Vale cada minuto, recomendadíssimo.
Matrix Resurrections
2.8 1,3K Assista AgoraSEMPRE PARA O PIOR
Uma vez ouvi uma pessoa falar que “sempre pioramos”, achei engraçado pois vai contra o que todos sempre dizem que caminhamos para evoluir, como um hippie new age que ouve Pink Floyd. E nesse filme Matrix 4 com certeza essa afirmativa negacionista é verdadeira, cada vez piora.
Que os autores da trilogia irmãos Wachowski, hoje irmãs após a mudança de gênero são gênios é indiscutível. O filme Matrix influenciou toda uma geração de blogs e fóruns antigos na internet sobre os mais variados e interessantes assuntos fora do mainstream – sem contar que está mais atual do que nunca neste final de ano de 2021.
Em suma o filme revive alguns pontos, mas de forma extremamente superficial, a red pill da verdade, e blue pill da ilusão, na qual a maioria das pessoas sempre ficará e desejará ficar imersas na blue pill; e que os agentes da Matrix irão perseguir de forma implacável quem deseja escapar e etc.
O ponto deste novo filme é retirar o protagonismo de Neo, afirmando que não existe o escolhido, e ele mesmo afirmando que não acredita nisto, indo de contraponto aos filmes anteriores. O antagonista principal é um psiquiatra, tido como analista, que mantinha Trinity e Neo presos em uma nova realidade da Matrix.
Existem várias mensagens relacionadas ao progressismo norte americano de escopo político ideológicos – neste valeria um texto somente para discuti-los. Mas o fato é que o filme foi dividido na relação entre Trinity e Neo, e que ambos estão juntos em suas missões proféticas.
Não discordo da junção Homem-Mulher como forma completa do potencial alquímico humano, entretanto não é compatível ao arquétipo do herói acima da Matrix que fora depositado no protagonista Neo em todos os filmes anteriores.
Sem contar que as máquinas agora também optavam em ter os humanos como amigos, o que até agora não consegui constatar como coerente, somente com possivelmente uma nova agenda que talvez surja no futuro em que as pessoas irão tratar a inteligência artificial como o “deus de neon” da canção The Sound of Silence de Simon & Garfunkel .
Resumindo, ao final a Trinity se tornou tão poderosa quando o Neo, a maioria dos personagens em destaque são mulheres e não brancas para eliminar os estereótipos de hollywood, várias mensagens políticas progressistas com enredo superficial e pouco trabalhado. Matrix se tornou uma profecia auto-realizadora, em que o primeiro filme em uma latência de 20 anos previu a decadência de suas sequências em novas formas de Matrix que nem seus autores previam, assustador.
Quase Famosos
4.1 1,4K Assista AgoraPROFUNDIDADE NA PERDIÇÃO
O filme é feito por alguém que com toda certeza viveu nas tribos relacionadas ao rock e suas diferentes variáveis. Na qual o protagonista Willian Miller representa o virjão talentoso dentro da extravagância e rebeldia do mundo alternativo criado pelos roqueiros. Eu costumo afirmar que o rock foi planejado para emburrecer e revoltar a juventude – entretanto há ressalvas, existem verdadeiras obras-primas que foram produzidas, e isso nem o mais maquiavélico engenheiro social imaginaria.
Certamente com a revolução sexual, hippie nos anos 60 e com batidas fortes, agitadas e sexualizadas do rock teríamos uma nova moldura para os jovens, existem relatos de que durante o show dos Beatles o cheiro de urina das mulheres que ficavam em frente ao palco era quase insuportável – há um estranho fascínio nas mulheres por estrelas pop, especialmente no rock, na qual o músico transmuta-se em uma espécie de criatura divina.
O preceito da pessoa robotizada e perdida pela vida ordinária capitalista religiosa é estereotipado através da mãe de Willian, a senhora solteira Elaine Miller, possessiva, metódica, dominadora, a qual a própria filha teve de fugir para conquistar sua independência. Achei a sua personagem forçada demais, afinal uma pessoa comum e religiosa pode ser ponderada e não problemática como apresentada nas cenas.
As tietes como a bela Polexia e Penny Lane representam a mulher dentro das mudanças culturais pós revoluções com todo arcabouço de mudanças sociais através da mídia e cultura dominante da época. A promiscuidade, o mistério e a profundidade, particularmente este tipo de mulher é uma tentação do puro diabo, pois são atraentes, divertidas e magnéticas. Representam personas fortíssimas, quase como se encarnassem virtudes masculinas, ao contrário da fragilidade feminina.
Nota-se que Penny Lane, a mais profunda das moças vivia um dilema de felicidade aliada ao hedonismo mesclado com liberdade e um vazio profundo, como se fugisse de si e da própria realidade. É paradoxal imaginar como o fanatismo por músicos famosos faz com que belas moças se sujeitem a quaisquer coisas para tê-los, neste caso serem objetos de prazer sexual e entretenimento. A explicação mais aceitável me parecer ser antropológica e também psicológica.
As mulheres ao contrário dos homens que são atraídos fundamentalmente por beleza física, se atraem pelo status masculino, então alguém famoso, principalmente se for do meio que ela frequenta poderá se tornar o suprassumo do desejo, embora isso não aconteça com mulheres maduras em muitos casos, na maioria com jovens que ainda não perceberam como o mundo funciona e possuem problemas emocionais afetivos, convertendo todo seu desejo na figura de um salvador, no caso o astro superstar.
Não diria que os homens são diferentes, pois ao ver uma bela jovem, de beleza incomensurável também perderiam a razão e agiriam por puro instinto, deixando todo seu orgulho guardado. Logo as mulheres que adoram estrelas, atores, músicas possuem seu instinto por homens de alto status aflorado, concomitante com problemas emocionais afetivos e uma dose de desequilíbrio espiritual por adorarem outros homens mundanos.
Stillwater representa músicos que em conflitos buscam por fama, prazeres e com uma pequeníssima dose de poesia e talento apresentam alguns vislumbres de profundidade no caos da sociedade comum. Perdidos em disputas internas, difamações e duelos adolescentes embora sejam adultos, e a fase da juventude perdure para que aproveitem ao máximo. São como os homens do mundo, e que apenas do mundo desejam desfrutar.
O rock n’ roll representa um movimento de rebeldia que assumiu uma disputa com a normalidade, com suas regras e condutas próprias, geralmente somente os jovens são capazes de incorporá-lo por completo, pois exige drogas, promiscuidade e loucura. O indivíduo que permaneça nesta cultura por muito tempo está fadado ao fracasso na margem da cultura normal, é como uma escolha que deve ser tomada, uma vida de rebeldia e destruição ou uma vida ordinária e subserviente?
O Abutre
4.0 2,5K Assista AgoraO HOMEM ROBOTIZADO
Neste filme fica claro que o protagonista Lou Bloom representa o homem moderno "hipster" dos grandes centros urbanos - ou nem tanto - sem aspirações substanciais, à procura de quaisquer situações que os tirem do tédio.
Não seria surpresa o filme focar justamente em gravações de filmagens violentas para serem vendidas à TV como tema pelo protagonista - analogamente a todo jovem hoje que se interessa muito mais por suas redes sociais, por fotografar e filmar situações que farão com que ele seja destacado de alguma forma - a velha história de não salvar a pessoa de um afogamento, porque antes precisava filmar para acreditarem.
Lou Bloom ecoa pelas ruas como o som do vazio das almas e mentes perdidas dos jovens do mundo pós-moderno, o qual somente sentem um vislumbra de vida quando filmam, expõe, machucam, agridem ao próximo - a face do utilitarismo em perspectiva atualizada.
O Demônio das Onze Horas
4.2 430 Assista AgoraENGANO MAGISTRAL
Estava para baixar outro filme francês com nome parecido via torrent, e efetuei download deste por engano – e que engano maravilhoso.
Ferdinand parece representar um misto de homem comum francês vivendo o final da cultura de seu país, tão rica e berço das artes nobres da Europa – isso que o filme já tem mais de 50 anos. Anda sozinho em sua vida normal, conversas vazias em uma solidão constante seguida do cotidiano.
Entretanto quando conhece Marianne tudo é renovado, concessões, dinheiro, viagens, aventuras, tudo transforma sua vida, e de fato ele parece se sentir vivo, diferente de antes. Interessante uma das falas de Marianne que queria viajar pelo mundo mas acaba em uma praia com o mesmo vestido passando necessidades, os dois personagens não percebem que essa simplicidade tornou-se algo maior que a melhor das viagens.
Ao final, em meio às mágoas, sofrimentos, amores, promessas o filme termina com um vislumbre do mar e do sol, promessas de eternidade e da complexidade existencialista que está entre homem e mulher, sua união, e muito mais, além de nós.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraENGANAÇÃO DE HIPSTER VICIADO EM ALIENÍGENA
À partir dos anos 30 começamos a receber bombardeio midiático em cima da temática alienígena, em que o universo é grandioso, e não é possível que estejamos sozinhos – o engraçado sobre isto é que confronta diretamente o paradigma ocidental das religiões judaico-cristãs, que somos criação divina única.
Até os anos 90 ainda poderíamos afirmar que os aliens eram vistos fortemente como criaturas perigosas e temidas, mas após o fortalecimento de seu embelezamento que são seres evoluídos e bonzinhos, hoje qualquer juvenil quer conhecer um alien, abraçá-lo, reverenciá-lo, e esse filme retoma este estereótipo típico e clichê brilhantemente.
Não é à toa que foi tão aclamado e possui nota tão elevada, ninguém percebe que somente faz parte do encerramento da lavagem cerebral que já se iniciou na geração dos nossos pais, e agora está completamente implantado tornando-se irreversível em nossa queridíssima geração nutella.
A única coisa boa deste filme foi ver que ao menos os chineses possuem colhões e queriam destruir os desgraçados dos aliens metidos a polvo que soltam fumaça, meus parabéns para China, que embora comunista, no filme foram os únicos dignos de respeito até o momento que desistiram de atacar.
O Corcunda De Notre Dame
4.0 43 Assista AgoraETERNA DOR
Em filmes antigos há uma seleção especial de atores, que representam exatamente características faciais as quais seus personagens serão designados, já que no cinema mudo não há fala, dá-se importância gigantesca às expressões. O olhar de Frollo e também do Quasímodo são assustadores e vivos.
O mundo poderá nos coroar reis ao conquistarmos aceitação, glória, dinheiro, poder, fama, carregando-nos como grandes mestres. Uma vez que o desagrademos seremos açoitados e postos em um pelourinho pelo mesmo mundo. O ser humano possui uma estranha fascinação pelo feio, e também pelo belo.
No feio sentimos aversão, e também adoração ao ver tamanha miséria sobre alguém, seria engraçado, cômico. Como alguém vive dessa forma? Talvez ao vermos o fraco sentimos que somos fortes, e isso traz a nós um estranho vislumbre de felicidade. Somos miseráveis, nos aproveitamos e aproveitaremos das fraquezas alheias. Somente a compaixão pode superar o riso sobre o feio. A compaixão é uma forma de aceitação, empatia e amor, pouco presente entre os humanos.
Entretanto, no belo poderemos em alguns casos sentir inveja por não possuirmos tais atributos, resultando em autoflagelação projetada. Por outro lado poderemos sentir o ardor iluminado do transcendente, da perfeição divina, como a beleza e pureza de Esmeralda.
Os seres humanos podem ser anjos como no ato de compaixão de Esmeralda ao matar a sede do Corcunda no pelourinho, ou demônios sedentos por sangue ao desejarem sua morte somente por ser horrendo.
Phoebus capitão rodeado de mulheres e honrarias representa o herói do mundo, atrás somente das conquistas mundanas, sendo poderoso, altivo e também corruptível, sucumbe a tentação do material e não da alma. Esmeralda apaixonou-se pelo superficial, pelo glamour, e tudo que ele representava, um “amor” focado em volúpia social. Arrependeu-se ao final, uma vez que o Corcunda representando a não aceitação social, o vergonhoso, e ao mesmo tempo o sincero e puro, mostrou-se mais forte que qualquer situação mundana.
Frollo como um asceta representava o exílio do mundo decaído, que por muitas vezes traz a redenção, entretanto também pode trazer a amargura, raiva e misantropia. O homem posto à prova deverá enfrentar o inferno, posto em seu meio para que somente assim saiba se de fato consegue suportar os desgostos e infortúnios. Esconder-se poderá levá-lo à loucura, tornando-o o verdadeiro mal.
Gringoire era o espírito do jovem, alegria e progresso, talvez representasse o entusiasmos pré-revolução francesa. A vontade pela mudança, um marco importante seria a criação da imprensa, a forma de compartilhar informações rapidamente à população, modificando comportamentos, e também incitando-os, seja para o bem ou mal.
Esmeralda representa a divindade de uma mulher enigmática e inocente, a qual também poderá enganar-se como no caso de Phoebus, ou trazer virtudes, como compaixão ao Corcunda que mesmo chicoteado não chorava ou gritava, pois sua vida já fora e é tão tortuosa, que um mero açoite nada representa. Esmeralda era capaz de magneticamente apaixonar os homens, uma força incontrolável, que toda mulher bela e virtuosa possui, ela também poderá representar o lado elevado com o puro, ou o diabólico com a manipulação.
Toda França entrou em debate para inocentar ou sentenciar Esmeralda que acabou liberta, e com proteção incessante do Corcunda. Sua súplica à Deus no alto da torre após atirar pedras sobre quem tentava invadir parecia com o urro por ver-se pecando em prol de seu amor, o qual jamais poderia ser correspondido por ser tão horrendo; embora puro –, o amor que possuímos por Deus jamais poderá ser retribuído em totalidade aqui na Terra.
Por hora deveremos sofrer o jugo do não correspondido, do mundo falso, da maldade, das misérias e mazelas, das dores, da solidão, das maiores das solicitudes, o puro e bruto sofrimento. Aquém do transcendente, somente isso que nos resta, isolados em uma torre alta sempre solitários.
Silêncio
3.8 576NO SILÊNCIO EVIDENCIA-SE O AMOR
Uma ótima forma de começar um comentário sobre filmes seria com a terminologia: “não se trata de um filme para leigos”, e Silence não se trata de um filme para leigos.
Retrata toda força e repercussão da cristandade da Europa, embora a história seja no continente nipônico. É difícil por não dizer impossível imaginar como seria a religião prática na vida das pessoas com nossa perspectiva materialista, ateísta e niilista atual – inclusive dos religiosos -,a relação dos nossos avós com o sagrado era crível e palpável pois não participaram da contra-cultura cientificista anticristianismo. Que atacou em todos os aspectos quaisquer formas de expressões culturais religiosas baseadas em crenças abraâmicas.
A religião na idade média e renascimento era tratada como “cultura” – embora sempre o seja, apenas hoje que não -, ou seja, ainda mais forte que rei e estado. Seria a forma máxima de se viver, de crer, de conduta diária laboral, sexual e familiar. Observando dessa forma ampla, o cristianismo era muitíssimo perigoso ao Japão, mais que quaisquer aspectos da cultura europeia, ou até inimigo direto de guerra. O cristianismo seria capaz de transformar todas as circunstanciais sociais, culturais e religiosas, criaria uma nova civilização.
Poderíamos dizer que Kichijiro, o eterno pecador, representa toda característica do cristão, o indivíduo posto em um plano terreno de eterno sofrimento, e eterna fraqueza. Ciente que não conseguirá sobrepujar as forças mundanas apenas por si – ao contrário do Budismo -, dessa forma sempre a pecar e arrepender-se a suplicar pelo perdão. Um personagem caricato, e não mau por natureza, apenas representando a verdadeira essência do humano, a fraqueza arrematada pelo mundano.
Inclusive Kichijiro reavivou as forças do Padre Rodrigues que havia se tornado apóstata, ao clamar por perdão e confissão dos pecados, mesmo sem existir mais nenhuma circunstância para tal. Revelando uma fé presente mais forte que a de todos, ao de se colocar como o eterno sofredor, pecador, clamando pelo perdão divino. A força nos fracos – um dos principais preceitos do cristianismo,
Pe. Rodrigues, ao contrário de Pe. Ferreira que rendeu-se às torturas e abandonou a Deus, estava a guardar sua fé em um mar tortuoso infernal, solitário, sem nem mesmo contar a sua esposa. No silêncio, em seu âmago, guardava a Cristo, pois o amor jamais poderá ser medido ou calculado, somente no silêncio e em contato com o transcendente é que poderemos evidenciá-lo, seja em uma catedral gótica apostólica-romana, ou preso a um grande bambu, enterrado nos confins da Terra, com um simples crucifixo feito pelas mãos sujas e calejas de alguém que jamais será lembrado pela história.
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraA DECADÊNCIA DO OCIDENTE
Aos jornalistas, políticos, professores universitários, intelectuais e toda massa hollywoodiana pós anos 60, devemos um obrigado por terem nos condicionado como cães de Pavlov à mentalidade revolucionária, romper os padrões de nossos pais, termos a opção de escolher quaisquer religião, crença, cultura - ou seja, nenhuma. O homem ocidental foi criado através de suas crenças pagãs que foram adaptadas ao cristianismo, uma vez que eliminemos essas crenças, voltaremos ao barbarismo, voltaremos contra o próprio homem e sua civilização.
Esse filme marca a reação de mais de cinco décadas de lavagem cerebral, engenharia social implantada para modificarmos nosso sistema de crenças e comportamento. O amor verdadeiro do transcendente. Se devemos ter uma escolha para “admirarmos” alguém, automaticamente nos colocaremos como inferiores, logo, prefiro colocar minha admiração ao objeto, que por lógica somente poderia ser um ser incomensurável – DEUS -, palavra que se tornou proibida de ser dita de forma aberta sem ser taxado de fundamentalista ou burro nos grandes círculos de intelectuais pós-modernos.
O amor a Deus, formou a mentalidade do amor ao próximo, modificou toda história, e nos trouxe as maiores obras que poderíamos imaginar, o homem buscando a santidade, abandonar o seu lado vil e animalesco. Em um mundo puramente material, que somos apenas carne e osso como a proposta materialista moderna nos traz, o cenário desse filme seria: Os soldados iriam a guerra para vencer ou perder, conseguir dinheiro e fama, nada além do material, e certamente traria críticas aos religiosos. O protagonista hipoteticamente iria morrer cedo, ou trair a Deus de forma vergonhosa para demonstrar que se trata apenas de uma ilusão conveniente para se autoafirmar como puritano. Ah, estamos tão acostumados com tais cenas enjoativas, que até mesmo os diretores ateístas cansaram de reproduzir tais clichês.
Por isso deixo um forte elogio ao filme, que de forma brilhante e emocionante resgatou a mentalidade da religião, do amor, sem os costumeiros pontos semióticos de política anti-religião e tradição.
Frankenweenie
3.8 1,5K Assista AgoraAS DESPEDIDAS
Raramente percebemos a importância das pessoas que nos circundam, posso discutir com minha mãe por ela ter comido meu pão-de-queijo, posso dia-após-dia dizer um rápido "oi" e "tchau", nos intervalos de trabalho, estudos e lazer, mas se de fato, entendermos o quanto nossas vidas ficariam solitárias caso não mais tenhamos tais pessoas, desmoronaríamos.
O sonho do homem em não sentir a dor da perda de entes queridos, eis a questão colocada em jogo aqui - o grande jogo que somos coletivos, família, sociedade e que, sozinhos não somos nada - suportar nossa solidão é a unção da maior dor de todas, relembrada nas vezes que nos despedimos de quem sempre desejaremos que permaneçam eternamente ao nosso lado.
O Fantasma da Ópera
4.0 853 Assista AgoraA MISÉRIA DO HUMANO
Em nosso íntimo guardamos todas as nossas cargas de angústias e sofrimentos, relações diretas de contatos com as pessoas que nos cercam durante a vida.
Erik, o fantasma, teve uma infância absurdamente conturbada, sendo tratado como o mais vil e abjeto dos seres, um monstro, digno de chacota, raiva e risos, pelo único e simples motivo de possuir uma face horrenda. Ele representa a fraqueza do homem ao enxergar apenas o visível com os olhos, a ausência de beleza, o deformado, o fora de simetria, o excluído.
Mesmo Erik sendo um gênio, possuindo qualidades inalcançáveis ao comum, ainda era horrendo, e ficava em sua caverna no subsolo. Para ele seria impossível demonstrar toda grandiosidade de seu interior aos demais, que sempre iriam julgá-lo pelas aparências imediatas.
Christine encarna a inocência, a beleza, a virtude e a moral. Uma jovem talentosa, que recebe treinamento direto de seu anjo da música, o fantasma, perdidamente apaixonado por sua graça. Ela se destaca e ganha fama graças a ele.
Ao finalmente adquirir fama, ela é notada por seu rico amigo de infância, Raoul, que embora seja nobre, e também virtuoso, não chega minimamente perto da grandiosidade do fantasma, o ser das trevas – importante ressaltar que ele jamais se interessaria por Christine caso ela não conquistasse fama.
Há um duelo interno pelo puro e verdadeiro amor de Christine:
- O feio profundo.
- O belo superficial.
O feio e profundo a fez conquistar tudo que é, admiradores, fama e reconhecimento. O belo superficial seria o encaixe no molde para as demais aquisições, uma vida perfeita, embora fosse injusto para com quem sempre esteve ao seu lado, antes do destaque e da fama. Como o sujeito comum e trabalhador não reconhecido por seus atos, e que somente após adquirir riquezas que ostentam uma imagem de poder, recebe reconhecimento, reconhecimento que jamais receberia, caso continuasse ainda em situação precária; logo, seriam válidos?
O ressentimento é uma das grandes mazelas que destroem o coração do homem, o fantasma era possuído por ressentimento, que se transformou em ódio ao mundo claro e hipócrita da superfície. O transformando literalmente em um monstro assassino e sem remorso.
Ao final, quando recebe um beijo, sente-se finalmente reconhecido pelo que de fato é. Se arrepende e enxerga as atrocidades que cometeu, liberta Christine para casar-se com Raoul, finalmente purificando todo aquele ressentimento para com os outros.
O coração do homem é miserável: sendo belo, sempre caíra na luz, inocência e superficialidade; sendo feio, cairá na escuridão, na profundidade, ressentimento e malícia. Seria possível ser bondoso sem jamais ser reconhecido interiormente, e caso fosse seria possível ser bondoso verdadeiramente recebendo toda glória do mundo? A única escolha seria apegar-se ao bem supremo e uno, que está além das mazelas do sofrimento humano, um bem maior que o animal, distorções e instabilidade que estaremos sempre sujeitos, somente idealizando algo maior que nós, nos libertaremos de nós mesmos, para que talvez um dia alcancemos a verdadeira iluminação.
Perdido em Marte
4.0 2,3K Assista AgoraCOTAS PARA O ESPAÇO
A receita de um pão ordinário:
- 1 quilo de farinha de trigo.
- 1(a) xícara de chá de açúcar.
- 2 ovos inteiros.
- 50 gramas de fermento.
- ½ litro de água.
- ½ colher de sal.
Um alimento simples e milenar, não imaginamos a dificuldade real em encontrarmos os ingredientes em sua composição original, o trabalho investido na cana-de-açúcar, na colheita de trigo, e no cuidado da galinha. Possuímos todos graças à troca voluntária de produtores em massa, que repassam os produtos primários para empresas, sucessivamente supermercados, tudo perfeitamente belo, em grande quantidade e em validade.
A troca voluntária monetizada para obtenção de produtos denominamos capitalismo, um sistema que visa o abastecimento das necessidades das pessoas.
Em marte nada existe, não há galinhas, água, nem pessoas. Matt Damon no papel do astronauta Mark Watney nos apresenta esta realidade crua. Completamente sozinho em uma estação em outro planeta, desfrutando da solitude marciana. Imaginar-se sem alimentos, sem companhia de cachorros, árvores e pessoas, nos deixa abertos para aquele vazio das perguntas máximas da filosofia. Para quê? Para onde? E porquê? Um universo infinito em tamanho, e você, apenas mais um pontinho brigando por sobrevivência. A dor de estar afastado das pessoas, da humanidade deve ser indescritível, a maior das torturas, enlouquecedor. Desmamamos de nossa mãe, mas jamais das pessoas.
Há três pontos desonestos de semiótica repassam mensagens subliminares. A primeira quando Mark tenta conseguir fogo com uma cruz – a mensagem subentendida que não há valor algum na religião, em Cristo, e em Deus, o universo é complexo demais para uma crendice.
Quando na plataforma de lançamento um dos cientistas pergunta se o outro crê em Deus, que responde: Creio em vários deuses. E logo em seguida o foguete estoura. Deixa claro que se confiarmos em Deus, estaremos à deriva, sem certezas, sem salvação, explodiremos, ainda na fala “vários” deuses enfraquece ainda mais a visão de um ser supremo, de um originador de tudo, da essência, do iniciador onipotente. Já que existem vários, logo nenhum existe, não são significativos, apenas crenças bobas e superadas.
Na terceira o próprio Mark fala que irá dar e usar o que a ciência possui de melhor, logo é uma mensagem que subliminarmente transmite que nada além do conhecimento do homem, da tecnologia poderia o salvar, eliminando quaisquer possibilidades supranaturais. É o típico cientista secularista cético falando.
Finalmente, após essas poderosas sinaléticas ocultas passamos a crer no mundo sombrio, seco do vazio, do nada além do homem, somente o homem, a massificação do homem. Não há tempo para pensar em algo que transcende o homem, que vai além das suas capacidades cognitivas, não há tempo para perguntarmos se fomos criados por Deus, que o universo é uma criação dele, o estopim que desencadeou tudo. Apenas confiamos no homem e na ciência.
Há uma ar politicamente correto da wave de novos filmes sobre espaço, universo e astronautas. É preciso colocar todas as “raças” para que assim o filme fique mais polido e ninguém saia ofendido. Não é estranho que tenhamos latinos, brancos, asiáticos e negros nas grandes equipes de protagonistas, uma necessidade fabulosa em querer demonstrar uma imagem de aceitação, igualdade e diversidade. Cotas para o espaço, solidão da alma, Deus alucinação, homem salvação do homem. Hollywood cada vez melhor?
Frank
3.7 596 Assista AgoraSÍNDROME DO ALTERNATIVO
O ocidente vive no luxo e no conforto que o capitalismo proporcionou. O secularismo matou a espiritualidade, o Deus da idade média foi trocado pela razão dos iluminados, bem-vinda ciência.
Não por consequência queremos apenas desfrutar o que há no material, já que Deus morreu. Prazeres e facilidades, ninguém é capaz de segurar meus instintos, minhas paixões e minhas sobrecargas. Sou diferente de todos, vejo melhor que todos, sou o melhor de todos. O rei jovem que o mundo jamais reconheceu.
Viver sem um sentido nos causa uma dor inimaginável, o significado fora enterrado. Me restou apenas o vazio, o sentimento de culpa após sair em nome da diversão, encontrar pessoas e me entorpecer, com beijos eloquentes de socorro, no outro dia me resta apenas o que eu sou, e com um acréscimo de irresponsabilidade, perdição e mais dor.
O hipster de hoje surgiu na Europa, uma juventude perdida que se identifica com alargadores, tatuagens, capelos e roupas exóticas. Olhe como não sou mais um no meio da multidão. Insuportável dor em constatar que sou apenas um coelho no meio de uma imensa floresta, cada vez mais diferente, a cada minuto e segundo. Eu medito, sou vegano, já li o livro Ponto de Mutação do Capra e mesmo assim, tão espiritualizado, com vasta cultura musical e filmológica, ainda sinto esta dor maldita.
O vazio da minha existência, a melancolia, a insanidade retratada piamente nos personagens Frank e Clara, eles não escolheram ser loucos nem diferentes, como Jon tentou - e como tantos hipsters ironicamente tentam sem perceberem sua própria imagem ridícula.
A conclusão é que a loucura e a genialidade não podem ser forçadas, somente quem tomou do copo azul invisível saberá o que outros jamais saberão. Quando a originalidade chega às massas, aos fãs, ela simplesmente murcha e seca. Há um mundo maravilhoso em pessoas ocultas e que ninguém considera, o sujeito comum e problemático, que não se faz de diferente e ainda ornamenta em seu próprio corpo seus entraves atrás de glamour e atenção.
Quero que todos vocês vejam o sofrimento e a agonia de ser realmente diferente. Carregar a dor de todo o mundo nas costas, olhar os mínimos detalhes, nos lugares e nas pessoas, na menina que não atrai ninguém e não faz questão disso, do rapaz que faz piadas e ninguém ri. Música final: Eu amo todos.
O Sétimo Selo
4.4 1,0KVISITA INESPERADA
Agradabilíssimo para reflexões, o tempo entre cenas propícia momentos para analisarmos situações e aguardarmos ansiosos pelas próximas cenas. O filme pode ser totalmente interpretado no âmbito de metáforas filosóficas.
O protagonista Antonius Block desencadeia toda uma sucessão de acontecimentos, fundamentalmente por sua partida de xadrez com a Morte. Ele estampa o homem tolo, arrogante e presunçoso que se vê onipotente, envolvido em inúmeras batalhas e mortes no passado, embora fiquem subentendidas nas cenas.
Seu escudeiro, Jöns, homem perspicaz e corajoso, que busca conhecimento, mas apenas no sentido material, ou seja, atrás de conquistas mundanas, não obstante no sentido de riquezas, mas também de honrarias. Figura uma linha tênue entre generosidade e crueldade, simetria perfeita entre “honra” e “egoísmo”.
E Jof, viajante que conduz sua família e outro artista acompanhante em uma espécie de circo ambulante. Sujeito com algumas habilidades parapsíquicas, engraçado e feliz.
A trama se desenrola na batalha gradativa de Antanius e a Morte, nota para o lenhador que perde sua esposa para um dos artistas que utiliza de exibicionismo para seduzir mulheres nos vilarejos, sem medir consequências. Ambos fogem, indignado, melancólico e enfurecido passionalmente, o lenhador decide acabar com o artista, ele representa o descontrole oriundo de carências internas, a possessão. Sua mulher representa a monotonia passiva em um relacionamento infértil com um sujeito demasiadamente carente e dominador, sua defesa é a manipulação, na primeira oportunidade fugira.
Adendo para a cena no bar, em que torturam friamente Jof com fogo, representação típica da humanidade insensível e cruel, embora não percebam que buscam prazer no sofrimento alheio. Há muitas cenas da inquisição, torturas e fanatismo. Seria a ruína completa do cristianismo inicial que promulgava o amor em sua mais pura essência, as deturpações da ignorância dos homens tolos. Medrosos, sempre a repetir, desde mil anos atrás teorias escatológicas sobre o final dos tempos. Há uma intercalação profunda acerca de Deus, que ele poderia ser criação do homem, para amenizar o medo da morte.
O artista morre após cair de uma árvore, seria uma representação da lei natural, uma consequência por seus atos luxuriosos. O que rebate diretamente indagações gnósticas, seria Deus? Engraçada a parte em que indagam à Morte, se ela sabia algo de Deus, e ela também desconhecia.
Na cena final todos morrem, exceto Jof e sua família. Dali, ninguém estava livre de entraves, todos possuíam; exceto a mulher de Jöns, ela representa a influência pela corrente sem tentar se desprender, ou seja, se ela desistisse de ficar com aquele grupo, se salvaria, mas por medo, decidiu ficar na zona de conforto e morreu, assim como a esposa de Antonius, cuja presunção morre nos últimos momentos ao implorar por Deus.
Jof vê todos amarrados levados pela Morte, os cavalheiros com o passado manchado de sangue, o lenhador possessivo inconsequente passional, a esposa infiel manipuladora, as mulheres dos cavalheiros que aceitaram consentir com o mal.
Assim, ao final, concluímos que apenas Jof e sua família feliz ficaram isentos da visita inesperada da Morte, ou seja, uma família unida e feliz, pura e saudável encontrará o caminho de Deus, o caminho que até mesmo a Morte desconhece.
Original: 11/05/2014.
Revisado: 18/01/2015.
Barfi!
4.3 53 Assista AgoraBICICLETA VALIOSA
O filme não é de fácil compreensão, abrem-se margens para achar o conteúdo simples e clichê, com música francesa (mesclada com mús. indiana) ensinando bobeirinhas de amor. Mas está muito além disso, trata dos níveis de amor, do mais carnal e físico ao transcendental profundo.
O protagonista Barfi, ensina sobre superação, e que dificuldades devem ser encaradas de forma positiva e engraçada, em nenhum momento vemos reclamações de sua parte, não se importa em expor-se ao ridículo, muito menos acerca do que irão pensar, isso o torna absolutamente normal e vívido. Esclarece que o único com poder de rebaixá-lo, submetê-lo, é ele mesmo junto à maneira a qual encara o mundo.
Ele se apaixona por Shruti, uma moça comum, daquelas robotizadas pelos preceitos negativos da sociedade, mas que fique claro – trata-se duma boa pessoa, o comportamento e idéias não podem definir o valor intrínseco de cada indivíduo.
Essa união é conflituosa em essência, pois para visão de pessoas médias robotizadas, uma moça atraente de boa família, jamais poderia unir-se a tal palerma inepto. As características de Barfi, surdo e mudo, obriga-nos a entendê-lo num contexto mais amplo, ou seja, à sua verdadeira identidade, sem depender de achismos pré-concebidos óbvios, que alteram o significado das deduções por falas.
Shruti demora a entender o contexto, e acaba perdendo sua paixão por medos e amestramentos internos muito bem solidificados, os quais não combate, “casar-se com outro pela imagem, para agradar seus familiares, sociedade geral, e maquiar seu próprio ego covarde protecionista nublado.”
Mas, Barfi, conhece Jhilmil, então toca-se em pontos genialmente expostos pelo autor:
- Não há “amor” à primeira vista: Amor à primeira vista normalmente é confundido com instinto sexual. Mas, maquiamos os termos para realidade ficar mais bela e aceitável.
O amor entre os dois surge após se conhecerem realmente, sem apelarem para as primeiras impressões sexuais definidas pela aparência que nos direcionam ao estado de alucinação e entorpecimento em busca dum bem maior (sexo), como no caso de Shruti.
Com Jhilmil, não houve escudos para agradar, impressionar o próximo, apenas liberdade e sinceridade, o que progrediu para um companheirismo inimaginável ao longo do tempo e vivência. Há momentos de alegria e angústia com muito apoio recíproco. O que mais seria o amor?
Não há conotação sexual entre Barfi e Jhilmil, outra ponto fundamental que ajuda a esclarecer os níveis de amor.
Amor Emocional: Definido por instinto, obviamente haveria coito se houvesse envolvimento entre Shruti e Barfi, como base substancial do relacionamento. O que define um amor mais frágil e passional, suscetível às angústias comuns pós desaquecimento libidinal; aborrecimentos bestas; ciúmes, etc. Quando não existe confiança e a base é sexual, a nossa insegurança interna domina o ar em casal, resultando em ver qualquer atitude alheia como afronta, desrespeito. Leva à estagnação completa, ou traição.
Amor Sentimental: Nível superior de amor, que não possui base na sexualidade, embora possa coexistir normalmente – não é o caso do filme. Este apoia-se no verdadeiro entendimento, como as brincadeiras alegres, fragilidades expostas, que levam à uma união mais forte, indiferentemente do que os outros achem, da necessidade de imagem perfeita para agradar conveniências do exterior.
O filme é uma obra-prima, recomendadíssimo para nos fazer refletir não somente aos conflitos sociais, mas sobretudo, nosso interior e o que entendemos como amor, será ele verdadeiro mesmo? Temos coragem para nos auto-enfrentar?
Original: 17/10/2012.
Revisado: 04/01/2015.
Como Estrelas na Terra
4.4 794BANHO DE ESPERANÇA
Como um filme assim fica escondido? Deveria estar entre as grandes obras do cinema mundial.
Mensagens de amor fraternal são transmitidas o tempo todo. Infelizmente, o homem moderno vive numa espécie de amestramento, acreditando piamente em regras internas impostas pela sociedade, a qual mede, pesa e dá um preço aos cidadãos.
Incomensurável a preocupação e interesse do Prof. Ram Shankar, pelo próximo. Mostra o valor de cada pessoa. Acabamos por julgar e analisar os outros com nossa base do que é bom ou ruim. E isso é egoísmo disfarçado, não podemos controlar os outros, imaginando que seriam boas pessoas simplesmente porque fazem o que achamos louvável e conveniente.
Definir os outros com nossa visão limitada, nos faz entrar num círculo miserável de estagnação e sofrimento. Perde-se toda beleza.
O nome já diz muito, “Como Estrelas na Terra”. Somos tocados de uma forma quase incompreensível, somos hipnotizados, como se respirássemos fundo, esquecendo das pequenas, médias e grandes frustrações cotidianas, um convite para sermos inundados de amor, esperança e compaixão.
Os clichês de amor, hoje ridicularizados, são logo eliminados, pois realmente nos passa mensagens corretas e profundas; somos todos estrelas, que podemos ser bobos para aproveitarmos à imensidão da Terra, que mesmo limitados podemos ajudar os outros, fica tudo mais límpido e divertido assim.
Há críticas diretas ao modo de vida competitivo social, muitas pessoas se tornam duras, gélidas e sofredoras. Fica difícil se preocupar com felicidade em um ambiente ilusório tão conturbado.
NÃO precisamos buscar ser o melhor em tudo. Quando tentamos isso, sofremos, ninguém consegue ser o melhor, um engodo, armadilha. A recompensa resume-se ao envenenamento de nossa própria mente. Quando deterioramos pelo envenenamento, presenteamos outrem com o simplório copo verde agonizante, distribuído gratuitamente pela inveja, mau humor, ostentação, etc.
Mas quem sabe possamos fazer como o Ram Shankar, criar coragem e lagar toda carga, aproveitar as coisas simples, brincando e rolando na caminhada.
Original: 04/04/2012.
Revisado: 04/01/2015.
A Pele que Habito
4.2 5,1K Assista AgoraMETAMORFOSE MENTAL?
Somos levados a reflexões sobre nós mesmos quando pensamos profundamente sobre o desenrolar da trama.
O que mais perturba não seriam as bizarrices; como mudança de sexo, sequestro, operações faciais e estupros. Mas, o que ocorreu com a mente de Vicente. Sabe-se que o cirurgião Robert Ledgard estava transtornado emocionalmente. Uma típica representação do sofrimento por emoções doentias relacionadas às paixões, perdas e vingança.
Robert não conseguiu superar a morte de sua esposa, à qual dependia. Dedutivamente sabe-se que qualquer relacionamento amoroso declina quando há uma dependência muito forte em algum lado, gera possessão, ciúmes. Não é espantoso imaginar que ela o traiu com Zeca.
Robert depositou suas emoções nubladas na sua filha traumatizada, que quase fora estuprada por Vicente, morrendo posteriormente por consequência do ato. Agora, Robert foi dominado pela vingança.
Ele culpou Vicente, rapaz com imaturidades comuns da juventude, por todo seu sofrimento anterior. Uma forma de aliviar tensões, independente das desgraças que causaria ao rapaz. Essa é a essência da vingança. Uma mera conveniência de descarga emocional, que causa ainda mais infortúnio. Ele tentou reviver a figura de sua falecida esposa no pobre Vicente.
Agora vem o ponto chave: Vicente se adaptou, tornou-se Vera. Não que tenha planejado para escapar posteriormente. Ele incorporou Vera, sua mente mudara, seu antigo eu morrera. Esse acontecimento nos assusta, o quanto mudamos simplesmente para nos adaptarmos ao ambiente?
Nosso nome pode morrer, simplesmente pelos acontecimentos? Os outros que nos fazem mudar? Nossa essência pode ser apagada ao máximo simplesmente por consequência do que nos acontece?
Será que nós somos pessoas tão fracas que simplesmente apagamos o que somos para nos adaptarmos à situações extremamente desprezíveis e grotescas? Abraçamos a origem do nosso sofrimento? Fazemos "amor" com ela?
Hoje somos algo, amanhã podemos ser alguma coisa totalmente diferente, não necessariamente boa. Apenas rendição eventual por fatos que nos deixaram de joelhos.
O ideal é mudar para o crescimento, enfrentando, superando e persistindo, isso se chama evolução. Entretanto, se simplesmente não nos enfrentarmos, maquiarmos nossos entraves, se desistirmos do que somos, não prosseguiremos. Criaremos uma ilusão que apenas aguada o dia de entregar o corpo.
Original: 25/08/2013.
Revisado: 03/01/2015.
As Vantagens de Ser Invisível
4.2 6,9K Assista AgoraJUVENTUDE HORRIPILANTEMENTE SENSACIONAL
Pode ser interpretado de várias maneiras, encaixa-se com o pensamento e experiências dos hormônios saltitantes de cada jovem. A famosa fase de experiências novas, independência, emoções não necessariamente boas, dependendo o nível de esclarecimento.
A princípio parece mais um daqueles filmes atrás de bilheteria - com uma atriz famosa e atraente na capa – além de temas corriqueiros de tramas de adolescentes mimados em países desenvolvidos. Mas não é! Surpresa.
Logicamente precisa tratar dos principais empasses que os juvenis tanto empacam:
AUTOAFIRMAÇÃO - Preciso desesperadamente provar minha existência, vejam que estou vivo, que não sou invisível. O que estou fazendo no mundo, quem sou eu?
SEXUALIDADE – O lar das ações impensadas, primitivas, que nos dominam e engatilham atitudes automáticas descuidadas. Surrar, humilhar e subjugar quaisquer atitudes alheias, principalmente se for mais fraco (passivo), para que assim sinta aquela sensação momentânea de superioridade, que todos me olhem com louvor, aprovando-me desgraçadamente. Quanto mais aceito eu for, quanto mais destaque eu ganhar, não importa o que seja preciso fazer, farei. Pois, assim, terei mais chances de ser notado, ou seja, acasalar. Ora que, pelo menos corram atrás de mim, para que minha autoestima suba montanhas ao nível Deus do universo.
Não posso ver nenhum “amigo” obter destaque, de forma justa ou injusta. Irei achar uma forma de acalmar minha inveja pelo seu obtido; que desejo ou renego, irei humilhá-lo sutilmente com comentários subliminares “engraçados” pejorativos em público, deixo subentendido que sou melhor por passividade alheia, escolherei apenas amigos que não revidem à altura, logicamente. Sou covarde, não consigo confrontar ninguém sem minhas máscaras, mas ao menos humilhando os outros, os trago para meu manto de infelicidade, agora posso deitar e dormir sossegado à noite. Não sou o único sofredor, tanto que expresso minha angústia com sarcasmo e nariz empinado convenientemente maquiado.
Mas no filme, o protagonista Charlie, assim como todo jovem, possui problemas com sua família. Nessa idade precisamos desenvolver outras faculdades que farão nossa visão de mundo ser ampliada.
Charlie não representava apenas um esquisitão tímido com problemas familiares refletidos nos seus relacionamentos na escola. Mas, a pureza confrontando as atitudes inconsequentes, miseráveis e pouco úteis da adolescência. Seria impossível passar por fase tão caótica, sem ser influenciado?
Talvez ser influenciado faça parte, mas não devemos abandonar nossa essência, devemos manter aquela luz somente nossa acessa. Charlie estava num padrão mental totalmente diferente, ele conseguia ver o contexto dos acontecimentos duma forma amplamente madura. Tanto que preferia não interferir, para não causar ainda mais sofrimento aos outros, muitas vezes se sacrificava por eles, era humilhado por decidir não entrar na turma dos descolados com atitudes horripilantes.
Charlie não buscava aceitação, logo era atacado severamente, poderia facilmente entrar parar o grupo dos atacantes, mas sabia que não era saudável.
Um herói, que respeitava sua amada Sam, mesmo sabendo de sua infantilidade antiga, quando era embebedada por sujeitos mais velhos, e sempre repetia as mesmas ações em moldes diferentes, as garotas jovens buscam segurança, logo idealizam que ficarão mais seguras se estivem junto aos indivíduos mais destacados e respeitados, os quais muitas vezes adquiriram suas insígnias através da autopromoção exacerbada para outrem, ou seja, indivíduos que vivem pelos outros, humilhando, se transmutando, machucando qualquer um em prol dum aumento, ou permanência intacta de sua imagem, que se fosse refletida com sinceridade e exatidão assemelhar-se-ia à graxa preta.
O grande problema da autopromoção é que ficamos em foco, logo agimos de acordo com os conformes para não sermos rebaixados, ou seja, nunca agimos por vontade própria, somos escravos do julgamento dos outros. Os populares são os gênios da autopromoção, do marketing pessoal, mas para isso precisaram abandonar seu caráter e vida autêntica. O que adianta se esforçar para se tornar alguém assim?
Também, obviamente se ocorrer um envolvimento romântico com indivíduos nesse padrão comportamental, seria apenas superficial, acabando em sofrimento. Quando Charlie namora Mary Elizabeth, notamos carência afetiva e sexual, disfarçado num amor pronunciado por força do hábito. Não é à toa que o Charlie fala que enjoou de tocar em seus seios. Embora, sejam boas pessoas, quando se começa um relacionamento para suprir nossas carências, ele sempre se estagnará, acabará tragicamente.
Patrick, também representa algo indomável, que estava além das preocupações de aceitação, o que fazia dele autêntico e feliz. Embora, tenha problemas para esclarecer sua sexualidade, o que o levou a incógnitas e sofrimento.
No final das contas, Charlie representava a bondade, o amor. Sam, a imaturidade emocional, mas também a superação e o carinho. Patrick, a personalidade, a alegria. Juntos formaram um grupo alternativo, que surge apenas na rápida e inesquecível fase juvenil.
A grande vantagem de ser invisível, é que apenas assim aproveitamos a beleza da vida. Viver sem a dura necessidade de agradar, de aparecer, de fazer coisas inconvenientes. Estar seguro, calmo, apenas na seleta e verdadeira roda de amigos. A popularidade traz pressão, ou seja, traz sofrimento mental. Sejamos então invisíveis, que encontraremos a serenidade.
"Todos os jovens são interligados com suas experiências marcantes, isso é infinito, isso é amor."
Original: 28/07/2013.
Revisado: 01/01/2015.
As Aventuras de Pi
3.9 4,4KCANOA DA VIDA
Piscini Molitor, tenta escapar dum apelido constrangedor na infância, “Pipi”, para isso decora várias casas pós-vírgula da proporção numérica: “Pi – π”, após muitas tentativas e esforço, sua fraqueza transforma-se em símbolo de força.
Torna-se adepto das grandes religiões, extraindo conceitos e axiomas de cada uma, inclusive do pensamento cético de seu pai.
Cada religião, representa um pedaço de espelho quebrado, quando unem-se os cacos, temos um espelho completo, que reflete à verdadeira sabedoria.
No bote, aprendemos que todos estamos num grande barco, e que se quisermos sobreviver, chegar ao nosso destino, devemos trabalhar juntos. Embora na maioria das vezes convertamos nosso medo em egoísmo, causando destruição antes do objetivo.
O egoísmo na ânsia pela sobrevivência, leva à morte, prejudica ambos os lados, ocasionando duplo óbito, seja físico ou espiritual.
Devemos amansar nosso Richard Parker interior, faminto, agressivo. Pois somente trabalhando com nossos dois polos em harmonia, chegaremos ao destino.
Somos capazes de quebrar a corrente acostumada em obter lucros abusando dos mais fracos, que pode haver discernimento nas relações, o discernimento fora representado pela inteligência de Pi, ao amansar Richard Parker. Nas vezes que tentou à força, fracassou, quando roubava comida sempre se arriscava, rememora àquela característica comum nos tempos atuais, sempre querer tirar vantagens, acabamos assim por deturpar nosso caráter, nossa vida.
O ponto fundamental: temos uma escolha. O mundo que vemos, é o mundo que criamos em nossa cabeça. Podemos escolher um mundo duro e insensível, ou mergulhar na fantasia e no amor. Pode-se dizer que a realidade não importa tanto assim, desde que não percamos a esperança. Devemos sempre continuar remando.
Original: 03/06/2013.
Revisado: 01/01/2015.
A Viagem
3.7 2,5K Assista AgoraTUDO É TODO
Somos sacudidos inconsciente, nossa alma é tocada. Há relações do filme com os avanços da física quântica, no que se entende como entrelaçamento de partículas, ou seja, fora comprovado que partículas podem ser inter-relacionadas numa ampla cadeia, de forma instantânea, independente de tempo ou espaço. O que ocorre com uma, modifica a outra de imediato.
Poderia ser o concomitante entre filosofia, metafísica, esoterismo e ciência. Existiriam almas, pessoas interligadas? Almas gêmeas? Que surgiram da mesma partícula? Todos nós surgimos da mesma partícula? Essa seria a relação que une a humanidade? O que fazemos afeta diretamente os outros? Não é à toa que o slogan do filme é: “Tudo está conectado”.
O filme impressiona pela complexidade do ciclo das reencarnações. Trata dos principais problemas que assolam a mente dos homens, e desencadeiam causas que remetem sempre no círculo vicioso de erros. Cobiça, ambição, poder, inveja, etc.
“Nossas vidas não são nossas. Desde o útero até ao túmulo, somos ligados a outra pessoa. No passado e no presente. E com cada crime, e cada boa ação, fazemos renascer o futuro.”
Na sequência das vidas, os personagens são suscetíveis a caírem nas mesmas armadilhas, mas em situações diferentes, também se envolvem com outras pessoas, aumentando ainda mais seus grupos de ligações. Há sempre chances para se redimirem, mas normalmente não conseguem e afetam mais pessoas. Outro aspecto interessante seria sobre: “Os fracos são carne para os fortes comerem”. Expõem interrogações sobre a dominação do mais fraco. Sejam como no filme; escravos, clones, homossexuais, idosos de que ninguém espera nada.
O grande princípio que atrasa a relação dos humanos; subjugação. Entretanto, no filme vemos que ao contrário do que todos pensam, essas pessoas foram necessárias para salvação em cada cena.
Inspirado: http://www.saindodamatrix.com.br/
Original: 18/12/2012.
Revisado: 01/01/2015.
Encontros e Desencontros
3.8 1,7K Assista AgoraESTAMOS PERDIDOS
O vasto gramado verde, quando notamos que somos apenas mais um broto perdido em meio à imensidão inconcebível, nos resta o silêncio, o silêncio da alma. Durante toda minha vida tive contato apenas com brotinhos próximos, e desse universo limitado tirei minha canção, da qual sibila minha existência.
Nada como Tóquio para representar nossa insignificância, nossa pequenez, uma cidade gigantesca. Além do toque genial de colocar ocidentais em meio ao mar de orientais, para assim focar nos personagens. Bob Harris um cineasta já fora de seus tempos áureos e Charlotte, moça solitária que nem mesmo conhece seu parceiro.
Há um vazio no filme, como nossas vidas chegam nisso? Seriam nossas escolhas? Há uma saída? Bem, para quem é solteiro, nos deixa uma vontade incomensurável de permanecer com o coxão pequeno. O relacionamento amoroso está num âmbito fora da lógica, o que nos deixa inquietos e sem rumo.
Peguemos então primeiramente a Charlotte:
Moça vivaz, jovem e atraente. O seu sentimento de culpa é altíssimo, como se ela buscasse ser uma moça destacada; e como uma barata sempre foi pisoteada. À exemplo da maioria dos casais jovens, se envolveu pelo futuro, pelos planos. Em uma cena ela cita ter tentado entrar no ramo da fotografia, sem êxito. Esse deve ter sido o ponto de junção de ambos, uma pequena compatibilidade profissional, seu marido John também é fotógrafo – união quase existencial se não fosse puramente material – diria apenas por atração sexual oriunda de carências que ambos não percebem.
Se soubessem que precisamos nos resolver para sermos felizes - nossas cargas internas, não entramos nos céus apenas por estarmos com quem desejamos, um engodo corriqueiro. Se não estamos satisfeitos com nós mesmos, cairemos na armadilha de ilusões. Ela não consegue colocar em prantos uma fagulha de um debate existencial, como se seu marido fosse um qualquer que ela acabou de ver na rua, não há empatia, não há envolvimento. O desgaste de uma relação fundada em superficialidades e sexualidade varia de um mês a dois anos, depois disso a chama diminuiu e o sofrimento inicia, quem está ao meu lado?
Outro personagem interessante seria a Kelly, loira histérica que parecia ter um caso antigo com John. Ela encarna o vazio, desesperada por holofotes, por atenção, não é à toa que se comunica com vivacidade exagerada, implorando o “olhem para mim”, ela também comprova que John se interessa muito mais pelo lado sexual das mulheres, que essas por sua vez suprem apenas o seu egoísmo maquiado, e um egoísta não liga para os sentimentos alheios, pensa somente nele, e em seu trabalho, atrás de preenchimentos e promoções supérfluas.
O Bob parece já ter passado por tudo isso, já ter experimentado de tudo, e ainda assim permanece com os espinhos. Se alimentava de seu status, de seu glamour, agora em declínio, não sabe lidar com isso, o velho dilema de aceitar à velhice.
Tampouco, Bob e Charlotte vivem como crianças, que tentam buscar felicidade em experiências efêmeras como danceterias, bebidas, cigarros entre outros atrativos. Vivemos de atrativos, não conseguimos nos silenciar, pois se ficássemos assim logo nos deprimiríamos por notar nossa própria pobreza interna. Atrativos que Tóquio tem de sobra, o desejo das grandes massas, fugir da realidade.
Um casal maduro não precisa de entorpecentes, de bebidas de futilidades, apenas da companhia do outro, o sentir da existência, que ambos caminham para um sentido, algo que transcende-os. Estão sozinhos em seus objetivos, mas unidos na estrada, no final o que importa mesmo é a estrada.
Como dizia o filósofo Olavo de Carvalho: "Muitas pessoas não alcançam o verdadeiro amor porque se apegam ao sexo para sentir que estão vivas, para fugir da angústia e do temor da morte. Mas é só a consciência da morte que nos abre para o verdadeiro amor, quando vemos a nossa amada envelhecendo, se extinguindo pouco a pouco, e imploramos a Deus que a preserve na outra vida."
Um sentiu o vazio do outro, e isso por lei dos semelhantes, os atraiu em meio às suas culpas, angústias e temores. Duas ervas daninhas no gramado fosforescente das vitrines de Tóquio.
Bem, o trilhar de um caminho maduro consigo mesmo nos mostrará que existem outras pessoas como nós, sinceras e que buscam uma vida mais elevada e verdadeira, o lugar onde espinhos não existem, bem, e se mesmo assim existirem, então continuemos a caminhar.
3 Idiotas
4.3 382COMPETIÇÃO CEGA
Impressionante como alguns filmes indianos conseguem passar idéias de formas alternativas. Possivelmente pelo fato de ser uma das poucas culturas que ainda mantenham vivas suas tradições espirituais e culturais refletidas no comportamento, embora adaptadas.
O filme extasia pela alegria, muito diferente das comédias estrangeiras apelativas, normalmente vinculadas ao sexo (apelo erótico) e a depreciação ácida alheia (humor negro). Há no humor inocente e bobo uma complexidade ímpar aos olhos do verdadeiro riso.
Uma forte alfinetada ao modo de vida competitivo ocidental, normalmente relacionado ao dinheiro, embora o capitalismo como modelo econômico, gere progresso positivo imprescindível. “Fazer a diferença”, tomou conotação de ser o melhor, isso causa muito sofrimento, pois é impossível e também inútil buscar ser o melhor para ostentar uma imagem ilusória de felicidade.
O mantra criado por Rancho, “Aal Izz Well – Tá Tudo Bem”, ilustra uma mensagem profunda. Nosso coração é covarde, podemos enganá-lo facilmente toda vez que nos depararmos com um problema, basta-nos repeti-lo para proporcionarmos tranquilidade interna, ou seja, facilitará o esclarecimento sem todo o estresse.
Chatur - O colega de classe egoísta, encarna o lado abominável na conduta de vida contemporânea. Ambição, arrogância, competição, inveja. Representa claramente o EGO e suas faces, o vazio existencial polarizado no mundano; na satisfação no material como soberania de comportamento.
Raju – Carrega um grande fardo familiar (carma), que o torna medroso pela forte pressão, acaba por suplicar apenas ajuda aos Deuses, quando deveria acreditar nas suas próprias capacidades. Raju, apenas consegue acreditar em si, quando fica meses refletindo numa cama de hospital, autocrítica positiva forçada.
Farhan – Covarde, não mostra suas verdadeiras intenções e aspirações, sempre sofreu uma forte repressão familiar. Seu pai, embora queira o seu melhor, pensa erroneamente que na prestigiada universidade de engenharia sua criança encontrará a felicidade, logo que, o sonho de seu filho seja muito mais simples. No final entende essa lógica, com ato de extrema coragem.
Rancho é o protagonista, carregando sabedoria em suas atitudes, contaminando gradativamente os lugares em que passa. Ajudando ao próximo sem pedir nada em troca. Se invertermos; “competição”, pelo interesse de “aprender sinceramente”, não precisamos nos preocuparmos tanto, o sucesso será apenas uma consequência, jamais o objetivo.
Há também mensagens sobre amor, não devemos nos envolver apenas pela imagem, ou seja, escolher uma pessoa para nos sentirmos bem ao apresentá-la impecavelmente aos outros, nos deliciando em gabolice. Aparência não é sinônimo de felicidade, seria mais aproximado de carências do nosso próprio egoísmo. A cultura indiana também surpreende por ter uma conotação sexual muito abaixo dos padrões normais, belo e moral, está longe de ser prioridade.
Ora, de idiota esse filme não apresenta nada. Apenas nos mostra que é muito bom ser um.
O Planeta dos Macacos
4.0 679 Assista AgoraO VALOR DO PROGRESSO
Macaco! Cada macaco no seu galho? Qual galho? Qual o sentido metafísico do galho? {}
Obra-prima do cinema mundial. Para ser analisado hoje, precisamos entender sobre o contexto temporal da época, tão logo não cairemos em redes anacrônicas em busca da banana dourada.
O Coronel Tylor (bright yes), protagonista, tem traços de personalidade não ao acaso, sagaz e comediante, um verdadeiro ser que vivia na decadência cultural dos EUA, na década de 70. Havia uma forte influência hippie, libertinagem à partir da revolução sexual e decadência juvenil à partir de entorpecentes. Uma época transigente, da velha família religiosa, para modulação atual, quebra de paradigmas, não necessariamente melhores.
Significativo o fato da única mulher a bordo da espaçonave morrer, logicamente, se tivesse sobrevivido, causaria a ruína dos homens que a disputariam em situações extremas.
Superficial o pensamento que analisa os pontos diante perspectivas da guerra fria, sobretudo como a conhecemos nos livros de história. Capitalismo VS Comunismo. Há engodos e falcatruas que recriam convenientemente ambos os lados, principalmente, e de forma abjeta, o comunista.
Que somos macacos de terno, isso ninguém nega, seja no lado da liberdade americana, que embora boa, rume à autodestruição; ou pelo encarne da utopia materialista, falsa e assassina, oriunda do comunismo.
Há simbologias, como no tribunal dos três macacos; um tapa os ouvidos, o outro os olhos e o último à boca. Por definição cutuca a moralidade religiosa falsa – seria a definição não apenas de não querer ver, ouvir e falar, mas também o inverso, não poder ver, ouvir ou falar, através de manipulações e censuras. Paupérrimo, que o filme seja interpretado apenas como mera crítica religiosa de ateus e neo-hippies, já que quem estuda religião verdadeiramente, sabe que o caminho da libertação promulgado pelo cristianismo torna os adeptos aprendizes da fagulha divina (amor) em seu dia-a-dia. Existem bons cristãos, assim como maus, julgar o todo trata presunção e ignorância.
Há todo um incentivo para romper barreiras com jovens que devem repensar a forma pela qual os adultos vivem, como se não existissem sábios verdadeiros que ensinassem o melhor às crianças, essa forma de pensamento progressista que nos faz aceitar qualquer proposta, na maioria dos casos ridícula, de jovens alucinados pelo próprio egoísmo do ser, em querer mudar o mundo através de caprichos. Uma sociedade guiada por jovens, é uma sociedade morta em essência, que já não possui valores suficientes para se protelar à continuidade de uma herança cultural digna.
Quando sinto o cheiro da minha mão, sinto o cheiro de macaco, assim como o cheiro dos meus pés e pernas. Vamos continuar a caminhar pelas tribunas circenses que exigem de nós certa desenvoltura e seriedade. Em meio as palhaçadas, encontramos outros seres que junto de nós, pulam de galho e galho. Ao final, se não acabarem por cortar nossa árvore, verdadeiros momentos remanescerão em nossos peitos, e um sentido existirá, não no extremo, mas um que sempre existiu, apertado em nosso âmago.
A Balada de Narayama
4.0 54CONTINUAÇÃO
Saímos de nossas doces suítes amanteigadas e perfumadas cujo despojo da maciez de felpos de algodão, hoje, nos salientam e amortecem o esforço.
Vivemos facilmente, basta-nos arranjar um emprego, e teremos comida, moradia, e tudo mais, hoje qualquer pessoa vive em meio ao luxo extremo se compararmos à épocas longínquas.
Éramos, não diria dependentes, mas fazíamos parte de um todo, o qual denominamos família. Homens e mulheres trabalhavam para sobrevivência, de forma simples e precária, incrivelmente viviam e eram mais felizes, diria interligados com emoções, sentimentos – relações humanas.
Como descrever o sentimento de ligação à matriarca, que abandona sua própria vida, seu próprio ser, em prol da continuação. “Amor é quando um continua o outro.”. Quando há continuidade, há união, há crescimento, há evolução.
Como devemos nos comparar com pessoas de épocas passadas. Vivemos atrás de prazeres, de euforias, perdemos nossas ligações com a família, com nós mesmos, com o sentido. Vivemos através de máscaras, de conformismos, como redes balançantes, que ora choram, ora urram com calor da cerveja.
A sensação de vazio, de falso ato, nos corrompe, secos e isolados. O que terá de novo, o suprassumo da vida encontra-se em baladinhas?! Por que, às vezes bebo mais que o necessário?! Por que fico abatido aos domingos?!
O que falta? Não tenho todo respeito, todos os prazeres carnais e mentais?! Solidão, assisto filmes de comédia, comédia, comédia – eu rio, tu ris, ele ri – Tomo antidepressivos, ou droga, ainda não estou embriagado, caramba, quanta zoeira!
Quanta loucura. Atingi o grau máximo do viver?
Além de tocar em espiritualidade diretamente, seja com evocações de espíritos e grupos cármicos familiares, que se encontram sucessivamente, de geração em geração.
O guia do poder, a líbido, a força da vida. Percebemos sinaléticas, da representação da procriação, e da loucura que ela pode causar, se for desregrada, negligenciada ou bloqueada.
O exterior e o interior. Significaria muito, em uma pequena aldeia, renegar pessoas por aparência, se a necessidade me atrai à elas, e ironicamente percebo minha tolice, minha crueldade em selecionar egoicamente vidas, sentimentos por fetiches e medos de aceitação.
Nas próximas gerações, que encontremos nossos grupos, que nos perdoemos, principalmente hoje. O aquém e o além estão próximos, e, o fio da mudança está na luz e na sabedoria que não perdemos no mudar das estações.